BEATRIZ MAURO ZANDONADI A INSERÇÃO DA AGRICULTURA ...
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BEATRIZ MAURO ZANDONADI
A INSERO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO AGROTURISMO EM VENDA
NOVA DO IMIGRANTE-ES
UM ESTUDO DO CASO DAS FAMILIAS CARNIELLI E BRIOSCHI.
Viosa (MG)
2010
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIOSA
CENTRO DE CINCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
A INSERO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO AGROTURISMO EM VENDA
NOVA DO IMIGRANTE-ES
UM ESTUDO DO CASO DAS FAMILIAS CARNIELLI E BRIOSCHI.
Monografia apresentada disciplina GEO 481
Monografia e Seminrio - como exigncia
parcial para obteno do grau de bacharel em
Geografia, pela Universidade Federal de Viosa.
Beatriz Mauro Zandonadi
Orientadora: Prof. Ldia Lucia Antongiovanni
Viosa (MG)
2010
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A INSERO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO AGROTURISMO EM VENDA
NOVA DO IMIGRANTE-ES
UM ESTUDO DO CASO DAS FAMILIAS CARNIELLI E BRIOSCHI
Banca examinadora:
_______________________________________
Professora Dr. Ldia Lucia Antongiovanni
Orientadora
Departamento de Geografia/UFV
_______________________________________
Professor Dr. Andr Luiz Lopes de Faria.
Departamento de Geografia/UFV
________________________________________
Professor Dr. Leonardo Civale.
Departamento de Geografia/UFV
Viosa (MG)
2010
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DEDICATRIA
Dedico este trabalho aos meus avs, especialmente ao meu av Agenor
Mauro, pessoa marcante e especial em minha vida. Principal responsvel por minha
paixo pelo meio rural. Homem de fibra, entusiasta da vida no campo, com quem pude
conhecer a grandeza e a riqueza desse fascinante meio rural.
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AGRADECIMENTOS.
Agradeo a Deus, fonte de vida, por todas as bnos, fora e entusiasmo que
me possibilitaram chegar ao fim dessa etapa.
Aos meus pais, Vanderley e Maria das Dores, pois atravs de seus esforos
pude viver essa experincia maravilhosa, sem o amor, dedicao e as orientaes de
vocs nada disso seria possvel.
A minha irm e ao Fred por estarem sempre presentes mesmo na distncia.
Ao meu namorado Felipe, pelo apoio, pacincia e carinho durante a execuo
desse trabalho.
As minhas amigas da Geografia por todos os momentos de estudo, pelas
longas horas na biblioteca que ao lado de vocs se tornavam to agradveis, pelas trocas
de experincias geogrficas, por terem compartilhado minhas angstias e inseguranas
nessa fase de transio. Obrigada pelas aulas, almoos, lanches, bate- papos, festas e
todos os momentos que junto com vocs valeram muito mais a pena. Geogirls vocs
foram fundamentais no s durante a realizao deste trabalho mais em toda a
graduao. Guardarei com muito carinho todos os nossos momentos.
A professora Ldia Antongiovanni, pela orientao e colaborao nesse
trabalho.
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Sumrio
Lista de ilustraes ............................................................................................................7
Lista de tabelas ..................................................................................................................8
Lista de siglas ....................................................................................................................9
Resumo ............................................................................................................................10
Introduo ........................................................................................................................11
Captulo 1. Inseres do meio rural no agroturismo .......................................................13
1.1- O rural e suas transformaes ............................................................................. 13
1.2 - Consideraes acerca do turismo e o turismo rural............................................ 14
1.3- consideraes acerca do agroturismo .................................................................. 16
1.4- Polticas de turismo no Brasil e no Esprito Santo .............................................. 18
1.5- Turismo no Esprito Santo e Agroturismo em Venda Nova do Imigrante. ......... 20
Captulo 2 - Venda Nova do Imigrante e o Agroturismo. ...............................................24
2.1. Breve apresentao do Esprito Santo. O caf e sua importncia no Estado e no
municpio de Venda Nova do Imigrante..................................................................... 24
2.2 - Histria e Caracterizao do Municpio de Venda Nova do Imigrante ............. 26
2.3 - Atrativos e aspectos que contribuem para a territorializao do Agroturismo em
Venda Nova do Imigrante........................................................................................... 29
Captulo 3- Anlise da insero de duas famlias que se inserem no agroturismo em
Venda Nova do Imigrante. ..............................................................................................34
3.1- A escolha das famlias ......................................................................................... 34
3.2 - O incio da atividade .......................................................................................... 37
3.3- Populao da propriedade ................................................................................... 38
3.4 - Elementos do processo de produo. ................................................................. 39
3.5- Aspectos mais relevantes no uso dos territrios no agroturismo. ....................... 41
3.6- Participao em Associao ligada ao agroturismo. ........................................... 50
3.7- Incentivos Financeiros ........................................................................................ 53
3.8- Atores envolvidos e realidade da atividade em cada propriedade ...................... 53
3.9- Percepes e relevncias da atividade do agroturismo ....................................... 57
3.9.1- Diviso Familiar do trabalho: a importncia da participao da Mulher ..... 57
3.9.2-Processo de adaptao ao Sistema ................................................................ 58
3.9.3- O uso de tecnologias .................................................................................... 59
3.9.4- A renda e o Agroturismo .............................................................................. 59
3.9.5-As alteraes no espao rural ........................................................................ 60
Consideraes finais ........................................................................................................63
Referncia bibliogrfica ..................................................................................................68
Anexos .............................................................................................................................71
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Lista de ilustraes
Figura 1- Regies tursticas do Esprito Santo.................................................22
Figura 2- Mapa de posio geogrfica do Esprito Santo.................................24
Figura 3- Mapa do sistema virio de Venda Nova do Imigrante......................27
Figura 4- Foto da festa da polenta 2010...........................................................31
Figura 5- Foto da Placa do agroturismo...........................................................33
Figura 6- Mapa das propriedades.....................................................................35
Figura 7- Foto da entrevistada Albertina Carnielli...........................................36
Figura 8- Foto da entrevista Ana Joana Brioschi.............................................36
Figura 9- Foto da loja na propriedade da famlia Carnielli..............................42
Figura 10- Foto da palestra na Fazenda Carnielli.............................................43
Figura 11- Foto do recipiente de armazenamento de soro da agroindstria.....44
Figura 12- Foto da APP reflorestada ...............................................................44
Figura 13- Foto da pequena usina de energia...................................................45
Figura 14- Foto da roda dgua........................................................................46
Figura 15- Foto das lenhas reaproveitadas na agroindstria............................46
Figura 16- Foto das galos e galinhas mostrados aos turistas............................47
Figura 17- Foto do pavo mostrado aos turistas...............................................48
Figura 18- Instrumentos dos antepassados.......................................................49
Figura 19- Loja na propriedade Brioschi..........................................................50
Figura 20- Loja da Agrotur...............................................................................51
Figura 21- Foto do interior da loja da Agrotur.................................................52
Figura 22- Foto do interior da loja da famlia Brioschi....................................54
Figura 23- Foto do interior da loja da famlia Brioschi....................................55
Figura 24- Foto do interior da loja da famlia Carnielli...................................55
Figura 25- Foto do interior da loja da famlia Carnielli...................................56
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Lista de tabelas
Tabela 1- Populao do municpio de Venda Nova do Imigrante....................28
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Lista de siglas
Agrotur- Associao do Agroturismo de Venda Nova do Imigrante.
EMATER- Empresa Brasileira de Extenso rural do Esprito Santo.
EMBRATUR- Empresa Brasileira de Turismo.
EMCAPA- Empresa capixaba de pesquisa agropecuria.
ES- Esprito Santo
IBGE- Instituto brasileiro de Geografia e estatstica.
IJSN- Instituto Jones dos Santos Neves.
PIB- Produto interno bruto.
PNMT- Programa Nacional de municipalizao do turismo.
PNT- Plano Nacional do Turismo.
SEBRAE- Servio Brasileiro de apoio as micro e pequenas empresas.
UFES- Universidade Federal do Esprito Santo.
UFV- Universidade Federal de Viosa.
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Resumo
O meio rural vem passando muitas transformaes nas ltimas dcadas, o
espao que antes era dominado por atividades agrcolas e agropecurias, agora tambm
compreende atividades do setor secundrio e tercirio. Uma das atividades que vem
ganhando visibilidade no meio rural o turismo. Neste trabalho vamos abordar uma
forma especfica de turismo no espao rural que o agroturismo. Observando como esta
forma de turismo desenvolvida no municpio de Venda Nova do Imigrante e as
transformaes que tem gerado. Analisaremos o caso de duas famlias que se inserem
no agroturismo no municpio, as famlias: Carnielli e a Brioschi.
A partir da experincia delas vamos compreender o que as motivou a fazer esse
investimento na prtica do agroturismo, como elas desenvolvem a atividade em suas
propriedades, como exploram os usos que fazem do territrio, os pontos positivos e
negativos, os principais atores envolvidos, e os demais aspectos que a introduo dessa
atividade no campo gerou na vida e na propriedade dessas famlias.
A realizao do trabalho nos possibilitou identificar que o meio rural do
municpio ganhou dinamismo com o agroturismo, as famlias passaram a ter um
acrscimo em sua renda, houve o aumento no nmero de postos de trabalho, as fazendas
analisadas reestruturaram suas instalaes, verificamos um maior respeito e
preocupao com as leis ambientais dentro das propriedades, comprovamos a
importncia da mulher no agroturismo, a valorizao do homem do campo e seus
produtos, e a manuteno das questes culturais. Essas so apenas algumas das
descobertas que esto expostas ao longo do texto.
Vamos desvendar como uma nova atividade, no caso o agroturismo tem
interferido no meio rural da cidade de Venda Nova do Imigrante, partindo do caso das
duas famlias analisadas, e como tem transformado esse espao e as relaes que nele se
desenvolvem.
