Apostila sobre Palhaçoterapia para não atores

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3 Completando nesse ano 3 anYnhos de existência, o Projeto Y mantém suas atividades voltadas para o Y (ups, tripé) Ensino, Pesquisa e Extensão. * Somos quantos!? 21 integrantes (membros efetYvos) + os 4 fundadores (membros vYtalícios) + 1 membro afetYvo (1 interno). Dentre os integrantes efetYvos, en- contram-se 2 estudantes de psicologia, 3 de enfermagem e 16 da medicina. A integração proporcionada pela mul- tidisciplinaridade do nosso grupo nos permite compartilhar experiências sob diferentes visões da área de saúde, contribuindo sobremaneira para o en- riquecimento da formação intelectual e mesmo humana dos nossos integrantes, possibilitando a expansão das fronteiras do ideal de humanização da medicina. * Como é a organização das vYsYtas?! Ao longo desses 3 anos de camYnha- da fizemos aproximadamente 384 vi- sitas a crianças grandes e pequenas, profissionais de saúde e traseuntes do hospital! Realizamos atualmente 3 visitas se- manais à Pediatria do Hospital Universi- tário Walter Cantídio (+ umas escapuli- das para a Enfermaria de Cirurgia, além dos atalhos que pegamos no caminho até a Pediatria!). Há um ano iniciamos as visitas no Hospital do Câncer do Ceará, a partir da realização de 1 visita semanal à Enfer- maria de Pediatria. As visitas contam com 4-5 membros do projeto em média e ocorrem em ge- ral entre 12:30-14h, ou de acordo com a disponibilidade de horário dos integran- tes. Logo ao entrar na Enfermaria, pelo menos um dos “doutores-palhaços” vai ao Posto Médico certificar-se do quadro geral das crianças, se há algum impedi- mento de visita, ou se algum necessita de atenção especial. Após cada visita, é feito um regYs- tro a fim de que possamos eternizar nossas experiências no hospital, assim como acompanhar tanto evolução de algumas crianças quanto ao contato com o “doutor-palhaço”, como também o crescimento do grupo, revelando-se um importante instrumento de auto- avaliação. Os estudantes se utilizam da ludici- dade do palhaço, do teatro, da música, dentre outras ferramentas, como a pa- ródia de situações médicas (transplante de nariz, infusões de alegria, injeções de bom humor, acochar riso frouxo, dis- tribuir comprYmYdos bem apertados...) em suas atuações no hospital. Obser- vamos que permitir ao paciente ser a criança que se é, e não o ser doente, por vezes, socialmente estigmatizado, trouxe grande melhora emocional a esse. Percebemos que a brincadeira se mostrou terapêutica não apenas para as crianças, mas também para a família, que se mostra receptiva à nossa inter- venção e as estimulam a participar das brincadeiras. A experiência do Projeto Y no HUWC e no ICC tem sido bastante significativa, pois, como futuros profis- sionais de saúde, aprendemos a lidar com certas particularidades da interna- ção infantil, como a limitação ao leito, o estresse e as emoções experienciadas. Observamos que a atuação do projeto, desde sua criação há 3 anos, tem torna- do a estadia de crianças e familiares no hospital mais agradável. * Reuniões Burocráticas?! Para quê isso?! Uma vez por semana temos uma reu- nião com o grupo todo, a fim de que possamos discutir como foram as visi- PROJETO Y DE RISO, SORRISO E SAÚDE 2008 12

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Em 2008, o Projeto Y realizou um mini-curso para promover a criação de grupos de palhaçoterapia no Ceará. Para isto confeccionou uma mini-apostila explicando nosso funcionamento e nossa filosofia.

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Completando nesse ano 3 anYnhos de existência, o Projeto Y mantém suas atividades voltadas para o Y (ups, tripé) Ensino, Pesquisa e Extensão.

* Somos quantos!?

21 integrantes (membros efetYvos) + os 4 fundadores (membros vYtalícios) + 1 membro afetYvo (1 interno).

Dentre os integrantes efetYvos, en-contram-se 2 estudantes de psicologia, 3 de enfermagem e 16 da medicina.

A integração proporcionada pela mul-tidisciplinaridade do nosso grupo nos permite compartilhar experiências sob diferentes visões da área de saúde, contribuindo sobremaneira para o en-riquecimento da formação intelectual e mesmo humana dos nossos integrantes, possibilitando a expansão das fronteiras do ideal de humanização da medicina.

* Como é a organização das vYsYtas?!

