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Análise do Desempenho de Habitações Populares Construídas em
Belo Horizonte, a Partir de Ensaios Preconizados Pela NBR
15575:2013
Suzana Rodrigues
Seguro1Irley Geraldo Alves
Vieira2Ramon Pereira de
Azevedo3
Resumo: O governo brasileiro envida esforços no sentido de diminuir o déficit
habitacional no país, contudo, deve existir também preocupação com a qualidadedas
habitações construídas. Desenvolve-se neste artigo, um pequeno diagnóstico das
habitações populares do município de Belo Horizonte através da avaliação de três
tipos de desempenho: lumínico, térmico e acústico, prescritos na NBR 15575/xx.
Para essa análise foram realizados ensaios de campo em edificações construídashá
aproximadamente dez anos e habitações recentemente erigidas, mas ainda não
entregues. Trata-se da obtenção e análise de resultados, buscando aferir o
atendimento ou não aos níveis de desempenho requeridos e ainda estabelecer um
comparativo entre as edificações construídas há quase dez anos e edificações
construídas nos dias atuais. Ressalta-se a importância desta análise, tendo em vista
a utilização de recursos públicos e a necessária garantia de atendimento aos
requisitos mínimos da referida NBR, assegurando consequentemente a qualidade
dashabitações.
Palavras Chaves: Desempenho, habitações, ensaios, NBR 15575:2013. Introdução
A NBR- 15575:2013 – Edificações Habitacionais – Desempenho vem
complementar e aprimorar, com grandes esclarecimentos, a normatização já
existente sobre o desempenho das edificações, trazendo em seu texto, informações
e parâmetros importantes sobre os diversos sistemas construtivos da edificação.
Desde 2008, quando foi publicado, o texto que tratava apenas de edificaçõesde até
5 pavimentos. Pôde-senotar como os avanços na construção civil e o
1Engenheira Civil - Mestre em Transportes pela Universidade Federal de Brasília. 2Graduando em Engenharia Civil pela Escola de Engenharia Kennedy. 3Graduando em Engenharia Civil pela Escola de Engenharia Kennedy.
amadurecimento na cadeia produtiva do país contribuíram para melhoria do texto
original, proporcionando uma maior abrangência nos parâmetros e adequação a
realidade atual do país. Isto é claramente exposto quando vemos que esta versão
não chegou a entrar em vigor em 2010, como estava programado, devido a grande
preocupação das construtoras e também dos responsáveis pela elaboração do texto
em analisar melhor a realidade das habitações no país e proporcionar a melhorianos
processos construtivos para melhor adequação e correçõesnecessárias.
A nova versão da NBR traz novidades e adaptações significativas em
relação ao texto anterior, apresentando conceito de comportamento em uso dos
componentes e sistemas das edificações. A construção habitacional deve atender as
exigências dos usuários ao longo dos anos, como nos mostra o Guia Orientativo
ABNT 15575, publicado em 2013 pela CBIC- Câmara Brasileira da Indústria da
Construção. Trata-se de um avanço na qualidade da produção habitacional,
buscando aperfeiçoar os processos construtivos e expressar melhor as
responsabilidades de todos os envolvidos, tendo em vista que o desempenho dos
sistemas depende diretamente de uma ligação satisfatória entre todos no setor
construtivo (projetistas, construtores, fornecedores, fabricantes,etc.).
A Revista Téchne, Ed. 192, de março de 2013, apresenta uma reportagem
interessante sobre a publicação da NBR 15575, e acrescenta “(...) mais detalhada e
abrangente, a NBR 15575:2013 deve gerar uma pequena alta nos custos da
construção”, portanto, pode-se afirmar que, com as exigências normativas, agora, o
processo de construções habitacionais deverá ser mais rigoroso, visando à melhoria
do desempenho das edificações, mas, trazendo uma elevação nos custos, pois
necessitará seguir os requisitos e adequar o empreendimento para atendimento a
norma. A Revista ainda pondera que os órgãos financiadores, como o programa
Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal, deverão considerar os aumentos
causados para adequação dos empreendimentos à norma, tendo em vista o setor de
construção para a baixa renda.
São as construtoras/incorporadoras as mais afetadas com a revisão desta
norma, tendo em vista que anteriormente não havia parâmetros iniciais, requisitos
prévios, voltados para o desempenho na construção de casas e edifícios, tanto no
segmento econômico, como no alto padrão. Além disso, a partir de agora os órgãos
fiscalizadores deverão se utilizar da norma para intensificar e ampliar a fiscalização,
principalmente das construções populares, executadas com recursos públicos.
