Aula i a pré-história dos annales
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A PRÉ-HISTÓRIA DOS
ANNALES
Retorno as fontes
1
Filas de rostos pálidos murmurando, máscaras de medo,Eles deixam as trincheiras, subindo pela borda, Enquanto otempo bate vazio e apressado nos pulsos, E a esperança, deolhos furtivos e punhos cerrados, Naufraga na lama. ÓJesus, fazei com que isso acabe!
Siegfried Sassoon (1947, p. 71)
A ERA DA GUERRA TOTAL2
Talvez se ache melhor, em vista das alegações de"barbaridade" dos ataques aéreos, manter as aparênciascom a formulação de regras mais brandas e tambémlimitando-se nominalmente o bombardeio a alvos de caráterestritamente militar [...] para evitar enfatizar a verdade de quea guerra aérea tornou tais restrições obsoletas e impossíveis.Talvez se passe algum tempo até que ocorra outra guerra eenquanto isso o público pode ser educado quanto aosignificado da guerra aérea.
Rules as to bombardment by aircraft, 1921(Townsend, 1986, p. 161)
A ERA DA GUERRA TOTAL3
(Sarajevo, 1946.) Aqui, como em Belgrado, vejo nas ruas umconsiderável número de moças cujos cabelos estão ficandogrisalhos, ou já o esteio completamente. Têm os rostosatormentados mas ainda jovens, enquanto as formas doscorpos traem ainda mais claramente sua juventude. Parece-me ver como a mão desta última guerra passou pelascabeças desses seres frágeis [...]
Tal visão não pode ser preservada para o futuro; essascabeças logo se tornarão mais grisalhas ainda edesaparecerão. É uma pena. Nada poderia falar tãoclaramente sobre nossa época às futuras gerações quantoessas jovens cabeças grisalhas, das quais se roubou adespreocupação da juventude.
Que pelo menos tenham um memorial nesta notinha.
Signs by the roadside (Andric, 1992, p. 50)
A ERA DA GUERRA TOTAL4
―A humanidade é louca! Deve ser louca para fazer oque está fazendo. Que massacre! Que cenas de horrore carnificina. Não consigo encontrar palavras paratraduzir minhas impressões. O inferno não pode ser tãoterrível. Os homens estão loucos!‖
Soldado francês, pouco antes de morrer, vítima daguerra.
A ERA DA GUERRA TOTAL5
Origens?6
É necessário perceber o terreno em que
cresceu a escola dos Annales, para
compreender o porquê de sua posição
hegemônica, sem que isso signifique uma
concessão ao rito da tribo histórica, que Marc
Bloch qualifica, após François Simiand, de
ídolo das origens.
Terreno fértil
A criação da revista dos Annales resulta da
dupla mutação que perturbou tanto a situação
mundial no pós-1914 – 1918 quanto o campo
das ciências sociais.
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Terreno fértil8
Jacques Le Goff simplifica bem quando
escreve: "Não é por acaso que os Annales
nascem em 1929, o ano da grande crise". (Jacques Le Goff, História Nova, 1990, p.30
Terreno fértil9
O projeto de Marc Bloch e Lucien Febvre não
se reduz à uma resposta pontual dos
historiadores diante da crise que explode de
maneira manifesta depois da quebra de Wall
Street em outubro de 1929, já que a revista é
lançada em janeiro do mesmo, ano e, como
projeto, remonta ao imediato pós-guerra.
1914 - 191810
1914 - 191811
1914 - 191812
1914 - 191813
1914 -191814
Já na I Guerra Mundial muitas cidades foram duramente castigadas pelos bombardeios. Aqui vemos o aspecto a que os Alemães reduziram a cidade francesa de Ypres.
1914 - 191815
Soldados à
frente e, ao
fundo, um
tanque
britânico.
A guerra
ganha mais
dramaticidad
e com o uso
das
máquinas.
1914 - 191816
Aeroplanos
são
utilizados
pela primeira
vez em
combates
aéreos.
