ufrj instituto de geociências – igeo departamento de geografia ...
Bacia do Recôncavo - TWikitwiki.ufba.br/twiki/pub/IGeo/GeolMono20122/TFG-DEIZE.pdf · v RESUMO...
Transcript of Bacia do Recôncavo - TWikitwiki.ufba.br/twiki/pub/IGeo/GeolMono20122/TFG-DEIZE.pdf · v RESUMO...
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
GEOLOGIA
DEIZE ELLE RIBEIRO DA SILVA
CARACTERIZAÇÃO SEDIMENTOLÓGICA E
ESTRATIGRÁFICA DE TESTEMUNHOS DA
FORMAÇÃO ITAPARICA, CAMPO FAZENDA
ALVORADA, BACIA DO RECÔNCAVO, BAHIA, BRASIL
Salvador
2013
i
DEIZE ELLE RIBEIRO DA SILVA
CARACTERIZAÇÃO SEDIMENTOLÓGICA E
ESTRATIGRÁFICA DE TESTEMUNHOS DA
FORMAÇÃO ITAPARICA, CAMPO FAZENDA
ALVORADA, BACIA DO RECÔNCAVO, BAHIA, BRASIL
Monografia apresentada ao Curso de Geologia, Instituto
de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em
Geologia.
Orientador: Prof. Dr. Michael Holz Co-orientador: Paulo da Silva Milhomem
Salvador
2013
ii
TERMO DE APROVAÇÃO
DEIZE ELLE RIBEIRO DA SILVA
CARACTERIZAÇÃO SEDIMENTOLÓGICA E
ESTRATIGRÁFICA DE TESTEMUNHOS DA
FORMAÇÃO ITAPARICA, CAMPO FAZENDA
ALVORADA, BACIA DO RECÔNCAVO, BAHIA, BRASIL
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Geologia na Universidade Federal da Bahia
_________________________________________________________________ 1° Examinador - Michael Holz (GETA - UFBA) - Orientador Doutor em Geociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFGRS _________________________________________________________________
2° Examinador - Geólogo Rodrigo Waldemar de Freitas (PETROBRÁS) _________________________________________________________________ 3° Examinador Geólogo Roberto Rosa da Silva– (UFBA- PETROBRÁS)
Salvador, 01 de abril de 2013
iii
´´ Imaginar é o princípio da criação. Nós imaginamos
o que desejamos, queremos o que imaginamos e
finalmente , criamos aquilo que queremos.´´
George Bernad
iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por todas as oportunidades que me foram
oferecidas, às dificuldades que estavam associadas sempre a uma presença amiga, que
estabeleciam a força necessária para superá-las. Aos meus pais José e Neide, meu irmão
Deivd e minha tia Áurea que representam peças fundamentais no trilhar dessa história.
Aos amigos e colegas conquistados nesse caminho, aos colegas do GEF (Grupo de
Estudos de Foraminíferos), do GETA (Grupo de Estratigrafia e Sedimentologia Teórica
Aplicada) e o Professor Michael Holz, por toda a compreensão e auxilio.
A todos da Petrobrás em especial ao pessoal da Exploração do laboratório de
Sedimentologia e Estratigrafia. Às meninas Judeny, Val, Soninha, Claudineuza, Miriam,
Lucinha, Eliane, Auxiliadora e Graça. Aos meninos Edson, Edson Cosme Iguatemi,
Adilso. Que contribuíram não apenas no que confere as características profissionais,
como para meu crescimento como pessoa. Em especial aos geólogos Paulo Milhomem
e Rodrigo de Freitas, que foram verdadeiros pais, professores e amigos, e a Marisa de
Freitas por todo o apoio e ajuda na revisão do texto, além do carinho e dedicação que
me foi depositado. E ao Márcio por todo o incentivo e a ajuda.
Aos anjos que surgiram em minha vida nos momentos mais decisivos, anjos que
surgiram em forma de gente, que se aproximaram de mansinho e logo mudaram, cada
um em seu momento e ao seu modo, o cenário em que eu vivia. Dentre tantos destaco
quatro, que são conhecidos pelos nomes de Tássia, Viviane e Lorena (tornaram-se as
irmãs que nunca tive!), agradecer a Lore pelas noites perdidas e por todo o abrigo que
me ofereceu nessa ultima etapa, e Ildeson (meu amor) por tudo o que tem me ensinado e
todo o amor e amparo.
No IGEO, agradeço aos professores Osmário, André Netto, Simone, Débora,
Ângela, Rosa, César Corrêa, Haroldo Sá, Cícero, Flávio Sampaio, Olívia, Carlson,
Hailton e aos demais, sendo parte importante na minha formação. Aos Colegas do
Curso em especial aos companheiros dos campos e dos estágios: Carol (galega), Daniel,
Caio, Luana, Clarinha, Paulo, Aline Atta, Iarinha, Iasmine, Tassiane, Dianne, Perola,
Pedro, Felipe e toda a turma da trupe.
E a todos os demais que já estão inseridos em muitos textos da minha vida.
v
RESUMO
Esta monografia baseia-se na análise sedimentológica e estratigráfica de uma seção
que corresponde a Formação Itaparica, do Campo Fazenda Alvorada, situado no
compartimento Nordeste da Bacia do Recôncavo. O estudo compreendeu a análise de
114,7 metros de testemunhos de dois poços e a correlação de seus perfis elétricos,
visando definir as características texturais, as estruturas sedimentares e a composição
das rochas, com a finalidade de identificar as fácies e associação de fácies, para assim
estabelecer o ambiente deposicional e a evolução paleogeográfica.
Como resultado do estudo, foram identificados os ambientes fluviais, deltaicos e
lacustres que caracterizam ciclos deposicionais, característicos da fase pré-rifte/proto-
rifte da Bacia do Recôncavo. Foram identificadas 9 fácies, agrupadas em 4 associações,
denominadas: fluvial, planície deltaica, barra de desembocadura e prodelta/lacustre.
O empilhamento estratigráfico mostra a ocorrência de quatro ciclos progradacionais
deltaicos, subordinados a um ciclo retrogradacional.
A correlação entre dois poços mostra direção de nordeste para sudoeste na deposição
destes sedimentos, pela maior razão arenito/folhelho e pelos ambientes encontrados. No
poço a nordeste, foram encontrados espessos estratos arenosos fluviais que no poço a
sudoeste são substituídos por pacotes deltaicos de menor espessura.
Palavras-chave: Deltas, Retrogradação, Fácies.
vi
ABSTRACT
This monograph is a result of the sedimentary and stratigraphic analysis of one
section related to the Itaparica Formation, of the Campo Fazenda Alvorada, located in
the Northern compartment of the Reconcavo Basin. The study of 114.7 meters of
sample allowed the analysis of the texture and genetic characteristics meant for defining
facies and association of facies, so as to establish the genesis of the deposits. It was
identified, as a result of the study, fluvial, deltaic and lacustrine environments that
contextualize cycles of deposition, which are characteristic of the pre-rift/proto-rift of
the Reconcavo Basin. Nine facies, were identified, grouped in four associations: fluvial,
deltaic and lacustrine.
The stratigraphic stacking indicates a retrogradational cycle, in which there are
occurrences of small retrogradations in a register of four cycles, which are
characteristics of a deltaic deposition system, predominant in the studied interval, with
the fluvial contribution, represented by the thick sandy strata, in one of the sample. Such
sandy packages are interspersed and progressively substituted by lacustrine deposits.
The cycle ends with an inundation of the system and of the domain of the lacustrine
system.
Key-words: Deltas, Retrogradation., Facies.
vii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Mapa de localização da Bacia do Recôncavo (Silva, 2006). .................................................... 11 Figura 2: Posição do Campo Fazenda Alvorada, Bacia do Recôncavo-Bahia Brasil. (Camões & Destro,
1996). ......................................................................................................................................... 13 Figura 3: Os principais limites e estruturas da Bacia do Recôncavo (Santos, 2005). ............................. 17 Figura 4: Bloco estrutural da Bacia do Recôncavo, (Destro et al., 2003) ............................................... 18 Figura 5: Paleogeografia da fase Rifte da Bacia do Recôncavo, (Modificado de Medeiros & Ponte, 1981
apud Magnavita, 2005). .............................................................................................................. 22 Figura 6: Paleoambiente deposicional da Bacia do Recôncavo durante a deposição da Formação
Taquipe (Modificado de Figueiredo et al., 1994 apud Magnavita, 2005). .................................... 23 Figura 7: Principais tipos morfológicos de canais fluviais (Modificado de Miall, 1977 apud Scherer,
2008). ......................................................................................................................................... 32 Figura 8: Perfil de equilíbrio de sistemas fluviais, que corresponde ao nível de base estratigráfico em
sucessões aluviais. Fonte: Modificado de Dalrymple (1998, apud Scherer, 2004). ...................... 35 Figura 9: Modelo hipotético com, destaque para a criação de espaço de acomodação, oriunda de uma
subida do perfil de equilíbrio. Fonte: Modificado de Dalrymple (1998, apud Scherer, 2004). ..... 36 Figura 10: Classificação do Sistema Deltaico (Retirado de Monografia Deltas-C.F. Geológos Jr. 2007,
modificado de Walker. 1992). ..................................................................................................... 37 Figura 11: Estruturas wavy, flaser e linsen. Cor preta e branca representando lama e areia,
respectivamente. Fonte:Reineck e Singh (1980)........................................................................ 40 Figura 12: Sequências de estratos cruzados planares adjacentes as cossequências de estratos
festonados, com seta indicando o fluxo. Modificado de Nichols (2009) ...................................... 42 Figura 13: Heterolito em wavy, apresentando bioturbação do tipo planolites, na foto da esquerda, e
uma camada ondulada truncada, à direita.................................................................................. 51 Figura 14: Folhelho fragmentado em formas aciculares, apresentando aspecto laminado. ................. 52 Figura 15: Mapa de localização dos poços A, C e B, mostrando em detalhe o Campo Fazenda Alvorada.
