Apostilha - Design Editada
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1 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
Curso: Design Grfico
Disciplina:
Histria da Arte Prof.: Me Antonio Simo Cavalcante
Faculdade Catlica Rainha do Serto Rua Juvncio Alves, 660, Centro
Quixad, CE - Fone: (88) 3412 6700
Quixad /2015
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2 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
Semestre I
Histria da Arte
Quixad CE Janeiro de 2015
Curso Design Grfico
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3 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
Existem momentos na vida onde a questo de saber se se pode pensar diferentemente do que se pensa, e perceber diferentemente do que se v, indispensvel para continuar a olhar ou a refletir.
Michel Foucault
Apresentao
Caro(a) aluno(a),
Voc est recebendo os contedos a serem abordados no Semestre I na disciplina
Histria da Arte. Os textos aqui contidos servem para orientar os trabalhos em sala e
daro subsdios para os estudos em grupos e individual. Essa apostila foi elaborada com
objetivo de fazer com que voc enquanto aluno do curso de Design Grfico, possa a
partir desses estudos, estabelecer uma relao entre a Arte e seus significados e os
aspectos que envolvem o uso das diferentes linguagens no universo criativo e na
produo material e subjetiva, respeitando a diversidade contextual dos elementos em
cada tempo e buscando despertar quanto ao entendimento e reflexo sobre os
conhecimentos artsticos analisados.
Compreendendo esses aspectos voc ser capaz de perceber a importncia da
Histria da Arte em seus mltiplos aspectos, bem como a necessidade de perceber as
questes complexas e pertinentes que esto intrinsecamente ligadas a produo grfica.
Assim percebemos que o conhecimento historiogrfico das produes de arte
auxilia no desenvolvimento do indivduo enquanto ser criador e suas diferentes relaes
com o mundo que o cerca.
Sucesso e bons estudos!
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4 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
Sumrio
PLANO DE ENSINO ................................................................................................ 06
Ementa ............................................................................................................... 06
Contedo programtico ..................................................................................... 06
Objetivos ............................................................................................................ 07
Avaliao ........................................................................................................... 08
Referencias ........................................................................................................ 08
Unidade 1 CONCEITO DE ARTE ........................................................................ 09 Aula 1 ARTE .......................................................................................................... 09 1.1 Origem da arte ............................................................................................. 10
1.2 Conceito de arte .......................................................................................... 11
1.3 Funo da arte ............................................................................................. 11
Aula 2 ARTE: A SIGNIFICAO DA BELEZA .............................................. 17 2.1 O primitivo senso de beleza ........................................................................ 17
2.2 A pintura do corpo ...................................................................................... 18
2.3 Cosmticos .................................................................................................. 19
2.4 Tatuagem e escarificao ............................................................................ 19
2.5 Vesturios e ornamentos ............................................................................. 20
2.6 Cermica- pintura e escultura ...................................................................... 21
2.7 Arquitetura .................................................................................................. 21
Unidade 2 PANORAMA INTRODUTRIO DA HISTRIA DA ARTE ........... 24 Aula 3 MANIFESTAES DE ARTE-VIDA ...................................................... 24 3.1 Arte na Pr-Histria ..................................................................................... 24
3.1.1 A Arte na Pr-Histria brasileira ........................................................... 26
3.2 Arte entre os povos pr-colombianos .......................................................... 26
3.3 Arte na Antiguidade .................................................................................... 29
3.3.1 Egito ...................................................................................................... 29
3.3.2 Grcia .................................................................................................... 32
3.3.3 Roma ..................................................................................................... 35
Aula 4 ARTE NO PERODO MEDIEVAL .......................................................... 38 4.1 Arte na Idade Mdia ................................................................................... 38
4.1.1 Arte Sacra Bizantina ............................................................................. 39
4.1.2 A arte sagrada dos cones ..................................................................... 40
4.2 Das trevas a luz: nasce o Gtico .................................................................. 41
Unidade 3 ORIGEM E EVOLUO DO DESIGN ........................................... 42 Aula 5 HISTRIA DO DESIGN .......................................................................... 42 5.1 Origem do design ......................................................................................... 42
5.2 Arte e design em correlao ........................................................................ 43
Aula 6 DESIGN GRFICO .................................................................................. 46 6.1 O que o Design Grfico? .......................................................................... 46
6.2 Foco na Imagem .......................................................................................... 53
Unidade 4 CONCEITOS DE PRODUO NAS ARTES VISUAIS ................. 56 Aula 7 RENASCIMENTO ..................................................................................... 56 7.2 Arte Renascentista ....................................................................................... 56
7.2 Maneirismo, Barroco e Rococ ................................................................... 64
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5 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
7.2.1 Barroco no Brasil ................................................................................... 65
Aula 8 COMPARANDO ARTE MODERNA COM ARTE CONTEMPORNEA ...............................................................................................
67
8.1 Academicismo ............................................................................................. 67
8.2 Arte Moderna .............................................................................................. 68
8.3 Movimentos que influenciaram a Arte Contempornea .............................. 70
8.3.1 Dadasmo ............................................................................................... 70
8.3.2 Pop Art ................................................................................................... 72
8.4 Arte Contempornea .................................................................................... 74
8.4.1 Arte Conceitual ...................................................................................... 76
8.4.2 Comparando o Moderno e o Contemporneo na Arte .......................... 77
Unidade 5 EXPRESSO ARTSTICA E LINGUAGEM ................................... 79 Aula 9 DO NEOCLSSICO AO ECLETISMO ................................................. 79 9.1 Neoclssico ................................................................................................. 79
9.2 Ecletismo ................................................................................................... 80
Aula 10 VANGUARDAS MODERNISTAS ...................................................... 81 10.1 Cubismo ................................................................................................... 82
10.2 O Futurismo .............................................................................................. 82
10.3 O Expressionismo ..................................................................................... 83
10.4 O Surrealismo ........................................................................................... 83
10.5 A ligao do modernismo brasileiro com as vanguardas europias ......... 85
Aula 11 NOVAS LINGUAGENS CONTEMPORNEAS ............................... 86 11.1 Instalao .................................................................................................. 86
11.2 Performance .............................................................................................. 87
11.3 Videoarte ................................................................................................... 88
11.4 Arte Eletrnica .......................................................................................... 88
11.5 Objetos Encontrados (Objet trouv) ......................................................... 89
11.6 Arte Ambiental (Land Art) ....................................................................... 90
REFERENCIAS ...................................................................................................... 91
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6 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
PLANO DE ENSINO
Ementa
Nesta disciplina o aluno ter a oportunidade de construir uma
compreenso sedimentada por conceitos relacionados Histria das
realizaes das artes plsticas no mundo moderno e
contemporneo. Conceitos fundamentais para a compreenso das
diferentes linguagens artsticas relacionando-as com as
transformaes histricas da sociedade. Conhecer a origem do
design. Panorama introdutrio da histria geral das artes: pr-
histria, antiguidade, medievo, modernidade, contemporaneidade.
Renascimento, maneirismo, barroco ao rococ. Neoclssico,
ecletismo, vanguardas modernistas, modernismo ao
contemporneo. Expresso artstica a partir da tica realista.
Antecedentes romnticos, visualidade impressionista, o
rompimento do espao representativo desde os movimentos de
vanguarda a partir do cubismo at as tendncias mais recentes
como a presena da arte conceitual ou efmera e o retorno da
pintura na dcada de 80.
CONTEDO Programtico
Unidade 1 Conceito de Arte.
Unidade 2 Panorama introdutrio da Histria da Arte.
Unidade 3 Histrico e evoluo do design.
Unidade 4 Conceitos de produo nas artes visuais.
Unidade 5 Expresso artstica e linguagem.
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7 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
obje
tivos
Geral: Analisar conceitos que possibilitem o conhecimento da Histria da
Arte, suscetvel de influenciar a qualidade da concepo e da prtica de
arquitetura, urbanismo e paisagismo.
Especficos:
1. Analisar a produo historiogrfica das expresses artstica a partir de
um panorama cronolgico introdutrio que abordam temas como: pr-
histria, antiguidade, medievo, modernidade, contemporaneidade.
2. Conhecer a Histria das principais realizaes das artes plsticas no
mundo moderno e contemporneo.
3. Identificar os conceitos fundamentais para a compreenso da histria e
evoluo do design, com nfase no contexto histrico ps Revoluo
Industrial.
4. Identificar o campo de atuao do designer grfico, os conhecimentos e
habilidades necessrios para desenvolver a atividade profissionalmente
e refletir sobre o processo de trabalho em design.
5. Conhecer diferentes abordagens tericas sobre as formas artsticas e a
produo de imagens.
6. Conhecer, debater e refletir conceitos da produo artstica visual no
renascimento, maneirismo, barroco ao rococ.
7. Identificar os conceitos de neoclssico, ecletismo, vanguardas
modernistas, modernismo ao contemporneo.
8. Conhecer os antecedentes romnticos a partir da visualidade
impressionista e da identificao perceptvel pelo rompimento do espao
representativo.
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8 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
Avaliao
TIPO:
Apreciao contnua e sistemtica dos trabalhos desenvolvidos;
Contnua (a partir das aulas ministradas);
Diagnstica: avaliaes regulares e previstas no programado curso;
Avaliao individual e participativa do aluno.
INSTRUMENTOS
Participao (pontualidade e assiduidade);
Desempenho individual e coletivo;
Planejamento e execuo de trabalhos em equipe;
Apresentao de seminrios (argumentao e clareza);
Avaliao e auto-avaliao.
REGISTRO: Nota em dirio (0 a 10 pontos).
Referencias
Bibliografia Bsica
ARGAN, Giulio Carlo. A arte moderna na Europa de Hogarth a Picasso. So Paulo:
Companhia das Letras, 2010.
CAUQUELIN, Anne. Arte contempornea: uma introduo. So Paulo: Martins Fontes, 2005.
RUSH, Michael. Novas mdias na arte contempornea. So Paulo: Martins Fontes, 2006.
Bibliografia Complementar
COTTINGTON. David. Cubismo. So Paulo: Cosac & Naify, 2001.
DROST, Magdalena. Bauhaus: 19191933. Kln: Benedikt Taschen, 1993.