Em Belo Horizonte, desde o ano de 2003 até hoje, muitas obras foram
realizadas, principalmente, moradias populares, visando à regularização e
urbanização de vilas e favelas da cidade. Trata-se de programas do governo
municipal em parceria com programas do governo federal, com incentivos à
habitação popular através da construção de edificações de baixo custo. Neste
contexto, considerando que são utilizados recursos públicos, vale ressaltar a
importância da análise dos parâmetros construtivos, tendo em vista os requisitos e
critérios estabelecidos pela NBR 15575:2013. É preciso garantir a qualidade e
atentar para o possível surgimento de problemas e patologias nas edificaçõesdevido
a diversos fatores, bem como a insatisfação dos usuários da edificação por mau
dimensionamento e/ou definições no projeto econstrução.
O presente artigo traz a partir da análise da NBR 15575:2013, os resultados
de ensaios de campo realizados em edificações populares de Belo Horizonte. Entre
outros contemplados pela citada norma, foram pesquisados três tipos de
desempenho: lumínico, térmico e acústico. Os ensaios foram realizados com intuito
de aferir o atendimento às premissas da norma e, de estabelecer um comparativo
entre habitações edificadas a mais de 9 anos e outras recentemente executadas e
ainda não entregues. Neste aspecto, verifica-se o atendimento à norma de forma
temporal, avaliando, no contexto deste tipo de edificação, se a preocupação com a
proteção/garantia via normatização específica dos requisitos de desempenho, era
legítima e necessária.
Seguem os dados coletados e as referidas conclusões. Além de analisar o
atendimento aos níveis de desempenho lumínico, térmico e acústico, conforme
supracitado, o presente artigo pontua brevemente algumas disposições da NBR com
relação a suas partes e a vida útil de projeto, item inovador desta NBR, e que
interferem diretamente nos níveis de desempenhos requeridos para cada tipo de
edificação.
NBR 15575:2013 – Suas Partes e a Vida Útil de Projeto
A NBR 15575:2013, revisada e atualizada, apresenta basicamente os
Requisitos de Desempenho, os Critérios de Desempenho e respectivos Métodos de
Avaliação, compreendendo as seguintes partes: Parte 1 – Requisitos Gerais, Parte 2
– Requisitos para os sistemas estruturais, Parte 3 – Requisitos para os sistemas de
pisos,Parte 4- Requisitos para os sistemas de vedações verticais internas e
externas, Parte 5- Requisitos para os sistemas de coberturas e Parte 6 – Requisitos
para os sistemas hidrossanitários. Em cada uma das partes verificam-se exigências
relativas à segurança (desempenho mecânico, segurança contra incêndio, etc.),
habitabilidade (estanqueidade, desempenho térmico e acústico, etc.) e
sustentabilidade (durabilidade, manutenibilidade, etc.). (GUIA ORIENTATIVO ABNT
15575; p.20; 2013).
A NBR 15575:2013, em cada um dos critérios, estabelece um patamarmínimo
(M) de desempenho, que deve ser obrigatoriamente atingido pelos
diferenteselementos e sistemas da construção. Para alguns critérios são indicados
outros doisníveis de desempenho, intermediário (I) e superior (S),sem caráter
obrigatório erelacionado em “Anexos Informativos”, presentes nas diferentes partes
da norma.A NBR 15575 apresentatambém como ponto inovador, a definição de
Vida
Útil de Projeto – VUP que trata da estimativa de período para cada sistema
construtivo. Na íntegra o texto diz:
Vida Útil de Projeto (VUP) – período estimado de tempo para o qual um sistema é projetado, a fim de atender aos requisitos de desempenho estabelecidos nesta Norma, considerando o atendimento aos requisitos das normas aplicáveis, o estágio do conhecimento no momento do projeto e supondo atendimento da periodicidade e correta execução dos processosde manutenção especificados no respectivo manual de uso, operação e manutenção (a VUP não pode ser confundida com o tempo de vida útil, durabilidade e prazo de garantia legal ou contratual). (NBR 15575:2013; Parte 1- Requisitos Gerais;p.22).