................................................................................................................................................... 57 Figura 16: Perfil elaborado no programa ANASETE do POÇO A, indicando o perfil Eletrico ( GR), a
profundidade, e as litofácies identificadas. ................................................................................. 59 Figura 17: Perfil elaborado no programa ANASETE do POÇO B, indicando o perfil elétrico (GR), a
profundidade e as litofácies identificadas. ................................................................................. 60 Figura 18: Comparação entre as colunas estratigráficas dos perfis A e B, com a coluna para deltas de
ambientes rasos, sugerida no modelo de Nichols (2009) ........................................................... 61 Figura 19: Correlação dos perfis elétricos de Raios Gama dos três poços: A, B e C. ............................. 63 Figura 20: Modelo proposto por Nichols (2009), para Ambiente Deltaico, evidenciando as partes que o
compõem. .................................................................................................................................. 64 Figura 21: Sugestão do Paleoambiente e suas respectivas fácies. ........................................................ 65
viii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Correlação de Dados Litológicos e dos Sistemas Deposicionais da Bacia do Recôncavo ........ 24 Tabela 2: Relações entre o estágio evolutivo da Bacia do Recôncavo, cronoestratigrafia e biozonas de
ostracodes não marinhos. ........................................................................................................... 26 Tabela 3: Fácies sedimentares, indicando as texturas, estruturas e processo atuantes na formação. de
................................................................................................................................................... 54 Tabela 4: Associação de fácies e seus respectivos subambientes e o sistema principal. ....................... 56
ix
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO ...................................................................................... 11
1.1 OBJETIVO ................................................................................................... 13
1.2 JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 14 1.3 METODOLOGIA .................................................................................................. 14
1.3.1. Pesquisa bibliográfica ....................................................................................... 14
1.3.2. Aquisição de dados ........................................................................................... 14
1.3.3. Tratamento de dados ......................................................................................... 15
Capitulo 2: GEOLOGIA REGIONAL ......................................................................... 16
2.1 A BACIA DO RECÔNCAVO ............................................................................... 16 2.1.1 Embasamento da Bacia e Arcabouço Estrutural ................................................. 17 2.2. Evolução Tectono-sedimentar ............................................................................... 18
2.2.1 Supersequência Paleozoica ................................................................................ 19
2.2.2 Supersequência Pré-Rifte ................................................................................... 19
2.2.3 Supersequência Rifte ......................................................................................... 19
2.2.4 Supersequência Pós-rifte .................................................................................... 23
2.2.5 Sequências Subordinadas ................................................................................... 23
2.3 BIOESTRATIGRAFIA DA BACIA DO RECÔNCAVO ..................................... 25 Capítulo 3: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................ 27
3.1 SISTEMA DEPOSICIONAL FLUVIAL .............................................................. 30
3.1.1 Processos erosivos ............................................................................................. 30
3.1.2 Processos de transporte e deposição fluvial ....................................................... 30
3.1.3. Tipos de canais fluviais ..................................................................................... 31
3.1.3.1 Rios retilíneos (straight rivers) ....................................................................... 32
3.1.3.3. Rios meandrantes (meandering rivers) .......................................................... 33
3.1.3.4 Rios entrelaçados (braided rivers) .................................................................. 33
3.1.3.5 Rios efêmeros ................................................................................................. 34
3.1.4 Áreas externas aos canais .................................................................................. 34
3.1.5. Acumulação em sistemas fluviais ..................................................................... 35
3.2 SISTEMA DEPOSICIONAL DELTAICO ............................................................ 36
3.2.1 Fatores que Controlam um Delta ....................................................................... 36
3.2.2 Classificação de Deltas ...................................................................................... 37
x
Fluxo Hipopicnal ............................................................................................... 38
Fluxo Homopicnal .............................................................................................. 38
3.3 Algumas Estruturas Deposicionais .............................................................. 39
Criação e Preservação das Estratificaçõs Cruzadas ........................................ 41
Estratificação Cruzada Festonada .................................................................... 41
Formas de leito e suas variáveis ........................................................................ 42
CAPÍTULO 4: ANÁLISE SEDIMENTOLÓGICA E ESTRATIGRÁFICA DOS
TESTEMUNHOS DA FORMAÇÃO ITAPARICA ....................................................... 43
4.1.1 Fácies L-fc ................................................................................................. 44
4.1.2 Fácies ARMG-xf ....................................................................................... 45
4.1.3 Fácies ARF-fl ............................................................................................ 47
4.1.4 Fácies ARF-bifd ........................................................................................ 49
4.1.5 Fácies H-lo ................................................................................................ 50
4.1.6 Fácies SL-bicbfd ....................................................................................... 52
4.1.7 Fácies FL-la ............................................................................................... 52
4.1.8 Fácies L-m ................................................................................................. 53
4.2 Associação de Fácies e Sistemas Deposicionais ................................................... 54
4.2.1 Associação de Fácies................................................................................. 55
4.3 Interpretação e Correlação dos Perfis Elétricos (Raios Gama) .............................. 56
11
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO
A Bacia do Recôncavo situa-se no estado da Bahia, nordeste do Brasil (fig.1). Seus
limites são representados pelo Alto de Aporá, a norte e noroeste; pelo sistema de falhas
da Barra, a sul; pela Falha de Maragogipe, a oeste; e pelo sistema de falhas de Salvador,
a leste. Ela é parte integrante do sistema de riftes do Recôncavo-Tucano-Jatobá, que se
estende também pelos estados de Sergipe e Pernambuco, com área total de
aproximadamente 45.000 Km². A Bacia do Recôncavo compreende 24,4% deste
sistema, ocupando uma área de 11.500 Km² (Magnavita et al., 2005). Sua gênese
relaciona-se ao processo de rifteamento do paleocontinente Gondwana, durante o
Eocretáceo (Berriasiano ao Aptiano) (Santos & Cupertino, 1990).
Figura 1: Mapa de localização da Bacia do Recôncavo (Silva, 2006).
12
A estratigrafia da bacia reflete sua evolução tectônica, estando o registro sedimentar
relacionado, essencialmente, a quatro supersequências que abrangem estágios de
sinéclise, pré-rifte, sin-rifte e pós-rifte.
A Formação Itaparica, objeto deste estudo, foi depositada na fase pré-rifte, em
ambiente predominantemente lacustre raso. Associações de fácies relacionadas a
sistemas fluvio-deltaico-lacustres, que ocorrem de maneira recorrente, caracterizam a
unidade.
O Campo Fazenda Alvorada foi descoberto em 1984 e sua produção, iniciada no
mesmo ano. Os principais reservatórios produtores de óleo do campo encontram-se nos
arenitos das formações Sergi, Itaparica e Água Grande. Os testemunhos analisados
correspondem a um total de 114,7 metros ocorrendo, no trecho do poço A, 47m e, no
poço B, 67,7 m.
O Campo está situado no bloco elevado da Falha de Pedras. Estruturalmente, é
constituído por três blocos principais, isolados entre si, estando limitados a noroeste
pela Falha de Pedras e a sudoeste por falhas normais de direção NW-SE.
13
Figura 2: Posição do Campo Fazenda Alvorada, Bacia do Recôncavo-Bahia Brasil. (Camões & Destro,
1996).
1.1 OBJETIVO
O objetivo desta monografia foi caracterizar as associações de fácies, os sistemas
deposicionais e a evolução estratigráfica da Formação Itaparica no campo de Fazenda
Alvorada. Isto foi possível a partir da descrição sedimentológica de testemunhos e a
correlação de perfis elétricos, em dois poços perfurados pela Petrobras em um
compartimento do campo de Fazenda Alvorada.
Uma vez identificadas as fácies, o objetivo geral do estudo compreendeu a descrição
sedimentológica e estratigráfica de testemunhos, somado à interpretação de perfis da
Formação Itaparica. Esta etapa é compreendida pela identificação litológica, estrutural
e textural dos litotipos, bem como pela associação faciológica e identificação dos
14
ambientes deposicionais. O objetivo específico foi descrever e identificar a gênese
deposicional de um compartimento da Formação em questão.
1.2 JUSTIFICATIVA
Crescentes são as mudanças no âmbito científico, sendo uma real necessidade o
desenvolvimento de estudos que visem a atualização de informações em qualquer área.
No estudo das bacias sedimentares, produtoras potencias de hidrocarbonetos, não é
diferente. Deste modo, o trabalho proposto pretende atualizar a análise faciológica da
seção avaliada, integrando-a aos conceitos da estratigrafia moderna, com a distinção dos
tratos de sistema, a partir da interpretação de dados de testemunhos adquiridos na
Formação Itaparica. O trabalho vem contribuir para a atualização do acervo da
Petrobras, através de procedimentos e metodologias atuais.
1.3 METODOLOGIA
1.3.1. Pesquisa bibliográfica
A pesquisa bibliográfica representou um passo essencial para a fundamentação
teórica elaborada. Contribuições científicas relacionadas à caracterização de sistemas
fluviais e deltaicos, análise estratigráfica sequencial em sistemas continentais e
evolução da Bacia do Recôncavo, com foco na Fm Itaparica, subsidiaram as
interpretações apresentadas.
1.3.2. Aquisição de dados
O trabalho envolveu a descrição de testemunhos e a análise de perfis de dois poços
do Campo de Fazenda Alvorada, no intervalo correspondentes à Formação Itaparica.
Estes poços, aqui referidos como A e B, foram perfurados pela Petrobrás nos anos de
1984 e 1987, respectivamente. A seção testemunhada possui um total de 114,7 metros.
A descrição dos testemunhos compreendeu o estudo faciológico a partir da análise de
suas texturas, estruturas, cor, litotipo, percentagem de hidrocarbonetos e de cimentação
carbonática (calcita e/ou dolomita). A expressão em perfil das fácies e associações de
fácies foi avaliada com a utilização de perfis de potencial espontâneo (SP), raios-gama
15
(GR) e resistividade (ILD e LLD). Os testemunhos foram descritos anteriormente, no
ano de 1988, mas estas descrições foram ignoradas para evitar um viés na interpretação.
1.3.3. Tratamento de dados
Os dados adquiridos foram inseridos no programa ANASETE (Análise Sequencial
de Testemunho) da Petrobras, que é organizado em 8 trilhas. Na 1ª trilha há o perfil de
raios-gama (GR), que informa a radioatividade natural total da rocha, auxiliando na
distinção litológica, em especial no teor de argila; na 2ª trilha está a profundidade
medida no poço; a terceira traz a profundidade do topo e da base dos testemunhos; na 4ª
são indicadas as caixas relacionadas a cada testemunho. As trilhas 5ª, 6ª, 7ª e 8ª
incluem os seguintes elementos: a 5ª representa a granulometria dos sedimentos, usando
a simbologia e as cores padrões do programa; a 6ª e a 7ª trilhas representam os teores
visuais de cimento e argilosidade, respectivamente; a 8ª exibe as associações de fácies.
De posse da caracterização faciológica e das respectivas respostas em perfis,
procedeu-se à correlação entre os dois poços selecionados. As associações de fácies
foram usadas para interpretar o processo de sedimentação bem como o ambiente
deposicional e os tratos de sistemas.
16
Capitulo 2: GEOLOGIA REGIONAL
2.1 A BACIA DO RECÔNCAVO
A Bacia do Recôncavo localiza-se no centro-leste do Estado da Bahia e tem sua
evolução relacionada ao estiramento crustal que provocou a fragmentação do
Supercontinente Gondwana, no Mesozoico, processo este que promoveu a abertura do
Oceano Atlântico Sul. Os esforços distencionais cessaram antes da oceanização da
bacia, o que a classifica como um rifte abortado, correspondendo a parte do sistema de
riftes intracontinentais Recôncavo-Tucano-Jatobá (Magnavita et al. 2005).
