Arquitetura da Informação em Projetos Culturais
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Organização e Arquitetura da informação cultural no universo da Web.
Salomão Terra1
Lorena Tárcia2
RESUMO
O presente artigo tem como tema a Cibercultura e a Arquitetura da Informação, com foco na
comunicação e trocas simbólicas baseadas em ambientes digitais. Busca discutir como
mecanismos de organização, indexação, hierarquia e resgate de informações são explorados
nos websites de cultura Pílula Pop (www.pilulapop.com.br), Overmundo
(www.overmundo.com.br) e Digestivo Cultural (www.digestivocultural.com.br).
Para análise, utilizamos como suporte metodologia desenvolvida por Peter Moville e Loius
Rosenfeld (2002) no livro Information Architecture for the World Wide Web, para a prática da
Arquitetura da Informação (AI) em projetos de internet.
INTRODUÇÃO
Entender processos e suportes comunicacionais é ponto fundamental para compreensão da
sociedade. Homens são seres de comunicação, e perpetuam sua história através de trocas
simbólicas. Assim, culturas nascem e sobrevivem, gerações se vão e deixam seu
conhecimento.
1 É jornalista e atua como Arquiteto de Informação. Também é criador da revista cultural on-line Opperaa. ([email protected])
2 Professora orientadora, Mestre em Educação PUC Minas/2007
Sob essa perspectiva podemos, de maneira sucinta, pensar em suportes de transmissão de
signos. Da oralidade primária à internet, foram diversas as formas de trocas simbólicas,
conforme aponta Castells (2002):
Uma transformação tecnológica de dimensões históricas está ocorrendo 2700 anos depois, ou seja, a integração de vários modos de comunicação em uma rede interativa. Ou, em outras palavras, a formação de um Supertexto e uma Metalinguagem que, pela primeira vez na história, integra no mesmo sistema as modalidades escrita, oral e audiovisual da comunicação humana. (Castells, 2002, p. 355).
Dentro deste contexto, será discutido como se dá a troca organizada de símbolos em
ambientes virtuais. Nosso objetivo é analisar as distintas formas de organização de sites
brasileiros de cultura na busca por uma interface que possibilite um acesso direto e objetivo
dos usuários a seus conteúdos.
Como suporte teórico, utilizamos metodologia proposta por Peter Moville e Loius Rosenfeld
(2003) no livro Information Architecture for the World Wide Web, para a prática da
Arquitetura da Informação (AI) em projetos de internet. Os autores são hoje as principais
referências sobre o tema. A relação entre Arquitetura da Informação e a Cibercultura está
baseada em artigos publicados na web, uma vez que não existem obras dedicadas
especificamente a esta temática.
É necessário dizer que esta análise não se pretende definitiva. Estudos sobre o tema são
recentes e a dinâmica das relações no ambiente da cibercultura impede reflexões conclusivas.
Pretendemos colaborar com os debates em curso, abrindo possibilidades para análises
complementares que possam levar ao amadurecimento das pesquisas sobre a arquitetura da
informação e cibercultura no Brasil.
1. A Cibercultura e Arquitetura da Informação
O campo da cibercultura representa um dos pontos mais revistos nos estudos sobre internet.
Comunidades virtuais, cadeiras em universidades e debates de usuários acontecem a todo o
instante sobre o tema. Não raramente encontramos divergências sobre definições e conclusões
sobre a temática.
[...] não é o futuro que vai chegar mas o nosso presente (home banking, cartões inteligentes, celulares, palms, pages, voto eletrônico, imposto de renda via rede, entre outros). Trata-se assim de escapar, seja de um determinismo técnico, seja de um determinismo social. A cibercultura representa a cultura contemporânea sendo conseqüência direta da evolução da cultura técnica moderna. (LEMOS, 2003. Pag.11)
Embora André Lemos ressalte a dificuldade em definir o termo Cibercultura, tomemos esta
passagem como um norte, por ser bastante abrangente. O autor destaca desde as ferramentas
que compõem a comunicação contemporânea – e não somente os computadores – a agentes
ativos no ciclo da cibercultura. E assim, encontramo-nos todos no universo da cultura no
ciberespaço.
