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ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL DOM BOSCO Mantenedora da Faculdade de Ciências Econômicas, Administração e da Computação Dom Bosco, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Dom Bosco, da Faculdade de Engenharia de Resende e do Colégio de Aplicação de Resende. Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB Av. Cel. Prof. Antonio Esteves, nº 01, Campo de Aviação – Resende-RJ CEP: 27.523-000 Tel./Fax: (24) 3383 -9000 www.aedb.br

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ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL DOM BOSCO Mantenedora da Faculdade de Ciências Econômicas, Administração e da Computação Dom Bosco,

da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Dom Bosco, da Faculdade de Engenharia de Resende e do Colégio de Aplicação de Resende.

Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB

Av. Cel. Prof. Antonio Esteves, nº 01, Campo de Aviação – Resende-RJ

CEP: 27.523-000 Tel./Fax: (24) 3383 -9000

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Prezado (a) aluno (a)

Seja bem-vindo a disciplina online de Responsabilidade Social Corporativa no

modelo de EAD (ensino à distância). Espera-se que todos possam construir

conhecimentos e saberes para a excelência de sua formação profissional. O sistema de

educação à distância é uma ferramenta possibilitada graças ao desenvolvimento

tecnológico recente. E por se tratar de uma nova maneira de aprender e ensinar, alguns

problemas e dúvidas podem ocorrer durante as aulas. Não se acanhem busquem os

esclarecimentos necessários e bom estudo. Estarei sempre à disposição para atendê-los.

A mobilidade do capital internacional produz efeitos indesejáveis na sociedade

contemporânea. Ao buscar novas opções produtivas que ofereçam vantagens

competitivas aos negócios, as empresas promovem impactos sociais desequilibrando

sistemas amadurecidos. Alguns destes impactos são benéficos para a sociedade enquanto

que outros geram efeitos malefícios de enormes proporções. A cadeira de

Responsabilidade Social Corporativa estuda exatamente o fenômeno dos problemas

decorridos da transnacional idade capitalista, oferecendo material para análise do corpo

discente e criando debates sobre a situação dos atores sociais.

No decorrer do período letivo serão utilizados textos básicos e de apoio fornecidos pelo

tutor, e como meio de desenvolvimento de pesquisas acadêmicas, serão solicitadas

redações sobre assuntos atuais pertinentes a cadeira de Responsabilidade Social

Corporativa. A utilização de chat será uma ferramenta indispensável para a

sistematização e construção dos conhecimentos. Trabalharemos com amplo espaço de

tempo para os debates e participação de todos.

O objetivo é que o discente, até o final do período letivo, tenha uma posição racional do

momento presente de nossa sociedade, e possa identificar, analisar, e propor soluções

para os conflitos entre o capital e a sociedade.

Abraços,

Rafael Roesler

Professor Tutor

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GESTÃO SOCIAL

1. Gestão Social

Pode-se definir Gestão Social como a administração das ações públicas voltadas

para o atendimento das necessidades e demandas da sociedade. São consequências de

agendas políticas e programas de governos quando partem da Administração Pública. A

iniciativa privada pode elaborar também, atividades voltadas para a Gestão Social

através de projetos sociais. Desta forma pode-se concluir que todas ações derivadas do

Estado são públicas, mas nem todas ações públicas originam do Estado.

A verificação da eficácia das ações sociais reside no controle da instituição. A

participação dos atores sociais no acompanhamento do resultado esperado versus

resultado alcançado é determinante na correção dos possíveis desvios. Este

acompanhamento pode ser realizado pelo Estado, com seus meios de fiscalização, e pela

sociedade com o objetivo de elevar o aproveitamento dos recursos empregados.

Volte para seu curso e participe do Fórum "Boas-Vindas" no Bloco Fóruns de

Discussões – Lembro-lhe que sua participação significativa vale ponto.

ANOTAÇÕES:

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GESTÃO SOCIAL

1.1 Fundamentos Teóricos da Gestão Social

A nova ordem econômica mundial impôs diferentes desafios a Administração

Pública. O deslocamento constante e maciço do capital internacional provoca a

necessidade de novos arranjos sociais. O crescimento econômico de uma localidade pode

ser extremamente positivo se o Estado regulamentar, através de Políticas Públicas, a

distribuição de renda para os atores sociais.

Gestão Social e Políticas Públicas

A elaboração de Políticas Públicas, para amenizar os efeitos negativos gerados

pelo capital internacional nas relações sociais cria um formato diferenciado nas ações do

Poder Público. O crescimento populacional desorganizado, decorrente da procura de

melhor qualidade de vida, gera: falta de espaços habitacionais, ineficiência no

atendimento de saneamento básico, piora no atendimento educacional, deterioração do

sistema de saúde pública e outros serviços sociais.

O mesmo ocorre com o esvaziamento social produzido pelo fechamento de organizações.

A falta de recursos e apoio de empresas deixam um vazio financeiro para a sociedade, e

também para os cofres públicos. A retração da arrecadação fiscal afeta diretamente a

qualidade dos serviços comunitários.

Estas alterações abruptas exigem planejamento complexo para viabilizar soluções. A

Gestão Social, com sua abrangência, pode determinar estudos e experiências para a

retomada da normalidade comunitária.

Os administradores públicos precisam flexibilizar seus conceitos e visões sobre a

diversidade e a criatividade na elaboração de sua agenda política. O Gerente Social

(entenda-se Gestor Social) obrigatoriamente tem que trabalhar de forma conjunta e única

com toda a sociedade, sob pena de não atender todas as camadas sociais, e assim,

promover a exclusão dos atores sociais mais carentes, estes normalmente sem voz ativa

na participação de movimentos populares.

Ao elaborar estratégias e planos de ações para melhorar os indicadores de qualidade de

vida, o Gestor Público está, em outras palavras, desenvolvendo Políticas Públicas. As

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principais ações que podem ser tomadas pelos Gestores Sociais são: redefinir o papel do

Estado, identificar necessidades da comunidade, implementar ações públicas, analisar

resultados em termos de eficiência e eficácia das ações, promover correção de desvios, e

integrar as diferentes correntes sociais.

Estas ações realizadas com todos os segmentos da sociedade promovem no setor público

a sua reconstrução, e flexibilização com vistas a atender todas as camadas sociais. Desta

forma, o que se busca na verdade é a melhor distribuição de renda, via setor público, para

os atores sociais menos favorecidos.

Gestão Social e Desenvolvimento Local

O crescimento econômico de uma determinada região impulsionado pelo

capitalismo internacional necessita de regulamentações legais para que beneficie toda a

estrutura social. Este crescimento sem a divisão justa da riqueza produzida, tem como

consequência o acúmulo financeiro por uma pequena parcela da população, gerando

graves distorções sociais.

O Gestor Social precisa elaborar dispositivos jurídicos para que a riqueza construída seja

transformada em benefícios para todos os atores sociais envolvidos no processo. Estes

dispositivos precisam ser estabelecidos de forma que não sejam onerados os capitais

produtivos e nem sobre taxados os produtos, para se evitar o bloqueio ao crescimento

econômico. Estas medidas necessitam de um amplo debate junto à sociedade.