FER, Biony. Realismo, racionalismo, surrealismo: a arte no entre Guerra. So Paulo: Cosac &
Naif, 1998.
GOODING, Mel. Arte abstrata. So Paulo: Cosac & Naif, 1998.
HARRISON, Claude; FRASCINA, Francis; PERRY, Gil. Primitivismo, cubismo e abstrao:
comeo do sculo XX. So Paulo: Cosac & Naif, 1998.
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9 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
Conceito de Arte
Aula 1 ARTE
Arte conhecimento, e partindo deste princpio, pode-se dizer que uma das
primeiras manifestaes da humanidade, pois serve como forma do ser humano marcar
sua presena criando objetos e formas que representam sua vivncia no mundo, o seu
expressar de ideias, sensaes e sentimentos e uma forma de comunicao (AZEVEDO
JNIOR, 2007).
A arte surgiu com os primrdios da humanidade, se revelou com suas primeiras
aes, principalmente atravs de seu trabalho, condio necessria para sua
sobrevivncia, em que o homem utiliza a natureza transformando-a. As pinturas
rupestres, tambm caracterizavam essa primeiras formas de ao, demonstrando que o
homem da caverna, naquele tempo, j interesse em se expressar de maneira diferente
(FISCHER, 1983).
Dentre seus possveis conceitos a arte uma experincia humana de conhecimento esttico que transmite e expressa ideias e emoes, por isso, para a apreciao da arte necessrio aprender a observar, a analisar, a refletir, a criticar e a emitir opinies fundamentadas sobre gostos, estilos, materiais e
modos diferentes de fazer arte (AZEVEDO JNIOR, p. 7, 2007).
Partindo deste princpio, a arte existe para decorar o mundo, para ajudar no dia-a-
dia (utilitria), para explicar e descrever a histria, para expressar ideias, desejos e
sentimentos, a arte uma manifestao singular.
Quando o homem faz arte, ele cria um objeto artstico que no precisa ser uma
representao fiel das coisas no mundo natural ou vivido e sim, como as coisas podem
ser, de acordo com a sua viso, ou seu desejo. Baseado nisto, a funo da arte e o seu
valor esto na representao simblica do mundo humano.
O mundo da arte concreto e vivo podendo ser observado, compreendido e
apreciado. Atravs da experincia artstica o ser humano desenvolve sua imaginao e
criao aprendendo a conviver com seus semelhantes, respeitando as diferenas e
U
nid
ade
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10 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
sabendo modificar sua realidade. A arte d e encontra forma e significado como
instrumento de vida na busca do entendimento de quem somos, onde estamos e o que
fazemos no mundo.
1.1 Origem da Arte
O mundo da arte pode ser observado, compreendido e apreciado atravs do
conhecimento que o ser humano desenvolve sua imaginao e criao adquirindo
conhecimento, modificando sua realidade, aprendendo a conviver com seus semelhantes
e respeitando as diferenas (AZEVEDO JUNIOR, 2007).
A arte quase to antiga quanto o homem, pois a arte uma forma de trabalho, e o
trabalho uma propriedade do homem, uma de suas caractersticas e ainda pode ser
definido como um processo de atividades deliberadas para adaptar as substncias naturais
as vontades humanas, a relao de conexo entre o homem e a natureza, comum em
todas as formas sociais (FISCHER, 1983).
O homem executa seu trabalho atravs da transformao da natureza. A arte, como
um trabalho mgico do homem, utilizada como uma tentativa de transformao da
natureza, sonha em modificar os objetos, dar uma nova forma sociedade, trata-se de
externar uma imaginao do que significa a realidade, portanto o homem considerado,
por princpio, um mgico, pois capaz de transformar a realidade atravs da arte
(FISCHER, 1983).
Segundo Azevedo Jnior (2007) para que a arte exista necessrio a existncia de
trs elementos: o artista, o observador e a obra de arte.
O artista aquele que tem o conhecimento concreto, abstrato e individual sobre
determinado assunto que se expressa e transmite esse conhecimento atravs de um objeto
artstico (pintura, escultura, dentre outros) que represente suas idias. O segundo, o
observador, aquele que faz parte do publico que observa a obra para chegar ao caminho
de mundo que ela contm, ainda ter que ter algum conhecimento de histria e historia da
arte para poder entender o contexto de tal arte. O terceiro, a obra de arte, a criao do
objeto artstico que vai ate o entendimento do observador, pois todas as artes tem um fim
em si, ou seja uma traduo.
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11 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
1.2 Conceito de Arte
A arte concebida como ideia de colocar o homem em equilbrio com seu meio, se
caracteriza como um reconhecimento parcial da sua natureza e da sua necessidade, tendo
em vista que no possvel um permanente equilbrio entre o homem e o mundo que o
circunda, sugerindo que a arte e sempre ser necessria (FISCHER, 1983).
Segundo Azevedo Jnior (2007) a arte conhecimento, alm de uma das primeiras
manifestaes da humanidade para marcar sua presena em determinado espao (como j
foi dito anteriormente atravs da pintura nas cavernas, templos religiosos, quadros,
filmes) que expressam suas idias, sentimentos e emoes sobre determinado assunto
para os outros, portanto a arte tem a inteno de mostrar como as coisas podem ser de
acordo com determinada viso e no uma viso de como as coisas so, no entanto, a arte
uma representao simblica do mundo humano.
H vrios conceitos que definem a arte, de modo mais sinttico, pode-se dizer que a
arte a transmisso de idias, pensamentos e emoes, atravs de um objeto artstico,
adquirida da experincia humana e que possui seu valor, no entanto, para entende-la
necessrio aprender sobre ela, seu histrico, para assim poder observar, a analisar, a
refletir, a criticar e a emitir opinies fundamentadas sobre gostos, estilos, materiais e
modos diferentes de fazer arte (AZEVEDO JNIOR, 2007).
Cada sociedade apresenta um estilo diferente de fazer arte, pois possuem seu
prprios valores morais, religiosos, artsticos entre outros. Baseado nisto, cada regio tem
sua cultura, no entanto, a arte se manifesta de acordo com elas (AZEVEDO JNIOR,
2007).
Para Tabosa (2005) o termo arte derivado do latim ars que tem sentido de
origem grega de arte manual, oficio, habilidade, obra, que significa, em um aspecto mais
geral um conjunto de regras que conduzem a atividade humana.
1.3 Funo da Arte
Em cada sociedade existe um modo de se ver a arte, como por exemplo, em
sociedades indgenas podemos not-la no seu dia-a-dia atravs de suas vestimentas,
pinturas, artefatos etc. A arte s foi reconhecida no sc. XX como um objeto que
proporciona experincia de conhecimento (AZEVEDO JNIOR, 2007).
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12 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
Segundo Fischer (1983), o homem s se tornou homem atravs do conhecimento
que a arte proporciona, pois da utilizao deste conhecimento que ele faz suas
ferramentas para poder atender suas necessidades, como por exemplo, o homem
primitivo viu a utilidade de se proteger contra os inimigos e tambm caar, no entanto
criou uma ferramenta como uma vara juntamente com uma pedra para atingir animais, ou
outros seres que viessem o atacar.
Para Azevedo Jnior (2007) arte, de uma forma mais artstica, apresenta trs
funes principais: a pragmtica ou utilitria, a naturalista e formalista.
A arte como funo pragmtica serve como uma alternativa para alcanar um fim
no artstico e sim uma finalidade, baseado nesta ideia, a arte pode estar a servios para
finalidades religiosas polticas ou sociais, neste caso no interessante sua qualidade
esttica, mas a finalidade que se prestou alcanar. A arte como funo naturalista tem
como objetivo representar algo ao observador de forma mais natural possvel, o que
interessa aqui a representao da realidade e da imaginao do contedo de tal arte para
o observador, de uma maneira que este possa compreender. A arte como funo
formalista preocupa-se com significados e motivos estticos, se preocupa em transmitir e
expressar idias e emoes atravs de objetos artsticos (AZEVEDO JNIOR, 2007).
A arte um meio pelo qual o homem transforma o mundo atravs do conhecimento,
pois quando algum artista pratica a arte ele pretende passar algo novo, suas idias e
pensamentos. No entanto, isto pode ser observado nos primrdios com as pinturas, que
deixavam para as outras pessoas, conhecimentos anteriores a eles que depois foram se
desenvolvendo e se aprimorando com o decorrer do tempo.
O mundo da arte concreto e vivo podendo ser observado, compreendido e
apreciado. Atravs da experincia artstica o ser humano desenvolve sua imaginao e
criao aprendendo a conviver com seus semelhantes, respeitando as diferenas e
sabendo modificar sua realidade. A arte d e encontra forma e significado como
instrumento de vida na busca do entendimento de quem somos, onde estamos e o que
fazemos no mundo.
Quando o ser humano faz arte, ele cria um objeto artstico que no
precisa nos mostrar exatamente como as coisas so no mundo natural
ou vivido e sim, como as coisas podem ser, de acordo com a sua viso.
A funo da arte e o seu valor, portanto, no esto no retrato fiel da
realidade, mas sim, na representao simblica do mundo humano.
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13 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
RESUMINDO:
Ao longo da histria da arte podemos distinguir trs funes principais para a arte
a pragmtica ou utilitria, a naturalista e a formalista.
Funo pragmtica ou utilitria: a arte serve como meio para se alcanar um fim no-
artstico, no sendo valorizada por si mesma, mas pela sua finalidade. Segundo este ponto
de vista a arte pode estar a servio para finalidades pedaggicas, religiosas, polticas ou
sociais. No interessa aqui se a obra tem ou no qualidade esttica, mas se a obra cumpre
seu papel moral de atingir a finalidade a que ela se prestou. Uma cultura pode ser
chamada pragmtica quando o comportamento, a produo intelectual ou artstica de um
povo so determinados por sua utilidade.
Vaso de caritides. Cultura Santarm.
Par, Brasil. C. 1000-1500.
Vaso de cermica em argila
da Cultura Santarm, etnia
indgena que se desenvolveu
na foz do rio Tapajs, no
Baixo Amazonas. Esta pea
possua uma finalidade
ritualstica e era adornada
com ricos detalhes.
