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AUTO DO NASCIMENTO DO MENINO DEUS
Texto de: Aharom Avelino
Personagens: NARRADOR 01
NARRADOR 02
NARRADOR 03
MARIA
ANJO
CRAMUNHÃO
IMPERADOR
ASSESSOR
ESTRELA-GUIA
REI MAGO (pode ser feito pelo Assessor)
(livre adaptação de O Auto do Divino Nascimento de José Mapurunga)
TODO O ELENCO EM CENA CANTANDO UMA CLÁSSICA MÚSICA DE
NATAL EM UMA COREOGRAFIA HARMÔNICA. À MEDIDA EM QUE A
MÚSICA DIMINUI, O ELENCO VAI DEIXANDO O PALCO. SURGEM,
ENTÃO, DO FUNDO DA CENA, TRÊS CRIATURAS FOLCLÓRICAS.
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NARRADOR 01 - Estão ouvindo?
NARRADOR 02 – (PRESTANDO ATENÇÃO) Não! Eu
não estou ouvindo nada!
NARRADOR 03 - E a gente deveria ouvir alguma coisa?
NARRADOR 01 – Os sinos. Estou ouvindo sons de
sinos...
NARRADOR 02 – (OUVINDO) Sim... São sinos
realmente. Eu agora estou ouvindo
direitinho... (PARA O TRÊS) E você
não?
NARRADOR 03 - (DISFARÇA) Claro que estou ouvindo.
Ou você pensa que só você pode ouvir?
São sinos! Mas e que tem demais em
sons de sinos?
NARRADOR 01 – Ora, meu caro, então você não sabe?
NARRADOR 03 – E eu deveria saber alguma coisa?
NARRADOR 02 - Claro que deveria! (PARA O UM) Não
deveria?
NARRADOR 01 – Sim, pois estamos em uma noite de
festa!
NARRADOR 02 – (EMPOLDADO) Hmmm... noite de
festa! (FELIZ) Eu adoro festa! Sempre
adorei uma boa festa! As festas são
tão... tão... festivas!
NARRADOR 03 - Legal, eu também sou apaixonado por
festa! (T) Mas a gente tá comemorando
o que mesmo? (PARA UM) Já sei! Seu
aniversário! Você é danado, hein? Nem
falou nada pra gente.
NARRADOR 01 - Não é nada disso. Hoje o mundo está
em festa porque é a noite em que se
comemora o nascimento do Menino
Deus!
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NARRADOR 02 - (SONHADOR) Hmmmm... O
Nascimento do Menino Deus...
NARRADOR 03 - (EMPOLGADO) Oba! Que maravilha!
O menino Deus nasceu! Viva o menino
Deus! Viva! (T) Quem é o menino
Deus?
NARRADOR 02 - Nossa, como você é ignorante. Todo
mundo sabe quem é o menino Deus.
NARRADOR 03 - É mesmo? Então me diz: quem é o
menino Deus?
NARRADOR 02 - Bem... ele é o... o... ele...
NARRADOR 03 - Tá vendo? Você também não sabe!
NARRADOR 01 - Então vocês não conhecem a história
do Menino Deus?
NARRADOR 02 - Eu? Imagina... é claro que eu
conheço... hum... o Menino Deus é...
bem... ele... Então...
NARRADOR 03 - Sim... Conclua.
NARRADOR 02 - Pois é... ele nasceu, né?
NARRADOR 01 - Evidentemente...
NARRADOR 02 - Justamente o que eu acabei de dizer.
NARRADOR 03 - Justamente você não disse coisa com
coisa!
NARRADOR 02 - Eu estava dizendo exatamente isso:
que o Menino Deus... ele nasceu.
NARRADOR 03 - Só isso?
NARRADOR 02 - (VENCIDO) Ok, eu confesso: eu não
conheço a história do Menino Deus!
O NARRADOR 02 AMEAÇA CHORAR. O NARRADOR UM VAI ATÉ ELE
COM CARINHO E AFETO.
NARRADOR 01 - Tudo bem, tudo bem. Não precisa ficar
assim. Não precisa ficar triste.
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NARRADOR 02 - Mas eu não sei nada sobre o Menino
Deus.
NARRADOR 01 - Não tem problema. Eu vou contar pra
você tudo o que sei sobre ele. Aliás, vou
contar para os dois. Venham aqui...
aproximem-se.
OS NARRADORES UM DE DOIS SE APROXIMAM DO PRIMEIRO.
NARRADOR 01 - Presta atenção: nossa história começa
há muito tempo. Em uma terra muito
distante. Tudo aconteceu com uma
jovem chamada Maria...
FUMAÇA, TRILHA INCIDENTAL. SAEM OS NARRADORES, ENTRA MARIA
VARRENDO A CASA. ENQUANDO ELA TRABALHA, O ANJO SE
APROXIMA E A SEGUE PELA CASA. MARIA NÃO O VÊ.
MARIA - Estranho. Eu tenho é a ligeira
impressão de que tem alguém de olho
em mim. Como se tivesse uma pessoa
me espiando, num sabe?
(CONFORMADA) Deve de ser é
maluquice de minha cabeça... é isso
mesmo... é coisa da minha cabeça.
(VOLTA AO TRABALHO)
ANJO - Sinto muito, Maria, mas num é
maluquice de sua cabeça não. Eu tô te
observando já faz um tempão!
MARIA - Oxe que agora danou-se. E eu tô é
ouvindo vozes! Mas que diacho é isso,
meu Deus?
ANJO - Deus! Eis aí a palavra exata. Pois num
foi justamente ele, O Todo Poderoso,
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que me mandou vir ter esse particular
contigo?