Assim, pode-se dizer que com o auxílio desta norma é possível obter
orientações mais precisas quanto à determinação da Vida Útil dos sistemas
construtivos de uma edificação habitacional, tendo em vista o projeto e os níveis de
desempenho requeridos para determinado empreendimento ou sistema construtivo.
Na tabela a seguir, estão expressos os tempos estimados em cada sistema.
Tabela 1 – Vida útil de projeto mínima e superior (VUP) a
(Fonte: Anexo C, Tabela C.5, pág. 66 da NBR 15575-1).
Pode-se afirmar que estes prazos estabelecidos na Norma, expressam a
grande responsabilidade no período de projeto, para estabelecimento dos níveis a
serem atingidos. É preciso pensar de maneira sistêmica, visando todo conjunto da
edificação, bem como nos elementos construtivos a serem utilizados, pois isto está
diretamente ligado ao bom ou mau desempenho dos sistemas, e da própria
edificação como um todo. A NBR ressalta ainda neste item que o atendimento aos
níveis, depende diretamente do correto uso e manutenção da edificação, alterações
climáticas e níveis de poluição no local da obra e mudanças no entorno da obra ao
longo do tempo. São basicamente interferências que poderão reduzir o tempo
calculado para VUP. Assim, é necessário apontar que a VUP será atendida quando
forem criteriosamente cumpridas as disposições das normas prescritivas ABNT para
os projetos, a execução for realizada seguindo as normas competentes e o uso,
manutenção e operação da edificação seguirem as prescrições técnicas
relacionadas.
Definições dos desempenhos – Lumínico, Térmico e Acústico
A partir da análise da NBR 15575:2013, pode-se perceber os diferentes tipos
de desempenho tratados no texto. Mas, neste artigo, trataremos apenas da
abordagem do desempenho lumínico, considerando somente a iluminância natural
pela determinação do FLD – Fator de luz diurna; o desempenho acústico,
considerando exclusivamente a análise do método de avaliação simplificado de
campo,para o sistema de vedação externa; e por fim o desempenhotérmico,
considerando apenas a avaliação por meio de medição interna da edificação e os
valores máximos de temperatura.
Desempenho Lumínico
No item desempenho lumínico encontram-se os vários critérios estabelecidos,
os requisitos e os métodos de avaliação para determinação dos níveis de
desempenho da edificação. A Parte 1 – Requisitos Gerais discorre sobre o
desempenho lumínico. Nesta parte encontramos a definição do critério por meio de
medição in loco para determinação do Fator de Luz Diurna (FLD). A tabela a seguir,
encontrada no Anexo E da NBR, estabelece o critério, de acordo com os valores
encontrados para o FLD:
Tabela 2 – Fator de luz diurna para os diferentes ambientes da habitação
(Fonte: Anexo E, Tabela E. 4, pág. 76 da NBR 15575-1)
A NBR, na Parte 1 – Requisitos Gerais, na página 40 também descreve o
Método de avaliação, da seguinte maneira:
Realização de medições no plano horizontal, com o emprego do luxímetro portátil,
erro máximo de + - 5% do valor medido, no período compreendido entre 9 h e 15 h,
nas seguintes condições:
- medições em dias com cobertura de nuvens maior 50 %, sem ocorrência de
precipitações.
- medições realizadas com a iluminação artificial desativada, sem a presença de
obstruções opacas (janelas e cortinas abertas, portas internas abertas, sem roupas
estendidas nos varais,etc.);
- medições no centro dos ambientes, a 0,75 m acima do nível dopiso; - para o caso de conjuntos habitacionais constituídos por casas ou sobrados,
considerar todas as orientações típicas das diferentesunidades;
- para o caso de conjuntos habitacionais constituídos por edifícios multipiso,
considerar, além das orientações típicas, os diferentes pavimentos e as diferentes
posições dos apartamentos nosandares;
- na ocasião das medições não pode haver incidência de luz solar direta sobre os
luxímetros, em circunstânciaalguma;
- o fator de luz diurna (FLD) é dado pela relação entre a iluminância interna e a
iluminância externa à sombra, de acordo com a seguinteequação:
FLD
Onde: Ei é a iluminância no interior da dependência;
Eeé a iluminância externa à sombra.
