Artigo um novo olhar para a diversidade etnico racial · 2014. 4. 22. · UM NOVO OLHAR PARA A...
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UM NOVO OLHAR PARA A DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL PELA ÓTICA
MIDIÁTICA
Autora: Edna de Lurdes Warmling Spigosso1 Orientador: Luis Fernando Guimarães Zen2
“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.” Nelson Mandela
Resumo
Este artigo pretende instigar o uso das imagens em movimento no contexto escolar utilizando-a como instrumento metodológico para que possa servir de subsídio ao fazer análises críticas e reflexivas, da participação efetiva dos afros descendentes na formação da sociedade nacional, e ao mesmo tempo demonstrar a invisibilidade dos mesmos na sociedade contemporânea. Espera-se que através da efetivação da ação teórico/prática do desenvolvimento do referido trabalho ocorram mudanças comportamentais e democráticas nos educandos, rompendo paradigmas e voltando ao princípio que o trabalho deve vislumbrar a coletividade e a democracia. Partindo da premissa que o educador se faz um mediador no processo ensino/aprendizagem e em consonância de que a educação caminha para a formação integral do aluno, almejando a concretização do desejo de entenderem-se como sujeitos históricos responsáveis e atuantes na transformação da sociedade que fazem parte.
Palavras chave: Diversidade; Lei 10.639/03; Racismo; Comunicação.
Abstract
This article intends to instill the use of the moving images in the school context using it as a methodological tool so that it can serve as a subsidy to make critical and reflective analysis, of the effective participation of Afro descendants in the formation of the national society, while demonstrating the invisibility of the same in the society
1 Especialista em Desenvolvimento e integração da América Latina. Graduação em História, Professora de História da Escola Estadual Jorge de Lima – Salto do Lontra. 2 Mestre em História. Especialista em História da Educação. Bacharel e Licenciado em História. Professor de História Medieval/UNIOESTE – Campi de Marechal Cândido Rondon.
of the contemporary age. It’s wait that throw the way of the efectivation of the teoric/pratic action of the devolepment of this work the students will change them behavior geting more polited, so they’ll learn that the group work would be better with the use of coletivity and democracy. Assuming that the teacher becomes a facilitator in the teaching / learning and in keeping that education goes to the integral growth of the student, longing for the realization of the desire to understand ourselves as historical subjects responsible for the active in the development of the society which they serve.
Keywords: Diversity; Law 10.639/03; Racism; Communication.
1 Introdução
A humanidade tem evoluído continuamente em todos os setores, sejam eles
econômico, social, político, cultural, tecnológico e educacional, mas infelizmente ao
lado de toda essa evolução, o cenário observado na sociedade contemporânea nos
causa indignação quando se continua evidenciando e discriminando seres humanos
pela cor da pele. Sentir-se parte do processo educacional, é confrontar-se com a
realidade em que a escola está inserida. Diante disso percebemos que apesar da
promulgação da Lei nº 10.639/03, ainda há um longo caminho a percorrer para que
se efetive a função de valorização e difusão da pluralidade cultural, esperando-se
que a escola seja de fato uma ferramenta de evidência e não negação quanto a
participação efetiva de nossos antecessores no tocante a construção da sociedade
nacional despertando para torná-la múltipla e cidadã.
A diversidade étnico racial é negada, quando não se reconhece a
participação dos negros na construção do contexto histórico brasileiro, apesar dos
mesmos terem sido a mola mestra da produção da riqueza nacional no período
colonial através da mão de obra consistente na agricultura canavieira, na extração
aurífera e posteriormente na produção cafeeira. Eles continuam representando mão
de obra abundante e barata no país persistindo infelizmente à exploração a esses
seres desprovidos de oportunidades trabalhistas e educacionais muitas vezes em
função da cor da sua pele.
O cenário que ora se edifica na educação paranaense nos possibilita através
do desenvolvimento desse artigo ao consolidar com o projeto e posteriormente a
produção didática que foi desenvolvida em uma das quatro sétimas séries da Escola
Estadual Jorge de Lima- Ensino Fundamental, travar um debate onde se percebe
que nossos afros descendentes fazem parte de uma parcela excluída das políticas
afirmativas, bem como das propostas pedagógicas, tendo em vista, que a evidência
adotada nos livros didáticos esconde a real contribuição que retratam de forma
íntegra a trajetória dos descendentes de africanos, escondendo-se através de uma
visão eurocêntrica, a riqueza da diversidade.
Devemos reconhecer que o caminho trilhado no decorrer de nossa
caminhada profissional tem nos proporcionado desenvolver a sistematização de
trazer a história para a realidade, isto é, deixando de ser factual e cronológica, mas
trabalhando com a contemporaneidade dos fatos, bem como desconstruir os
movimentos evidenciados pelos conhecimentos dominantes, se tornando uma práxis
esperada de um educador em constante crescimento no processo educacional.
A princípio ao consolidarmos a construção deste trabalho podemos dizer que
os objetivos que pretendíamos alcançar foram sendo lançados como sementes na
terra e somente na aplicabilidade do mesmo, reconhecemos os resultados que eram
esperados, e o grau dessa mediação para possibilitar a demonstração da relevância
de o negro deixar de ser considerado um figurante passivo e ilustrador na formação
da sociedade brasileira passando a ser respeitado como sujeito de sua própria
história.
Tal projeto foi desenvolvido dentro da Pedagogia Histórico-Crítica,
contribuindo dessa forma para emergir as inquietações que pairam no espaço
escolar, refletindo assim, a função da disciplina de História. Explorando conteúdos
contemporâneos que refletem a realidade manifestada nas relações étnica culturais.
O assunto abordado teve por objetivo levar o educando a exercitar a leitura
critica dos meios de comunicação, principalmente no que se refere a programas
vinculados a imagens de descendentes afros. Para efetivação do mesmo foram
realizadas pesquisas bibliográficas, estudo de imagens em movimento, que foram de
fundamental importância para a construção do conhecimento cientificamente
elaborado.
Através da aplicabilidade da produção, buscou-se juntamente com os alunos
um novo olhar sobre o que é representado na mídia, porque a mesma tem a função
de informar a população, porém da mesma forma, os telespectadores não devem se
colocar como meros receptores passivos dessas informações, mas serem capazes
de fazer seu próprio julgamento, bem como, terem mecanismos para tal.
Faz-se necessário, encaminhamentos metodológicos que dignifique a figura
do negro na sociedade contemporânea, tendo como prioridade a busca pela
igualdade, para que possamos romper as amarras que nos condicionam ao racismo
e o preconceito, aos estereótipos configurados aos homens e mulheres que
colaboraram na edificação de nosso país, e atualmente fazem parte de uma luta
contínua para garantir seus direitos e serem respeitados como personagens de sua
própria história.