Caritides so os nomes das
figuras antropomrficas
(mistura de humanos com
animais) que sustentam o
vaso na base.
Funo naturalista: o que interessa a representao da realidade ou da imaginao o
mais natural possvel para que o contedo possa ser identificado e compreendido pelo
observador. A obra de arte naturalista mostra uma realidade que est fora dela retratando
objetos, pessoas ou lugares. Para a funo naturalista o que importa a correta
representao (perfeio da tcnica) para que possamos reconhecer a imagem retratada; a
qualidade de representar o assunto por inteiro; e o vigor, isto , o poder de transmitir de
maneira convincente o assunto para o observador.
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14 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
Nesta pintura leo o artista retrata uma
situao de modo realista com personagens
humildes tirados do cotidiano brasileiro da
poca. A perfeio da tcnica da pintura
ressalta a inteno de representar a imagem o
mais natural possvel.
Recado difcil. Almeida Jnior.
Rio de Janeiro. Brasil. 1995.
Funo formalista: atribui maior qualidade
na forma de apresentao da obra
preocupando-se com seus significados e
motivos estticos. A funo formalista
trabalha com os princpios que determinam a
organizao da imagem - os elementos e a
composio da imagem. Com o formalismo
nas obras, o estudo e entendimento da arte
passaram a ter um carter menos ligado s
duas funes anteriores importando-se mais
em transmitir e expressar idias e emoes
atravs de objetos artsticos. Foi s a partir
do sc. XX que a funo formalista
predominou nas produes artsticas atravs
da arte moderna, com novas propostas de
criao. O conceito de arte que temos hoje
em dia derivado desta funo.
O Abaporu. Tarsila do Amaral
So Paulo. Brasil. 1927.
Esta pintura leo marca o incio nas artes
visuais do movimento cultural conhecido como
Modernismo no Brasil. Ela simboliza elementos regionais (sol, mandacaru) com cores vivas e
figuras estilizadas e distorcidas, sem se
preocupar com a anatomia perfeita e sim com a forma de apresentao esttica da arte em si. O
nome Abaporu significa na lngua Tupi-Guarani o homem que come relacionado ao antropofagismo cultural como proposta artstica do Modernismo.
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15 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
Arte Figurativa ou Figurativismo: aquela que retrata e expressa a figura de um
lugar, objeto, pessoa ou situao de forma que possa ser identificado, reconhecido.
Abrange desde a figurao realista (parecida com o real) at a estilizada (sem traos
individualizadores). O figurativismo segue regras e padres de representao da imagem
retratada.
A leiteira.
Jan Vermeer. Holanda. 1660.
Broadway Boogie Woogie.
Piet Mondrian. Holanda. 19942-1943.
Nesta pintura leo, feita durante o perodo
artstico chamado Renascimento, o artista
explorou a representao de uma cena do
dia-a-dia de modo realista retratando com
perfeio a naturalidade figurativa das
formas, iluminao, cores e texturas criando
toda uma atmosfera que nos faz mergulhar
na cena. Esta obra de arte pode ser
classificada como Naturalista segundo sua
funo original quando foi criada.
Aqui o artista reduz a imagem aos seus elementos bsicos visuais: formas, cores, direo e
movimento. Esta obra faz parte do movimento
Expressionista Alemo na Arte Moderna que
evitava a representao da natureza tal qual a vemos. Para estes artistas a Arte era a simplicidade
e organizao geomtrica do espao. Nesta pintura
leo o artista no se preocupou em criar algo identificvel mas, sim, transmitir valores e
significados estticos nas formas bsicas, por isso
pode ser classificada como sendo da funo Formalista.
Arte Abstrata ou Abstracionismo: termo genrico utilizado para classificar toda
forma de arte que se utiliza somente de formas, cores ou texturas, sem retratar nenhuma
figura, rompendo com a figurao, com a representao naturalista da realidade.
Diferenciando Arte Figurativa ou Figurativismo de Arte Abstrata ou
Abstracionismo.
Saiba mais...
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16 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
Podemos classificar o abstracionismo em duas tendncias bsicas: a geomtrica e a
informal.
**************************Atividades
01. Ao longo da histria da arte podemos distinguir trs funes principais para a arte.
Identifique-os apresentando suas caractersticas principais.
02. Observe as imagens abaixo e responda:
Piet.
Michelangelo. Igreja de So Pedro,
Vaticano, Itlia. C. de 1500
Cadeira Kasese.
Hella Jongerius. 2000.
Mont Ste. Vitoire.
Paul Czanne. Frana. 1885 - 1887.
Poster de Star Wars Episode III.
LucasFilm. 2005.
a) Voc j viu alguma imagem e ficou na dvida se ela era ou no uma obra de arte?
Quais foram s imagens?
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17 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
b) Como voc faria para distinguir a imagem de um cartaz de filme de cinema de uma
tela pintada como sendo arte?
c) Voc sabe o que arte e para qu ela serve?
Aula 2 ARTE: A SIGNIFICAO DA BELEZA
Depois de cinco mil anos de realizaes artsticas o homem ainda tem dvidas sobre
as origens da arte, no instinto e na Histria. Que beleza? Por que a admiramos? Por que
nos esforamos para cri-la? Em resumo, e precariamente, responderemos que beleza
qualquer qualidade pela qual um objeto ou forma agrada a quem contempla. Principal e
originalmente, o objeto no agrada a quem contempla pelo fato de ser belo; tido como
belo porque agrada. Qualquer objeto que satisfaz um desejo ser belo; para o esfomeado,
o alimento mais belo do que Tas. O objeto agradvel pode ou no ser o prprio
contemplador: no imo dos nossos coraes nenhuma forma mais bela como a nossa, e a
arte comea com o adorno do nosso prprio corpo. Ou pode ser algum desejado; e ento
o senso esttico ou o sentimento da beleza assume a intensidade e a criatividade do sexo,
espalhando a aura da beleza sobre tudo que diz respeito ao ser amado(a). (DURANT,
1963).
Nessa perspectiva a beleza assume as caractersticas prprias do sexo e da pessoa
desejada: s formas que a lembram, s cores que a adornam, a tudo o que lhe vai bem, a
todas as formas e movimentos que lhe lembram a graa e a simetria, satisfao na
presena do poder que cria a mais elevada forma de arte. E finalmente, na prpria
natureza com nossa cooperao pode tornar-se sublime e bela.
2.1 O primitivo senso de beleza
Arte a criao da beleza; a expresso do pensamento ou do sentimento em
formas que nos parecem belas ou sublimes e por isso provocam em ns alguma
reverberao do deleite primordial que um ser dar ao outro. O pensamento pode ser
qualquer captao do significado da vida; o sentimento pode ser qualquer exaltao ou
liberao das tenses da vida.
Se o sentido da beleza no se revela forte na sociedade primitiva, isso talvez se deva
ao fato de que a falta de intervalo entre o desejo sexual e a satisfao no d tempo para
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18 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
que a imaginao exalte o objeto contemplado. Raramente o primitivo pensa em escolher
a mulher com base no que chamamos beleza; ele pensa apenas na utilidade da
companheira. Um chefe ndio, a quem perguntaram qual das suas mulheres considerava a
mais bela, respondeu nunca ter pensado nisso. os rostos delas, disse ele, podem ser
mais ou menos belos; mas no resto so todas iguais.
Quando o senso de beleza aparece no primitivo, apresenta-se sob forma para ns
desconhecida. Todas as raas negras que conheo, diz Richard, consideram bonita a
mulher sem cintura, ou cujo corpo, das axilas s ancas, tem a mesma largura como uma
escada, disse um negro da Costa. Orelhas elefantinas e ventre cado so encantos para
alguns machos da frica; e em todo o continente a mulher gorda a mais bela. Mungo
Park refere que na Nigria corpulncia e beleza so sinnimos. Mulher de alguma beleza
a que no pode andar sem que um escravo a sustente de cada lado; e perfeitamente bela
a que constitui sozinha a carga de um camelo. A maioria dos selvagens, diz
Briffault, tem preferncia pelo que consideramos a coisa mais feia da mulher: seios
pendurados.
2.2 A pintura do corpo
muito provvel que o homem natural imaginasse a beleza mais relacionada a si
prprio do que mulher; a arte comea em casa. O primitivo igualava o moderno em
vaidade por mias que isso parea incrvel s mulheres. Entre os povos simples, como
entre os animais, o macho, no a fmea, que se orna ou mutila o corpo para fins de
beleza. Na Austrlia, diz Bronwick, os adornos so completamente monopolizados pelos
homens, assim tambm na Melansia, na Nova Guin, na Nova Celednia, na Nova
Bretanha e entre os ndios norte-americanos. Em certas tribos o adorno do corpo consome
mais tempo do que qualquer outra coisa.
Aparentemente a primeira forma de arte foi a pintura do corpo s vezes para atrair
as mulheres, s vezes para atemorizar inimigos. Os nativos da Austrlia, como nossas
belas de hoje, traziam consigo uma proviso de colorantes vermelhos, amarelos e
brancos, com os quais de quando em quando se retocavam. Nos dias comuns
contentavam-se com um pouco de cor nas faces, ombros e peito; nos eventos festivos,
porm, consideravam-se vergonhosamente nus se no tinham todo o corpo sarapintado.
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19 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
2.3 Cosmticos
As mulheres no se retardam na aquisio da mais velha das artes os cosmticos.
Quando o capito Cook aportou na Nova Zelndia, viu que seus marinheiros, quando
voltavam de aventuras em terras, traziam os narizes vermelhos ou amarelos: a pintura das
Helenas indgenas os carimbava. As felatas da frica Central despendiam horas no
toalete; para deixar as unhas vermelhas conservavam-nas durante a noite aderidas a
folhas de hena; pintavam os dentes de amarelo, azul e vermelho; coloriam o cabelo de
anil e sombreavam as plpebras com sulfureto de antimnio. Cada mulher do Bongo
trazia consigo uma caixa de pintura das plpebras e sobrancelhas, e grampos, anis e
guizos, botes e broches.