Os limites da bacia são o Alto de Aporá, a norte e noroeste; o sistema de falhas da
Barra, a sul; a Falha de Maragogipe, a oeste; e o sistema de falhas de Salvador, a leste
(fig.3) (Milhomem et al., 2003).
A arquitetura da bacia do Recôncavo é do tipo meio-gráben (figura 4). Sua
orientação geral NE-SW resulta dos esforços distencionais atuantes no embasamento
pré-cambriano, definindo falhas normais com direção preferencial N30ºE e camadas
mergulhando para Leste, em direção ao sistema de falhas de borda (Milhomem et al.,
2003).
17
Figura 3: Os principais limites e estruturas da Bacia do Recôncavo (Santos, 2005).
2.1.1 Embasamento da Bacia e Arcabouço Estrutural
O embasamento da bacia é representado pelo Cratón São Francisco e inclui os
seguintes elementos geotectônicos: Cinturão Salvador-Itabuna-Curaçá, Bloco Salvador-
Esplanada, Bloco Serrinha e Grupo Estância.
O Bloco Salvador Esplanada e o Cinturão Salvador-Itabuna-Curaçá, situados a
sudoeste da bacia, apresentam como litologia principal gnaisses granulitizados no
Paleoproterozóico (2.0 G.a).
O Bloco Serrinha se expressa por granulitos arqueanos e TTG´s (tonalítico-
trondhjemítico-granodioríticas), os quais foram migmatizados em idades mesoarqueana
e neoarqueana (3.2 – 2.9 G.a) e apresentam intrusões de granitos, granodioritos e
sienitos do Paleoproterózoico (2.1 – 1.9G.a) (Delgado et.al., 2003).
O Grupo Estância, situado ao norte da bacia, apresenta rochas metassedimentares
originadas de sedimentos depositados na borda nordeste do Cráton do São Francisco,
metamorfizados em baixo grau, sob condições de regime extensional a flexural-termal,
de idade neoproterozóica (750-650 Ma) (Delgado et.al., 2003).
18
A Bacia do Recôncavo exibe uma complexa estruturação, definida por uma rede de
falhas normais sintéticas de alto mergulho, que subdividem-na em diferentes blocos
estruturais (baixos, altos, plataformas) (fig. 3). São, ainda, reconhecidas falhas de alívio
que acomodam diferentes taxas de estiramento na bacia, destacando-se as falhas de
Mata-Catu e Itanagra-Araçás, que separam os três compartimentos reconhecidos no
Recôncavo: Sul, Central e Nordeste (Destro et al., 2003).
Figura 4: Bloco estrutural da Bacia do Recôncavo, (Destro et al., 2003)
2.2. Evolução Tectono-sedimentar
A evolução tectônica da bacia relaciona-se à ruptura do super-continente Gondwana.
O Sistema de Riftes Recôncavo-Tucano-Jatobá seria um braço abortado durante este
processo, que culminou com a abertura do Atlântico Sul, entre o leste da América do
Sul e oeste do continente africano (Magnavita et al., 2005). O registro sedimentar,
preservado na bacia, ilustra os diversos eventos deposicionais que caracterizam esta
evolução tectônica, estando expresso essencialmente pelas Supersequências Paleozoica,
Pré-Rifte, Rifte e Pós Rifte, como caracterizadas por Silva et al. (2007) (fig. 5). Estas
sequências são representadas também em seção geológica esquemática (fig. 6).
19
2.2.1 Supersequência Paleozoica
A Supersequência Paleozoica reflete um contexto de bacia intracratônica, na qual
depositaram-se sedimentos relacionados a ambiente marinho raso a lacustre, definindo
uma tendência regressiva. Os Membros Pedrão e Cazumba da Formação Afligidos
integram esta supersequência. Sua idade permiana foi definida com base em dados
palinológicos obtidos para o Mb Pedrão (Silva et.al., 2007).
2.2.2 Supersequência Pré-Rifte
A deposição da Supersequência Pré-Rifte teve início no Neojurássico, estendendo-se
ao Eocrétaceo. O registro abrange três grandes ciclos flúvio-eólicos, identificados pelo
Membro Boipeba (Formação Aliança), pela Formação Sergi e pela Formação Água
Grande. Intercalam-se a estes ciclos, seções predominantemente pelíticas relacionadas
ao Membro Capianga (Formação Aliança) e à Formação Itaparica (fig. 7).
O Grupo Brotas, representado pelas Formações Aliança e Sergi, tem sido atribuído
ao Jurássico Superior. No Mb Capianga da Fm Aliança são recuperados os ostracodes
que definem a Biozona NRT-001, mas que não podem ser utilizados para uma
vinculação segura da seção ao Neojurássico. Considera-se que as Formações Itaparica e
Água Grande tenham se depositado já no Eocretáceo.
2.2.3 Supersequência Rifte
A Supersequência Rifte identifica a ruptura da crosta e a subsidência diferencial da
bacia com assimetria a leste, originando, em sua fase inicial, um grande lago tectônico.
Depósitos sintectônicos abrangem sedimentos arenosos a argilosos, distribuídos da
borda ao depocentro do lago, respectivamente (Ponte et.al.1981 apud Silva 2007).
20
Figura 5: Carta Estratigráfica da Bacia do Recôncavo, destacado o intervalo estudado. Modificado de Silva et al., 2007.
21
Figura 6: Seção geológica esquemática no compartimento sul da Bacia do Recôncavo, com a
geometria em meio gráben, e as sequências sedimentares FONTE: Carlotto et al. 2006,
(Modificada de Milhomem, 2003).
Figura 7: Paleogeografia pré-rifte da Bacia do Recôncavo (Medeiros e Ponte, 1981 apud
Magnavita et al., 2005).
O estágio inicial lacustre abrange as Formações Candeias (Membros Tauá e Gomo) e
Maracangalha. Nos depocentros, sob ambiente anóxico, depositaram-se argilas ricas em
matéria orgânica, relacionadas, sobretudo, aos Membros Tauá e Gomo da Formação
Candeias (fig.8), de idade eoberriasiana/eovalanginiana (Andar Rio da Serra)
Como resultado da atividade tectônica, fan deltas depositaram-se
contemporaneamente ao longo do sistema de falhas de Salvador, constituindo os leques
areno-conglomeráticos que caracterizam a Fm Salvador e se desenvolvem durante toda
a evolução do rifte.
Os sedimentos dos leques, assim como as areias do Grupo Ilhas, apresentavam
porções que eram retrabalhadas e redepositadas em posições mais distais da bacia. No
22
Mb Gomo, arenitos turbidíticos intercalam-se à seção pelítica lacustre. Fácies
relacionadas a correntes de turbidez e fluxos gravitacionais de massa ilustram os
processos de ressedimentação a partir de frentes deltaicas, durante a deposição da Fm
Maracangalha (membros Caruaçu e Pitanga) (Ponte et.al. 1981, apud Silva 2007; Silva
et al., 2007).
Figura 8: Paleogeografia da fase Rifte da Bacia do Recôncavo, (Modificado de Medeiros & Ponte, 1981
apud Magnavita, 2005).
Ao longo do Rio da Serra, com o progressivo assoreamento da bacia e diminuição
dos gradientes deposicionais, observa-se uma redução da batimetria que permite a
progradação deltaica, incialmente expressa pelos arenitos Membro Catu (Formação
Marfim). Os depósitos deltaico-lacustres que lhe sucederam, relacionados à Formação
Pojuca e de idade Aratu, distribuíram-se por áreas mais amplas da bacia, que passava a
assumir uma forma de rampa.
Na porção oeste do Recôncavo, devido a uma reativação da falha de Paranaguá,
associada a um rebaixamento do nível do lago, foi escavado o Cânion de Taquipe,
durante o Mesoaratu (fig. 8). Os depósitos relacionados a seu preenchimento (Fm
Taquipe) incluem arenitos vinculados a correntes de turbidez e fluxos gravitacionais de
massa, oriundos da remobilização de frentes deltaicas. O contexto deposicional é
semelhante ao ilustrado para a Fm Maracangalha, cuja deposição ainda persistia em
depocentros no sul da bacia.
23
Figura 9: Paleoambiente deposicional da Bacia do Recôncavo durante a deposição da Formação Taquipe
(Modificado de Figueiredo et al., 1994 apud Magnavita, 2005).
Durante a fase final de preenchimento da bacia (Eobarremiano/Eoaptiano),
ocorreram altas taxas de subsidência balanceadas por elevado aporte sedimentar.
Sistemas fluviais (Fm São Sebastião) promoveram o assoreamento do rifte, definindo
um padrão de deposição agradacional.
2.2.4 Supersequência Pós-rifte
A Supersequência Pós-rifte é representada pela Formação Marizal, cuja deposição
relaciona-se a leques aluviais. Os depósitos são compostos por arenitos, conglomerados,
folhelhos e calcários, que tiveram sua deposição no Neoalagoas (Neoaptiano), (da Silva,
1993).
2.2.5 Sequências Subordinadas
A Formação Sabiá e o Grupo Barreiras, de idade Neógeno, apresentam-se de maneira
subordinada na bacia, sendo a primeira depositada ainda no Mioceno e composta por
calcário impuro e folhelhos verdes, relacionados a uma transgressão marinha. O Grupo
Barreiras, por sua vez, foi depositado no Plioceno, estando representado por fácies
relacionadas a leques aluviais.
Por fim, depósitos pleistocênicos a holocênicos recobrem o embasamento na borda
leste, sendo estes depósitos de praias e aluviões. A tabela 1 sumariza as características
das diversas sequências acima descritas.