É neste universo de ampla disponibilidade informacional, somado a recursos cada vez mais
avançados de utilização de tecnologia digital, se encontram alguns dos problemas gerados
justamente pelo excesso de possibilidades e recursos. Em alguns momentos pode-se dizer que
este universo se encontra em meio ao caos. Entre proposições e práticas para soluções de
desafios originários de ambientes digitais, vários campos aparecem – Ciências da
Computação, Sistemas para internet, Rede e Engenharia de Softwares são apenas algumas
destas áreas. Entretanto, uma nova prática, parece emergir no universo da informação digital:
a Arquitetura da Informação.
Esta é, ao mesmo tempo, uma prática nova, mas que incorpora fundamentos de outros campos
de conhecimento. Da taxonomia à navegabilidade são diversos os pontos de discussão.
Louis Rosenfeld e Peter Morville (2002, Pág. 04) propõem quatro definições de AI que
podem servir como base:
1. A combinação de organização, rótulo, e esquemas de navegação dentro de um sistema informacional;
2. O projeto estrutural de um espaço informacional para facilitar tarefas de compleição e acesso intuitivo aos conteúdo;
3. A arte e ciência de estruturar e classificar websites e intranets para ajudar pessoas a encontrar e administrar informação;
4. Uma disciplina emergente e prática comunitária focada em princípios trazidos do design e arquitetura para o ambiente digital.
Já o Instituto Asilomar3 para Arquitetura da Informação define AI como sendo:
1. O design estrutural de ambientes de informação compartilhada;
2. A ciência e a arte de organizar e rotular web sites, intranets, comunidades online e software para dar suporte à usabilidade e facilidade de busca ;
3. Uma comunidade emergente de práticas focadas e trazer os princípios do design e da arquitetura para o cenário digital;
Vale ainda dizer que os estudo de Arquitetura da Informação estão imersos – e dialogam com
– reflexões acerca de Usabilidade. O termo designa uma série de pontos, entre eles a AI, que
projetistas de sites devem levar em consideração, a fim de otimizar o produto final, tornando-
o mais coerente e harmonioso às necessidades dos usuários.
3 Instituto internacional formado por voluntários, que busca reunir pessoas em torno dos estudos e aplicações da Arquitetura da Informação. Disponível em http://iainstitute.org/en/about/ , acesso em out. de 2008
1.1 Sistemas de Organização
Dentro da AI, os Sistemas de Organização (Organization Systems) são primeiro passo para
um novo projeto. Organizar informações pressupõe diversos fatores, que vão desde questões
pragmáticas (como extensão e quantidade de informação) até fatores políticos, como
importância de dados em um contexto organizacional.
Para uma análise mais apurada, tomemos por base a divisão original dos Sistemas de
Organização: Esquemas e Estruturas. O primeiro (esquemas) define características e itens de
grupos de informação. O segundo (estruturas), a relação entre estes grupos.
Abaixo, representações possíveis:
Esquemas de Organização – Responsáveis por apontar e categorizar grupos bem definidos
de informações. Em uma agenda (de papel), por exemplo, os contatos estão agendados por
ordem alfabética. Os nomes, por sua vez, são exatos e não conceitos. Os esquemas podem,
assim, ser divididos em duas categorias, e subcategorias. São elas:
• Organização Exata: Alfabética, Cronológica, Localização
• Organização Ambígua: Tópico, Tarefa, Audiência, Metáfora, Hibrido
Estruturas de Organização – Estas características, por sua vez, definem como o usuário
pode navegar entre grupos de informação no site. São elas:
• Hierárquico: grupos de conteúdo seguem estruturas derivadas, em que seções dão origem a subgrupos.
