Piccinini - Sociologia e Administração. Relações Sociais Nas Organizações
AULAS de SOCIOLOGIA DO TRABALHO e das ORGANIZAÇÕES (pdf)
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Sociologia do Trabalho e das Organizações
Itens da AulaApresentação
ObjetivosConteúdo
Aula 01Aula 02Aula 03Aula 04Aula 05Aula 06Aula 07Leituras
ReferênciasBibliografia Comentada
Indicação de SitesGlossário
Apresentação
CONTEXTUALIZAÇÃO
O desempenho do papel profissional do administrador exige muitas qualidades
e preparo, extrapolando as áreas de domínio do mundo físico e envolvendo
conhecimentos filosóficos, psicológicos e sociológicos. Além das técnicas e métodos
inerentes à sua profissão, o administrador deve saber lidar com pessoas e grupos
humanos pertencentes a distintas instituições. Para tanto, é necessário compreender
não só questões relacionadas aos indivíduos, mas também compreender como o
“meio” interfere, influencia e determina as ações desses indivíduos.
Nesse sentido, se “administrar é realizar tarefas através de pessoas”, é
importante para o administrador não só conhecer as tarefas que vão ser executadas,
mas também conhecer as pessoas que vão realizá-las e as implicações de ordem social,
política e técnica inerentes ao mundo do trabalho.
O fato é que a cada instante, na faculdade, no trabalho, em nossas relações,
estamos sendo solicitados a “refletir” sobre determinado assunto, a dar nosso ponto
de vista, a analisar, a criticar... Ora, opiniões sobre os acontecimentos nós temos! Mas
1
isso não basta. A partir do momento em que entramos na “academia”, ou seja, em
uma instituição de ensino superior, as opiniões cotidianas já não são suficientes. É
preciso, a partir de então, “sair do senso comum”. As opiniões devem demonstrar que
somos capazes de refletir e analisar criticamente uma situação, levando em
consideração os vários aspectos envolvidos: sociais, psicológicos, ambientais, políticos,
técnicos e outros.
Sendo assim, perguntamos:
Para que estudar Sociologia?
De que forma os conhecimentos construídos por este campo do saber nos possibilita
construirmos uma visão holística e uma consciência crítica sobre os fatos e eventos do
mundo histórico e contemporâneo?
Esperamos que você, nesta disciplina, compreenda a importância do ato de
reflexão e problematização dos fenômenos organizacionais, o que resultará em não
aceitar imediatamente ou não naturalizar os episódios sociais sem pensar criticamente
sobre eles. Desenvolver o senso crítico e a reflexão são habilidades demandadas na
sociedade atual. Compreender o que existe “por trás” das idéias prontas e das
opiniões formadas por valores e crenças arraigadas nas pessoas implica questionar e
buscar explicações que extrapolem as evidências dos fatos.
Mas o que estuda a Sociologia?
A partir de que preocupações e inquietações este campo científico se constituiu?
Isso você vai descobrir ao longo das aulas. Os primeiros sociólogos, na verdade,
não foram sociólogos no sentido estrito da palavra, simplesmente porque ainda não
existiam cursos de Sociologia. Os autores que são considerados os “pais” dessa ciência,
são, na verdade, filósofos (Durkheim, Marx), juristas (Weber) e militantes políticos
(Marx). Foram “pensadores”, no sentido mais amplo do termo, não somente pela
formação, mas, principalmente, pela diversidade de temas com que se preocuparam.
2
Portanto, nesta disciplina, abordaremos o que aconteceu no mundo para que a
Sociologia fosse fundada e constituída enquanto ciência: quais eram as preocupações
e inquietações dos pensadores que criaram esse campo de conhecimento?
Entre os temas especiais, abordados pelos pensadores clássicos da Sociologia,
temos o desenvolvimento do capitalismo. Durkheim, Weber e Marx presenciaram o
momento de consolidação do sistema capitalista, com as suas transformações
estruturais e os problemas econômicos e sociais trazidos pelo advento desse novo
modo de produção.
Você irá identificar como esses três pensadores analisaram a questão do
trabalho e quais os desdobramentos e implicações de suas análises para os estudos
recentes sobre o que chamamos de “mundo do trabalho”.
Finalmente, você irá construir e ampliar os conceitos e os conhecimentos sobre
o que são as organizações; como os indivíduos se relacionam com elas; e o que é
cultura organizacional na perspectiva sociológica.
Nossa principal intenção é demonstrar como idéias e palavras aparentemente
“inofensivas” que utilizamos no cotidiano são, na verdade, conceitos cunhados no
campo da Sociologia.
Por fim, retomamos a pergunta inicial: então qual é a utilidade de se estudar
Sociologia no curso de Administração?
Não vamos lhe dar a resposta pronta, mas esperamos que ao longo dos
estudos, da realização de atividades e das reflexões você possa elaborar a sua resposta
pessoal a essa questão. E tencionamos que esta resposta lhe apóie nas inúmeras
análises e discussões sobre as organizações que fará na sua carreira profissional.
Objetivos
EMENTA
Introdução a problemas econômicos; modo de raciocínio de um economista;
Economia como ciência. Funcionamento dos mercados: demanda, oferta, preços,
equilíbrio, bem-estar e eficiência dos mercados, elasticidade e suas aplicações.
3
Políticas econômicas do governo: controle de preços, tributação. Externalidades e bens
públicos. Custos de produção. Estruturas de mercado: concorrência perfeita,
monopólio, oligopólio e concorrência monopolística.
Objetivos Específicos
Ao final da disciplina, você será capaz de:
• Compreender o método empregado pelos pesquisadores no estudo dos fatos e
fenômenos econômicos ocorridos na economia de um país num determinado
período de tempo;
• Propor medidas e soluções aos problemas correlatos à área;
• Identificar as principais escolas e teóricos da história da evolução do
pensamento econômico;
• Identificar os setores e elementos que compõem a estrutura do sistema
produtivo e que impactam na gestão das organizações;
• Apontar as variáveis que influenciam o nível de produção de uma firma nos
distintos mercados.
• Correlacionar situações do cotidiano da gestão das empresas com o movimento
de mecanismo do mercado financeiro;
• Resolver problemas do cotidiano das empresas na área no que tange ao
emprego de conceitos advindos da micro e macroeconomia.
Conteúdo
AULA 1 - QUANDO, COMO E POR QUE SURGIU A SOCIOLOGIA?1.1 Novas configurações cultural, econômica e política da sociedade.
1.2 A Sociologia como ciência.
AULA 2 - ÉMILE DURKHEIM: DEFININDO O OBJETO E O MÉTODO DA SOCIOLOGIA2.1 A consolidação da Sociologia como ciência: contribuições de Durkheim.
2.2 Objeto de estudo da Sociologia: os fatos sociais.
4
2.3 Método funcionalista: a sociedade vista como organismo.
2.4 As regras do método sociológico: a visão durkheimiana sobre como “fazer
ciência”.
2.5 A questão do trabalho no pensamento de Durkheim.
AULA 3 - MAX WEBER: AÇÃO SOCIAL, BUROCRACIA, RELIGIÃO E A ÉTICA DO
TRABALHO
3.1 O método weberiano de análise da sociedade.
3.2 Por que as pessoas obedecem a uma ordem?
3.3 “A ética protestante e o espírito do capitalismo”.
3.4 Burocracia como organização formal.
AULA 4 - KARL MARX: MATERIALISMO HISTÓRICO, DIALÉTICA E SOCIOLOGIA DO
TRABALHO4.1 Dialética e materialismo histórico.
4.2 Concepção de história e de homem por Karl Marx.
4.3 O trabalho como produção e reprodução da existência humana.
AULA 5 - A SOCIOLOGIA E AS NOVAS FORMAS DE REORGANIZAÇÃO PRODUTIVAS5.1 Natureza, diversidade e complexidade das organizações.
5.2 O indivíduo e a organização.
5.3 Trabalho: libertação ou opressão?
5.4 As novas formas de organização e gestão do trabalho e suas conseqüências.
5.5 Transformações no mundo do trabalho decorrentes da reestruturação produtiva.
AULA 6 - A EMPRESA E OS PROCESSOS SOCIAIS: CONTROLE, CONFLITO, DESVIO E
CULTURA6.1 O controle social.
6.2 O conflito nas organizações.
6.3 Cultura organizacional.
AULA 7 - MODELOS E TENDÊNCIAS DE GESTÃO DO TRABALHO
5
7.1 Revisitando as escolas da administração e suas contribuições à luz da Sociologia.
7.2 Capitalismo, trabalho e organizações: rumos e tendências mundiais.
Sociologia do Trabalho e das Organizações
AULA 1 - QUANDO, COMO E POR QUE SURGIU A SOCIOLOGIA?1.1 Novas configurações cultural, econômica e política da sociedade.
1.2 A Sociologia como ciência.
Aula 01 - Quando, Como e Por Que Surgiu a Sociologia?
Caro estudante, iniciaremos a disciplina de Sociologia do Trabalho e das Organizações
apresentando o seguinte ponto para reflexão:
Você nasceu, cresceu e vive em sociedade, faz parte de vários grupos como a família,
a igreja, a escola, a universidade, o trabalho, o clube da esquina. Todo o tempo está
interagindo com pessoas. Assim perguntamos:
1. A observação do universo social pode contribuir para que o administrador
melhor compreenda as atitudes e visões que as pessoas demonstram em
determinadas situações?
2. Por quê?
3. Como desenvolver esta capacidade de observação com maior isenção
emocional?
Acreditamos que a resposta à primeira questão deve ser afirmativa e as duas
questões seguintes apresentam respostas que justificam a importância do estudo e
aprendizagem dos construtos teóricos da Sociologia para o administrador.
Agora, cabe a você, futuro profissional, descobrir suas próprias motivações e
interesses neste tema. Assim, aproveite os estudos e as tarefas de aprendizagem
propostos nesta disciplina para agregar mais um ponto de valor ao seu perfil de futuro
administrador.
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Nesta primeira aula, você conhecerá o contexto histórico que possibilitou o
surgimento da Sociologia como ciência. Por meio de um “passeio” pela história dos
séculos XVIII e XIX, serão explicados os acontecimentos que modificaram
definitivamente a organização da sociedade e as formas de pensar e de conhecer o
mundo.
1.1 Novas configurações cultural, econômica e política da sociedade
A Sociologia é uma ciência relativamente nova, tem cerca de dois séculos de
existência. Surgiu em um momento histórico particular e procurava responder a
questões específicas emergidas a partir desse momento.
Mas que momento é esse?
Para compreendermos melhor quais são esses questionamentos, bem como o
próprio nascimento dessa nova ciência, é necessário compreendermos antes o que
levou as pessoas a sentirem a necessidade de criar esse novo saber. Para tanto,
faremos uma breve digressão histórica*, a fim de situarmos nosso objeto, sem,
contudo, detalharmos esses acontecimentos.
* Digressão histórica
“Afastamento ou desvio momentâneo do que se fala ou escreve” a fim de situar os
fatos históricos; viagem, passeio pela história.
Sendo assim, perguntamos:
Quais foram os acontecimentos mais marcantes do século XVIII que contribuíram para
o surgimento da Sociologia?
Podemos citar pelo menos três tipos de acontecimentos:
Acontecimentos de ordem cultural
Modificações nas formas de “pensar” da época;
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Acontecimentos de ordem econômica
Transformações trazidas pela Revolução Industrial;
Acontecimentos de ordem política
Mudanças trazidas pelas Revoluções Burguesas, especialmente a
Revolução Francesa.
Acontecimentos de ordem cultural: a visão antropocêntrica
Desde o final do século XVII teve início um processo que podemos denominar
de “racionalização” das explicações sobre o mundo. Com isso, passou-se gradualmente
de uma explicação “sobrenatural” dos fenômenos para uma explicação racional dos
mesmos. Ou seja, a visão “teocêntrica” do mundo foi substituída pela visão
“antropocêntrica”. Na visão teocêntrica*, Deus estava no centro de todas as
explicações dos acontecimentos da vida; já na visão antropocêntrica** é o homem
que é colocado no centro das explicações: por meio da ciência, ele passa a fornecer
explicações racionais para as coisas.
* Teocêntrico - O teocentrismo é uma doutrina ou crença que considera Deus como o
centro de tudo.
**Antropocêntrico - Abordagem que coloca o homem no centro das explicações.
Acontecimentos de ordem econômica: a Revolução Industrial
As mudanças trazidas pelo advento da Revolução Industrial contribuíram
bastante para o surgimento do que hoje chamamos de “problemas sociais”.
Retomando os estudos sobre a Revolução Industrial, já iniciados em outras disciplinas,
podemos afirmar que este período não possui uma data específica, pois não foi um
acontecimento pontual. Para efeito de sistematização, temos considerado como um
processo que se inicia no século XVI e tem seu apogeu nos séculos XVIII e XIX.
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Extraído de:
http://www.escolavesper.com.br/nacoeseimperio/figuras/revolucaoindustrial.gif
Os problemas decorrentes dessas mudanças já existiam antes, mas o fato é que
além de passarem a existir em maior escala, eles se tornaram o foco central das
preocupações de estudiosos da época.
Quais foram as principais características e as conseqüências advindas da Revolução
Industrial?
É importante resgatarmos os pontos centrais desse período para que tenhamos
a dimensão do contexto em que surgiu a Sociologia. Para esta finalidade destacamos
as principais transformações e as conseqüências resultantes desse acontecimento.
Cenário da Revolução IndustrialTransformações Conseqüências
• Surgimento da máquina (a vapor).
• Processo de
migração/urbanização.
• Surgimento do trabalho
assalariado (proletarização).
• Surgimento de “problemas
sociais” em dimensões antes
nunca vistas, em decorrência do
rápido crescimento das cidades.
• Alcoolismo.
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• Produção industrial. • Surtos e epidemias de tifo e cólera
provocados pela falta de infra-
estrutura básica nas pequenas
cidades inglesas.
• Prostituição.
• Suicídios e infanticídios
(Assassinato de crianças).
• Aumento da criminalidade e da
violência.
• Fome e desemprego.
À primeira vista, para o contexto em que vivemos atualmente, essas
transformações e suas conseqüências podem parecer pouco expressivas. Afinal, hoje
em dia vivemos em nosso cotidiano todos esses problemas em grande escala. Porém, é
importante ressaltar que na época em que surgem, esses fenômenos significam uma
mudança jamais vista pelas pessoas até então. Por isso, esses acontecimentos
deixaram nas pessoas a sensação de que o mundo precisava, a partir de agora, ser
compreendido e explicado, para que pudesse voltar ao estado de “ordem” anterior.
Acontecimentos de ordem política: a Revolução Francesa
A Revolução Francesa (1789) é a mais conhecida entre as chamadas
“revoluções burguesas” ocorridas na Europa a partir do século XVII. A principal
característica dessas revoluções, entre outras, é o fato de fazerem emergir um novo
“estrato” social: a burguesia.
Para rememorar, veja alguns episódios que marcaram a Revolução Francesa, na
síntese do quadro a seguir:
10
Esse momento (século XVIII) corresponde ao ápice do absolutismo monárquico
na Europa, marcado pelo abuso de poder dos reis amparados pelo Clero. O Clero, aliás,
cumpriu um papel primordial no sentido de garantir a exploração da plebe pelos
monarcas, “doutrinando” as massas para conter possíveis manifestações de
descontentamento. Pregava a humildade, a pobreza e o desapego material, mas não
se comportava dessa maneira. Assim como a nobreza, a Igreja (Católica) era dona de
uma riqueza material oriunda também da venda de perdões e indulgências. O rei, dito
“enviado” de Deus, vivia de forma luxuosa, sustentado por altos impostos pagos pela
plebe.
Quem fazia parte da plebe? Essa camada social era bastante
heterogênea: além do chamado “povo”, incluía também pequenos
comerciantes, artesãos e um grupo intelectualizado da sociedade. E foi
exatamente essa parte da plebe que “encabeçou” a Revolução Francesa,
e sob o lema da “Igualdade, Fraternidade e Liberdade” arrebanhou a
“massa” para realizar a revolta.
O que eles queriam? Basicamente, queriam a redução dos impostos, o
direito de participar das decisões políticas e que o Clero se comportasse
de acordo com o que proferia no seu discurso.
11
Sem entrar em detalhamentos, podemos citar como principais características desse
evento alguns fatos, a saber:
• A “queda” da Monarquia.
• Progressiva instauração do sufrágio eleitoral (processo de escolha por votação;
eleição).
• Os direitos do homem e as noções de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que
causam uma perturbação nas tradições políticas da Europa.
• Surgimento de uma nova camada social: a Burguesia.
As principais conseqüências deste período dizem respeito à reorganização das
relações sociais, resultando numa nova distribuição de poder na sociedade, conforme
exposto no quadro a seguir:
Aparentemente pouca coisa se alterou após a Revolução. Na verdade, essas
mudanças foram “estruturais”, daí sua importância. A estrutura social rígida
simbolizava o poderio da monarquia absolutista e sua aliança com o Clero. O “saldo”
imediato da revolução foi o confisco de terras da Igreja, o acesso da burguesia (por
meio da compra de títulos de nobreza) às decisões políticas e o início do processo de
laicização do ensino (a responsabilidade pela educação passou a ser do Estado).
12
É importante ressaltar, ainda, que essa reestruturação da sociedade, que
resultou no aparecimento da burguesia como novo estrato social, ainda não
correspondeu ao fim da revolução. O término da Revolução foi marcado pela derrota
da Monarquia – com a decapitação do rei – e, conseqüentemente, com a instauração
do Estado republicano.
Mas, afinal, o que esses três acontecimentos (ordem cultural, política e econômica)
têm a ver com o surgimento da Sociologia?
Podemos dizer que eles alteraram profundamente as estruturas fundamentais
da sociedade, mudando os rumos da história, desencadeando novas relações sociais e
novas formas de luta política. Além disso, marcam a transição entre a Idade Média e a
Idade Contemporânea: é o período chamado Idade Moderna, que trouxe mudanças
em aspectos políticos, sociais e culturais da sociedade (cf. MARTINS, 1994).
O conjunto dessas transformações precisava ser explicado e compreendido
pela razão humana, afinal, gerava nas pessoas a sensação de que o mundo estava em
crise (caos social).
Novas questões eram colocadas e necessitavam de respostas: quais eram as
causas dessas transformações? Como se comportar diante desses novos fatos? Como
eles alteravam as relações entre as pessoas?
A partir do século XIX a sociedade passou a ser um “problema” que deveria ser
estudado, investigado. Por quê?
Principalmente porque o clima de incertezas era muito diferente da ordem
cultural do período anterior, a Idade Média. Antes, o tempo e a sociedade eram vistos
como algo fixo e imutável, reflexo da vontade do Deus criador. A sociedade, como tal,
não era uma questão percebida pelas pessoas e não era o foco principal das análises
desse período.
1.2 A Sociologia como ciência
13
De acordo com o pensamento da época, as explicações para esses novos
fenômenos deveriam ser dadas de forma “científica”. Acontece, porém, que as ciências
voltadas para o estudo do homem existentes até então (História, Biologia, Economia...)
se mostraram insuficientes para explicar tais acontecimentos. A ciência que deveria
explicar a sociedade a fim de reorganizá-la ainda não existia. Era necessário, então,
criá-la!
Em 1830, Auguste Comte, em seu livro Curso de Filosofia Positiva, tinha a idéia
de fundar uma “física social”, que seria um saber encarregado de aplicar o método
científico para o estudo da sociedade.
Para Comte, com uma ciência que nos mostrasse as leis de funcionamento da
sociedade poder-se-ia enfrentar os problemas do mundo moderno, pois, na sua
concepção científica, era preciso “prever para prover”. O fato curioso de Comte ter
denominado a nova ciência de “física social” demonstra como os pensadores desse
período estavam preocupados em imprimir um caráter científico às suas análises e
explicações. O modelo de ciência que eles conheciam e reconheciam era baseado no
método científico.
Esse método consistia basicamente nas seguintes etapas:
• observação;
• experimentação;
• comprovação;
• generalização.
Com isso, os pensadores pretendiam conhecer as “leis de funcionamento” da
sociedade, a fim de oferecer diretrizes para a sua organização e funcionamento. Esse
“cientificismo” era o traço marcante de uma corrente que inspirou a Sociologia nessa
fase inicial: o Positivismo.
Positivismo - Sistema criado por Auguste Comte (1798-1857), que se propõe a
ordenar as ciências experimentais - considerando-as o modelo por excelência do
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conhecimento humano - em detrimento das especulações metafísicas ou teológicas. O
projeto intelectual-científico de Comte era a extensão dos métodos das ciências
naturais ao estudo da sociedade: a criação de uma “sociologia científica”. Para Comte,
o dever pode se tornar a fonte da felicidade. A crença nessa afirmação o levou a
fundar a “religião da humanidade” (o positivismo), cujo lema era “o amor por
princípio e a ordem por base; o progresso por fim”. É do positivismo que advém a
inspiração da frase encontrada na bandeira do Brasil: “Ordem e Progresso”.