Desempenho Térmico
Neste item de desempenho, a NBR apresenta na Parte 1 – Requisitos Gerais,
dois procedimentos para avaliação da adequação das habitações, sendo o
Procedimento 1, normativo, e o Procedimento 2, informativo, com descrição
detalhada no Anexo A da norma. Para este artigo, será tratado apenas do
procedimento 2 (informativo), tendo em vista as dificuldades para verificação da
capacidade térmica e da transmitância térmica, conforme os critérios estabelecidos
nas ABNT NBR 15575-4 e ABNT NBR 15575-5. Este procedimento tem caráter
meramente informativo e não se sobrepõe ao procedimento 1, portanto as análises
aqui apresentadas não tem o propósito de mensurar de maneira rigorosa, neste
requisito, os níveis de desempenho das edificações populares ensaiadas.
Assim, seguem as orientações descritas no Anexo A, da NBR, para avaliação
do desempenho térmico de edificações por meio de medição:
1. A avaliação do desempenho térmico de edificações, via medições in loco,
deve ser feita em edificações em escala real(1:1);
2. Medir a temperatura de bulbo seco do ar no centro dos recintos dormitórios e
salas, a 1,20 m do piso. Para as medições de temperatura, seguir as
especificações de equipamentos e montagem dos sensores, apresentadas na
ISO7726.
3. Para avaliar edificações existentes, devem-se considerar as situações
apresentadas a seguir e realizar-se a avaliação conforme orientaçõesabaixo:
a) no caso de uma única unidade habitacional, medir nos recintos indicados
no Anexo A, como seapresentam;
b) em conjunto habitacional de unidades térreas e edifícios multipiso,
escolher uma ou mais unidades que possibilitem a avaliação nas
condições estabelecidas aseguir:
- verão: janela do dormitório ou sala voltada para oeste e outra parede
exposta voltada para onorte;
- inverno: janela do dormitório ou sala de estar voltada para o sul e outra
parede exposta para oleste;
- no caso de edifício multipiso, selecionar unidades do últimoandar;
- caso as orientações das janelas dos recintos não correspondam
exatamente às especificações anteriores, priorizar as unidades que
tenham o maior número de paredes expostas e cujas orientações das
janelas sejam mais próximas da orientaçãoespecificada.
Assim, ressalta-se que para realização do ensaio de campo referente a este
método simplificado, foi utilizado o termo-higrômetro, que realiza as medições de
temperatura de bulbo seco e umidade relativa do ar.
Para avaliar e determinar os níveis de desempenho pelo critério da norma é
preciso antes conhecer a zona bioclimática a que pertence a cidade em que se
realizam os testes. Abaixo se apresenta uma tabela com dados informativos de
algumas cidades brasileiras incluindo Belo Horizonte, o mapa do Brasil, coma
divisão das zonas bioclimáticas e ao lado o mapa da zona 3, onde se enquadra a
cidade de Belo Horizonte. Estes mapas e tabelas constam no Anexo A, da NBR.
Tabela 3 – Dados de algumas cidades brasileiras
(Fonte: Anexo A, Tabela A. 1, pág. 57 da NBR 15575-1)
Figura 1- Mapa das zonas bioclimáticas brasileiras
Figura 2 - Mapa da zona onde a cidade de Belo Horizonte esta situada
(Fonte: Anexo A, Tabela A. 1, pág. 54 e 55 da NBR 15575-1)
A seguir tem-se a tabela com os níveis de desempenho, considerando os
valores máximos de temperatura no verão. A norma também apresenta os valores
mínimos de temperatura para o inverno, porém para fins deste artigo será tratada
apenas a tabela com os critérios de avaliação de desempenho térmico para
condições de verão.
Tabela 4 – Critério de avaliação de desempenho térmico para condições de verão
(Fonte: Anexo E, Tabela E. 1, pág. 74 da NBR 15575-1)
Conforme a tabela os valores máximos diários de temperatura do arno interior
de recintos de permanência prolongada (salas e dormitórios) devem ser sempre
menores ou iguais ao valor máximo diário da temperatura do ar no exterior para o
dia típico de verão. Isto corresponde ao Nível Mínimo de desempenho.
Desempenho Acústico
Neste item da NBR 15575:2013 estão descritos os principais critérios para
avaliação dos níveis de desempenho da edificação, bem como os ensaios emétodos
de verificação a serem adotados para análise do desempenho acústico. Para fins
deste artigo, serão abordados os Requisitos descritos na Parte 4 – Requisitos para
os sistemas de vedações verticais internas e externas – SVVIE, mais precisamente
serão tratados os Níveis de ruído permitidos na habitaçãoatravés do método de
avaliação simplificado decampo.