• Modelo de “Banco de Dados”: grupos de conteúdo se relacionam através de informações-chaves, sem ordem hierárquica.
• Hipertextual: grupos de conteúdo estão ligados em vários através de núcleos dinâmicos.
1.2 Sistemas de Rótulos
Sobre Rótulos, podemos analisar claramente a relação entre a organização informacional e
estruturas de navegação. Estes são recursos de representação. Em termos práticos, “títulos”
que damos às seções, links e/ou conteúdos.
Alguns rótulos tornam-se usuais: Home, Contato e Voltar são exemplos que demonstram,
entre outras coisas, pontos comuns de experiência de usuários em navegações de websites.
Na prática da Arquitetura da Informação, os rótulos se estruturam como ícones ou texto.
Ambos têm funções específicas:
• Links Contextuais: hiperlinks que levam a conteúdo complementares ao da
página em que se está navegando. “Saiba mais” é um exemplo claro.
• Cabeçalhos: rótulos que indicam conteúdos “filhos”, como por exemplo, um
título de texto.
• Vozes de sistemas de navegação: rótulos que representam opções de
navegação, como “a empresa”, “home”, “sair” etc.
• Termos de Indexação: palavras-chave, “tags” e mecanismos de meta-
informação que auxiliam em buscas e navegabilidade.
1.3 Sistemas de Navegação
Sobre sistemas de navegação é importante ressaltar que estes mecanismos dialogam não só
com práticas de Arquitetura de Informação, mas com design de interação, de conteúdo,
engenharia de usabilidade e outras práticas de desenvolvimento web.
Uma definição mais simplista aponta os sistemas de navegação como sendo estruturas e
caminhos que o usuário percorre para chegar a determinadas informações.
Estes, por sua vez, são divididos em duas categorias e subcategorias:
Sistemas de Navegação Incorporados (presentes ao entorno do conteúdo):
• Navegação Global: presente em todas as páginas. É tido, geralmente, como a
“barra de navegação”. Fornece acesso direto para áreas-chaves e funções, onde o usuário
esteja;
• Navegação Local: complemento da navegação Global, estes são recursos de
acesso a conteúdos específicos. São de grande funcionalidade em sites de larga escala;
• Navegação Contextual: cumprem funções específicas não contempladas pelas
demais navegações incorporadas. Estão, necessariamente, ligadas a páginas, objetos ou
documentos;
Sistemas de Navegação Suplementar (externos à estrutura principal do site):
• Mapas do site: tabelas de conteúdo com informações sobre estrutura básica do
ambiente. Refletem exatamente todas as seções;
• Indexes de site: semelhante ao mapa do site, mas com organização alfabética e
amplitude geral de assuntos;
• Guias: contempladas em várias formas, como por exemplo tutoriais. São úteis
para que o usuário aprenda mais sobre o próprio ambiente em que está navegando;
• Configuradores: tipos especiais de Guias, em que o usuário pode explorar de
maneira mais sofisticada determinados aspectos, como por exemplo, “monte seu carro”;
• Busca: também podem estar presentes em sistemas de navegação;
1.4 Sistemas de Busca
Característica fundamental em sites, Search Systems (sistemas de busca) podem ser grandes
responsáveis por sucesso ou fracasso de um ambiente. É através destes mecanismos que há
possibilidades de usuários encontrarem informações de seu interesse de maneira direta. A
prática mais comum seriam os formulários, em que o usuário digita uma palavra de interesse,
e ao clicar em “buscar” é direcionado a uma página com exibição de todos os resultados.
2. Arquitetura da Informação em websites de cultura
O site Pílula Pop surgiu em 2004 e hoje conta com produção televisiva, de rádio e festas. Têm
relevância, sobretudo, como referência em matérias e artigos sobre cultura pop e últimos
lançamentos. O Overmundo é um site colaborativo, patrocinado pela Petrobrás e Leis de
Incentivo à cultura. Conta com a participação de usuários e agentes culturais de todo o país,
auxiliando assim a divulgação de informações e acontecimentos ligados à produção cultural
nacional. Por último, o site Digestivo Cultural é um dos mais acessados no país no segmento
de revistas culturais on-line. Foi criado em 2000 por Júlio Daio Borges.