A Gestão Social tem como foco principal a busca por soluções que potencializem

os investimentos públicos e privados, de maneira a distribuir a riqueza gerada entre todos

os envolvidos. Esta distribuição democrática é a característica básica do desenvolvimento

social e econômico de uma localidade, região ou país. Entre as muitas iniciativas tem-se:

a reforma tributária; o incentivo a formalização profissional; o incentivo

ao investimento produtivo; o incentivo a maior participação do Terceiro Setor em áreas

de difícil atuação eficaz do Estado; a melhoria dos índices educacionais; adequação da

cobertura social; e a eliminação do capital especulativo.

Uma das características do desenvolvimento econômico é a participação dos atores

sociais na elaboração das estratégias, nos processos decisórios e na implementação das

Políticas Públicas ajustadas.

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Verifica-se que a questão social tem caráter relevante no desenvolvimento local,

legando ao segundo plano os investimentos financeiros. As ações do público em geral é

que possuem os valores determinantes para o estabelecimento de Políticas Sociais

eficazes para a valorização do capital humano, social e cultural. Sabe-se que a

maximização das potencialidades, oportunidades e vantagens comparativas de cada

localidade é que determinam o desenvolvimento local. Assim pode-se afirmar que o

efetivo desenvolvimento social e econômico de uma sociedade nasce com a participação

de todos os atores sociais e não apenas de uma elite financeira, sendo que o início de todo

o processo depende diretamente das ações do Gestor Social, estimulando a prática

corporativa social de todos os cidadãos.

Clique no seguinte link e faça uma leitura : Gestão Social: Um Conceito em construção

Volte para seu curso e participe do Fórum "Fundamentos Teóricos da Gestão

Social" no Bloco Fóruns de Discussões – Lembro-lhe que sua participação significativa

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GESTÃO SOCIAL

1.2 Modernas Concepções das Organizações Sociais

Diversos trabalhos acadêmicos enfatizam a importância de novas instâncias de

participação e a mobilização da sociedade civil na concretização de um Estado

democrático. Espaços públicos como o orçamento participativo, conselhos gestores,

fóruns temáticos, organizações não-governamentais e movimentos sociais, entre outros,

são preciosos exemplos do avanço da sociedade civil e do Estado.

Conforme definição do Ministério do Planejamento Organização Social é uma

qualificação dada às entidades privadas sem fins lucrativos (associações, fundações ou

sociedades civis), que exercem atividades de interesse público, certificadas pelo Governo

Federal através da Lei número 9.637 de 18/05/1998. Estados e Municípios podem e

devem editar normas especificas sobre suas conveniências para disciplinar esta matéria.

As Organizações de alcance social geralmente são direcionadas para o ensino,

pesquisa científica e tecnológica, cultura, áreas diversas relacionadas à saúde, e a

preservação e educação ambiental. Estas atividades são complementares as realizadas

pelo setor público, porém com destacada melhoria no grau de eficiência. Estas

organizações podem receber repasse dos governos municipais, estaduais e federal desde

que atendam os pressupostos legais de controle orçamentário e resultados, inclusive com

ação direta do Tribunal de Contas sobre os valores recebidos.

Para atender os novos preceitos administrativos, as Organizações Sociais precisam ter

bem definidos os objetivos de seus projetos. A base objetiva do Poder Público para a

implementação e incentivo às atividades voluntárias são:

Econômica – aumento da capacidade de investimento do Estado em áreas

essenciais, e redução do déficit público;

Política – ampliação da participação popular nos processos decisórios; e

Social – melhor atendimento às camadas sociais mais necessitadas.

A expansão dos serviços oferecidos pelas organizações beneficentes e socialmente

organizadas não deve reduzir o Estado a mero gerenciador de entidades não-

governamentais. Quando o atendimento voluntário for ineficiente o Estado tem que

reassumir seu papel assegurando aos atores sociais completa cobertura dos serviços

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essenciais. De qualquer forma, a parceria pública – privada vem colhendo bons frutos

em todas as regiões do Brasil.

Clique no seguinte link e faça uma leitura do texto "Gestão Social: uma visão

introdutória." listado no Volume 2: Gestão Social: O que há de novo?

Volte para seu curso e participe do Fórum "Modernas Concepções das Organizações

Sociais" no Bloco Fóruns de Discussões – Lembro-lhe que sua participação significativa

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ANOTAÇÕES:

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GESTÃO SOCIAL

1.3 Terceiro Setor

Defini-se Terceiro Setor como o agrupamento de organizações sem vínculos com

o Estado e que desenvolvem atividades geradoras de bens ou serviços públicos. Um ponto

a ser lembrado é que estas atividades não substituem as obrigações governamentais,

apenas a complementam. O Terceiro Setor caracteriza-se por obter recursos de empresas

e organizações não governamentais. Alguns autores supõem que o Terceiro Setor está a

serviço do Capitalismo Internacional e que tem como pano de fundo o afastamento do

Estado de suas funções para que sua minimização seja utilizada para fins lucrativos

empresariais. Esta proposição precisa de uma profunda análise, pois, até o momento

nenhuma iniciativa, no Brasil ou no exterior, esboçaram tal comportamento.

O cenário de surgimento do Terceiro Setor

As décadas de 1960, 1970, 1980, e 1990 trouxeram um cenário de grandes

alterações sociais, principalmente com a construção da nova ordem econômica mundial.

As inovações tecnológicas reduziram drasticamente o número de empregos em todos os

setores econômicos. Este fenômeno debilitou ainda mais as relações trabalhistas e

produziu um fato novo a competição entre os atores sociais por melhor capacitação

profissional.

No Brasil, nas últimas décadas do século XX, os movimentos campesinos, sindicais, e

estudantis se expandiram exigindo do Estado melhor atendimento para as necessidades

públicas. O setor religioso, por sua vez, direcionava e incentivava seus membros para a

criação de organizações beneficentes. Este novo panorama propiciou o surgimento de um

novo tipo de organização conhecida na época como entidades sem fins lucrativos com

aspectos público e privado. A destinação de capital privado para geração de mais capital

privado pertence ao que se denomina por Primeiro Setor. O desenvolvimento de

atividades públicas custeadas pela Administração Pública são pertinentes ao que se

conhece como Segundo Setor. O novo panorama determinou o aparecimento do Terceiro

Setor; uma situação onde o capital privado se ocupa de ações voltadas para o social.

Esta condição reduziu a participação do Poder Público nos investimentos sociais, que se

demonstraram crescentes, uma vez que uma parcela considerável da população se

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deslocava de sua região de origem na procura de melhor qualidade de vida, observou-se

principalmente o esvaziamento do meio rural e o inchaço das áreas urbanas.

A medida em que o Estado negligencia seu papel de suprir das carências sociais e

promotor do bem-estar social , o meio privado se vê obrigado a deslocar recursos para a

melhoria do ambiente social. Com o passar dos anos a iniciativa privada ocupou o espaço

que deveria pertencer ao Estado.

O Terceiro Setor deve ser visto como um agente do ambiente político-econômico,

interferindo de maneira positiva nas relações entre o Estado e o mercado no que se refere

às questões de melhoria social, emprestando seus modelos de gerenciamentos

organizacionais de sucesso para a gestão de entidades direcionadas à filantropia. A

transformação da sociedade impulsionada com a atuação do Terceiro Setor proporciona

o desenvolvimento coletivo melhorando os indicadores sociais e econômicos.