MARIA - (PROCURANDO) Valei-me, meu pai
eterno, que eu agora embirutei foi de
vez! Eu escuto o disse me disse, mas
num vejo é ninguém. Será que tô
ficando doida, é?
ANJO - (ATRÁS DE MARIA, UM POUCO
AFASTADO) Pois olhe para cá, Maria.
Tu num tá ficando doida coisa
nenhuma, mulher!
MARIA OLHA NA DIREÇÃO, MAS PARECE CONTINUAR NÃO VENDO
NADA.
ANJO - Olhe direito. Olhe com seu coração,
Maria. Só assim, cê vai poder me ver.
Olhe com os olhos da fé.
MARIA - (VÊ) Pai Eterno, me abana! E num é
que tem um homem ali parado? De
onde cê veio assim do nada, seu moço?
É viajante? Não, espera. Já sei: deve de
ser estrangeiro. É claro que é
estrangeiro. Vestido assim, nunca vi
ninguém vestido desse jeito...
ANJO - Eu sou um anjo, Maria. Um anjo
enviado pelo Senhor.
MARIA - (PARA A PLATEIA) Vixe, que a coisa
ficou foi séria! (PARA O ANJO) Escuta
aqui, esse menino. Acho que o senhor
andou foi bebendo vinho demais da
conta, num sabe?
ANJO - Não é nada disso, Maria. Eu estou
dizendo a verdade... eu sou um anjo. E
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estou aqui para trazer uma mensagem
muito importante para você. (EM
SEGREDO) Uma mensagem enviada
pelo próprio Deus!
MARIA - O próprio Deus é?
ANJO - Ele mesmo.
MARIA - (INCRÉDULA) Cê tá dizendo que tem
um recado pra mim e que quem
mandou foi Deus em pessoa? Em carne
e osso?
ANJO - Sim e não!
MARIA - (PARA A PLATEIA) Num tô dizendo
que esse aí é tam-tam das ideias?
(PARA O ANJO) Olha, seu anjo... ou
seja lá o que o senhor for... Gosto das
coisas assim preto no branco: ou é sim
ou é não. Num tem como ser os dois, tá
sabendo?
ANJO - Eu explico: SIM, a mensagem lhe foi
enviado pelo próprio Deus, o Todo
Poderoso, o Criador de tudo. O Nosso
Pai Celeste e blábláblá... e NÃO: num
foi Deus em carne e osso, porque Deus
num tem carne nem tem osso... Deus é
Deus, entende?
MARIA - Já sei... foi o sol, num foi?
ANJO - Sol?
MARIA - Foi o sol do deserto que te deixou
assim... maluco!
ANJO - Não foi o sol do deserto que me deixou
maluco coisa nenhuma. Afinal, nem
maluco eu sou. E vamos parar de lero-
lero. O recado que eu tenho para te dar
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é o seguinte: o filho que tu esperas será
o salvador da humanidade.
MARIA - Num me diga.
ANJO - Digo sim. E digo outra coisa: a criança
nascerá em Belém. E será lembrada por
toda a eternidade como o filho de Deus!
MARIA - Olha, seu anjo, eu num quero lhe
contrariar não. Longe de mim contrariar
um ser tão distinto quanto o senhor,
mas nem grávida eu tô.
ANJO - Isso é o que você pensa, Maria. Você
carrega no seu ventre o Filho de Deus!
Bendita sois entre as mulheres, oh
Maria.
MARIA - Sem querer ofender. Vamos imaginar
que tudo isso aí que tu tá dizendo seja
verdade. Como é que eu, uma mulher
tão simples... olha pra minha casa, num
tenho nada... num tenho TV, num tenho
computador, nem internet, eu tenho.
Como é que eu posso ser a mãe do filho
de Deus? Acho que o senhor errou de
endereço, num sabe?
ANJO - (CONFERE UM PAPEL NO BOLSO)
Num errei não. O endereço é esse
mesmo. Escute, Maria, num se avexe
não. Deus sabe o que faz. Se ele te
escolheu, tá escolhido. E tu será a mãe
do Salvador. (T) E aí, o que me diz?
MARIA - (PENSATIVA) Pois é, seu... como é
mesmo a sua graça?
ANJO - Gabriel... meu nome é Gabriel!
MARIA - Pois é, seu Gabriel... bonito nome,
gostei. Mas como eu tava dizendo. Eu
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acho que esse negócio de ser mãe do
filho de Deus é muito trabalho, num
sabe? É responsabilidade por demais...
ANJO - Num seja egoísta, Maria. Veja o bem
que estará fazendo ao mundo. Esse
menino será o salvador de toda a
humanidade.
MARIA - Toda a humanidade é? Isso é gente
pra burro, né? (PENSA) Parece que é
uma coisa muito importante mesmo...
mas... ainda tem o meu marido José,
num sabe? Como é que eu explicar um
negócio desse pra ele?
ANJO - Deixa que de José cuido eu. Num se
apoquente com isso não, Maria. E aí,
posso anotar que você disse SIM?
MARIA - Olha... já que é Deus quem tá pedindo,
quem sou eu pra dizer não, num é
mesmo? Pois que seja feita a vontade
do Senhor!
ANJO - (FELIZ) Muito bom, Maria. (OLHA O
RELÓGIO) Eita, olha que a hora já vai
longe... estou muito atrasado. Minha
agenda tá lotada: tenho que ter uma
falatório com seu marido José, afinal, o
dia 25 de dezembro está aí... temos que
correr porque vocês precisam preparar
uma viagem para Belém do Pará...