2.1-Organizando a informação
No site Pílula Pop, percebemos a característica marcante deste ambiente: sua informação
(aquela de maior interesse) está organizada de maneira ambígua, levando ao usuário a um
exercício de inteligência e correlação com o próprio nome do site e características
relacionadas. Dividindo-se em seis seções, apenas após um comportamento de mouse-over
(mouse sobre botões de navegação), o usuário compreenderá o conteúdo que encontrará em
cada parte do site (Fig. 1).
Figura 1. Através do menu superior (itens mostram organização ambígua) o usuário acessa o
conteúdo do site. Atenção para os campos semânticos, ao lado do menu.
Na seção Receituário, lê-se “indicações e contra-indicações de discos e filmes”. Em
Ressonância, “entrevistas com quem esteve à toa o suficiente para nos responder”. Em
Overdose, “especiais e reportagens para quem não se satisfaz com pouca informação”. Em
Vertebral, “colunas que revelam várias posições”. Em DNA “Seu ídolo sonega impostos?”, e
finalmente em Plantão, “informação 24h por dia”.
Seguindo em frente na navegação, há outras referências da organização informacional. Como
esquema, o site também se estrutura de maneira ambígua, com características de metáfora.
Todo o conteúdo está agrupado em “conjuntos” de informações de compreensão subjetiva,
possibilitando a cada usuário uma apreensão particular dos sentidos. Metáforas nos títulos de
seções (ou Rótulos, como veremos a seguir), servem para indicar e induzir – embora não
condicionar – o usuário a uma interpretação mais direcionada.
Para finalizar, sua estrutura de organização se dá de maneira Hierárquica. O usuário, ao
navegar no sistema, terá a impressão de que segue caminhos diferentes (entre as seções) sem
que estes conversem entre si.
No site Overmundo, temos um Esquema de Organização totalmente ambíguo. O conteúdo
principal, de colaborações, está inserido dentro da seção Banco de Cultura. Internamente,
vemos uma disposição em Tópicos: “artes visuais”, “cinema/vídeo”, “ficção”, “música”,
“não-ficção” e “poesia”. Esta divisão pode ser considerada produtiva, uma vez que permite o
acesso rápido ao conteúdo de maior interesse.
Já sua Estrutura de Organização Informacional tem consideráveis características hipertextuais,
também por ser uma rede social (Fig. 2). Por exemplo: o usuário, ao ver um poema feito por
um colaborador, pode direcionar-se direto para o perfil deste, mudando seu foco de apreensão
do conteúdo. Por sua vez, navegando pelos colaboradores, pode também se direcionar às
colaborações em si.
Figura 2. Na página, a hipertextualidade se encontra no sentido de o usuário poder, ao consultar uma
colaboração, navegar pelos colaboradores
A análise do site Digestivo Cultural, expõe, de imediato, uma característica marcante: o
volume de informações. O site apresenta ao usuário uma variedade de opções, como notícias,
colunas, ensaios etc.
Seu Esquema Informacional apresenta-se de forma ambígua, por tópicos (Fig. 3). Digestivos
(notícias) e Colunas têm como tópicos os dias semanais, sendo cada dia destinado a uma
categoria artística. Já as demais seções, Blog, Ensaios, Entrevistas, Fórum e Especiais, como
tópicos de mais recentes, ou mais acessados.
Figura 3. Organização ambígua, por tópicos. Em “Digestivos”,os tópicos se apresentam como dias da semana
correlacionados com campos artísticos
A Estrutura apresenta uma coerência Hierárquica. Encontramos a navegação local (dias das
semanas, mais acessados etc) subordinada às seções. Entre elas (Digestivos e Colunas) não há
ligações hipertextuais.
Nos três ambientes é possível notar o predomínio de Esquemas ambíguos. Talvez essa
característica se dê em virtude do próprio conteúdo. Seja em textos jornalísticos, opinativos
ou de quaisquer outros gêneros, a temática central, cultura, parece sempre implicar em
categorizações abstratas.
Em ambientes como Digestivo Cultural, vemos notícias organizadas como categoria de arte (e
dias semanais). É claro ao leitor que, optar por se informa sobre música, navegará pelo
conteúdo sobre lançamentos de CDs, grupos musicais etc. Já quando pensamos no Pílula Pop,
a organização informacional não é orientada por “música” e sim por categoria de texto, como
reportagem sobre lançamentos, críticas etc. De uma maneira mais abstrata ainda, o conteúdo
organizado no site Overmundo se dá em virtude das colaborações. Estas, mesmo quando
enquadradas como música, pertencem a grupos organizados segundo as colaborações.
A partir daí percebemos um ponto fundamental nestes websites de cultura. Sua informação,
geralmente ambígua condiciona uma organização informacional também ambígua.
2.2 Rotulando a informação
De todos os ambientes analisados, o site Pílula Pop apresenta maior intensidade no trato com
rótulos, sobretudo as Vozes de sistemas de navegação. A palavra Receituário possivelmente
levará o usuário a associar o conteúdo a receita, remédio e significados semelhantes. No site
analisado, Receituário indica uma seção de conteúdo destinada a críticas. Talvez haja uma
associação (não obrigatória) entre o rótulo e a possibilidade de se “receitar” o conteúdo a um
amigo (um disco, livro etc). Já Ressonância indica conteúdo de entrevistas, uma representação
ainda mais distante.
Embora rótulos possam (e devam) ser explorados como recursos inteligentes de propostas de
navegação, no caso do Pílula Pop, ao usuário que desconhece o ambiente eles podem causar
certa confusão, uma vez que indicam e apresentam termos diferentes do conteúdo e contexto
vocabular do ambiente.
Figura 4. 1. Voz de sistema de navegação; 2. Cabeçalho; 3. rótulos contextuais; e 4. rótulo iconográfico
contextual;
Já no caso dos Rótulos de Cabeçalho, o site é mais objetivo. Geralmente títulos de textos
refletem o próprio conteúdo. Além destes, também há os Rótulos Contextuais. Neste caso o
site também inova. Em uma página da seção Receituário, por exemplo, temos: Princípio Ativo
(ficha técnica da obra analisada), Receite essa matéria para um amigo (indicar texto) e Mais
Pílulas (outras notícias). Assim, percebemos que há uma preocupação do site em manter a
coerência na navegação do conteúdo contextual. O usuário em qualquer página, nunca perderá
sua referência semântica.
Sobre alguns aspectos, o site Overmundo também trabalha os rótulos de maneira harmônica
ao seu conteúdo. No menu de navegação global, três itens são destacados: Overblog,
Overfeeds e Overmixter.
Rótulos de Cabeçalho também são bem trabalhados, através de títulos de colaborações,
sobretudo no conteúdo de prosa de “Não-ficção”, “Poesia” e “Artes Visuais” (Fig. 5). Outros
rótulos de destaque são os termos de indexação, ou tags, que ao final das colaborações
indicam assuntos relacionados, possibilitando assim uma navegação hipertextual por outras
colaborações.
Fig.5 Rótulos de cabeçalho têm a liberdade das próprias colaborações
No Digestivo Cultural, os rótulos de Vozes de Sistemas Navegação são utilizados de maneira
bem funcional. Indicam o conteúdo de interesse específico, como “música”, “gastronomia”,
“mais acessados” etc. Também os Rótulos de Cabeçalho têm uma utilização bem pensada.
Títulos de reportagens, entrevistas e outros textos exploram todo o campo semântico de seus
respectivos conteúdos.
Figura 6. Rótulo de Voz de navegação indica a informação exata. No exemplo, terça-feira, com
reportagens sobre Teatro e Televisão
Podemos constatar que, diferentemente dos Sistemas Organizacionais, os de Rótulos variam
de ambiente para ambiente. Se tínhamos a utilização unânime de metáforas e abstrações em
estruturas ambíguas, nos rótulos há maior objetividade. Assim, ao usuário é possível
compreender diretamente os caminhos pelos quais navega. Desta maneira, compreendemos de
forma mais específica a função destes sistemas: indexar de maneira clara o conteúdo de
determinados grupos informacionais.
2.3 Navegando pelas informações
Ao analisar os ambientes propostos, percebemos sistemas de navegação pouco complexos.
Todos apresentam estruturas de fácil compreensão, e não têm foco específico em navegações
demasiadamente sofisticadas.
O site Pílula Pop apresenta, na navegação incorporada, os itens de Navegação Global:
Receituário, Ressonância, Overdose, Vertebral, DNA e Plantão, levando o usuário
diretamente ao conteúdo de maior interesse. Não há Navegação Local, ou seja, sub-níveis. Há
apenas dois itens recorrentes de Navegação Contextual, o indique à uma amigo, e comentários
(Fig. 7).
Figura 7 Comentários são itens de destaque na navegação contextual do site Pílula Pop
Já na navegação suplementar, encontramos: as Guias (TV, Loja, Cadastro, Expediente e
Promoções), além de um Mapa do Site e box de Busca.
No Digestivo Cultural, percebe-se uma Navegação Incorporada mais ampla, em que estão
presentes opções de acesso ao conteúdo por várias combinações: Reportagens, Ensaios,
Entrevistas, Colunas etc . Cada qual apresenta sua própria Navegação Local, como no
exemplo de Digestivos (notícias), em que os itens de Navegação Local levam o usuário aos
assuntos por dias da semana. Já no nível de Navegação Contextual, o site é focado em
“comentários” (Fig 8).
Fig 8 Navegação local por entrevistas “Mais acessadas”
Sua Navegação Suplementar, ao contrário da Incorporada, apresenta apenas um item: a busca.
Esta pode ser realizada de maneira direta, por palavra-chave, ou através da opção “busca
avançada”, em que é possível indicar expressão inteira.
Entre os três ambientes, o site Overmundo apresenta a maior complexidade. Por sua extensão
de conteúdo de colaborações, além dos itens de Navegação Global (Overblog, Banco de
Cultura, Guia, Agenda, Perfis, Overfeeds e Overmixter), temos inúmeras possibilidades como
Navegação Local.
Há um foco também na Navegação Suplementar. É através destes mecanismos que o usuário
colabora. Os itens Publicar Colaboração, Filas de Edição e Filas de Votação são as guias para
que os usuários possam participar do processo colaborativo (Fig. 9).
Figura 9 Guias para publicação de colaborações
Além destes, há também os itens Sobre, Ajuda e Busca, que podem ser considerados
Elementos Suplementares.
É possível notar que, embora haja uma amplitude considerável de possibilidades, apenas o site
Overmundo foca seu esforço em Sistemas de Navegação mais sofisticados. Não há, em
nenhum dos outros dois ambientes, maiores complexidades. Este fato é um ponto favorável,
uma vez que em sua maioria, as informações analisadas se organizam em estruturas ambíguas.
Assim, uma navegação simples auxilia a apreensão de todo o conteúdo.
2.4 Buscando informações
No caso do site Pílula Pop, a caixa de busca fica localizada no canto inferior esquerdo, em
um local não muito usual. Ao preencher o campo de texto com a palavra desejada, o usuário é
direcionado a uma página com todos os resultados, contendo inclusive seções referentes, o
que facilita a compreensão mais exata dos resultados (Fig. 10).
Figura 10 O site Pílula Pop localiza sua busca no canto inferior esquerdo
A busca no site Digestivo Cultural também se apresenta de forma simples, não possibilitando
ao usuário o filtro por seções ou itens de interesse. Há apenas um box no canto superior
esquerdo, em que o usuário digita uma palavra-chave, sendo direcionado a uma página com
uma infinidade de resultados (Fig. 11).
Figura 11 Busca simples, localizada em um local convencional
Assim como os demais, o Overmundo apresenta uma busca simples, com a diferenciação de
na página de resultados, indicar a seção em que se encontra o conteúdo (Fig. 12).
Figura 12 Em busca pela palavra “disco”, a indicação da seção no resultado final
Nota-se que, de todos os sistemas, os de busca são os mais simples e diretos, não havendo
nenhuma sofisticação em qualquer um dos ambientes. O usuário faz uma busca, sempre em
um box comum sendo direcionado posteriormente a uma página de resultados.
CONCLUSÃO
Ao concluirmos a análise podemos apontar alguns pontos fundamentais observados nos três
websites de cultura. O primeiro deles é a similaridade de aspectos entre ambientes. A
abstração na organização informacional talvez seja o de maior destaque.
Ao falarmos de informações culturais, presumimos uma abstração, criatividade e uma
liberdade interpretativa. Temos categorias, movimentos, acontecimentos e uma variedade
infinita de colocações acerca da arte.
Iniciando por este ponto, todos os outros aspectos presentes na estruturação dos sites devem
ser considerados. Em termos práticos: à sua maneira, cada site trabalha o conteúdo de acordo
com a abordagem que decide dar à produção de conteúdo noticioso cultural. Mesmo que haja,
entretanto, pontos de confluência entre rótulos (sobretudo os clássicos, do tipo música,
literatura, teatro etc), estes estão subordinados a estruturas bem peculiares.
Mas é necessário dizer também que, embora estes aspectos estejam ligados de maneira
embrionária à organização informacional, existem outros de natureza mais prática. Ao
analisarmos os sistemas de busca dos sites, percebemos que todos eram extremamente
simples.
Ao final, temos a Arquitetura da Informação (praticada de forma consciente ou não) no centro
dos projetos. Veja o caso do Pílula Pop, que ousa ao propor uma experiência de acesso a
começar pelo site. Bulas, receituário e outros rótulos são utilizados de forma divertida, dando
autenticidade e singularidade ao site.
Por sua vez, o Digestivo Cultural conta com uma divisão e uma organização orientada a
públicos específicos. Cada dia da semana é apresentado como referência de um campo
artístico. Isto mostra como o site trabalha os aspectos fundamentais da Arquitetura da
Informação, referentes ao Conteúdo, Contexto e Usuário.
E é sobre estes mesmos aspectos que o Overmundo se mantém, construindo em torno de um
contexto (agenda e divulgação cultural), um conteúdo (colaborativo) e um usuário
(colaborador).
Podemos concluir afirmando que, cada um dos sites, ao seu modo, utiliza-se de fundamentos
bem articulados de Arquitetura da Informação para sua manutenção, sem perder sua
identidade e explorando a criatividade característica do universo cultural..
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, André. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Cultura em Fluxo:
Novas mediações em rede. Belo Horizonte: PUC Minas, 2004.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em Rede. 6 ed. ver. e ampl, 2004. São Paulo: Paz e Terra,
2002.
LEMOS, André. Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea. André
Lemos Publicação Porto Alegre Sulina 2003.
ROSENFELD, Louis; MORVILLE, Peter. Information architecture for the World Wide
Web. 2nd. ed. Sebastopol, CA: O'Reilly, 2002.
Sites
Digestivo Cultural – www.digestivocultural.com.br. Acessado ao longo do 1º semestre de 2008.
Overmundo – www.overmundo.com.br. Acessado ao longo do 1º semestre de 2008.
Pílula Pop – www.pilulapop.com.br. Acessado ao longo do 1º semestre de 2008.