Vivemos em uma sociedade transitória e globalizada, onde o conhecimento
científico representa suma importância para a aprendizagem, porém, da forma como
o processo educativo vem sendo contextualizado, não podemos ficar presos a
métodos tradicionais da educação, mas inovar, tendo em vista que, o ato de ensinar
requer aprendizagem constante e o avanço tecnológico no âmbito educacional se
faz realidade, e interagir a heterogeneidade sócio-cultural da sociedade brasileira,
com estes mecanismos só confirmará o objetivo pretendido. As nossas indagações
estão pautadas na redundância que a indústria cultural mantém de forma velada no
que se refere ao racismo.
O estudo da mídia torna-se de grande relevância na sociedade da
informação que tem enfrentado grandes desafios, porque o conhecimento não se
encontra apenas nos bancos escolares, mas também se transmite através de outros
dispositivos, como os meios de comunicação, aparato que pode subsidiar a reflexão
acerca do preconceito que o negro sofre na sociedade atual.
No âmago de todo processo paira muitas incertezas em torno das mudanças
que possam ocorrer provenientes de uma luta contínua, travada por uma parcela da
população que mostra-se resistente as desigualdades pré-estabelecidas por uma
sociedade que os deprecia e trata com naturalidade o racismo como se fizesse parte
de convenções que tem o poder de privilegiar um determinado aspecto cultural em
detrimento de outras culturas. Podemos concluir que, o nosso olhar sobre o
semelhante vem impregnado de significados, prova disso, é o próprio artigo 5º da
Constituição Brasileira que destaca:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. (BRASIL. Constituição 1988).
Diante desse contexto e entendendo a necessidade de dialogar, propor,
filtrar e intervir o material desenvolvido sobre a história da cultura afro brasileira e
africana nas oficinas como: textos, músicas, charges, imagens e recortes de
programas televisivos, teve por objetivo proporcionar ao aluno um exercício crítico e
analítico, questionando e buscando formar sua própria opinião, tendo condições de
contrapor aquilo que é apresentado como pronto e acabado na televisão. Toda
atividade prática esteve vinculada a subsídios teóricos, possibilitando aos alunos
uma relação ensino-aprendizagem.
Buscar o saber é estar em consonância com a realidade educacional, estar
ciente dos rumos, para a qual, a educação se dirige e buscar novos paradigmas na
arte de ensinar.
2 O ensino da história da cultura afro-brasileira e africana como destaque nos
ambientes escolares
O objetivo do desenvolvimento desse artigo que consolida uma das etapas
do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) não é somente para cumprir
um dispositivo da Lei Federal 10.639/03, que alterou a lei de diretrizes e bases e
formalizou as Diretrizes Curriculares, tornando obrigatório nos estabelecimentos de
ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, estabelecendo o ensino sobre
História e Cultura Afro-Brasileira, mas um subsídio adicional como medida paliativa
para corrigir minimamente as arestas presentes no contexto atual na referência do
tema aprofundado. A referida Lei, nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-
Brasileira e Africana, no Art. 2º, determina que:
Art. 2º As diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africanas constituem-se de orientações, princípios e fundamentos para o planejamento, execução e avaliação da Educação, e têm por meta,
promover a educação de cidadãos atuantes e conscientes no seio da sociedade multicultural e pluriétnica do Brasil, buscando relações étnico-sociais positivas, rumo a construção de nação democrática.
§ 1º A educação das Relações Étnico-Raciais tem por objetivo a divulgação e produção de conhecimentos, bem como de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos quanto a pluralidade étnico-racial, tornando-os capazes de interagir e de negociar objetivos comuns que garantam, a todos, respeito aos direitos legais e valorização de identidade, na busca da consolidação da democracia brasileira.
§ 2º O Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana tem por objetivo o reconhecimento e valorização da identidade, história e cultura dos afros-brasileiros, bem como a garantia de reconhecimento e igualdade de valorização das raízes africanas da nação brasileira, ao lado das indígenas, européias, asiáticas (BRASIL, 2005, p. 31).
Como forma de corrigir as mazelas provenientes de uma sociedade
desprovida do respeito ao semelhante. O desenvolvimento da referida temática não
deve modificar o andamento da realidade escolar, porém deve estar contemplado e
as discussões devem ser constantes possibilitando avanços teóricos e práticos
neste contexto educacional para que as mudanças possam ser observadas.
Não basta falarmos em preconceito embasado em fundamentos teóricos, é
necessário reconhecê-lo nos ambientes escolares como estratégia de combate,
tornando-se desafiador a implementação da Lei que pode ser reconhecida como
uma meta na luta pela superação e amenização da desigualdade racial na educação
pública brasileira. De acordo com Paulo Freire:
O que venho propondo é um profundo respeito pela identidade cultural dos alunos, uma identidade cultural que implica respeito pela língua do outro, cor do outro, gênero do outro, classe social do outro, orientação sexual do outro, capacidade intelectual do outro; que implica na capacidade de estimular a criatividade do outro. Mas essas coisas ocorrem em um contexto social e histórico e não no ar puro e simples. Essas coisas ocorrem na história. (FREIRE, 2001, p.60)
Partindo dessa premissa, podemos dizer que apesar da existência de Leis
que defendam os direitos humanos, o nosso caminho a trilhar é longo para a
correção de distorções da conjuntura da sociedade nacional que foram fortemente
forjadas pela ideologia do branqueamento. Infelizmente, ainda a luta é contínua,
considerando-se utópico o discurso da existência de uma sociedade e uma escola
democrática.
Entretanto, poderia se dizer que a discriminação racial é um fato superado e
que a democracia tem sido respeitada no Brasil, porém, os entraves ainda dificultam
sua efetivação, conforme demonstram os indicadores que denotam uma série de
desigualdades presentes em vários aspectos da sociedade, em relação a raça negra
e a carência de políticas públicas para amenizar essa desproporcionalidade.
Esses dados são segundo publicação Síntese de Indicadores Sociais – 2010
– referentes a dados de pesquisas do IBGE, em 2009.
São dados que representam a população total e respectiva distribuição
percentual, por cor ou Raça, segundo as Grandes Regiões, as Unidades da
Federação e as Regiões Metropolitanas – 2009.