Opa... Belém de Judá! (PEGA UM
CELULAR) Deixa eu atualizar meu
status no Facebook: PARTIU FALAR
COM JOSÉ! (T) Até breve, Maria!
MARIA - Eita que o maluco saiu foi voando olha
só. E num é que ele era anjo mesmo?
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SAI MARIA. MAIS FUMAÇA, SONS ESTRANHOS: RAIOS, CHOROS,
MULTIDÕES, GRITOS. CLIMA DE TERROR. ENTRA O CRAMUNHÃO.
CRAMUNHÃO - (DEBOCHADO) Vai nascer o filho de
Deus! O salvador de toda a
humanidade!... Argh... que nojo! Eu até
ficaria feliz com essa notícia, se eu não
fosse quem eu sou! (RISADAS) Mas
como eu sou o Coisa Ruim, o
mentiroso, o inimigo, o opositor... Eu
não consigo me comover com isso.
(SÉRIO) Agora, se essa gente aí pensa
que eu vou deixar esse moleque nascer,
eles estão muito enganado!
(PENSATIVO) Dia 25 de dezembro...
Ok. Vamos ver quem pode mais. Eu vou
dar um jeito de impedir o nascimento
desse salvador dali, daqui ou seja lá de
onde for. Farei isso, ou não me chamo
Cramunhão! O maligno! Pra esse
menino nascer, ele vai ter que passar
por cima das minhas escamas, do meu
casco, do meu rabo e dos meus chifres!
(TOM) O problema é que eu não posso
aparecer pessoalmente nesse
nascimento. Eu preciso encontrar algum
idiota humano que faça o trabalho sujo
por mim... (PAUSA)... Mas é claro, eu já
sei o que tenho que fazer... Vou me
transformar em alguém muito
importante e vou enganar o imperador
romano, fazendo-o trabalhar para mim.
Mas... em quem eu vou me
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transformar? No Neymar? No Pelé? Na
Lady Gaga? Não... tudo muito batido...
Já sei... eu serei o Rei do Camarote! O
mais rico, o mais perverso e mais
malvado...
O CRAMUNHÃO COMEÇA SUA DANÇA E INICIA A MÚSICA.
CRAMUNHÃO - Eu sou é do mal/ veja o que vou fazer/
se nascer o menino/ nas minhas garras
há de morrer/ Porque eu sou do mal/
sou a estrela da manhã/ Sou malvado e
poderoso/ e odeio esse povo/ E eu sou
é do mal/ e perigoso também/ que seja
infeliz quem fizer o bem... (O
CRAMUNHÃO OLHA PARA UM LADO
E PARA O OUTRO, VÊ QUE NÃO TEM
NINGUÉM E MUDA DE MÚSICA)
Perigoso sempre fui/ ui ui ui ui/
Igualzinho ao meu pai/ ai ai ai ai ai/ Da
maldade eu sou o rei/ Ei ei ei ei ei/
Inimigo sou da paz/ Ais ais ais ais/ Eu
controlo quase tudo/ Minha casa é no
esgoto/ Uns me chamam de rabudo/
Outros chama capiroto.
OS NARRADORES ENTRAM. O DOIS E O TRÊS ESTÃO
ASSUSTADÍSSIMOS.
NARRADOR 02 - Que figura horrível!
NARRADOR 03 - Pior do que briga de foice no escuro!
NARRADOR 01 - Vocês acharam que o nascimento do
filho de Deus ia ser fácil? Claro que não!
Sabendo do que o garoto seria capaz, o
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inimigo logo colocou suas garrinhas de
fora.
NARRADOR 02 - E os seu rabo também.
NARRADOR 03 - Sem falar nos chifres! Como era
grandes! Um belo de um corno. Um
corno não, um cornão. Mas, como é
mesmo o nome dele?
NARRADOR 01 - Ele é o inimigo. O Coisa Ruim... nessa
história será chamado de Cramunhão.
NARRADOR 02 - Por quê?
NARRADOR 03 - Porque está no texto, uai!
NARRADOR 01 - Por isso também... mas vamos
continuar nossa história. Depois de que
decidiu se disfarçar de humano, o
Cramunhão seguiu até o imperador
Romando para colocar seu plano
maligno em prática...
ENQUANTO OS NARRADORES SE AFASTAM, TROMBETAS ANUNCIAM
A ENTRADA DO GRANDE IMPERADOR ROMANO. ELE ENTRA
ACOMPANHADO DE UM ASSESSOR.
IMPERADOR - Eu estou cansado, cansadíssimo,
cansadérrimo! Tô que não me aguento
em mim... sabe quando você num se
aguenta em si?
ASSESSOR - Sei sim, sua malvadeza.
IMPERADOR - (INSINUANTE) Adoro quando você me
chama de malvadeza... chama de novo,
vai.
ASSESSOR - (AFETADO) Sua malvadeza!
IMPERADOR - Aaai, adoro, adoro... Tá... cansei de
brincar disso. Me diz, o que é que você
quer comigo?
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ASSESSOR - Tem uma criatura estranhíssima aí
fora pedindo uma audiência com o
imperador.
IMPERADOR - Ai, como é duro ser imperador... São
os paparazzi, os ministros, os súditos.
Ok, manda entrar a criatura...
ASSESSOR FAZ UM SINAL E O CRAMUNHÃO ENTRA, COM OUTRO
MANTO. É OUTRA PESSOA AGORA. O IMPERADOR O OBSERVA COM
DESDÉM, CHAMA O ASSESSOR PARA PERTO DE SI.
IMPERADOR - Quem é esse aí?
ASSESSOR - Nunca vi mais chifrudo na minha vida.