Nessa oportunidade, a Sociologia ainda não possuía um método próprio e essas
primeiras investigações foram baseadas nos modelos das chamadas ciências da
natureza, ou ciências naturais.
Em 1836, Comte alterou o nome da nova ciência para Sociologia (do latim
socius e do grego logos) que significa estudo do social. Por isso, o filósofo é
considerado por muitos como o “pai da Sociologia”.
Agora que você já conhece o contexto histórico do surgimento da Sociologia, então
vamos expor, nas próximas três aulas, as idéias, os princípios e os métodos centrais
dos principais pensadores que contribuíram para o desenvolvimento dessa ciência,
bem como as diferentes explicações que eles buscaram para os problemas da
sociedade.
Apesar de muitos autores defenderem Comte como o pai da Sociologia, outros julgam
ter sido Émile Durkheim o “pai da criança”, por ter ele deixado grandes e significativas
contribuições nessa área. Na aula 02, explicitaremos quais foram essas contribuições e,
então, você poderá tirar suas próprias conclusões sobre esse caso de paternidade na
ciência sociológica.
Leitura
Para saber mais sobre a Revolução Francesa você pode ler outros textos, como, por
exemplo:
• Dossiê Revolução Francesa – disponível em
15
http://www.usp.br/revistausp/01/02-renatojanine.pdf
• Entendendo a Revolução Francesa – disponível em
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/rev_francesa.htm
Conheça um pouco mais o nascimento da Sociologia lendo o texto O nascimento da
Sociologia na universidade francesa (1880-1914).
E, se você deseja informações mais detalhadas sobre o positivismo visite o site
http://www.mundodosfilosofos.com.br/comte.htm.
Aula 02 - Émile Durkheim: Definindo o Objeto e o Método da Sociologia
AULA 2 - ÉMILE DURKHEIM: DEFININDO O OBJETO E O MÉTODO DA SOCIOLOGIA2.1 A consolidação da Sociologia como ciência: contribuições de Durkheim.
2.2 Objeto de estudo da Sociologia: os fatos sociais.
2.3 Método funcionalista: a sociedade vista como organismo.
2.4 As regras do método sociológico: a visão durkheimiana sobre como “fazer
ciência”.
2.5 A questão do trabalho no pensamento de Durkheim.
Para ilustrar as mudanças e transformações da sociedade e do sistema produtivo ao
longo da história da humanidade, podemos destacar traços distintos de duas épocas -
a época medieval e a sociedade contemporânea.
Como sabemos, a sociedade medieval apresentava ausência de ascensão social e
quase inexistia mobilidade social. Cada grupo possuía uma ocupação. A imagem ao
lado ilustra um exemplo de divisão do trabalho que era destinado aos servos a cada
mês, caracterizando a ocupação como polivalente (diversos tipos de atividades).
Texto adaptado e foto extraídos do site:
http://www.saberhistoria.hpg.ig.com.br/images/meses.jpg
16
Já esta segunda foto – que mostra funcionários trabalhando numa fábrica de produtos
de nutrição e saúde animal e de assistência técnica aos criadores – destaca uma das
características do sistema produtivo moderno: o trabalho especializado nas distintas
etapas e fases do processo de produção.
Texto adaptado e foto extraídos do site:
http://www.saberhistoria.hpg.ig.com.br/images/meses.jpg
Agora reflita:
E você como percebe as mudanças ocorridas na forma de organização do trabalho?
Como será a forma de organização produtiva nas próximas décadas?
Você já imaginou o cenário das organizações do futuro? E como serão as relações de
trabalho?
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Estas são questões que interessam a todos, principalmente em vista dos altos índices
de desemprego que assolam o mundo.
Nesta aula 2, você verá como o pensador Émile Durkheim vai buscar, através da
ciência, as explicações para as transformações resultantes dos acontecimentos que
marcaram a sua época. Serão apresentadas, aqui, as principais idéias deste que foi um
autor que contribuiu muito para o desenvolvimento da Sociologia.
Um pouco da biografia de Émile Durkheim
Émile Durkheim nasceu em 15 de agosto de 1858, em Epinal, no noroeste da França,
próximo à fronteira com a Alemanha. Era filho de judeus e optou por não seguir o
caminho do rabinato, como era costume na sua família. Mais tarde declarou-se
agnóstico. Depois de formar-se, lecionou Pedagogia e Ciência Social na Faculdade de
Letras de Bordeaux, de 1887 a 1902. A cátedra de Ciência Social foi a primeira da
Sociologia em uma universidade francesa e foi concedida justamente àquele que
criaria a "Escola Sociológica Francesa". Seus alunos eram, sobretudo, professores do
ensino primário. Durkheim não repartiu o seu tempo nem o pensamento entre duas
atividades distintas por mero acaso. Abordou a educação como um fato social. "Estou
convicto que não há método mais apropriado para pôr em evidência que a verdadeira
natureza da Educação", declarou. A partir de 1902, foi auxiliar de Ferdinand Buisson
na cadeira de Ciência da Educação na Sorbonne e o sucedeu em 1906. E estava
plenamente preparado para o posto, pois não parara de dedicar-se aos problemas do
ensino. Dentro da educação moral, psicologia da criança ou história das doutrinas
pedagógicas, não há campos que ele não tenha explorado. Morreu em 15 de
dezembro de 1917, supostamente pela tristeza de ter perdido o filho na guerra, no
ano anterior. (Extraído do site:
http://revistaescola.abril.com.br/pensadores/Arvore.html )
As conseqüências de todas as transformações causadas pelas Revoluções que
você estudou na aula anterior trouxeram problemas sociais que preocupavam
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Durkheim e que se tornaram objeto de estudos e indagações para esse autor. Entre as
questões analisadas, podemos citar a relação entre o indivíduo e a sociedade, a moral,
a divisão do trabalho e a solidariedade, entre outras. E estes são alguns temas que
você vai estudar a seguir.
2.1 A consolidação da Sociologia como ciência: contribuições de Durkheim
Como você viu na aula anterior, a Sociologia era um campo de estudo em plena
florescência no século XIX e as idéias do pensador francês Émile Durkheim (1858-1917)
foram de grande contribuição para a sua consolidação como ciência.
Até então a Sociologia era questionada por debater-se com vários métodos e
apresentar “poucos resultados”.
Durkheim foi responsável por definir o objeto e sistematizar pela primeira vez um
método de análise próprio para a Sociologia. Com a colaboração de Durkheim, a
Sociologia alcançou definitivamente o estatuto de ciência.
Filho de uma família de rabinos, Durkheim preocupava-se profundamente com
a ordem da sociedade e considerava que a família, a religião e o Estado eram as
principais instituições sociais, aquelas que seriam as responsáveis por incutir nos
indivíduos os hábitos e valores próprios e necessários para se viver em sociedade. O
pensador francês viveu em uma Europa conturbada, que passava por revoltas e
transformações sociais, políticas e econômicas, apesar de também ter sido um período
de grandes inovações, descobertas e florescimento dos movimentos artísticos. Essas
contradições explicam em parte a preocupação do autor com a ordem da sociedade.
Incutir
Fazer penetrar, induzir, inspirar.
Como herdeiro do pensamento positivista, Durkheim acreditava que a ciência
seria capaz não só de oferecer explicações sobre os fenômenos sociais, mas
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principalmente de auxiliar no sentido de criar uma organização baseada nos valores
morais da sociedade.
Para o autor as raízes dos problemas de sua época estavam em uma certa “fragilidade
moral” da sociedade e não apenas nos problemas econômicos.
A partir dessa constatação de Durkheim, podemos fazer uma analogia com a crise
política que o Brasil enfrentou em 2005 com as inúmeras denúncias de corrupção no
Congresso, demonstrando que a questão da “fragilidade moral” não advém apenas
dos problemas econômicos, haja vista que a economia brasileira não foi afetada pelos
fatos.
Para assimilarmos o pensamento de Durkheim, temos que discutir um
pressuposto básico que governa suas idéias: a apreensão existente na relação entre o
indivíduo e a sociedade. Para o autor, existe uma supremacia do segundo sobre o
primeiro, ou seja, a sociedade é superior ao indivíduo e ele só pode ser explicado em
função da coletividade.
É assim que Durkheim procede a uma análise que parte do todo para chegar às
partes. Você perceberá que a questão da influência do grupo sobre o comportamento
do indivíduo é um tema recorrente na teoria desse pensador.
2.2 Objeto de estudo da Sociologia: os fatos sociais
Ainda hoje, dizer que a Sociologia estuda a sociedade é algo, no mínimo, muito
amplo. Durkheim foi um dos primeiros pensadores a descobrir isso. Por conseguinte,
decidiu delimitar melhor qual seria o foco de análise da Sociologia. Para ele, essa
ciência deveria concentrar-se na análise dos fatos sociais.
Reflita e responda: o que são fatos sociais?
Se você respondeu que esse é um conceito e não um simples “acontecimento”
ou “evento social”, acertou! Veja alguns exemplos: a religião, as leis, o sistema
educacional, o sistema econômico, os costumes de uma sociedade, a divisão do
trabalho social etc.
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A idéia de fato social é fundamental para compreendermos o pensamento
desse autor, que dá a seguinte definição:
É fato social toda maneira de agir, fixa ou não, suscetível de
exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda,
que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando
uma existência própria independente das manifestações
individuais que possa ter. (DURKHEIM, 1990, p. 11, grifos
nossos).
O que isso significa? Ampliando e complementando este conceito, Durkheim
postulava que os fatos sociais caracterizam-se por serem exteriores, coercitivos e
objetivos. Agora, vejamos cada uma dessas características.
• Exteriores, ou seja, estão “fora” do indivíduo, são provenientes da sociedade.
Com isso, Durkheim quer dizer que os fatos sociais não nascem com o
indivíduo, não são algo “biológico”, transmitidos geneticamente, mas são uma
herança essencialmente social.
Vamos lhe dar alguns exemplos para que melhor compreenda:
Um fenômeno aparentemente “natural” é o horário em que sentimos fome. Você já
se perguntou por que por volta do meio-dia seu estômago começa a dar sinais de
fome? E essa fome é fome de “arroz e feijão” e não de bolo de chocolate. Claro, todos
nós sentimos fome e você pode responder que é o seu “relógio biológico” que diz que
essa é a hora de alimentar-se. Não deixa de ser verdade. Mas, digamos que a “mão”
que ajusta esse “relógio” é a sociedade. Você foi condicionado, desde criança a comer
certos alimentos em determinados horários. Por isso o apetite, naquele horário, está
direcionado para a refeição que é comum ingerir na sua sociedade: “arroz e feijão”.
Podemos, então, concluir que a sociedade impõe padrões de funcionamento
para o corpo biológico que passam a responder às necessidades criadas.
21
• Coercitivos, ou seja, são obrigatórios, impostos ao indivíduo pela coletividade.
Isso quer dizer que se você não obedecer às regras que a sociedade lhe impõe,
sofrerá, de alguma forma, uma punição.
Vejamos um exemplo:
Os impostos, ou as normas de trânsito. Esses são princípios que estão formalizados
em leis. Mas também podemos citar as regras e convenções de cunho “moral”. Até
onde sabemos, não é “proibido” andar sem sapatos na rua. Então experimente sair
descalço pelas ruas de sua cidade. Provavelmente você não receberá nenhuma
“multa” por isso, mas sofrerá constrangimentos de ordem moral. As pessoas
certamente olharão e apontarão para você e farão chacotas, por mais bem vestido
que você esteja. Se você considera impensável sair à rua descalço, é prova de que
essa regra social (calçar sapatos para sair) está tão interiorizada que você sentiria
vergonha de transgredi-la. Esse exemplo corriqueiro demonstra que as “punições”
impostas a quem não cumpre as regras sociais vão desde sanções formais e legais
(multas) até sanções morais (chacotas).
• Objetivos, isto é, não dependem da vontade do indivíduo, ou como diz o autor,
não dependem das “manifestações individuais”. Sendo assim, não adianta
alguém simplesmente decidir mudar por desejo próprio uma regra social. O
fato de você não gostar de tal regra ou lei e decidir simplesmente ignorá-la ou
desrespeitá-la não vai fazer com que ela deixe de existir. Por isso, Durkheim
afirma que os fatos sociais “apresentam uma existência própria”.
Tomando como base o exemplo citado anteriormente sobre andar sem sapatos:
Mesmo que você saísse todos os dias descalço, não significaria que a convenção social
seria alterada, pois não passaria de uma “manifestação individual” sua. Ainda que
acontecesse de as pessoas passarem paulatinamente a imitar o seu gesto, poderia ser
apenas uma “moda” (que é um fenômeno transitório). Somente se todas as pessoas
22
da sua sociedade – ou uma grande parte delas – adotassem esse comportamento
sistematicamente é que poderíamos dizer que essa regra social caiu em desuso.
Isso demonstra que para que costumes ou valores sociais e culturais sejam
modificados, é necessária a adesão de uma parcela significativa do grupo ao qual esses
costumes se referem.
2.3 Método Funcionalista: a sociedade vista como organismo
Conforme já mencionado anteriormente, uma das correntes que influenciou o
pensamento de Émile Durkheim foi o positivismo. No entanto, não se pode dizer que
Durkheim foi um adepto dessa corrente na sua totalidade. A maior influência se deu
pelo fato de o autor preservar a preocupação com a “ordem social”, característica do
pensamento positivista.
Mas uma outra influência marcante está presente nas idéias de Durkheim: é a
corrente que deu origem ao chamado organicismo. Na Biologia, o autor foi buscar
elementos para elaborar a relação que se estabelece entre um organismo vivo e a
sociedade. Essa é a base do método funcionalista de Durkheim, que será analisado a
seguir.
Durkheim buscava compreender porque as pessoas se mantinham em sociedade. A
questão era: o que faz com que os indivíduos se agrupem e formem instituições?
O ponto de partida do método funcionalista de Durkheim é a analogia feita
pelo autor entre a sociedade e um organismo vivo. Para simplificar, digamos que isso
significa que ele “compara” o funcionamento da sociedade ao de um corpo.
Apesar de o autor utilizar o termo “organismo”, que é mais genérico, vamos
imaginar que esse organismo seja um corpo humano. A partir da idéia de que os
órgãos em nosso corpo estão interligados, é possível perceber como Durkheim elabora
a noção de “interdependência”.
23
As partes de um corpo estão ligadas por veias, artérias, músculos, etc... Algo
semelhante acontece com a sociedade. Por isso, o autor afirma que “a sociedade é um
fenômeno sui generis”, ou seja, é algo único, é “muito mais do que a simples soma dos
indivíduos que a compõem”. De acordo com Durkheim, o que interliga as pessoas e faz
com que elas se agrupem e formem sociedades é o que ele chamou de solidariedade
social.
Uma ressalva merece ser feita: quando ouvimos a palavra solidariedade, logo
pensamos em “ajudar ao próximo” ou algo que o valha... Apesar de o conceito
durkheimiano se aproximar dessa idéia, não é apenas isso. Como podemos então
definir solidariedade?
Por solidariedade, conforme o conceito durkheimiano, entende-se os laços que unem
os indivíduos e os mantêm vivendo em sociedade. É o sentimento de
interdependência entre os indivíduos.
Note que a palavra interdependência extrapola a noção de ajudar
simplesmente. Com isso, o autor quer dizer que a dependência nesse caso é mútua. Eu
necessito do outro tanto quanto ele de mim. E essa necessidade não é material, está
além disso. Assim como em um corpo o não funcionamento de um órgão pode
prejudicar o funcionamento do todo, na sociedade ocorre o mesmo. Se um indivíduo
não cumpre sua função no grupo, seja ela qual for, o bom funcionamento do todo
pode estar comprometido.
Segundo o autor, existem dois tipos de solidariedade: a mecânica e a orgânica.
• A solidariedade mecânica ou por similitudes - é típica de sociedades simples
ou segmentadas, onde há uma menor divisão do trabalho. Nessas sociedades, a
consciência coletiva é mais forte, por isso, as leis que regulam o
comportamento dos indivíduos são baseadas no Direito repressivo ou punitivo.
Isso quer dizer que, nesses grupos, o indivíduo está mais diretamente ligado ao
todo e se sente efetivamente parte integrante dele. A consciência coletiva, que
é a “voz” da sociedade agindo dentro e sobre o indivíduo, deve ser maior do
24
que os impulsos e vontades individuais. Quando alguém “ousa” desrespeitar
alguma regra dessa sociedade, recebe uma punição que deve ser exemplar.
Essa punição geralmente causa ao culpado uma dor física e/ou moral, e pode
chegar à sentença de morte.
Um exemplo disso
é a lei islâmica que corta a mão de quem rouba algo. Um outro exemplo de sociedade
considerada “simples” são as comunidades indígenas.
• A solidariedade orgânica ou derivada da divisão do trabalho - é típica de
sociedades complexas ou diferenciadas, onde há uma maior divisão do
trabalho. Nessas sociedades a consciência individual se sobrepõe à coletiva e,
nesse caso, as leis que imperam são aquelas baseadas no Direito restitutivo.
Um exemplo de sociedade complexa
é a nossa, pois o grau de divisão do trabalho é muito alto. A idéia do Direito restitutivo
é a de que após “pagar” pelo dano causado, o indivíduo retorne à sociedade para
continuar a cumprir seu papel social. É esse tipo de lei que rege a nossa sociedade.
Durkheim levou em consideração o processo de industrialização crescente e,
por isso, ressaltava que existiria uma tendência de se passar progressivamente da
solidariedade mecânica para a orgânica (essa questão será retomada quando
discutirmos o tratamento dado pelo autor à temática do trabalho).
2.4 As regras do método sociológico: a visão durkheimiana sobre como “fazer
ciência”
Como você já sabe, as primeiras análises realizadas pela Sociologia se basearam
nos métodos das ciências físicas ou naturais. Porém, logo se percebeu que o objeto de
análise dessa ciência era completamente diverso dos objetos de estudo das ciências da
natureza e carecia de um método próprio. Daí decorreram algumas preocupações:
25
Como seria possível fazer experimentos ao observar a sociedade?
Como formular “leis gerais” e universais válidas para todas as sociedades?
Foi exatamente essa percepção que fez com que Durkheim procurasse
estabelecer um método próprio para a Sociologia, embora este ainda fosse baseado
nas ciências da natureza.
Além da singularidade do objeto de estudo, Durkheim compreendeu que a
distância entre esse objeto analisado e o sujeito que o observava era inexistente, ou
seja, o cientista era parte da pesquisa.
Para que você compreenda melhor esse problema vamos expressá-lo nas
seguintes questões:
Como posso analisar a sociedade, se sou parte dela? E, sendo parte dessa sociedade,
não estou mergulhado em seus valores, crenças e pré-conceitos?
Diante deste impasse, qual solução adotar para que o envolvimento do cientista com
o seu objeto de análise não prejudique a investigação?
De acordo com Durkheim, para proceder a uma análise científica dos
fenômenos sociais o cientista deveria assumir uma posição neutra diante do objeto
observado.
E para que isso fosse possível, o autor afirmava que o pesquisador deveria
despir-se de seus valores, crenças e pré-conceitos. A análise dos fenômenos sociais,
portanto, exigiria que se cumprissem algumas regras: a primeira delas “e mais
fundamental consiste em considerar os fatos sociais como coisa” (DURKHEIM, 1990, p.
13) e dessa regra derivam as seguintes:
1) [...] é preciso afastar sistematicamente todas as prenoções.
[...] Essa libertação é particularmente difícil em Sociologia
porque o sentimento afetivo frequentemente intervém na
26
questão. Com efeito, nossas crenças políticas e religiosas, nossas
práticas morais nos apaixonam, o que não acontece com as
coisas do mundo físico. (DURKHEIM, 1990, pp. 27-28, grifo
nosso).
2) [...] nunca tomar por objeto de pesquisa senão um grupo de
fenômenos previamente definidos por certos caracteres
exteriores que lhe são comuns e compreender na mesma
pesquisa todos aqueles que correspondem a esta definição.
(DURKHEIM, 1990, pp. 30-31)
3) [...] quando um sociólogo empreende a exploração de uma
ordem qualquer de fatos sociais, deve se esforçar por considerá-
los naquele aspecto em que se apresentam isolados de suas
manifestações individuais. (DURKHEIM, 1990, p. 39).
Em resumo, tratar os fatos sociais como coisa é afastar-se de qualquer noção
anterior que se tenha sobre o objeto em estudo. É como se a partir daquele momento
o cientista desconhecesse por completo o que está analisando (mesmo que ele
conheça essa realidade). Assim, a análise deve ser iniciada pela descrição dos
“caracteres exteriores”, ou seja, descrever objetivamente o que se está vendo.
Finalmente, devem-se considerar esses fatos em suas generalidades, mesmo que
apresentem “manifestações individuais”, ou exceções.
2.5 A questão do trabalho no pensamento de Durkheim
Agora vamos ao estudo do último dos conceitos de Durkheim, propostos para
serem trabalhados nesta aula: a questão do trabalho.
Para você compreender como o autor pensa a questão do trabalho, é
necessário antes, compreender e relacionar dois conceitos de suma importância:
anomia e moral.