POPULAÇÃO
Distribuição percentual por cor ou raça (%) Grandes Regiões,
Unidades de Federação e
regiões Metropolitanas
Total (1000
pessoas) Branca Preta Parda Amarela ou
indígena
Brasil 191 796 48,2 6,9 44,2 0,7
Norte 15 555 23,6 4,7 71,2 0,4
Nordeste 54 020 28,8 8,1 62,7 0,3
Sudeste 80 466 56,7 7,7 34,6 0,9
Sul 27 776 78,5 3,6 17,3 0,7
Centro-Oeste 13 978 41,7 6,7 50,6 0,9
TABELA1: Distribuição da População Brasileira. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Fonte: IBGE, 2009.
A partir da análise da tabela acima devemos, destacar a presença marcante
e significativa dos pretos e pardos nas regiões norte, nordeste e centro-oeste em
proporção a minoria da região sul, demonstrando a desproporcionalidade da
concentração como resultado da herança que se identifica nas regiões mais
exploradas no período colonial. Ë importante ressaltar que o Brasil é um dos países
que possui grande índice de população africana que habita fora de seu país de
origem e dessa forma os aspectos culturais desse povo exercem grande influência
nas regiões onde há prevalência dessa origem.
Média de anos de estudo e rendimento médio mensal de todos os trabalhos,
das pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência, com
rendimento de trabalho, por cor ou raça, segundo as Grandes Regiões, as Unidades
da Federação e as Regiões Metropolitanas – 2009
Pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência, com rendimento de trabalho, por cor ou raça.
Branca Preta Parda Grandes Regiões,
Unidades da Federação e
regiões Metropolitanas
Média de
anos de
estudo
Rendimento médio
mensal de todos os trabalhos (salário mínimo)
Média de
anos de
estudo
Rendimento médio
mensal de todos os trabalhos (salário mínimo)
Média de
anos de
estudo
Rendimento médio mensal de todos os trabalhos
(salário mínimo)
Brasil 9,2 3,2 7,4 1,8 7,2 1,8 Norte 8,8 2,8 7,3 2,0 7,3 1,8
Nordeste 8,0 2,3 6,8 1,5 6,3 1,4 Sudeste 9,7 3,4 7,7 2,0 7,9 2,1
Sul 9,0 3,1 7,5 1,9 7,3 1,9 Centro-Oeste 9,3 3,8 7,7 2,2 7,8 2,4
TABELA2: Distribuição de Renda da População Brasileira Fonte: IBGE, 2009.
Os dados identificados na tabela acima demonstram que, a economia das
regiões norte, nordeste e centro-oeste baseia-se prioritariamente nas mãos de
pretos e pardos por representar a maioria nessas áreas, evidenciando a exploração
econômica. Infelizmente constata-se através das referências que são desprovidos
de oportunidades de aperfeiçoamento intelectual, possivelmente pela necessidade
de garantir sua sobrevivência, trabalhando uma carga horária excessiva e
desgastante, como condição de proporcionar a seus familiares atendimento as
condições mínimas.
Razão entre o valor do rendimento-hora do trabalho principal que as
pessoas de cor preta ou parda recebem, em relação ao valor recebido pelas
pessoas de cor branca, por anos de estudo, segundo as Grandes Regiões, as
Unidades da Federação e as Regiões Metropolitanas – 2009
Razão entre o valor do rendimento-hora do trabalho principal que as pessoas de cor preta ou parda recebem, em relação ao valor
recebido pelas pessoas de cor branca (%)
Grupos de anos de estudo
Grandes Regiões, Unidades da
Federação e Regiões Metropolitanas
Total Até 4 anos
5 a 8 anos 9 a11 anos 12 anos ou
mais
Preta Brasil 57,4 78,7 78,4 72,6 69,8 Norte 69,1 72,3 76,8 76,8 87,7
Nordeste 62,8 96,8 79,9 79,9 64,5 Sudeste 56,9 84,1 74,0 74,0 71,1
Sul 61,1 71,8 77,7 77,7 56,4 Centro-Oeste 61,0 89,8 73,3 73,3 69,0
TABELA3: Distribuição de Renda da População Brasileira Fonte: IBGE, 2009.
Foram destacados alguns dados na tabela acima, em relação ao grau de
escolaridade e mercado de trabalho, evidenciando as desigualdades presentes nas
relações étnico culturais de nosso país. Observam-se, nos dados acima, segundo
pesquisa do IBGE que, independente das faixas etárias, a renda por hora de pretos
e pardos é inferior a dos brancos. Diante dessa realidade, consideramos a
necessidade de priorizar o tema para aprofundá-lo. Conhecer a história dos
descendentes afros é reconhecer a identidade histórica do país.
Diante desse pressuposto destaca-se, que apesar da população negra
representar um índice relevante na conjuntura nacional, a cultura étnica sofre a
invisibilidade diante da ruptura intencional de experiências opostas
ultraconservadoras, como a lei Áurea que possibilitou aos escravos a liberdade,
porém proporcionar a liberdade não foi o bastante para devolver a dignidade que
são merecedores e atualmente parece significar uma mera data isolada para ser
lembrada no calendário cívico, bem como o 20 de novembro “dia da consciência
negra”, “Esta data foi estabelecida pelo projeto de lei número 10.639, no dia 9 de
janeiro de 2003. Foi escolhida a data de 20 de novembro, pois foi neste dia, no ano
de 1695, que morreu Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares”3. Porém muitos são
capazes de tecer comentários como, “porque a existência de uma data só para os
negros?” demonstrando a insignificância que tem para alguns,
A criação desta data foi importante, pois serve como um momento de conscientização e reflexão sobre a importância da cultura e do povo africano na formação da cultura nacional. Os negros africanos colaboraram muito, durante nossa história, nos aspectos políticos, sociais, gastronômicos e religiosos de nosso país. É um dia que devemos comemorar nas escolas, nos espaços culturais e em outros locais, valorizando a cultura afro-brasileira.
Tais considerações denotam aspectos relevantes para serem analisados
considerando digna a persistente luta para os negros garantirem o direito de serem
respeitados, demonstrando a ética que se faz presente em suas ações mostrando
seus direitos.
Para podermos compreender as desigualdades sociais e raciais que
infelizmente existem em nosso meio, devemos observar que a formação do Brasil se
deu infelizmente baseada na superioridade branca, numa hegemonia racial,
destacando o ponto de partida que se constitui no Brasil escravocrata, baseado em
versões negativas que foram deturpando a figura do negro no interior da sociedade
e que seguem subsequente até os dias atuais. Para tanto, não podemos ignorar que
se trata de questões culturais e na busca por uma definição que justifique tais
atitudes, encontramos no endereço eletrônico mundo educação:
Devemos compreender que a cultura é um processo dinâmico e aberto em que hábitos e valores são sistematicamente ressignificados. Por isso, a idéia de aculturação não pode ser vista como o fim de uma cultura, pois não há como pensar que um mesmo grupo social irá preservar os mesmos costumes durante décadas, séculos ou milênios. A cultura de um povo, para manter-se viva, deve ser suficientemente livre para conduzir suas próprias escolhas, inovações e permanências. (Fonte: Mundo Educação, Texto produzido por Rainer Sousa).