24
Tabela 1: Correlação de Dados Litológicos e dos Sistemas Deposicionais da Bacia do Recôncavo
Sistema Série Andar/subandar (local)Andar/subandar
(internacional)
Pós Rifte Alagoas superior Aptiano superiorEstratos subhorizontais dispostos em discordância sobre a seção
rifte. Contexto de subsidência termal
Aratu superior a JiquiáBarremiano inferior a
Aptiano inferiorFluvial
Formação São
SebastiãoArenitos Configuram a fase final de assoreamento do Rifte
Rio da Serra superiorValanginiano superior a
Hauteriviano inferiorDeltaico
Formação Marfim
(Mb Catu)Arenitos
Fm Maracangalha
(Mbs Caruaçu e
Pitanga)
folhelhos e arenitosArenitos relacionados a fluxos gravitacionais de massa -
ressedimentação de frentes deltaicas
Fm Candeias (Mb
Gomo)
Folhelhos orgânicos, calcilutitos, arenitos
(turbidíticos)
Rio da Serra inferior Berriasiano inferior
Formação PojucaArenitos, folhelhos, calcilutitos e
calcarenitos
Tendência regressiva geral com evolução de sistemas marinhos
rasos (Mb pedrão) a lacustres (Mb Cazumba)
Fan
-del
tas
Fm S
alva
do
r
Lacustre Fm Candeias (Mb Tauá)
Co
ngl
om
erad
os
Folhelhos escuros, orgânicos e calcilutitos
Lacustre
Ciclos deltaicos separados por eventos trangressivos, alguns dos
quais dando origem a marcos de correlação regional. No oeste da
bacia, a reativação da Falha de Paranaguá dá origem ao Cânion de
Taquipe, preenchido por folhelhos, margas, calcarenitos e arenitos
relacionados a fluxos gravitacioanis de massa, que compõem a Fm
Taquipe
deltaico-lacustre
Bacia do Recôncavo
Dom João Jurássico
Pré-Rifte
Tithoniano
Rifte
Rio da Serra médio a
superior
Berriasiano inferior a
Valanginiano superior
Aratu inferior a superiorHauteriviano inferior a
Barremiano inferior
Ciclos flúvios eólicos separados por transgressões lacustres de
caráter regional
Superior
Flúvio-Eólico
Lacustre
Flúvio-Eólico Membro Boipeba (Formação
Aliança)
Membro Capianga (Formação
Aliança)
Fm Sergi
Clásticos grossos (conglomerados e arenitos),
folhelhos e calcários.
Estágio evolutivo Unidades LitoestratigráficasSistemas Deposicionais Caracteristicas das Litologias
Formação MarizalSistemas Aluviais
OBS:
Cronoestratigrafia
Rio da Serra inferior Berriasiano inferior
Flúvio-Eólico
Lacustre
Formação Água Grande
Fm Itaparica
Cretáceo Inferior
Membro Pedrão (Fm Afligidos)
Sinéclise Permiano _______ ______
Sedimentação marinha rasa,
marginal, a bacias evaporíticas
isoladas, ambientes de sabkha
continental e lacustres.
Mb Cazumba (Fm Afligidos)
Arenitos predominantemente
Predominam pelitos e lamitos vermelhos lacustres,
com nódulos de anidrita na base da seção.
Mb Pedrão: arenitos com feições de retrabalhamento
por onda, laminitos
algais e evaporitos, principalmente anidrita.
Arenitos predominantemente
Folhelhos vermelhos a cinza esverdeados, arenitos
(flúvio-deltaicos, eólicos)
Arenitos predominantemente
Folhelho vermelho
25
2.3 BIOESTRATIGRAFIA DA BACIA DO RECÔNCAVO
O zoneamento bioestratigráfico da bacia do Recôncavo foi estabelecido com base na
utilização de ostracodes, que usualmente constituem o método que melhor se aplica à
subdivisão estratigráfica de seções lacustres. Apresentam rápida evolução, sendo
sensíveis a mudanças de clima e profundidade do lago (Bueno, 2001).
São definidas vinte e oito subzonas e nove biozonas que balizam os limites de
unidades cronoestratigráficas na bacia (andares Dom João, Rio da Serra, Aratu,
Buracica, Jiquiá e Alagoas).
As biozonas são representadas com o código NRT e a numeração correspondente, de
NRT-001 a NRT-009, na bacia do Recôncavo. A tabela 2 sumariza as relações entre
biozonas de ostracodes, cronoestratigrafia e estágios evolutivos da bacia. A seção de
trabalho é parte do Andar Rio da Serra inferior, biozona de ostracodes NRT-002.1.
26
Tabela 2: Relações entre o estágio evolutivo da Bacia do Recôncavo, cronoestratigrafia e biozonas de ostracodes não marinhos.
Sistema SérieAndar/Subandar
(internacional)
Andar/Subandar
(local)
Pós-rifte Aptiano Superior Alagoas Cytheridea spp.gr.201/218 (NRT-0011)
Aptiano Inferior-Barremiano
Superior Jiquiá Petrobrasia diversicostata (NRT-009)
Barremiano Superior BuracicaCypridea (Sebastianites) fida minor (NRT-008)
Coriacina coriacea (NRT-007)
Barremiano Superior-
Hauteriviano InferiorAratu
Cypridea (Morinina?) bibullata bibullata (NRT-006)
Paracypridea obovata obovata (NRT-005)
Berriasiano-Hauteriviano
InferiorRio da Serra
Paracypridea brasiliensis (NRT-004)
Cypridea (Morininoides) candeiensis (NRT-003)
Theriosynoecum varietuberatum varietuberatum
(NRT-002)
Pré- Rifte Jurássico Superior Tithoniano Dom João Bisulcocypris pricei (NRT-001)
Bioestratigrafia
Inferior
BA
CIA
DO
RE
CÔ
NC
AV
O
Rifte
Cretáceo
Estágio evolutivo
Cronoestratigrafia
27
Capítulo 3: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As formações Itaparica e Água Grande relacionam-se à porção mais inferior do
Andar Rio da Serra (Cretáceo Inferior), definida pela Subzona de ostracodes NRT-002.1
(fig. 10).
Figura 10: Evolução tectono-sedimentar da Bacia do Recôncavo, ao tempo de deposição do andar Rio da
Serra (modificado de Braga, 1987 apud Santos et al., 1990).
Sob um clima mais úmido que o observado durante a deposição da Formação Sergi,
em ambiente configurado por um lago recém implantado e com rápido aprofundamento,
depositaram-se os pelitos da Formação Itaparica, com intercalações episódicas e
limitadas de incursões fluviais (Santos & Cupertino , 1990). Rios entrelaçados, que
chegavam ao lago por intermédio de deltas, e amplas planícies, que tinham seus
depósitos dominados e retrabalhados por ventos, originariam a Formação Água Grande.
Ambas as formações apresentam uma forte relação, ocorrendo depósitos intercalados
das mesmas (Viana et al., 1971).
Ponte et al., (1971, apud Medeiros e Ponte, 1971) consideram que a deposição da Fm
Itaparica tenha ocorrido na depressão Afro-Brasileira, sendo o ambiente um lago raso,
porém extenso, que foi assoreado pelo sistema flúvio-deltaico-eólico da Formação Água
Grande, posteriormente afogada com a subsidência lenta do lago, associada à
umidificação do clima, deixando como registro a Formação Candeias.
Viana (1971) descreveu a Formação Itaparica como um pacote de folhelhos de cores
diversas, do cinza-esverdeado ao marrom, podendo apresentar caráter fossilífero e
lâminas carbonáticas. Folhelhos, siltitos e arenitos intercalam-se compondo ciclos
sedimentares flúvio-deltaico-lacustrinos. O contato com a Fm Sergi, sotoposta, é
28
gradacional. Já o contato da Fm Água Grande com a Fm Candeias, sobreposta a é
abrupto.
A distribuição dos sedimentos se dá por toda a bacia, predominando os sedimentos
finos. As maiores espessuras estão a sul, onde são observadas isópacas da Fm Itaparica
de até 200m (fig. 11).
Figura 11: Mapas digitalizados e gridados. Mapa de isópaca e topo da Biozona NRT002 (Itaparica) obtido através
de operações do Surfer (espessura em metros), (Silva et al., 2003 adaptado de Silva, 1993).
Guignone (1979) conjectura que a distribuição da Fm Itaparica seja contínua, da
bacia de Almada até o Vaza-Barris, preservando-se os marcos estratigráficos nela
reconhecidos. A ausência pontuada de tais marcos estaria, provavelmente, relacionada à
presença de altos estruturais contemporâneos à sua deposição.
Segundo Wiederkehr (2010), a deposição da Formação Itaparica teria ocorrido em
um lago tectonicamente controlado, onde provavelmente a geometria em meio graben já
estava definida, no contexto de uma fase tectônica de início do rifte. A autora considera
que os pelitos da Fm Itaparica tenham se depositado em um lago no qual as fácies
arenosas intercaladas constituem o elemento distal de um sistema deposicional fluvial,
situado a norte e relacionado à Fm Água Grande. Depósitos eólicos identificados nesta
unidade teriam se formado em áreas adjacentes ao lago. Sob esta premissa, Wiederkehr
29
(op. cit.) admite, portanto, uma contemporaneidade na deposição das formações
Itaparica e Água Grande. No momento da deposição, o depocentro da bacia teria sido o
compartimento Sul da mesma, tendo assim se mantido sua configuração (fig. 12).
Figura 12: Modelo deposicional proposto para as formações Itaparica e Água Grande (Wiederkehr,
2010).
30
3.1 SISTEMA DEPOSICIONAL FLUVIAL
Os sistemas fluviais apresentam variações significativas em suas características ao
longo do tempo e do espaço, configurando depósitos representativos no registro
estratigráfico. Assim como a morfologia aluvial, que é produto da relação entre
processos erosivos e deposicionais (Scherer, 2008), estas mudanças ficam gravadas. Os
rios são os principais agentes geológicos que atuam na superfície da Terra (Press et al.,
2006), de modo que o estudo de seus depósitos é fundamental para a compreensão de
reservatórios com valor econômico relacionados a esse sistema, como os de petróleo,
água e placeres.
3.1.1 Processos erosivos
A dinâmica fluvial pode ser distinguida em dois processos principais, incisão vertical
e migração lateral, os quais configuram os mecanismos essenciais de erosão fluvial.
Incisão é o termo usado para a erosão vertical do substrato, sendo o processo
responsável pelo aprofundamento do canal. Geralmente ocorre relacionado a um
aumento de descarga, seja por variações no clima, seja pela junção de canais ou um
rebaixamento do perfil de equilíbrio. A migração lateral corresponde ao processo de
erosão relacionada à mudança na posição dos rios. Comum a rios sinuosos, o processo
remove o material das margens do canal.
3.1.2 Processos de transporte e deposição fluvial
Os principais mecanismos de transporte e deposição fluvial são o fluxo de detritos, a
carga de fundo e a carga de suspensão.
Fluxo de detritos
Os fluxos de detritos correspondem ao transporte de massas compostas por
sedimento/água e caracterizadas por sua densidade e caráter plástico laminar. Neste
processo, a quantidade de sedimentos é maior que a de água. O mecanismo propulsor do
movimento é o declive de uma superfície, que possibilita a mobilização do material
31
liquefeito. Os depósitos decorrentes deste fluxo são mal selecionados, com clastos (de
grânulos até blocos) que podem estar orientados em uma matriz areno-síltica-argilosa.