Conforme a NBR 15575-4, o método permite obter uma estimativa do
isolamento sonoro global da vedação externa (conjunto fachada e cobertura, no caso
de casas térreas e sobrados, e somente fachada nos edifícios multipiso), do
isolamento sonoro entre recintos internos, em situações onde não se dispõe de
instrumentação necessária para medir o tempo de reverbação, ou quando as
condições de ruído de fundo não permitem obter este parâmetro. O método
simplificado é descrito na ISO 10052. Os resultados obtidos restringem-se somente
às medições efetuadas.
Para compreensão deste método de campo, a NBR, na página 42, apresenta
uma tabela com a nomenclatura dos índices e a devida aplicação quanto aos
sistemas construtivos:
Tabela 5 – Parâmetrosacústicos de verificação
(Fonte: Tabela 16, pág. 42 da NBR 15575-4)
Com utilização de um decibelímetro portátil foram realizados os ensaios
referentes a este método simplificado, para determinação da isolação acústica.
Foram realizadas medições internas, nos dormitórios das habitações, a 2 metros da
parede da fachada e medições externas também a 2 metros da fachada, no piso
térreo. Obtendo a partir disto os valores necessários para determinar o nível de
pressão sonora LAeqe, assim, obter o D2m, NT, w , que é dado pela fórmula seguinte:
D2m, NT,w= LAeq(externo) – LAeq(interno)
A partir deste valor então, é possível aferir, utilizando a tabela a seguir, o
nível de desempenho acústico de acordo com a localização de cadahabitação:
Tabela 6 – Diferença padronizada de nível ponderada da vedação externa, D2m, NT,wpara ensaios de campo
(Fonte: Anexo F, Tabela F. 9, pág. 68 da NBR 15575-4)
Ensaios Realizados e Análise dos Dados Coletados
Utilizando-se dos métodos descritos anteriormente para análise dos níveis de
desempenho lumínico, térmico e acústico, foram realizados ensaios de campo para
obtenção de dados relativos a edificações populares construídas em Belo Horizonte
a mais de 9 anos e edificações populares recentemente executadas e ainda não
entregues. Foram realizados ensaios nos dias 05 de outubro de 2013 e 15 de
outubro de 2013, no intervalo das 13hs às 15h00minhs em dois conjuntos
habitacionais populares distintos, utilizando como amostragem para os ensaios do
desempenho lumínico e térmico, quatro unidades habitacionais em diferentes
pavimentos, e para o desempenho acústico três unidades habitacionais também em
diferentespavimentos.
Foram utilizados os seguintes equipamentos para realização dos ensaios:
Luxímetro digital, fabricado pela INSTRUTHERM, modelo LD-300, nº de série
994021859 – calibrado pela empresa P.S Controles Industriais, na data de 20 de
junho de 2013, certificado nº 1513A9336. Decibelímetro, fabricado pela
INSTRUTHERM, modelo DEC-460, nº de série 10030480 – calibrado pela empresa
de P.S Controles Industriais, na data de 20 de junho de 2013, certificado nº
1513A9338. Termo-Higrômetro, fabricado pela empresa ICEL, modelo WM-1800, nº
de série 0169 - calibrado pela empresa P.S Controles Industriais, na data de 20 de
junho de 2013, certificado nº 1513A9337.
As edificações escolhidas para realização dos ensaios estão localizadas nos
seguintes endereços:
- Edificações antigas– Rua Jeferson Coelho, nº331(BLOCO 1), nº 369(BLOCO 2) e
nº423(BLOCO 3) – Bairro Serra, Belo Horizonte-MG.
- Edificações novas – Rua União, nº 15 A (BLOCO 1), nº 15 B (BLOCO 2), nº 15 C
(BLOCO 3), nº 15 D (BLOCO 4) – Bairro Serra, Belo Horizonte -MG.
Abaixo seguem algumas fotos das edificações, antigas e novas, respectivamente:
Figura 3 - Vista frontal do Bloco 2 dasedificaçõesantigas Figura 4 - Vista lateral do bloco 1das edificaçõesantigas
Figura 5 - Vista lateral das edificações novas Figura 6 - Vista frontal do bloco 1 das
edificações novas
A partir dos ensaios realizados e demais verificações necessárias realizadas
no local, bem como os cálculos prescritos na NBR 15575:2013, apresentam-se por
meio das tabelas seguintes os dados obtidos e a determinação dos níveis de
desempenho para cada uma das habitações onde foram realizados os ensaios,
expressando o atendimento ou não aos níveis.