3 Disponível no endereço eletrônico:
http://www.suapesquisa.com/datascomemorativas/dia_consciencia_negra.htm
Destacando que o povo africano bem como os indígenas que habitam nosso
país buscam resgatar, valorizar e difundir a cultura de seus antecedentes, porém,
não pode ser ignorado o fato de que, as mesmas sofreram alterações no decorrer do
tempo e a influência local e muitas vezes a impossibilidade da preservação, mas é
ponto fundamental disseminar esse processo para manter viva a memória dos
aspectos culturais como fonte de informação valiosa para as gerações futuras.
Consolidando essa referência Cabrini contribui,
As idéias que os mais velhos consideram importantes são muitas vezes, originadas de experiências aprendidas em outra época e que continuam a ser utilizadas nos dias de hoje. Isso quer dizer que há uma convivência de mentalidades de épocas diferentes. Ou seja, valores culturais do passado sobrevivem no presente. Há uma permanência de tradições (Cabrini, 2009, p57, grifo do autor).
Essa permanência de tradições torna edificante o saber popular que não
deve estar dissociado do saber científico, porque as tradições cultuadas em nossa
sociedade atual são resquícios de uma história rica culturalmente, conforme nos
complementa Cabrini,
A palavra tradição significa memória, transmissão de valores, de idéias e costumes e estabelece uma conexão entre o passado e o presente. A tradição refere-se a tudo aquilo do passado que permaneceu vivo em nosso presente, ou seja, algo que nos foi transmitido por pessoas mais velhas.( Cabrini, 2009, p57, grifo do autor).
Cabendo a nós educadores, estar em constante consonância com as
permanências e mudanças que decorrem do processo histórico, possibilitando dessa
forma, uma reestruturação organizacional do tempo histórico.
Ao abordar temas voltados para a temática da cultura afro brasileira e
africana, é estar em busca da conscientização de seres sociais comprometidos com
a abolição de estereótipos e o enraizamento da hierarquia racial determinante,
destacando o valor imensurável que provém de um ser humano independente das
origens que o determinam, e destacar que, por sermos um país que mais recebeu
escravos africanos durante o processo escravocrata, a resistência as atenuantes
racistas devem ser constantes, impossibilitando dessa forma, que o sincretismo
religioso, os aspectos culturais fiquem no anonimato e deixem de ser respeitados.
Tendo em vista, que a formação da nação brasileira é evidenciada pela atuação dos
afros descendentes em todo o seu processo histórico, considerando que as lutas
sociais que ocorreram devem manter-se proclamadas para consolidar os reais
motivos que as desencadearam.
2.1 A imagem em movimento como instrumento de ensino
As Diretrizes de História do Estado do Paraná aponta em seus
encaminhamentos metodológicos que no ensino de História é relevante e necessário
abordagens do conteúdo através de metodologias diferenciadas que culminem no
aprofundamento teórico. Dessa forma, o Ensino de História pode estruturar-se em
renovação teórica baseada em conjecturas de fontes subjetivas e na história
imediata, como a mídia que proporcionará um repensar analítico de sua função
enquanto mediadora do conhecimento, mostrando ao aluno, uma possível resolução
de controvérsias no quesito educacional, contribuindo para o efetivo conhecimento
que facilita e contagia o trabalho em sala de aula.
Considerando que, a sociedade globalizada necessita de uma interiorização
de normas e valores intensivos cada vez mais característicos do ser humano as
quais compõem esse cenário atual, exigindo que ele esteja mais preparado
intelectualmente e passível a mudanças comportamentais, priorizando uma
educação libertária que transcende os conteúdos elitistas que apenas moldam o ser
humano baseados em conceitos pré-estabelecidos, impedindo-os de viverem
plenamente sua liberdade como cidadão ativo e consciente de sua própria história.
De acordo com Julio Groppa Aquino:
O papel da escola é o de uma instituição socialmente responsável não só pela democratização do acesso aos conteúdos culturais historicamente construídos, mas também o de co-responsável pelo desenvolvimento individual como cidadãos autônomos e conscientes em uma sociedade plural e democrática. Para isso, ela deve tomar para si a responsabilidade
de trabalhar a superação das deficiências circunstanciais das crianças que chegam em suas salas, respeitando as diversidades e, também buscando incluir os deficientes reais no contexto regular do ensino.(Aquino,1998, p44)
Utilizar metodologias para se alcançar tal democratização através da análise
de forma crítica e reflexiva da participação dos descendentes afros nos programas
televisivos que eles atuam faz-se necessário na contemporaneidade, tendo em vista
o real valor que se dá a invasão da televisão nos lares brasileiros e a interferência
que a mesma proporciona a cada setor institucionalmente constituído. Dessa forma
José Manuel Moran considera que:
A escola precisa, enfim, no seu Projeto Educativo, considerar a questão dos Meios de Comunicação e da comunicação como parte importante – e não marginal – do processo educativo integral do novo aluno-cidadão, visando construir uma sociedade realmente democrática.( Moran,1994 p22).
Na conjuntura global, pensar a Escola dentro do contexto midiático é mostrar
a renovação tecnológica que ocorre com uma incidência cada vez maior em nossa
sociedade de forma a difundir o conhecimento através da imprensa. Por isso na
visão de Maria Auxiliadora, “Tem se procurado entender o papel central da imagem
na sociedade contemporânea e, portanto da necessidade de sua leitura crítica pelo
ensino de modo geral e, particularmente, pelo ensino de História”. Porém, não usar
desses recursos como forma de conhecimento científico é manter-se alheio as
evoluções tecnológicas que compõem os espaços educacionais dentro de um
contexto inovador. Portanto, a modernização requer um olhar mais abrangente onde
a forma de ensinar e de aprender deve transpor os muros das escolas expandindo-
se para a realidade. (SCHMIDT, 2002, p. 170).