2.4 Tatuagem e Escarificao
A alma primitiva, no satisfeita com o transitrio da pintura, inventou a tatuagem, a
escarificao e as roupas, como adornos mais permanentes. Homens e mulheres se
submetiam tortura da tatuagem, at nos lbios. Na Groelndia as mes tatuavam as
filhas muito cedo, para que se casassem logo. Mas a prpria tatuagem no era s vezes
considerada suficiente e muitas tribos recorreram a algo mais forte - a escarificao. No
tendo roupas para bordar, bordavam a pele disse Thophile Gautier (1856). Com lascas
de slex ou conchas, cortavam-na, s vezes introduzindo enchimentos de terra para dilatar
a escara. No estreito de Torres os nativos usavam grandes escaras como dragonas; o
abeokuta produzia-as em formas de lagartos, jacars ou tartarugas. Parte nenhuma do
corpo deixava de ser decorada, desfigurada, pintada, branqueada, tatuada, reformada,
alargada, ou comprimida, tudo em conseqncia da vaidade ou do desejo de ornamento.
(GAUTIER, 1956).
Os botocudos derivaram seu nome de um batoque que lhes era inserido aos oito
anos de idade no lbio inferior e nas orelhas, repetidamente mudado por um maior at
que as aberturas chegassem a quatro polegadas de dimetro. As mulheres hotentotes
treinavam os pequenos lbios at t-los de enorme extenso, produzindo o chamado
avental das hotentotes, to grandemente admirado pelos seus machos.
Brincos de orelhas e de nariz eram de rigor; para os nativos de Gippsland os que
morriam sem brinco no nariz estavam condenados a horrorosos sofrimentos em outra
vida.
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20 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
2.5 Vesturios e Ornamentos
Aparentemente o vesturio foi nas origens uma forma de ornamento, mais atrativo
sexual do que defesa contra o frio. Os cmbrios andavam nus sobre a neve. Quando
Darwin, condodo da nudez dos fueguinos, lhes deu um cobertor vermelho, eles o fizeram
em tiras, que usaram como ornamentos. A nudez os fazia parecer belos. As mulheres do
Orenoco cortavam em tiras os panos que os padres lhes davam para roupas e usavam-nas
ao pescoo; mas tinham vergonha de andar vestidas.. Um velho autor descreve os
ndios do Brasil como usualmente nus e acrescenta: Agora alguns j usam roupas, mas
do-lhes to pouca estima que as usam antes por moda do que por pudor e porque so
intimados a us-las. (DURANT, 1963).
Quando a roupa se tornou mais que adorno, servia em parte para dizer que uma
mulher era casada e em parte para acentuar suas formas e sua beleza. Em geral, as
primitivas usavam roupas exatamente pelas mesmas razes atuais - menos para cobrir a
nudez do que para realar os encantos.
Desde o comeo ambos os sexos preferiam ornamentos roupa de abrigo. O
comrcio primevo era sobretudo o comrcio de artigos de luxo. A jia um dos mais
velhos elementos da civilizao. Em tmulos de 20 mil anos foram encontrados dentes e
conchas enfiados em colar. Desses simples comeo chegaram os ornamentos a
impressionantes propores e desempenharam um destacado papel na vida. As mulheres
galas usavam anis do peso de trs quilos, e algumas de Dinka traziam consigo 50 quilos
de enfeites. De tal modo as pulseiras de cobre usadas por certas belas africanas se
aqueciam ao sol, que elas tinham de manter uma serva a aban-la o tempo todo. A rainha
dos wabunis, no Congo, trazia um colar de bronze de 10 quilos; e amide se deitava para
descanso. As mulheres pobres, que s podiam usar jias leves, imitavam o modo de andar
e o mais das que se derreavam sob grandes cargas de ornamentao.
A primeira fonte de arte, portanto, afim de exibio de cores e plumas por parte do
macho animal, ao tempo das npcias; nasce do desejo de adornar e embelezar o corpo. E
do mesmo modo como o amor sua pessoa ou companheira derrama-se sobre a
natureza, assim tambm o impulso do adorno se transfere da pessoa para o mundo
externo.
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21 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
2.6 Cermica pintura e escultura
A alma procura exprimir seus sentimentos de maneira objetiva, por meio da cor e da
forma; a arte comea quando o homem tenta embelezar as coisas. Talvez a sua primeira
expresso fosse cermica. O torno do oleiro, como a escrita e o Estado, pertence s
civilizaes histricas; mas mesmo sem ele os primitivos elevaram essa antiga indstria
posio de arte, realizando unicamente com a argila, a gua e os dedos muita beleza de
simetria, como vemos na cermica dos borongas, na frica do Sul ou dos ndios pueblos.
Quando nos vasos modelados o oleiro aplicou desenhos coloridos, ele estava dando
origem arte da pintura. Entre os primevos esta nova arte no adquire independncia;
conserva-se como adjunto cermica e estaturia. O home natural obtinha cores da
terra; os nativos de Andaman chegaram mistura dos ocres com a gordura animal ou os
leos vegetais. Tais cores eram usadas para o adorno das armas, dos utenslios, das vestes
e da casa. Muitas tribos caadoras pintavam, nas paredes das cavernas ou nos rochedos
prximos, vivas representaes dos animais caados. (DURANT, 1963).
provvel que a escultura, como a pintura, tambm haja nascido da cermica: o
oleiro descobriu que alm dos objetos de uso podia modelar figuras para amuletos e
comearam a surgir objetos de beleza. O esquim entalhava chifres de caribu e marfim de
walrus em forma de figurinhas de animais e homens. De novo o homem primitivo
procurou marcar a sua cabana, ou o pau-totem, ou a sepultura, com alguma imagem que
indicasse o objeto adorado ou morto; a principio entalhou apenas uma face, depois o topo
e, finalmente, o totem inteiro e estava nascida a escultura.
Os nativos da ilha de Pscoa plantavam enormes esttuas monolticas sobre o
tmulo dos seus mortos; dezenas dessas esttuas, algumas de vinte ps de altura, foram
encontradas l; j por terra, mediam aparentemente 60 ps.
2.7 Arquitetura
Como surgiu a arquitetura? Impossvel aplicar esta magnificante palavra
construo das primitivas cabanas; porque a arquitetura no apenas a construo
utilitria, mas a construo com beleza. Ela comeou quando pela primeira vez o homem
teve a idia de construir de modo que, alm de atender utilidade, tambm agradasse aos
olhos. Provavelmente este esforo foi em primeiro lugar dirigido aos tmulos, e s depois
passou as s casas; enquanto o pau-totem evolua para a estaturia, o tmulo se
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22 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
desenvolvia em templo. Na mentalidade primeva os mortos eram mais importantes e
poderosos do que os vivos; alm disso os mortos ficavam parados num mesmo ponto,
enquanto os vivos, sempre errantes, no impunham construes permanentes.
(DURANT, 1963).
**************************Atividades
1. Observe as atividades abaixo e estabelea uma relao entre as representaes das
imagens e o significado expresso por elas no passado e no presente.
a) Pintura do corpo:
b) Tatuagem:
c) Escarificao:
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23 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
d) Cosmticos:
2. Por que afirma-se que enquanto o pau-totem evolua para a estaturia, o tmulo se
desenvolvia em templo?
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24 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
Panorama introdutrio da
Histria da Arte
Aula 3 MANIFESTAES DE ARTE-VIDA
3.1 Arte na Pr-Histria
As mais antigas figuras feitas pelo ser humano foram desenhadas em paredes de
rocha, sobretudo em cavernas. Esse tipo de arte chamado de rupestre, do latim rupes,
rocha. J foram encontradas imagens rupestres em muitos locais, mas as mais estudadas
so as das cavernas de Lascaux e Chauvet, Frana, de AItamira, Espanha, de Tassili, na
regio do Saara, frica, e as do municpio de So Raimundo Nonato, no Piau, Brasil.
Dentre as pinturas rupestres destacam-se as chamadas mos em negativo e os
desenhos e pinturas de animais. As mos em negativo so um dos primeiros registros
deixados pelos nossos ancestrais que viveram por volta de 30 mil anos atrs, no perodo
da Pr-Histria chamado Paleoltico. Elas impressionam e despertam curiosidade, mas os
pesquisadores j revelaram muitos detalhes sobre a tcnica usada para cri-las.
Nos desenhos e pinturas de animais, chama nossa ateno o naturalismo: o artista
pintava o animal do modo como o via, reproduzindo a natureza tal qual seus olhos a
captavam. Observando essas pinturas, nota-se a presena de animais de grande porte:
alguns talvez temidos, mas que eram caados pelo ser humano, como os bises; e outros
que provavelmente no representavam ameaas.
O ser humano retrata a si mesmo: No ltimo perodo da Pr-Histria, o
Neoltico, iniciou-se o desenvolvimento da agricultura e a domesticao de
animais. Os grupos humanos, que tinham vida nmade, isto , sem habitao fixa,
no precisavam mais mudar-se constantemente em busca de alimento e puderam
se fixar. Essa mudana para uma vida mais estvel foi decisiva para originar as
sociedades atuais e tambm teve reflexos na expresso artstica: o artista do
Neoltico passou a retratar a figura humana em suas atividades cotidianas.
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nid
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25 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
Desenvolvimento de tcnicas: O ser humano do Neoltico desenvolveu tcnicas
como a tecelagem, a cermica e a construo de moradias. Alm disso, como j
produzia fogo, comeou a trabalhar na fundio de metais. Assim, suas atividades
comearam a se modificar - e as pinturas rupestres registraram essas
transformaes.
A arte da escultura e da cermica: Os artistas pr-histricos faziam tambm
esculturas, em pedra e metal, que mostram seu empenho na criao de objetos e na
representao da figura humana. H esculturas em bronze nas quais j possvel
observar no s a postura elegante da figura humana como tambm detalhes do
rosto e das vestes.
O ser humano em movimento
Observe, nas figuras aqui retratadas, como
houve a inteno de sugerir movimento: h
poucos traos e poucas cores, mas os braos e
as mos realizam alguma ao. O movimento
expressado pela posio das pernas e dos
ps.
Pinturas do homem do paleoltico.
Fonte: Google internet.
Materiais usados pelo artista pr-histrico
Nossos ancestrais pr-histricos usavam em
suas pinturas "corantes naturais" feitos de
minerais, ossos carbonizados (queimados),
carvo, vegetais e sangue animal. Os
elementos slidos eram esmagados e
dissolvidos na gordura de animais caados.