Carga de fundo
A carga de fundo consiste no meio essencial de transporte fluvial, onde os
sedimentos são levados por correntes trativas. O movimento dos grãos se dá,
individualmente ao longo do leito, de três formas principais: arrasto, rolamento (grãos
maiores) e saltação (grãos menores). As variações nas formas de leito são resultado da
interação entre a granulometria, a profundidade da lâmina d’água e a velocidade do
fluxo. Uma forma de leito comum a fluxos de baixa velocidade são as marcas onduladas
(ripples), desenvolvidas em fração granulométrica entre silte e areia fina. Sua altura
máxima é de 5cm e o comprimento de onda inferior a 0,5m.
Com o aumento gradativo da velocidade do fluxo, ocorre a passagem abrupta para
formas de dunas, que podem ser bidimensionais (linha de crista reta) e tridimensionais
(linha de crista sinuosa) (Scherer, 2008). As antidunas e os estratos de leito plano
relacionam-se a fluxos que apresentem valor crítico de velocidade, sendo de mais difícil
preservação e facilmente destruídos por mudanças no fluxo.
Carga de suspensão
A carga de suspensão corresponde ao transporte do material suspenso no fluxo em
detrimento da turbulência do mesmo. A granulometria do sedimento é
predominantemente síltico-argilosa e a deposição ocorre com a diminuição da energia,
através do mecanismo de assentamento gravitacional de partículas. A forma de leito
comum a essa granulometria, com interação dos processos de tração e suspensão, são as
marcas onduladas cavalgantes (climbing ripples), cujo ângulo de cavalgamento possui
uma relação inversamente proporcional com a tração.
3.1.3. Tipos de canais fluviais
Os canais fluviais podem ser classificados de acordo com a morfologia ou carga
sedimentar transportada. A morfologia dos canais é controlada por fatores como
descarga, aporte sedimentar, granulometria da carga transportada, coesão dos bancos,
32
vegetação e inclinação do terreno. A partir das características citadas foram
desenvolvidos quatro padrões (fig. 13), nos quais se busca encaixar os canais existentes.
São eles: retilíneo, anastomosado, meandrante e entrelaçado (Cortez, 1996; Walker &
Cant, 1984; Scherer, op. cit.)
Figura 13: Principais tipos morfológicos de canais fluviais (Modificado de Miall, 1977 apud Scherer,
2008).
Segundo a carga sedimentar transportada, Schumm (1972, apud Scherer, 2004, 2008)
classifica os rios em três tipos: carga de fundo (bed-load), carga mista (mixed-load) e
carga de suspensão (suspended-load).
3.1.3.1 Rios retilíneos (straight rivers)
Scherer (2004, 2008) classifica esses rios como canais simples, com flancos estáveis
e limitados por diques marginais. Os rios retilíneos são pouco frequentes, estando
geralmente controlados por sistemas de falhas que encaixam o curso fluvial em curtos
trechos. Segundo Bridge (2006), eles ocorrem onde o fluxo tem pouca energia, não
tendo competência erosiva, mantendo os bancos de canais.
33
3.1.3.2 Rios anastomosados (anastomosed rivers)
Scherer (2008) os caracteriza como uma rede de canais interconectados, separados
por áreas de planície de inundação. O meio de transporte sedimentar predominante é por
carga de suspensão ( suspended-load). São profundos, estreitos e com moderada a baixa
sinuosidade, com margens geralmente coesas e vegetadas, trazendo alta estabilidade aos
canais e reduzida migração lateral.
3.1.3.3. Rios meandrantes (meandering rivers)
Os canais meandrantes apresentam alta sinuosidade, geometria em lençol,
declividade relativamente baixa, pouca variação na descarga e altas taxas de migração
lateral (formação de meandros). Os sedimentos são levados por carga mista (mixed-
load). O mecanismo responsável pela formação dos meandros corresponde à erosão dos
bancos externos, onde são registradas velocidades de fluxo maiores que nas porções
internas. Nestas, há deposição das barras em pontal (Scherer et al., 2008).
Conforme descrevem Walker & Cant (1984), as características das sequências
formadas são a granodecrescência ascendente, com estratificações cruzadas acanaladas
causadas pela migração de dunas subaquosas e, nas partes mais rasas, marcas onduladas
(ripples).
3.1.3.4 Rios entrelaçados (braided rivers)
De acordo com Scherer (2008), os rios entrelaçados são formados por canais
interligados, separados por barras arenosas e/ou cascalhosas, longitudinais e
transversais, as quais migram de acordo com o fluxo. O principal mecanismo de
transporte se dá por carga de fundo (bed-load).
Existem três principais tipos de estratificações características desses canais. São elas:
i) estratificação cruzada de grande porte, decorrente da migração de formas de leito
maiores, tais como dunas; ii) estratificação cruzada de pequeno porte, causada pela
migração de formas de leito menores, como as marcas onduladas (“ripples”); iii)
estratificação horizontal, constituída por lâminas tabulares, que podem se associar ao
regime de fluxo superior, devido a uma rápida migração e agradação de formas de leito
menores (Coleman, 1969).
34
Como descreve Miall (1981), (apud Riccomini &Coimbra, 1993), esses rios
relacionam-se a ambientes com maiores declividades, abundância de carga de fundo de
granulação grossa, grande variabilidade na descarga e velocidades da corrente, além de
facilidade de erosão das margens.
3.1.3.5 Rios efêmeros
Os rios efêmeros são comuns em regiões áridas e semiáridas. Scherer (2008) os
considera associados a inundações que ocorrem durante curto intervalo de tempo,
depositando várias classes granulométricas. Na maior parte do tempo, não há o mínimo
escoamento superficial. Deste modo, seus depósitos são pouco espessos se comparados
aos de canais perenes.
São comuns as formas de leito de dunas e marcas onduladas, decorrentes do regime
de fluxo inferior, sobrepondo-se às formas de leito de fluxo superior, devido à
diminuição da velocidade do fluxo. Assim, a deposição tende a gerar sequências com
granodecrescência ascendente.
Apesar das circunstâncias nas quais se formam estes depósitos, segundo North &
Taylor (1996) eles constituem os principais reservatórios em muitos campos de óleo e
gás.
3.1.4 Áreas externas aos canais
Collinson (1996) divide em dois tipos as áreas externas aos canais, sendo uma
formada pelos diques marginais e os depósitos de crevasse e a outra constituída pelas
planícies de inundação.
Os diques marginais constituem cristas estreitas e contínuas ao longo das margens
dos canais fluviais, fruto da deposição dos sedimentos finos em épocas de cheia. Os
depósitos de espraiamento de crevasse splay possuem geometria de lobos e originam-se
nas cheias com maiores dimensões, durante o extravasamento do canal. Ambos os tipos
de depósito ocorrem associados aos canais meandrantes e anastomosados, próximos aos
canais ativos.
As planícies de inundação são características das regiões de baixo relevo, pouco
drenadas, com baixa taxa de acumulação e predominância de sedimentos finos (silte e
35
argila). Geralmente se associam a canais anastomosados e meandrantes; raramente a
canais entrelaçados.
3.1.5. Acumulação em sistemas fluviais
Variações temporais na taxa de criação de espaço de acomodação regulam a
acumulação de depósitos fluviais. O balanço entre o material erodido e o depositado é
controlado pelo perfil de equilíbrio, que corresponde ao nível de base estratigráfico em
ambientes aluviais. O perfil de equilíbrio é entendido como uma superfície acima da
qual o sedimento está sujeito a erosão e abaixo da qual o soterramento e a acumulação
predominam (figuras. 14 e 15), (Sloss, 1962 apud Scherer,2004).
A inclinação do perfil de equilíbrio pode ser ocasionada pela descarga do rio e pela
carga sedimentar transportada. A acumulação fluvial ocorrerá durante intervalos de
subida do perfil de equilíbrio. O inverso ocorre com os processos de erosão e
degradação fluvial, que estão associados a períodos de rebaixamento do perfil de
equilíbrio. As mudanças ocorrentes no perfil são controladas pelo clima, pela tectônica e
pelo nível relativo do mar, principal propulsor de mudanças do perfil de equilíbrio em
regiões costeiras (Scherer, 2004, 2008).
Figura 14: Perfil de equilíbrio de sistemas fluviais, que corresponde ao nível de base estratigráfico em
sucessões aluviais. Fonte: Modificado de Dalrymple (1998, apud Scherer, 2004).
36
Figura 15: Modelo hipotético com destaque para a criação de espaço de acomodação, oriunda de uma
subida do perfil de equilíbrio. Fonte: Modificado de Dalrymple (1998, apud Scherer, 2004).
3.2 SISTEMA DEPOSICIONAL DELTAICO
Heródoto, no ano de 400 a.C., denominou de delta a desembocadura do Rio Nilo,
isto devido a sua semelhança com a letra grega (Δ). O termo tornou-se próprio deste
mecanismo de deposição que representa um sistema de transição entre o ambiente
continental, fonte da corrente aquosa (os rios), e o corpo permanente de água no qual
ocorre a deposição, seja ele marinho ou lacustre (Barrell et al.,1912, apud Suguio,
2003). De uma maneira geral, quando o fluxo encontra a bacia, os sedimentos de fração
mais grossa depositam-se próximo ao delta enquanto os de fração mais fina são
transportados para áreas mais distais (Soares, 1997).
3.2.1 Fatores que Controlam um Delta
Muitos são os fatores que controlam o caráter deposicional dos deltas. Coleman &
Wright (1971, 1975) destacam como essenciais o clima, a flutuação da descarga fluvial
e da carga sedimentar, os processos associados à desembocadura fluvial, a energia das
ondas, os regimes de marés, os ventos, as correntes litorâneas, a declividade da
plataforma, a tectônica e a geometria da bacia receptora. Tais fatores interferem na
sedimentação e no padrão de crescimento dos deltas.
Ainda de acordo com Coleman & Wright (op. cit.), as ondas têm um papel
importante na seleção e redistribuição dos sedimentos supridos pelos rios, geralmente
retrabalhando estes sedimentos para a formação de cordões paralelos à costa. As marés
também constituem um importante agente modelador. Nas áreas de desembocaduras dos
37
rios submetidos a macromarés, os deltas são formados exibindo sedimentos com feições
típicas de planícies de marés.
O tipo de clima, como um fator de controle na formação de deltas, determina a
capacidade de transporte e o tipo de sedimento a ser trazido pelos rios. A tectônica, por
sua vez, tem forte controle sobre a geometria das sequências sedimentares deltaicas.
3.2.2 Classificação de Deltas
O processo sedimentar dominante determina o tipo de delta, de modo que são
reconhecidos deltas dominados por rios, marés ou ondas (Della Fávera et al., 2001).
Esta classificação está de acordo com a gênese dos deltas marinhos e reflete as
intensidades relativas do aporte sedimentar e dos fluxos de energia de ondas e marés.
Segundo o processo dominante, definiu-se um sistema de classificação representado por
um diagrama triangular (Fig. 16), cujos vértices são: i) Deltas de domínio fluvial; ii)
Deltas dominados por ondas e iii) Deltas dominados por marés (Galloway et al., 1975).