As Políticas Sociais

Os espaços abandonados pelo Poder Público, sejam por sua inoperância ou por

seu desconhecimento, ampliam a importância das intervenções das organizações do

Terceiro Setor. Um dos motivos para o acerto dos investimentos vem da aplicação de

Políticas Sociais adequadas para cada tipo de necessidade. Observa-se nestes casos que

existe um minucioso planejamento antes do investimento de cada recurso, e desta forma

tornando eficiente toda empreitada. A elaboração de projetos contemplando as reais

necessidades de cada comunidade, a previsão de consumo de recursos, e os possíveis

desvios na implantação, minimizam os riscos de erros.

Outro ponto que merece destaque é a inversão do planejamento das necessidades. As

políticas definidas pelo Poder Público partem de gabinetes e tem origem em planilhas,

gráficos, e quadros. Este meio de elaboração de projetos possuem elevado grau de erro

para contemplar todas as carências comunitárias. O contrário ocorre com projetos

elaborados pela iniciativa privada, que inicialmente buscam a participação do público

alvo para depois serem planejados.

Na década de 1980 algumas iniciativas de participação popular na elaboração de

projetos foram realizadas , porém, os problemas burocráticos emperram a máquina

administrativa pública.

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Verifica-se que as Políticas Sociais discutidas, definidas e planejadas em conjunto com

as comunidades possuem alto índice de acertos por identificar as reais necessidades dos

“clientes”.

Desafios do Terceiro Setor

As empresas que patrocinam as iniciativas das entidades do Terceiro Setor exigem

resultados dos seus investimentos, que só podem ser obtidos com a maximização da

eficiência administrativa. Para alcançar este patamar as instituições ligadas a este setor

precisam superar diversas dificuldades entre elas:

a) Sustentabilidade Financeira – Toda organização necessita de formação de

fundos para custear as atividades. Geralmente estes fundos vem de empresas que

precisam observar o projeto para decidir se patrocinam ou não. A elaboração de um

projeto já consome verbas criando assim um dilema “Só financio um projeto se eu ver

(empresa) versus Só elaboro um projeto se tiver recursos (Terceiro Setor).”

b) Reconhecimento Social – Este desafio decorre da necessidade de aceitação por

parte dos atores sociais, que uma instituição vai a partir do nada deslocar recursos para

melhorar as condições de uma comunidade. Para agilizar este processo é necessária a

transparência administrativa com seus associados, colaboradores, e toda comunidade

envolvida. A continuidade das ações depende da eficiência nos resultados, portanto, a

capacitação e profissionalização dos envolvidos é um meio de fortalecer a imagem e o

caráter social e voluntário da instituição.

c) Objetivos Claros – Definir o foco principal das instituições voluntárias é

extremamente importante para o inicio do “negócio”. A administração de uma

organização do Terceiro Setor não pode subestimar as ações da Administração Pública,

menos ainda exigir que os beneficiados acatem perfeitamente as suas determinações.

Muitas vezes os objetivos entre as instituições e seus “clientes” não são coincidentes,

neste caso o melhor é rediscutir o plano de ação e refazer o planejamento.

A burocracia foi um dos mais relevantes problemas da Administração Pública, chegando

ao absurdo de ser criado um Ministério da Desburocratização no governo do Presidente

João Batista de Figueiredo.

Estas iniciativas são conhecidas como orçamento participativo e significaram um

grande avanço social.

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1.3.1 - Empreendedorismo Social

Empreendedorismo social é um conjunto de ações que beneficiam a comunidade

por organizações sociais sem esperar retorno financeiro pelos atos. As principais

características são: criatividade, atividades inovadoras e forte determinação.

Leia os textos abaixo para melhor compreensão do assunto.

Terceiro Setor e Empreendedorismo Social

Numa palestra há alguns anos, o jornalista Joelmir Betting fez uma brilhante

definição de terceiro setor. Enquanto o primeiro setor se caracteriza pelo uso do bem

público para gerar benefícios públicos, o segundo setor se caracteriza pelo uso do bem

privado para gerar benefícios privados. Pelo raciocínio, o terceiro setor seria o uso de

bens privados para gerar benefícios públicos e, porque não dizer, haveria também o

quarto setor, que seria o uso de bens públicos para gerar benefícios privados (o que

explica muitas coisas que temos visto na política ultimamente). Há aproximadamente 5

anos, eu pedi a meus alunos para escreverem, como trabalho final da disciplina de

empreendedorismo, um Plano de Negócios.

Um grupo de alunos resolveu escrever um plano para a recuperação de uma creche

que atendia mães que não tinham recursos para pagar pelos serviços. Na época eu

rechacei o trabalho dizendo que entidades sem fins lucrativos e empresas eram bastante

diferentes e que o plano de negócios tinha que ser escrito de forma totalmente diferente.

A veemência com que defenderam a idéia me fez prestar mais atenção nos modelos de

negócios do terceiro setor desde então. Hoje eu faço uma idéia diferente do que

normalmente chamam de ONG (Organização Não Governamental), um termo, aliás

totalmente inapropriado pois qualquer empresa do setor privado também é não

governamental, assim ONG seriam todas as organizações do segundo e do terceiro

setores. Talvez o termo mais apropriado seja OSFL (Organização Sem Fins Lucrativos).

E é aí que reside a essência deste tipo de organização, a ausência do lucro como

um fim em si mesmo.

Muitas pessoas confundem ‘sem fins lucrativos’ com ‘sem resultados financeiros’

e são dois conceitos bastante distintos. Com o passar do tempo, as OSFL estão se dando

conta que precisam ser administradas de forma profissional, precisam zelar pelo bom uso

dos recursos que lhes são colocados à disposição, e, mais importante, precisam buscar

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formas de se desvincular da necessidade da doação voluntária de recursos e serviços.

Estas organizações estão cada vez mais procurando formas de garantir sua auto-

sustentabilidade. Em outras palavras, estão tentando fazer dinheiro para conseguir se

manter. Por outro lado, as empresas com fins lucrativos, passada a onda de se definir

declarações de missão e visão de forma artificial e divulgar por todos os cantos da

empresa, estão finalmente aprendendo que é mais importante entender o significado e o

objetivo de sua missão e visão do que simplesmente decorar a declaração. Neste processo

de amadurecimento, algumas estão descobrindo que o objetivo final da empresa não é

necessariamente gerar valor para o acionista na forma de lucros financeiros. O acionista

agora está sendo visto como uma entidade necessária para prover os recursos a serem

usados para um fim maior da empresa, que acaba resvalando para algum tipo de benefício

para a sociedade.