1914 - 191817
1914 - 1918
Traumatismo e os efeitos da guerra 1914 –
1918. Os milhões de mortos desta longa
guerra levantam-se como no filme de Abel
Gance, J’acusse, para lembrar aos vivos suas
responsabilidades.
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192919
Entretanto, Jacques Le Goff não se
enganou, pois a crise, posterior à criação da
revista, estava muito relacionada ao sucesso
dela.
As quebras dramáticas da economia
capitalista em escala mundial, alcançando de
um só golpe a América e a
Europa, questionam a ideia do progresso
contínuo da humanidade em direção ao
acúmulo de bens materiais.
Crise de 192920
Crise de 192921
A Revista
Responde inteiramente as questões de uma
época que desloca o olhar dos aspectos
políticos para o econômicos.
Aliás, o aspecto econômico não esperou 1929
para invadir o horizonte político.
22
Anos 192023
Os anos 20 são dominados, aqui e ali, por
grandes debates e por grandes decisões de
ordem econômica.
É em 1921 que Lenin afirmar ao engajar a
Rússia na NEP, que o socialismo se define
pelos sovietes mais a eletrificação, e é
durante esses mesmos anos que as relações
internacionais são dominadas (e minadas)
pela questão das reparações de guerra.
Ainda a economia...
1921, Lênin cria a NEP na
Rússia
24
A bolsa e vida25
Os políticos são cada vez mais julgados na
medida de seus sucessos ou fracassos
econômicos, e o cartel das esquerdas, na
França, é julgado por ter sucumbido diante do
muro de dinheiro sobre o qual se alça Raymod
Poincaré, que, ao restabelecer em 1928 o
padrão-ouro para o franco, obtém um triunfo
cujos frutos ele, em seguida, capitalizará no
plano eleitoral.
A bolsa e vida26
Diante da crise, os programas dos governos
definem-se a partir de medidas econômicas
escolhidas. Franklin D. Roosevelt deve sua
eleição em 1932 ao programa do New Deal; a
vitória da Frente Popular deveu-se em parte à
reação contra a política deflacionária
conduzida pela direita de Gaston Doumergue
ou de Pierre Laval.
Ainda a economia...
Franklin D. Roosevelt, 1932, o NewDeal
27
A bolsa e vida28
A economia torna-se o aspecto pelo qual a
sociedade dos anos 20 e 30 se pensa, e é
nesse ambiente que a revista de história
econômica e social de Marc Bloch e Lucien
Febvre vai evoluir como peixe dentro d'água.
O fim de uma era...
A guerra anuncia o fim da Belle Époque para
uma Europa em que percebe as primícias do
declínio ou da decadência
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A decadência do eurocentrismo
Antes da guerra tudo se decidia na Europa.
O discurso eurocêntrico dos historiadores correspondia bem a um mundo unificado pelo capitalismo e dominado por Londres e Paris.
Ao sair da guerra, a Europa estava enfraquecida pela sangria humana que se eleva a vários milhões de mortos, pela destruição material, mas sobretudo pela ascensão de novas potências bem mais dinâmicas, como o Japão e principalmente os Estados Unidos.
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A falência da história-batalha
Esse tipo de história não conseguiu evitar a barbárie
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A falência da história-batalha32
Revoluções Comunistas
A ascensão dos Bolcheviques leva o mundo a uma divisão, os Annalesresolvem apostar em um terceira via francesa que não fosse a dos Italianos e muito menos a dos alemães.
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Surgimento dos regimes
totalitários 34
―O espírito dos anos [19]30‖
Agitação entre os jovens intelectuais;
Crise global, ou crise da civilização
O fim das certezas.
―A revolta exaltava a maior parte da juventudeintelectual.
Revistas novas são lançadas neste momento:Plans (Philipe Lamour); Esprit (EmmanuelMoumier); Combat. L’Homme nouveau, LesCahiers (Jean Pierre Maxence) e L’Ordrenouveau (Raymond Aron e Arnaud Dandieu)
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―O espírito dos anos [19]30‖
―A crise da história não foi uma especifica que
atingisse unicamente a história. Foi e é um
dos aspectos, o aspecto propriamente
histórico, de uma grande crise do espirito
humano.‖ (L. Febvre. Combats pour l’histoire, A. Colin, 1953, p. 26. [Edição em português: Combates pela
história, 2ª ed. Lisboa, Presença, 1985, p. 35])
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A rejeição ao aspecto político
Marc Bloch e Lucien Fevbre, seguindo as
tendências deste momento, também rejeitam
os aspectos econômicos e centram-se nos
aspectos econômicos e sociais;
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Rejeições:
O capitalismo com suas contradições e crises
que resultam em milhões de desempregados
Os regimes totalitários: Fascismo e o nazismo.
Também rejeita a solução da revolução
coletivista (modelo soviético)
É a busca da terceira via
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Novo mundo
No século XX, o mundo mudou em suas
dimensões: diminuição das distâncias,
multiplicação dos contatos, imbricação dos
problemas, choques imperialistas, fim do
eurocentrismo.
As guerras são mundiais – a história se
unificou. E se multiplicou: são civilizações e
não ―a civilização‖;
As transformações materiais se precipitam:
avanço técnico,crises, inflação,crescimento.
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Nova História?
O historiador é lançado no domínio do
econômico-social, que toma o lugar do
político-cultural;
A crise de 29 transformou o Estado capitalista
em empresa de planejamento e a construção
do socialismo também transformou o Estado
em empresa planejadora.
Para os historiadores dos Annales, se houve
mudanças tão profunda, se um novo mundo,
por que não uma nouvelle histoire? (Braudel,
1969)
40
Combates pela História
Lucien Fevbre e Marc Bloch
(Nancy, 22 de julho de
1878 — Saint-Amour, 11
de Setembro de 1956)
Marc Léopold
Benjamim Bloch
(Lyon, 6 de junho de
1886 — Saint-
Didier-de-Formans,
16 de junho de
1944)
Historiador
francês e co-
fundador da
Escola dos
Annales.
41
Marc Bloch
Marc Léopold Benjamim
Bloch (Lyon, 6 de junho de 1886 —
Saint-Didier-de-Formans, 16 de junho de
1944)
Historiador francês e co-fundador da
Escola dos Annales.
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Marc Bloch
Participou da Primeira Guerra na infantaria onde foi ferido e recebeu uma medalha de honra por mérito.
Após a guerra ingressou na Universidade de Estrasburgoonde, em 1936, sucedeu a Henri Hauser na cadeira de história econômica, instituição esta onde conheceu e conviveu com Lucien Febvre com quem fundou em 1929 a revista Annales d'Histoire Économique et Sociale, hoje Annales. Économíes, Sociétés, Civilisations, que foi precursora da Escola dos Annales, [...]
Viria a lutar também na Segunda Guerra Mundial, como militante da resistência francesa (durante a ocupação nazista da França) mas, em junho de 1940, decide fugir vestido de civil, dadas as condições das lutas e de sua saúde.
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Marc Bloch
Considerado o maior medievalista de todos os tempos, foi um dos grandes responsáveis pelas inovações do pensamento histórico, defendendo o abandono de seqüências pouco úteis de nomes e datas e uma maior reflexão dos acontecimentos e seus fatores anteriores e posteriores.
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Marc Bloch
Seu último livro Derrota Estranha, era uma avaliação da derrota francesa a partir da invasão alemã, e seu ativismo é comprovado pois entra para a resistência francesa aos nazistas que ocupavam a França (motivo pelo qual é preso e torturado pela Gestapo e fuzilado em 16 de junho de 1944).
45
Marc Bloch
Na prisão escreve
Apologia da
História, obra essa
inacabada devido à sua
morte. Mesmo
assim, até hoje é
considerada um escrito
clássico sobre o tema.
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François Dosse, A Historia em Migalhas: dos Annales à História
Nova
François Dosse47