Figura 16: Classificação do Sistema Deltaico (Retirado de Monografia Deltas-C.F. Geológos Jr. 2007,
modificado de Walker. 1992).
38
3.2.3 Tipos de Fluxos
Os fluxos são classificados em três tipos: Hipopicnal, Homopicnal e Hiperpicnal.
Essa classificação baseia-se na relação existente entre a densidade do meio receptor e do
material aquoso transportado, refletindo diretamente a maneira como o sedimento será
depositado.
Fluxo Hipopicnal
A densidade do fluxo é menor que a do meio. Neste caso, há deposição da carga de
fundo e floculação da carga em suspensão. A zona periférica do fluido encontra-se
misturada.
Fluxo Homopicnal
A densidade do fluxo e do meio receptor são similares, de modo que o material se
desloca no fluido em uma mistura perfeita. A carga de fundo distribui-se próximo à
desembocadura, com rápida deposição também do material em suspensão, devido a
rápida perda de velocidade do fluxo.
Fluxo Hiperpicnal
Fluxo com maior densidade que o meio, o que o torna turbulento, ocorrendo a
separação da fração sedimentar no momento da deposição, com desenvolvimento de
sucessões granodecrescentes para o topo. Este fluxo deposita os sedimentos mais finos
em posições mais distais e atua na formação de depósitos turbidíticos.
3.2.4 Elementos de um Delta e suas Fácies Sedimentares
Os deltas são compostos por três elementos básicos: Planície deltaica, Frente deltaica
e Prodelta.
39
Planície deltaica
Área plana anterior à foz do rio, formada por uma rede de canais distributários,
ativos ou abandonados, pequenas baías, lagos, pântanos, mangues, áreas de planície de
inundação e de maré. Todos esses elementos relacionam-se a ambientes de planície
deltaica, desenvolvendo depósitos sedimentares de preenchimento de canais, de diques
naturais, de planície interdistributária, de pântanos e lagos. A granulometria
predominante nessas planícies corresponde a sedimentos finos.
Frente deltaica
A frente deltaica corresponde à porção frontal, de deposição ativa no delta, que
avança sobre os depósitos de prodelta. Nela depositam-se as maiores espessuras de
sedimentos, com predomínio de siltes e areias. Os depósitos que a caracterizam
relacionam-se a barras distais, barras de desembocadura de distributários, canais
distributários submersos e diques naturais submersos.
Prodelta
Representa o sítio de deposição mais distal no sistema deltaico. Nesse ambiente, a
granulometria dos depósitos tende a um aumento em direção às áreas proximais, o
mesmo ocorrendo na sucessão vertical. Nas partes mais profundas da bacia, observam-
se sedimentos laminados intercalados com pelitos altamente bioturbados, refletindo uma
sedimentação essencialmente argilosa transportada por suspensão.
3.3 Algumas Estruturas Deposicionais
Estratificações Heterolíticas
A Estratificação heterolitica corresponde a alternância de camadas lamosas e
arenosas. Três tipos de estruturas podem ser comuns neste tipo de estratificação: flaser,
wavy e lynsen. A distinção entre eles é baseda na combinação de energia e aporte
sedimentar. As estruturas flaser apresentam camadas lamosas descontínuas separadas
por continuas camadas arenosas. Estruturas wavy são estruturas transicionais entre
40
flaser e lynsen, com camadas contínuas de lama e areia. Estruturas lynsen apresentam
camadas descontínuas de areia, separadas por camadas contínuas de lama.
Estas estruturas são formadas durante esta alternância de quiescência e atividade de
corrente (Figura 17). A estratificação flaser sugere que ambos, areia e lama, estavam
disponíveis no sistema e que os períodos de atividade da corrente se alternavam com os
de calmaria. Com a corrente, a areia é transportada e depositada como ondulações,
enquanto a lama é mantida em suspensão. Nos intervalos sem corrente, a lama decanta
sobre as calhas, podendo cobrir as cristas. No próximo ciclo, as ondulações são
erodidas, parcialmente, e uma novamente a areia é depositada em forma de ripples,
soterrando e preservando a lama das calhas.
Figura 17: Estruturas wavy, flaser e linsen. Cor preta e branca representando lama e areia,
respectivamente. Fonte:Reineck e Singh (1980).
Marcas Onduladas de correntes (ripples)
As marcas onduladas provenientes de correntes se desenvolvem pelo movimento de
partículas nas frações silte e areia média, podem ser ocasionadas por irregularidades no
leito. Os principais elementos morfológicos dessas estruturas correspondem a um flanco
de montante (dorsal) com declividade suave e um flanco de jusante (frontal) com
declive abrupto (30-35º). Vistas de cima podem apresentar a crista reta (bidimensionais
41
ou ondulações 2D) ou ondulada (tridimensionais 3D). O aumento da velocidade do
fluxo é proporcional à complexidade da forma da marca.
Criação e Preservação das Estratificaçõs Cruzadas
As laminações cruzadas na maioria das vezes apresentam superfícies erosivas, que as
distinguem umas das outras. As laminações cruzadas cavalgantes apresentam
superfícies inclinadas e nem sempre são erosivas, mergulhando no sentido oposto às
lâminas cruzadas e em ângulos variados. O ângulo de inclinação das superfícies (AAC
ângulo de acavalamento), que diferencia as lâminas, é determinado pelas lâminas
cruzadas e pela razão entre o que migra das ondulações no sentido de jusante e o que é
depositado pela corrente a partir de suspensão (agradação).
Estratificação Cruzada Festonada
Com o aumento da velocidade do fluxo, as cristas das dunas apresentam forma
sinuosa. As lâminas inclinadas depositadas nas faces frontais, que avançam sobre
escavações bem marcadas em forma de calha, originam superfícies basais erosivas. A
estratificação cruzada festonada apresenta-se a partir da migração das dunas
subaquáticas sinuosas ou luniformes, com lâminas frontais que tangenciam uma
superfície basal.
42
Figura 18: Sequências de estratos cruzados planares adjacentes as cossequências de estratos festonados,
com seta indicando o fluxo. Modificado de Nichols (2009)
Formas de leito e suas variáveis
As formas de leito dependem da granulometria e da velocidade do fluxo atuante na
deposição. Estes fatores é que determinam a estabilidade destas formas. Abaixo, há um
diagrama que melhor representa os campos de estabilidade das mesmas.
43
CAPÍTULO 4: ANÁLISE SEDIMENTOLÓGICA E
ESTRATIGRÁFICA DOS TESTEMUNHOS DA
FORMAÇÃO ITAPARICA
O presente capitulo apresenta a descrição das fácies sedimentares diagnosticadas e a
interpretação decorrente da associação das mesmas, relativas aos nos testemunhos da
Formação Itaparica, no Campo Fazenda Alvorada.
4.1. FÁCIES SEDIMENTARES
Fácies sedimentares correspondem à distinção de grupos litológicos ou sedimentares
com base em aspectos semelhantes. As feições observadas são comumente: texturas,
estruturas sedimentares, composição, geometria, cor e outros. (Selley, 1982, apud
Etchebehere & Saad, 2003).
Neste trabalho, foram identificadas nove fácies que estão representadas na Tabela 3.
Esta traz a sigla indicativa das fácies, o nome correspondente, seus principais atributos e
processos deposicionais.
A grafia dessas fácies se compõe: I) as primeiras letras maiúsculas para a litologia;
II) letra minúscula para a ganulometria; III) letras minúsculas, separadas por hífen, para
estrutura.
44
4.1.1 Fácies L-fc
Foto 1: L-fc, Lamito cinza com fitoclastos.
A fácies L-fc, lamito cinza com fitoclastos, de fragmentos de matéria orgânica,
lenhosa, que ultrapassam 3 cm, emersos em massa lamosa de composição siltico-
argilosa, cor cinza escuro esverdeado (5GY4/1 ). O processo deposicional corresponde à
decantação do material mais fino em ambiente de baixa energia, impedindo a oxidação
dos fitoclastos e da própria litologia.
45
4.1.2 Fácies ARMG-xf
Foto 2: Arenito com laminação cruzada. Na foto da direita, a parte basal do arenito é maciça, devido à
fluidização.
ARMG-xf é um arenito de cor marrom pálido amarelado (10YR 6/2) e amarelo
escuro (5Y 6/2), cuja granulometria varia de média à grossa, exibindo estratificação
cruzada festonada, marcada pela variação granulométrica entre os sets. Neles foram
identificados clastos de argila e níveis mais argilosos, que truncam a estratificação. A
cimentação calcífera se dá de forma diferenciada. Ocorrem trechos fluidizados que não
preservam a estrutura e que exibem estrutura maciça ou convolvida.
As fotos 2 exibe arenito médio a grosso com clastos de folhelho posicionados nos
sets da estratificação, na foto da esquerda, e, à direita, arenito com mesma estrutura,
porém, mais cimentado.
A foto 3 mostra o contato erosivo entre o heterolito plano paralelo e o arenito com
estratificação cruzada acanalada.
46
Foto 3: Arenito médio a grosso com clastos de folhelho posicionados nos sets da estratificação, na foto da
esquerda . À direita, heterolito plano paralelo em contato erosivo com arenito com laminação cruzada.
A estratificação é produto de fluxo unidirecional, que leva à migração de dunas
subaquáticas com cristas sinuosas (3D) (regime de fluxo inferior). Camadas convolvidas
e maciças têm origem na deformação plástica, por fluidização, decorrente do escape de
água.
47
4.1.3 Fácies ARF-fl
Foto 4: Arenito fino com lentes lamosas, bem pronunciadas, na foto da esquerda. Em formas de ripples, à
direita.
Estas fáceis são constituídas por um arenito fino cor amarelo escuro (5Y 6/2)
intercalado com camadas lamosas de cor oliva cinzento (5Y 3/2) descontínuas,
interpretada como flaser.
O arenito também está presente na cor marrom escuro avermelhado (10R 3/4) como
na foto 5, logo abaixo. As espessuras das lâminas chegam a 1 cm. Por vezes
apresentam climbing ripples, como na foto 4 da direita.
Esses arenitos são sucedidos e/ou antecedidos por wavys. Na mesma fácies, há partes
fluidizadas.
48
Foto 5: Arenito fino com faixas mais argilosas com estrutura em climbing ripples, onde há presença de
fluidização.
O processo para sua formação é oriundo de um fluxo unidirecional, em regime
intermediário, ambiente de deposição com maior disponibilidade de areia em relação à
lama. Ocorre assim a deposição de lama na calha da ripple. Quanto a fluidização, o seu
processo de formação é por escape de água. A cor do material lamoso nada mais é que
um reflexo do ambiente, que possibilitou a oxidação do siltito lamoso, sendo os níveis
característicos de ambiente raso (foto 5).