As novas declarações de missão e visão estão começando a refletir estes novos

valores. Nas relações entre representantes do segundo e do terceiro setores, os objetivos

também estão começando a evoluir. Cada vez menos as empresas estão dispostas a doar

dinheiro para causas sociais apenas para colocar alguma coisa em seus relatórios de

balanços sociais. Elas estão procurando alinhar causas sociais à sua missão e valores. Da

simples doação de recursos, estão aproximando suas competências e seus modelos de

negócio para atender a comunidade a que servem. As empresas que fazem isso com

maior sucesso são aquelas que pouco conseguem diferenciar quais das suas ações são de

negócio e quais são sociais. Vamos falar um pouco sobre a diferença entre dono e

investidor. Quando uma empresa abre o seu capital ela visa, primordialmente, a captação

de recursos externos. Neste ponto, o dono passa a ter sócios investidores,

que são os acionistas.

Apesar de ambos, numa primeira instância, visarem o lucro, enquanto o dono

quer manter o seu negócio no longo prazo, os acionistas são mais volúveis, na primeira

turbulência retiram o seu capital e o levam para outros negócios mais promissores, a

maioria não mantém uma relação de fidelidade. Uma parte dos resultados financeiros é

re-investida na empresa e outra parte é distribuída entre o dono e os acionistas. No

terceiro setor, as organizações também precisam de investidores, que, neste caso, não

visam o lucro e por isso são melhor designados como doadores ou patrocinadores. Não

há nenhum problema se a entidade usar estes recursos para criar negócios que gerem

receita suficiente para ela não mais depender destes doadores. Seria como se os

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resultados financeiros fossem, parte re-investidos na empresa e parte distribuída entre os

investidores que por sua vez investiriam na empresa novamente. Se você está entendendo

a minha linha de raciocínio já deve ter percebido que o que quero demonstrar é que a

única diferença entre organizações do segundo e do terceiro setor é o que ambas fazem

com o lucro que geram.

O resto é ou será absolutamente a mesma coisa. Enquanto as empresas privadas

distribuem seus lucros para os acionistas, as OSFL revertem os lucros para a comunidade

na forma de novos investimentos para que aumentem a abrangência dos benefícios

sociais propostos e que garantam sua sustentabilidade no longo prazo. Bem, eu lembrei

de escrever sobre isto porque há uma semana, quando um aluno me perguntou qual a

diferença de escrever um plano de negócios para o terceiro setor, me lembrei daquele

grupo de alunos que reprovei e, fazendo um humilde ‘mea culpa’ aqui publicamente,

afirmo: ‘Não há diferença alguma!!’.

Extraído de: HASHIMOTO, Marcos; De Avó, M. R. e Silva, L. I. Relevance of

intrapreneurship in SMB: the influence of agency conflicts and institutionalized

practices, United States Association of Small Business and Entrepreneurship Annual

Conference Proceedings, San Antonio, TX, EUA, Janeiro, 2008

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ANOTAÇÕES:

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GESTÃO SOCIAL

1.4 Empreendedorismo social no Brasil: atual configuração, perspectivas e desafios

– notas introdutórias.

Resumo:

No presente artigo, procuramos apresentar os principais elementos introdutórios

ao tema empreendedorismo, tomando como exemplo a realidade brasileira. Partimos da

constatação de que o empreendedorismo social emerge no cenário dos anos 1990, ante a

crescente problematização social, a redução dos investimentos públicos no campo social,

o crescimento das organizações do terceiro setor e da participação das empresas

no investimento e nas ações sociais. Atualmente, o empreendedorismo social se

apresenta como um conceito em desenvolvimento, mas com características teóricas,

metodológicas e estratégicas próprias, sinalizando diferenças entre uma gestão social

tradicional e uma empreendedora. É o que procuramos apresentar, mesmo que

sinteticamente e de forma introdutória, a partir dos principais conceitos, nacionais e

internacionais, e de um exemplo típico brasileiro e de impacto global: as sensíveis

diferenças entre empreendedorismo social e outros conceitos, como responsabilidade

social empresarial e empreendedorismo privado. Finalizando, apontamos algumas

características de entendimento do empreendedorismo social no Brasil, bem como alguns

elementos sobre os desafios e possibilidades dessa nova forma e paradigma de gestão

social que se apresenta como emergente e de grande poder de transformação social no

cenário de um Brasil paradoxal, com muitos problemas, mas repleto de possibilidades.

Palavras-chave: empreendedorismo social; gestão social; terceiro setor.

Abstract

The present article aims at showing the entrepeneurism main introductory elements

based on the Brazilian reality. We started by ascertaining that the social entrepeneurism

emerged in the 90s due to social problems, decreased social public investments, third

sector organization growth and company participation in the social sector investments

and actions. Nowadays, the social entrepeneurism is a developing concept with its own

theoretical, methodological and strategic characteristics, showing differences between

traditional and entrepreneur-like social management.

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Based on main international and national concepts and on a typical Brazilian example

with a global impact we attempt to show, even if in a synthetic and introductory way: the

clear differences between social entrepeneurism and other concepts, such as company

social responsibility and private entrepeneurism. Finally, we show some characteristics

of the social entrepeneurism in Brazil, as well as some elements of the challenges and

possibilities of this new form of emerging social management paradigm that has a great

social transformation power in a paradoxical Brazilian scenario full of problems but also

of possibilities.

Key words: social entrepeneurism; social management; third sector.

Introdução

O tema empreendedorismo social é novo em sua atual configuração, mas na sua

essência já existe há muito tempo. Alguns especialistas apontam Luther King, Gandhi,

entre outros, como empreendedores sociais.

Isso foi decorrente de suas capacidades de liderança e inovação quanto às mudanças em

larga escala. Na nossa pesquisa, uma das primeiras constatações foi a pouca bibliografia

sobre o assunto, não somente no Brasil como também no exterior, o que demonstra ser

o tema novo e ainda estar em desenvolvimento. Esse fato gera certo grau de confusão

entre alguns termos que, apesar de parecerem semelhantes no significado, são bem

distintos, como, por exemplo, responsabilidade social e empreendedorismo privado.

Essa confusão, diga-se de passagem, é encontrada, tanto por pesquisadores brasileiros

quanto estrangeiros.

Outra constatação é o fato de, no Brasil, as fontes para embasamento teórico

serem, em muitos casos, de origem estrangeira. Mas, no tocante à prática, já temos alguns

exemplos nacionais com impacto internacional, como é o caso do Comitê de

Democratização da Informática - CDI, de Rodrigo Baggio, no Rio de Janeiro. Tais

constatações nos levam a crer que o Brasil não se diferencia em relação a outros países

quanto à definição do que seja empreendedorismo social. Já temos, inclusive, exemplos

concretos que podem sinalizar um padrão específico que distingue o empreendedorismo

social de outros termos e práticas relativamente similares. Logo, e considerando o espaço

e objetivo deste artigo, apresentamos, em um primeiro momento, os principais conceitos

mais em voga, tanto na visão internacional como na nacional sobre o significado de

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empreendedorismo social na atual conjuntura. Em um segundo momento, abordamos o

que consideramos como tênues diferenças entre dois principais termos, que regularmente

apresentam certa similitude e até confusão com o empreendedorismo social:

responsabilidade social empresarial e empreendedorismo privado. Em um terceiro,

tratamos de um dos casos mais exemplares de empreendedorismo social nacional, mas

com impacto e notoriedade internacionais. Em um quarto momento, descrevemos os

principais traços do conceito e caracterização do empreendedorismo social, bem como

uma síntese de seu significado e fundamentação. Em um quinto, apresentamos em linhas

gerais os principais desafios e possibilidades do empreendedorismo social no Brasil,

algumas considerações finais e sugestões quanto ao conhecimento sistematizado em

nossa investigação. Com isso, esperamos contribuir para uma introdução mais

sistematizada e contextualizada sobre o tema e ampliar o debate.