Para o desempenho lumínico, seguem os resultados obtidos:
Tabela 7 – Apresentação de resultados para o desempenho lumínico em edificação antiga
EDIFICAÇÕES ANTIGAS
Bloco Apartamento Cômodo LuxInterno Lux Externo FLD Desempenho
1 402
b
dormitório 210 16780 1,25% S
sala 363 16780 2,16% S
1 301
b
dormitório 353 16780 2,10% S
sala 393 16780 2,34% S
2 304
a
dormitório 1570 10810 14,52% S
sala 2290 10810 21,18% S
3 302
b
dormitório 271 18380 1,47% S
sala 333 18380 1,81% S
a: apartamentos localizados no fundo da edificação (tomando como referência a Rua Jefferson Coelho) b: apartamentos localizados na parte frontal da edificação (tomando como referência a Rua Jefferson Coelho)
Tabela 8 - Apresentação de resultados para o desempenho lumínico em edificação nova
EDIFICAÇÕES NOVAS
Bloco Apartamento Cômodo Lux Interno Lux Externo FLD Desempenho
1 402a
dormitório 1280 11150 11,48% S
sala 960 11150 8,61% S
2 402a
dormitório 876 6160 14,22% S
sala 812 6160 13,18% S
4 302a
dormitório 1060 6890 15,38% S
sala 1287 6890 18,68% S
4 401b
dormitório 1068 6890 15,50% S
sala 1186 6890 17,21% S a: apartamentos localizados no fundo da edificação (tomando como referência a entrada lateral da Rua União) b: apartamentos localizados na parte frontal da edificação (tomando como referência a entrada lateral da Rua União)
Notoriamente, pode-se perceber que o nível de desempenho alcançado para
todos os apartamentos ensaiados foi superior (S), como primeira análise isto se
apresenta satisfatório do ponto de vista construtivo, e esta relacionado diretamente a
fatores como a dimensão das janelas dos cômodos onde foram realizados os
ensaios, a tonalidade das paredes dos cômodos, as boas condições do tempo no dia
dos ensaios, os horários em que estes foram realizados, enfim, dentre outros. Sendo
que, a posição dos apartamentos numa mesma edificação (frente e fundo) não foi
observada como interferência para obtenção dos resultados, sem provocar
relevantes alterações nos dados coletados pelo equipamento deste ensaio.
Todavia, é importante ressaltar que este tipo de edificação (popular) não
apresenta muitas vezes, uma arquitetura satisfatória, tendo em vista o
aproveitamento iluminância natural. Por se tratar de edificações “padrão”, com
restrição econômico-construtiva, é notório que já haja certa dependência obrigatória
da iluminação artificial, não buscando adequar à boa iluminância natural com
melhores formas construtivas, visando conforto dos usuários e redução nos índices
de consumo de energia por iluminação artificial.
Para o desempenho térmico, seguem os resultados:
Tabela 9 - Apresentação de resultados para o desempenho térmico em edificação antiga EDIFICAÇÕES ANTIGAS
Bloco Apt. 1 Cômodo Ti,máx. 2
Te,máx.3
Critério4 Nível de
Desempenho M I S
1
402b
dormitório 25,1 26,6 atende nãoatende nãoatende M
sala 25,5 26,6 atende nãoatende nãoatende M
1
301b
dormitório 25,5 26,6 atende nãoatende nãoatende M
sala 26,4 26,6 atende nãoatende nãoatende M
2
304a
dormitório 26,2 25 nãoatende nãoatende nãoatende nãoatende
sala 27 25 nãoatende nãoatende nãoatende nãoatende
3
302b
dormitório 27,6 26,1 nãoatende nãoatende nãoatende nãoatende
sala 26,2 26,1 nãoatende nãoatende nãoatende nãoatende
1. Apt.:apartamento 2. Ti,máx. : temperaturainternamáxima
3. Te,máx.: temperatura externamáxima.
4. Considera-se o maior nível de desempenhoatendido
a: apartamentos localizados no fundo da edificação (tomando como referência a Rua Jefferson Coelho) b: apartamentos localizados na parte frontal da edificação (tomando como referência a Rua Jefferson Coelho)
Tabela 10 - Apresentação de resultados para o desempenho térmico em edificação nova
EDIFICAÇÕES NOVAS
Bloco Apt. 1
Cômodo Ti, máx.