O estado de anomia é definido pelo autor como “ausência de regras” ou
“estado de desregramento social”. Isso se dá quando as regras da sociedade não
conseguem conter os impulsos individuais, ou seja, não estão suficientemente
27
presentes para que as pessoas ajam de acordo com as expectativas do grupo em que
vive. Quanto maior for o grupo, mais esse fenômeno tende a se acentuar. Nas palavras
de Durkheim:
Enfim, à medida que se estende e se concentra, a sociedade
envolve menos estreitamente o indivíduo e, por conseguinte, é
menos capaz de conter as tendências divergentes que se
manifestam. Para certificar-se, basta comparar as grandes
cidades com as pequenas. Nestas últimas, quem procurar
emancipar-se dos usos dominantes enfrenta resistências que,
por vezes, são vivíssimas. Qualquer tentativa de independência é
objeto de escândalo público, e a reprovação geral a ela ligada é
de natureza a desencorajar os imitadores. Ao contrário, nas
grandes cidades, o indivíduo é muito mais emancipado do jugo
coletivo; este é um fato experimental que não pode ser
contestado. [...] quanto mais extenso e denso for um grupo,
mais a atenção coletiva dispersa numa ampla superfície, é
incapaz de seguir os movimentos de cada indivíduo, [...]. A
vigilância se faz menos bem, porque há demasiadas pessoas e
coisas a vigiar. (DURKHEIM, 1999, pp. 300-301).
Note que a palavra “estado” (do verbo estar), referido a anomia, demonstra
que esse fenômeno deve ser momentâneo e que a sociedade deve se recuperar e
voltar à normalidade tão logo seja possível.
Vejamos um exemplo para ajudá-lo a compreender o estado de anomia:
Se a norma diz que “matar é crime”, mas os indivíduos matam, é sinal de que essa
regra não foi internalizada pelo indivíduo o suficiente para que ele não matasse. É
como se o “ego” do indivíduo “falasse mais alto” do que a “voz” da sociedade.
28
E, para que você amplie ainda mais a sua compreensão sobre o tema,
destacamos três situações específicas, citadas por Durkheim, em que o estado de
anomia está mais propício a acontecer:
• nas crises industriais e comerciais;
• nas lutas entre o trabalho e o capital;
• na divisão extrema de especialidades.
Retornaremos a esse ponto mais adiante. Agora vamos explorar o conceito de
moral, segundo o autor.
Sobre a moral, perguntamos: o que você pensa quando ouve essa palavra?
Se você respondeu que pensa em “regras” ou algo semelhante, então está bem
próximo do pensamento de Durkheim.
Para esse autor:
É moral, pode-se dizer, tudo o que é fonte de solidariedade,
tudo o que força o homem a contar com outrem, a reger seus
movimentos com base em outra coisa que não os impulsos do
seu egoísmo, e a moralidade é tanto mais sólida quanto mais
numerosos e mais fortes são esses vínculos. (DURKHEIM, 1999,
p. 420)
Resumindo:
Conceito de moral e suas implicações
Conjunto de regras que regulamentam o comportamento dos indivíduos de um grupo.
Essas normas – sejam elas leis escritas ou hábitos culturais – variam de sociedade para
sociedade e as expectativas em relação às atitudes dos indivíduos são geradas com
base nesses preceitos. Quando os laços que unem os indivíduos são fortes, a coesão
29
social* é maior e, conseqüentemente, a solidariedade também.
* Coesão social
Coesão social - A coesão refere-se à ligação entre elementos. A coesão social seria a
união entre indivíduos de determinado grupo em função da atração recíproca. É um
processo em que indivíduos se ligam a outros para formar uma unidade social.
Mas, na sua opinião, o que esses conceitos de anomia moral e têm a ver com a
questão do trabalho?
Como já foi mencionado anteriormente, o tipo de solidariedade vigente em
uma sociedade está relacionado ao maior ou menor grau de divisão do trabalho
presente nesse grupo.
Na obra “Da divisão do trabalho social”, Durkheim analisa essa relação e
destaca que a divisão do trabalho possui uma importante função: a de produzir e/ou
aumentar a solidariedade entre as pessoas. Na medida em que se dividem os ofícios,
aumenta a interdependência, pois se antes um mesmo indivíduo participava de todo o
processo de fabricação de determinado objeto, agora ele “depende” de outros para
fabricar e obter o mesmo produto. Para o autor:
[...] se a divisão do trabalho produz a solidariedade, não é
apenas porque ela faz de cada indivíduo um “trocador”, como
dizem os economistas; é porque ela cria entre os homens todo
um sistema de direitos e deveres que os ligam uns aos outros de
maneira duradoura. Do mesmo modo que as similitudes sociais
dão origem a um direito e uma moral que as protegem, a divisão
do trabalho dá origem a regras que asseguram o concurso
pacífico e regular das funções divididas. [...] A divisão do
trabalho não põe em presença indivíduos, mas funções sociais.
(DURKHEIM, 1999, pp. 429-430)
A divisão do trabalho, portanto, cumpriria, de acordo com Durkheim, um papel
integrador na sociedade. Porém, se essa função não for cumprida, ou ainda, se as
30
atividades se dividirem demasiadamente, a conseqüência é o que o autor denomina
divisão anômica do trabalho. Conforme o autor, nas sociedades modernas, devido ao
crescimento do número de pessoas, não só há mudanças nas relações sociais, como
também as funções se diversificam. Esses fatores revelam importantes tendências,
como, por exemplo, a de um maior grau de autonomia dos indivíduos em relação à
sociedade e, conseqüentemente, um declínio da consciência coletiva que faz com que
o controle da coletividade sobre o indivíduo seja menor. O efeito imediato, então,
seria o aumento do individualismo e o egoísmo, principais características do estado de
anomia e que se tornou um problema central nas investigações do autor.
As análises de Durkheim foram de grande valia para a época em que ele viveu
e, embora atualmente algumas de suas idéias possam nos parecer obsoletas, o
método durkheimiano abriu caminho ao surgimento de outras explicações mais
elaboradas para os fenômenos sociais. Exemplo disso é o fato de não só a Sociologia,
mas outras ciências, como a Antropologia e a Psicologia, se apoiarem na metodologia e
nos conceitos do autor para a compreensão do indivíduo vivendo em coletividade.
Leitura
Visite os links sugeridos e saiba mais sobre o pensamento de Durkheim
http://www.iupe.org.br/ass/sociologia/soc-durkheim-coletaneas.htm
http://novaescola.abril.com.br/index.htm?ed/166_out03/html/pensadores
Sociologia do Trabalho e das Organizações
Aula 03 - Max Weber: Ação Social, Burocracia, Religião e a Ética do Trabalho
AULA 3 - MAX WEBER: AÇÃO SOCIAL, BUROCRACIA, RELIGIÃO E A ÉTICA DO
TRABALHO
3.1 O método weberiano de análise da sociedade.
3.2 Por que as pessoas obedecem a uma ordem?
3.3 “A ética protestante e o espírito do capitalismo”.
3.4 Burocracia como organização formal.
31
"Na vida empresarial temos que vestir várias máscaras, mudar de cor, conforme a
música".
Pensando em questões como a ética no trabalho, o poder de mando e as exigências
sociais em relação ao papel profissional que desempenhamos nas organizações,
reflita: Em que proporção você concorda ou discorda da frase inicial (em destaque)?
Depois dessa reflexão, inicie o estudo desta aula, na qual vamos aprofundar os
construtos teóricos de Max Weber, já apresentados em outras disciplinas, e você irá
ampliar o seu conhecimento sobre as importantes idéias desse que é um dos autores
mais atuais da teoria sociológica clássica. As contribuições de Weber são muitas e, não
raro, são utilizadas em outros campos do conhecimento além da Sociologia. Para o
estudante de administração, é imprescindível conhecer a teoria da burocracia e a
análise weberiana sobre a dominação.
Bom estudo!
Um pouco da biografia de Max Weber
O pensador alemão Max Weber (1864-1920) é mais um dos autores que contribuíram
para a consolidação da Sociologia. Filho de um jurista, Weber seguiu a carreira do pai,
embora também tenha se dedicado ao estudo da Filosofia, da História e da Economia.
Foi professor de direito e economia política em Universidades na Alemanha. Em 1904,
realizou uma viagem aos Estados Unidos que resultou em uma de suas mais
importantes obras: “A ética protestante e o espírito do capitalismo”. Foi somente a
partir dessa viagem que ele se interessou diretamente pela Sociologia, o que não
impediu, porém, que o autor deixasse um legado extremamente importante para essa
ciência. (Extraído de: www.soc.cmu.ac.th )
As principais correntes que influenciaram o pensamento de Weber e que
podem ser percebidas em seus escritos são principalmente a filosofia de Nietzsche
32
(1844-1900), da qual o pensador herdou uma visão bastante realista (podemos dizer
até pessimista) da realidade, e a análise de Karl Marx (1818-1883) da sociedade
capitalista, com quem Weber parece dialogar em algumas de suas obras mais
importantes. Uma questão pessoal também parece ter marcado profundamente as
preocupações do autor: a distinção entre o “mundo da política” e o “mundo da
ciência”.
Embora Weber não tenha sido político, ele participou efetivamente do debate
sobre as questões políticas da Alemanha de seu tempo, o que resultou em algumas
reflexões e obras sobre o capitalismo, o poder político e a burocracia, entre outros
temas. Outra característica que se destaca nesse contexto é o debate entre o
positivismo e seus críticos, temática sobre a qual Weber também deixou sua
contribuição ao elaborar os fundamentos de sua Sociologia Compreensiva.
O método elaborado por Weber, chamado de individualismo metodológico,
método comparativo ou, ainda, Sociologia Compreensiva, tem o mérito de refinar
bastante a discussão epistemológica que cercava a Sociologia nessa época. Talvez por
isso a metodologia weberiana de análise dos fenômenos sociais ainda esteja tão
presente nos estudos atuais.
Epistemológico
Epistemologia é a “reflexão geral em torno da natureza, etapas e limites do
conhecimento humano, especialmente nas relações que se estabelecem entre o
sujeito indagativo e o objeto inerte, as duas polaridades tradicionais do processo
cognitivo; teoria do conhecimento”. Pode ser definida também como estudo dos
postulados, conclusões e métodos dos diferentes ramos do saber científico, ou das
teorias e práticas em geral, avaliadas em sua validade cognitiva, ou descritas em suas
trajetórias evolutivas, seus paradigmas estruturais ou suas relações com a sociedade e
a história; teoria da ciência.
3.1 O método weberiano de análise da sociedade
33
Para Weber, a Sociedade é composta por esferas interdependentes e, ao
mesmo tempo, relativamente autônomas. O esquema a seguir é meramente
ilustrativo:
A interseção, nesse caso, tem a ver com a noção de pluricausalidade (pluri:
mais ou várias) que está presente na obra de Weber e se opõe à monocausalidade
(mono: um único) econômica do pensamento de Marx. Isso significa que, enquanto a
análise marxiana está voltada para os fatores econômicos ou materiais (uma só causa),
Weber afirma que um mesmo fenômeno pode ter várias causas. A figura acima
representa bem essa idéia, embora seja importante ressaltar que esses não são
exatamente os nomes dados pelo autor às esferas, mas, para simplificar, optamos por
denominá-las assim.
O ponto de partida da análise weberiana é a compreensão do sentido da ação
(social) dos indivíduos, daí o nome de seu método “compreensivo”. Weber define a
Sociologia como:
Ciência que pretende compreender interpretativamente a ação social e assim explicá-
la causalmente em seu curso e em seus efeitos.
(WEBER, 1994, p. 3).
E o que o autor entende por ação social?
Esse é o primeiro conceito fundamental para compreendermos o pensamento de
Weber.
Por “ação” entende-se um comportamento humano, [...] sempre
que e na medida em que o agente ou os agentes o relacionem
34
com um sentido subjetivo. Ação “social”, por sua vez, significa
uma ação que, quanto ao seu sentido visado pelo agente ou os
agentes, se refere ao comportamento de outros, orientando-se
por este em seu curso. (WEBER, 1994, p. 3)
Em outras palavras, a ação social é uma conduta humana (por isso social) que
tem um significado, e este significado é dado pela pessoa que executa a ação (por isso
subjetivo). Quando essa pessoa pratica essa ação, ela se refere a outra(s) pessoa(s).
Vejamos um exemplo do nosso cotidiano:
Quando você estende a mão para cumprimentar alguém, você sabe perfeitamente o
que isso significa e supõe que o outro também sabe, e que, ele por entender o
significado da sua ação, vai também estender a mão e cumprimentar-lhe. Sua conduta
está se referindo ao outro.
Com base nas motivações que levam os indivíduos a agirem de determinadas
maneiras, Weber distingue quatro tipos puros de ação social, que ele denomina ação
racional com relação a fins, ação racional com relação a valores, ação tradicional e
ação efetiva. O autor considera que racionalidade é adequar os meios aos fins.
• Ação racional com relação a fins: o sujeito, nesse caso, age motivado pela
análise fria e racional dos meios de que dispõe para alcançar um objetivo. Esse
é o tipo mais racional e, como exemplo, Weber cita as condutas econômicas e
científicas.
• Ação racional com relação a valores: nesse caso, o sujeito também analisa as
possibilidades existentes, mas a escolha do meio se dá em virtude da fidelidade
a valores éticos, morais, religiosos, políticos etc.
Por exemplo:
Seu objetivo é “ganhar dinheiro”. Quais são os meios de que dispõe para atingir esse
fim? Inúmeros! Você pode trabalhar mais, pode jogar na loteria ou pode assaltar a um
banco. Se levar seus valores em consideração na escolha desses meios, certamente
não escolherá o assalto, pois a moral de sua sociedade diz que é errado fazer isso.
35
Então optará por um caminho que considere honesto, de acordo com o que aprendeu
que é certo.
• Ação tradicional: esse tipo de ação tem como motivação as tradições e hábitos
arraigados.
Exemplos:
Podemos citar os filhos que seguem a carreira dos pais, ou pessoas pouco religiosas
que batizam os filhos – por causa da tradição -, ou mesmo aquelas que se casam na
igreja, “conforme manda o figurino”.
• Ação afetiva: o autor considera que as condutas ditas afetivas são as que
menos se utilizam da racionalidade como estímulo. São aquelas ações que têm
como causa sentimentos como raiva, amor, ciúmes, inveja, vingança etc.
Um exemplo típico seria a pessoa que mata alguém que a traiu.
É importante ressaltar que, conforme mencionado acima, esses são tipos puros, ou
seja, são modelos de conduta. Eventualmente, podemos encontrar na realidade alguns
casos que não se encaixam em um desses tipos, ou que caibam em mais de um tipo.
Para compreender melhor isso, é necessário explicar o que Weber denomina “tipo
ideal”.
Ao analisar a função da ciência, Weber afirma que esta é falível e só pode
apreender uma parte da realidade, ela não tem condições de explicar todos os
fenômenos da vida. Por sua vez, o cientista deveria, então, procurar analisar a
realidade como ela é, e não como ele gostaria que ela fosse. O papel do cientista,
nesse caso, seria analisar a realidade, e não dizer como ela deve ser. Diante do
exposto, Weber procura compreender como os conceitos formulados pela ciência
36
contribuem para a explicação e a interpretação da realidade social e conclui que a
ciência não deve pretender que suas explicações correspondam exatamente a essa
realidade. Por isso, a ciência e o cientista trabalham com “modelos” da realidade:
No que se refere à investigação, o conceito do tipo ideal propõe-
se formar o juízo de atribuição. Não é uma “hipótese”, mas
pretende apontar o caminho para a formação de hipóteses.
Embora não constitua uma exposição da realidade, pretende
conferir a ela meios expressivos unívocos. [...] Obtém-se um tipo
ideal mediante a acentuação unilateral de um ou vários pontos
de vista, e mediante o encadeamento de grande quantidade de
fenômenos isoladamente dados, difusos e discretos, que se
podem dar em maior ou menor número ou mesmo faltar por
completo, e que se ordenam segundo os pontos de vista
unilateralmente acentuados, a fim de se formar um quadro
homogêneo de pensamento. Torna-se impossível encontrar
empiricamente na realidade esse quadro, na sua pureza
conceitual, pois trata-se de uma utopia. (WEBER, 1979, p. 106,
grifos do original).
Assim sendo, o tipo ideal é um recurso metodológico elaborado pelo
pesquisador, utilizado como modelo de comparação com a realidade. Por isso,
mencionou-se acima que esses tipos não podem ser encontrados na realidade em sua
forma “pura”. É como se você desenhasse o rosto de alguém. Por melhor desenhista
que você seja, e por mais que o desenho se pareça com a pessoa, não é exatamente
como ela. Citamos o exemplo de um desenho e não de uma fotografia para
demonstrar como o tipo ideal é elaborado a partir das idéias do pesquisador – por isso
é chamado ideal. Desse modo, podemos citar como características desse recurso:
• ser um modelo;
37
• ser apenas uma representação da realidade, e, por isso,
• não corresponder exatamente ao real;
• ser generalizável;
• ser elaborado a partir de um “exagero”, ou de características que são bastante
visíveis (“acentuação unilateral”).
Como você já pôde perceber, Weber aplica o recurso do tipo ideal em suas análises
sobre as ações sociais. Além disso, utiliza-o também em seus estudos sobre a
dominação - que, para ele, significa a “probabilidade de encontrar obediência a uma
ordem de determinado conteúdo [...]” (WEBER, 1994, p. 33) - para responder à
pergunta:“Por que as pessoas obedecem a uma ordem?”
3.2 Por que as pessoas obedecem a uma ordem?
Weber formulou uma tipologia da dominação para explicar por que as pessoas
obedecem a uma ordem, e concluiu que existem três motivações básicas para essa
obediência que provêm dos tipos de dominação:
• Dominação racional-legal - nesse caso, o poder de mando se realiza com base
em uma lei ou estatuto. Exemplo: é típica do funcionário do Estado
burocrático.
• Dominação carismática - aqui, o domínio se dá pela crença em qualidades
supra-humanas, no “dom da graça”, em virtudes pessoais do líder carismático.
São exemplos de líderes carismáticos na História: Hitler, Che Guevara, Madre
Teresa de Calcutá, Antônio Conselheiro.
• Dominação tradicional - é baseada no que Weber chama de “ontem eterno”,
ou seja, em hábitos e costumes arraigados como, por exemplo, o pátrio poder
ou a sucessão hereditária das monarquias. Exemplos: a dominação tradicional
pode assumir várias formas dentre as quais Weber destaca a gerontocracia, o
patriarcalismo, o patrimonialismo e o sultanismo, que descrevemos a seguir.
A gerontocracia seria a forma de domínio tradicional típica de pequenas
aldeias, onde a autoridade se encontra nas mãos das pessoas mais velhas, os anciãos.
38
O patriarcalismo acontece nos casos em que em uma “associação doméstica” o
poder de mando é exercido por um indivíduo específico, normalmente pertencente à
família, segundo regras de sucessão fixas. Nesse caso, os dominados são companheiros
em virtude da tradição, e não súditos (WEBER, 1994, p. 151).
O patrimonialismo é uma forma de dominação que se baseia no “direito
pessoal”; deriva da tradição, ou seja, a obediência ocorre porque “sempre foi assim”.
De acordo com Weber (1994, p. 151), “ao surgir um quadro administrativo (e militar)
puramente pessoal do senhor, toda a dominação tradicional tende ao patrimonialismo
e, com grau extremo de poder senhorial, ao sultanismo”.
Finalmente, o sultanismo ocorre quando a dominação patrimonial está
fundamentada no “arbítrio livre” do líder, o qual se utiliza do aparato administrativo
para fazer valer suas ordens. Nesse caso, “os ‘companheiros’ tornam-se ‘súditos’”
(WEBER, 1994, p. 151).
Segundo Weber, toda dominação manifesta-se e funciona como administração.
A administração necessita de dominação, pois para dirigi-la é preciso que certos
poderes de mando se encontrem nas mãos de alguém. (WEBER, 1994)
Weber estabelece uma distinção entre os conceitos de dominação e de poder.
Embora semelhantes, o “poder significa toda probabilidade de impor a própria
vontade numa relação social, mesmo contra resistências, seja qual for o fundamento
dessa probabilidade” (WEBER, 1994, p. 33). A diferença básica entre as duas noções é
que, para Weber, “o conceito de poder é sociologicamente amorfo”[que não tem
forma definida], enquanto o de dominação é “mais preciso”, ou seja, a dominação é
personificada: alguém manda e outro(s) obedece(m).
Em relação ao poder, o autor afirma que ele está distribuído de forma desigual
na sociedade. E corrobora sua afirmação, demonstrando em um de seus textos
clássicos – Classe, Estamento, Partido – que existem diferenciados mecanismos de
distribuição de poder que podem ajudar a explicar os sistemas de estratificação social
existentes nas variadas sociedades.
39
As classes se referem à divisão do poder econômico entre os diferentes
indivíduos de um grupo. Weber utiliza a expressão “situação de classe” para aludir a
pessoas que compartilham a mesma posição em relação à propriedade de bens.