Metodologia

Trata-se do resultado de uma pesquisa qualitativa, multicaso, tipo exploratória.

Foi feito um estudo descritivo de oito organizações consideradas típicas e exemplares

em relação ao conceito e prática do empreendedorismo social, destacando-se entre elas:

Academia Social de Recife-CE, Comitê de Democratização da Informática - CDI do Rio

de Janeiro e Ashoka de São Paulo. Por intermédio da Ashoka, conseguimos contactar

quatro organizações da rede de empreendedores.

Destas, três se submeteram ao preenchimento de um questionário semi-

estruturado. E, dessas três, uma permitiu que realizássemos um estudo de caso em

profundidade. Tais fontes permitiram extrair os principais fundamentos, que

delimitamos em: ontológicos, gnoseológicos, epistemológicos e das estratégias de gestão

dos empreendimentos sociais realmente empreendedores. Os dados foram

sistematizados e, com o auxílio de software de pesquisa, fizemos a análise léxica e

qualitativa dos principais dados. A seguir, apresentamos uma pequena parte desses dados

como introdução à presente temático.

O atual entendimento sobre empreendedorismo social

Em nossa investigação, verificamos que parte da pouca bibliografia sobre o assunto tem

como fontes artigos e trabalhos produzidos por outros países. Ao analisarmos as

organizações e suas propostas, podemos destacar algumas delas que têm influenciado a

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Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 19

disseminação do conceito e da prática do empreendedorismo social: School Social

Entrepreneurship - SSE, UK - Reino Unido, Canadian Center Social Entrepreneurship -

CCSE, Canadá; Foud Schwab, Suíça; e The Institute Social Entrepreneurs - ISE, Estados

Unidos. No quadro 1, sintetizamos os principais entendimentos sobre empreendedorismo

social.

No que se refere aos conceitos difundidos no Brasil, podemos verificar uma certa

semelhança, que encontramos a partir de fontes diversas, tais como: dissertações, artigos,

livros. Vejamos no quadro 2 uma amostra de algumas citações catalogadas no decorrer

da referida investigação.

QUADRO 1 - CONCEITOS SOBRE EMPREENDEDORISMO SOCIAL - VISÃO

INTERNACIONAL

ORGANIZACAO ENTENDIMENTO

School Social Entrepreneurship

- SSE, Uk-Reino Unido

"É alguém que trabalha de uma maneira empresarial,

mas para um público ou um benefício social, em lugar

de ganhar dinheiro. Empreendedores sociais podem

trabalhar em negócios éticos, órgãos governamentais,

públicos, voluntários e comunitários [...]

Empreendedores sociais nunca dizem 'não pode ser

feito'."

Canadian Center Social

Entrepreneurship - CCSE,

Canadá

"Um empreendedor social vem de qualquer setor, com

as características de empresários tradicionais de visão,

criatividade e determinação, e empregam e focalizam

na inovação social [...] Indivíduos que [...] combinam

seu pragmatismo com habilidades profissionais,

perspicácias."

Foud Schwab, Suíça "São agentes de intercambiação da sociedade por meio

de: proposta de criação de idéias úteis para resolver

problemas sociais, combinando práticas e

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Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 20

conhecimentos de inovação, criando assim novos

procedimentos e serviços; criação de parcerias e

formas/meios de auto-sustentabilidade dos projetos;

transformação das comunidades graças às associações

estratégicas; utilização de enfoques baseados no

mercado para resolver os problemas sociais;

identificação de novos mercados e oportunidades para

financiar uma missão social. [...] características

comuns aos empreendedores sociais: apontam idéias

inovadoras e vêem oportunidades onde outros

não vêem nada; combinam risco e valor com critério e

sabedoria; estão acostumados a resolver problemas

concretos, são visionários com sentido prático, cuja

motivação é a melhoria de vida das pessoas, e

trabalham 24 horas do dia para conseguir seu objetivo

social."

The Institute Social

Entrepreneurs - ISE, EUA

"Empreendedores sociais são executivos do setor sem

fins lucrativos que prestam maior atenção às forças do

mercado sem perder de vista sua missão (social) e são

orientados por um duplo propósito: empreender

programas que funcionem e estejam disponíveis às

pessoas (o empreendedorismo social é base nas

competências de uma organização), tornando-as

menos dependentes do governo e da caridade."

Ashoka, Estados Unidos "Os empreendedores sociais são indivíduos

visionários que possuem capacidade empreendedora e

criatividade para promover mudanças sociais de longo

alcance em seus campos de atividade. São inovadores

sociais que deixarão sua marca na história."

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Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 21

Erwing Marion, Kauffman

Foundation

"Empreendimentos sem fins lucrativos são o

reconhecimento de oportunidade de cumprimento de

uma missão para criar e sustentar um valor social, sem

se ater exclusivamente aos recursos."

FONTE: Oliveira (2004)

QUADRO 2 - CONCEITOS SOBRE EMPREENDEDORISMO SOCIAL - VISÃO

NACIONAL

AUTOR CONCEITO

Leite (2002 “O empreendedor social é uma das espécies do gênero dos

empreendedores. [...] São empreendedores com uma missão social,

que é sempre central e explícita.”

Ashoka

Empreendedores

Sociais e

Mackisey e Cia.

INC (2001)

“Os empreendedores sociais possuem características distintas dos

empreendedores de negócios. Eles criam valores sociais pela

inovação, pela força de recursos financeiros em prol do

desenvolvimento social, econômico e comunitário. Alguns dos

fundamentos básicos do empreendedorismo social estão

diretamente ligados ao empreendedor social, destacando-se a

sinceridade, paixão pelo que faz, clareza, confiança pessoal,

valores centralizados, boa vontade de planejamento, capacidade de

sonhar e uma habilidade para o improviso.”

Melo Neto e Froes

(2001)

“Quando falamos de empreendedorismo social, estamos buscando

um novo paradigma.O objetivo não é mais o negócio do negócio

[...] trata-se, sim, do negócio do social, que tem na sociedade civil

o seu principal foco de atuação e na parceria envolvendo

comunidade, governo e setor privado, a sua estratégia.”

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Rao (2002 “Empreendedores sociais, indivíduos que desejam colocar suas

experiências organizacionais e empresariais mais para ajudar os

outros do que para ganhar dinheiro.”

Rouere e Pádua

(2001)

) “Constituem a contribuição efetiva de empreendedores sociais

inovadores cujo protagonismo na área social produz

desenvolvimento sustentável, qualidade de vida e mudança de

paradigma de atuação em benefício de comunidades menos

privilegiadas.”