A televisão não é uma dinâmica somente da atualidade, ela advém de
décadas anteriores e consequentemente existem muitas arestas em sua trajetória,
tendo seu objetivo de função mal interpretado principalmente em meados da década
de 1960, porque de acordo com Briggs e Burke,
Educar, não entreter, esse permanecia o objetivo prioritário para alguns dos primeiros defensores da televisão contra as acusações de que ela exercia uma influência inevitavelmente corruptora da sociedade e da cultura, e de que levava os espectadores a gastar mais tempo com ela do que com outras atividades (BRIGGS; BURKE, 2004, p. 257-258).
A televisão mesma mantém sua base cultural e de lazer. E muitas vezes os
programas exibidos por ela na atualidade não possuem nenhum caráter educativo,
mas afrontador aos valores morais inclusos na sociedade conservadora, porém a
mesma não se restringe a esses aspectos e absorve os olhares para a variedade de
temas que estampa diariamente, e hoje se faz um dos maiores ícones do lazer no
Brasil. Contudo, como se sabe que o papel da escola não se restringe a função de
transmitir conhecimento, mas acompanhar as evoluções, aliando o conhecimento
científico as novas dinâmicas de ensino utilizando-se da imagem em movimento
para aprimorar esses aprendizados e usar dessa leitura não para ilustrar, mas
reproduzir a realidade e contrapô-la.
Por ainda persistir na sociedade brasileira as questões de diferenças na
composição da sociedade nacional e ser muito presente essa predominância de
poder em relação à cor da pele em vários setores da sociedade, muitas vezes nas
programações televisivas, coloca-se o ser humano em situação de inferioridade
determinadas por ideologias racistas, e a predominância dos negros sofrerem o
preconceito por disputarem o mesmo espaço.
Dessa forma, podemos compreender os interesses dominantes para se
omitir os fatos, possibilitando aos formadores de opiniões que são telespectadores
que acompanham os noticiários, as novelas, os programas, compreendê-los da
forma que melhor lhes convier, do mesmo modo que compreendemos quando a
classe dominada utiliza dos meios de comunicação, muitas vezes expondo sua vida
pessoal, mas como recurso para conseguir seus objetivos através da democracia
informacional. Para Lúcia Maria Wanderley Neves:
Por intermédio de ações, proposições e concepções, instituições como a Igreja Católica, os meio de comunicação de massa, as associações recreativas e sindicais, as associações de defesa de interesses corporativos distintos, dentre outras, articulam-se as classes socialmente dominantes, constituindo-se num bloco histórico responsável pela dupla e complexa tarefa de, preservando suas maneiras específicas e próprias de atuação nas questões sociais, harmonizar os interesses das classes e frações de
classes em nome das quais atuam, como também organizar e organicizar as proposições mais afeitas a esses interesses particulares, constituindo-os como gerais.(Neves, p27, 2005)
O ser humano, independente de que setor institucional ele compõe, e apesar
das diversidades sente-se parte integrante dessa sociedade e procura através das
instituições representativas, buscar alternativas e soluções para os dilemas
vivenciados no seu cotidiano que muitas vezes não é compreendido de forma
isolada, mas fazendo parte de um contexto inerente a vários setores da sociedade.
A análise de recortes dentro da imprensa televisiva, sobre a questão racial,
teve o intuito de mostrar ao educando uma nova forma de leitura, observando-se o
que muitas vezes fica camuflado na “fala” dos detentores da mesma, a opinião
formalizada. Em função dessa perspectiva Saviani enfatiza:
A violência material (dominação econômica) exercida pelos grupos ou classes dominantes sobre os grupos ou classes dominados corresponde a violência simbólica (dominação cultural). A violência simbólica se manifesta de múltiplas formas: a formação publica através dos meios de comunicação de massa, jornais, etc.(Saviani, 1986, p91).
Infelizmente, por convivermos com essa realidade também no espaço
escolar onde o preconceito está presente nas piadas, apelidos, brincadeiras,
práticas exercidas não somente por alunos, mas também por outros profissionais da
educação, e devido a obrigatoriedade do ensino da cultura afro-brasileira e africana,
busca-se novas fontes para se consolidar o trabalho em sala de aula. Ao usar
programas de televisão, pudemos perceber que os alunos identificaram o
preconceito velado que se faz presente nesses programas, e foram capazes de
fazer a análise crítica dos mesmos, ao interpretá-los. De acordo com Thompson:
Com o desenvolvimento dos meios de comunicação, a interação se dissocia do ambiente físico, de tal maneira que os indivíduos podem interagir uns com os outros ainda que não partilhem do mesmo ambiente espaço-temporal. O uso dos meios de comunicação proporciona assim novas formas de interação que se estendem no espaço (e talvez também no tempo), e que oferecem um leque de características que as diferenciam das interações face a face (THOMPSON, 2005, p. 77).
Embora a questão racial e o preconceito terem sido retomado sob novas
interpretações, paira na sociedade uma visão permissiva de um conceito positivista
da historiografia, ressaltando uma visão eurocêntrica com predominância da
exaltação dos portugueses, em detrimento da imagem dos negros e índios na
formação da identidade nacional, mostrando que predomina o ideal do
branqueamento, presente em grande parte da população, destaca-se a forma
inacessível com que a sociedade ressalta a participação dos negros na televisão.
O trabalho efetivo teoricamente sobre a questão da cultura afro brasileira e
africana, bem como, usar a televisão como um recurso metodológico para fins
pedagógicos, proporcionando a efetivação do conhecimento ao fazer análise crítica
e reflexiva dos programas televisivos em que os negros têm suas imagens
exploradas de forma estereotipada e preconceituosa, foi pautado em teóricos que
priorizam a questão, e um dos exemplos de programa foi o “Todo mundo odeia o
Chris”, 4líder de audiência pelos adolescentes, de acordo com um questionário
aplicado aos alunos, onde 16 alunos de 32 responderam que assistem tal programa,
onde vem impregnado de dominação econômica, social e racial. Para Ramonet “Um
fato é verdadeiro não porque obedece a critérios objetivos, rigorosos e confirmados
pela fonte, mas simplesmente porque outros meios de comunicação repetem as
mesmas afirmações e confirmam” (Ramonet, 2004, p134).
Optamos por desenvolver o projeto voltado para essa temática por
compreender a necessidade de aprofundar o assunto sobre a cultura afro brasileira
e africana, priorizando a perspectiva relacionada ao conteúdo de História por
confrontarmos diariamente com a pertinente falta de entendimento dos objetivos
pretendidos e naturalmente atitudes desrespeitosas em relação às pessoas negras,
bem como a falta de subsídios e interesse de outros educadores em trabalhar o
tema acreditando que o mesmo esta vinculado somente a disciplina de História.