Diferentemente de Marx, Weber não afirma que o poder econômico esteja
necessariamente ligado ao poder político ou ao prestígio.
Os partidos, por sua vez, são o espaço privilegiado de lutas pelo poder político
e pela influência que dele decorre. Finalmente, os estamentos se referem ao prestígio
e ao status típico dos modos de vida de determinadas camadas sociais.
Importante!
A elaboração da idéia de distribuição desigual do poder na sociedade, expressa pelas
classes, pelos estamentos e pelos partidos, representa uma grande contribuição
weberiana deixada para os estudos sobre a estratificação social, um dos temas mais
importantes para a Sociologia desde o seu surgimento até os dias atuais.
3.3 “A ética protestante e o espírito do capitalismo”
O título acima remete a uma das mais importantes obras de Max Weber. Nesse
livro, o autor, ao observar o modo de vida típico dos protestantes calvinistas,
estabelece uma relação entre as esferas religiosa e econômica.
A pergunta inicial que orienta as investigações do autor nesse estudo é:
Por que o capitalismo se desenvolveu da forma como aconteceu especificamente no
Ocidente?
Dessa indagação decorreram outras, como, por exemplo:
Por que existia uma grande participação de líderes protestantes nas posições de
proprietários e gerentes em empresas?
40
Esses questionamentos foram elaborados após uma viagem feita por Weber
aos EUA, em 1904, e vejamos qual a análise empreendida pelo autor para responder a
essas questões.
A doutrina religiosa analisada por Weber se baseava principalmente em duas
premissas: a da vocação e a da predestinação. Os adeptos da religião em questão
acreditavam que as pessoas já nasciam “predestinadas” a serem salvas ou não. Ao
contrário do catolicismo, nada do que fizessem durante sua vida terrena poderia levá-
los à salvação. Enquanto no catolicismo existia a crença no arrependimento e no
perdão para a possibilidade de redenção, no calvinismo o destino do indivíduo já
estaria traçado desde o dia de seu nascimento.
Como então a pessoa poderia saber se era um “escolhido”?
Surge aí a idéia de trabalho como vocação. A idéia central seria a de que se o
sujeito não poderia “mudar o seu destino”, ele poderia receber “sinais” de que era um
dos “eleitos” de Deus. Esses “sinais” consistiriam basicamente no sucesso econômico
decorrente do trabalho árduo e de uma vida simples, pois a doutrina calvinista
condenava o ócio, o luxo e a preguiça. A vocação para o trabalho seria um indicador e,
nesse sentido, os sujeitos viveriam em busca desse indicador.
Para ilustrar essa afirmação, Weber cita algumas máximas de Benjamim Franklin:
Lembra-te de que tempo é dinheiro. [...] Lembra-te de que o
crédito é dinheiro. [...] Lembra-te de que o dinheiro é de
natureza prolífica. [...] Lembra-te deste refrão: o bom pagador é
dono da bolsa alheia. [...] As mais insignificantes ações que
afetem o crédito de um homem devem ser consideradas [...].
Guarda-te de pensar que tens tudo o que possuis e de viver de
acordo com isto. (WEBER, 2001, pp. 29-30).
De acordo com Weber, essas máximas representam não apenas um ideal de vida, uma
ética singular, mas um ethos, um modus vivendi.
Modus Vivendi
41
Expressão latina que pode ser traduzida como “modo de vida”.
A essa “ética do trabalho” seguia-se o sucesso material. O estilo de vida dos
protestantes calvinistas consistia basicamente em trabalhar muito, gastar apenas o
necessário e reinvestir o lucro. Weber afirma que a motivação, todavia, não era
econômica, mas religiosa. O objetivo nesse processo não seria o de enriquecer, mas o
de receber o sinal divino da salvação. Se o acúmulo de capital não era o fim,
certamente era a conseqüência desse modo de vida. É nesse ponto que entra a análise
weberiana do desenvolvimento do capitalismo.
Qual seria então o diferencial do ocidente?
De acordo com o autor, o “espírito do capitalismo” poderia ser definido como a
busca racional e sistemática pelo lucro. Porém, ele afirma que a busca pelo lucro
sempre esteve presente entre outros povos e em outras nações.
Exatamente a racionalidade. O modo de vida dos protestantes abriria caminho,
segundo Weber, para o desenvolvimento do que ele chamou de “espírito do
capitalismo”. A motivação inicial religiosa deu espaço posteriormente à motivação
econômica. Talvez essa possa ser uma explicação bem interessante (embora possa não
ser a única ou a mais correta) para o fato de nações ocidentais como os EUA serem as
potências capitalistas que são hoje em dia!
3.4 Burocracia como organização formal
Quando você ouve falar na palavra burocracia, qual a primeira idéia que lhe vem à
mente?
Provavelmente você pensa em muitos papéis, demasiadas regras e serviços
ineficientes. O fato é que nós terminamos conhecendo por burocracia os defeitos do
sistema e não a organização em si.
Conforme você estudou na disciplina de Estudos Organizacionais I, apesar de
Max Weber ter sido conhecido como o principal teórico da burocracia, ele não pensava
assim. Para ele, o processo de racionalização das relações era uma tendência do
42
mundo moderno e, por isso, ele se pôs a pensar como seria essa nova forma de
organização das relações entre as pessoas na sociedade.
Quais foram as principais idéias do autor a respeito desse fenômeno típico da
sociedade contemporânea?
Para Weber a tendência à racionalização ocorre em todas as esferas da vida
social. Como você pôde constatar no tópico anterior, na religião também é possível
perceber os traços dessa racionalidade. Mas é na burocracia que o Estado moderno
encontra sua mais alta expressão de racionalização. Lembre-se de que para Weber a
racionalidade consiste em “adequar os meios aos fins”.
Todas as instituições com fins ideais ou materiais organizam-se em burocracias para
exercer de forma mais eficaz a dominação. Assim o autor conceitua burocracia:
Burocracia é mais do que uma organização, representa uma forma de dominação que
se pretende eficiente. As características fundamentais da burocracia, além da
racionalidade, são a impessoalidade, a ascensão por mérito e a estrutura hierárquica.
Assim sendo, essa forma de organização se baseia em normas, e as ordens
dadas passam a ser estáveis e previsíveis. Os funcionários dessa estrutura, por sua vez,
são pessoas escolhidas com base em critérios objetivos - como concursos - e devem
ser competentes e qualificados para o exercício das funções administrativas. Esse é o
critério da meritocracia.
A estrutura hierárquica refere-se a um “sistema regulamentado de mando e
subordinação de autoridades”. [...] “O tipo puro de funcionário burocrático é nomeado
por uma instância superior”. (WEBER, 1999, pp. 199; 202).
Em relação à posição dos funcionários nesse tipo de organização, o cargo passa
a ser a sua profissão, pois há um “dever de fidelidade ao cargo em troca de uma
existência assegurada”. Porém, essa fidelidade não se refere a uma pessoa, ao
contrário, ela é impessoal e objetiva. Por isso, no Estado moderno, o funcionário não é
43
um servidor particular de um soberano, mas serve a uma estrutura objetiva. Além
disso, o funcionário recebe um salário em troca de seus serviços especializados e segue
uma carreira dentro da organização, ou seja, ocupa antes os cargos “menores” para,
posteriormente, através de seu mérito, ascender aos cargos “superiores”.
A burocracia organiza a dominação racional-legal para garantir a precisão, a
clareza, a unidade e a velocidade no desempenho das funções. Nesse sentido, o tipo
ideal do burocrata é o indivíduo cuja atividade não se mistura à sua vida pessoal, por
isso, separa seu trabalho de suas emoções.
Para Weber, a tendência à burocratização do Estado poderia ser explicada pelas
vantagens oferecidas por esse tipo de organização, dentre as quais podemos citar,
além da racionalidade em relação aos objetivos da organização, a rapidez nas decisões
tendo em vista que cada um sabe o que deve ser feito e como os trâmites devem ser
encaminhados; a uniformidade de rotinas e procedimentos que são preestabelecidos
por escrito; esses procedimentos devem ser constantes, ou seja, ser sempre os
mesmos em todas as situações; a subordinação dos escalões mais baixos aos
superiores. Além disso, a divisão das funções facilitaria a profissionalização dos
funcionários, evitando o nepotismo, as relações personalizadas e dificultando a
corrupção (cf. CHIAVENATO, 1993).
Apesar de oferecer todas essas vantagens, o próprio Weber admite que a
burocracia seria um sistema que exigiria um alto grau de “renúncia” de seus
participantes, tendo em vista sua demanda por aceitação das regras e subordinação, o
que faria com que essa organização tendesse à dissolução.
Ao analisar as conseqüências previstas e desejadas, o autor também levou em
consideração os problemas imprevistos que levariam à ineficiência da burocracia e às
suas disfunções. As disfunções resultam do exagero de características do modelo
típico-ideal burocrático. Isso quer dizer que o modelo corresponde ao “tipo puro” da
burocracia, mas quando ela é colocada em prática sofre transformações para adaptar-
se à realidade.
Os principais problemas da burocracia podem ser resumidos no quadro a seguir:
44
Características da Burocracia Disfunções da Burocracia
1. Caráter legal das normas
2. Caráter formal das comunicações
3. Divisão do trabalho
4. Impessoalidade no
relacionamento
5. Hierarquização da autoridade
6. Rotinas e procedimentos
7. Competência técnica e mérito
8. Especialização da administração
9. Profissionalização
10. Internalização das normas
11. Excesso de formalismo e papelório
12. Resistência a mudanças
13. Despersonalização do
relacionamento
14. Categorização do relacionamento
15. Superconformidade
16. Exibição de sinais de autoridade
17. Dificuldades com clientes.
Previsibilidade do funcionamento Imprevisibilidade do funcionamento
Fonte: Chiavenato, 1993.
Como você pode notar, o modelo weberiano acredita na burocracia como uma
ferramenta importante ao funcionamento das organizações. Entretanto, no Brasil, a
burocracia na prática é vista como excesso de formalidade e de papéis, lentidão nos
procedimentos, desencontro de informações e de ações. As “pessoas comuns” são as
que geralmente mais encontram dificuldades com a burocratização, ao passo que
aquelas que aplicam os princípios e percebem a funcionalidade da burocracia são as
que dela mais se beneficiam.
Para concluir, é importante esclarecer alguns pontos que normalmente são mal
interpretados no pensamento de Weber e terminam por causar uma leitura
equivocada do pensamento do autor.
O principal desses pontos refere-se ao tipo ideal da Burocracia. Como você já
sabe, o tipo ideal weberiano não é o que comumente ouvimos falar no cotidiano: um
modelo perfeito e inatingível. Aqui esse modelo se relaciona a um recurso
metodológico que serve apenas para facilitar a análise dos fenômenos. Weber não
pretendia que seu modelo fosse aplicado ao real, ao contrário, ele apenas analisou o
que via na realidade. Sob esse ponto de vista, podemos dizer que o autor se
45
comportou exatamente como dizia ser o papel do cientista. Por todos esses motivos é
que o pensamento de Weber ainda é muito estudado, e várias de suas idéias podem
ser aplicadas para a análise da sociedade atual.
Leitura
Para saber mais sobre o pensamento de Max Weber visite os site sugeridos a seguir:
http://www.culturabrasil.pro.br/weber.htm
http://www.sociologia1.hpg.ig.com.br/textos/weber.htm
Leia também o texto Uma introdução a Max Weber e à obra “A ética Protestante e o
Espírito do Capitalismo” (extraído do site www.mackenzie.br).
Sociologia do Trabalho e das Organizações
Aula 04 - Karl Marx: Materialismo Histórico, Dialética e Sociologia do Trabalho
AULA 4 - KARL MARX: MATERIALISMO HISTÓRICO, DIALÉTICA E SOCIOLOGIA DO
TRABALHO4.1 Dialética e materialismo histórico.
4.2 Concepção de história e de homem por Karl Marx.
4.3 O trabalho como produção e reprodução da existência humana.
Reflita sobre a máxima colocada por Karl Marx:
"O mesmo trabalho que humaniza o homem pode aliená-lo"
46
Para o autor, a alienação é a incapacidade de os homens se reconhecerem nos frutos
de sua criação e é conseqüência da alta divisão do trabalho típica do sistema
capitalista.
Mas de que forma o mesmo trabalho pode humanizar e alienar?
Não seria a alienação uma forma de desumanização?
Essas e outras questões propostas por Karl Marx serão ampliadas e aprofundadas
nesta aula. Você vai conhecer as idéias desse autor que talvez seja o mais polêmico
dos clássicos da Sociologia. O pensamento marxiano inspira ainda hoje os ideais de
diferentes segmentos sociais: partidos políticos, educadores, estudantes e intelectuais.
Entretanto, as idéias de Marx são muitas vezes mal interpretadas, seja pela leitura
inadequada de sua densa obra, seja pela falta de leitura da mesma. Mas o fato é que o
autor trouxe muitas contribuições não só para a sociologia como também para a
política e a economia, entre outras áreas. Ao estudar as análises de Marx, você poderá
tirar suas próprias conclusões sobre a atualidade do pensamento desse autor.
Sinta-se à vontade, inclusive, para discutir estes e outros temas em fóruns com os seus
colegas e tutor.
Um pouco da biografia de Karl Marx
Karl Marx (1818-1883) talvez seja um dos mais conhecidos e polêmicos autores da
Sociologia clássica. Seus escritos influenciaram desde as teorias da economia até os
partidos políticos da esquerda radical em diversos países do mundo.
Se pudermos dizer que Durkheim e Weber foram “sociólogos de profissão”, o mesmo
47
não acontece com Marx. Suas obras tiveram muito mais a intenção de compreender a
estrutura do capitalismo, a fim de fornecer subsídios para a superação desse sistema,
do que de se constituir em arcabouço teórico-metodológico propriamente dito.
Ademais, a dificuldade de sistematizar e analisar o pensamento de Marx torna-se
ainda maior tendo em vista que o autor jamais sistematizou seus escritos, alguns
foram deixados inacabados, além de se tratar de teorias bastante complexas. Isso deu
margem a leituras equivocadas e mesmo dogmáticas do pensamento marxiano, o que
contribui para críticas que são, por vezes, injustas.
O pensador alemão estudou Filosofia em Berlim e teve contato com a obra do filósofo
alemão George W. Hegel (1770-1831), uma de suas principais influências, apesar de
ter refutado algumas das idéias deste. Por ter sido perseguido pelo governo alemão,
foi impedido de seguir carreira como professor universitário. Transferiu-se para Paris,
onde conheceu Friedrich Engels, com quem escreveu O Manifesto do Partido
Comunista, A Sagrada Família e A Ideologia Alemã. Mudou-se para Bruxelas onde
participou da fundação da Liga dos Comunistas e posteriormente exilou-se em
Londres, onde escreveu O Capital.
O pensamento e a prática política de Marx se destacaram pelo caráter crítico. Sempre
envolvido com a militância política, o foco de suas preocupações estava voltado para
a classe operária e para a construção de uma nova sociedade baseada no comunismo.
Sua extensa obra versou sobre os mais diversos assuntos: política, economia, História,
Filosofia, religião.
4.1 Dialética e materialismo histórico
A origem da idéia de dialética pode ser encontrada na filosofia grega clássica
em Heráclito, passando por Sócrates, Platão e Aristóteles, mas é no idealismo alemão,
mais precisamente no pensamento de Hegel, que Marx buscou elementos para
elaborar sua análise da sociedade capitalista.
Basicamente, a dialética hegeliana afirma a contradição e o conflito como
substância da realidade por meio de um movimento infinito de afirmação, negação e
48
síntese. Essa idéia é a base para o entendimento da história como movimento, e se
contrapõe às análises anteriores, baseadas na metafísica*. A diferença essencial é que
enquanto a metafísica afirma a essência imutável das coisas, a dialética declara que a
realidade é um movimento constante.
* Metafísica - Subdivisão da filosofia, caracterizada pela investigação das realidades
que transcendem a experiência sensível, capaz de fornecer um fundamento a todas as
ciências particulares, por meio da reflexão a respeito da natureza primacial do ser;
filosofia primeira. Parte da tradição filosófica de Aristóteles especialmente
desenvolvida pela escolástica medieval, voltada para a investigação teorética da
divindade, o ser mais perfeito e elevado, causa de todos os outros seres e realidades
do universo; teologia. Caracterizada também pela especulação a respeito do ser, suas
determinações necessárias e princípios universais, oferecendo desta maneira o
fundamento teórico para que as ciências particulares investiguem os seres da
realidade sensível; ontologia.
Embora Marx continue trabalhando com a idéia de contradição e de
movimento da realidade, ele afirma ter colocado a dialética hegeliana “ao revés”:
[...] meu método dialético não só difere do hegeliano, mas é
também a sua antítese direta. Para Hegel, o processo de
pensamento, que ele, sob o nome de idéia, transforma num
sujeito autônomo, é o demiurgo do real, real que constitui
apenas a sua manifestação externa. Para mim, pelo contrário, o
ideal não é nada mais que o material, transposto e traduzido na
cabeça do homem. [...] É necessário invertê-la, para descobrir o
cerne racional dentro do invólucro místico. (MARX, 1983, pp. 20-
21).
Nessa passagem célebre, pode-se perceber como Marx refuta o idealismo de
Hegel e origina a análise materialista da história. Para Hegel, as idéias do homem são a
49
base para o entendimento do real, enquanto para Marx, ao contrário, é a vida material
do homem que fornece o embasamento para a compreensão das idéias humanas. De
forma simplificada temos:
IDEALISMO (Hegel) x MATERIALISMO (Marx)
» as idéias condicionam a
vida material dos seres
humanos.
» a vida material
condiciona as idéias dos
seres humanos.
Destarte, o ponto de partida da análise marxiana da realidade é o que ele
denominou de base material ou infra-estrutura da sociedade. Essa base é formada
pelo conjunto das forças produtivas, dos meios de produção e das relações sociais de
produção.
A noção de forças produtivas expressa a ação humana sobre a natureza como forma
de obter os bens necessários à sobrevivência por meio do trabalho, ou seja, a mão de
obra do homem. Para realizar esse domínio sobre a natureza, o homem faz uso da
terra, de instrumentos de trabalho, de máquinas etc, enfim, dos meios de produção.
Ao entrar em contato uns com os outros, os homens se organizam socialmente para
produzir e interferir em seu meio: são as relações sociais de produção, que implicam
em diversas maneiras de divisão do trabalho e de organização em grupos e classes.
De acordo com Marx, sobre a infra-estrutura se eleva uma superestrutura
formada pelos elementos não materiais da sociedade: instituições políticas, religiosas,
educacionais, sistemas jurídicos, políticos, códigos morais etc. Em resumo, conforme o
próprio Marx:
O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu de
guia para meus estudos, pode formular-se, resumidamente
50
assim: na produção social da própria existência, [economia], os
homens entram em relações determinadas, necessárias,
independentes de sua vontade: estas relações de produção
correspondem a um grau determinado de desenvolvimento de
suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de
produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base
real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política
e à qual correspondem formas sociais determinadas de
consciência. (MARX apud SELL, 2002, p. 165)
Ao partir da observação da base material da sociedade, Marx coloca o foco de
análise sobre a ação humana para a produção da realidade, ou seja, o modo como o
homem produz e reproduz suas condições materiais de existência.
4.2 Concepção de História e de homem por Karl Marx
Como você pode perceber, as atenções do autor estão voltadas para os fatores
econômicos da sociedade e seu elemento fundamental: o trabalho, que será discutido
adiante. Antes, porém, é necessário compreendermos como Marx elabora sua
concepção de História e, conseqüentemente, de homem.
Conforme se afirmou na síntese biográfica, Marx foi militante político e entrou
em contato com movimentos operários da Europa. Nesse decurso, convenceu-se de
que a história humana está ligada à história da luta de classes e que, ao longo do
tempo, as formas de exploração do trabalho humano se refinaram. Os conflitos em
torno dessa exploração só poderiam ser sanados com a ação do homem sobre a
história, a fim de construir uma nova forma de sociedade que não fosse baseada na
exploração da força de trabalho: o comunismo.
Ao sustentar que o homem é sujeito da História, Marx se contrapôs às tendências das
perspectivas anteriores de acordo com as quais o homem seria um simples “produto
do meio”.
51
Se o ser humano age em condições materiais específicas, essas condições são
colocadas pela própria história e, esta, por sua vez, é o plano em que os indivíduos
agem conscientemente. Essa ação de quem faz escolhas conscientes é o que o Marx
denominou de práxis que se realiza inicialmente pelo trabalho, atividade peculiar por
meio da qual o homem se diferencia das outras espécies animais.
Práxis - “Etimologicamente (do grego praksis [práxis], do verbo prasso, atuar), a
palavra prática (originalmente adjetivo de práxis) significa toda a atividade humana
concreta, e tem por antônimo o termo teoria, que exprime uma ausência de
atividade, isto é, uma abstração”. Essa é a definição do Dicionário de Ciências Sociais
(1986, p. 957) para o termo. É importante ressaltar, no entanto, que, embora não
tenha sido o primeiro a utilizar esse termo, Karl Marx conferiu-lhe uma conotação
singular. Na acepção marxiana, a práxis se refere a uma atividade específica do
homem, que o diferencia dos outros animais por ser atividade livre, universal, criativa,
por meio da qual o homem cria e transforma seu mundo humano e histórico e a si
mesmo. Essa prática livre e consciente para Marx se expressa por meio do trabalho.