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Introduo
O meio rural um campo de investigao importante, o interesse inicial por
este trabalho foi motivado pelo fascnio que este espao exerce. Nos ltimos anos o
meio rural brasileiro vem passando por modificaes, esse espao que antes servia
como base as atividades agrcolas e agropecurias, visto como fornecedor de matria
prima para a indstria, e classificado como atrasado em oposio ao ambiente urbano,
passa no perodo atual por modificaes que inserem as famlias do meio rural no
circuito do consumo urbano.
Assim atividades mais realizadas a partir do meio urbano-industrial tais como
do setor secundrio e tercirio, passaram a ser realizadas a partir tambm do meio rural.
Isto confere ao campo outro dinamismo, pois ele passa a participar de forma mais
intensa dos processos de modernizao nas relaes sociais e de produo no campo
apresentando, inclusive, nveis elevados de cincia e tecnologia agregados aos
territrios.
Dentre as novas atividades desenvolvidas no campo, as relacionadas ao
turismo tm recebido destaque nos ltimos anos, isso porque se mostram como uma
alternativa de gerar desenvolvimento para essas reas, alm de possibilitar novas formas
de ocupao para as populaes rurais, incentivar a preservao dos aspectos naturais, e
valorizar o campo e sua populao, atravs da sua insero num mercado que hoje
passou a valorizar, como mercadoria, o que se costuma chamar de arcaico. Assim, h
um processo de recuperao de tcnicas tradicionais que, potencializadas pelas tcnicas
modernas de planejamento e organizao advindos de ramos da cincia tais como
administrao e agronomia, por exemplo, vo transformando os smbolos tradicionais
em mercadorias. Da a paisagem adquirir tanta importncia, pois na atividade turstica,
especialmente do agroturismo, a manuteno e a criao de um ambiente tradicional
um dos mais importantes instrumentos de marketing.
O turismo no meio rural compreende uma srie de modalidades como: turismo
de aventura, ecoturismo, hotis-fazenda, agroturismo entre outros. Nesse trabalho
vamos nos ater ao agroturismo, modalidade de turismo no meio rural, que acontece
dentro das propriedades rurais, de carter familiar, onde os turistas tm a oportunidade
de participar, ainda que por pouco tempo, do cotidiano do campo. Para que esta
experincia de viver um pouco do cotidiano do campo seja atraente como objeto de
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consumo do turismo, tem sido valorizado este ambiente tradicional que se traduz na
decorao das lojas que vendem os produtos, nas embalagens, nas arquiteturas e
tambm nas tcnicas utilizadas que remetem a tempos em que a sociedade urbano-
industrial no era dominante, mas sim a vida de um tempo mais lento e com um contato
mais direto com a natureza sem tantas mediaes tecnolgicas.
O desenvolvimento dessa atividade no campo gera modificaes no espao,
que como dito, antes tinha sua base de produo pautada principalmente nas atividades
agrcolas e agropecurias. Buscando compreender como esta atividade se realiza e sua
influncia no espao rural, analisamos duas famlias inseridas no agroturismo no
municpio de Venda Nova do Imigrante localizado no Esprito Santo, cidade conhecida
nacionalmente por seu carter pioneiro na atividade, possuindo o ttulo de capital
nacional do agroturismo.
As famlias escolhidas praticam o agroturismo com algumas diferenas e
semelhanas. Essa escolha foi pensada para que as diferenas e semelhanas
revelassem, como se d a atividade turstica no meio rural e como esta poderia gerar
distintas vises, usos e modificaes do espao. Buscou-se identificar como o
agroturismo tem alterado a vida dessas famlias, suas propriedades e percepes a
respeito do local aonde vivem.
O trabalho contou com vrias etapas, a primeira delas foi a pesquisa
bibliogrfica a respeito do tema. Posteriormente foram feitas vrias visitas as
propriedades, at chegar escolha das que foram estudadas. Aps a escolha foram feitas
novas visitas s duas propriedades, com carter exploratrio, e tambm para a realizao
de entrevistas que visando esclarecer os questionamentos que norteiam a pesquisa.
Desta forma foi possvel compreender muitos dos elementos da dinmica do
agroturismo no meio rural.
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Captulo 1. Inseres do meio rural no agroturismo
1.1- O rural e suas transformaes
O espao rural brasileiro sofreu e vem sofrendo modificaes ao longo do tempo.
Na sua histria de insero na modernidade, o meio rural tomado, de um modo geral,
como atrasado, em oposio ao que se considerava moderno, isto , o sistema urbano-
industrial. Um dos elementos do discurso que coloca o meio rural como atrasado em
relao ao moderno o da relao direta com a natureza diferente da relao urbano-
industrial cuja relao a de viver da natureza, tomada como um recurso econmico
muito mais do que simblico, valor este que se mantm em muitas reas rurais inclusive
as modernizadas. Conforme analisa Paulo Alentejano, a ocupao dos indivduos estava
intrinsecamente ligada a terra e a natureza, sendo assim a relao destas populaes com
a terra era direta e em todos os mbitos; no mbito econmico uma vez que a terra
elemento de produo, no social na medida em que possui um valor afetivo e simblico;
e espacial como base dos arranjos espaciais de ocupao do espao (ALENTEJANO,
2000) o que demonstra a complexidade de relaes que esto implicadas no meio rural
das relaes sociais, polticas e econmicas que emanam deste sentimento de
pertencimento quela terra.
No entanto algumas dessas caractersticas tiveram mudanas, j que as inseres
do capitalismo no campo vm gerando modificaes no s no espao rural, mas na sua
dinmica como um todo. A agricultura, em grande medida passou a ser subordinada a
indstria, e com isso comeou a se modernizar. Introduziu-se a mecanizao no setor
agrcola, fazendo com que possamos encontrar no campo hoje, caractersticas que at
pouco tempo atrs eram exclusivas das cidades, como alta densidade tecnolgica.
Este processo de modernizao do campo passa por vrios momentos desde que
este processo se deflagra com mais intensidade a partir da revoluo industrial inglesa
no sculo XVIII. No Brasil, estas inseres do campo no circuito econmico urbano-
industrial se do de forma bastante diferenciada no territrio, demarcando
caractersticas regionais e intra-regionais desta insero.
Durante os sculos XIX e XX com a opo brasileira por se inserir no circuitos
internacionais do agronegcio com a modalidade monocultora extensiva foi dificultando
cada vez mais a permanncia no campo de lavradores que no produzem para o grande
mercado, gerando sucessivas crises que podem ser percebidas pelas vrias lutas
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camponesas que ocorreram no processo de privatizao de terras, com Lei de Terras de
1850 e chegando a meados do sculo XX com dezenas de embates entre camponeses e
latifundirios, entre elas podemos citar as Ligas Camponesas no nordeste, formada nos
anos 1950 no embate com usineiros da cana-de-acar.
neste cenrio que nos anos da dcada de 1970, aps o golpe militar, vrios
projetos voltados para a insero do meio rural nos circuitos produtivos industriais so
acentuados. Nas dcadas que se sucedem passa-se a ter uma maior preocupao com as
questes ambientais, sobretudo em decorrncia dos problemas que surgiram em virtude
da modernizao agrcola.
H incorporao de novas atividades que passam a ser realizadas no campo, como
a implantao de indstrias, alm de atividades do setor de servios que tem se
destacado nesse espao, como as relacionadas ao turismo, ao lazer, e a preservao das
amenidades do campo, ou seja, a preservao da natureza. Portanto agora o campo no
mais pode ser analisado na perspectiva setorial, mais sim intersetorial. As reas rurais
passam e ser vistas tanto como reas de produo como tambm de consumo (PIRES,
2004, p.155).
1.2 - Consideraes acerca do turismo e o turismo rural
O turismo uma atividade praticada a sculos, no entanto a motivao para tal
prtica sofreu modificaes ao longo do tempo.
Antes, as viagens ocorriam em busca da sobrevivncia, com fins mercantis, para apreender e entender o mundo, peregrinar, aventurar-se em
viagens tursticas. Hoje, entram em jogo novos componentes o lazer e o
prazer. ( CORIOLANO, SILVA, 2005, p.16).
Geralmente as pessoas buscam esses momentos de lazer e prazer, em locais que
diferem com o do seu cotidiano.
Com o maior desenvolvimento dos meios de transporte, e com as redes de
informao, o turismo tem se desenvolvido com mais intensidade. Isso sem falar que,
com a modernidade, e com o desenvolvimento do capitalismo, o tempo do no trabalho
tem sido mais gasto na realizao do turismo, que agora representa uma forma de
mercantilizao do lazer. Vrias empresas tem se especializado no desenvolvimento
dessa atividade, que tem movimentado grandes fluxos de pessoas e capitais.
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Faz-se importante trazer a tona o que vem a ser o turismo. Segundo a
Organizao Mundial do Turismo (OMT) o turismo compreende as atividades que as
pessoas realizam durante suas viagens e estadas em lugares distintos aos de sua
residncia habitual, por um perodo de tempo consecutivo inferior a um ano, com fins
de lazer, de negcios e outros. (OMT, 1995).
A atividade turstica possui muitas modalidades, que vo variar de acordo com
suas motivaes, com o que ser desenvolvido e com o lugar em que vai se realizar.
Dentre a vasta gama de modalidades tursticas existem: o turismo religioso; turismo de
negcios; turismo de lazer; turismo cultural; turismo histrico; turismo em reas rurais,
entre outras.
Nos ltimos anos os destinos tursticos rurais tm conquistado mais espao. Tal
forma de turismo compreende em seu interior uma srie de modalidades como o
ecoturismo, agroturismo, hotis fazenda, entre outras que representam diferentes formas
de aproximar mais as pessoas da natureza. A dinmica do espao urbano tem gerado
uma demanda, uma necessidade por tranqilidade e relaxamento, e a busca por bem
estar fsico e mental e por um estilo de vida mais saudvel, desperta nos turistas, a
vontade de experimentar o convvio com modos de vida e costumes diferenciados do
que se encontra no ambiente urbano.
O crescente interesse da populao pelo meio natural tem atrado cada vez mais
turistas para estes ambientes. Os espaos rurais e naturais tornam-se destinos
privilegiados dos fluxos tursticos de carter alternativo, alm de essa atividade
apresentar-se como uma prtica econmica no agrcola do espao rural brasileiro
proporcionando novas fontes de renda para a populao rural.
H muita dificuldade de se definir o que seria turismo rural j que cada autor
tem uma concepo diferenciada do termo que varia de acordo com a realidade de cada
pas e estes expressam a diferenciao dos modos de uso e explorao dos recursos que
se encontram no espao rural. Segundo a EMBRATUR (Empresa Brasileira do
Turismo) Turismo rural uma atividade desenvolvida no campo, comprometida com a
atividade produtiva, agregando valor a produtos e servios e resgatando o patrimnio
natural e cultural da comunidade. Como dito anteriormente, h vrias formas de
turismo realizadas no espao rural dentre elas podemos citar o ecoturismo, turismo de
sade, turismo de habitao, casas de campo, turismo de aldeia, agroturismo entre
outras. Mas devemos ressaltar que qualquer que seja a forma de turismo rural ao qual
nos referimos, todas elas apresentam em comum uma relao muito prxima com as
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paisagens naturais. No presente trabalho decidimos colocar em foco de discusso o
agroturismo, na medida em que este possui relaes intrnsecas com a agricultura
familiar e com a manuteno do modo de vida das populaes rurais tradicionais.
1.3- consideraes acerca do agroturismo
Agroturismo definido por Anderson Portuguez como:
A modalidade de turismo no espao rural praticada dentro das
propriedades, de modo que o turista e/ou excursionista entra, mesmo que por
curto perodo de tempo, em contato com a atmosfera da vida na fazenda,
integrando-se de alguma forma aos hbitos locais. (1999, p. 77)
Outra definio de agroturismo, feita pelo Ministrio do turismo diz que:
Agroturismo compreende as atividades internas propriedade, que geram
ocupaes complementares s atividades agrcolas, as quais continuam a fazer
parte do cotidiano da propriedade, em menor ou maior intensidade. Devem ser
entendidas como parte de um processo de agregao de servios e bens no-
materiais existentes nas propriedades rurais (paisagem, ar puro, etc.) a partir do
tempo livre das famlias agrcolas, com eventuais contrataes de mo-de-
obra externa. (MINISTRIO DO TURISMO, 2005, p. 8).
O agroturismo, modalidade do turismo rural, apresenta-se como um complemento
econmico da famlia rural no excluindo as prticas agrcolas. A prtica do turismo no
interior da propriedade rural acontece sem extinguir as atividades produtivas
agropastoris que permanecem como fonte de renda. Geralmente o turismo uma
iniciativa do proprietrio em busca de um ganho extra. de vital importncia que as
prticas agrcolas no sejam interferidas j que este um dos fatores que atrai o fluxo
turstico para o local. O agroturismo praticado nos modos atuais caracterizado pela
grande importncia da famlia do agricultor para que se realize, afinal so estes os atores
que esto presentes nesta atividade comandando ativamente todo o processo, desde a
produo agrcola at a venda dos produtos destinados aos turistas.
Lembrando mais uma vez que um dos fatores que atrai o fluxo turstico para o
espao rural a busca por experimentar formas mais tradicionais de vida uma vez que
os turistas so provenientes de reas urbanas onde o grau de stress elevado, a rotina
maante e desgastante. Tais indivduos procuram uma aproximao com a natureza
buscando formas de vida mais leves. Isto conseguido atravs do tempo mais lento do
espao rural ainda pautado em alguns aspectos no tempo da natureza. O que pode ser
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visto pelo turista durante sua estadia inserido na rotina da propriedade pelas prticas
dirias dos moradores, na fabricao dos alimentos como queijo, pes e doces e a lida
na roa, por exemplo. Este tipo de turismo atrai especialmente por sua originalidade e
considerado uma forma de turismo alternativo, frente massificao dos destinos de
lazer oferecidos tradicionalmente pelas agncias.
O apelo cultural local tambm muito importante no agroturismo j que tais
particularidades despertam o interesse do turista e imprimem um carter nico ao
espao. O individuo que busca tal forma de turismo procura formas diferenciadas de
gastar seu tempo de lazer, portanto a identidade da propriedade deve ser preservada no
mbito da paisagem como um todo. A cultura tnica da famlia e do local, a arquitetura
das edificaes, a culinria tradicional, o tipo de atividade produtiva, enfim, promover o
convvio dos visitantes com costumes e hbitos diferentes de sua vivncia urbana
ajudando assim preservar e reavivar os costumes culturais locais.
A paisagem outro fator de extrema importncia para o agroturismo. A
motivao para a viagem a necessidade de romper com a rotina, e o fator paisagem
influencia drasticamente na escolha do destino do turstico. Paisagem segundo Milton
Santos o conjunto de formas que, num determinado momento exprime as heranas
que representam as sucessivas relaes localizadas entre o homem e a
natureza.(SANTOS, 1996). Portanto a paisagem do campo reflete as relaes que so
desenvolvidas nesse espao, que so muito diferentes das desenvolvidas no meio
urbano, e essa diferena na paisagem um fator que atrai as pessoas do meio urbano
para o meio rural. Devemos ressaltar que a paisagem tambm percebida de acordo
com cada indivduo que usufrui da localidade, pois para cada forma de percepo
haver diferentes significados.
As propriedades que praticam o agroturismo possuem muitas amenidades, como
flora e fauna preservada, ar puro, hidrografia exuberante, que tornam a paisagem destas,
de beleza cnica extremamente convidativa. ... a atratividade das paisagens rurais
devido ao legado da humanizao dessa mesma natureza, por meio de atividades
agropastoris e de outros aspectos de ocupao do espao, impregnados pela herana
cultural de seus protagonistas (PIRES, 2004), ou seja, as paisagens rurais so formadas
a partir do processo histrico de ocupao do territrio, as prticas agrcolas passadas e
presentes associado ao seu carter sociocultural, so a acumulao de informaes que
se deram ao longo do tempo num determinado espao que exprimem a sociedade que
viveu neste local. O apelo que estas amenidades possuem como atrativo sua oposio
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ao ambiente cotidiano citadino tomado pelo cinza e por grande poluio sonora
produzindo um ambiente de stress e ansiedade.
Para os habitantes dos locais que passam a receber tais fluxos tursticos estes se
tornam uma opo para o desenvolvimento econmico das localidades e regies, na
medida em que auxiliam na reproduo do capital que antes era conseguido apenas
pelas prticas agrcolas. O agroturismo vem para multifuncionalizar propriedade e
servir como alternativa a gerao de renda e ocupao para a populao local. O
desenvolvimento scio-espacial deve ser entendido como um processo de
comprometimento no s com a reproduo do capital, mas especialmente com a
melhoria das condies de vida das populaes locais que recebem os fluxos tursticos
at mesmo para que estes proporcionem ao visitante uma boa estadia. 1
A criao de postos de trabalho nesta modalidade de turismo no to grande
quanto em outras, j que este um tipo de prestao de servio de base principalmente
familiar. H o emprego, em grande parte, de mulheres que ficam responsveis pela
produo de alimentos tradicionais para consumo e venda aos turistas. Porm muito
importante, pois desperta o interesse da pequena famlia agrcola e dos trabalhadores
empregados nesta prtica econmica para permanecer no espao rural, alm de
contribuir para a recuperao e preservao do patrimnio histrico-cultural e natural da
localidade.
1.4- Polticas de turismo no Brasil e no Esprito Santo
A atividade turstica quando bem planejada e executada pode ser uma
alternativa para gerao de divisas e criao de empregos. Desta forma ela tem
despertado mais ateno por parte do Governo e demais agentes interessados em seu
desenvolvimento. Ento falaremos um pouco da poltica que o Governo vem realizando
nesse setor.
O Governo Federal criou o Ministrio do Turismo em 2003, em abril do ano
seguinte, lanou o Programa de Regionalizao do Turismo- Roteiros do Brasil,
mostrando ao pas uma nova possibilidade para o turismo brasileiro atravs da gesto
descentralizada, organizada nos princpios da flexibilidade, articulao e mobilizao.
Um dos objetivos do Programa de Regionalizao a desconcentrao da
oferta turstica brasileira, localizada predominantemente no litoral, propiciando
a interiorizao da atividade e a incluso de novos destinos nos roteiros
1 Anderson Pereira Portuguez, 1999
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comercializados no mercado interno e externo. (PNT, Ministrio do Turismo,
2007, p.25).
A regionalizao surge ampliando o leque de possibilidades de destinos
tursticos, o que favorece tanto aos turistas, como as populaes e locais que recebero
esses novos fluxos, que passam a ter maiores possibilidades de desenvolvimento.
O modelo de gesto descentralizada do turismo, implantado no Pas
pelo Ministrio do Turismo apoiado por seus colegiados parceiros,
proporciona que cada Unidade Federada, regio e municpio busque
suas prprias alternativas de desenvolvimento, de acordo com suas
realidades e especificidades. O que prope o Programa de
Regionalizao do Turismo Roteiros do Brasil so diretrizes
polticas e operacionais para orientar o processo do desenvolvimento
turstico, com foco na regionalizao. (Marta Suplicy, Mdulo
operacional 3 Institucionalizao da Instncia Governana Regional,
2007, Ministrio do Turismo p.9)
Essa regionalizao no apenas no sentido de reunir municpios com
caractersticas parecidas,2 mas sim no intuito de construir um espao democrtico,
harmnico e participativo entre o poder pblico, iniciativa privada, terceiro setor e
comunidade. Promovendo a integrao e cooperao intersetorial, buscando uma
atuao conjunta de todos os envolvidos de forma direta e indireta na atividade turstica
em uma determinada localidade.
O poder pblico, os empresrios, a sociedade civil e as instituies de ensino
dos municpios componentes da Regio Turstica, so as Instncias de Governana
Regionais, e juntas devem cuidar para que a proposta de regionalizao seja posta em
prtica. Neste sentido a Institucionalizao das Instncias de Governana Regionais
denota estabelecer uma organizao para decidir e conduzir o desenvolvimento turstico
de uma regio.
Cada uma dessas instncias representadas por seus principais agentes tm suas
competncias definidas que devem ser realizadas para que a atividade tenha xito.
Como podemos perceber essa poltica de regionalizao do turismo por parte do
Governo Federal, busca dinamizar as aes que visam o desenvolvimento da atividade.
Tais aes sero realizadas nas esferas mais locais de acordo com a realidade,
particularidade de cada municpio que est inserido numa determinada regio, que faz
parte de um contexto maior que o pas. Esse jogo de escalas, do micro para o macro,
2 Mais informaes, vide o Programa de Regionalizao do turismo- Roteiros do Brasil: Mdulo
operacional 3: Institucionalizao da Instncia de Governana Regional , do Ministrio do Turismo,
disponvel em :
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se mostra muito interessante, pois a partir do desenvolvimento e do sucesso das aes
em conjunto dos municpios que integram as regies, que o pas todo poder crescer e
fortalecer sua poltica no segmento turstico.
Em 2007 o Governo Federal lana o Plano Nacional de Turismo- PNT
2007/2010.
Tal plano avana na perspectiva de expanso e
fortalecimento do mercado interno, com especial nfase na
funo social do turismo. Mas tambm um compromisso de
continuidade das aes j desenvolvidas pelo Ministrio do
Turismo e pela Embratur no sentido de consolidar o Brasil
como um dos principais destinos tursticos mundiais. (PNT,
Ministrio do Turismo, 2007,p.11).
O PNT possui macroprogramas, programas e metas,3 um de seus objetivos
continua sendo a realizao de uma gesto descentralizada, o que tem possibilitado a
gerao de uma rede de entidades e instituies por todo o pas, envolvendo como j
dito o poder pblico nas esferas Federal, Estadual e municipal, a iniciativa privada e o
terceiro setor. Todos esses agentes ligados ao turismo promovem a realizao de vrios
encontros de discusso e deliberao sobre a Poltica Nacional do Turismo e suas
conseqncias nas diferentes escalas territoriais do Pas.
Sabe-se que mesmo depois de todas as polticas propostas ainda h muito a ser
feito, tanto para realizar tudo o que foi sugerido, como para avanar no
desenvolvimento da atividade de modo ideal. Sobre esse assunto teria muita coisa a ser
discutida, mais no cabe ao presente trabalho.
1.5- Turismo no Esprito Santo e Agroturismo em Venda Nova do Imigrante.
A atividade turstica no estado do Esprito Santo sempre esteve muito vinculada
s regies litorneas, devido suas praias de grande beleza cnica. O turismo de praia era
fortemente incentivado pelo governo j que uma receita expressiva do estado advm
desta prtica econmica. Porm o turismo com destino as reas litorneas concentrado
em uma poca especfica do ano, o vero, gerando uma srie de problemas de infra-
estrutura e sociais, devido ao grande nmero de turistas como a falta dgua, e outros
3 Para mais informaes vide o PNT, do Ministrio do turismo, disponvel em:< www.turismo.gov.br>.
http://www.turismo.gov.br/
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problemas relativos circulao concentrada de pessoas numa mesma poca devido
padronizao dos tempos de trabalho e de consumo que vivemos em nossa sociedade.
Visando expandir o circuito econmico do turismo para outras reas o governo
passou a incentivar o afluxo de turistas para outras reas do estado: agroturismo na
regio serrana-central e o turismo ambiental em torno do Capara. Neste trabalho
vamos nos ater ao primeiro.
[...] no Esprito Santo [agroturismo] foi eleito como uma das
principais atividades a serem fomentadas pelo governo estadual, como
oportunidade de promoo do desenvolvimento do campo, no para
substituir as atividades agro-silvo-pastoris tradicionais, mas para
possibilitar a multifuncionalizao das propriedades e como
alternativa de gerao de renda e ocupao para a populao da
chamada regio serrana central (PORTUGUEZ, 1999, P. 1)
Os municpios compreendidos pela chamada regio serrana-central do Esprito
Santo so: Venda Nova do Imigrante, Castelo, Conceio do Castelo, Domingos
Martins, Afonso Cludio, Santa Leopoldina, Marechal Floriano, Santa Maria de Jetib,
Santa Teresa, Viana e Vargem Alta. Outros municpios tambm tm praticado o
agroturismo, mas no foram inseridos oficialmente no programa do Governo do Estado
que incentiva a atividade. O Programa Nacional de Municipalizao do Turismo
PNMT, tambm deu um grande impulso a tal prtica.
Contudo, o governo do estado, buscando expandir ainda mais as atividades
tursticas, e seguindo a tendncia nacional, fez a regionalizao do seu territrio
turstico. Atravs da participao no Programa de Regionalizao do Turismo
Roteiros do Brasil realizou a organizao territorial e definio dos roteiros que sero
explorados, criando oito rotas tursticas, que visam abarcar as belezas do estado e
dinamizar todas as regies.
Para efeito do Plano de Desenvolvimento Sustentvel do Turismo, o Esprito
Santo foi dividido em dez regies. Essa diviso no invalida a elaborao de
roteiros tursticos que perpassem mais que uma regio. A idia que os
roteiros as contemplem de forma a integrar atrativos e segmentos
diferenciados, valorizando e criando novos espaos de turismo.
(Plano de Desenvolvimento Sustentvel do Turismo do Esprito Santo 2007-
2025)
A figura abaixo mostra as dez regies em que o estado foi divido.
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Figura 1- Regies Tursticas do Esprito Santo.
Fonte:SEDETUR.
As rotas criadas pelo governo do estado so: Rota do Capara, Rota dos
imigrantes, Rota do sol e da moqueca, Rota do mar e das montanhas, Rota do verde e
das guas, Rota dos vales e do caf, Rota da costa e da imigrao e Rota do mrmore e
do granito. A cidade de Venda Nova do Imigrante tambm faz parte do circuito que
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compreende a rota do mar e das montanhas. Nessa rota so explorados na cidade o
agroturismo, turismo de aventura e o ecoturismo. Todas modalidades que se utilizam da
estrutura fsica, das belezas e das excentricidades do meio rural do municpio.
A histria do agroturismo no Esprito Santo, tem sua semente no Congresso
Internacional das Famlias Agrcolas na Espanha, em 1992, onde integravam a
delegao capixaba o vice governador e Secretrio da Agricultura, Adelson Salvador, o
jornalista Ronald Mansur, a pedagoga Eliane Statuffer de Andrade Mansur e o
Secretrio Executivo do Movimento Educacional e Promocional do Esprito Santo
(Mepes), Joo Batista Martins. Aps esse congresso eles foram visitar o agroturismo na
Itlia, e na visita a Azienda Agroturstica Mondragon de propriedade de Roberto e Tina
Tessari, a idia do agroturismo em Venda Nova do Imigrante comeou a ser gerada.
O agroturismo mesmo, s veio a se consolidar como projeto a partir de 1993,
com a criao do AGROTUR (Associao do Agroturismo de Venda Nova) em maro
desse mesmo ano. Esse centro era uma forma de agrupar as pessoas interessadas em
entrar na atividade do agroturismo com os produtos que j fabricavam em suas casas e
propriedades.
Um grande incentivador da atividade no municpio foi o Jornalista Ronald
Mansur que atravs de suas reportagens sobre Venda Nova, mostrava as propriedades e
seus produtos, dando visibilidade para os produtores, aumentando assim o interesse das
pessoas em conhecer o lugar, e encorajando novos produtores a se associarem a
atividade.
Alm do jornalista, a atividade tambm foi incentivada pela Secretaria de
Agricultura, em uma parceria com o SEBRAE. Mais tarde a Associao tambm
conseguiu parcerias e cursos que foram oferecidos alm do SEBRAE, pela prefeitura do
municpio, Emater, Emcapa, Secretaria da agricultura, UFES, faculdades de turismo de
Guarapari e Vila Velha.
Em 1996 a prefeitura municipal cria a Secretaria de Turismo, e assim vai
desenvolvendo e melhorando a infra-estrutura para a prtica da atividade, que se
consolidou e ganhou projeo nacional. Desta forma a cidade de Venda Nova do
Imigrante se tornou referencia quando o assunto agroturismo.
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Captulo 2 - Venda Nova do Imigrante e o Agroturismo.
2.1. Breve apresentao do Esprito Santo. O caf e sua importncia no Estado e
no municpio de Venda Nova do Imigrante.
O estado do Esprito Santo fica localizado na regio sudeste, fazendo divisa com
os estados de: Minas Gerais a oeste; Bahia ao norte; Rio de Janeiro ao sul e a leste
banhado pelo Oceano Atlntico.
Figura 2- Mapa de posio geogrfica do Esprito Santo
Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves - IJSN.
Possui uma rea de 46.077 km, composto por 78 municpios, sua capital
Vitria, e o gentlico de sua populao capixaba. Compreende em seu territrio duas
reas naturais bem distintas: o litoral e o planalto. O primeiro ocupa cerca de 40%, da
rea do estado, ocupando a costa Atlntica, com lindas paisagens e medida que vai se
avanando no sentido do interior o planalto vai revelando uma belssima regio serrana,
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25
chegando at a altitude mxima de 2.890 metros, o Pico da Bandeira, ponto mais alto do
estado e terceiro mais alto do pas.
A populao estimada pelo IBGE para esse estado no ano de 2009 era de
3.487.199 habitantes. O PIB do estado estava distribudo da seguinte forma no ano de
2007, segundo dados do IJSN: atividades primrias 9,3%; atividades secundrias
34,5%; atividades tercirias 56,3%.
O setor de servios responsvel pela maior porcentagem do PIB estadual, um
dos fatores que contribuem para esse ndice a presena de um complexo porturio no
estado principalmente o Porto de Vitria, que um dos mais movimentados do pas. O
setor industrial do estado apresenta destaque nos segmentos: siderrgico, txtil,
alimentcio, madeireiro e fabricao de celulose. O estado grande exportador de
granito, ferro e ao, alm de ser um dos maiores produtores de petrleo e gs natural do
pas, ficando atrs apenas do Rio de Janeiro. Sem falar que a explorao da camada do
pr-sal trs grandes perceptivas de crescimento para o estado. O setor primrio tem o
caf como principal representante, mais tambm tem relevncia s culturas de feijo,
cana de acar, fruticultura, arroz e milho. O caf produzido no Esprito Santo tem
qualidade reconhecida no Brasil e no exterior, alm disso, ele o segundo maior
produtor e exportador desse produto no pas.
O caf sempre teve importncia econmica relevante na histria do estado. Tal
cultivo iniciou-se em terras capixabas por volta da metade do sculo XIX, por influncia
do Rio de Janeiro4, e teve rpida expanso, em 1850 j ocupava importante posio em
seu setor econmico. As lavouras se expandiram sobretudo para o sul, onde as terras
eram mais baratas, e em grande parte ainda se encontravam cobertas por mata densa.
O municpio de Venda Nova do Imigrante que fica na regio sul do estado
recebeu a onda de expanso da lavoura cafeeira, e com a chegada dos imigrantes a
localidade, esse cultivo se expandiu e ganhou fora. Desde ento as lavoras de caf tem
lugar garantido na zona rural do municpio que tem nesse seu principal produto agrcola.
4 Fonte: Cafeicultura A Revista do Agronegcio Caf. Disponvel em:
http:.
http://http:%3cwww.revistacafeicultura.com.br
-
26
2.2 - Histria e Caracterizao do Municpio de Venda Nova do Imigrante
Antes de falarmos mais especificamente sobre os atrativos da cidade, e os
aspectos que podem ter contribudo de forma mais contundente para o sucesso do
agroturismo no municpio, faremos uma apresentao do mesmo, um pouco sobre sua
histria e populao.
A cidade de Venda Nova do Imigrante fica localizada a 103 km da capital do
estado, cercada por belas montanhas. No sc. XIX, a localidade comeou a receber
imigrantes italianos, que vinham em busca de uma nova terra. Esses imigrantes com as
economias que possuam, conseguiram comprar partes das fazendas da regio, que
tinham sido abandonadas pelos portugueses. Os primeiros imigrantes chegaram regio
em 1891 e encontram ali condies propcias para suas propriedades prosperarem como:
solo frtil, clima ameno e gua de boa qualidade. No entanto era preciso muito trabalho
para desbravar a regio que em sua maioria encontrava-se coberta por mata virgem.
Assim com muita dedicao e trabalho duro dos imigrantes italianos e suas
famlias, a futura cidade de Venda Nova do Imigrante, foi sendo construda. Desde a
fundao da cidade o cunho familiar sempre foi muito presente nesta localidade. Essas
famlias italianas muito unidas imprimiram suas marcas que continuam presentes at os
dias atuais. A maioria dos habitantes da cidade descendente desses italianos e ainda
preservam com bastante afinco as tradies deixadas pelos seus nonnos 5.
O municpio de Venda Nova do Imigrante possu rea territorial de 188 Km,
cercado pelos municpios de: Domingos Martins, Afonso Cludio, Conceio do
Castelo e Castelo. Como pode ser visto no mapa abaixo.
5 Avs em italiano.
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Figura 3- Mapa do sistema virio de Venda Nova do Imigrante.
Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves IJSN.
Foi emancipado em maio de 1988 e desde sua emancipao a populao vem
crescendo progressivamente, em 1991 o municpio contava com 12.036 habitantes, em
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2000 com 16.165 e em 2007 com 18.610 e atualmente conta com uma populao de
aproximadamente de 20.000 habitantes segundo dados do IBGE.
No perodo de 1991 a populao rural do municpio era mais expressiva que a
populao urbana, a primeira contava com 7002 habitantes sendo que destes, 3265 eram
do sexo feminino, e 3737 eram do sexo masculino, enquanto a populao urbana era de
5034 habitantes, sendo 2555 do sexo feminino e 2479 do sexo masculino. A partir de
2000 h uma inverso nos valores e a populao urbana ultrapassa a rural. A populao
urbana representa 61,32%, contando com 9912 habitantes, dos quais 5025 so do sexo
feminino, e 4887 do sexo masculino. A populao rural representa 38,68% do total do
municpio e as mulheres so em nmero de 2856 e os homens 3397. A populao de
jovens (de 18-25 anos) do municpio em 2000 era de 3314 habitantes e a populao de
idosos (acima de 70 anos) no mesmo perodo era de 508 habitantes.
Tabela 1- Populao do municpio de Venda Nova do Imigrante
1991 2000
Populao total 12.036 habitantes 16.165 habitantes
Populao rural 7.002 habitantes 6.253 habitantes
Populao urbana 5.034 habitantes 9.912 habitantes Tabela 1-Populao rural e Urbana de Venda Nova do Imigrante.
Fonte de dados: IBGE.
O PIB da cidade distribudo nos trs setores possua os seguintes valores no ano de
2007: agropecurio 45616 mil reais; indstria 23453 mil reais; servios 103182 mil
reais. Como podemos ver o setor de servios o responsvel pela maior porcentagem
do PIB municipal, seguido pelas atividades agropecurias que tambm so muito
significativas. A indstria representa uma fatia pequena do PIB devido fraca tradio
que o municpio possui nesse setor, e principalmente por sua forte vocao agrcola,
pois desde a formao do povoado, com a chegada dos imigrantes italianos esta
atividade desenvolvida. O municpio sempre se destacou na produo de caf, cultura
praticada a mais tempo na cidade e atualmente o caf continua movimentado a
economia do municpio, sendo que alguns produtores tem se destacado por produzirem
caf de qualidade especial, tipo exportao.
Segundo dados do IBGE, o municpio possui 562 estabelecimentos
agropecurios, de proprietrios individuais, sendo que estes somam uma rea de 10.792
hectares. 81 unidades de condomnio, consrcio ou sociedade de pessoas, somando uma
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rea de 3.265 hectares, 15 unidades de sociedades annimas ou por cotas de
responsabilidade limitada, que somam 696 hectares.
Ainda segundo o mesmo censo, um dado se mostra muito interessante, sobre a
condio do produtor, somando os proprietrios masculinos e femininos chega-se ao
nmero de 614 unidades, que abrangem uma rea de 14.519 hectares. As propriedades
masculinas representam 578 unidades e possuem a rea de 13.943 hectares. E as 36
unidades restantes so de mulheres, e somam uma rea de 575 hectares. Isso pode ser
explicado pela tradio das famlias italianas que tinham como costume deixar herana
apenas para os filhos homens, e essa forma de agir durou por geraes, refletindo assim
esse nmero discrepante entre homens e mulheres proprietrios de estabelecimentos
agropecurios. A cidade possui em grande maioria propriedades pequenas, de 20 a 30
hectares, e a maior parte de cunho familiar.
2.3 - Atrativos e aspectos que contribuem para a territorializao do Agroturismo
em Venda Nova do Imigrante.
O municpio de Venda Nova do Imigrante, por estar em uma rea serrana e de
mata atlntica tem uma paisagem natural propcia para o desenvolvimento do
agroturismo. A cidade ainda apresenta condies de oferecer um turismo de aventura,
com rampas para a prtica de vo livre, paredes rochosos para a prtica de alpinismo,
rapel, e trilhas para a prtica de rallies. Com isso possvel tambm atrair diferentes
fluxos de turistas, desde aqueles que buscam a calma e o bucolismo da vida do campo,
at aqueles que esto em busca de aventuras prximos a natureza.
Os turistas vm at a cidade atrados por suas belezas naturais, como: a
cachoeira do Alto Bananeiras, a Pedra do Rego e localidades como o Caxixe Frio que
possuem espetacular beleza cnica. Em busca de esportes radicais, como vos de asa
delta, rapel, trilhas e caminhadas, que podem ser feitas no mirante da torre de televiso,
no morro do Filetti e na Pedra do J 7, que alm de apresentarem vista exuberante,
servem de meio para realizao desses esportes. H tambm uma infinidade de outros
lugares belssimos no municpio que valem a pena serem visitados.
Mas o que atrai maior fluxo de pessoas para a regio o agroturismo, as
propriedades familiares que recebem os turistas, apresentam seus estabelecimentos
agrcolas, a forma como produzem, sua cultura, enfim fazem com que o turista se sinta
parte daquele mundo, nem que seja apenas por algumas horas. Isso tem cativado as
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pessoas que se sentem acolhidas, fazendo com que sempre queiram voltar, nem que seja
s para tomar um caf, com os deliciosos quitutes vendidos nas propriedades e se
sentirem prximos a natureza e a um modo de vida mais simples por alguns instantes.
Alm desses atrativos alguns fatores como o esprito associativista da
populao local tambm favoreceram o sucesso da atividade. Em Venda Nova do
Imigrante, a comunidade sempre foi muito unida, em prol do bem comum, talvez por
conta de sua histria e trajetria de formao inicial. Quando os imigrantes chegaram
nova terra tinham muitos sonhos e muita vontade de transformar e fazer frutificar, para
garantirem sua sobrevivncia e de suas famlias. As dificuldades que encontraram ao
chegar a Venda Nova, para erguerem suas casas, formarem suas lavouras, construrem
locais necessrios a comunidade, como Igreja e escola, sempre foram enfrentadas em
associao, uma famlia ajudando a outra. Desta forma, esta uma marca da sociedade
local.
Esse esprito permanece at os dias atuais, e no usado apenas no
agroturismo. Podemos encontrar no hospital municipal uma associao de voluntrias
que realizam trabalho em prol de ajudar na manuteno do hospital. A maior festa da
cultura Italiana no Estado do Esprito Santo acontece no municpio, a famosa Festa da
Polenta, toda a concepo e realizao da festa so feitas por voluntrios que trabalham
e arrecadam fundos que sero revertidos em benfico da populao.
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31
Figura 4- fotografia da Festa da Polenta 2010, evento planejado e executado por voluntrios do
municpio.
Fonte: Afepol (Associao da festa da Polenta) Outubro 2010.
Esse associativismo, tambm foi e importante no sucesso do agroturismo no
local. Todos os interessados juntos participam do planejamento, de eventos, fazem
cursos, buscam o aprimoramento e a organizao da atividade. Um dado que me
chamou bastante ateno que em todas as propriedades que visitei, h a venda de
produtos de outras famlias, eles passam informaes a respeito da procedncia e
explicam como chegar s demais propriedades. Sem clima de competitividade, um
ajudando e divulgando o trabalho do outro.
Outro fator que parece ter influenciado de forma significativa no sucesso da
atividade o legado deixado pelos antepassados. Eles produziam em suas propriedades
quase tudo o que consumiam, j que havia grande dificuldade de acesso e falta de
recursos. Esse costume foi passado de pai, para filhos e assim sucessivamente. Com isso
as pessoas criaram o hbito de produzir em suas casas diversos produtos: macarro,
biscoitos, bolos, doces, embutidos, vinhos, cachaa, queijos, moer o fub, alm de
outros produtos, feitos de forma rstica como aprenderam no passado.
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32
Mais tarde, as famlias acabaram vendo nessa tradio uma forma de aumentar
suas rendas oferecendo aos turistas, os produtos que sempre fizeram, at ento para
consumo prprio. Assim abriram as porteiras de suas propriedades e incentivados pelo
programa do agroturismo, passaram a desenvolver essa nova atividade
Observa-se que da mesma forma que as propriedades o agroturismo nessa cidade
uma atividade essencialmente praticada pelas famlias, sendo passadas de gerao em
gerao de forma a manter as tradies. importante lembrar que essa atividade visa
complementar a renda, sendo mais uma alternativa aos produtores, mas que no tem o
intuito de substituir o carro chefe que continua sendo a agricultura. A economia do
municpio continua a ser essencialmente agrcola, sendo seu principal produto o caf. O
agroturismo tem originado bons resultados, gerando empregos e renda, mas no a
atividade principal da cidade apesar de moviment-la bastante, devido ao grande fluxo
de turistas.
O que podemos ver que os moradores de Venda Nova do Imigrante perceberam
no agroturismo, um filo do mercado turstico que vem crescendo, uma oportunidade de
aliarem as suas tradies, costumes seus hbitos, com uma nova maneira de
complementar sua renda, sem ter que fazer vultosos investimentos. Visto que as
propriedades as famlias j possuam, sempre produziram tais quitutes, como uma
herana que aprenderam com seus antepassados, alm dessa ser uma maneira de
preservar e reforar as tradies italianas to presentes na cidade.
[] E no so somente os grandes fazendeiros que descobriram o
agroturismo como fonte complementar de renda para suas propriedades. No
Esprito Santo, os pequenos produtores da tradicional (italiana-brasileira)
Venda Nova do Imigrante (em uma regio j explorada pelo ecoturismo e por
esportes na natureza) de forma associativa -, cujo belo cenrio da serra
capixaba encanta os moradores e visitantes, esto dando seus primeiros passos
no agroturismo e no lazer rural atravs da venda de produtos agroindustriais
caseiros, venda de plantas ornamentais e de hortalias orgnicas, entre outras
atividades, como novas pousadas. Dados indicam 400 empregos diretos criados
com a nova atividade. (GRAZIANO DA SILVA; VILARINHO; DALE,
2000, p. 49).
Como vimos, o agroturismo veio casar de forma bastante harmnica com essa
cidade, que possui particularidades interessantes e favorveis ao desenvolvimento de tal
atividade, por isso que ela tem sido to bem sucedida, e atualmente conhecida como
a capital nacional do agroturismo. Ttulo que recebeu em 2005 na Feira Nacional do
Turismo Rural em So Paulo.
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33
Figura 5- Foto da cidade Venda Nova do Imigrante, que ostenta com orgulho e explora o
marketing do ttulo que recebeu.
Fonte: acervo pessoal, setembro 2010.
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34
Captulo 3- Anlise da insero de duas famlias que se inserem no agroturismo
em Venda Nova do Imigrante.
3.1 A escolha das famlias
Nesse trabalho, observamos mais de perto, o caso de duas famlias da zona rural
de Venda Nova do Imigrante que se inserem no agroturismo, a famlia Carnielli e a
Famlia Brioschi. A primeira tem grande destaque na regio por ser a pioneira nessa
prtica. E a segunda j pratica essa atividade h 17 anos. A escolha dessas famlias no
foi por acaso, busquei explorar dois casos que se diferenciassem quanto proporo que
a atividade tomou dentro da propriedade. A famlia Carnielli, hoje realiza o
agroturismo, com um carter mais empresarial, com muitos funcionrios e a famlia
Brioschi, continua com mo de obra estritamente familiar, e tem essa atividade apenas
como um complemento da renda.
Para obter essa comparao e ter embasamento para fazer o estudo de caso, foi
realizada uma entrevista, semi estruturada,6 nas duas propriedades. Alm dessa
entrevista, algumas visitas tambm foram feitas as duas famlias em carter
exploratrio, com o intuito de observar a dinmica de funcionamento das propriedades,
o atendimento aos turistas, os produtos fabricados e vendidos, e a organizao da
produo das duas famlias.
Foram feitas duas visitas a cada propriedade apenas com carter de observao. E
trs visitas onde houve o contato com os proprietrios, quando ocorreram as entrevistas
e algumas conversas para esclarecer alguns aspectos que ainda no estavam claros.
Durante as entrevistas encontrei algumas dificuldades de obter respostas quanto aos
aspectos econmicos da atividade, como a porcentagem que a atividade representava na
renda das famlias, e em valores reais quanto atividade rendia em cada propriedade.
H essa resistncia em informar respostas relacionadas a ganhos financeiros, por haver
uma desconfiana quanto utilizao e divulgao de tais dados.
As entrevistas aconteceram nas propriedades, ambiente familiar para as
entrevistadas e ocorreram de forma bem descontrada, por isso elas se sentiram mais a
vontade para responder as questes. O que realmente era o intuito, que elas relatassem
6 Roteiro das entrevistas encontra-se em anexo.
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35
da forma mais espontnea e verdadeira suas experincias e percepes a respeito da
atividade investigada, o agroturismo.
As duas propriedades ficam bem prximas, localizadas a margem da Rodovia
Pedro Cola. Distantes apenas 2 km uma da outra. A figura abaixo mostra os bairros e
comunidades de Venda Nova, entre elas a Providncia, onde ficam as propriedades.
Figura 6- Figura das comunidades de Venda Nova do Imigrante.
Fonte: Cmara Municipal de Venda Nova do Imigrante.
No entanto a proximidade e a localizao parecem ser o que as duas famlias tm
de mais parecido, pois nos demais aspectos se diferenciam bastante. A comear na
motivao para a adoo do agroturismo em suas propriedades. Vamos iniciar com a
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36
histria da famlia Carnielli. Todos os aspectos e questes relatadas nos itens seguintes
so fruto das respostas encontras na entrevistas. Realizadas com as senhoras:
Figura 7- Albertina Carnielli entrevistada.
Fonte: acervo pessoal, outubro de 2010.
Figura 8- foto de Ana Joana Brioschi entrevistada.
Fonte: acervo pessoal, outubro de 2010.
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37
3.2 O incio da atividade
A famlia Carnielli possui a propriedade desde 1921, quando adquiriram a terra
do senhor Pedro Cola7. A propriedade tinha inicialmente uma rea de 270 hectares que
agora foi desmembrada para os dez filhos, ficando cerca de 27 hectares para cada filho
atualmente.
Em busca de uma nova atividade que pudesse aumentar e diversificar a fonte de
renda da famlia, que comea a busca e o interesse dos Carnielli pela atividade do
agroturismo. No entanto segundo os membros da famlia a atividade surgiu de forma
espontnea. O irmo Pedro Carnielli, que estudava na Universidade Federal de Viosa,
cursando agronomia, volta para casa e junto com a famlia busca aplicar os
conhecimentos tcnicos obtidos na universidade na propriedade. No intuito de
diversificar a fonte de renda investiram em gado leiteiro, e com o aumento da produo
de leite resolveram fazer queijos, as visitas eram freqentes, mais no inicio eram amigos
e vizinhos, que mostravam curiosidade sobre o processo de confeco dos queijos, e
demonstravam interesse em comprar os mesmos.
Logo viram que a estava uma boa oportunidade de fonte de renda. Que ao
contrario do caf que s trazia retorno financeiro uma vez por ano, a venda dos queijos
e dos outros produtos que faziam, como os biscoitos e doces era dinheiro garantido
sempre, pois todo o produto fabricado era vendido, alm do que as vendas aconteciam
quase todos os dias. Devemos lembrar que a famlia comeou a vender seus produtos, e
a receber pessoas em sua propriedade a mais tempo, porm a atividade passou a ser
reconhecida como agroturismo, e ganhou fora e legitimidade em 1993, com a criao
da Agrotur, como j citado anteriormente. Essa famlia reconhecida como a pioneira,
por ter sido a primeira a receber as pessoas em sua propriedade e a vender seus
produtos, quando a atividade ainda nem tinha nome.
A famlia Brioschi, possui o stio Retiro do Ip h 45 anos, desde que dona Ana se
Casou com o senhor Clarindo, a compra foi realizada no dia do enlace dos dois. A
propriedade possui rea de 55, 66 hectares.
7 Pai do ex-deputado Federal do Esprito santo, Camilo Cola, hoje grande empresrio do ramo de
transportes, dono da Viao Itapemirim. A Rodovia que liga a BR 262 a Cachoeiro do Itapemirim leva
seu nome.
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38
Comearam a desenvolver a atividade, quando a Agrotur j existia. Em 1993,
antes disso no vendiam nenhum dos produtos que faziam em sua casa, que eram
destinados para consumo prprio. A senhora Ana Joana Brioschi, foi encorajada a ser
scia da Agrotur por uma sobrinha que j fazia parte da associao. Assim ela,
juntamente com a nora, aderiu idia da sobrinha e comearam a vender na loja da
associao, biscoitos e o vinho que faziam. A maior motivao para a insero desta
famlia na atividade foi possibilidade de complementar a renda, mas, sobretudo uma
forma de as mulheres, terem seu prprio dinheiro, sem precisar do auxlio dos maridos.
Podemos observar uma diferena grande j no inicio da adoo da atividade, a
famlia Carnielli comeou no agroturismo buscando uma fonte de renda alternativa a
agricultura que no apresentava muitas perspectivas. E a famlia Brioschi, buscava uma
renda extra, mais que nesse caso era destinada para as mulheres.
3.3- Populao da propriedade
Na propriedade dos Carnielli moram 15 pessoas da famlia. Trabalham durante o
ano todo 40 funcionrios, e no perodo da safra do caf esse nmero chega a 70
funcionrios, todos com carteira assinada, pois eles no trabalham mais com o sistema
de colonato. Das 15 pessoas da famlia que moram na propriedade apenas 7 trabalham
na mesma, alm desses, 2 moram na cidade e vem todos os dias trabalhar na
propriedade. Eles administram todas as atividades desenvolvidas, no contando com a
ajuda de ningum de fora para realizar essa tarefa.
Na propriedade dos Brioschi moram 13 pessoas da famlia. Contam com a ajuda
de 9 colonos8 para realizarem as atividades agrcolas e na lida com o gado. Das 13
pessoas da famlia que moram na propriedade 8 trabalham na mesma, as 4 crianas e
uma nora no colaboram nas tarefas da propriedade, a nora trabalha como secretria em
uma escola municipal. A tarefa de administrar a propriedade cabe ao filho mais velho,
que s vezes conta com a ajuda do pai e do irmo para esse trabalho, mais no tem ajuda
de pessoas de fora para isso.
Nesse aspecto podemos comprovar como so discrepantes as diferenas entre as
duas famlias, a primeira conta com a ajuda de muitos funcionrios e trabalha apenas
8 Colono da forma em que est exposto no texto, refere-se a uma forma de organizao econmica
e social, tpica de reas rurais, em que o trabalhador explora a terra do proprietrio que em contrapartida
fica com parte da produo como forma de pagamento.
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com funcionrios assalariados, enquanto a segunda tem poucos funcionrios e eles
trabalham com o sistema de colonato. Para manter 40 funcionrios assalariados durante
todo o ano, as despesas so grandes. J no sistema de colonato, o dono da propriedade
no precisa desembolsar grandes quantias de dinheiro, porque o colono recebe a
porcentagem combinada sobre a produo agrcola, quando a safra vendida. Isso
denota a diferena de poder monetrio das duas famlias e da escala em que eles
produzem.
3.4 Elementos do processo de produo.
Quanto aos aspectos produtivos das fazendas pude fazer algumas constataes
interessantes. Na famlia Carnielli a produo predominante, ainda o caf, seguido dos
queijos, principalmente os sem lactose. Alm desses produtos, eles ainda mantm a
produo de palmitos do tipo pupunha, abacate, cana de acar e eucalipto, em pequena
quantidade, que utilizado na manuteno de construes, e como combustvel na
agroindstria.
O caf considerado por eles o produto mais rentvel, seja o expresso, em gro
ou modo grosso. considerado o mais rentvel porque eles possuem a matria prima,
ao contrrio do queijo que eles compram o leite de fora. O leite que eles usam na
fabricao dos queijos, vem de Castelo, uma cidade vizinha. Isso porque segundo
Albertina, eles viram que no era vivel manter o gado, saia mais caro o leite produzido
na propriedade, e com menor qualidade do que o leite vindo da regio. Alm disso, o
caf deles um produto que tem uma qualidade especial sendo assim valorizado no
mercado e no to perecvel quanto os gneros alimentcios que eles vendem.
E dentre todos os produtos que eles fazem o que consideram o menos rentvel
o fub. Isso porque acreditam que ele tem uma relao custo/beneficio ruim, e ocupa
muito volume. Alm dos produtos citados acima a famlia ainda produz e vende na
lojinha da fazenda, diversos tipos de queijos frescos, queijos maturados, queijos
defumados, produtos sem lactose, cafs variados, embutidos e derivados de porco,
biscoitos, bolos, pes, doces, gelias, pastas, e trabalhos manuais.
Um aspecto que vale a pena ser dito que na lojinha da fazenda, onde recebem
os turistas, eles trabalham com vrios cartes de crdito. Possuem tambm um site9,
9 Site da famlia Carnielli: www.carnielli.com.br.
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onde expe seus produtos, fazem cotao e venda online dos mesmos, com isso vendem
e mandam seus produtos para todo o Brasil. Ainda vendem seus produtos na loja da
Agrotur e para redes de supermercados tanto do Esprito Santo como de outros estados
do Brasil.
Por exemplo, os cafs podem ser encontrados em Manaus, em diversos
municpios do Esprito Santo, em supermercados em diferentes lugares da Bahia, Rio de
janeiro, Paran, Rio Grande do Sul, Sergipe e So Paulo. O fub produzido por eles
tambm pode ser encontrado em diversos municpios do estado, e em supermercados na
Bahia e no Rio de Janeiro. J os queijos podem ser encontrados em muitos pontos de
venda no Esprito Santo e em um ponto de venda em Braslia. Mas como dito antes,
qualquer um desses produtos pode ser adquirido em qualquer lugar do pas seja por
consumidores individuais ou por donos de comrcio, basta para isso realizar a
encomenda pelo site da famlia.
Na famlia Brioschi, a produo predominante tambm o caf. Alm deste
produto agrcola eles ainda matem produo de milho e feijo. Alm de conservar
algumas vacas para a produo de leite.
O caf considerado por eles o produto mais rentvel porque, segundo dona
Ana, ainda tem boa sada no mercado, mesmo que o preo no seja to bom, a famlia
sempre consegue vender e ainda sobra um lucro, mesmo que pequeno. E o considerado
menos rentvel foi o leite. Isso porque segundo eles tem uma relao custo/benefcio
ruim. A manuteno do gado requer muitos gatos que no so recompensados na hora
de vender o leite. Eles produzem ainda vinho de jabuticaba, biscoitos, doces, socol10
, e
diversos embutidos derivados de porco.
Eles ao contrrio da primeira famlia, no trabalham com cartes de crdito, nem
possuem site. Apenas vendem seus produtos na lojinha que construram na propriedade,
na lojinha da Associao, Agrotur, e na feira da cidade.
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Embutido feito com fil de lombo de porco, com modo peculiar de ser preparado, tpico da culinria italiana. A carne temperada com sal, pimenta e alho e envolvida por uma pele retirada da barriga do
porco depois fica curtindo por no mnimo 4 meses. O socol de Venda Nova poder entrar no rol da
Indicao Geogrfica- IG, que uma ferramenta coletiva de promoo comercial dos produtos, que
reconhece como nica a forma de produo, limitante a rea geogrfica, a receita, dentre outras
caractersticas que tornam o produto nico no mundo. O Sebrae contratou uma empresa de assessoria e
dessa parceria ser originado o dossi a ser apresentado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial-
INPI. Com o IG, o socol de Venda Nova ser reconhecido no mesmo nvel que a champanhe francs, os charutos cubanos e outros produtos pelo mundo. (Jornal Folha da Terra, edio especial de turismo e 32
Festa da Polenta, N787 outubro de 2010).
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Com isso podemos perceber algumas semelhanas e diferenas entre elas. A
primeira semelhana que em ambos os casos, o produto mais representativo
economicamente e mais importante na propriedade o caf. O que j era de se esperar,
j que esse o produto que move a economia do municpio. As duas famlias quando
perguntadas sobre o que achavam da rentabilidade da agricultura atualmente, foram
unnimes em dizer que piorou. Isso se deve as constantes crises e oscilaes de preo
por que passa o nosso setor agrcola.
No mais podemos observar muitas diferenas. Enquanto a primeira famlia
produz uma quantidade maior de itens para vender, a segunda no tem uma variedade
to grande. Outra diferena e talvez essa mais significativa, em relao
comercializao dos produtos. A famlia Carnielli vende seus produtos para os turistas
que vem at a cidade, na capital, em diversos pontos no estado e no Brasil e at mesmo
para qualquer pessoa em qualquer lugar do pas atravs das vendas online. A famlia
Brioschi vende seus produtos apenas no mercado local. No extrapolando os limites
municipais.
3.5- Aspectos mais relevantes no uso dos territrios no agroturismo.
Retomaremos agora aspectos mais especficos sobre o agroturismo, nos dois
casos estudados. Lembrando que este o norte do trabalho, a atividade e sua
interferncia no meio rural. Vamos buscar a principal motivao para que as famlias
entrassem no agroturismo, se tiveram incentivos financeiros, se participam de
associaes, como exploram a atividade dentro de suas propriedades, as maiores
dificuldades, os pontos positivos que tal prtica gerou na propriedade, os negativos, o
papel das mulheres. E at mesmo as perspectivas para o futuro da atividade, entre outros
aspectos pertinentes para o trabalho.
A famlia Carnielli, como j exposto neste trabalho, iniciou na atividade porque
sentiu necessidade de buscar uma alternativa para a agricultura, que no estava se
mostrando suficiente. Depois, segundo Albertina, os principais incentivos para
continuar foram a possibilidade de renda freqente, o ano todo, e a permanncia do
homem no campo evitando o xodo rural, e a valorizao do homem do campo.
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A valorizao quando eu falo, que primeiro o homem do
campo era visto como um caipira, e hoje no, hoje eles vem agente,
eles respeitam, os turistas respeitam e valorizam. Uma outra coisa a
vida saudvel no campo, voc tem um ar puro, clima muito bom, a
natureza, e poder continuar morando num lugar saudvel muito bom.
(Albertina Carnielli)
Como vimos ressalta os pontos que segundo ela mais motivaram a famlia a
continuar com o agroturismo. D nfase a permanncia do homem no campo, alm da
valorizao do mesmo, que agora sente que seu trabalho tem mais valor.
Eles exploram outros aspectos da propriedade na prtica do agroturismo e no
apenas a venda dos produtos que fazem. Ou seja, exploram os diversos usos que fazem
do territrio. Abordam a histria da famlia, a histria do agroturismo, aspectos
relacionados colonizao italiana, hbitos e aspectos culturais. Fazem visitas
agendadas pela propriedade, com palestras pedaggicas onde exploram aspectos
interessantes relacionados ao meio ambiente e ao agroturismo.
Figura 9- Fotografia da loja da famlia Carnielli, em sua propriedade.
Fonte: acervo pessoal, setembro de 2010.
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Figura 10- Fotografia da palestra, parte da visita de alunos a propriedade.
Fonte: acervo pessoal, outubro de 2010.
O territrio se forma a partir do espao, ele resultado da ao dos homens
sobre o espao. A forma com esses se apropriam e as relaes que desenvolvem no
espao do origem aos territrios. Neste sentido, territrio seria:
[...] um espao onde se projetou um trabalho, seja energia e informao, e que,
por conseqncia, revela relaes marcadas pelo poder. (...) o territrio se
apia no espao, mas no o espao. uma produo a partir do espao. Ora,
a produo, por causa de todas as relaes que envolve, se inscreve num campo
de poder [...] (RAFFESTIN, 1993, p. 144).
Eles realizam prticas de produo integradas ambientalmente, uma das formas
pelas quais eles se utilizam do territrio atravs da realizao de prticas de
preservao do meio ambiente, o patriarca da famlia o Senhor Domingos Carnielli faz o
reflorestamento da propriedade com rvores nativas. Mostram as prticas de no eroso
com a utilizao de caixas secas. Abordam a questo do destino dos rejeitos da
agroindstria, pois o soro que sobra do processo de fabricao dos queijos todo
bombeado para a lavoura.
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Figura 11- Fotografia do soro da agroindstria que bombeado para a lavoura, servindo como
fertilizante.
Fonte: acervo pessoal, outubro de 2010.
Figura 12- fotografia da rea de APP, beira do rio, que est sendo reflorestada com rvores
nativas.
Fonte: acervo pessoal, outubro de 2010.
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Alm de realizarem prticas de preservao ambiental, a famlia visando auto-
sustentabilidade possui em sua propriedade uma pequena usina de gerao de energia
eltrica, que gera energia a partir de uma queda dgua de 110 m, com uma potncia de
40 cavalos, produzindo toda a energia que gasta na fazenda.
Eles ainda possuem uma roda dgua, que devolve a gua utilizada na usina para
o rio, esta alm de ser mais um atrativo para os turistas, que ficam encantados com o
barulho e a fora da gua, ainda tem uma funo mais importante, a de devolver a gua
oxigenada para a natureza.
Figura 13- fotografia da pequena usina que gera a energia para toda a propriedade.
Fonte: acervo pessoal, outubro de 2010.
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Figura 14- Fotografia da Roda dgua na propriedade.
Fonte: acervo pessoal, outubro 2010.
Tambm utilizam a lenha do abacate, do caf e do eucalipto na agroindstria.
uma forma de reaproveitar essas sobras de madeira que seriam descartadas, desse modo
tambm evitam o desmatamento de outros tipos de madeira, como de arvores nativas.
Figura 15- Fotografia das lenhas e dos galhos de abacate, caf e eucalipto que so usados na
agroindstria.
Fonte: acervo pessoal, outubro de 2010.
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Eles tambm se utilizam do territrio, realizando atividades agrcolas, essas
ainda se transformam em atrativo para os turistas que adoram conhecer as plantaes.
Como exposto anteriormente eles possuem lavouras de caf, plantao de palmito do
tipo pupunha, eucalipto, abacate e cana de acar. Essas plantaes so mais uma forma
pela qual eles imprimem um trabalho sobre o espao, e se apropriam dele.
A famlia cria alguns animais na propriedade, porm nem todos so mostrados
para os turistas, como o caso do gado, a famlia possui algumas cabeas de gado, mais
no explora esses animais como atrativo na atividade do agroturismo. Isso porque so
em um pequeno nmero, e so animais para o abate e consumo prprio. No entanto
outros animais como as galinhas e os paves, so mostrados para os turistas que adoram
ver esses animais que na cidade s tm contato pela televiso.
Figura 16- Foto dos galos e galinhas que so expostos aos turistas.
Fonte: acervo pessoal, outubro 2010.
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Figura 17- foto do pavo que mostrado aos turistas.
Fonte: Acervo pessoal, outubro de 2010.
Outros pontos explorados como atrativos na Fazenda Carnielli, so a histria da
famlia, a histria do agroturismo e aspectos relacionados colonizao italiana seus
hbitos, costumes e tradies. Alis, essas so questes que muito interessam aos
turistas, que ficam encantados com as peculiaridades desse povo. Essas particularidades
refletem em todas as dimenses da vida, tornando esse povo e esse lugar nicos e muito
interessantes.
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Figura 18- Fotografia dos instrumentos e utenslios dos antepassados que fazem parte da histria
da famlia.
Fonte: acervo pessoal, outubro 2010.
A famlia resolveu explorar todos os aspectos, mostrando os diversos usos que
fazem do territrio, citados acima porque viu nessa prtica uma possibilidade de
aumentar os rendimentos, pois dessa forma agregam valor ao agroturismo, alm de ser
um diferencial da propriedade, que assim se destaca das demais.
Como dito anteriormente a entrada da famlia Brioschi no agroturismo se deu
para que essa fosse uma alternativa de renda para as mulheres e o fator que mais
motivou, foi o exemplo de parentes que estavam praticando a atividade e com isso
estavam conseguindo ampliar sua renda.
A famlia explora o agroturismo, apenas recebendo os turistas em sua loja que
fica na propriedade e vendendo os produtos que fabricam. Eles no realizam passeios
pela propriedade, no mostram as etapas de produo nem fazem uso de mais nenhum
atrativo da propriedade, eles no exploram os diversos usos que fazem do territrio. No
exploram mais a propriedade, porque para isso precisariam fazer mais investimentos,
alm do que necessitariam de um nmero maior de pessoas, o que agora no vivel
para eles.
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Figura 19- Fotografia da loja da famlia Brioschi, no stio Retiro do Ip.
Fonte: acervo pessoal, outubro 2010.
Como podemos ver as duas famlias buscavam na atividade uma forma de
aumentar a renda, porm a primeira famlia via uma oportunidade de diversificar as
fontes frente a pouca lucratividade da agricultura e a segunda famlia visava mais um
complemento da renda, sobretudo direcionado as mulheres. Diferem tambm quanto a
forma pela qual exploram a atividade. A famlia Carnielli, explora os diversos usos que
faz do territrio como uma forma de agregar valor a atividade. E a famlia Brioschi
apenas vende seus produtos na loja dentro da propriedade. Isso se deve, como vimos, a
necessidade de investimentos e mo de obra que a explorao de outros aspectos exige.
E a segunda famlia se mostra impossibilitada de realizar esses investimentos no
momento.
3.6- Participao em Associao ligada ao agroturismo.
Sobre a participao em alguma associao no municpio vinculada a questo do
turismo, os Carnielli participam da Agrotur, associao que ajudaram a fundar, por
terem sido pioneiros na atividade. Questionada sobre a importncia da associao para o
desenvolvimento da atividade a representante da famlia disse que fundamental.
Relatou sua importncia para a organizao dos associados, e descreveu uma srie de
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coisas que demonstram essa importncia, o fato de se reunirem e trabalharem em torno
de um objetivo em comum. A parceria, que faz com que eles cresam como grupo.
Alm de a associao possuir CNPJ, o que possibilita a participao dos associados em
eventos importantes. Tambm conseguiram com a associao criar a lojinha da Agrotur,
que alm de divulgar os produtos das famlias, virou um carto postal da cidade.
Figura 20- Fotografia da loja da Agrotur, as margens da BR 262, ponto estratgico no municpio.
Fonte: acervo pessoal, setembro 2010.
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Fonte 21- Fotografia do Interior da loja da Agrotur.
Fonte: acervo pessoal, setembro 2010.
A associao tambm importante para auxiliar a todos na atividade, como por
exemplo, a Agrotur, est celebrando um contrato de licena ambiental, para que todas as
propriedades se adqem as leis ambientais, sem esse auxlio seria difcil para alguns
associados, j que este um processo muito caro.
A famlia Brioschi tambm associada Agrotur, reconhecem sua importncia e
acreditam que ela boa porque incentiva a participao. Percebem tambm a
importncia da loja, que divulga bastante os produtos de todos e trs benefcios para os
associados principalmente para as mulheres que agora tem o dinheiro para comprar suas
coisas. Ana Joana Brioschi.
As respostas mostram o quanto a Agrotur importante na realizao do
agroturismo na cidade, os associados percebem nela um elo entre eles, e uma mola
propulsora da atividade.
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3.7- Incentivos Financeiros
Sobre os incentivos financeiros, para iniciar na atividade, a famlia Carnielli no
recebeu nenhum. Comearam apenas com recursos prprios, somente fizeram
emprstimo para realizao de uma reforma no laticnio, isso aconteceu a pouco tempo.
Mais por muitos anos no contaram com nenhum dinheiro que no viesse da prpria
famlia.
A famlia Brioschi quando ingressou na atividade tambm no contou com
nenhum incentivo financeiro, apenas usaram capital da famlia, e realizaram um
financiamento, recentemente, para construrem a lojinha na propriedade.
Como foi possvel verificar, nenhuma das famlias contaram com incentivo
financeiro para iniciar a prtica do agroturismo. O que mostra que no h por parte de
nenhum rgo incentivos dessa natureza para promover a atividade. As famlias
recorreram a emprstimos apenas para ampliao e melhorias na infra-estrutura, quando
a atividade j estava consolidada em ambos os casos.
3.8- Atores envolvidos e realidade da atividade em cada propriedade
Trabalham na Fazenda Carnielli com atividades relacionadas ao agroturismo 40
pessoas, empregadas com carteira assinada, alm dos 9 integrantes da famlia. Todos de
forma direta ou indireta trabalham na atividade agroturstica realizando as tarefas da
propriedade, sejam as relacionadas agricultura ou as da agroindstria.
A famlia produz e vende apenas os gneros alimentcios que sempre fizeram em
sua casa, porm com a profissionalizao da atividade passaram a implementar a
produo com novas receitas e novas tcnicas produtivas. Ou seja, o queijo que um
dos produtos de maior destaque da famlia, eles sempre produziram, mas agora tem um