Como pincel, o artista pr-histrico utilizava
os dedos e instrumentos feitos de penas e
plos.
Os escultores pr-histricos produziam suas peas em metal por meio de dois
mtodos: o da forma de barro e o da cera perdida.
No mtodo da forma de barro o escultor fazia a forma e despejava nela o metal derretido em fornos. Ento, esperava o metal esfriar, quebrava a forma e obtinha a
escultura.
Na tcnica da cera perdida, o escultor fazia um modelo em cera e o revestia com barro, deixando nele um orifcio. Depois, aquecia o barro. Com o calor do barro, a
cera derretia e escorria pelo orifcio. Assim, ele obtinha um modelo oco e o
preenchia com metal fundido. Quando o metal esfriava, ele quebrava o molde de
barro e obtinha uma escultura igual que havia modelado na cera.
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26 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
3.1.1 A arte na Pr-Histria brasileira
Ao pensarmos no incio da histria do Brasil, em geral nos vem mente o ano de
1500, ano da chegada dos portugueses. Mas o territrio a que hoje chamamos Brasil j
era habitado por povos indgenas havia milhares de anos. Sabemos deles por meio de
vestgios arqueolgicos: fragmentos de ossos e de objetos, desenhos e pinturas gravados
em rochas.
Entre os desenhos e as pinturas rupestres encontrados no Brasil, destacam-se os do
stio arqueolgico localizado em So Raimundo Nonato, Piau, onde desde 1970 vrios
pesquisadores vm trabalhando. Em 1978, foi coletada no local grande quantidade de
vestgios arqueolgicos. Segundo as pesquisas, os primeiros habitantes da regio usavam
as grutas como abrigo ocasional e foram os autores das obras ali pintadas e gravadas.
So Raimundo Nonato no , porm, o nico local no Brasil onde se encontram
exemplos de arte rupestre. H importantes stios arqueolgicos, por exemplo, em Pedra
Pintada, no Par, e em Peruau e Lagoa Santa, em Minas Gerais.
As pesquisas sobre antigas culturas que existiram no Brasil nos permitem ver que
nossa histria est ligada histria do mundo. Alm disso, reforam o conhecimento de
que nossas razes se encontram num tempo muito mais remoto do que o ano de 1500, tido
como o ano que deu incio "histria do Brasil".
3.2 Arte entre os povos pr-colombianos
Consideram-se arte pr-colombiana as manifestaes artsticas dos povos nativos da
Amrica espanhola antes da chegada de Cristvo Colombo, em 1492. Tudo o que resta
das grandes civilizaes do perodo anterior colonizao do continente americano pelos
europeus sua "arte". Neste caso "arte" compreende objetos com funes definidas, em
geral mgica ou religiosa, e tambm artigos simplesmente belos, criados para decorao.
Fazem parte do universo artstico dessas civilizaes tanto os templos e casas quanto as
esculturas, relevos, pinturas, utenslios domsticos, objetos ornamentais, amuletos e
tecidos. De autoria desconhecida, as obras so realizadas por artfices, cuja tarefa
transpor para os materiais (pedra, barro, metal etc.) padres de representao
predeterminados pelas crenas ou cincias de cada povo. Entre os estudiosos, a
identificao, a interpretao e a comparao dos sistemas de representao dos povos
amerndios servem para classific-los e decifrar um pouco de sua cultura como um todo.
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27 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
Descobertas arqueolgicas indicam que o homem est presente na Amrica h pelo
menos 20 mil anos. Contudo, so trs as principais civilizaes amerndias conhecidas. A
mais antiga, maia, surge na pennsula de Yucatn, na Amrica Central, por volta de 2.600
a.C., e ocupa a regio mesoamericana. Quando os espanhis iniciam a colonizao da
Amrica, esse povo j se encontra em declnio. Bem mais recente, o imprio asteca
inicia-se em 1376 e vai at 1521, quando Tenochtitln, a capital do imprio,
conquistada e destruda pelos espanhis, que sobre ela edificam a atual Cidade do
Mxico. A terceira maior civilizao pr-colombiana, a inca, se desenvolve nos Andes,
na Amrica do Sul, nas regies atuais do Peru, Bolvia, Equador, expandindo-se a partes
da Colmbia, Chile e Argentina. Nota-se que esses trs povos coexistem ou so
precedidos e influenciados por culturas importantes, como aimar, chavn, mixteca,
moche, nasca, olmeca, tolteca, teotihuacn, zapoteca e outras.
O perodo clssico da cultura maia ocorre entre os anos 300 e 900 d.C. Excelentes
arquitetos, escultores e pintores, os maias so chamados de "intelectuais do Novo
Mundo" por causa dos avanados sistemas numricos e astronmicos, da escrita
hieroglfica e de seu complexo calendrio. Em esculturas e pinturas, utilizam tanto os
padres geomtricos e zoomrficos estilizados quanto figuras humanas. O que pode
parecer simples elemento decorativo, na verdade a expresso dos sistemas lingstico e
numrico desse povo. No conhecem a metalurgia e trabalham sobretudo com pedra e
argila. Os exemplares mais significativos da pintura maia encontram-se em seus cdices
iluminados. Sabe-se que para eles toda cor smbolo de algo (preta a cor da guerra,
amarela da fecundidade etc.) bem como a cada deus corresponde um algarismo. Itzama
o principal deus dos maias, considerado o criador do calendrio, da escrita e do sistema
numrico.
O povo maia se destaca pela organizao de suas cidades e construes. Estas so
edificadas ao redor de ptios e diferem conforme a funo administrativa. Em geral so
pouco elevadas e contrastam com os templos muito altos, construdos sobre elevadas
pirmides macias de pedra. Esse material cuidadosamente talhado, a fim de que as
edificaes tenham encaixes perfeitos.
Os maias so responsveis pela criao das "falsas abbadas", utilizadas para cobrir
corredores, quartos e jazigos. Todos os monumentos, templos e palcios so
abundantemente decorados: esse povo tem horror a espaos vazios; em geral ornamentos
e hierglifos envolvem personagens representadas, e so compostos segundo um elevado
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28 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
sentido de simetria. O Palcio do Governador, em Uxmal (Mxico), os templos, edifcios
e esculturas monumentais das cidades de Copn (Honduras) e Tikal (Guatemala) esto
entre as principais runas maias.
Os astecas, ou mexicas, herdam alguns elementos da cultura maia, como os templos
edificados em plataformas sobre pirmides. Tambm entram em contato com os toltecas
antes de se instalar na margem ocidental do lago Texcoco, e fundar Tenochtitln. A
cidade construda tanto em terra firme quanto em pequenas ilhas artificiais dentro do
lago, historicamente conhecida como a "Veneza americana". O centro poltico, religioso e
econmico a construo chamada "Templo Maior". Povo guerreiro, o militarismo
predomina em todos os aspectos da vida entre eles. Os principais deuses patrocinam as
conquistas guerreiras; os ritos e a arte litrgica envolvem o sacrifcio de prisioneiros; as
expresses plsticas insistem na iconografia relacionada com a guerra. Por isso, muitas
das esculturas astecas tm ar macabro: comum encontrar mscaras de crnios humanos
decorados com barro ou crnios e cabeas de pedra com as rbitas vazias.
As esculturas so slidas, feitas em blocos macios desbastados e de formas
estilizadas. Os artistas e artesos astecas tm grande habilidade manual: trabalham os
metais e as pedras preciosas; dedicam-se arte plumria e fabricao de tecidos com
motivos geomtricos num rico colorido; executam pinturas murais e miniaturas em faixas
de pele de veado ou feltro fino.
Os incas se desenvolvem em torno do lago Titicaca, na regio dos Andes centrais
peruanos. Iniciam processo de expanso e hegemonia em 1438 na capital, Cuzco, sul do
Peru, dando origem ao imprio inca ou tawantinsuyo, em lngua quchua. Povo agrcola,
os incas inventam o quipu, sistema contbil baseado em cordas de cores e tamanhos
diversos, e no desenvolvem uma linguagem escrita.
Na arquitetura do preferncia ao simples e funcional, sem muita decorao.
Destacam-se pela organizao e edificao das cidades (com plantas regulares em xadrez
ou em forma oval), precedida por um trabalho de planificao e engenharia (utilizam
principalmente tcnica de encaixe de pedras para construir).
Na cermica apreciam as formas puras trabalhadas com motivos geomtricos e
diversas cores. Os tecidos so ricos no colorido e decorados com desenhos estilizados.
Sabem trabalhar com destreza o ouro e a prata, que utilizam na decorao de portas e
muros ou como artefatos de adorno, e em objetos litrgicos.
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29 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
3.3 Arte na Antiguidade
3.3.1 Egito
A arte no antigo Egito divide-se em quatro grandes perodos:
I: I X dinastia Antigo Imprio (pirmides);
II: XI XVII dinastia Mdio Imprio;
III: XVIII XXVI dinastia Novo Imprio pice da arte egpcia;
IV: XXVI XXXI dinastia Imprio Tardio.
A cultura egpcia desenvolveu-se no decorrer do IV milnio a. C. a partir de
concepes e formas pr-histricas, e no incio do III milnio havia atingido seu apogeu.