2.2 A aplicabilidade da produção didática no ambiente escolar
4 Questionário sócio-cultural, étnico-racial e econômico, aplicado aos alunos da 7ª série da Escola
Estadual Jorge de Lima-Ensino Fundamental, realizado pela professora Edna de Lurdes Warmling Spigosso.
No segundo semestre do ano de 2010 ao elaborarmos o projeto de pesquisa
da temática da cultura afro-brasileira e africana desenvolveu-se perspectivas
voltadas para análise de programas televisivos por compreender que a televisão
ocupa um papel relevante na vida dos alunos e mostra-se capaz de induzi-los a
comportamentos considerados reprováveis.
Neste contexto foi elaborada uma produção didática, desenvolvida em 8
oficinas com metodologias variadas, objetivando trabalhar com os alunos estratégias
problematizadoras que os levasse a analisar o espaço escolar que estudam e o
meio em que eles vivem, confrontando com a temática em questão, que é a história
da cultura afro-brasileira e africana, e também a aparição dos negros nos programas
de televisão. As metodologias foram pensadas como um caminho que proporciona
aos alunos transformação de pensamentos e ações, sendo um meio para que os
mesmos modifiquem e avaliem suas atitudes perante os desafios presentes no
preconceito e no racismo, apesar de fazermos parte de uma região em que a
incidência de pessoas negras não é tão relevante, talvez isso faça com que a
desconformidade dos dados implique numa maior ocorrência de atos
discriminatórios.
Nessa jornada foram aplicadas algumas demandas, onde os envolvidos no
processo puderam questionar, avaliar, dialogar e concluir.
A turma escolhida para aplicabilidade da implementação pedagógica foram
os alunos da 7ª série B da Escola Estadual Jorge de Lima - Ensino fundamental do
município de Salto do Lontra, do ano de 2011. A turma contava com 36 alunos em
sua totalidade e compareceram às oficinas que foram aplicadas em horários
contrários as suas aulas uma média de 32 alunos, não compareceram na totalidade
justamente por ser no período da tarde e alguns trabalhavam, dificultando a
presença. Todas as oficinas foram pautadas na fundamentação teórica através de
textos, análises de programas televisivos como “Todo mundo odeia o Crhis” (que ao
fazer uma pesquisa, 16 dos alunos assistiam diariamente ao programa, significando
50% dos participantes), novelas, filmes, músicas e imagens.
Previamente a comunidade escolar tomou conhecimento do
desenvolvimento do projeto através de uma apresentação que nos foi concedida na
semana pedagógica.
A implementação da produção didática teve inicio no mês de agosto e foi
concluída no mês de novembro com certificação aos alunos participantes.
Os alunos mostraram-se receptivos a novos aprendizados e comprometidos
com o desenvolvimento das atividades, bem como preocupados em modificar
atitudes próprias e de seus colegas, destacando a importância de valorização dos
negros no contexto atual e percebiam-se também como causadores de atitudes
preconceituosas e racistas apesar do discurso ser de negação, bem como
aprofundar teoricamente o conteúdo voltado para a temática da História da cultura
Afro-Brasileira e Africana.
Ao introduzir as primeiras abordagens procurou-se deixar claro alguns
conceitos relevantes para o entendimento da proposta de trabalho a ser
desenvolvida como: contexto escolar, Lei 10.639/03 e Mídia, dando destaque à
criação da referida Lei que se deu em virtude da necessidade de corrigir distorções
na composição da sociedade nacional, tendo em vista, que tanto tempo após o fim
da escravidão ainda persiste atitudes preconceituosas e racistas em relação às
pessoas negras e que somente a ignorância pode ser um fator contribuinte na
persistência de atitudes discriminatórias.
Ao iniciar o primeiro encontro foram mostrados os dados do Brasil atual,
para que os alunos se entendessem parte desse processo histórico e tivessem
entendimento, e assim possam intervir nos acontecimentos, nas ações e nos
processos de reivindicação e lutas que ocorrem na sociedade, posteriormente os
conteúdos seguiram uma lógica do período colonial até os dias atuais, destacando
sempre a presença dos negros e o contexto em que estão inseridos.
De um modo geral, os alunos mostravam-se através de suas produções
escritas e participações orais contagiados pelo aprimoramento do conhecimento que
norteia o universo dos afros descendentes e africanos, deixando clara a visibilidade
dos valores que eram negados em cada apresentação que assistiam e que antes
haviam visualizado, mas não tinham observado tais contradições.
Ao trabalhar com imagens, buscou-se através da iconografia um exercício
da leitura imagética propondo aos alunos a expressão do conhecimento a partir de
seu ponto de vista, bem como mostrar que as imagens trazidas nos livros didáticos
não servem apenas de ilustração, mas fontes documentais carregadas de
mensagens que devem ser absorvidas e interpretadas, contribuindo dessa forma
para solidificar o aprendizado.
Todos foram unânimes em dizer que a televisão faz parte de seus
cotidianos, mas que a reconhecem como um instrumento que emana poder capaz
de modificar valores e de mudar os rumos de uma nação, e que a presença dos
negros nos programas televisivos mostra muitas vezes a forma de indução de novos
preceitos que privam os negros de atuarem na sociedade exercendo seus direitos
básicos de cidadãos.
As primeiras impressões era que os alunos tinham receio de expor suas
opiniões e deixar claro que também muitas vezes haviam feito piadas a respeito da
cor da pele, apelidando colegas de forma pejorativa, enfim que suas atitudes
deveriam ser revistas e modificadas.
A seguir destacarei algumas conclusões que os alunos chegaram e o que
repudiam:
- Preconceito é falta de atenção com a raça negra;
- Brancos querem sempre ser mais que os negros;
-Todos devem ser tratados com igualdade;
- Devemos ter mais respeito com os negros;
- Dê mais valor as pessoas independente da cor da pele;
- O branco é tão racista que não enxerga o racismo em si mesmo;
- Os brancos desconhecem até mesmo o significado do dia 20 de novembro;
- Os brancos são preconceituosos até quando defendem as etnias de nosso
país;
- Os brancos abusam de sua autoridade sobre os negros;
- Tudo o que os negros querem é serem reconhecidos de igual para igual.
Acredito que tais afirmações denotam a busca por uma sociedade igualitária
onde as pessoas possam ser respeitadas por seus direitos humanos.
As atividades desenvolvidas pelos educandos que participavam do processo
foram realizadas de forma contínua através da participação efetiva dos alunos nas
atividades propostas como interpretações de textos, músicas, charges, filme e
programas televisivos, atividades realizadas individual e coletivamente, produções,
discussões, paralelo, debate entre outras, ressaltando a análise dos pontos
considerados negativos e os positivos para posteriores melhoramentos.