2 Te, máx.
3
Critério4 Nível de
Desempenho M I S
1
402a
dormitório 25,5 28,1 atende atende nãoatende I
sala 25,1 28,1 atende atende nãoatende I
2
402a
dormitório 25,6 27,6 atende atende nãoatende I
sala 25,5 27,6 atende atende nãoatende I
4
302a
dormitório 26,1 27,1 atende nãoatende nãoatende M
sala 25,6 27,1 atende nãoatende nãoatende M
4
401b
dormitório 25,6 27,1 atende nãoatende nãoatende M
sala 25,8 27,1 atende nãoatende nãoatende M
1. Apt.:apartamento
2. Ti,máx. : temperaturainternamáxima
3. Te,máx.: temperatura externamáxima. 4. Considera-se o maior nível de desempenhoatendido
a: apartamentos localizados no fundo da edificação (tomando como referência a entrada lateral da Rua União) b: apartamentos localizados na parte frontal da edificação (tomando como referência a entrada lateral da Rua União)
Nas edificações novas todos os apartamentos alcançaram um nível de
desempenho mínimo ou intermediário, mesmo que com valores de temperatura
relativamente próximos. Pode-se atribuir isto, possivelmente, ao fato de as
edificações não se apresentarem mobiliadas ou relacionadas a posição topográfica
mais satisfatória. Não obstante de se especificar exatamente a causa, pode-se
afirmar que o conforto térmico dentro destas unidades, nestas condições, é
sumariamente diferente das edificações já habitadas. Assim como o observado no
desempenho lumínico, a posição dos apartamentos numa mesma edificação (frente
ou fundo) não foi observada como relevante nos dados coletados.
Nas edificações antigas, já habitadas, duas (50 %) não alcançaram o
desempenho mínimo. Contudo, os valores mensurados encontram-se bem próximos
do limite aceitável. A norma estabelece que a temperatura interna deve ser menor
ou igual a temperatura externa. É importante observar ainda que nas habitações que
alcançaram o desempenho mínimo, os valores encontram-se próximos do limite. Isto
pode ser analisado de várias maneiras, mas resumidamente aqui pode-se afirmar
que fatores como as camadas de revestimento utilizadas nestas edificações, as
características dos blocos empregados nas vedações externas, a dimensão das
esquadrias, a presença ou não de vegetação junto as edificações, as alterações
climáticas no ambiente das cidades, dentre outros, podem interferir na determinação
dos valores de temperatura máxima e consequentemente afetam no nível de
desempenho requerido para estashabitações.
Para o desempenho acústico, seguem os resultados:
Tabela 11 - Apresentação de resultados para o desempenho acústico em edificação antiga
Tabela 12 - Apresentação de resultados para o desempenho acústico em edificações novas
É possível afirmar que este é um dos mais complexos tipos de desempenho
de ser obtido, avaliado e principalmente alcançado, por muitas edificações, não
somente as populares. Trata-se de um desempenho intrincado, pois se relacionam
com diversos fatores, desde a qualidade na fabricação dos materiais a serem
utilizados na construção, a composição adequada na aplicação considerada em
projeto e até as mais variadas emissões sonoras presentes nas grandes cidades.
Pode-se citar ainda especificamente outros fatores, como o trânsito, a localização
topográfica das habitações, os afastamentos frontais e/ou laterais das edificações, a
presença de pontos comerciais e de transporte público próximos às edificações,
como elementos que, entre outros, influenciam diretamente no nível de desempenho
requerido, bem como a obtenção de dados por meio de medições.
Como no caso dos dois desempenhos anteriores analisados, a posição dos
apartamentos numa mesma edificação (frente e fundo) não foi observada como
interferência relevante.
Para os construtores e incorporadores este desempenho deve se colocar
como um ponto preocupante, haja vista a relação existente entre os ruídos no
ambiente doméstico e diversas doenças e alterações comportamentais. A
necessidade de atendimento a este desempenho apresenta-se como importante
reflexão sobre o nível de qualidade de muitas obras e processos executivos atuais,
bem como sobre o conforto dos usuários das habitações (populares ou não) e sua
qualidade de vida.