49
4.1.4 Fácies ARF-bifd
Foto 6: Arenito fino com feições de biturbação , foto da esquerda. À direita o arenito apresenta estrutura
de carga.
A presente fácies ARF-bifd corresponde a uma arenito fino de cor oliva pálido (10Y
6/2) a oliva cinzento (5Y 3/2), convolvido e bioturbado, normalmente associado aos
níveis lamosos com cor vermelho roxo acinzentado (5RP 4/2).
A foto à esquerda representa forte bioturbação e alguns trechos convolvidos. Na foto
à direita, há ainda uma estrutura de carga, ocorrendo esta estrutura devido a diferença na
densidade do material, onde um ´´bolsão´´ da camada de arenito afunda na massa
lamosa de menor densidade.
50
4.1.5 Fácies H-lo
Foto 7: Fotos de estratificação heterolítica, com intercalação de camadas continuas de argila e areia, com
ondulações.
As fácies em questão correspondem a um heterolito com estratificação plano paralela
a ondulada, constituídas de arenito fino de cor oliva pálido, com intercalações de lamito
verde amarelo escuro (5GY 5/2), com incipientes ondulações nas lâminas argilosas,
estruturas plano paralelas e, em alguns trechos, laminação ondulada truncada.
O processo responsável pela construção destas feições corresponde a fluxo
unidirecional sob regime intermediário com similar disponibilidade de areia e lama.
51
Figura 19: Heterolito, apresentando bioturbação do tipo planolites, na foto da esquerda, e uma
camada ondulada truncada, à direita.
52
4.1.6 Fácies SL-bicbfd
Foto 8: Siltito com laminação em ripples, ocorrendofeições de bioturbação e de fluidização alem de
concreções calcífera
As fácies SL-bicdfd, compreendem os siltitos de cor vermelho roxo cinzento (5RP
4/2), nos quais foram encontradas estruturas pretéritas de ripples, que estão rompidas e
em parte destruídas por bioturbação e fluidização. Há ainda feições pintalgadas de
concreções carbonáticas. Ocorrem com as mesmas características em ambos os poços
analisados.
4.1.7 Fácies FL-la
Foto 9: Folhelho fragmentado em formas aciculares, apresentando aspecto laminado.
Corresponde a um folhelho de cor cinza escuro esverdeado (5GY 4/1) fragmentado
em formas aciculares, com aspecto laminado, sem quaisquer aspectos de oxidação e
53
com a presença de slickensides e slickenlines, depositado em ambiente de baixa energia,
por intermédio da ação da gravidade atuando na decantação do material fino.
4.1.8 Fácies L-m
Foto 10: Lamito maciço com slickensides e slickenlines.
A fácies L-m corresponde ao lamito de cor vermelho cinza (10R 4/2) de aspecto
maciço. A cor é um forte indicativo de ambiente oxidante e o caráter maciço denota que
a litologia em questão foi depositada por meio da decantação em ambiente de menor
energia de fluxo. As estruturas slickensides e slickenlines indicam feições associadas à
tectônica rúptil, por processos de catáclase com intensa fricção e deslizamento dos
minerais siliciclásticos.
54
Tabela 3: Fácies sedimentares, indicando as texturas, estruturas e processo atuantes na formação.
de
4.2 Associação de Fácies e Sistemas Deposicionais
O agrupamento das fácies é feito a partir de suas estruturas e dos processos que as
originaram, sendo então geradas as associações de fácies relacionadas aos sistemas
deposicionais e seus subambientes. As associações de fácies identificadas foram: canal
Código Fácies
Sedimentar
Textura
Estruturas
Sedimentares Interpretação do Processo
L-fc
Lamito cinza com
fitoclastos
Argila/Silte Maciço com fitoclastos
Decantação de material mais fino em ambiente redutor e de baixa energia.
ARMG-xf Arenito Médio à Grosso
Estratificação cruzada festonada
Fluxo unidirecional com energia suficiente para erodir a camada sotoposta
ARFf-fl Arenito Fino Estratificação em
(flaser)
Fluxo unidirecional, regime intermediário com maior disponibilidade de areia que a lama. Deposita-se de lama na calha da ripple.
ARF-bifd Arenito Fino Convolução e bioturbação
Deformação plástica por fluidização decorrente de causas variadas (bioturbação e escape de água).
H-lo Heterolito
arenito/lamito Fino/Argila
Laminação ondulada (Wavy)
Fluxo oscilatório com regime Intermediário originando ondulação, deposição de sedimentos finos e arenosos por correntes fracas com tração e suspensão associadas (regime de fluxo inferior).
SL-bicbfd Siltito
vermelho Silte
Climbing ripples, bioturbação, fluidização
Migração de marcas onduladas subaquáticas (regime de fluxo inferior).
FL-la Folhelho
verde Argila Laminado
Decantação de material mais fino em ambiente redutor e de baixa energia
L-m Lamito
vermelho Argila/Silte Maciço
Decantação de material mais fino em ambiente redutor e de baixa energia
55
distributário do sistema fluvial (Fl); planície deltaica; frente deltaica (Fd) e pró-delta
(Pd) do sistema deltaico; e lacustre (La).
4.2.1 Associação de Fácies
As fácies ARMG-xf, ARFM-pp foram interpretadas como de canal distributário,
pertencentes ao fluvial, com estratificações cruzadas, festonadas e plano paralelas, mal
selecionamento dos grãos, presença de argila em lâminas e laminações de arenito fino à
grosso e níveis clásticos de folhelhos, sendo esta uma conjunção de um fluxo de alta
energia, com poder erosivo para a retirada e transporte dos clastos e dos sedimentos
mais grossos.
As fácies ARF-bifd, LA-cf, e SL-bicbfd que configuram a planície deltaica, são
compostas por material mais fino, depositado por decantação, em ambiente de baixa
energia, oxidante, sujeito a ação orgânica, a qual está registrada pelas feições de
bioturbação, além dos efeitos diagenéticos evidenciados pela presença das concreções
calcíticas, oriunda da percolação de águas superficiais. Na planície deltaica, ocorrem os
depósitos de overbank, com misturas de compostos orgânicos e material clástico que
podem formar uma lama carbonática, que são procedentes de frequentes
transbordamento dos fluxos canalizados (Gary Nichols , 2009). Estas características
destas fácies se encaixam no ambiente em questão.
A associação das fácies ARFf-fl e H-lo, caracteriza a frente deltaica. Predominam
areia fina, com forte presença de argila, marcas onduladas de corrente (ripples),
acamamento de areia com lentes de argila e intercalações de argila e areia em lâminas
onduladas (flaser e wavy); estruturas de convolução e fluidização, causadas por escape
de água. Esses depósitos caracterizam uma frente deltaica.
As fácies FL-la e LA-m pertencem ao limiar entre o prodelta e o lacustre. São
constituídas por material fino, depositados por decantação do material que estava em
suspensão, em condições de baixa energia. A fácies La-m apresenta coloração
avermelhada devido a oxidação, típica de ambiente raso.
56
Tabela 4: Associação de fácies e seus respectivos subambientes e o sistema principal.
Associação de
Fácies Subambientes Subambientes e
suas siglas Sistema Deposicional
ARMG-xf e ARM-pp Canal
distributário(Rio) Fl Fluvial
ARf-fd, L-fc e SL-rbfc Planície deltaica Pd
Delta
ARFf-fl , H-lo , ARF-cb Frente Deltaica
(barra de desembocadura)
Fd
FL-m e L-m Pró-Delta/ Lacustre
Pd/ La Delta/ Lacustre
Um ciclo único de um delta pode mostrar uma transição contínua vertical lacustre, na
base, para uma configuração subaérea, no topo. Esta transição é tipicamente de uma
granocrescência ascendente (raseamento), ocorrendo uma sucessão de energia mais
baixa, com os depósitos do prodelta a condições de energia mais elevadas da barra de
desembocadura do delta, onde sedimentos grossos acumulam-se (Nichols, 2009).
Segundo este autor, a sequência estratigráfica encontrada nos depósitos deltaicos
pode diferir em deltas depositados em ambientes rasos e deltas depositados em
ambientes profundos. O modelo dele para os deltas associados a ambientes rasos é bem
adequado à interpretação dos dados obtidos neste trabalho.
4.3 Interpretação e Correlação dos Perfis Elétricos (Raios
Gama)
Com base nos perfis elétricos dos poços A e B descritos, com a localização indicada
abaixo (fig. 15), fez-se a interpretação e correlação dos perfis. Um terceiro poço (poço
C), que foi usado como suplente, está inserido no ponto médio dos poços A e B para
apoiar estes procedimentos. A direção seguida pelo alinhamento dos poços é NE-SW.
Os perfis elétricos, ajustados às respectivas profundidades dos intervalos de
testemunhos descritos, com o empilhamento litológico das fácies identificadas,
encontram-se nas figuras 16 e 17 para os dois poços em questão. O terceiro poço
contribuiu com a correlação estratigráfica exibida na figura 19. Para as colunas
estratigráficas A e B do empilhamento das fácies no programa ANASETE, (fig. 16 à
57
17), foi, então, obtida a comparação com a coluna estratigráfica indicada pelo autor
Nichols (2009), (fig. 18 ) e evidencia esta interpretação.
Figura 20: Mapa de localização dos poços A, C e B, mostrando em detalhe o Campo Fazenda Alvorada.
O modelo, ao qual os poços analisados está sendo comparado, apresenta um padrão
progradacional, que em sua base ocorrem os folhelhos que gradam ao arenito fino e,
progressivamente, ao arenito grosso. As estruturas são: folhelho maciço na base a
marcas onduladas, no arenito fino, passando a cruzadas festonadas, nos pacotes
arenosos mais espessos e que apresentam maiores granulometrias. O ciclo prossegue
com a diminuição dos grãos e predomínio de estruturas onduladas cavalgantes (ripples),
sucedidos por pequenas intercalações de folhelhos com arenitos mais finos, que no topo
passam ao lamito, onde há indícios de bioturbação. O autor em questão interpreta esse
empilhamento de fácies como característico de um ambiente deltaico associado a um
ambiente receptor raso, em que o sedimento depositado se espalha na bacia, sem
amalgamarem umas sequências sobre as outras, ocorrendo, assim, um registro mais
contínuo. Os testemunhos analisados apresentam o mesmo comportamento descrito,
sendo caracterizados ciclos progradacionais, muitos mantendo uma relação bem direta
com o modelo já descrito. Em ambos os poços foi possível notar subciclos
progradacionais, em especial no poço A, em que não foi identificado registro fluvial,
sendo as areias interpretadas como deltaicas. No poço B, os pacotes arenosos
apresentaram maiores espessuras e suas características texturais e as estruturas
sedimentares indicam condições de maior energia que os intervalos arenosos descritos
58
em A. Ambos apresentam ciclos progradacionais, subordinados a um ciclo principal de
retrogradação, que é finalizado com o afogamento do sistema, ocorrendo o avanço do
lago sobre o delta.
Legenda para as Figuras 16 à 18.
59
Figura 21: Perfil elaborado no programa ANASETE do POÇO A, indicando o perfil Eletrico ( GR), a profundidade, e as litofácies identificadas.
POÇO A
60
Figura 22: Perfil elaborado no programa ANASETE do POÇO B, indicando o perfil elétrico (GR), a profundidade e as litofácies identificadas.
POÇO B
61
Figura 23: Comparação entre as colunas estratigráficas dos perfis A e B, com a coluna para deltas de ambientes rasos, sugerida no modelo de Nichols (2009)
62
Correlação dos Perfis Elétricos
A ocorrência de variações laterais dos sistemas deposicionais, como já observado,
foi exemplificada na figura 19. Esta figura foi confeccionada com base na integração
das curvas analisadas com as fácies descritas nos testemunhos. Para chegar a esse
resultado foi feita a correlação entre os três perfis elétricos (A, C e B), de todo o
intervalo correspondente à Formação Itaparica.
Os perfis elétricos do poço B têm curvas com padrão em caixa com maiores
dimensões e continuidade que os perfis do poço A. Correspondem a pacotes espessos de
arenitos com granulometrias maiores e fácies fluvial, na base. Os perfis elétricos do
poço A têm curvas de menores dimensões, com caixotes menores e com maior
espaçamento entre eles. Estes arenitos foram interpretados como deltaicos. As variações
granulométricas e texturais ocorrem de maneira simples no plano horizontal. Verifica-
se a progressiva diminuição da granulometria seguindo o alinhamento preferencial NE-
SW, sendo as curvas do poço C de caráter intermediário, quando relacionadas aos
outros dois.
Foram, então, observadas quatro parassequências, limitadas por superfícies de
inundação. O sistema apresenta uma transgressão do nível de base, nesse caso, o nível
do lago.
63
Correlação Estratigráfica com base nos Perfis Elétricos
Figura 24: Correlação dos perfis elétricos de Raios Gama dos três poços: A, C e B. Alinhamento dos poços analisados, linha em azul indicando o Datum utilizado, em
vermelho na horizontal discordância entre as formações e na vertical os intervalos descritos.
64
Usando o bloco diagrama de Nichols (2009), representativo do paleoambiente deltaico
(fig. 20), foram distribuídas as fácies identificadas, gerando um modelo esquemático do
ambiente deposicional e a interação entre os sistemas atuantes (fig. 21).
Figura 25: Modelo proposto por Nichols (2009), para Ambiente Deltaico, evidenciando as partes
que o compõem.
65
Distribuição Espacial Sugerida das Fácies no Sistema Deltaico
Figura 26: Sugestão do Paleoambiente e suas respectivas fácies.
66
CAPÍTULO 5: CONCLUSÃO
O resultado obtido, a partir da análise sedimentologica e estratigráfica de 114,7
metros de testemunhos e respectivos perfis elétricos (Raios Gama) de dois poços
perfurados pela Petrobras, na Fm. Itaparica, mostra nove fácies agrupadas em quatro
associações, interpretadas como: fluvial, planície deltaica, frente deltaica e
prodelta/lacustre, características da fase pré-rifte/proto-rifte da Bacia do Recôncavo.
O empilhamento estratigráfico mostra a ocorrência de quatro ciclos progradacionais
flúvio-deltaicos, limitadas por superfícies de inundação, equivalendo a quatro
parassequências. A sucessão desses pacotes de espessura e granulometrias decrescentes,
configuram ciclos subordinados a um ciclo retrogradacional, o qual corresponde a
transgressão ocorrente no sistema. Os pacotes arenosos fluvio/deltaicos são intercalados
e, progressivamente, sobrepujados pelos depósitos lamosos lacustres encerrando-se o
ciclo com a inundação e predomínio do sistema lacustre.
Com base nos resultados obtidos e com a correlação entre três perfis elétricos, dois
dos poços analisados e um terceiro utilizado como auxiliar, foi obtida a direção de
nordeste para sudoeste na deposição destes sedimentos, pela maior razão
arenito/folhelho e pelos ambientes encontrados.
67
6: REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS
BUENO, G. V. 2001. Discordância Pré-Aratu: marco tectono-isotópico no Rifte Afro-
brasileiro. Porto Alegre. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do
Sul. 149 p. 2001.
CORTEZ, M. M. M. Análise geoestatística da geometria externa dos reservatórios
fluvial e eólico da Formação Água Grande, área central da Bacia do Recôncavo.
1996. 118p. Dissertação (mestrado) - Instituto de Geociências, Universidade de
Campinas (UNICAMP), Campinas, São Paulo, 1996.
COLEMAN, J. M. Brahmaputra River: channel processes and sedimentation.
Sedimentary Geology, Amsterdam, v. 3, p. 129-239, 1969.
COLEMAN & WRIGHT, L. D. Modern River deltas: Variability of processes and sand
bodies. In: M.L. Broussard (ed.) Deltas – Models for exploration. Houston Geol.
Soc.:99-149. 1975.
DELGADO, I. M.; SOUZA, J. D.; SILVA, L. C.; SILVEIRA FILHO, N. C.; SANTOS,
R. A.; PEDREIRA, A. J.; GUIMARÃES, J. T.; ANGELIM, L; A. A.;
VASCONCELOS, A. M.; GOMES, I. P.; LACERDA FILHO. J. V.; VALENTE, C.
B. R.; PERROTTA, M. M.; HEINEC, C. A. Geotectônica do Escudo Atlântico. In:
BIZZI, L. A., SCHOBBENHAUS, C., VIDOTTI, R. M.; GONÇALVES, J. H. (Eds.)
Geologia, tectônica e recursos minerais do Brasil: textos, mapas & SIG. Brasília:
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, p. 227-334. 2003.
DELLA FÁVERA, J.C. Fundamentos de Estratigrafia Moderna. Rio de Janeiro:
EdUERJ. 264p. 2001.
DESTRO, N.; SZATMARI, P.; ALKMIM, F. F.; MAGNAVITA, L. P. Release
faults,associated structures, and their control on petroleum trends in the Recôncavo
rift, northeast Brazil. American Association of Petroleum Geologists Bulletin
(AAPG): v. 87, n. 7, p.1123-1144, jul 2003.
68
GALLOWAY, W.E. Process framework for the morphologic and stratigraphic
evolution of deltaic depositional systems. In: M. L. Broussard (ed.) deltas-Models for
exploration: 87-89. Houston Geol.Soc. 1975.
GUIGNONE, J, I. 1979. Geologia dos sedimentos fanerozóicos do estado da Bahia. In:
INDA, H. A. V. (ed.). Geologia e recursos minerais do estado da Bahia: textos
básicos. V. 1. Salvador, Secretaria de Minas e Energia do Estado da Bahia, COM. P.
24-177. 1979.
MAGNAVITA, L.P.; SILVA, R.R.DA.; SANCHES, C.P. Guia de campo da Bacia da
Recôncavo, NE do Brasil. Boletim de Geociências da Petrobras: Rio de Janeiro, v.
13, p. 301-334, 2005.
MEDEIROS, R. A.; PONTE, F. C. Roteiro Geológico da Bacia do Recôncavo, Bahia.
Salvador: PETROBRAS/SEN-BA, 63p. 1981.
MILHOMEM, P.S.; MAMAN, E.J.; OLIVEIRA, F.M.; CARVALHO, M.S.S.; LIMA,
W.S. Bacias Sedimentares Brasileiras: Bacia do Recôncavo. [S1]: Fundação
Paleontológica Phoenix, 2003. Ano 5, n 51. Disponível em:
<http://www.phoenix.org.br/Phoenix51_Mar03.html >. Acesso em: 10 abr. 2012.
RICCOMINI, C; COIMBRA, A. M. Sedimentação em rios entrelaçados e
anastomosados.Boletim IG-USP: São Paulo, v. 6, p. 1-44, 1993.
SANTOS, C. F.; CUPERTINO, J. A. E. 1990. Sintese sobre a geologia das bacias do
Recôncavo, Tucano e Jatobá. In: Raja Gabaglia,G. P. & Milani, E. J. (ed.) Origem e
Evolução de Bacias Sedimentares. Rio de Janeiro, PETROBRAS. P. 235-266. 1990.
SCHERER, C. M. S. Sedimentologia e Estratigrafia de Sistemas Fluviais e Eólicos.
2004. Porto Alegre: Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS), 130p. 2004.
SCHERER, C. M. S.; LAVINA, E. L. C.; FILHO, D. C. D.; OLIVEIRA, F. M.;
BONGIOLO, D. E.; AGUIAR, E. D. Evolução estratigráfica da sucessão flúvio-
eólica-lacustre da Formação Sergi, Bacia do Recôncavo, Brazil. In: Congresso
69
Brasileiro de P&D em Petróleo e Gás, 3., 2005, Salvador. Anais...Salvador: [s.n.],
2005. 5p. 2005.
SCHERER, C. M. S. Ambientes Fluviais. In: PEDREIRA, A. J. C. L.; ARAGÃO, M.
A. N. F.; MAGALHÃES, A. J. C. Ambientes de Sedimentação Siliciclástica do
Brasil. São Paulo: Beca-BALL Edições, 2008. p. 103-130. 2008.
SILVA, O.B.; CAIXETA, J.M.; MILHOMEM, P.S., KOSIN, M.D. Bacia do
Recôncavo. Rio de Janeiro: Boletim de Geociências da Petrobras, 2007. v.15, n.2. p.
423.431. 2007.
SILVA, T. C. S. D. Modelagem de Geração e Migração do Petróleo Na Bacia do
Recôncavo, BA. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro,
COPPE, Rio de Janeiro, RJ– Brasil p. 47.2006.
SOARES, C.M. Análise estratigráfica e geostatística de reservatórios deltaicos da Bacia
do Recôncavo (BA). Universidade estadual de Campinas. Dissertação de Mestrado.
1997.
SUGUIO, K. Geologia sedimentar. Edgard Blucher. São Paulo- Brasil. 400p. 2003.
VIANA, C.F.; GAMA JUNIOR, E.G.; SIMÕES, I. A.; FONSECA, J.R. & ALVES R.J.
1971. Revisão estratigráfica da Bacia do Recôncavo. Boletim técnico da Petrobrás,
14 (3/4): 157-192. 1971.
WIEDERKEHR, F. Análise Tectono-Estratigráfica das Formações Itaparica e Água
Grande (Bacia do Recôncavo, Bahia). 2010. 100p. Dissertação (mestrado) - Instituto
de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre,
2010.