Na análise marxiana da categoria trabalho, podemos encontrar a chave para a
compreensão do materialismo histórico. No entanto, é necessário ressaltar que essa
análise não se limita à sua vertente econômica, pois em Marx essa atividade é pensada
em uma perspectiva mais filosófica, cujo foco parte das relações estabelecidas entre os
homens e a natureza para a produção dos meios necessários à sua sobrevivência.
52
4.3 O trabalho como produção e reprodução da existência humana
Segundo Marx, o primeiro pressuposto histórico é de que os homens possam
viver a fim de “fazer a História”. Ora, para conseguir sobreviver é necessário trabalhar.
Para Marx, o trabalho é a principal atividade humana, aquela por meio da qual ele
humaniza a natureza, humaniza a si mesmo e estabelece relações sociais.
Mas, se outros animais também trabalham, então qual é a diferença?
Na afirmativa de Marx:
É certo que também o animal produz. Constrói para si um ninho,
casas, como as abelhas, os castores, as formigas etc. Mas produz
unicamente o que necessita imediatamente para si ou sua prole
(...) produz unicamente por força de uma necessidade física
imediata, enquanto que o homem produz inclusive livre da
necessidade física e só produz realmente liberado dela; o animal
se produz só a si mesmo, enquanto o homem reproduz a
natureza inteira; o produto do animal pertence imediatamente a
seu corpo físico, enquanto que o homem enfrenta-se livremente
com seu produto. O animal produz unicamente segundo a
necessidade e a medida da espécie a que pertence, enquanto o
homem sabe produzir segundo a medida de qualquer espécie e
sabe sempre impor ao objeto a medida que lhe é inerente; por
isso o homem cria também segundo as leis da beleza. (MARX,
apud QUINTANEIRO; BARBOSA; OLIVEIRA, 1995, pp. 69-70).
Sendo assim, como você pode notar pela afirmação de Marx, o trabalho humano se
diferencia das atividades de outros animais por ser criativo, transformador, duradouro
e consciente. Ao se organizar para produzir, os homens interferem de forma
consciente na natureza, transformando-a e criando coisas novas não só para satisfazer
às suas necessidades básicas e imediatas, mas também para produzir objetos belos,
obras de arte, música etc, para si mesmos e para as gerações futuras.
53
Se tomarmos como exemplo outros animais na natureza como as formigas, as abelhas,
as aranhas, o joão-de-barro, perceberemos como seu trabalho é realizado de forma
“instintiva”, seguindo um padrão que não se modifica, pois suas atividades ao
construir suas moradias, por exemplo, são feitas como extensão de seus organismos.
Por outro lado, os seres humanos ao construir suas casas recriam constantemente as
técnicas de construção, os materiais utilizados, as formas etc. Essa é a dimensão
criativa do trabalho humano.
Entretanto, Marx identifica um paradoxo:
O mesmo trabalho que humaniza o homem é o que pode aliená-lo.
A alienação é a incapacidade de os homens se reconhecerem nos frutos de sua
criação e é conseqüência da alta divisão do trabalho, típica do sistema capitalista.
No capitalismo, as formas de exploração da força de trabalho humano são
resultantes da divisão em duas classes antagônicas*: a burguesia e o proletariado. A
primeira busca o lucro por meio da exploração dos operários que, por sua vez, são
expropriados* dos meios de produção e obrigados a vender sua mão-de-obra em
troca de um salário de subsistência*.
54
Paradoxo - Aparente falta de nexo ou de lógica; contradição.
Antagônico - Que opõe duas forças ou princípios; contrário, incompatível, oposto.
Expropriado - Ato de expropriar; desapropriação; privação de propriedade em
harmonia com a lei; transferência da propriedade de um imóvel da entidade privada
para uma entidade pública, mediante uma indenização; coisa expropriada. Exemplo
no texto: Libertar da dominação de classe capitalista é fazer com que o trabalho da
classe trabalhadora não lhe seja expropriado.
Subsistência - Estado ou qualidade de subsistente; estabilidade; manutenção;
sustento; alimentos.
Nessa dinâmica capitalista, o operário não é proprietário dos meios de
produção com os quais trabalha, nem possui autonomia sobre sua própria atividade e
tampouco é dono do produto de seu labor. A única coisa que em princípio lhe pertence
é sua força de trabalho, mas que é vendida ao patrão, ou seja, o homem aliena-se de si
mesmo.
O trabalho alienado é, portanto, aquele realizado com a finalidade de garantir a
sobrevivência do trabalhador. É por isso que o trabalho é visto como uma atividade
penosa, um sacrifício, ele não é um fim e sim um meio para se garantir a sobrevivência
do proletário.
O que resta então ao trabalhador?
É por isso que Marx afirma que somente com a abolição dessas formas de
exploração da força de trabalho a alienação poderia ter fim. De acordo com o autor,
isso só aconteceria com a derrocada do capitalismo e com a instauração de uma
sociedade baseada no comunismo. Nessa sociedade não existiria propriedade privada
dos meios de produção, pois esse é o principal elemento utilizado pela burguesia para
explorar o proletariado.
Conforme o que você estudou nesta aula, a questão do trabalho é uma das
preocupações primordiais no pensamento de Marx. Isso pode ser confirmado pelo fato
de outros estudiosos do pensamento marxiano terem cunhado a expressão
“centralidade do trabalho” em suas análises para se referir a essa categoria como
elemento chave para a compreensão do modo de produção capitalista. Outros estudos
chegaram a questionar essa centralidade do trabalho como fator estruturante das
relações sociais no mundo contemporâneo.
Nas próximas aulas você vai estudar algumas dessas tendências mais recentes de
análise do trabalho na contemporaneidade.
Leitura
55
O que você pensa sobre a primazia do trabalho em nossa sociedade? Leia o texto
complementar A dupla dimensão do trabalho em Marx e a questão da centralidade do
trabalho, de Cassandra Carmo de Lima Véras, que lhe ajudará a elaborar suas
conclusões. Se você preferir, também pode ler o texto acessando o endereço
http://chip.cchla.ufpb.br/paraiwa/04-cassandra.html
Visite os sites sugeridos a seguir para conhecer mais sobre o pensamento de Karl
Marx:
http://www.culturabrasil.pro.br/marx.htm
http://www.mundociencia.com.br/filosofia/marx.htm
A revolução dos bichos
Sociologia do Trabalho e das Organizações
Aula 05 – A Sociologia e as Novas Formas de Reorganização Produtivas
AULA 5 - A SOCIOLOGIA E AS NOVAS FORMAS DE REORGANIZAÇÃO PRODUTIVAS5.1 Natureza, diversidade e complexidade das organizações.
5.2 O indivíduo e a organização.
5.3 Trabalho: libertação ou opressão?
5.4 As novas formas de organização e gestão do trabalho e suas conseqüências.
5.5 Transformações no mundo do trabalho decorrentes da reestruturação produtiva.
Leia e reflita sobre o relato de Alves quanto à reorganização produtiva do mercado de
trabalho.
Outro exemplo típico do novo complexo de reestruturação
produtiva ocorreu no setor bancário, onde a introdução de novas
tecnologias microeletrônicas voltadas para o auto-atendimento
(e o serviço on-line) e a disseminação da prática da terceirização
(e de novas formas de gestão do trabalho) contribuiu para
"enxugar" a força de trabalho bancária no Brasil. O
56
"enxugamento" da categoria de trabalhadores bancários no
Brasil nos anos 1990 atingiu cerca de 40% do estoque de
empregos no setor. Por exemplo, entre 1994 e 1996 cerca de
140 000 bancários perderam o emprego. Se em 1989 a categoria
bancária era constituída por cerca de 811 000 trabalhadores, em
2001 esse número caíra para 394 000 trabalhadores - o número
médio de bancário por agência, em 1994, era de 30,2; em 2000,
caiu para 24,2, atingindo, em cheio, a função de escriturários
(ARAÚJO, CARTONI & JUSTO, 1999). (ALVES, 2002, s/p)
Os dados apresentados por Alves nos fazem questionar:
Qual a tendência mundial de modificação da relação indivíduo-organização e
postos de trabalho, visto que as condições de trabalho têm se precarizado e os
postos reduzidos?
É importante também acrescentar a preocupação com a tendência mundial de
redução de postos de trabalhos.
E como a Sociologia e seus teóricos se posicionam diante dessas novas formas de
reorganização produtivas? Como já mencionado repetidas vezes, o ser humano está
imerso em diversos tipos de organização. Nascemos em organizações, estudamos e
trabalhamos nelas. A própria maneira como se ordenam as relações sociais
demonstram a necessidade de estruturar e organizar a vida social. Então, nesta aula
você vai conhecer os diferentes enfoques que os teóricos dão a essa temática, um dos
principais focos da Sociologia da Administração. Vejamos como se posicionam esses
teóricos.
5.1 Natureza, diversidade e complexidade das organizações
A Sociologia aplicada à administração concentra-se na análise das organizações e nos
papéis e funções desempenhadas pelos indivíduos que compõem a sociedade, bem
como suas atuações nas empresas e organizações.
57
De acordo com Castro, uma organização pode ser definida como:
O conjunto das relações entre os membros de um grupo – e
entre grupos – conformado com uma estrutura. O grupo
organizado compreende valores, padrões, modelos e normas
que embasam o comportamento de seus membros. No entanto,
a organização não exclui a possibilidade de disnomias e de ações
disfuncionais. Tanto assim que, numa organização, há
dispositivos de controle, incluindo-se sanções previstas para
comportamento que contrarie as expectativas (comportamento
desviado). (CASTRO, 2003, p. 49)
Já para Lakatos:
(...) as organizações são apenas uma parte das formas de
ordenação social inserida no conceito de “organização social”,
mais amplo, que engloba toda a vida em sociedade (família,
parentesco, classes sociais, Estado, economia etc.). (LAKATOS,
1997, p. 24)
Pois bem, como é possível notar, o termo organização pode ser entendido sob
diversas perspectivas (ressalte-se, ainda, que em diversas disciplinas estaremos
revisitando essa terminologia também sob diferentes enfoques). Entretanto, nesta
aula será dado destaque a três perspectivas sobre o termo organização, ou seja,
destacaremos, por ora, o que é de interesse do seu conhecimento:
A primeira, no sentido mais amplo - como assinala Lakatos -, para designar as
diversas formas de ordenamento de um determinado grupo, levando-se em
consideração sua estrutura e dinâmica social.
A segunda, entendida em um sentido mais específico, no âmbito dos estudos
econômicos, referindo-se a uma atividade e os produtos que dela resultam.
A terceira perspectiva – cultura organizacional – será abordada com maior
detalhamento mais adiante.
58
Isto posto, para começar, é importante relembrar – conforme o que você
estudou na disciplina de Gestão - que as organizações podem ser classificadas em
formais e informais.
Para relembrar
A organização formal é aquela que possui objetivos próprios delimitados, ordenação
de funções e posições determinadas pela divisão do trabalho, com normas
juridicamente constituídas.
A organização informal, por sua vez, existe em todas as comunidades, como, por
exemplo, grupos religiosos, grupos de trabalhos diversos, ou outros grupos
cooperativos que, embora também possuam objetivos próprios (geralmente
derivados de metas individuais), não estão organizados e reconhecidos legalmente.
Outras formas de classificação das organizações levam em consideração seus
objetivos, o relacionamento entre seus membros, o tamanho, a finalidade.
Segundo Blau e Scott (apud LAKATOS, 1997, pp. 27-29), as organizações formais
classificam-se, de acordo com seus objetivos, em:
• Associações de benefício mútuo: nas quais os sócios são os principais
beneficiários.
• Firmas comerciais ou organizações de negócios: em que os proprietários são os
beneficiários centrais.
• Organizações de serviços: cujo principal beneficiário é um público que deve ser
“servido”.
• Castro (2003, p. 154) cita ainda um quarto tipo de organização, que seria a “de
natureza comunitária”, na qual o é o “público em geral”.
59
As organizações informais podem vir a se tornarem formais quando sofrem
transformações e se estruturam legalmente. Da mesma maneira, no interior de uma
organização formal podem coexistir grupos organizados informalmente e que se
associam em torno de interesses comuns. Essa configuração dos grupos depende,
entre outras variáveis, da combinação dos indivíduos que a compõe e da relação que
os mesmos estabelecem com a organização. Esse é o tema do item que você vai
estudar a seguir.
5.2 O indivíduo e a organização
Se, de acordo com o que já foi afirmado, os indivíduos estão imersos nas
organizações, estas últimas, por sua vez, são formadas por indivíduos. Por esse motivo,
é necessário considerar o comportamento dos indivíduos no ambiente organizacional.
Nesse sentido, Chanlat (1996), na obra “O indivíduo na Organização: dimensões
esquecidas”, coordena uma série de análises de grande valia para a compreensão da
relação entre indivíduos e organizações.
O autor canadense aponta, entre outras características, que o ser humano é
formado por sentimentos, desejos, culturas, pensamentos e ações. Sob uma
perspectiva antropológica, Chanlat chama a atenção para o fato de esses elementos
constituírem uma dimensão simbólica que deve ser entendida no contexto de uma
relação, muitas vezes conflitiva, entre uma sociedade que se baseia em critérios
científico-racionais em detrimento da imaginação simbólica.
Além dessas peculiaridades, segundo Chanlat (1996), deve-se considerar
também que os indivíduos são seres temporais e espaciais, ou seja, relacionam-se com
o tempo e com o espaço nos quais estão inseridos. Isso demonstra que os diferentes
sujeitos mantêm relações distintas com o tempo, algo que é aparentemente objetivo,
mas que, na verdade, é uma construção social e mesmo individual. Em relação ao
aspecto espacial, da mesma forma os indivíduos estabelecem vínculos e os reelaboram
constantemente de acordo com as suas subjetividades.
Subjetividade - Realidade psíquica, emocional e cognitiva do ser humano, passível de
manifestar-se simultaneamente nos âmbitos individual e coletivo, e comprometida
60
com a apropriação intelectual dos objetos externos.
Chanlat observa ainda que as pessoas inseridas nas organizações são
consideradas, muitas vezes, como objetos comparados a “ferramentas” das quais as
empresas dispõem sem levar em consideração a natureza “biopsicossocial” que
constitui o ser humano e forma sua subjetividade.
Biopsicossocial - Abordagem que considera o ser humano em suas diversas
dimensões: biológica, psíquica e social.
Diante do que foi exposto, pode-se concluir que, ao considerar os indivíduos que
compõem a organização como uma “massa homogênea”, as empresas terminam por
incorrer em um equívoco: o de ignorar as particularidades e especificidades das
pessoas que ali estão. Somente ao se considerar essas nuanças, será possível
transformar o ambiente organizacional em um espaço mais agradável para as pessoas,
tornando-as mais produtivas e satisfeitas, fato que indubitavelmente pode ser
considerado um “diferencial” da organização.
5.3 Trabalho: libertação ou opressão?
A palavra trabalho vem do latim tripalium, que era um instrumento utilizado para
“açoitar” os escravos durante o período da escravidão. Tripaliare significa “torturar”,
no latim vulgar.
A etimologia do termo nos ajuda a compreender por que, apesar de ser uma
atividade central em nossa vida, o trabalho é tido como algo penoso, um sacrifício.
Exemplo disso é o fato de na nossa sociedade (ao menos no Brasil) os feriados e “dias
de folga” serem tão valorizados e esperados por nós.
Você já viu alguém “triste” por não ter de trabalhar naquele dia?
Claro, quem não tem emprego não quer continuar desempregado, mas tão logo esteja
trabalhando, espera ansiosamente pelo descanso.
Isso não é um paradoxo?
61
Para tentar compreender por que isso acontece, vejamos um breve histórico das
percepções do trabalho em diferentes contextos na história.
• Na Antiguidade Clássica, a organização social grega se baseava no trabalho
escravo. A escravidão foi uma conditio sine qua non (Conditio Sine Qua Non -
expressão latina que significa condição básica) para o desenvolvimento da
cultura e da filosofia gregas e era aceita e praticada livremente.
• Na Idade Média, a forma predominante de trabalho era o regime de servidão.
O trabalho “livre” era baseado em um pacto de “fidelidade” entre o vassalo e o
senhor feudal que, em troca da força de trabalho de seu servo, oferecia uma
espécie de “proteção”. Em muitos casos, a diferença entre escravidão e
servidão era praticamente inexistente.
• Com o advento do Renascimento científico, surge uma nova concepção de
trabalho, no sentido de sua “glorificação”, que trouxe muitos desdobramentos
desde o âmbito filosófico-cultural até o político-econômico. No plano religioso,
destaca-se a doutrina protestante derivada do calvinismo que culmina com a
noção de trabalho como uma “benção divina”, conforme já assinalado na aula
sobre a teoria de Max Weber. Estavam lançadas as bases para o
desenvolvimento do capitalismo, período no qual a exploração da força de
trabalho iria se sofisticar e se diversificar.
O paradoxo colocado acima talvez possa ser explicado justamente por esse movimento
contraditório entre a noção do trabalho que humaniza e o trabalho que oprime, ou
aliena, segundo Marx. Não pretendemos oferecer aqui uma resposta definitiva sobre
essa questão, mas sim propiciar que você, com base nas diferentes abordagens
analisadas, possa refletir melhor sobre essa temática. E, para tanto, depois das
abordagens clássicas sobre a questão do trabalho, é hora de você conhecer os
desdobramentos dessas análises sobre as novas configurações e organizações do
“mundo do trabalho” na contemporaneidade. Vejamos de que forma o trabalho tem
se organizado e como essa problemática tem sido tratada pelos diversos campos do
conhecimento, com especial atenção para as interpretações sociológicas.
62
5.4 As novas formas de organização e gestão do trabalho
Através do estudo do pensamento de Marx, você pôde observar que o
capitalismo parece “nutrir-se” das contradições existentes entre as classes e da
exploração da burguesia sobre o proletariado. Ao longo da história, em momentos de
crise e para otimizar (criar condições mais favoráveis; tirar o melhor partido possível
de algo) a produção, surgiram novas formas de exploração do trabalho operário, novos
modelos de organização e gestão da produção. Entre os mais conhecidos desses
modelos estão o fordismo, o taylorismo e o toyotismo.
Taylorismo - método de racionalização, planejamento e controle da
produção, criado pelo engenheiro americano Frederick Taylor (1856-
1915), que consistia basicamente em diminuir o tempo gasto na
produção por meio da extinção de movimentos longos e de
deslocamentos desnecessários. Conhecido também por “Organização
Científica do Trabalho” previa a separação entre o planejamento e a
execução das tarefas a fim de fazer com que os trabalhadores fossem
“treinados” a desenvolver movimentos simples, mecanizados e
rápidos. A crise do taylorismo se deu em virtude da não aceitação por
parte dos operários em realizar atividades mecânicas, monótonas e
sem criatividade nenhuma.
Fordismo - a partir de 1909, Henry Ford (1863-1947) adotou em sua
fábrica de automóveis o método taylorista, mas implementou algumas
mudanças. A principal, foi o acréscimo de uma esteira que
movimentava a matéria prima e a fixação do trabalhador em um local
demarcado. Assim surgia o que conhecemos hoje por “linha de
montagem”, ou seja, os veículos passavam em uma esteira, de um
operário a outro, e cada um realizava uma etapa do trabalho. Em
meados dos anos de 1970, o modelo fordista começou a dar mostras
de esgotamento. Os limites técnicos e a fragmentação do trabalho
limitaram os ganhos de produção e ocasionaram greves e
manifestações por parte dos trabalhadores. Não era mais possível
63
intensificar o ritmo de trabalho, em virtude da insatisfação e
resistência dos operários. Além disso, novos hábitos de consumo e
modificações no mercado parecem ter contribuído para a crise desse
modelo de gestão. O fordismo não atendia mais às exigências do
mundo em transformação.
Toyotismo - com o início do processo de globalização, a rigidez dos
modelos taylorista e fordista deu lugar à flexibilização do trabalho e da
produção. Nesse sentido, o modelo toyotista (numa referência à
fábrica Toyota), ou modelo japonês, inovou ao aproveitar a
criatividade dos trabalhadores que o fordismo não aproveitava. O
toyotismo aboliu as cadeias de montagem e integrou os operários
envolvidos no processo produtivo. Combinava máquinas sofisticadas
com a menor utilização do esforço humano, menos espaço físico e
colocava engenheiros, programadores e operários trabalhando juntos.
Ao introduzir a técnica chamada just-in-time, o toyotismo prioriza, ao
invés da produção em série como o fordismo, a produção de pequenas
quantidades de vários modelos, para que só fosse fabricado o que
fosse vendido e os estoques fossem reduzidos. Entre os estudiosos
desses modelos não existe consenso sobre se o toyotismo
representaria uma ruptura radical com os modelos anteriores ou
apenas uma adaptação deles. De qualquer maneira, o fato é que a
introdução dessas inovações no contexto organizacional alterou
definitivamente as formas de ordenação do trabalho e de gestão da
produção.
Just-in-time - Expressão inglesa que designa um método que se aplica à administração
da produção - destinado basicamente à redução de estoques (e dos recursos
financeiros e espaços físicos para mantê-los) -, à redução do tempo de fabricação e à
eliminação das perdas, com vistas ao aumento da produtividade. No Ocidente, essa
expressão é utilizada para traduzir uma filosofia e as técnicas de apoio à produção
criadas e aperfeiçoadas pela Toyota (Sistema Toyota de Produção). Esse sistema de
produção requer que as peças sejam fornecidas ao processo seguinte somente na
64
medida do necessário, com pequeno armazenamento prévio. Requer ainda que
apresentem qualidade, para evitar desperdícios.
O termo também significa: metodologia com base nas pessoas, cuja filosofia é
eliminar tudo aquilo que não adiciona valor ao produto. O objetivo é fornecer
exatamente as peças necessárias, nas quantidades necessárias, no tempo necessário.
Esses foram modelos que alcançaram seu auge ao longo das décadas de 50 a 70
do século passado, representando uma tendência chamada de “reestruturação
produtiva” que incluía, além desse novo modelo de gestão da produção, elementos
como a terceirização, levando a processos denominados “precarização do trabalho”
(entendida basicamente como a degradação das condições de trabalho) e
desestruturação das relações de trabalho.
Desestruturação das relações de trabalho - Expressão utilizada para se referir às
transformações nas relações de trabalho ocorridas especialmente a partir do final da
década de 1980 e que se caracteriza, sobretudo, pela eliminação dos vínculos
trabalhistas existentes entre empregado e empregador. Outras marcas desse processo
são o desemprego elevado, desassalariamento (os empregos não oferecem mais um
salário fixo) das ocupações e ampliação do trabalho precário.
.
A reestruturação produtiva baseia-se no aumento da produtividade, eficiência e
qualidade e pressupõe a terceirização, o trabalho em equipe, a flexibilização de
pagamentos, os programas de qualidade total etc. O processo de precarização levou à
desregulamentação dos direitos trabalhistas, à redução do número de operários,
estimulou o trabalho parcial e, conseqüentemente, o desemprego estrutural e o
emprego informal.
Terceirização - Forma de organização estrutural que permite a uma empresa
transferir a outra as suas atividades-meio, proporcionando maior disponibilidade de
recursos para a sua atividade-fim, reduzindo a estrutura operacional, diminuindo os
custos, economizando recursos e desburocratizando a administração. Contratação
65
de terceiros, por parte de uma empresa, para a realização de atividades não
essenciais, visando à racionalização de custos, à economia de recursos e à
desburocratização administrativa.
.
Precarização do trabalho - Expressão utilizada para se referir às novas formas de
organização do trabalho na sociedade atual. Essas formas de organização se
caracterizam pelo aumento de pessoas trabalhando por conta própria, a
proliferação de pequenas unidades de prestação de serviços, grande rotatividade e
insegurança crescente quanto ao futuro. São também formas precárias de trabalho:
o subemprego, o trabalho temporário, o trabalho terceirizado.
.
Desregulamentação do trabalho - Tendência de diminuição da interferência do
Estado sobre a regulação das relações trabalhistas. Na desregulamentação, o
Estado se exime do papel de regular os vínculos entre patrão e empregado. A livre
negociação é a expressão de ordem nesse processo.
.
Desemprego estrutural - Processo de diminuição do número de postos de trabalho
que caminha paralelamente ao processo de implementação de tecnologias nas
empresas e fábricas. O desemprego estrutural se diferencia do desemprego clássico
por não estar ligado necessariamente a crises econômicas, mas por ser uma
tendência na sociedade atual. Os postos de trabalho substituídos pela mecanização
não mais voltam a existir. Entende-se por desemprego estrutural aquele
desemprego em que a vaga de trabalho é definitivamente eliminada/substituída
por um processo mecânico ou, então, devido a uma reorganização do esquema de
trabalho. Esse desemprego é típico de países “subdesenvolvidos”.
.
Atualmente, ainda podemos encontrar mesclas desses modelos aplicados às
indústrias, sempre visando a um melhor aproveitamento do tempo para aperfeiçoar as
66
técnicas de produção e a redução de gastos. Outros mecanismos de “envolvimento”
do trabalhador com a empresa contribuem para que os próprios operários sejam
controladores de si mesmos: o estabelecimento de “metas” a serem atingidas para
que o funcionário se “destaque” na empresa é um sintoma da ideologia que está por
trás dessas novas formas de gestão da produção. Todos esses elementos contribuem
para o aumento da insegurança e da “relativização” das garantias trabalhistas,
precarizando as relações de trabalho e gerando uma massa de “subproletários” cada
vez mais vulneráveis.
5.5 Transformações no mundo do trabalho decorrentes da reestruturação produtiva
Todos os novos elementos de organização da produção alteraram as relações
de trabalho e afetaram a classe operária, bem como suas instâncias de defesa, como é
o caso dos sindicatos. Especialmente a partir da década de 1980 é possível perceber as
transformações no mundo do trabalho decorrentes da reestruturação produtiva (essas
mudanças não nos permitem, no entanto, perceber a continuidade existente entre os
modelos fordista/taylorista e toyotista, formas de acumulação de capital que
contribuíram para essas transformações). É também a partir dessa década que surgem
os modelos “híbridos” dessa forma de gestão.
As principais conseqüências desse modelo de gestão, como já assinalamos,
foram as diversas formas de desregulamentação dos vínculos empregatícios, a
precarização do trabalho e sua flexibilização, além do enfraquecimento dos sindicatos
e a redução do número de trabalhadores formais. Ademais, a incorporação de novas
tecnologias e a flexibilização das relações fizeram surgir novas formas de trabalho: em
tempo parcial, temporário, a domicílio etc.
Flexibilização das relações de trabalho - “A teoria denominada flexibilização dos
direitos trabalhistas tem como principal finalidade assegurar um conjunto de regras
mínimas ao trabalhador, assim como a sobrevivência da empresa, através da
modificação de alguns comandos legais. A discussão sobre o tema gera grande
polêmica em razão dos aspectos sobre os quais é possível analisar o papel do Direito
do Trabalho na sociedade. Um dos aspectos lhe confere um papel intervencionista,
baseado na ampla proteção à parte que, via de regra, é economicamente mais frágil
67
na relação de trabalho, qual seja, o trabalhador. Sob essa visão, entende-se que a
proteção deve vir através de normatização legal, de modo a limitar os poderes do
capital”.
Na flexibilização não se elimina as normas trabalhistas, pois isso seria acabar de vez
com a intervenção do Estado nas relações de trabalho. Ou seja, nesta modalidade o
Estado continua a intervir nas relações de trabalho, mas de forma reduzida, e o
trabalhador continua tendo a proteção do Estado e do sindicato de sua classe.
É importante ressaltar que as explicações para a chamada “crise do sindicato”
se concentraram basicamente em duas vertentes: uma que afirma que essa crise está
relacionada ao modelo tradicional de sindicatos, surgido no pós-guerra, e outra que
remete a uma crise mais profunda na estrutura da instituição sindical. Ambas
concordam em relação à existência do problema. Para além da questão sobre qual a
origem da crise, é necessário considerar que os sindicatos perderam (ou ao menos
modificaram) suas funções de proteção do emprego e luta por melhor remuneração da
força de trabalho.
Podemos assinalar pelo menos dois fatores que contribuíram para esse
enfraquecimento dos sindicatos. Primeiro, as novas configurações do mundo do
trabalho no contexto da precarização e da flexibilização. Esses elementos contribuíram
para o segundo fator: transformações não só objetivas, mas também na dimensão da
subjetividade do operariado.
Novas configurações do mundo do trabalho - Expressão utilizada para se referir às
tendências das relações trabalhistas na sociedade atual, bem como ao mercado de
trabalho.
No primeiro caso, temos questões como a empregabilidade, a renda e as
negociações salariais; no segundo, destacam-se, principalmente, a dificuldade de
formação da identidade de classe, do sentimento de pertencimento à categoria, de
organização e de mobilização dos trabalhadores. Todos esses fatores contribuíram
68
para uma fragilização das práticas e para a mudança de uma posição de confronto para
um posicionamento defensivo dos sindicatos. Muito mais do que “exigir”, a palavra de
ordem atualmente é “negociar”.
Empregabilidade - “Qualidade do que ou de quem é empregável; possibilidade de ser
empregado”. Em Sociologia do Trabalho, refere-se à capacidade de um trabalhador
estar, ou ainda de o profissional ter o seu posto protegido dos riscos inerentes ao
mercado de trabalho.
O contexto que temos hoje em dia é o da chamada “crise do emprego”, o que nos leva
a refletir sobre os papéis dos principais atores envolvidos nas diferentes organizações
e qual a função dessas últimas na sociedade. Nas próximas aulas, abordaremos a
cultura organizacional e os processos sociais, com o objetivo de ajudar você a
compreender melhor os elementos e os mecanismos de renovação das empresas e de
que forma eles influenciam, determinam e interferem nas inter-relações dos sujeitos
na sociedade e no ambiente da empresa, ou seja, como a diversidade e complexidade
organizacional interferem na dinâmica social.
Leitura
1. Para aprofundar o estudo desta aula, propomos que você leia os seguintes textos:
• As relações coletivas de trabalho na empresa - disponível em
<http://www.ambafrance.org.br/abr/imagesdelafrance/Formato
%20PDF/relcoletivas.pdf> - que traz uma análise relevante sobre as formas de
representação dos trabalhadores em países da Europa e nos Estados Unidos.
• Trabalho, Educação e Autogestão: desafios frente à crise do emprego -
disponível em <http://www.uff.br/trabalhonecessario/Lia%20TN3.htm> - da
socióloga Lia Tiriba, que também pode lhe oferecer subsídios para uma reflexão
sobre a crise do trabalho na sociedade atual.
2. Além disso, é interessante que você faça uma visita aos endereços relacionados a
seguir, cujos textos mostram as análise e discussões que vêm sendo feitas por
69
estudiosos, estudantes, jornalistas, instituições etc sobre o mundo do trabalho na
sociedade moderna.
• http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/economia/merctrab/reltr
ab/apresent.htm
• http://www.urutagua.uem.br/007/07santos.htm
• http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v15n43/002.pd
.
Sociologia do Trabalho e das Organizações
Aula 06 - A Empresa e os Processos Sociais: Controle, Conflito, Desvio e a
Cultura
AULA 6 - A EMPRESA E OS PROCESSOS SOCIAIS: CONTROLE, CONFLITO, DESVIO E
CULTURA6.1 O controle social.
6.2 O conflito nas organizações.
6.3 Cultura organizacional.
A cultura das organizações passou a ser objeto de preocupações dos estudiosos da
administração, especialmente a partir da percepção da relevância de fatores culturais
nas práticas de gestão e de funcionamento das empresas, bem como da influência
desses fatores nas relações entre as pessoas no ambiente organizacional.
Reflita:
Na sua opinião, identificar e compreender os elementos constituintes da cultura das
organizações e saber o mecanismo de renovação de seus valores e práticas pode ser
uma ferramenta importante para o administrador?
Saber manejar e/ou lidar com a mudança de valores, crenças e hábitos e costumes da
organização poderá determinar o sucesso ou não de uma empresa? Por que?
70
Na sociedade existem diferentes indivíduos em contato e que vivem constantemente
em interação. Esses contatos, como você sabe, nem sempre são harmoniosos e muitas
vezes geram conflitos. Além disso, existem distintas formas de controle dos grupos
sobre os indivíduos e mesmo dos próprios sujeitos entre si. Esse controle é feito com
base na expectativa de que as pessoas se comportem de determinadas maneiras.
Quando essas expectativas não se concretizam, surgem os comportamentos
desviantes ou divergentes. Nesta aula trataremos dos diversos processos sociais que
surgem da inter-relação entre os sujeitos que vivem em sociedade e como eles se
aplicam ao ambiente da empresa.
6.1 O controle social
O controle social refere-se “à soma de processos de que lança mão a sociedade para
obter dos indivíduos e grupos que a constituem uma conduta enquadrada nas
expectativas gerais de comportamento”. (TOSCANO, 2002, p. 69)
Alguns autores afirmam que a idéia de controle seria uma reinterpretação da
idéia durkeimiana de coerção social. De todo modo, o objetivo desse controle é
nortear as ações dos indivíduos e diminuir ao máximo os comportamentos desviantes,
além de promover por meio de diversos mecanismos – leis, costumes, valores – a
integração dos indivíduos à sociedade em que vivem.
Coerção social - A palavra coerção está ligada ao ato de coagir ou reprimir. De acordo
com o Dicionário de Ciências Sociais (1986, p. 202) “a coerção ou coação pode ser
encarada como um traço de comportamento em que um indivíduo ou grupo é forçado
por outro a fazer alguma coisa ou é por ele reprimido”.
No contexto organizacional existem variadas formas de controle. As mais
comuns referem-se a espécies de “trocas”, como os salários que são condicionados ao
cumprimento de horários e tarefas. Para que o controle seja exercido com êxito, as
empresas lançam mão das mais diversas técnicas de fiscalização, tais como registros de
“ponto”, monitoramento direto exercido por chefes, elaboração de relatórios etc. Em
71
todas as circunstâncias, os funcionários estão sujeitos a sanções em caso de não
cumprimento das regras vigentes. O desrespeito a esses padrões de conduta pode
caracterizar os comportamentos divergentes ou desviantes.
Os desvios de comportamento acontecem quando as atitudes dos indivíduos se
dirigem em sentido contrário às expectativas do grupo. Goode (apud Charon, 2002),
define o desvio social da seguinte maneira:
(...) como desvio refiro-me a uma única coisa: comportamento
que algumas pessoas da sociedade julgam ofensivos e que
provoca – ou provocaria, se fosse descoberto – a desaprovação,
punição, condenação ou hostilidade dessas pessoas. Ele se
baseia em um julgamento feito por alguém. Não é simplesmente
um comportamento, mas um comportamento que é avaliado de
determinada maneira. (GOODE apud CHARON, 2002, p. 160).
Existem limites estabelecidos para a intensidade dos desvios. Quando esses
limites são ultrapassados o comportamento torna-se marginal. Para esses casos
existem sanções e penalidades instituídas para fazer com que o controle e a ordem
social sejam mantidos.
6.2 O conflito nas organizações
As divergências acontecem quando as metas individuais dentro de um
determinado grupo são diferentes e incompatíveis entre si. Em grande parte dos casos
de divergência de objetivos o resultado é o surgimento de conflitos de interesses,
muitas vezes difíceis de serem solucionados.
O conflito pode ser definido como a ação de pessoas ou grupos na tentativa de
frustrar os objetivos uns dos outros, impedir o alcance de seus interesses, chegando
até mesmo a lesar ou eliminar o adversário.
Os conflitos sociais ocorrem por diferentes motivos. Podem surgir da
discordância quanto a idéias e valores ou ter origem devido a lutas pelo acesso a bens
72
e direitos, ou por ambos os fatores. Podem assumir formas violentas ou pacíficas de
acordo com a natureza e os objetivos.
Existem conflitos organizados ou desorganizados (fragmentados), conforme se
orientem com base no conhecimento ou não de normas pelos participantes.
Organizados são os que resultam da ação coordenada de pessoas. Conflitos
fragmentados ou desorganizados são mais raros, mas geram um enfraquecimento da
solidariedade entre os envolvidos.
Quando os motivos e as formas são expressos e conhecidos por todos, temos um
conflito aberto.
Porém, se acontecem de forma velada, ou mesmo são ignorados, são do tipo conflito
fechado.
Podem ser ainda transitórios ou duradouros, a depender da duração da ocorrência.
A classificação dos conflitos pode ser também com base nas maneiras de
manifestação: abertos ou fechados.
No âmbito das empresas, geralmente os conflitos ocorrem por disputas pelo poder.
Rondeau (1996) afirma:
Dir-se-á que existe um conflito em uma organização quando uma
parte (um indivíduo ou grupo) perceber um outro como
obstáculo à satisfação de suas preocupações, o que provocará
nele um sentimento de frustração, que poderá levá-lo,
posteriormente, a reagir em face de outra parte. (RONDEAU,
1996, p. 206)
Tendo em vista que o conflito nasce geralmente como resultado das interações entre
os indivíduos e que as organizações são formadas por esses sujeitos e suas relações, a
compreensão desse fenômeno social torna-se indispensável para o administrador, na
medida em que somente assim poderá contribuir para sua resolução. Há que se
considerar também que os conflitos não possuem apenas um caráter negativo. Muitas
73
transformações importantes são impulsionadas por conflitos gerados no interior das
relações na sociedade e na empresa. Esses conflitos não raro ocorrem pela diversidade
de valores que estão presentes no interior de uma organização, que formam o que
chamamos de cultura organizacional. E este é o tema do próximo item de estudo desta
aula.
6.3 Cultura Organizacional
• Construindo um conceito
Até a primeira metade do século XX, as organizações eram analisadas sob uma ótica
meramente econômica. Porém, na segunda metade do mesmo século, sobretudo a
partir da década de 70, a empresa passa a ser vista como uma realidade social
integrante de um sistema complexo de relações. Essa mudança de perspectiva
possibilitou o surgimento dos estudos culturais que deram origem à linha de pesquisa
denominada cultura organizacional.
É impossível falar em cultura sem remeter à Antropologia. Assim como outros
conceitos nas ciências sociais, para o termo cultura não existem uma definição única e
aceita por todos. Mas, para este estudo, vamos tomar como referência a abordagem
de Roberto DaMatta (1986), que afirma existirem duas acepções muito utilizadas para
a palavra cultura:
No primeiro, usa-se cultura como sinônimo de sofisticação, de
sabedoria, de educação no sentido restrito do termo. Quer dizer,
quando falamos que “Maria não tem cultura”, e que “João é
culto”, estamos nos referindo a um certo estudo educacional
destas pessoas, querendo indicar com isso sua capacidade de
compreender ou organizar certos dados e situações. Cultura aqui
é equivalente a volume de leituras, a controle de informações, a
títulos universitários e chega até mesmo a ser confundida com
inteligência [...]. [...] quando um antropólogo social fala em
"cultura", ele usa a palavra como um conceito chave para a
74
interpretação da vida social. Porque para nós "cultura" não é
simplesmente um referente que marca uma hierarquia de
"civilização", mas a maneira de viver total de um grupo,
sociedade, país ou pessoa. Cultura é, em Antropologia Social e
Sociologia, um mapa, um receituário, um código através do qual
as pessoas de um dado grupo pensam, classificam, estudam e
modificam o mundo e a si mesmas. (DAMATTA, 1986, pp.121-
123, grifos nossos).
Como você pode perceber, esses são os dois usos mais comuns para a palavra
cultura e, como muito bem coloca DaMatta, o senso comum e os antropólogos
possuem noções muito distintas do que significa esse termo. Certamente o sentido
que adotaremos aqui será o significado antropológico da palavra. Para simplificar,
podemos dizer que a cultura refere-se a um conjunto de práticas, valores, hábitos, de
determinado grupo, que formam a sua maneira de perceber o mundo. Esses
elementos são transmitidos de geração a geração e variam de acordo com a sociedade.
O que é, então, cultura organizacional?
A cultura das organizações passou a ser objeto de preocupações dos estudiosos
da administração especialmente a partir da percepção da relevância de fatores
culturais nas práticas de gestão e de funcionamento das empresas, bem como da
influência desses fatores nas relações entre as pessoas no ambiente organizacional.
Compreendeu-se que essas variáveis poderiam determinar o sucesso ou não de uma
empresa.
Por conseguinte, a cultura organizacional foi tomada como um conceito essencial à
compreensão das estruturas organizativas. Podemos defini-la como:
[...] o conjunto de pressupostos básicos que um grupo inventou,
descobriu ou desenvolveu ao aprender como lidar com os
problemas de adaptação externa e integração interna e que
funcionam bem o suficiente para serem considerados válidos e
ensinados a novos membros como a forma correta de perceber,
75
pensar e sentir, em relação a esses problemas. (SCHEIN apud
FLEURY, 1996, p.20).
• A cultura organizacional como decisiva para os rumos das organizações
Seja na sociedade em geral, seja no contexto empresarial, a forma de ensinar
aos novos membros esses “pressupostos” comuns ao grupo acontece por meio do
processo de socialização, pois ao aprender (e interiorizar) os códigos e práticas do
grupo o indivíduo é integrado a ele. Nesse sentido os “programas de treinamento”
constituem uma das formas de socializar os novos membros, incutindo-lhes a cultura
da empresa.