A escrita (c. IV milnio) remonta sua origem na Mesopotmia (Iraque) contribui para que
a pr-histria se tornasse histria. A sociedade egpcia estava associada a um sistema
politesta que unia e ordenava todos os fenmenos csmicos e terrenos. A relao entre
os deuses e os homens era assegurada pela figura do fara, que era ao mesmo tempo deus
e homem. Cabia a ele, a sua famlia e a seu crculo mais ntimo de conselheiros e
funcionrios receber a vida eterna abrigados em preciosos tmulos; dessa forma o culto
aos deuses, aos soberanos e aos mortos tornaram-se idnticos. O que sabemos do Egito e
o que se conservou de sua cultura baseia-se, exceto por testemunhos escritos, quase
exclusivamente nos templos e no contedo dos tmulos. Tambm sobre a vida do povo
temos informaes somente de oferendas colocadas junto aos mortos nos tmulos e
representaes em relevos e pinturas de tmulos nobres. Ao longo da bacia do Nilo
surgiu em pocas remotas a civilizao egpcia. Durante trs milnios desenvolveram um
aparato cultural e tecnolgico cujas transformaes repercutiram no decorrer da histria
da humanidade. Essencialmente religiosa toda sua arte e manifestaes culturais estavam
subordinadas s suas crenas religiosas, baseadas no milagre renovado da fertilidade do
rio Nilo e na possibilidade da existncia de outras vidas alm da morte. O legado egpcio
essencialmente voltado aos mortos, a posteridade a vida ps-morte. Desta maneira a
concepo poltico-religiosa influiu no carter expressivo de uma cultura em que as
idias de permanncia e imutabilidade so princpios que a regem. A concentrao em
construes de templos e tmulos, nicas edificaes em material no perecvel, no
permite reconhecer exatamente o aspecto das moradias dos faras e de sua corte. Devem
ter sido construdas com outros materiais que diferenciavam das construes do povo
egpcio: o adobe e materiais vegetais. As pirmides do deserto de Giz so as obras
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30 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
arquitetnicas mais famosas e, foram construdas por importantes reis do Antigo Imprio:
Quops, Qufren e Miquerinos. Junto a essas trs pirmides est a esfinge mais
conhecida do Egito, que representa o fara Qufren, mas a ao erosiva do vento e das
areias do deserto deram-lhe, ao longo dos sculos, um aspecto enigmtico e misterioso.
As caractersticas gerais da arquitetura egpcia so: solidez e durabilidade;
sentimento de eternidade; aspecto misterioso e impenetrvel.
As pirmides possuem base quadrangular eram feitas com pedras que pesavam
cerca de vinte toneladas e mediam dez metros de largura, alm de serem admiravelmente
lapidadas. A entrada principal da pirmide voltava-se para a estrela polar, a fim de que
seu influxo se concentrasse sobre a mmia. O interior era um verdadeiro labirinto que ia
dar na cmara funerria, local onde estava a mmia do fara e seus pertences. Os templos
mais significativos so: KarnaK e Luxor, ambos dedicados ao deus Amon. Os
monumentos mais expressivos da arte egpcia so os tmulos e os templos. Divididos em
trs categorias: Pirmide tmulo real, destinado ao fara Mastaba-tmulo para a nobreza
Hipogeu -tmulo destinado gente do povo Os templos da pirmide de Quefren em Giz
de c. 2600 a .C. da IV Dinastia do Antigo Imprio (Antigo Imprio: 2778-2200 a .C.)
esto bem conservados que seu princpio de ordem se torna claro. De leste para oeste
seguem-se o vestbulo, um primeiro salo de colunas mais largo e um segundo estendido
para baixo, em exata disposio xil-simtrica. O templo do Vale, menor, encontra-se em
um deslocamento do eixo, o que normalmente evitado, e est ligado atravs de uma
barreira murada de 450 m ao templo funerrio maior diante da pirmide coma mesma
estrutura. A pirmide de Quefren, situada entre a pirmide de Miquerinos, menor e de
construo posterior, e a pirmide de Quops, um pouco mais antiga e maior, possui uma
altura de 143 m por um comprimento do lado de 215 m.
a nica em cujo pice ainda conservados restos do revestimento original de lajes
polidas. Esfinge: Esta imensa esttua representando um leo deitado (fora) com cabea
humana (sabedoria) era colocada na alameda de entrada do templo para afastar os maus
espritos. Esculpida na rocha ao p das grandes pirmides de Giz, guarda a tumba do
filho e sucessor de Queps, o fara Qufren (c. 2520-2494 aC.) As pirmides mais
antigas, que datam da III dinastia, constituem em vrios degraus. A cmara funerria
ficava situada abaixo do nvel do solo e o seu acesso era feito pelo norte, por um poo
descendente. A pirmide rodeada, nas suas faces leste, norte e oeste, por galerias
subterrneas (armazns). A primeira de degraus, e provavelmente a nica que foi
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31 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
terminada, fica em Saqqara e pertenceu a Netjerykhet Djoser. O Egito um dos mais
antigos ncleos de arquitetura onde predominam as linhas horizontais e os telhados
sempre terminam em terraos. As tumbas reais, as dos altos funcionrios e os templos
solares ou divinos so ornados com seqncias de colunas com inspirao em troncos de
palmeiras e feixes de papiro e junco, que junto com flores de ltus deram a forma a
capitis. O arquiteto Imhotep o criador desse formato de colunas e capitis com
inspirao nos elementos da natureza.
Pintura: Os enormes templos e extraordinrios monumentos funerrios do antigo
Egito com profuso de hierglifos so fonte de perplexidade para a concepo moderna,
que no compreende facilmente sua utilidade ou significado. Entretanto esses
monumentos conservam sua grandiosidade e deixam de ser to perturbadores quando ns
os entendemos como expresso dos conceitos que os egpcios tinham de seu universo e
das solues. Diversas imagens e relatos sagrados de todo o tipo, se somados em
conjunto podem ajudar a compreender diversos fenmenos. O cu impenetrvel um
oceano, um teto, uma vaca, um corpo de mulher. Toda imagem enraizada na tradio
pertinente, apesar de aspectos contraditrios, e ajuda-nos a compreender e estabelecer
como divino.
A decorao colorida era um poderoso elemento de complementao das atitudes
religiosas: Suas caractersticas gerais so: a) ausncia de trs dimenses; b) ignorncia da
profundidade; c) colorido a tinta lisa, sem claro-escuro e sem indicao do relevo. Lei da
frontalidade: representao da cabea, pernas e braos de perfil, olho e corao frontais.
Arte Funerria. Arte zoomrfica.
Quanto hierarquia na pintura: eram representadas maiores as pessoas com maior
importncia no reino, ou seja, nesta ordem de grandeza: o rei, a mulher do rei, o
sacerdote, os soldados e o povo. As figuras femininas eram pintadas em ocre, enquanto
que as masculinas pintadas de vermelho.
Desenvolveram trs formas de escrita: Hierglifos - considerados a escrita sagrada;
Hiertica - uma escrita mais simples, utilizada pela nobreza e pelos sacerdotes; Demtica
- a escrita popular.
Escultura: Os escultores egpcios representavam os faras e os deuses em posio
serena, quase sempre de frente, sem demonstrar nenhuma emoo. Pretendiam com isso
traduzir, na pedra, uma iluso de imortalidade. Com esse objetivo ainda, exageravam
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32 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
freqentemente as propores do corpo humano, dando s figuras representadas uma
impresso de fora e de majestade. Os Usciabtis eram figuras funerrias em miniatura,
geralmente esmaltadas de azul e verdes, destinadas a substituir o fara morto nos
trabalhos mais ingratos no alm, muitas vezes coberto de inscries. Os baixos-relevos
egpcios, que eram quase sempre pintados, foram tambm expresso da qualidade
superior atingida pelos artistas em seu trabalho. Recobriam colunas e paredes, dando um
encanto todo especial s construes. Os prprios hierglifos eram transcritos, muitas
vezes, em baixo-relevo. A mumificao um mtodo de preservar artificialmente os
corpos das pessoas e animais mortos.
A civilizao do Antigo Egito no a nica no mundo a ter praticado este costume.
O processo consiste das seguintes etapas: -Extrao do crebro; -Remoo das vsceras
atravs de inciso no flanco esquerdo; -Esterilizao das cavidades do corpo e das
vsceras; -Tratamento das vsceras: remoo do seu contedo, desidratao com natro,
secagem, uno e aplicao de resina derretida; - Enchimento do corpo com natro e
resinas perfumadas; - Cobertura do corpo com natro, durante cerca de 40 dias; -
Enchimento subcutneo dos membros com areia ou argila; -Enchimento das cavidades do
corpo com panos ensopados em resina e sacos com materiais perfumados, como mirra e
canela, serradura, etc; -Uno do corpo com ungentos; -Tratamentos das superfcies; -
Enfaixamento e incluso de amuletos, jias, etc.
3.3.2 Grcia
GRCIA DO SC. VII AO SC II a.C. PERIODIZAO:
Pr-Homrico XX-XII a.C.: Invaso dos indo-europeus e formao do homem
grego;
Homrico XII-VIII a.C.: poca das comunidades gentlicas;
Arcaico VIII-VI a.C.: Formao das polis (cidades-estados);
Clssico V-IV a.C.: Guerras contra os persas; apogeu da Grcia; guerra entre os
gregos:
Helenstico IV-II a.C.: Domnio macednio sobre a Grcia e expanso de
Alexandre para o Oriente.
Cronologia da Grcia Antiga:
Pr-Homrico (2000 a. C. 1200 a. C.):
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33 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
2000 a.C.: apogeu da civilizao micnica (ou cretense);
1900 a.C.: incio da invaso dos aqueus;
1250 a.C.: aqueus derrotam Tria;
1200 a.C.: Invaso dos Drios destruindo a civilizao micnica.
Homrico (1200 a.C. - 800 a.C.)1150 a.C. - uso de armas e instrumentos de ferro.
Arcaico (800 a.C. 600 a.C.):
750 a.C. - colnias gregas na Itlia;
600 a.C. uso da moeda se espalha pela Grcia Clssico (600 a.C. - 400 a.C.);
490 a.C. - os persas do rei Dario so derrotados pelos gregos (guerras Mdicas);
480 a.C.- os persas do rei Xerxes so derrotados pelos gregos (guerras Mdicas);
462 a.C.-Reformas de Pricles em Atenas
431a.C. - Incio da guerra do Peloponeso (Atenas & Esparta) 404 a.C. - Esparta
derrota Atenas;
Helenstico (400 a.C. - 146 a.C.):
371a.C. - Tebas derrota Esparta;
338a.C.- Felipe da Macednia torna-se o rei de toda Grcia;
334 a.C.- Alexandre Magno comandando os gregos, inicia suas conquistas;
323a.C. - Morte de Alexandre;
146 a.C. - Grcia dominada por Roma.