Conclusão
A norma NBR 15575:2013, além de orientar sobre a aplicação dos métodos
de avaliação e análise dos níveis de desempenho, traz novos e importantes
conceitos, no que se refere aos desempenhos e demais requisitos obrigatórios. Após
a realização dos ensaios e demais análises pertinentes, no que se refere aos
desempenhos abordados neste artigo (lumínico, térmico e acústico), pode-se dizer
que é necessário maior atenção dos construtores e projetistas para que as
habitações populares edificadas no município de Belo Horizonte, possam alcançar o
pleno atendimento aos requisitos da nova norma, ou seja, tenham suas condiçõesde
habitabilidadeasseguradas.
No que tange principalmente ao desempenho acústico, tendo em vista o
nãoatendimento em nenhum dos apartamentos ensaiados, antigos e novos,traz
grandepreocupação visto que são sabidos os efeitos adversos do ruído a saúde
humana.Os projetistas, construtores e incorporadores devem estar mais atentos
comrelação aos requisitos mínimos prescritos na NBR 15575. Ademais,
considerandoque são moradias populares e, em muitos casos, financiadas ou
subsidiadas comrecursos públicos, a busca pela adequação deveria também ser
provocada e exigidapelo poder público.
O atendimento à referida norma é de grande importância, pois influencia
diretamente na qualidade de vida dos usuários. Segundo dados do IBGE (2012) o
déficit habitacional brasileiro para famílias com renda até 5 salários mínimos é de
13,8 milhões de unidades. O governo tem envidado esforços no sentido de melhorar
estes índices. Contudo, é necessário construir com qualidade. A indústria da
construção civil tem se beneficiado das políticas habitacionais do governo e deve dar
a contrapartida. Todos os envolvidos no processo devem se inteirar de suas
responsabilidades.
A Revista Construção Mercado, Ed.132, de julho de 2012, apresenta uma
reportagem interessante sobre construções populares do Programa Minha Casa
Minha Vida, relacionando algumas das principais falhas construtivas identificadasem
habitações econômicas, como: deslocamento de revestimentos em paredes,
infiltrações e vazamentos, empenamento e mau funcionamento de esquadrias,
dentreoutras.
Os responsáveis pela execução de empreendimentos semelhantes aos
analisados neste trabalho devem estar conscientes sobre a sua responsabilidade,
por ônus decorrentes de patologias que se manifestem ou até mesmo eventuais
ações judiciais no âmbito da defesa doconsumidor.
Toda a cadeia produtiva da construção civil deve buscar compreender os
fatores que interferem na obtenção dos requisitos e atendimento aos níveis de
desempenho esperados, conforme preconiza a NBR 15575, para os sistemas
construtivos de uma edificação, com especial atenção para determinação dos prazos
de Vida Útil de Projeto – VUP, como foi enfatizado neste artigo.
Referências Bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575:2013
Edificações Habitacionais - Desempenho, Parte 1: Requisitos Gerais. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575:2013
Edificações Habitacionais - Desempenho, Parte 4: Requisitos para os sistemas de
vedações verticais internas e externas - SVVIE.
CÂMARABRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO - Desempenho de
Edificações Habitacionais: Guia Orientativo para Atendimento à Norma ABNT NBR
15575/2013; 300P. 2013.
DADOS ESTATÍSTICOS, População, Condição de Vida, Indicadores Mínimos. IBGE.
Atualizado em 2012. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresmini
mos/sinteseindicsociais2012/default_tab_pdf.shtm>. Acessado em 03/10/2013.
PALESTRA: NBR 15575:2013 – Edificações Habitacionais – Desempenho; Eng.º
Civil Roberto Matozinhos - SINDUSCON-MG, 2ª Jornada Acadêmica dasFaculdades
Kennedy, 12 de junho de2013.
REVISTA CONSTRUÇÃO MERCADO - EDIÇÃO 130, MAIO DE 2012, P. 54-55.
REVISTA CONSTRUÇÃO MERCADO - EDIÇÃO 132, JULHO DE 2012, P. 30-34.
REVISTA TÉCHNE, ED. 192, ANO 21, MARÇO DE 2013, P.42-49.
REVISTA TÉCHNE, ED. 199, ANO 21, OUTUBRO DE 2013, P.40-45.