Devo destacar que trabalhar nessa modalidade de oficinas enriquece o
saber sistematizado e proporciona uma valoração do aprendizado, partindo dessa
premissa, posso afirmar que foi gratificante estar tão perto do nosso aluno
socializando com ele ideias e experiências para se chegar ao ápice da nossa
proposta.
2.3 A experiência do Grupo de Trabalho em Rede
Ao vislumbramos por mudanças na educação devemos convir que
precisamos estar dispostos a aceitar as inovações que se fazem presentes no
contexto educacional, bem como compreender que essas mudanças decorrem de
um processo instrumental baseado em avanços possibilitando uma melhoria no
fazer educação, partindo dessa realidade considero que o uso das Tecnologias da
Informação e Comunicação (TIC) na formação continuada é uma tendência que vem
consolidar o ato de formação aliado ao uso das tecnologias consolidando uma
relação dialógica entre o professor que se faz um mediador e o aluno que passa a
ser um leitor interpretativo e produtivo.
Priorizando essa nova dinâmica de formação, uma das etapas do Programa
de Desenvolvimento Educacional foi participar de um curso a distância de tutoria,
isto é, do GTR (Grupo de trabalho em rede), para preparar-se para posteriormente
se tornar o tutor de um curso voltado para a temática desenvolvida no projeto.
O Grupo de Trabalho em Rede sob o título “A Mídia no contexto escolar:
uma possibilidade de intervenção no ensino da cultura Afro-Brasileira e Africana”
teve a inscrição de 15 professores da rede Estadual do Paraná, no princípio alguns
participantes não acessavam o ambiente causando apreensão. Dessa forma, parti
para vários recursos como email, e_mensagens, conseguindo com que todos
viessem a participar do curso, infelizmente no decorrer do mesmo, embora houvesse
ocorrido a prorrogação das datas, alguns cursistas deixaram de aproveitar essa
oportunidade para pôr em dia suas atividades, apesar das diversas mensagens que
foram enviadas solicitando a participação. Em contrapartida os que foram assíduos
representaram a maioria e mostraram-se comprometidos com a melhoria da Escola
pública em trabalhar temas contemporâneos, a partir das mais variadas dinâmicas,
ressaltando que o objetivo maior é a aprendizagem do aluno.
A interatividade contribuiu para a troca de experiências e a fundamentação
teórica da História da cultura afro-brasileira e africana. No decorrer do curso a
participação dos cursistas, tanto nos fóruns como nos diários possibilitou um
conhecimento da realidade onde os cursistas atuam, apesar de serem de diferentes
cidades do Paraná, existia reciprocidade no pensamento dos cursistas, quanto à
possibilidade de utilizar o material da produção didática para aprofundar o tema em
questão sem contar que as experiências relatadas foram de grande valia para o
aprimoramento da turma contribuindo para socialização de novas experiências que
poderemos estar utilizando em nossas salas de aula.
Dos quinze participantes inscritos apenas um não desenvolveu todas as
etapas do curso, infelizmente não podendo ser certificado.
Nas temáticas do curso online GTR, fazia parte o desenvolvimento do diário
e fórum onde os participantes deveriam analisar o material e posteriormente
socializar conhecimentos. Para fundamentar o foco do trabalho destacarei as
interpretações realizadas no diário de alguns participantes em relação a temática 1,
que tinha como referência a leitura do Projeto.
Destacando que o sistema educativo em seu contexto real deve conciliar
teoria à prática, utilizando-se como instrumento de formação da cidadania. Após a
leitura do Projeto de Intervenção Pedagógica, é possível perceber a importância da
fundamentação teórica sobre a Cultura Afro-brasileira e Africana para a melhoria da
qualidade da escola pública?
Correspondendo ao solicitado acima as interpretações de alguns
participantes do grupo de trabalho em rede sob o tema “A mídia no contexto escolar
uma possibilidade de ensino da História da cultura Afro Brasileira e Africana”,
referentes as análises e interpretações que permeavam a temática 1 do curso em
questão foram significantes e merecedoras de destaque pela seriedade com que foi
tratado o tema, a seguir algumas citações, segundo a participante A:,
O presente projeto aborda uma questão relevante para a sociedade como um todo - o conhecimento acerca da cultura africana e sua influência na formação da nação brasileira. Embora a escola seja condicionada pelas relações de poder, são os professores e alunos que a constroem. Quero dizer que sempre existiu e existirá uma classe dominante e uma dominada e que depende da atuação cosnciente dos profissionais para tentar esclarecer essa questão, só assim será possível contribuir para a formação de cidadãos autonomos, conscientes de si e que valorizem sua história e influência, em especial a africana.
De acordo com a participante B:
O ato de educar na escola não tem atingido o objetivo de possibilitar às pessoas uma visão mais abrangente do mundo em que vivem, muito ao contrário, segue o modelo em que são depositados conhecimentos um a um, que pouco contribuem para uma formação cidadã. A instituição escolar tem de criar mecanismos e instrumentos de uso permanente, via projeto político-pedagógico e currículo, para intervir na realidade que exclui o negro (pretos e pardos) entre outros, do acesso aos direitos humanos fundamentais. Para tanto, deve constituir-se em ambiente educativo, acessível a toda a comunidade escolar, em que se respeita o outro, em que se dá visibilidade a todos, combatem-se as discriminações, busca-se eliminar os preconceitos e são desfeitos os estereótipos, em que se estimula a auto-imagem e a auto-estima positivas, em que se promove a igualdade étnico-racial pela desconstrução das diferentes formas de exclusão.
Para a participante C,
A beleza do momento que vivemos hoje, é que muitos educadores estão decididamente caminhando ao encontro de resgatar a cultura africana e de analisar os comportamentos de seus alunos frente a situações de discriminação. Boa parte dos docentes, estão contribuindo na formação deste ambiente de não exclusão em sala de aula. Isso significa mudanças na Educação!
Na visão da participante D,
O aprofundamento sobre a cultura africana e de seus descendentes é sempre relevante para todos nós, como profissionais e como seres humanos cientes da dívida pendente com os negros e cientes de que somos todos seres humanos, com os mesmos direitos e deveres. É através da mudança de concepções de mundo que será possível ultrapassar as barreiras do preconceito, alteraremos o olhar que temos atualmente sobre nossos semelhantes.
Dentro desta temática ainda, o diário era outra atividade a ser desenvolvida
pelos professores cursistas e as indagações a ser solicitadas pelos integrantes
desenvolveu-se dessa maneira: “Partindo do pressuposto que a escola pública deve
dar uma formação integral ao aluno, de que forma a abordagem da temática da
História da Cultura Afro-Brasileira e Africana dentro de uma fundamentação teórica
com análise midiática pode contribuir no cotidiano escolar para que isso ocorra?”