ASPECTOS CULTURAIS
Religio: a religio dos antigos gregos era politesta.Entre os vrios deuses o mais
importante era Zeus, smbolo da justia, da razo e da autoridade. Habitava o monte
Olimpo, juntamente com os outros deuses. Os deuses gregos foram criados a imagem e
semelhana dos homens, alm de se casarem entre si, os deuses gregos casavam-se
tambm com seres mortais. Os filhos desses casamentos eram chamados de heri e
considerados semideuses. Sobre seus deuses e heris, os gregos contavam muitas lendas
que deram origem rica mitologia grega.
Arquitetura: os gregos construam templos harmoniosos sustentados por graciosas
colunas. Observando essas colunas, conclui-se que os arquitetos gregos criaram trs
principais estilos de construo: o drico, o jnico e o corntio.
Escultura: usando principalmente o mrmore e o bronze, os escultores gregos
produziram esttuas expressivas, singelas e ao mesmo tempo vigoras. Entre os mais
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34 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
geniais escultores gregos esto: Fdias, cujas principais obras foram s esttuas de Atena
e de Zeus; Mron autor de Discbolo; e Praxteles, que se notabilizou representando
divindades humanizadas.
Teatro: os gregos produziam texto e espetculos teatrais de excelente qualidade e
foram os inventores da tragdia e da comdia. Esses gneros teatrais nasceram nas
grandes festas onde se misturavam danas, musicas e coros, em homenagem a Dionsio, o
deus do vinho. Entre os dramaturgos gregos que produziam obras imortais, encontram-se
squilo, Sfoles, Eurpides e Aristfanes.
Cultura helenstica: caracterizou-se por apresentar uma arte mais realista,
exprimindo a violncia e a dor, componentes constantes dos novos tempos. Na
agricultura predominavam o luxo e grandiosidade, reflexo da imponncia do Imprio
Macednia. Na escultura, turbulncia e agitao eram traos significativos.
PERODO ARCAICO (800 a.C. 600 a.C.): Esparta GUERRA (Oligrquica;
conservadora; militarista). Fundada pelos drios, na Pennsula do Peloponeso, cercada
por montanhas de pequena altitude. A organizao sociopoltica estava baseada na posse
da terra, porm em Esparta a terra era propriedade do ESTADO, mas utilizada pelos
esparciatas ou espartanos. Sendo os detentores da terra, eram tambm os detentores do
poder. Os espartanos ou esparciatas dedicavam-se to somente vida militar e poltica,
eram soldados profissionais, sempre prontos a defender Esparta. No podiam exercer
atividades comercias, artesanais ou agrcolas. Sendo uma sociedade militarista, sua
organizao educacional, sob a responsabilidade do Estado, voltava-se para a preparao
desde a infncia, dos guerreiros espartanos. Os jovens eram treinados nas artes da guerra,
estimulavam o laconismo e a xenofobia. Os periecos (os da periferia), camada
intermediria da sociedade, viviam margem do poder, sem qualquer direito poltico e
realizavam as atividades que os aristocratas consideravam desprezveis, entretanto, eram
obrigados a servir o exrcito e a pagar os impostos. Os hilotas, maioria da populao,
formavam a base da sociedade espartana. Eram descendentes das populaes dominadas
e constituam-se em propriedade do Estado. Por essa razo, alguns autores denominam o
modelo espartano de "escravismo-pblico". Cultivavam a terra dos espartanos, pagavam
os impostos em produtos e no possuam qualquer direito poltico, sendo um foco
constante de revoltas.
PERODO ARCAICO (800 a.C. 600 a.C.) ATENAS ARTE (Humanista;
democrtica; libertadora). Cidade fundada pelos jnios, na regio da tica, prxima ao
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35 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
litoral e cercada por montanhas, Atenas no sofreu com a invaso dos drios e manteve
sua prosperidade. Aps a desagregao das comunidades clnicas, a populao dividiu-se
em trs camadas: os euptridas (donos das melhores e maiores terras), portanto os
detentores do poder; os geomoros (pequenos proprietrios rurais) e os demiurgos
(camada formada por artesos e comerciantes). Democracia: ao assumir o poder em 509
a.C., Clstenes implanta em Atenas o regime democrtico. Ao assumir o governo,
redividiu Atenas em 10 tribos, composta por cidados independentes de sua posio
social: aristocratas, camponeses, artesos, comerciantes, marinheiros, etc., reduzindo
assim a influncia dos euptridas. De cada tribo eram escolhidos 50 homens para formar
a Bul que passou a ser o Conselho dos 500.
PERODO CLSSICO (600 a.C. 400 a.C.): Com as reformas de Clstenes e a
implantao do regime democrtico, Atenas passou viver seu apogeu a ter a hegemonia
do mundo grego a partir do governo de Pricles (461 a 431 a.C.). Este perodo passou a
ser conhecido como o "Sculo de Ouro" ou "Sculo de Pricles". O governo de Pricles
marcou o avano da democracia ateniense com a ampliao das possibilidades de
participao poltica das camadas populares, apesar dessa participao estar restrita aos
homens que tivessem pais atenienses. Eram excludos os escravos, os metecos e as
mulheres.
PERODO HELENSTICO (400 a.C. 146 a.C.): No final do sculo IV a.C., o
decadente mundo grego foi conquistado e passou a fazer parte do Imprio Macednico.
Sob a liderana de Filipe II, tem incio a formao de um grandioso imprio que alcanou
seu apogeu sob o comando de Alexandre Magno. Alexandre foi o responsvel pela
integrao cultural no seu imprio, que resultou na formao da cultura helenstica, fuso
da cultura helnica com a cultura oriental. Diferente da arte helnica, marcada pelo
equilbrio, pela leveza e pelo humanismo, a helenstica caracterizou-se pelo realismo
exagerado, com a grandiosidade e com o luxo.
3.3.3 Roma
ROMA - do sculo VI a.C. ao sculo V d.C.
No auge do esplendor, o Imprio Romano estendia-se da Inglaterra ao Egito e da
Espanha ao sul da Rssia. Expostos aos costumes de terras estrangeiras, os romanos
absorveram elementos de culturas mais antigas notavelmente da Grcia e
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36 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
transmitiram essa mistura cultural (greco-romana) a toda a Europa Ocidental e ao Norte
da frica. No primeiro momento, os deslumbramentos romanos foram voltados para a
produo da arte grega.
ARCOS: So elementos de construo em forma de curvas, obtidos com aduelas,
destinado a cobrir um vo de abertura. E quanto a forma dividem-se em:
ARCO FERRADURA:
ARCO MONTANTE OU RAMPANTE:
arco cujas extremidades no se nivelam
horizontalmente;
ARCO ABATIDO OU REBAIXADO
TRICNTRICO: cuja curva inferior a do
arco pleno;
ARCO TRILOBADO ARCO PLENO,
PLENICENTRICO OU SEMICIRCULAR:
cuja seco corresponde semi-
circunferncia;
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37 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
ARCO AGUDO OU OGIVAL: formado
por dois arcos que se cortam no vrtice de
um triangulo imaginrio, cuja base a do
arco.
ABBADAS: Cobertura encurvada, obtida com pedras ou tijolos cortados em
forma de cunha. No Brasil feita geralmente com tbuas. A tcnica de construo dividi-
se em:
ABBADA DE BERO: onde o
prolongamento do arco apoiado sobre
duas paralelas ou geratrizes; como o arco,
pode ser abatida, ogival, alteada, plena ou
cilndrica;
ABBADA DE BARRETE DE CLRIGO:
resultante da interseco das abbadas de
bero, cujas geratrizes so paralelas aos
lados do quadrado correspondente,
produzindo arestas reentrantes no interior.
ABBADA EM CPULA: resultante de
uma geratriz ou muro, circular formando
um espao interno mais ou menos semi-
esfrico.
ABBODA DE ARESTA: formada pelo
cruzamento de duas abbadas de bero
iguais, produzindo arestas salientes no
interior do espao aberto, ou seja, com as
geratrizes perpendiculares aos lados do
quadrado correspondente.
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38 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
Aula 4 ARTE NO PERODO MEDIEVAL
4.1 Arte na Idade Mdia
A Idade Mdia compreende entre os sc. V e XV, aproximadamente desde a queda
de Roma at o Renascimento. No perodo inicial, chamado de Idade das Trevas, depois
da queda do Imperador Bizantino Justiniano, em 565, at o Reinado de Carlos Magno,
em 800, os brbaros destruram o que se levara trs mil anos para ser construdo. Mas a
Idade das trevas foi uma parte da Idade Mdia. H muitos pontos de luz na arte e na
arquitetura, desde o esplendor da corte bizantina, em Constantinopla, at a imponncia
das catedrais gticas.
Trs deslocamentos importantes tiveram ampla repercusso na civilizao
ocidental:
1. A liderana cultural se deslocou do norte do mediterrneo para Frana, Alemanha
e Ilhas Britnicas.
2. O Cristianismo triunfou sobre o paganismo e o barbarismo.
3. A nfase se deslocou do aqui e agora para o alm, e da concepo de corpo belo
para a de corpo corrupto. Uma vez que o foco cristo se dirigia para a salvao e a
vida eterna, desapareceu o interesse pela representao realista do mundo. Os nus
foram proibidos e at as imagens de corpos vestidos revelavam a ignorncia da
anatomia. Os ideais greco-romanos de propores harmoniosas equilbrio entre
corpo e mente desapareceram. O interesse nas manifestaes de arte do perodo
medieval residiam exclusivamente na busca pela essncia, pela alma, e com o
objetivo de iniciar os novos fiis nos dogmas da igreja.
A arte se tornou serva da igreja. Os telogos acreditavam que os cristos
aprenderiam a apreciar a beleza divina atravs da beleza material, e o resultado foi uma
profuso de mosaicos, pinturas e esculturas.
Na arquitetura, essa orientao para o espiritual tomou a forma de construes mais
arejadas, mais leves. A massa e o volume da arquitetura romana deram lugar a
edificaes que refletiam o ideal cristo: discretos no exterior, mas refulgentes com
mosaicos, afrescos e vitrais espiritualmente simblicos no interior. As artes medievais
compem-se de trs estilos diferentes: o Bizantino, o Romnico e o Gtico.
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39 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
4.1.1 Arte Sacra Bizantina
Se o foco principal da arte bizantina foi originalmente Bizncio (Constantinopla),
seu territrio compreende a sia Menor, a Sria, a Itlia, a Grcia, os Blcs e a Rssia.