FONTE: Oliveira (2004)

A partir dessa primeira aproximação, fica nítido que tanto nacional quanto

internacionalmente o conceito está em construção. Apesar disso, essa amostra nos

possibilita perceber que há certa similitude quanto à compreensão da origem e

estreitamento do empreendedorismo social com a lógica empresarial, fator este

influenciado pela crescente participação das empresas no enfrentamento dos problemas

sociais. Essa relação próxima e até histórica tem diferenças significativas, que nos

auxiliam a compreender e melhor definir o que seja empreendedorismo social na

atualidade, se não de forma definitiva, bem mais próxima e específica. A seguir,

apresentamos o que chamamos de diferenças tênues em relação a dois outros conceitos

historicamente próximos – responsabilidade social empresarial e empreendedorismo

empresarial – mas, como mostraremos, distintos.

Tênues diferenças, mas que fazem diferença

Antes de dizermos o que é empreendedorismo social, vamos, inicialmente,

explicar o que não é empreendedorismo social. O empreendedorismo social não é

responsabilidade social empresarial, pois esta supõe um conjunto organizado e

devidamente planejado de ações internas e externas, e uma definição centrada na missão

e atividade da empresa, ante as necessidades da comunidade. Não é uma profissão, pois

não é legalmente constituída, não havendo formação universitária ou técnica, nem

conselho regulador e código de ética profissional legalizado; não é também uma

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organização social que produz e gera receitas, a partir da venda de produtos e serviços,

e muito menos é representado por um empresário que investe no campo social, o que

está (2002, p.40), “[...] a solidariedade que produz ajuda mais próximo da

responsabilidade social empresarial, assistencialista representa fantástico processo de ou,

quando muito, da filantropia e da caridade imbecilização”. Os quadros 3, 4 e 5 fazem

comparativos empresarial, que já se mostraram inadequadas, não entre os principais

pontos que diferem e, ao mesmo somente para os “ajudados”, mas também para os

tempo, apresentam certa semelhança com o negócios e para a sociedade, pois, como

enfatiza Demo empreendedorismo social.

QUADRO 3 - DIFERENÇAS ENTRE EMPREENDEDORISMO EMPRESARIAL

E EMPREENDEDORISMO SOCIAL

EMPREENDEDORISMO EMPRESARIAL EMPREENDEDORISMO SOCIAL

1. É individual 1. É coletivo

2. Produz bens e serviços 2. Produz bens e serviços à comunidade

3. Tem o foco no mercado 3. Tem o foco na busca de soluções para

os

problemas sociais

4. Sua medida de desempenho é o lucro 4. Sua medida de desempenho é o

impacto social

5. Visa a satisfazer necessidades dos clientes

e a ampliar as potencialidades do negócio

5. Visa a respeitar pessoas da situação

de risco social e a promovê-las

FONTE: Adaptado de Melo Neto e Froes (2002, p.11)

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QUADRO 4 - ORGANIZAÇÕES SOCIAIS TRADICIONAIS E

EMPREENDEDORAS

TRADICIONAIS EMPREENDEDORAS

1. Hierarquia 1. Time/trabalho orientado

2. Controle centralizado 2. Descentralização/empowerment

3. Foco no que é melhor para a organização 3. Foco no que é melhor para o cliente

4. Ênfase nos programas 4. Ênfase no centro de competências

5. Dependente de recursos 5. Financeiramente auto-suficiente

6. Tentativa de ser todas as coisas para todas as

pessoas

6. Nicho orientado

FONTE: Adaptado de Thalhuber (2002)

QUADRO 5 - CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL,

RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E EMPREENDEDORISMO

PRIVADO

EMPREENDEDORISMO

PRIVADO

RESPONSABILIDADE

SOCIAL

EMPRESARIAL

EMPREENDEDORISMO

SOCIAL

É individual É individual com possíveis

parcerias

É coletivo e integrado

Produz bens e serviços para

o mercado

Produz bens e serviços para

si e para a comunidade

Produz bens e serviços para a

comunidade, local e global

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Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 25

Tem o foco no mercado Tem o foco no mercado e

atende à comunidade

conforme sua missão

Tem o foco na busca de

soluções para os problemas

sociais e necessidades da

comunidade

Sua medida de desempenho

é o lucro

Sua medida de

desempenho é o retorno

aos envolvidos no processo

stakeholders

Sua medida de desempenho

são o

impacto e a transformação

social

Visa a satisfazer

necessidades dos clientes e

a ampliar as potencialidades

do negócio

Visa a agregar valor

estratégico ao negócio e a

atender expectativas do

mercado e da

percepção da

sociedade/consumidores

Visa a resgatar pessoas da

situação de risco social e a

promovê-las, e a gerar

capital social, inclusão e

emancipação social

FONTE: Adaptado de Melo Neto e Froes (2002)

A investigação realizada sobre o assunto permitiu fazer esses comparativos e

também captar um entendimento mais específico acerca do significado e formatação do

empreendedorismo social brasileiro, o que pode ficar mais claro a partir da apresentação

de um caso exemplar, que hoje é modelo nacional e internacional e talvez um dos que

melhor explicitam a nova perspectiva do empreendedorismo social.

Essa análise pode ser complementada observando-se o perfil do empreendedor social

(quadro 6).

QUADRO 6 - PERFIL DO EMPREENDEDOR SOCIAL

CONHECIMENTOS HABILIDADES COMPETÊNCIAS POSTURAS

Saber aproveitar as

oportunidades

Ter visão clara Ser visionário

Ter senso de

Ser inconformado

e

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Ter competência

gerencial

Ser pragmático e

responsável

Saber trabalhar de

modo

empresarial para

resolver

problemas sociais

Ter iniciativa

Ser equilibrado

Ser participativo

Saber trabalhar em

equipe

Saber negociar

Saber pensar e agir

estrategicamente

Ser perceptivo e

atento

aos detalhes

Ser ágil

Ser criativo

Ser crítico

Ser flexível

Ser focado

Ser habilidoso

Ser inovador

Ser inteligente

Ser objetivo

responsabilidade

Ter senso de

solidariedade

Ser sensível aos

problemas

sociais

Ser persistente

Ser consciente

Ser competente

Saber usar forças

latentes e

regenerar forças

pouco

usadas

Saber correr riscos

calculados

Saber integrar vários

atores

em torno dos

mesmos

objetivos

Saber interagir com

diversos

segmentos e

interesses dos

diversos setores da

sociedade

Saber improvisar

Ser líder

indignado com a

injustiça

e desigualdade

Ser determinado

Ser engajado

Ser comprometido

e leal

Ser ético

Ser profissional

Ser transparente

Ser apaixonado

pelo que

faz (campo social)

FONTE: Oliveira (2004)

Esses dados sobre o perfil do empreendedor social foram elaborados com base na

catalogação das várias fontes de pesquisas, já nomeadas, e na entrevista com

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empreendedores sociais brasileiros, que vivenciam, e não só teorizam sobre o assunto.

Os dados podem sinalizar um super-homem, ou uma supermulher, mas de fato, se

refletirmos, os indicadores não são tão excepcionais, pois essas características são

necessárias em qualquer área em que se queira fazer diferença e ir além do trivial. Tais

características do perfil do empreendedor social não ficam tão distantes, quando

podemos verificar que, na prática, já podemos ver esses elementos de forma concreta e

sendo expressas em ações. São numerosos exemplos, que podem ser analisados a partir

da consulta a algumas organizações como a Ashoka (www.ashoka.org.br) ou a Foud

Schwab (www.foudschwab.org). No momento, destacamos o caso do CDI, no Rio de

Janeiro, que hoje está em várias partes do Brasil e do mundo, fato este que o faz ser o

exemplo presente dos futuros empreendimentos na lógica do empreendedorismo social,

como veremos a seguir.