De acordo com a visão da participante E,
a escola é um espaço íntegro e seu papel é permitir o acesso aos conteúdos culturais historicamente construídos e desenvolvimento individual dos cidadãos. A contribuição da temática História da Cultura Afro-Brasileira e Africana é de valorizar e ser mais humano independente de cor é lutar por uma sociedade igualitária. A TV ainda é uma fonte de lazer muito grande para muito de nossos alunos e fortalece a imagem de pessoas negras envolvidas em coisas negativas como descendentes afros de forma estereotipada e preconceituosa na sociedade atual. Na nova novela “Aquele beijo” já esta sendo difundida a imagem me moça negra que mora na favela e que agora foi promovida a cargo de gerência pela patroa, só que a intenção é subornar ela nossos devemos mudar essa imagem instruindo nossos alunos e levando eles a uma reflexão sobre o assunto para que os mesmos sejam instruídos e reflitam sobre tema. A temática da História e Cultura Afro contribui para a formação integral do aluno, no sentido de promover a educação de cidadãos atuantes e conscientes na sociedade. Também proporciona a valorização das raízes africanas da nação brasileira, ao lado das indígenas, européias e asiáticas. Essa temática não se esgota, pois as contribuições dos povos africanos e afro-brasileiros são muito grandes, seja na questão cultural, econômica, política e social. Podemos abordar todas essas dimensões de maneira a elucidar a importância deles para a formação de nosso país.
Para a participante F,
Proporcionar ao aluno um “novo olhar” sobre a forma como os negros foram e ainda estão sendo tratados na atualidade, é imprescindível. Observamos que a maneira como a mídia apresenta a maioria dos negros só faz reforçar ainda mais a discriminação racial. Geralmente aparecem em telenovelas nos papéis subalternos, bêbados ou drogados. Também são ridicularizados em alguns programas de humor, dentre tantas outras situações humilhantes e depreciativas. Portanto, os professores devem levar a sério a Lei 10639 e de fato implementá-la em sala de aula, mostrando aos alunos que é possível construirmos uma sociedade sem preconceitos, onde os cidadãos de fato sejam tratados de maneira igualitária.
Enfim nas três etapas do curso em que foram solicitados desenvolvimento e
envolvimento, primeiramente com o Projeto, posteriormente com a produção didática
e, por fim com a implementação na escola percebeu-se a simpatia pelo tema e a
necessidade de aprofundá-lo, para que possamos ter subsídios para aplicarmos em
nossas escolas, tendo em vista que, apesar da existência da Lei desde 2003, existe
muita resistência por parte dos educadores em trabalhar tal temática e um dos
motivos mais destacados é a falta de aprofundamento teórico, que acreditamos que
a medida que avançamos estaremos acumulando e nos proporcionando maiores
debates.
A oportunidade de socializar conhecimentos que ocorreu através do
desenvolvimento do GTR pode ser considerado inédito na educação tendo em vista
que o mesmo está baseado na educação a distância que hoje é um diferencial para
a apropriação do saber, e os professores da rede estadual do Paraná vem confirmar
pelo alto índice de inscrição que tem ocorrido.
Em síntese, posso afirmar que foi gratificante para mim enquanto tutora e
para os cursistas também, por representar uma possibilidade de socializar nossos e
novos conhecimentos, tendo em vista, que a partir da fundamentação teórica
baseada em textos podemos interpretar a partir de pressupostos que vislumbram
uma melhor qualidade da escola pública.
Considerações finais
Ao concluirmos este trabalho direcionado para alunos da rede pública
estadual do Estado do Paraná queremos poder estar contribuindo com as novas
dinâmicas de trabalhar um tema como a história da cultura afro-brasileira e africana
que merece nosso respeito e destaque, por tratar-se de um assunto que está
pautado em novas experiências, que tem por objetivo eliminar conteúdos racistas,
preconceituosos e estereotipados, este é um tema que esta em constante discussão
dessa forma não se encerra o projeto, mas está aberto a novas intervenções que
venham a contribuir com o melhoramento da proposta e a consolidação dos
objetivos.
A busca do saber e a aplicação prática do envolvimento de todo o trabalho
foi um sonho, sonhados juntos, e a incessante aspiração da construção de uma
sociedade democrática almejada onde as diferenças raciais, culturais e sociais não
sejam alvo de discriminação, mas um fator possível da edificação de uma identidade
nacional uniforme, sem pluralismo cultural é a concretização de nossos objetivos ao
nos propormos a executar um projeto focado na amenização das desconformidades
raciais e sociais da humanidade que ora se faz realidade.
A partir das discussões estabelecidas dos referidos pressupostos teóricos,
acreditamos que as histórias cruzadas que expressam os clamores represados de
uma nação possam vislumbrar na edificação de uma sociedade justa e igualitária.
A produção didática aplicada aos alunos ao usar de discussões teóricas
possibilitou abertura a compreensão da relevância que o tema em evidência possui
e a necessidade de aprofundá-lo, bem como a preponderância dos conceitos a ele
relativos. As metodologias utilizadas, ou seja, em forma de oficinas contribuiu para a
compreensão e a interatividade com a proposta, tendo proporcionado aos alunos o
enriquecimento do saber e a capacidade de analisar criticamente.
O foco de todo trabalho esteve pautado no reconhecimento à visibilidade
imediata de seres humanos que vivem privados de exporem seus sentimentos
devido a demarcação de dor que provém de um passado longínquo, mas que custa
a cair no anonimato.
O que permeou nossos direcionamentos foi à busca do saber e a presente
necessidade de qualificação que está pautada no reconhecimento de que novos
horizontes podem vislumbrar a partir de aprofundamentos teóricos, aliados ao
enobrecimento do saber popular que está enraizado em nossos aspectos culturais,
provenientes da mistura étnica que nos antecedeu.
Esperamos que os percalços encontrados em nossa caminhada sejam
sobrepostos a partir da concretização e finalização deste artigo que tem por princípio
enfatizar a História da cultura afro- brasileira e africana priorizando a ideologia real
sem mensagens sublimares, ou seja, sem incógnitas, desmistificando ideologias
cruciais e percebendo a maturidade e a evidência com que se trata atualmente a
temática em questão, tendo como prerrogativa o embasamento da Lei 10.639/03
tendo em vista, que o fim da escravidão não foi suficiente para devolver aos
descendentes afros o respeito que eles merecem.
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