Se apresentou como o Rei do
Camarote, uma espécie de
personalidade da mídia.
IMPERADOR - (EMPURRA O ASSESSOR)
Tuuuuudo, eu estava justamente
esperando por você. Ouvi muita coisa
boa a seu respeito. (T) Mas espero que
o assunto que veio tratar comigo seja
mesmo importante. Você interrompeu
minha diversão matinal: ver os leões
devorando rebeldes na arena.
ASSESSOR - Verdade, o divino aqui, adora ver os
leões atacando aquela gente. E quando
ele é interrompido, é ele fica atacada!
IMPERADOR - Atacado, faça-me o favor!
ASSESSOR - Desculpa, sua malvadeza. Atacado!
IMPERADOR - Muito bem. Gosto assim. (T) Mas, e
você é quem mesmo, que eu não me
lembro?
ASSESSOR - Sou seu assessor, divina malvadeza.
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IMPERADOR - E é? Assessor é? Afff... que eu sou
mesmo importante. Porém nunca ouvi
falar você. Mas me faz um favor: cê cala
essa boca e me deixa conversar com
minha visita, tá? (PARA O
CRAMUNHÃO) Onde foi que nós
paramos?
CRAMUNHÃO - Eu ia justamente me apresentar, mas
primeiramente eu queria dizer que o
senhor está divino. Adorei esse
modelito.
IMPERADOR - Gostou foi? Seda 100% chinesa, 700
fios. Custou o olho da cara. As joias são
feitas com gemas caríssimas, a sandália
são de um designer super-hiper-mega
exclusivo, feitas de couro do minotauro.
Mandei trazer de... da... de onde
mesmo?
ASSESSOR - Da Ilha de Creta.
IMPERADOR - Justamente, desse lugar aí mesmo.
Tudo desenhado por Ronaldo Esper.
CRAMUNHÃO - Vejo que o senhor é um homem de
bom gosto. (T) Mas vamos aos
negócios. Eu sou seu novo mensageiro
e trago notícias do Oriente.
IMPERADOR - Sério? E como estão as coisas por lá?
Quentes? (RI E OLHA PARA O
ASSESSOR) Entendeu a piada:
Oriente, deserto, quente, sol... (RI)
ASSESSOR - O senhor é um gênio. O imperador
mais bonito que já vi em toda a minha
vida.
IMPERADOR - O mais bonito, o mais elegante, o mais
imperativo...
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CRAMUNHÃO - (CORTA) O mais vil, o mais perverso,
o mais... o mais... e o mais... Já
sabemos de tudo isso, sua malvadeza,
mas o que eu estava dizendo é que já
eliminamos metade da população do
norte do Oriente. Os sobreviventes
estão loucos para servir ao nosso divino
imperador.
IMPERADOR - Acho digno.
CRAMUNHÃO - Também mandamos ratos e outros
animais contaminados para as regiões
ricas em petróleo do Oriente. Logo as
reservas serão nossas.
ASSESSOR - Nossa? Como assim? O imperador é
ele!
CRAMUNHÃO - (COM RAIVA DO ASSESSOR)
Desculpa... eu queria dizer... do senhor,
divina malvadeza. Tudo no vosso
domínio está em perfeita ordem... (T)
Quer dizer... há um pequeno problema
em Belém.
IMPERADOR - Belém do Pará? Adoro Belém do
Pará... Adoro Joelma, Chimbinha, Gaby
Amarantos...
ASSESSOR - Maravilhosos... Não vejo a hora deles
nascerem, divina malvadeza.
CRAMUNHÃO - Na verdade, estou falando de Belém
de Judá.
IMPERADOR - Ah é... cidade chata essa Belém de
Judá. Povo uó, marram. Gosto deles
não. (T) Ok, o que está acontecendo por
lá?
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CRAMUNHÃO - Alguns dos nossos espiões disseram
que há boatos de que um garotinho está
para nascer nessa cidade...
IMPERADOR - Tá e daí? Todo dia nasce vários
garotinhos em Belém de Judá. Cidade
cheia de pobres e você sabe que, se
tem uma coisa de que pobre gosta, é de
fazer filho. Afff... num vejo a hora de
inventarem o controle de natalidade.
ASSESSOR - Ou a camisinha, senhor.
CRAMUNHAO - Mas esse não será um garotinho
comum. Esse menino que nascerá no
dia 25 de dezembro, será uma grande
ameaça ao nosso... quer dizer... ao
vosso reino. Segundo fiquei sabendo,
ele vai destruir o seu império, divina
malvadeza.
IMPERADOR - Ai que horror!
CRAMUNHÃO - Já pensou o será do mundo sem sua
arena, sem esse maravilhoso Mané
Garrincha? Acordar e não ter nenhuma
maldade para fazer? Nenhuma verba
para desviar?
IMPERADOR - Isso nunca!
CRAMUNHÃO - Imagina as pessoas unidas. Amando
umas às outras. Como se fossem todos
irmãos! Imagina o senhor tendo que
viver sem essas roupas maravilhosas...
IMPERADOR - Vira essa boca pra lá!
CRAMUNHÃO - Por isso eu te digo, divina malvadeza:
precisamos dar um jeito neste garoto.
Precisamos garantir que esse moleque
não nasça!
ASSESSOR - Mas... e se ele nascer?
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CRAMUNHÃO - Garantiremos que ele não cresça!
ASSESSOR -Mas corre o risco de ele crescer...
CRAMUNHÃO - Aí nos asseguraremos de que ele
morra!
NARRADOR TRÊS ENTRA EM CENA, AR SÉRIO, POSTURA DE
APRESENTADOR DE TELEJORNAL.