Um exemplo brasileiro de empreendedorismo social

Em 1994, Rodrigo Baggio, um jovem profissional da área de educação em

informática, percebeu que a tecnologia da informação poderia ser uma grande ferramenta

para lutar contra a exclusão social. Primeiramente, criou um link para unir jovens de

todas as classes sociais, o JovemLink. Notou, porém, que só os que tinham computador

acessavam a rede. Verificou que era necessário levar a tecnologia ao “outro lado da

fronteira digital”. Assim, criou a primeira escola de informática na favela de Dona Marta,

no subúrbio do Rio de Janeiro, e deu os primeiros passos para a criação, em 1995, do

Comitê de Democracia da Informática CDI, uma organização não-governamental, cuja

missão é “promover a inclusão social utilizando a tecnologia da informação como um

instrumento para a construção e exercício da cidadania”. Com sede no Rio de Janeiro,

hoje está construída e consolidada uma rede de Escolas de Informática e Cidadania -

EIC, de forma autônoma e auto-sustentável. São cerca de 789 escolas, com atuação em

âmbito nacional, em 38 cidades e 20 estados. Nelas, foram capacitadas 461.440 crianças

e jovens. Internacionalmente, está distribuída em cerca de 10 países. O CDI mantém uma

vasta rede de parceiros para dinamizar suas atividades, nacionais e internacionais,

destacando-se entre eles: BNDES, Fundação W. K. Kellogg, BID, Banco Mundial,

Xerox, Fundação EDS. Devido aos resultados, esse projeto é considerado pela ONU

como de impacto e de exemplo mundial, pois pode ser aplicado em vários lugares e

alcançar, a um baixo custo, resultados significativos de inclusão não só digital, mas

também social e de exercício da cidadania.

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Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 28

Afinal, o que é empreendedorismo social?

Considerando o que apresentamos até o momento, já é possível destacar algumas

características que nos aproximam da resposta deste item. Primeiramente, é possível

distinguir dois tipos de organizações que, atualmente, disseminam o conceito e a prática

do empreendedorismo social. Uma opera como sustentadora, capacitadora e divulgadora,

como é o caso da Ashoka, no exterior e no Brasil, e da Foud Schwab, na Suíça. Além de

recrutarem e manterem por algum tempo o sustento pessoal e técnico do empreendedor

social, abrem espaços e ações de disseminação teórica, com livros, artigos, sites, cursos,

encontros, rede de contato, entre outros. Atuam, portanto, em um nível estratégico e

tático. Um segundo tipo de organização é o que opera na intervenção local, atual, em um

nível operacional, executando e aprimorando os conhecimentos técnicos de gestão e

inovação no campo social.

O CDI é uma ONG que tem com o missão “promover a inclusão social utilizando a

tecnologia da informação como um instrumento para a construção e exercício da

cidadania”

Não estamos fazendo, com isso, uma divisão entre grupos pensantes e grupos

operantes, muito ao contrário, ambos necessitam um do outro para se alimentar. Essa

característica é típica de projetos de empreendedorismo social que não abrem mão do

teórico, do técnico, mas são, como afirmam Melo Neto e Froes (2001), “pragmáticos

responsáveis”, isto é, não despendem tempo em grandes e infindáveis elucubrações

teorizantes, que servem mais para o prazer e ego acadêmicos do que para serem úteis à

sociedade em si.

Nesse sentido, observamos que se trata, antes de tudo, de uma ação inovadora

voltada para o campo social cujo processo se inicia com a observação de determinada

situação-problema local, para a qual se procura, em seguida, elaborar uma alternativa de

enfrentamento. Observamos também que essa idéia tem de apresentar algumas

características fundamentais, tais como:

1.º) ser inovadora;

2.º) ser realizável;

3.º) ser auto-sustentável;

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Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 29

4.º) envolver várias pessoas e segmentos da sociedade, principalmente a população

atendida;

5.º) provocar impacto social e permitir que seus resultados possam ser avaliados.

Os passos seguintes são: colocar essa idéia em prática, institucionalizar e gerar um

momento de maturação até que seja possível a sua multiplicação por outras localidades,

criando, assim, um processo de rede de atendimento ou de franquia social, até se tornar

política pública.

No exemplo do CDI, nós encontramos todos esses elementos:

1.º) é uma idéia inovadora, nunca antes realizada;

2.º) é uma idéia agora realizada;

3.º) tornou-se auto-sustentável;

4.º) envolveu várias pessoas e segmentos da sociedade (principalmente a população

atendida);

5.º) provocou impacto social, local e global, e os seus resultados e o retorno do

investimento aplicado podem ser avaliados;

6.º) foi multiplicada e aplicada em outras regiões e até em outros países;

7.º) transformou-se em política pública.

Nesse sentido, e de forma mais específica, o empreendedorismo social pode ser

considerado como:

• Um novo paradigma de intervenção social, pois apresenta um novo olhar e leitura

da relação e integração entre os vários atores e segmentos da sociedade.

• Um processo de gestão social, pois apresenta, como vimos, uma cadeia sucessiva

e ordenada de ações, que pode ser resumida em três fases: a) concepção da idéia; b)

institucionalização e maturação da idéia; c) multiplicação da idéia. O que é semelhante

ao processo da metamorfose da lagarta, que entra no casulo e sai borboleta. Foi a partir

dessa analogia que criamos um projeto de extensão chamado “Casulo Sociotecnológico”.

Esse projeto está em andamento, é um projeto de extensão universitária realizado em

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parceria com a Associação Comercial e Industrial de Toledo -Acit e visa a colocar em

prática os princípios e as estratégias do empreendedorismo social.

• Uma arte e uma ciência. Uma arte porque permite a cada empreendedor aplicar

as suas habilidades e aptidões e, por que não, seus dons e talentos, sua intuição e

sensibilidade na elaboração do processo do empreendedorismo social. Uma ciência

porque utiliza meios técnicos e científicos para ler, elaborar/planejar e agir sobre e na

realidade humana e social.

• Uma nova tecnologia social, pois sua capacidade de inovação e de empreender

novas estratégias de ação faz com que sua dinâmica gere outras ações que afetam

profundamente o processo de gestão social, já não mais assistencialista e mantenedor,

mas empreendedor, emancipador e transformador.

• Um indutor de auto-organização social, pois não é uma ação isolada, mas, ao

contrário, necessita da articulação e participação da sociedade para se institucionalizar e

apresentar resultados que atendam às reais necessidades da população, tendo de ser

duradouro e de alto impacto social. Não é privativo, pois a principal característica e a

possível multiplicação da idéia/ação partem de ações locais, mas sua expansão é para o

impacto global. Dessa forma, é um sistema dentro de um maior, que é a sociedade,

gerando mudanças significativas a partir do processo de interação, cooperação e estoque

elevado de capital social. Como ressaltam Melo Neto e Froes (2001, p.31) “O processo

de empreendedorismo social exige, principalmente, o redesenho de relações entre

comunidade, governo e setor privado, que se baseia no modelo de parcerias”, tendo como

principal objetivo (2001, p.11 e 12) “[...] retirar pessoas da situação de risco social e [...]

o foco é nos problemas sociais, e o objetivo a ser alcançado é a solução a curto, médio e

longo prazos destas questões [...] buscando propiciar-lhes plena inclusão social”.