A denominao arte cristo do oriente seria mais exata. Seu real desenvolvimento
inicia-se com a converso do imperador Constantino e a proclamao, em 325, do
cristianismo como religio de Estado, seu pleno desenvolvimento estende-se do sculo
VI ao sculo XV.
Oriunda da Antigidade helenstica e romana, a arte sacra bizantina foi
essencialmente religiosa. O espao arquitetural era aproveitado em funo do jogo de luz
e sombra e, reluzindo de ouro, o mosaico destaca a arquitetura. Distinguem-se trs
perodos principais:
O perodo justiniano (527-565): Corresponde fixao dos grandes traos dessa
arte imperial. As plantas arquitetnicas diversificaram-se: planta retangular com
armao, ou centrada, com nmero de naves varivel e coberta com uma cpula.
Santa Sofia de Constantinopla, atribuda a Artmios de Talles e Isidoro de Mileto,
o templo mais notvel dessa poca, ao lado das igrejas de Ravena e Santa
Catarina do Sinai. A crise do iconoclasmo, caracterizado pela rejeio da
representao do divino, favoreceu o aparecimento da escola capadociana.
A renascena macednica (867-1057): A arte sacra imperial humanizou-se: os
santurios passaram a ter propores menos imponentes, mas a planta em cruz
inscrita chegava perfeio e tornava-se perceptvel do exterior. Colocada sobre
pingentes ou sobre trompas de ngulo (poro da abbada que sustenta uma parte
saliente do edifcio), a cpula sustentada pelas abbadas em bero ou abbadas
em aresta. Na Grcia, Dfni, So Lucas na Fcida e os Santos Apstolos de
Atenas so exemplos desse tipo, assim como a igreja do Pantocrator, em
Constantinopla. As artes menores so testemunhos de um luxo refinado. Foi sob o
reinado dos Comnenos que foram erguidas as numerosas igrejas da Iugoslvia
(Ohrid, Nerezi, etc.).
O perodo dos Palelogos (1258-1460): Realismo e decorao narrativa tenderam
a generalizarse. As cenas esto plenas de personagens (mosaico de So Salvador-
in-Cora, hoje Kahriye camii, de Constantinopla); os afresco multiplicaram-se. Os
grandes centros de arte sacra bizantina so Tessalnica, Trebizonda e Mistra.
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40 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
Apesar do desaparecimento do Imprio, a marca da arte bizantina manteve-se nas
regies mais diversas, como o monte Atos, a Iugoslvia, a Bulgria, a Romnia e a
Rssia, a qual continuaria a produzir notveis cones.
4.1.2 A arte sagrada dos cones
Oriente e Ocidente: icongrafos e artistas.
Enquanto o Ocidente expressa essa f vivida mediante a experincia pessoal do
artista, o Oriente atem-se aos cnones estabelecidos pela Igreja. O primeiro expressa sua
prpria experincia e os prprios sentimentos que experimenta sua f, pintando com total
e absoluta espontaneidade qualquer motivo religioso que lhe sugerido, solicitado ou
que, simplesmente, expresse o que ele sente ou experimenta. No Oriente, os icongrafos,
seguindo os ensinamentos do Mestre Dyonisios e, em geral, as determinaes da Igreja,
buscam reproduzir as mesmas passagens dos Evangelhos, omitindo qualquer experincia
ou sentimento pessoal vivido, tratando, simplesmente, desde uma profunda vida de
orao, expressar o contedo dos Evangelhos.
Os icongrafos, antes de a iconografia ter passado a ser objeto de ocupao de
pessoas amantes das artes manuais eram sempre monges e a iconografia uma funo
conferida pela Igreja. A tarefa do icongrafo sempre foi comparada ao do sacerdote.
Primeiro porque ambos pregavam a Palavra de Deus, o primeiro com a pintura e as
colores, o segundo mediante a palavra ou a escritura.
Desde o aparecimento dos cones na histria da Igreja, estes no eram considerados
como uma mera obra artstica. Os primeiros icongrafos, tratavam de retratar com cores e
pinturas o que os Evangelhos expressavam com palavras (Conclio de Nicia II).
Contudo, os cones e, em geral, a cultura bizantina, uma mescla de cultura, arte,
historia, f... que se faz viva no corao dos habitantes do Imprio. Desde os Imperadores
at a pessoa mais humilde, viviam a experincia dos cones como expresso da f de um
povo que experimentava diariamente a interveno de Deus, da Theotokos e dos Santos
na sua vida cotidiana, tal como viviam as primeiras comunidades crists de Jerusalm.
Toda a cultura bizantina: arquitetura, escultura, pintura, bordados e manuscritos, entre
outros, est iluminada por essa f que impregna cada uma das atividades e da vida dos
habitantes do Imprio.
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41 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
4.2 Das trevas a luz: nasce o Gtico
O auge do desenvolvimento artstico na Idade Mdia, rivalizando com as
maravilhas da Grcia e de Roma da antiguidade, foi a Catedral Gtica. Essas imensas
catedrais superam at mesmo a arquitetura clssica em termos de ousadia tecnolgica.
Entre 1200 e 1500, os construtores medievais ergueram essas estruturas
elaboradssimas, com seus interiores atingindo uma altura sem precedentes na histria da
arquitetura. O que tornou possvel a catedral gtica foram dois desenvolvimentos da
engenharia: a abbada com traves e suportes externos chamados arcobotantes, ou
contrafortes. A aplicao desses pontos de apoio nos locais necessrios permitiu trocar
paredes grossas com janelas estreitas por paredes estreitas com janelas enormes e com
vitrais inundando de luz o seu interior. As catedrais gticas no conheceram a Idade das
trevas. Sua evoluo foi uma contnua expanso de luz, at que as paredes se tornaram
to perfuradas que ficaram verdadeiros pinzios emoldurando os imensos campos de
vitrais coloridos que contam histrias religiosas.
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42 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
Origem e Evoluo
do Design
Aula 5 HISTRIA DO DESIGN
5.1 Origem do Design
O estudo da histria do design um fenmeno relativamente recente. Os primeiros
ensaios datam da dcada de 1920, mas pode-se dizer que a rea s comeou a atingir a
sua maturidade acadmica no final do sculo XX. (DENIS, 1998).
Como em toda profisso nova, a primeira gerao de historiadores do design teve
como prioridades a delimitao da abrangncia do campo e a consagrao das praticas
preferidas na poca. Sempre que um grupo toma conscincia da sua identidade
profissional, passa a se diferenciar pela incluso de uns e pela excluso de outros, e uma
maneira muito eficaz de justificar esta separao atravs da construo de genealogias
histricas que determinem os herdeiros legtimos de uma tradio, relegando quem fica
de fora ilegitimidade.
A histria do design deve ter como prioridade no a transmisso de dogmas que
restrinjam a atuao do design mas a abertura de novas possibilidades que ampliem os
seus horizontes, sugerindo a partir da riqueza de exemplos formas criativas e conscientes
de se proceder no presente.
A origem imediata da palavra est na lngua inglesa, na qual o substantivo design se
refere tanto a ideia de plano, desgnio, inteno, quanto de configurao, arranjo,
estrutura (e no apenas de objetos de fabricao humana, pois perfeitamente aceitvel,
em ingls, falar do design do universo ou de uma molcula). A origem mais remota da
palavra est no latim designare, verbo que abrange ambos os sentidos, de design e o de
desenhar. Percebe-se que, do ponto de vista etimolgico, o termo j contm nas suas
origens uma ambiguidade, uma tenso dinmica entre um aspecto abstrato de
conceber/projetar/atribuir e outro concreto de registrar/configurar/formar.
Trata-se portanto de ama atividade que gera projetos, no sentido objetivos de
planos, esboos ou modelos. Diferentemente de outras atividade ditas projetuais (como a
arquitetura e a engenharia). O design costuma projetar determinados tipos de artefatos
Un
idad
e
3
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43 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
mveis, se bem que as trs atividades sejam limtrofes e se misturem s vezes na prtica.
A distino entre design e outras atividades que geram artefatos mveis, como artesanato,
artes plsticas e artes grficas, tem sido outra preocupao constante para aqueles que
apresentam tais definies.
Design, arte e artesanato tm muito em comum e hoje, quando o design j atingiu
uma certa maturidade institucional, muitos designers comeam a perceber o valor de
resgatar as antigas relaes com o fazer manual.
5.2 Arte e design em correlao
Sinais grficos geram comunicao visual. Portanto, desde os primeiros indcios da
vida humana, existe a comunicao proveniente de smbolos e de representaes
figurativas, como os primitivos desenhos executados nas paredes das cavernas pr-
histricas. Em conjunto, os elementos grficos formam uma imagem, que aliada s
palavras, constituram-se no objeto de conhecimento do design grfico.
A palavra perde o sentido da fala quando impressa, a recuperao de seu
significado dada pelo designer ao editar os tipos. Porm, o significado no somente
resultante da criao do designer, mas responde aos interesses dos clientes para os quais o
profissional executa seu trabalho. Apesar da preferncia esttica escolhida pelo designer,
a proposta que ele executa deve atingir a um pblico alvo. Essas caractersticas
diferenciam o design da arte, como a direo mecnica que o projeto possui.
As principais funes do designer so: identificar; informar/instruir; e
apresentar/promover; ... prender a ateno e tornar sua mensagem inesquecvel.
A Histria do Design uma histria muito recente, apenas trs sculos nos
separam do surgimento do Design como uma cincia com seus prprios
conhecimentos, mtodos e tcnicas. Isto no significa que no houve design
antes da era moderna. Podemos considerar design todos os objetos que se
criaram desde o surgimento da humanidade; mas, como o termo muito
abrangente porque inclui toda a cultura dos objetos materiais, a Histria do
Design se inicia no momento em que esta cultura se torna uma cincia.
Nossa histria se inicia ento no momento em que se configuram todas as
cincias modernas e em que mudam os sistemas de produo: O
Iluminismo e a Revoluo Industrial.
DaniellHighlight
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44 Histria da Arte Professor Simo Cavalcante
(HOLLIS, 2000, p.4). Complementando com as idias de Villas-Boas, de que um objeto
produto de design grfico se responder a quatro aspectos: