Barroco Moderno

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Revista do Trabalho Final de Fotojornalismo - UnB 1/2012

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Editorial

Brasília é a cidade do funcionalismo público. Isso garante uma população de classe

média, com altos padrões de consumo e poder aquisitiwvo. A estabilidade econômica

é certamente um dos maiores atrativos para se trabalhar no Executivo, Judiciário ou Le-

gislativo. Mesmo com tantos benefícios, uma cidade movida pelo serviço público pode

se ver sufocando quaisquer outras manifestações culturais ou iniciativas de empreende-

dorismo. A criatividade não é estimulada, e a originalidade fica para depois.

Flávia Dutra, de 26 anos, tem uma trajetória interessante que a trouxe nessa edição.

Mesmo com todos os anseios de independência financeira e estabilidade, sua criati-

vidade falou mais alto. Dizem que Brasília não tem mercado que não seja o concurso

público, pois a Baroque é a prova disso. Com o certo empenho e estudo, uma marca

pode e vai dar muito certo. Principalmente aqui, onde a estabilidade garante um enor-

me contingente de classe média, pronta para consumir.

São exemplos como esses que ajudam Brasília a tornar-se efetivamente uma metrópo-

le. A urbanização e o crescimento trazem diversos problemas sociais e econômicos que

não devem ser relevados. A cultura e a inovação se apresentam como parte intrínseca

da recuperação desse processo. Todo tipo de originalidade, comercial ou não, deve ser

explorado e incentivado. Uma cidade não sobrevive de concreto e cursinhos.

Marianna Holanda

Trabalho Final para FotojornalismoDepartamento de Jornalismo

Faculdade de comunicação - UnB

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Entre a Arte e o Concurso

Mesmo com um mapa na mão e várias indicações, achei que fosse me perder. Aos

poucos, o concreto do Plano Piloto foi abrindo caminho para o campos e mais

campos de cerrado. Felizmente, depois de algumas voltas, encontrei o condomínio. A

primeira casa, na décima rua à esquerda, me instruíram.

Lá, cercada por um muro baixo, parece existir mais árvores que nos campos que ao

redor. Não se engane, tudo muito bem cuidado. Piscina, namoradeiras, almofadas e

até uma pequena estátua de madeira do Buda. Na porta, sou recebida por uma moça

de seus 20 e poucos anos, cabelos loiros e vestido longo vermelho, com estampas de

corujinhas. Flávia comenta do calor e do longo caminho; me oferece um copo d’água.

Parece não haver um único espaço vazio na casa. Mesmo na paredes, disputando es-

paço entre enfeites e quadros, vemos grandes pinturas de dançarinas de cancan. Pode-

se chamar de kitch, mas num sentido em que tudo se harmoniza. Aqui, “mais é mais”.

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Não me espanto quando me conta que a família é toda de artistas. A mãe, funcionária

pública aposentada, é cantora. E além disso, gosta de fazer móveis, vários que estão na

casa são dela, aliás. A outra irmã gosta de pintar. Em seu quarto, uma enorme pintura

na parede, visivelmente insipirada no austríaco Klimt. No final do corredor, o quarto de

Flávia distoa um pouco dos outros. Enquanto as tons fortes, as baianas e as carrancas

reinam no resto da casa; aqui, o “muito” é mais sutil. Seja pelas próprias referências

mais “menininhas”, seja pelas cores, mais claras e alegres. Ela me pede desculpa pela

bagunça e me convida para sentar lá fora, no jardim.

Numa grande mesa de madeira, ela me mostra os colares que fez ao longo da sema-

na. Aliás, não “colares”, mas “Baroques”, como ela gosta de dizer. Em julho deste ano,

a única da família que ainda não exibira sua veia artística, surpreendeu a todos e a si

mesma. Observando uma tendência na moda, o tal do “maxi colar” - colar grande ou

simplesmente chamativo-, viu que nada do que era produzido em Brasília parecia lhe

agradar. Foi então que, com uma idéia do que queria para si mesma, fez o seu primeiro

colar. Com elogios, fez o segundo para a mãe. Depois disso, a demanda era tão gran-

de, que a comercialização tornou-se natural.

A originalidade é uma coisa que pulsa em Flávia. Mesmo sua monografia - ela é forma-

da em Relações Internacionais pela UnB-, fugiu de todos os lugares comuns. Enquanto

seus colegas falavam de guerra civis e de África, ela escreveu sobre a exportação de

moda no Brasil. Me conta que sempre se incomodou com a falta de autenticidade na

moda brasileira. Desde a modelagem às tendências, as marcas daqui “copiam” as de

lá do hemisfério norte. Se formou com a nota máxima e com louvor. Talvez por isso

também resolveu fazer um curso de Gestão de Criação numa das maiores faculdades

de design dos Estados Unidos, a Parsons. Segundo ela, seu perfil é muito mais para a

administração, compreensão total da marca, do que para peças em si.

Voltando para o Brasil sem ter uma grande idéia do que queria e com medo de arris-

car num mercado pouco explorado, largou a criação para voltar a dar aulas de Inglês

(emprego que teve durante muitos anos, mesmo antes do curso). Quando seu trabalho

tornou-se insuportável, resolveu pedir demissão e se juntar ao noivo na vida de concur-

seiro. Para alguém que trabalha desde os 17 anos, esse foi um passo difícil, pois voltaria

a ser sustentada pela família. No entanto, quando funcionária pública, sua independên-

cia financeira estaria garantida para sempre.

Um ano se passa. A rotina de estudo só é quebrada quando seus colares fazem um

enorme sucesso entre as amigas - e as amigas das amigas, e as amigas das amigas

das amigas. Foi então que lhe surgiu a idéia de criar uma marca, apoiada em tudo que

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aprendeu na Parsons, e ver até onde poderia ir. Inspirada no seu próprio gosto, esco-

lheu cristais austríacos como instrumentos de trabalho - um dos motivos que justifica os

altos preços, em torno de 160 reais cada colar. Feminina, queria um nome relacionado

a “barroco”, sem ser antiquado ou pretensioso; e assim ficou “Baroque”, se pronun-

ciando como se lê. Delimitou público-alvo; fez a marca com um amigo; abriu uma conta

de empresa no Facebook. Esse último foi essencial para a viralização da marca. Mais de

450 pessoas já curtiram a página da Baroque.

Agora, suas apostilas e livros de concurso abriram espaço para revistas de moda

e tendências. Sua rotina mudou em tudo: não mais tem tempo pra estudar, já que a

produção, venda e entrega dos colares fica toda por sua conta. Flávia diz não ter noção

de quantos colares já vendeu, mas acha que já foram mais de 100. Tudo, me garante,

da melhor qualidade. E claro, único. Ela não repete nenhum design de colar, e também

não aceita encomendas. Segundo ela, seu processo criativo não pode ser interrompido.

Todas as quintas, ela coloca por volta de 12 fotos de diferentes colares na rede social.

Em menos de uma hora, esgota tudo. Como? As clientes comentam nas fotos pedindo

reserva, e a transação (ou o acordo da transação, já que o Facebook não comporta essa

ferramente) é feita por inbox. Esse é um dos maiores problemas, me revela. Além de

ser ainda uma venda muito pessoal - ela tem que acertar pessoalmente com a cliente e

entregar o colar em sua casa -, acontece de mais de uma pessoa comentar ao mesmo

tempo pedindo uma reserva.

Independente de pequenos detalhes, a Baroque anda prosperando, até mais do que o

esperado. O Facebook ajudou muito, mas o site oficial da marca fica pronto em Outu-

bro. Isso resolve principalmente o problema das transações, diz Flávia. Também pre-

tende terceirizar o frete - até porque, seus colares já foram parar até em Paris. Pergunto

se caso o edital do concurso que ela queria finalmente saísse, o que ela faria. Tentaria

os dois, responde. Para ela, a estabilidade financeira de um concurso público é muito

importante, e coisa que, certamente, uma marca nova não pode proporcionar. O em-

preendedorismo te deixa à mercê do mercado, e os altos custos de produção, a oficiali-

zação da marca não se tornam um atrativo.

Flávia diz não ter interesse em abrir uma loja física. Talvez, se tudo der certo, em mui-

tos anos. Pela primeira vez, no sábado 22, ela vai vender sua peças pessoalmente. Uma

amiga, dona de uma loja brasiliense de roupas, teve a iniciativa de fazer uma feira, a

“Limonada”. Lá, desde barraquinhas de biscoitos e brigadeiros, até colares de cristais,

como os da Flávia.

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“O Facebook foi essencial para

a viralização da Baroque”

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“Barraca da Baroque na Limonada”

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Backstage do editorial

de moda

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