Perspectivas para o empreendedorismo social no Brasil

Como podemos verificar, o empreendedorismo social não se constitui de um

“passe de mágicas”, mas de uma ação que requer, acima de tudo, a capacidade

coordenada das pessoas, mesmo que isso se inicie, primeiramente, por uma pessoa. Logo,

e como sugestão, podemos sinalizar as perspectivas em duas direções: desafios e

possibilidades.

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Quanto aos desafios, seriam dois os principais:

a) criar capital social, que é base para elaboração e sucesso das ações do

empreendedor social.Considerando o histórico de cultura individualista em nossa

sociedade, ou do estilo “o que eu vou ganhar fazendo isso?”, ou da vaidade dos gestores,

das organizações públicas, privadas e do terceiro setor, em que prevalece a cultura do

tipo, “minhas crianças”, “meus pobres”, cremos que gerar capital social é, hoje, um dos

grandes desafios para os empreendimentos sociais;

b) empoderamento dos sujeitos do processo, ou seja, quebrar o discurso do “só

tenho direito e não tenho nada de deveres” e fazer com que as pessoas, principalmente

as excluídas e marginalizadas, tenham uma postura de cidadãs e não de vítimas e

comecem a fazer a sua parte sem esperar um “salvador da pátria”, o que em uma cultura

do “me-dá-me-dá” não é uma tarefa muito fácil. É preciso fortalecer o caminhar juntos,

pois, como ressalta Maturana (1997, p.206), “[...] ser social envolve sempre ir com o

outro, e só se vai livremente com quem se ama”.

Quanto às possibilidades, destacamos as seguintes:

a) gera dinamismo e objetividade;

b) gera resultados sociais de impacto;

c) cria capital social e empoderamento;

d) resgata a auto-estima e a visão e futuro;

e) é dinâmico, cativa e motiva as pessoas ao engajamento cívico;

f) tem ênfase na geração de novos valores e mudança de paradigmas;

g) tem na inovação, na criatividade e na cooperação os pilares de suas ações. No médio

e longo prazos, irá influenciar radicalmente a elaboração e execução de projetos sociais,

que deverão, cada vez mais, apresentar, como nos negócios empresariais, propostas que

demonstrem efetividade, eficiência e eficácia quanto à aplicação dos recursos

solicitados, além de apresentar maneiras de aferir os resultados de forma clara e

transparente.

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Considerações finais

Procuramos apresentar dados e informações básicas sobre o empreendedorismo

social no Brasil. O título, apesar de pretensioso, trata-se, antes de tudo, da apresentação

de parte dos resultados de uma pesquisa qualitativa e estudo multicaso sobre

organizações e profissionais que estão vivenciando a construção histórica de um novo

modo de gestão social, que recusa a lógica da filantropia, da caridade e do

assistencialismo, que mais serviram para aplacar a consciência dos “ajudadores”, do que

resolver de fato a vida dos “ajudados”, para incorporar uma lógica empreendedora. Ela

busca a inovação de estilo empresarial na solução de problemas e causas sociais,

impactando ações que geram, na prática, mais do que na teoria, a emancipação social, a

inclusão social e o empoderamento dos cidadãos por meio do estoque de capital social e

ações voltadas para o desenvolvimento integrado e sustentável.

Verificamos que esse processo surge da constatação do crescimento das organizações

do terceiro setor, da diminuição do investimento público na questão social e da

participação crescente das empresas no campo social.

Analisamos também que o empreendedorismo social apresenta certa semelhança

com outros termos, tais como responsabilidade social empresarial e o empreendedorismo

privado. No entanto, e como procuramos mostrar, as diferenças, apesar de tênues, são

substanciais, pois o empreendedorismo social atua mais na geração de ações que causem

o impacto local – não restrito a causas específicas e focadas, como é o caso da

responsabilidade social empresarial – e tem como objetivo o resultado coletivo,

diferentemente do empreendedorismo privado. Também apresenta uma característica

inovadora quanto ao modo de ver (paradigma) de sua metodologia (processo), de sua

aplicação e formatação (ciência e arte), e de suas estratégias e impactos (auto-

organização social). Tais fatores e constatações apontam para um novo momento em que

os problemas sociais deixam de ser simples tema de discursos para políticos, objeto de

pesquisa para pesquisadores e lamentação para a sociedade e passam a ser uma causa

comum a todos, o que requer novas formas de agir, pensar e abraçar as alternativas postas

em nosso presente tempo. Como bem afirmam Melo

Neto e Froes (2002, p.15): “Intelectuais, políticos, empresários e pesquisadores sociais

apontam distorções, culpam o governo, criticam as políticas públicas e identificam

gestores e instituições corruptas, ineficientes e ineficazes. Muito se fala e pouco se faz

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de concreto e efetivo. Muitas vezes, o que se fala esconde a inércia, o conformismo, a

visão banalizada dos problemas, o ceticismo diante das questões sociais “[grifo nosso].

Em outras palavras, devemos deixar do muito falar e, de modo responsável,

praticar ações em prol do bem comum, pois, se assim não o fizermos, estaremos

plantando no presente um futuro sóbrio. A esperança é de que estejamos atentos às

possibilidades de compormos novas sínteses e novos rumos para as nossas vidas. Como

afirma Rubem Alves (1984, p.160), “[...] a diferença entre o homem e os animais deve

ser encontrada no fato de que, enquanto cada espécie animal é prisioneira de sua própria

melodia, o homem tem a capacidade de compor novas”. Que ao tentarmos ampliar o

significado do empreendedorismo social, possamos vislumbrar tais possibilidades.

Recomendações

Dadas a importância e a profundidade do empreendedorismo social e a partir de

nossa vivência na área, fazemos as seguintes e principais sugestões:

a) inclusão do empreendedorismo social na formação profissional universitária e no

ensino médio, a exemplo do que está ocorrendo com o empreendedorismo empresarial;

b) implementação e adoção do empreendedorismo social no campo da gestão social

pública, nos níveis federal, estadual e municipal;

c) implementação e adoção do empreendedorismo social nos Conselhos de Direito das

categorias profissionais;

d) criação de mais espaços de apoio, incentivo, pesquisa e disseminação dos

fundamentos e das estratégias do empreendedorismo social no Brasil, como uma política

nacional de estímulo à inovação de novas tecnologias sociais empreendedoras;

e) potencialização das ações das faculdades e universidades por intermédio de projetos

de extensão na perspectiva do empreendedorismo social.

Referências

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ASHOKA EMPREENDEDORES SOCIAIS; MACKISEY E CIA. INC.

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Extraído da Revista FAE, vol. 7, n. 2, p. 9 – 18 (julho/dezembro – 2004).autoria de Edson

Marques Oliveira.

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