NARRADOR 03 - Corta pra mim! Vocês viram, senhoras,
senhores e criançada de um mondo
geral: a coisa está ficando séria para o
tal Filho de Deus. E olha que o garoto
nem nasceu ainda. (T) Cadê minha
câmera? Cadê? É essa aqui? Muito
bem... eu queria dizer que...
NARRADOR 02 - (ENTRA) Mas que palhaçada é essa
aqui?
NARRADOR 03 - Só estou contando a história, ué!
NARRADOR 02 - Tá vendo? A gente num pode dá trela
que a pessoa já quer tomar conta do
espetáculo. Cadê o diretor dessa peça?
Alguém pode, por favor, fazer esse
louco voltar pro personagem?
ENTRA O DIRETOR.
DIRETOR - O que está acontecendo aqui? Que
zona é essa?
NARRADOR 02 - Deu a louca na criatura aí e ela pensa
que é âncora de telejornal...
DIRETOR - (PARA NARRADOR 03) Querido, eu já
te expliquei qual é o seu papel, num
expliquei? Olha só... você é um dos
narradores. Você não é o Marcelo
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Rezende... Ok? Cadê o primeiro
narrador? Vamos recomeçar essa peça
que já estou ficando nervosa! Todos nos
seus lugares! Segue o texto!
SAI O DIRETOR. ENTRA O NARRADOR 01 E TODOS VOLTAM A SER
NARRADORES.
NARRADOR 03 - E então? O Cramunhão conseguiu
impedir o nascimento do Filho de Deus?
NARRADOR 02 - Estamos curiosos. Conte mais, conte
mais...
NARRADOR 01 - Ok, a discussão estava quente no
palácio do Imperador... Mas em Belém
de Judá, um homem e uma mulher
especiais procuravam um lugar para
passar a noite...
ENTRA A MÚSICA.
ASSIM QUE A MÚSICA ACABA, ENTRAM MARIA E JOSÉ CARREGANDO
UMA MALA. ESTÃO VIAJANDO HÁ DIAS.
MARIA - Arre! Que eu tô que num me aguento!
JOSÉ - Calma, Maria. As coisas vão se
ajeitando. Tudo vai dar certo.
MARIA - Olha o estado dos meus pés, José?
Tão é em carne viva. Num aguento dá
mais um passo. Precisando de um lugar
pra passar a noite, José.
JOSÉ - É, tô sabendo. O problema é que a
cidade tá com gente saindo pelo ladrão.
Tá cheio de turista aqui.
MARIA - E te digo mais, José. Nosso filho já tá
pra nascer.
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JOSÉ - Num se avexe não, Maria. Espera um
bocadinho aqui que eu vou ver se acho
uma vaga pra nós. Tá bom?
JOSÉ SAI E MARIA SENTA NA MALA.
MARIA - Eita que eu tô é agoniada. Com uma
sensação estranha. Tô até sentindo um
formigamento na palma das mãos. E
minha mãe dizia que formigamento na
palma da mão é pra ficar de butuca
ligada.
OS NARRADORES ENTRAM TRANSFORMADOS EM CRIATURAS
ETÉREAS.
NARRADOR 01 - E você deveria dar ouvidos a sua mãe,
Maria.
MARIA - Ih, vai começar tudo de novo, é? Vê se
é possível, eu num paro de ficar ouvindo
essas vozinhas no meu ouvido. Quem é
que é agora? Outro anjo, é?
NARRADOR 02 - Não, Maria. Nós somos o seu sexto-
sentido?
MARIA - Nós? E a gente tem quantos sexto-
sentidos mesmo?
NARRADOR 01 - Na verdade, você só tem um sexto-
sentido...
NARRADOR 03 - (Corta) É verdade, mas como já tinha
contratado três pessoas, cada uma fica
com um pedaço.
MARIA - Mas eu pensei que essa história de
sexto-sentido fosse era birutice da
cabeça da gente.
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NARRADOR 02 - Num é birutice, não, Maria. O sexto-
sentido é coisa muito séria. E como seu
sexto-sentido... quer dizer, como um
deles... que eu te digo: fica de olho
aberto Maria. Fica de olho aberto que os
romanos estão loucos para botar a mão
em você e no seu filho... e se eles
pegarem vocês... ai ai... nem quero
imaginar...
NARRADOR 02 - O bicho tá pegando pro lado de vocês,
entende? A cabra tá fumando... por isso
eu digo: melhor vocês num se meterem
em hotel não. O primeiro lugar que
esses romanos vão procurar por você,
seu filho e José, vai ser justamente nos
hotéis.
MARIA - O que é que a gente faz então? Viram
como tá frio aqui? Se a gente ficar no
meio da rua nesse frio, a gente vai é
congelar isso sim.
NARRADOR 01 - Eu tenho uma ideia: já ouviu falar na
comunidade Rabo da Cutia?
MARIA - Sim.
NARRADOR 01 - Pois bem, no final dessa comunidade
tem uma caverna. Um lugar discreto,
onde alguns animais procuram abrigo.
Escondam-se lá. Os romanos nunca
vão procurá-los neste lugar.
NARRADOR 03 - Isso mesmo. Nunca que os seus
inimigos vão imaginar que o filho de
Deus vai nascer em uma comunidade
tão pobre e simples.
NARRADOR 02 - Pense bem no que estamos falando,
Maria. Pense bem.
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SAEM OS NARRADORES, ENTRA JOSÉ.
JOSÉ - Se aprume, Maria. Arrumei um lugar
pra gente passar a noite. Num é muito
luxuoso não. Mas tá de bom tamanho,
num sabe?
MARIA - José, eu estava aqui matutando e tive
uma ideia: eu sei que no final da
Comunidade do Rabo da Cutia tem um
caverna abandonada. Por que que a
gente num passa a noite lá?
JOSÉ - Endoidou de vez, mulher? Onde já viu.
E se o filho de Deus resolver essa
noite? Cê vai querer que ele nasça
numa caverna dentro de uma
comunidade?
MARIA - Pensa bem, José. Se a gente se
hospeda em um hotel, fica fácil dos
soldados romanos encontrarem a gente.
E eu fiquei sabendo que eles estão
atrás de mim, de tu e do filho de Deus
pra ó... (Faz sinal de degola).
JOSÉ - Tem certeza?
MARIA - Os romanos sabem que Jesus tá
destinado a salvar a humanidade. E que
o nascimento dele será o começo do fim
do reinado deles. De modo que acho
melhor a gente se esconder na
Comunidade.
JOSÉ - Acho que você tem razão, Maria.
Nunca que os romanos iam imaginar
que o filho de Deus vai nascer num
lugar tão simples.
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MARIA - Pois num é?
JOSÉ - Vou te dizer: tem hora que você me
surpreende com esses seus
pensamentos, Maria.
MARIA - É coisa de mulher. Coisa de sexto-
sentido. E vamos logo que o filho de
Deus tá pra nascer...
SAEM MARIA E JOSÉ. ENTRA O ANJO.
ANJO - As coisas estão indo tão bem. Tudo de
acordo com os planos de Deus.
(Procura) Mas... por onda anda a
Estrela-Guia? Ela precisa cumprir seu
papel nessa noite mágica. (Grita)
Estrela-Guia! Estrela-Guia!
ESTRELA - Chamou, chamou?
ANJO - Estrela, estrelinha... como sempre: tão
bonitinha!
ESTRELA - Oh, que lindo. Muito obrigada!
ANJO - (Aproxima-se) E, como sempre, tão
cheirosa.
ESTRELA - Sabe como é... eu uso Jequiti... E
você, seu anjo? Sempre galante. Sabia
que se eu não fosse uma estrela e você
não fosse um anjo, a gente até podia se
ajeitar?
ANJO - Assim você me deixa encabulado,
estrelinha.
ESTRELA - Que lindo. Ficou vermelho, anjinho. (T)
Mas me diga: o filho de Deus já
nasceu?
ANJO - Está nascendo neste momento...
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ESTRELA - Jura? Que lindo! Pois eu vou ficar aqui
para orientar e...
ANJO - (Corta) De jeito nenhum! Você precisa
é desorientar!
ESTRELA - Desorientar? Como assim?
ANJO - O negócio é o seguinte: os romanos
estão de olho no filho de Deus. Por isso,
precisamos que você desoriente-os. Se
o filho de Deus está na Asa Sul, você
deve brilhar na Asa Norte! Entendeu?
ESTRELA - (Triste) Entendi... Mas e os pastores,
os reis magos... e as músicas, os
louvores?
ANJO - Nada de fuá no Santo Presépio. Isso é
perigoso. Toda essa festa pode atrair
romanos, polícia, imprensa, paparazzi e
até ... O Cramunhão!
ESTRELA - Mas ninguém vai comemorar o
nascimento do Filho de Deus?
ANJO - Sim. Que todos comemorem, que
todos dancem, cantem e celebrem a
vinda do Salvador. Que em cada casa,
seja montada a ceia com comida
vasta... mas que tudo isso seja feito
longe do menino. Entendeu?
ESTRELA - Acho que sim.
ANJO - Muito bem... Deixa eu tirar meu time
de campo. Fique brilhando aqui, Estrela.
Cuidado, não deixe o Cramunhão te
enganar. Eu vou! (Celular) PARTIU
NASCIMENTO DE JESUS! Tchau!!!
O ANJO SAI, A ESTRELA SOBRE NO PEDESTAL PARA PODER BRILHAR.
ENTRA UM DOS CANTORES (MÚSICA: Brilha no céu uma estrela, enche o
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mundo de alegria... etc) EM SEGUIDA, ENTRAM OS NARRADORES
TRANSFORMADOS EM PASTORES:
ESTRELA - Saudações, nobres pastores!
Comemorem esta noite maravilhosa
aqui. Não queremos presepadas no
Santo Presépio.
NARRADOR 01 - Só queremos celebrar o nascimento
do Filho de Deus!
NARRADOR 02 - Queremos adorar o Salvador!
NARRADOR 03 - Que se a bela Estrela-guia nos guiar
até onde o menino nasceu?
ESTRELA - Não posso, meu amores! É uma
questão de estratégia. Minha missão é
desorientar, pois o inimigo de toda a
humanidade quer capturar o filho de
Deus!
NARRADORES - OH!
NARRADOR 01 - Diga apenas se ele já nasceu,
Estrelinha.
ESTRELA - (Tomando cuidado para não ser
notada) Ele acaba de nascer...
NARRADOR 02 - Que lindo...
NARRADOR 03 - Viva o Salvador de toda a
Humanidade!
ESTRELA - Cantem e dancem! Celebrem o
nascimento do Menino Deus!
MÚSICA
ANTES QUE A MÚSICA PARE, ENTRE O CRAMUNHÃO
INTERROMPENDO-A. COM AR ARROGANTE E CÍNICO.
CRAMUNHÃO - Ora, ora... então quer dizer que tá
rolando o maior carnaval aqui e
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ninguém me convida? Tudo mundo
sabe que eu odeio momentos felizes e
festivos, mas eu merecia um convite. E
depois, por que ninguém me adiciona o
Facebook, ninguém me cutuca,
ninguém me segue no Twitter? Acho
tudo isso muito ofensivo! Estou com
uma dúvida rondando a minha cabeça
maléfica: O que vocês estão
comemorando afinal?
NINGUÉM DIZ NADA.
CRAMUNHÃO - Ficaram mudos? Ou o gato comeu a
língua de vocês? Tudo bem. Sei que
estão com medo! Agora deixa de
palhaçada e me digam logo onde se
esconderam Maria, José e aquele
menino ridículo que todos pensam que
será o salvador. E não se façam de
mortos. Eu sei que ele já nasceu! Se
vocês colaborarem, ganham um doce...
se não colaborarem... eu posso ser
muito travesso! E então? Doces ou
travessuras? Lembrem-se que eu sou
muito poderoso...
ESTRELA - (Indignada) Poderoso? Até parece!
Quem é você na fila do pão, coisa feia?
Eu sei que a sua força é alimentada
pelos nossos medos! Se ninguém tiver
medo de você, você não tem poder
nenhum!
CRAMUNHÃO - (Disfarçando) Não... não sei do que
você está falando...
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ESTRELA - Olha só pra ele, gente. Ele não é nada,
ele é apenas um pobre diabo rabudo e
chifrudo.
TODOS COMEÇAM A ZOMBAR DO CRAMUNHÃO.
CRAMUNHÃO - Calados! Olha aqui, sua estrela de
meia tigela! Parabéns, a senhora
acertou na mosca... se eu fosse você,
até faria uma fezinha na Mega-Sena da
Virada! De fato a minha força vem do
medo de vocês. Por isso eu sou tão
poderoso, já que vocês são um bando
de bunda-mole. Uns medrosos!
ESTRELA - Tem certeza disso? Acho que você
não conhece a gente direito, feioso! Pra
cima dele, pessoal!
UM AVALANCHE DE INSULTOS E AGRESSÕES SÃO DESFERIDOS
CONTRA O CRAMUNHÃO. O CRAMUNHÃO VAI PERDENDO A FORÇA,
ENQUANTO ELE SE DESVAI, OS OUTROS CANTAM (Vamos depressa
saindo/ que o capeta enfim dormiu...)
O CRAMUNHÃO FICA CAÍDO NO CHÃO, REMOENDO-SE. AOS POUCOS
VAI RETOMANDO SUA FORÇA E TENTA SE COLOCAR DE PÉ.
CRAMUNHÃO - Ai... ai... ui... como dói. Apanhei mais
do que massa de pão. Isso não é justo!
Mas eles me pagarão, a sim... minha
vingança será terrível... aaai... esses
infelizes não perdem por esperar. Eu
vou acabar com todos eles... ui.
ENTRA O IMPERADOR E O SEU ASSESSOR.
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IMPERADOR - O que aconteceu, Rei do Camarote?
Parece que foi atropelado por um
caminhão. (RI)
CRAMUNHÃO - Estou dispensando suas piadinhas,
Imperador! Não está vendo? Eu fui alvo
de um ataque terrorista.
IMPERADOR - Hummm... ter certeza? Num sei não.
ASSESSOR - Pra mim isso foi uma bela de uma
surra.
CRAMUNHÃO - Cale-se! E você, seu imperador de
araque? Seus soldados já localizaram o
garoto?
IMPERADOR - Ainda não.
ASSESSOR - Mas eles estão procurando em cada
canto do mundo. Logo esse menino
será achado.
CRAMUNHÃO - Duvido muito. Vocês são um bando de
incompetentes.
IMPERADOR - Vê lá como você fala comigo, seu
corno! Eu sou o imperador, hein?
Herodes está cuidando pessoalmente
da captura do garoto.
CRAMUNHÃO - Herodes é um imbecil. Sempre que a
coisa fica feia para o lado dele, aquele
idiota lava as mãos.
ASSESSOR - A cara de Herodes. Ele sempre foi um
homem muito limbo e higiênico.
IMPERADOR - Isso é verdade...
CRAMUNHÃO - (Impaciente) Já que vi que vou ter que
tomar uma atitude. Olha aqui, ordene a
Herodes que ele mande matar todas as
crianças nascidas na Judeia. Assim,
seus soldados vão acabar matando
esse futuro salvador também.
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IMPERADOR - Matar todas as crianças? Gostei... na
verdade, eu adorei. Quer saber? Você
um gênio, Rei do Camarote! (T)
Assessor, aproveita que estamos aqui
por perto e já avisa a Herodes o que ele
tem que fazer.
O IMPERADOR SAI DE CENA COM O CRAMUNHÃO QUE AINDA ESTÁ
MAL PELA SURRA LEVADA. O ASSESSOR ESPERA OS DOIS SAIREM E
DIZ À PLATEIA.
ASSESSOR - Que coisa horrível! Matar todas as
crianças? Eu adoro a sua malvadeza,
mas isso já é maldade demais. Quer
saber? Eu não vou permitir uma
barbaridade dessas! (Em pose altiva)
Atenção pais e mães de Belém! O
imperador pediu para que Herodes
elimine todas as crianças da região.
Então, fujam! Peguem seus filhos e
caiam fora! Vaza todo mundo!
SONS DE PESSAOS FUGINDO. CRIANÇAS CHORANDO. OS
NARRADORES PODEM DIZER FRASES DESCONEXAS: CORRAM!
SALVEM AS CRIANÇAS! PEGUEM AS MAMADEIRAS! ETC.
ASSESSOR - Ai, que maravilha! Todos fugiram.
Agora acho que as crianças estão livres
de um final tão terrível! Quer saber?
Acho que eu também vou dar no pé!
O ASSESSOR FOGE. ASSIM QUE SAI, ENTRAM EM CENA O
CRAMUNHÃO E O IMPERADOR.
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IMPERADOR - Onde estão as crianças? O que foi que
aconteceu? Não estou entendendo.
CRAMUNHÃO - Aconteceu que você é um
incompetente até na hora de arrumar
assessores. Aquele imbecil avisou a
todos sobre nossos planos!
IMPERADOR - Isso é um absurdo. Eu exijo que ele
venha se explicar pra mim. Agora!
CRAMUNHÃO - Deixa de ser trouxa, imperador
banana! A essa hora, aquele lá já deve
estar pra lá de Planaltina! Vai
impossível achá-lo. E a culpa é toda
sua, seu idiota!
IMPERADOR - Idiota é sua mãe!
CRAMUNHÃO - É a sua!
IMPERADOR - A sua!
OS DOIS COMEÇAM A SE ATACAR COM TAPINHAS.
CRAMUNHÃO - Chega! Cansei de brincar com você,
imperador incompetente. A partir de
agora, eu estou te excluindo do meu
Whatsapp!
IMPERADOR - Não! Você não pode fazer isso
comigo. Eu sou seu imperador, eu sou o
todo poderoso de Roma...
CRAMUNHÃO - Parado! Estátua! Quer saber? Vou dar
um jeito em você! (Faz movimentos com
as mãos)Abracadabram, alacazam...
inha inha inha... esse imperador virará
uma galinha!
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O IMPERADOR COMEÇA A CACAREJAR. O CRAMUNHÃO SE DIVERTE
COM A CENA. ELE SAI SEGUIDO DA GALINHA. ENTRA O CORAL
CANTANDO (Só colhe prazer/ quem bondade planta/ ó Deus abençoe... etc)
ENTRA JOSÉ E MARIA CARREGANDO O MENINO DEUS.
MARIA - Eita que num aguento mais lavar fralda
desse menino. Bem que a gente podia
comprar era um pacote Pumpers!
ENTRA O REI MAGO.
MAGO - Dá licença que eu tô entrando. Como
vai? Tudo bem?
JOSÉ - E quem é o senhor mesmo?
MAGO - Muito gosto, eu sou um Rei Mago. Eu
vim aqui pra trazer uns presentes pro
Santo Menino. Tenho ouro, mirra,
incenso...
JOSE - Escuta aqui, seu rei Mago, num devia
de ser três?
MAGO - Pra falar a verdade, devia ser mesmo.
Mas sabe como é: crise mundial, corte
de gastos... o cachê só deu pra um rei
Mago. E olha pra chegar aqui foi uma
trabalheira danada. NO caminho tive
que enganar os soldados Romanos e o
Cramunhão... nesse momento eles
devem estar perdidos lá pelas bandas
de Ceilândia.
JOSE - Eita que eu queria ver a cara deles, sô!
MAGO - Melhor não! Eles estão furiosos. Aliás,
contar um segredo pro senhor. Se eu
fosse vocês, eu dava era no pé. Sabe
como é, seguro morreu de velho.
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MARIA - Dar no pé? Mas esta é nossa casa?
JOSÉ - Pois é... e depois... pra onde a gente
poderia ir?
MAGO - Temos várias opções: Gama,
Taguatinga, Santa Maria... tem também
o entorno, não sabe? Mas, seu eu fosse
vocês, eu iria era para o Egito!
MÚSICA: PENSEM NUM PAÍS BONITO, MUITO LINDO, TODOS JUNTOS
AO EGITO...
MAGO - E aí, o que me dizem?
MARIA - Pra mim, tudo bem.
ENTRA O ANJO.
ANJO - Por mim, já estavam lá!
ESTRELA - (SURGINDO) Então o que estamos
esperando? Vamos para o Egito!
ANJO - Êpa! Pó para! Você não, Estrelinha.
Esse seu brilho pode chamar a atenção
do Cramunhão. E se tem uma coisa que
a gente não quer, é aquele lá no nosso
pé.
ESTRELA - Eu estou de luz apagada, bobão!
ANJO - (NOTA) É verdade... mas mesmo
assim. Acho melhor você ajudar a
despistar o nosso inimigo. Faz assim:
fica brilhando lá no Mapati enquanto a
gente caminha para o Cine Brasília.
Assim, enquanto o Cramunhão pensa
que estamos indo para a Asa Norte, nós
estamos indo para a Asa Sul.
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ESTRELA - Tudo bem... mas eu queria tanto ir
com vocês.
ANJO - Faz assim, Estrelinha. Quando a gente
tiver atravessado toda a Asa Sul e já
estiver em segurança no Egito, eu te
mando um Whatsapp avisando e você
se encontra com a gente.
JOSE - Justamente, Estrela-guia, fiquei
sabendo que no Egito tem um rio
enorme. Seu brilho vai refletir nele e
iluminar muita gente.
ESTRELA - Então tá. Que assim seja!
A ESTRELA COMEÇA A CANTAR: “Vou brilhando para o norte/ Bem no
rumo da Turquia...”; ASSIM QUE ELA TERMINA, TODO O ELENCO FAZ O
NÚMERO FINAL:
“No caminho do Egito, vamos nós em comitiva, vamos nós em comitiva, no
caminho do Egito...”
NARRADOR 02 - Que história linda!
NARRADOR 03 - Linda por demais! Estou tão
emocionada com a história do Menino
Deus! Mas, o que aconteceu com ele
depois?
NARRADOR 01 - Bem... isso já é uma outra história!