Socialização - Processo por meio do qual os membros mais novos de um grupo ou
sociedade aprendem e interiorizam as práticas, hábitos, valores costumes e crenças
vigentes nesse grupo. Esse processo se inicia com o nascimento da pessoa e só
termina com a sua morte. As formas de ensino e de aprendizagem desses elementos
variam de sociedade para sociedade. Nesse sentido, podemos distinguir a socialização
primária e a socialização secundária. A primária se refere à aprendizagem dos valores
e hábitos mais básicos e essenciais do grupo como, por exemplo, a linguagem, as
formas de comportamento, de se vestir, os gostos etc. Essa socialização
corresponderia à primeira fase da vida de uma pessoa, pois geralmente é na infância
que se apreendem esses costumes. Na socialização secundária, o indivíduo tem
contato com conhecimentos mais específicos, tais como os ensinados nas escolas e
universidades e os apreendidos nos locais de trabalho como, por exemplo, as técnicas
ensinadas nos programas de treinamento de uma empresa.
Outras formas de socialização presentes no âmbito das organizações são os ritos e
cerimônias planejadas para fortalecer os laços entre os indivíduos. Como exemplos
dessas atividades podemos citar os rituais de integração: almoços e confraternizações;
os rituais de reconhecimento: eleição do funcionário do mês e outros do gênero. Os
primeiros, visam a promover a coesão entre os membros, e os últimos, a engrandecer
os valores que são tidos como ideais na organização.
76
É importante assinalar que, não obstante o fato de a cultura de uma
organização ser um conjunto de características que a diferencia das outras, ela é
influenciada pelo contexto macro no qual a empresa está inserida.
Nesse sentido, a obra organizada por Motta e Caldas (1997) oferece uma série
de artigos com análises interessantes sobre “o estilo brasileiro de administrar”. Os
textos demonstram como alguns traços da cultura brasileira estão presentes nas
relações entre os indivíduos que compõem as organizações e nas maneiras de gestão
das mesmas. Entre esses traços culturais destacam-se o personalismo, a lealdade, o
formalismo e a flexibilidade.
O personalismo em nossa sociedade termina por ser uma forma de transitar para a
solução de problemas, na tentativa de fugir à impessoalidade imposta pela burocracia
das leis. Conseqüentemente, a lealdade é uma característica muito valorizada nas
relações pessoais no Brasil. A flexibilidade possui um duplo caráter: a facilidade de
adaptação perante novas situações e a criatividade para resolver problemas
colocados por essas situações. Ambas podem ser expressas pelo famoso “jeitinho
brasileiro”, que se contrapõe ao formalismo corrente nas relações organizacionais.
Além de características da cultura do país, as organizações apresentam também
traços da cultura regional em que estão inseridas. Uma mesma empresa com uma
sede em São Paulo e outra na Paraíba pode possuir formas de operação distintas,
adaptadas aos hábitos e valores culturais próprios das pessoas da região.
Muitas vezes, a cultura de outros países também pode influenciar no modus
operandi de uma empresa. Você deve se lembrar que recentemente jornais noticiaram
que algumas indústrias adotaram novos procedimentos para o abate de aves (voltados
para a direção de Meca, cidade sagrada dos muçulmanos) para que as exportações
atendessem aos critérios da cultura islâmica.
O exemplo acima nos permite colocar em debate uma importante questão
presente nos estudos da cultura organizacional: a mudança cultural nas organizações.
77
Estudiosos da administração costumam colocar essa questão sob a forma de
interrogação:
É possível modificar os valores culturais que norteiam as práticas de uma empresa?
Em caso afirmativo, como essas mudanças podem ser implementadas, incorporadas e
aceitas pelo grupo?
Segundo Freitas (1991):
Ainda que o planejamento da mudança seja assumido como
possível, é consenso entre os adeptos dessa visão que o processo
não é simples, não é barato e não se faz sem provocar alguns
traumas como conseqüência. Existe ainda uma concordância
implícita a respeito de que a cultura é conectada com outros
elementos que sofrerão alterações, tais como estratégia,
estrutura, sistemas de recompensas, habilidades, procedimentos
etc. Também é reconhecido que não é qualquer mudança de
comportamento que implica mudança cultural. (FREITAS, 1991,
p. 115)
Considerando o caráter dinâmico da cultura, mesmo com as dificuldades, a
tendência é responder afirmativamente à questão colocada acima. O que se observa é
que as mudanças geralmente contribuem para o crescimento das instituições e para as
pessoas envolvidas.
Todavia, para o sucesso das transformações, é necessário considerar, além dos
fatores internos, as variáveis externas à organização como a política, a economia, o
contexto internacional, o surgimento das novas tecnologias, as exigências dos
mercados. No âmbito interno, Freitas observa que:
Para que a mudança de comportamento produza uma
transformação cultural é necessário que as justificativas do
78
comportamento também sejam mudadas. Em outras palavras, se
houver uma mudança de comportamento, mas as justificativas
para ela se encontram em motivos externos (novo sistema
formal, incentivos etc), as pessoas continuarão apegadas aos
padrões de valores e crenças anteriores. (ibidem, p. 117)
Assim, reconhecidas as dificuldades, é indispensável atenuar os “sentimentos
de desorientação coletiva” decorrente da internalização dos antigos valores ao
extremo. Para tanto, a empresa pode e deve utilizar mecanismos que demonstrem a
importância e os benefícios das novas práticas, não só para a organização como para o
próprio indivíduo, para que ele possa reafirmar o seu compromisso e lealdade e
continuar a “vestir a camisa” da instituição, por acreditar e se identificar com ela.
Esse último parágrafo ressalta o quanto é importante para o bom andamento da
empresa e para o sucesso da produção que os administradores pratiquem ações de
relações humanas, estando atentos não só aos aspectos físicos, mas também, e
especialmente, aos aspectos emocionais de seus funcionários. Na próxima aula você
verá que existem estudos e experiências comprovadoras de que há fatores inerentes à
gestão organizacional que estão diretamente ligados à motivação, integração e
satisfação dos funcionários, o que, por sua vez, reflete nos níveis de produção.
Leitura
Antes de prosseguir, no entanto, leia o texto Uma abordagem estrutural-funcional na
explicação de um processo de comunicação organizacional, que analisa a
importância das ações comunicativas para a resolução de conflitos nas empresas ( o
texto foi extraído de < http://www.pucrs.br/famecos/geacor/texto1-03.html >).
Sociologia do Trabalho e das Organizações
Aula 07 – Modelos e Tendências de Gestão do Trabalho
AULA 7 - MODELOS E TENDÊNCIAS DE GESTÃO DO TRABALHO7.1 Revisitando as escolas da administração e suas contribuições à luz da Sociologia.
79
7.2 Capitalismo, trabalho e organizações: rumos e tendências mundiais.
Há cerca de dez anos – em 1995 – o sociólogo espanhol Manuel Castells fazia a
seguinte análise acerca das transformações por que passava (passa?) o capitalismo:
O próprio capitalismo passa por um processo de profunda
reestruturação caracterizado por maior flexibilidade de
gerenciamento; descentralização das empresas e sua
organização em redes tanto internamente quanto em suas
relações com outras empresas; considerável fortalecimento do
papel do capital vis-à-vis o trabalho, com o declínio
concomitante da influência dos movimentos de trabalhadores;
individualização e diversificação cada vez maior das relações de
trabalho; incorporação maciça das mulheres na força de trabalho
remunerada, geralmente em condições discriminatórias;
intervenção estatal para desregular os mercados de forma
seletiva e desfazer o estado do bem-estar social com diferentes
intensidades e orientações, dependendo da natureza das forças
e instituições políticas de cada sociedade; aumento da
concorrência econômica global em um contexto de progressiva
diferenciação dos cenários geográficos e culturais para a
acumulação e a gestão do capital. (CASTELLS, 2000, pp. 21-22).
Para refletir:
Apesar do tempo decorrido, desde a afirmação do autor até os dias de hoje, temos a
sensação de que esse contexto de mudanças se refere aos dias atuais.
Será que estamos em fase de transição?
Quem sabe, na verdade, estejamos no auge desse processo...
Por que?
80
Na aula 5 apresentamos a você alguns dos modelos mais conhecidos de gestão
e organização da produção: o taylorismo, o fordismo e o toyotismo. Nesta aula, tendo
em vista a diversidade de enfoques dos cientistas sociais e dos administradores, você
vai conhecer outros modelos teóricos desenvolvidos no âmbito das escolas de
administração e seus desdobramentos no que se refere às questões dominantes em
cada uma dessas interpretações. Importante salientar que o cenário atual é resultado
da evolução dos estudos e práticas do passado, o que nos permite concluir que as
experiências de gestão organizacional no presente delineiam as tendências para o
futuro.
7.1 Revisitando as escolas da administração e suas contribuições à luz da Sociologia
A teoria da administração científica, também conhecida como gerência
científica ou escola clássica, teve como expoente em sua gênese Frederick Taylor, cujas
idéias já foram apresentadas. Mas há um contemporâneo de Taylor cuja atuação
também merece destaque. Seu nome é Henri Fayol (1841-1925), um estudioso das
estruturas organizacionais (Taylor privilegiava o estudo das tarefas de produção), que
criou a noção de “comando hierarquizado” e definiu as principais atividades da gestão.
Para Fayol:
Administrar é prever, organizar, comandar, coordenar e
controlar. Prever é perscrutar o futuro e traçar o programa de
ação. Organizar é constituir o duplo organismo, material e social,
da empresa. Comandar é dirigir o pessoal. Coordenar é ligar, unir
e harmonizar todos os atos e todos os esforços. Controlar é velar
para que tudo corra de acordo com as regras estabelecidas
(FAYOL, 1997, apud CASTRO, 2003, p. 125, grifos nossos).
O foco de Fayol era a grande empresa e ele fazia sua análise sob a perspectiva
do dirigente, dando ênfase à organização racional do trabalho. A função
administrativa, no entanto, limita-se ao pessoal. Nesse sentido, o autor salienta que
para garantir a eficácia do comando, os operários deveriam ser controlados por apenas
um chefe direto.
81
Paralelamente aos estudos focados na produção e organização gerencial, surge
a escola das relações humanas, cujo principal representante foi George Elton Mayo
(1880-1949). Mayo operou uma importante mudança no foco dos estudos sobre as
organizações ao enfatizar basicamente as pessoas e a importância das relações
humanas no contexto das empresas. Por isso, a escola das relações humanas
representou um movimento de oposição à teoria da administração científica.
Mayo partiu das “experiências de Hawthorne”, desenvolvidas em uma
companhia norte-americana que se caracterizava por se preocupar com o bem estar
de seus funcionários. Mayo coordenou os estudos que visavam a compreender como
os fatores ambientais (como a iluminação, por exemplo) poderiam influenciar na
eficiência dos trabalhadores. Posteriormente as pesquisas se estenderam à análise da
fadiga, dos acidentes no trabalho e ao efeito das condições de trabalho sobre a
produtividade dos operários.
Contudo, as experiências não produziram os resultados esperados, pois não
conseguiram comprovar a relação direta entre esses fatores e o ritmo da produção.
Mayo percebeu então que variáveis psicológicas interferiam nos resultados dos
estudos. Pretendia isolar essas variáveis e prolongou as análises até 1929, quando teve
de suspendê-las por causa da crise econômica.
As principais conclusões da “experiência de Hawthorne” referem-se aos fatores
que condicionam o comportamento dos trabalhadores e influenciam na produtividade,
especialmente no tocante às relações humanas. O autor observou que o nível de
produção está diretamente ligado à integração social dos empregados, ou seja, quanto
mais integrado ao grupo de trabalho, maior sua disposição para produzir.
Assim, a base do comportamento social do funcionário está no grupo, que vai
determinar o quanto vai ser produzido e controlar as ações dos indivíduos. Por
conseguinte, as relações humanas são as ações e atitudes que resultam do contato
entre pessoas e grupos. Por isso, os indivíduos participam de grupos informais dentro
das organizações e mantêm constante interação social. São esses grupos informais
82
que definem as regras de comportamento das pessoas, bem como as sanções
aplicadas em caso de infração dessas regras. Indicam também quais são os objetivos,
os valores e as expectativas da categoria.
Interação social - Segundo o Dicionário de Ciências Sociais (1986, p. 624) a interação
social “designa a influência recíproca dos atos de pessoas e grupos, o que,
geralmente, se dá por meio da comunicação. Essa definição inclui a interação de uma
pessoa consigo mesma”. Existe interação entre animais, entre coisas e entre esses e
os homens, mas somente se pode falar em interação social quando essa interação
acontece entre pessoas.
Em síntese, a teoria das relações humanas logrou grande repercussão por
enfatizar os aspectos físicos e principalmente emocionais dos indivíduos, buscando
compreender como a motivação, a integração e a satisfação dos funcionários poderia
influenciar, e mesmo determinar, o sucesso da produção no interior das empresas.
Finalmente, merece destaque o modelo teórico que analisa a organização como
um sistema, que em sua origem remete à Biologia e foi reelaborado e adaptado às
ciências sociais, área em que se destacaram Talcott Parsons (1902-1979) e Niklas
Luhmann (1927-1998).
De acordo com Castro,
(...) sistema social é uma pluraridade de indivíduos motivados
por uma tendência à satisfação máxima e cuja inter-relação,
quanto a esta situação, define-se em termos de um sistema de
padrões culturalmente estruturados e compartilhados. Sistema é
um recurso analítico que se abstrai dos processos sociais, isto é,
a interação dos indivíduos humanos, na qual cada um é “ator” e
“objeto de orientação”. (Castro, 2003, pp. 131-132).
A teoria sistêmica surge após o desenvolvimento da cibernética e teve grande
influência sobre as análises das organizações, sobretudo a partir da década de 1960.
83
A contribuição de Parsons para a teoria geral dos sistemas está na sua
formulação – oriunda do funcionalismo – das noções de função e integração, que deu
origem à analogia entre os sistemas biológicos e os sociais. Nesse caso, qualquer
semelhança com o pensamento de Émile Durkheim não é mera coincidência. Todavia,
Parsons avança em relação a Durkheim justamente por introduzir a análise sobre os
sistemas.
Como o sistema social é constituído pela interação de indivíduos humanos, cada
membro é ator (que tem objetivos, idéias, atitudes etc.) e objeto de orientação, tanto
para si mesmo como para outros atores. Portanto, o sistema de interação é um
aspecto analítico que pode ser abstraído dos processos totais de ação de seus
participantes. Ao mesmo tempo, esses “indivíduos” são também organismos,
personalidades e participantes de sistemas culturais.
(PARSONS, 1969, p. 20, grifos do original)
Talcott Parsons analisa essa questão com ênfase na interação social entre os
indivíduos. Nesse sentido, considera que toda ação humana é interação. As noções de
sistemas sociais e de coletividade se confundem no início de sua análise. Ao reelaborar
a questão posteriormente, o autor considera as organizações formais como
coletividades distintas de outros sistemas sociais.
O alemão Niklas Luhmann foi aluno de Parsons, mas autodenominava-se um
“neofuncionalista” para distinguir-se do antigo mestre. Sua concepção de sistema era,
segundo ele próprio, mais “abrangente”, por pretender incluir todos os sistemas
sociais. Sua grande inovação, no entanto, refere-se à noção de complexidade.
De acordo com Armin Mathis (1998),
A função principal dos sistemas sociais é a de reduzir a
complexidade do mundo de tal maneira que ela possa ser
84
entendida pelas pessoas ou sistemas psíquicos - na linguagem da
teoria dos sistemas. Complexidade é assim definida: um conjunto
de elementos que devido a restrições imanentes à capacidade de
enlace, torna impossível combinar cada elemento ao mesmo
tempo com cada elemento [...]. Ou em outras palavras,
complexidade é o conjunto dos possíveis estados e
acontecimentos de um sistema. Assim, a complexidade do
mundo é sempre maior do que a complexidade de um sistema,
que por outro lado, precisa de um grau de complexidade que lhe
permita a redução da complexidade no seu meio. Para sistemas
sociais a redução da complexidade do mundo se traduz no
problema de como enfrentar a dupla contingência.
(MATHIS,1998, pp. 4-5).
Como você pode perceber, Luhmann redefine o lugar do sujeito da relação, dando-lhe
um significado social. Nesse sentido, os homens não apenas fazem parte da sociedade,
mas de seu ambiente (mundo). Os sistemas, no pensamento do autor, possuem um
caráter eminentemente dinâmico; assim sendo, sua compreensão só é possível
quando se considera a complexidade das relações entre os sujeitos e o mundo que os
cerca.
Nesse sentido, podemos acrescentar a esse ambiente a que se refere Luhmann o meio
ambiente. Os homens se relacionam constantemente com a natureza, seja para
transformá-la, seja para integrar-se a ela.
7.2 Capitalismo, trabalho e organizações: rumos e tendências mundiais
O sociólogo Castells (1995), já na década passada demonstrava preocupações
com as profundas mudanças que o setor produtivo vem passando – conforme se pode
observar no trecho de texto do autor no início desta aula. Em sua análise acerca das
transformações por que passava (passa?) o capitalismo, enumerou os aspectos
marcantes das mudanças pelas quais passavam (passam?) o setor. São eles:
85
1. Processo de profunda reestruturação caracterizado por maior flexibilidade
de gerenciamento.
2. Descentralização das empresas e sua organização em redes tanto
internamente quanto em suas relações com outras empresas.
3. Considerável fortalecimento do papel do capital vis-à-vis o trabalho, com o
declínio concomitante da influência dos movimentos de trabalhadores.
4. Individualização e diversificação cada vez maior das relações de trabalho.
5. Incorporação maciça das mulheres na força de trabalho remunerada,
geralmente em condições discriminatórias.
6. Intervenção estatal para desregular os mercados de forma seletiva e
desfazer o estado do bem-estar social com diferentes intensidades e
orientações, dependendo da natureza das forças e instituições políticas de
cada sociedade.
7. Aumento da concorrência econômica global em um contexto de progressiva
diferenciação dos cenários geográficos e culturais para a acumulação e a
gestão do capital. (CASTELLS, 2000, pp. 21-22)
De fato, esse contexto de transformações, mencionadas por Castells, continua
muito relevantes ainda no Século XXI, seja porque essas alterações ainda estão em
curso, seja porque outras mudanças têm sido introduzidas paulatina e
sistematicamente em nossa sociedade.
Diante dessa situação alguns questionamentos parecem inevitáveis:
Para onde apontam essas modificações?
Como elas interferem nas relações entre os indivíduos?
Qual a sua influência no mundo do trabalho?
Como as organizações devem se posicionar diante delas?
86
Quais são as perspectivas para o futuro?
Certamente não pretendemos oferecer respostas definitivas para as questões
supracitadas, simplesmente por que talvez elas não tenham respostas. Porém, para
que possamos refletir sobre elas e situar o lugar e o papel das organizações na
“sociedade da informação” precisamos considerar algumas características do contexto
em que vivemos.
Vivemos em uma sociedade em constantes transformações. As inovações
tecnológicas surgem a todo instante e são incorporadas ao nosso cotidiano, mesmo
contra a nossa vontade, ou sem que nos apercebamos disso. Um exemplo corriqueiro
desse fato é o advento dos terminais eletrônicos em bancos, ou os leitores óticos em
supermercados e outros estabelecimentos. As pessoas cada vez mais são “obrigadas” a
entrar em contato com essas novas tecnologias, e na maioria dos casos não estão
preparadas para isso.
No que tange ao mercado de trabalho, temos uma situação semelhante. A
qualificação de grande parte dos trabalhadores parece não acompanhar o ritmo das
inovações que fazem com que o mercado de trabalho tenha exigências cada vez mais
específicas. Todos os dias constatamos esse fato no discurso dos responsáveis pelo
recrutamento e seleção de mão-de-obra das empresas. Esse discurso afirma
repetidamente que o desemprego ocorre porque não há força de trabalho qualificada
para ocupar os postos vagos.
Paralelamente, no entanto, temos um fenômeno curioso:
Como se explicar o fato de haver milhares de trabalhadores “qualificados”, com
diplomas universitários e anos de experiência, que não conseguem colocação
profissional em suas áreas e terminam por integrar o mercado informal?
Você não considera isso um paradoxo?
O mercado informal, aliás, tem sido objeto cada vez mais recorrente nas
preocupações de estudiosos do mundo do trabalho e da economia. No Brasil, esse
87
campo está em franca expansão e constitui uma alternativa vislumbrada pela massa de
desempregados para fazer frente ao desemprego estrutural que assola o País em
tempos de crise do capitalismo.
Cabe perguntar “de quem é a responsabilidade?”
Quem deve assumir a tarefa de conter essa crise?
Diante da ineficiência do Estado em formular políticas públicas eficazes para a
educação básica e profissional e para a qualificação dos trabalhadores; diante da
dificuldade de recolocação profissional, da perda de poder das entidades
representativas dos trabalhadores e da capacidade decrescente de criar mecanismos
de pressão que garantam a segurança do e no trabalho, algumas empresas possuem o
mérito de promover, por iniciativa própria, programas de capacitação permanente
para seus funcionários. Estes, por sua vez, têm buscado um aperfeiçoamento
constante, por terem percebido que agora é preciso “distinguir-se” dos demais.
Além desses, inúmeros outros fatores nos colocam em uma posição de vigília
perante esses fenômenos. Se, de um lado, temos a questão do perfil inadequado da
mão-de-obra e do trabalhador diante das exigências colocadas pelo mercado de
trabalho, de outro, temos um mercado consumidor cada vez mais difícil de satisfazer e
cada vez mais concorrido.
Qual o papel das empresas diante dessa configuração?
Primeiramente, é preciso considerá-la como um sujeito que conjuga trabalho e
organização. Nesse sentido, os estudos inter e multidisciplinares têm se revelado um
importante aliado não só para a compreensão desses eventos, mas, principalmente,
para a descoberta de estratégias que minimizem seus efeitos negativos que podem ser
sintetizados em uma palavra: incerteza.
Finalmente, cabe ressaltar que somente as empresas que forem capazes de
acompanhar essas transformações, e de se adaptar a elas, sobreviverão. Atualmente
questões como “responsabilidade social”, redução de “impactos ambientais”,
88
“desenvolvimento sustentável” – apenas para citar algumas – são palavras de ordem
que têm direcionado o consumo e norteado as novas práticas empresariais.
À primeira vista este pode parecer um prognóstico pessimista, porém
acreditamos que esse é um momento crucial, pois essas mudanças podem fazer com
que novas práticas e valores modifiquem o comportamento das pessoas e seja dado o
primeiro passo para a construção de uma sociedade mais equânime e justa.
Leitura
Sugerimos que, para o seu aprofundamento sobre o tema, leia o artigo de Flávio
Valsani, Responsabilidade Social e Meio Ambiente, que oferece uma reflexão sobre o
papel da responsabilidade social da empresa frente à preservação do meio ambiente.
Acesse os links a seguir para ler artigos e estudos sobre temas relacionados à
Sociologia das organizações como, por exemplo, “Organizações no paradigma de
transformação”, “Gestão de qualidade total” e “Os desafios das organizações na era
do conhecimento”.
http://www.encontros-bibli.ufsc.br/Edicao_7/eb7art4.html
http://www.competenet.org.br/evento/ritto.pdf
http://www.portal-rp.com.br/bibliotecavirtual/culturaorganizacional/0113.htm
http://www.ead.fea.usp.br/cad-pesq/arquivos/C02-art04.pdf
.
Leituras
ÍNDICE
Aula 1
• O nascimento da Sociologia - Laurent Mucchielli.
Aula 3
89
• Uma introdução a Max Weber e à obra “A Ética Protestante e o Espírito do
Capitalismo” - Franklin Ferreira.
Aula 4
• A dupla dimensão do Trabalho em Marx e a questão da Centralidade do
Trabalho - Cassandra Carmo de Lima Véras
• Filme: A Revolução dos Bichos
Aula 6
• Uma abordagem Estrutural-Funcional na explicação de um processo de
Comunicação Organizacional - Ilsa Solka de Lemos.
Aula 7
• Responsabilidade Social e Meio Ambiente - Flavio Valsani.
Referências
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neoliberal" (1990-2000). In: Revista de Sociologia e Política (on line). n. 19, nov. 2002.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
44782002000200006 > Acesso em 15/11/2005.
CASTELLS, Manuell. A sociedade em rede: a era da informação: economia, sociedade e
cultura. 4 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000. v. I.
CASTRO, Celso Antonio Pinheiro de. Sociologia aplicada à administração. 2 ed. São
Paulo: Atlas, 2003.
CHANLAT, Jean-François (Coord). O indivíduo na organização: dimensões esquecidas.
São Paulo: Atlas, 1996. 3 v.
CHARON, Joel M. Sociologia. São Paulo: Saraiva, 2002.
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 4 ed. São Paulo:
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Rio de Janeiro: Rocco, 1986. p. 121-128.
DURKHEIM, Emile. As regras do método sociológico. São Paulo: Editora Nacional,
1990.
_______. Da divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
FLEURY, Maria Tereza Leme; FISCHER, Rosa Maria (coords). Cultura e poder nas
organizações. 2.ed. São Paulo: Atlas,1996.
FREITAS, Maria Ester de. Cultura organizacional: formação, tipologias e impacto. São
Paulo: Makron, McGraw-Hill, 1991.
LAKATOS, Eva Maria. Sociologia da administração. São Paulo: Atlas, 1997.
MARTINS, C. B. O que é Sociologia? São Paulo: Brasiliense, 1994.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1983. vol.
I. Coleção Os Economistas.
MATHIS, Armin. O conceito de sociedade na teoria dos sistemas de Niklas Luhmann. In:
REBEA. Rede Brasileira de Educação Ambiental. Disponível em:
http://www.rebea.org.br/rebea/arquivos/niklas.pdf>. Acesso em 29/11/2005.
MOTTA, Fernando. C. Prestes; CALDAS, Miguel P. Cultura organizacional e cultura
brasileira. São Paulo: Atlas, 1997.
PARSONS, Talcott. Sociedades: perspectivas evolutivas e comparativas. São Paulo:
Livraria Pioneira, 1969.
QUINTANEIRO, T; BARBOSA, M. L. O.; OLIVEIRA, M. G. Um Toque de Clássicos:
Durkheim, Marx e Weber. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1995.
_______. Um toque de clássicos: Durkheim, Marx e Weber. 2. ed. rev. ampl. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2003.
91
RONDEAU, Alain. A gestão dos conflitos nas organizações. In: CHANLAT, Jean-François
(Coord). O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. São Paulo: Atlas, 1996.
vol. III, p. 205-225.
SELL, C. E. Sociologia clássica: Durkheim, Weber e Marx. Itajaí: Ed. UNIVALI, 2002.
SILVA, Benedicto (Coord). Dicionário de Ciências Sociais. Rio de Janeiro: FGV; MEC,
1986.
TOSCANO, Moema. Controle social. In: ___. Introdução à Sociologia Educacional. Rio
de Janeiro: Vozes, 2002. pp. 69-80.
WEBER, Max. A “objetividade” do conhecimento nas Ciências Sociais. In: COHN,
Gabriel (Org.). Max Weber: sociologia. São Paulo: Ática, 1979.
_______. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília,
DF: Editora da Universidade de Brasília, 1994. vol. I.
_______. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília,
DF: Editora da Universidade de Brasília, 1999. vol. II.
_______. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira
Thomsom Learning, 2001.
Bibliografia Comentada
• QUINTANEIRO, T; BARBOSA, M. L. O.; OLIVEIRA, M. G. Um Toque de Clássicos:
Durkheim, Marx e Weber. 2. ed. rev. ampl. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2003.
Excelente manual que trata das principais idéias de Émile Durkheim, Karl Marx e Max
Weber com uma linguagem bastante acessível. Traz citações dos textos originais dos
autores. Embora não seja tarefa simples fazer um “resumo” da obra desses
pensadores, o grande mérito desse livro é a tentativa de apresentar de maneira mais
92
expositiva do que crítica o pensamento dos autores, para que o leitor que ainda não os
conheça não tenha uma leitura “enviesada” dos mesmos.
• CHANLAT, Jean-François (Coord). O indivíduo na organização: dimensões
esquecidas. São Paulo: Atlas, 1996. 3 v.
Organizada em três volumes, essa obra traz uma série de artigos concernentes às
questões fundamentais da Sociologia das Organizações. A relação do indivíduo com a
empresa é colocada em uma perspectiva multidisciplinar e contém análises com focos
antropológicos, psicológicos e sociológicos.
• ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a
centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 1995.
O sociólogo brasileiro Ricardo Antunes é um dos estudiosos mais importantes
no Brasil sobre o mundo do trabalho. Esse livro, talvez sua obra principal, tem como
ponto de partida as seguintes questões: “Estará a ‘classe-que-vive-do-trabalho’
desaparecendo? A retração do operariado tradicional, fabril, da era do fordismo,
acarreta inevitavelmente a perda de referência do ser social que trabalha? Que
repercussões as mudanças do mundo do trabalho estarão provocando nos sindicatos?
A categoria trabalho não é mais dotada do estatuto da centralidade, no universo de
práxis humana existente na sociedade contemporânea?” Para refletir sobre essas
questões, o autor discute temas como o processo de globalização, a difusão acelerada
das novas tecnologias nos processos de produção e a presença do toyotismo, que
expressa a forma mais acabada da organização do trabalho almejada pelas empresas. É
uma obra de referência para os estudos em Sociologia do Trabalho no Brasil.
Indicação de Sites
• http://www.pucrs.br/famecos/geacor
Site da revista “Comunicação Organizacional”, do grupo de estudos avançados em
comunicação organizacional (GEACOR). Traz uma série de textos sobre a comunicação
na empresa.
93
• http://www.scielo.br
Site especializado em artigos de diversas áreas, inclusive Sociologia Geral e Específicas.
Pode ser acessado em espanhol, inglês ou português. Traz índices por assunto, por
autores ou por títulos dos artigos. Os textos podem ser lidos em html ou arquivos no
formato pdf.
• http://www.adm.ufba.br/ipublica_org.html
Site da revista “Organizações & Sociedade”, publicação periódica da Escola de
Administração da Universidade Federal da Bahia. Traz os vários números da revista,
com links para a leitura dos textos no formato pdf.
• http://www.agoranet.org.br/az.htm
Site que contém um pequeno dicionário de termos importantes em Sociologia e
Política.
• http://www.suigeneris.pro.br
Site que traz discussões interessantes sobre temas diversos, como cidadania, filosofia,
educação, direito e justiça, literatura e sociologia. No link
http://www.suigeneris.pro.br/edvariedade_domenico.htm há um texto interessante
de Domenico DeMasi, um importante sociólogo italiano, estudioso do trabalho.
Glossário
A
Amorfo - Que não tem forma definida.
Antagônico - Que opõe duas forças ou princípios; contrário, incompatível, oposto.
Antropocêntrico - Abordagem que coloca o homem no centro das explicações.
Arcabouço – Estrutura; capacidade para produzir.
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B
Biopsicossocial - Abordagem que considera o ser humano em suas diversas
dimensões: biológica, psíquica e social.
C
Coerção social - A palavra coerção está ligada ao ato de coagir ou reprimir. De acordo
com o Dicionário de Ciências Sociais (1986, p. 202) “a coerção ou coação pode ser
encarada como um traço de comportamento em que um indivíduo ou grupo é forçado
por outro a fazer alguma coisa ou é por ele reprimido”.
Coesão social - A coesão refere-se à ligação entre elementos. A coesão social seria a
união entre indivíduos de determinado grupo em função da atração recíproca. É um
processo em que indivíduos se ligam a outros para formar uma unidade social.
Conditio Sine Qua Non - Expressão latina que significa condição básica.
Contingência - “Caráter do que ocorre de maneira eventual, circunstancial, sem
necessidade, pois poderia ter acontecido de maneira diferente ou simplesmente não
ter se efetuado”.
D
Desemprego estrutural - Processo de diminuição do número de postos de trabalho
que caminha paralelamente ao processo de implementação de tecnologias nas
empresas e fábricas. O desemprego estrutural se diferencia do desemprego clássico
por não estar ligado necessariamente a crises econômicas, mas por ser uma tendência
na sociedade atual. Os postos de trabalho substituídos pela mecanização não mais
voltam a existir. Entende-se por desemprego estrutural aquele desemprego em que a
vaga de trabalho é definitivamente eliminada/substituída por um processo mecânico
ou, então, devido a uma reorganização do esquema de trabalho. Esse desemprego é
típico de países “subdesenvolvidos”.
95
Desestruturação das relações de trabalho - Expressão utilizada para se referir às
transformações nas relações de trabalho ocorridas especialmente a partir do final da
década de 1980 e que se caracteriza, sobretudo, pela eliminação dos vínculos
trabalhistas existentes entre empregado e empregador. Outras marcas desse processo
são o desemprego elevado, desassalariamento (os empregos não oferecem mais um
salário fixo) das ocupações e ampliação do trabalho precário.
Desregulamentação do trabalho - Tendência de diminuição da interferência do Estado
sobre a regulação das relações trabalhistas. Na desregulamentação, o Estado se exime
do papel de regular os vínculos entre patrão e empregado. A livre negociação é a
expressão de ordem nesse processo.
Digressão histórica - “Afastamento ou desvio momentâneo do que se fala ou escreve”
a fim de situar os fatos históricos; viagem, passeio pela história.
E
Empregabilidade - “Qualidade do que ou de quem é empregável; possibilidade de ser
empregado”. Em Sociologia do Trabalho, refere-se à capacidade de um trabalhador
estar, ou ainda de o profissional ter o seu posto protegido dos riscos inerentes ao
mercado de trabalho.
Epistemológico - Epistemologia é a “reflexão geral em torno da natureza, etapas e
limites do conhecimento humano, especialmente nas relações que se estabelecem
entre o sujeito indagativo e o objeto inerte, as duas polaridades tradicionais do
processo cognitivo; teoria do conhecimento”. Pode ser definida também como estudo
dos postulados, conclusões e métodos dos diferentes ramos do saber científico, ou das
teorias e práticas em geral, avaliadas em sua validade cognitiva, ou descritas em suas
trajetórias evolutivas, seus paradigmas estruturais ou suas relações com a sociedade e
a história; teoria da ciência.
Expropriado - Acto de expropriar; desapropriação; privação de propriedade em
harmonia com a lei; transferência da propriedade de um imóvel da entidade privada
para uma entidade pública, mediante uma indenização; coisa expropriada. Exemplo no
96
texto: Libertar da dominação de classe capitalista é fazer com que o trabalho da classe
trabalhadora não lhe seja expropriado.
F
Flexibilização das relações de trabalho - “A teoria denominada flexibilização dos
direitos trabalhistas tem como principal finalidade assegurar um conjunto de regras
mínimas ao trabalhador, assim como a sobrevivência da empresa, através da
modificação de alguns comandos legais. A discussão sobre o tema gera grande
polêmica em razão dos aspectos sobre os quais é possível analisar o papel do Direito
do Trabalho na sociedade. Um dos aspectos lhe confere um papel intervencionista,
baseado na ampla proteção à parte que, via de regra, é economicamente mais frágil na
relação de trabalho, qual seja, o trabalhador. Sob essa visão, entende-se que a
proteção deve vir através de normatização legal, de modo a limitar os poderes do
capital”.
Na flexibilização não se elimina as normas trabalhistas, pois isso seria acabar de vez
com a intervenção do Estado nas relações de trabalho. Ou seja, nesta modalidade o
Estado continua a intervir nas relações de trabalho, mas de forma reduzida, e o
trabalhador continua tendo a proteção do Estado e do sindicato de sua classe.
I
Incutir - Fazer penetrar, induzir, inspirar.
Indulgência - No catolicismo significa a remissão total ou parcial das penas temporais
cabíveis para os pecados cometidos, que a Igreja concede depois de os mesmos terem
sido perdoados.
Infanticídio - Assassinato de crianças.
Interação social - Segundo o Dicionário de Ciências Sociais (1986, p. 624) a interação
social “designa a influência recíproca dos atos de pessoas e grupos, o que, geralmente,
se dá por meio da comunicação. Essa definição inclui a interação de uma pessoa
consigo mesma”. Existe interação entre animais, entre coisas e entre esses e os
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homens, mas somente se pode falar em interação social quando essa interação
acontece entre pessoas.
J
Just-in-time - Expressão inglesa que designa um método que se aplica à administração
da produção - destinado basicamente à redução de estoques (e dos recursos
financeiros e espaços físicos para mantê-los) -, à redução do tempo de fabricação e à
eliminação das perdas, com vistas ao aumento da produtividade. No Ocidente, essa
expressão é utilizada para traduzir uma filosofia e as técnicas de apoio à produção
criadas e aperfeiçoadas pela Toyota (Sistema Toyota de Produção). Esse sistema de
produção requer que as peças sejam fornecidas ao processo seguinte somente na
medida do necessário, com pequeno armazenamento prévio. Requer ainda que
apresentem qualidade, para evitar desperdícios.
O termo também significa: metodologia com base nas pessoas, cuja filosofia é eliminar
tudo aquilo que não adiciona valor ao produto. O objetivo é fornecer exatamente as
peças necessárias, nas quantidades necessárias, no tempo necessário.
M
Metafísica - Subdivisão da filosofia, caracterizada pela investigação das realidades que
transcendem a experiência sensível, capaz de fornecer um fundamento a todas as
ciências particulares, por meio da reflexão a respeito da natureza primacial do ser;
filosofia primeira. Parte da tradição filosófica de Aristóteles especialmente
desenvolvida pela escolástica medieval, voltada para a investigação teorética da
divindade, o ser mais perfeito e elevado, causa de todos os outros seres e realidades
do universo; teologia. Caracterizada também pela especulação a respeito do ser, suas
determinações necessárias e princípios universais, oferecendo desta maneira o
fundamento teórico para que as ciências particulares investiguem os seres da
realidade sensível; ontologia.
Modus Vivendi - Expressão latina que pode ser traduzida como “modo de vida”.
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N
Neofuncionalismo - Corrente de pensamento derivada do funcionalismo, caracterizada
pela análise da sociedade comparada a organismos vivos.
Novas configurações do mundo do trabalho - Expressão utilizada para se referir às
tendências das relações trabalhistas na sociedade atual, bem como ao mercado de
trabalho.
O
Otimizar - Criar condições mais favoráveis; tirar o melhor partido possível de algo.
P
Paradoxo - Aparente falta de nexo ou de lógica; contradição.
Positivismo - Sistema criado por Auguste Comte (1798-1857), que se propõe a ordenar
as ciências experimentais - considerando-as o modelo por excelência do conhecimento
humano - em detrimento das especulações metafísicas ou teológicas. O projeto
intelectual-científico de Comte era a extensão dos métodos das ciências naturais ao
estudo da sociedade: a criação de uma “sociologia científica”. Para Comte, o dever
pode se tornar a fonte da felicidade. A crença nessa afirmação o levou a fundar a
“religião da humanidade” (o positivismo), cujo lema era “o amor por princípio e a
ordem por base; o progresso por fim”. É do positivismo que advém a inspiração da
frase encontrada na bandeira do Brasil: “Ordem e Progresso”.
Práxis - “Etimologicamente (do grego praksis [práxis], do verbo prasso, atuar), a
palavra prática (originalmente adjetivo de práxis) significa toda a atividade humana
concreta, e tem por antônimo o termo teoria, que exprime uma ausência de atividade,
isto é, uma abstração”. Essa é a definição do Dicionário de Ciências Sociais (1986, p.
957) para o termo. É importante ressaltar, no entanto, que, embora não tenha sido o
primeiro a utilizar esse termo, Karl Marx conferiu-lhe uma conotação singular. Na
acepção marxiana, a práxis se refere a uma atividade específica do homem, que o
diferencia dos outros animais por ser atividade livre, universal, criativa, por meio da
99
qual o homem cria e transforma seu mundo humano e histórico e a si mesmo. Essa
prática livre e consciente para Marx se expressa por meio do trabalho.
Precarização do trabalho - Expressão utilizada para se referir às novas formas de
organização do trabalho na sociedade atual. Essas formas de organização se
caracterizam pelo aumento de pessoas trabalhando por conta própria, a proliferação
de pequenas unidades de prestação de serviços, grande rotatividade e insegurança
crescente quanto ao futuro. São também formas precárias de trabalho: o subemprego,
o trabalho temporário, o trabalho terceirizado.
S
Socialização - Processo por meio do qual os membros mais novos de um grupo ou
sociedade aprendem e interiorizam as práticas, hábitos, valores costumes e crenças
vigentes nesse grupo. Esse processo se inicia com o nascimento da pessoa e só termina
com a sua morte. As formas de ensino e de aprendizagem desses elementos variam de
sociedade para sociedade. Nesse sentido, podemos distinguir a socialização primária e
a socialização secundária. A primária se refere à aprendizagem dos valores e hábitos
mais básicos e essenciais do grupo como, por exemplo, a linguagem, as formas de
comportamento, de se vestir, os gostos etc. Essa socialização corresponderia à
primeira fase da vida de uma pessoa, pois geralmente é na infância que se apreendem
esses costumes. Na socialização secundária, o indivíduo tem contato com
conhecimentos mais específicos, tais como os ensinados nas escolas e universidades e
os apreendidos nos locais de trabalho como, por exemplo, as técnicas ensinadas nos
programas de treinamento de uma empresa.
Subjetividade - Realidade psíquica, emocional e cognitiva do ser humano, passível de
manifestar-se simultaneamente nos âmbitos individual e coletivo, e comprometida
com a apropriação intelectual dos objetos externos.
Subsistência - Estado ou qualidade de subsistente; estabilidade; manutenção;
sustento; alimentos.
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Sufrágio eleitoral - Processo de escolha por votação; eleição.
T
Teocêntrico - O teocentrismo é uma doutrina ou crença que considera Deus como o
centro de tudo.
Terceirização - Forma de organização estrutural que permite a uma empresa transferir
a outra as suas atividades-meio, proporcionando maior disponibilidade de recursos
para a sua atividade-fim, reduzindo a estrutura operacional, diminuindo os custos,
economizando recursos e desburocratizando a administração. Contratação de
terceiros, por parte de uma empresa, para a realização de atividades não essenciais,
visando à racionalização de custos, à economia de recursos e à desburocratização
administrativa.
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