Ao longo desses 3 anos de camYnha-da fizemos aproximadamente 384 vi-sitas a crianças grandes e pequenas, profissionais de saúde e traseuntes do hospital!

Realizamos atualmente 3 visitas se-manais à Pediatria do Hospital Universi-tário Walter Cantídio (+ umas escapuli-das para a Enfermaria de Cirurgia, além dos atalhos que pegamos no caminho até a Pediatria!).

Há um ano iniciamos as visitas no Hospital do Câncer do Ceará, a partir da realização de 1 visita semanal à Enfer-maria de Pediatria.

As visitas contam com 4-5 membros

do projeto em média e ocorrem em ge-ral entre 12:30-14h, ou de acordo com a disponibilidade de horário dos integran-tes. Logo ao entrar na Enfermaria, pelo menos um dos “doutores-palhaços” vai ao Posto Médico certificar-se do quadro geral das crianças, se há algum impedi-mento de visita, ou se algum necessita de atenção especial.

Após cada visita, é feito um regYs-tro a fim de que possamos eternizar nossas experiências no hospital, assim como acompanhar tanto evolução de algumas crianças quanto ao contato com o “doutor-palhaço”, como também o crescimento do grupo, revelando-se um importante instrumento de auto-avaliação.

Os estudantes se utilizam da ludici-dade do palhaço, do teatro, da música, dentre outras ferramentas, como a pa-ródia de situações médicas (transplante de nariz, infusões de alegria, injeções de bom humor, acochar riso frouxo, dis-tribuir comprYmYdos bem apertados...) em suas atuações no hospital. Obser-vamos que permitir ao paciente ser a criança que se é, e não o ser doente, por vezes, socialmente estigmatizado, trouxe grande melhora emocional a esse. Percebemos que a brincadeira se mostrou terapêutica não apenas para as crianças, mas também para a família, que se mostra receptiva à nossa inter-venção e as estimulam a participar das brincadeiras. A experiência do Projeto Y no HUWC e no ICC tem sido bastante significativa, pois, como futuros profis-sionais de saúde, aprendemos a lidar com certas particularidades da interna-ção infantil, como a limitação ao leito, o estresse e as emoções experienciadas. Observamos que a atuação do projeto, desde sua criação há 3 anos, tem torna-do a estadia de crianças e familiares no hospital mais agradável.

* Reuniões Burocráticas?! Para quê isso?!

Uma vez por semana temos uma reu-nião com o grupo todo, a fim de que possamos discutir como foram as visi-

PROJETO YDE RISO, SORRISO E SAÚDE

2008

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tas, possíveis dificuldades encontradas, desabafos, dúvidas, enfim...

A reunião está dividida em dois mo-mentos:

INFORMES:

Repasse de faltas nas visitas ou na reunião

Repasses de gastos, doações

Informações sobre pacientes

Fofocas :o)

PAUTAS:

1. Datas comemorativas:

Propor visitas especiais!

2. Convites:

Na medida em que passamos a di-vulgar melhor a palhaçoterapia, per-cebemos o quanto muitas pessoas revelam-se receptivas a essa idéia, re-conhecendo o valor de nosso trabalho. Isso contribuiu para que surgissem vá-rias propostas de convites, alguns com noção... outros sem noção!

Está certo, o nosso plano B algum dia vai ser animar festinhas de aniversário! Nada mais digno! :o)

Não é raro surgirem convites de pes-soas que, confiando na nossa formação artística, solicitam que realizemos peças de teatro em algumas disciplinas da fa-culdade para tornar a aula mais intera-tiva, convidam-nos para apresentação e recreação de eventos (não necessaria-mente vestidos de palhaços).

Com freqüência somos convidados para fazer visitas no Hospital Albert Sa-bin, Santa Casa... E isso não é bom? É...perfeito mesmo! O detalhe é que te-mos compromissos firmados com o HU e ICC e temos que “dar conta” efetiva-mente pelo menos desses! Se é difícil conciliar tempo para essas atividades, imagina se buscarmos expandir tanto assim as fronteiras... é certo que sem-pre sonhamos em dominar o mundo... mas sozinhos ainda não temos tempo para isso! Pelo menos não agora! Por isso que precisamos de vocês!

Certas vezes na empolgação em di-vulgar a nossa idéia topamos fazer mui-ta coisa mesmo, algumas até que fu-giam ao objetivo do projeto! Podemos dizer que em determinados momentos valeu realmente a pena, uma vez que buscávamos conquistar visibilidade, fi-nanciamento, disseminação da idéia da humanização ou mesmo fazer o bem. Entretanto, até então, a experiência que tivemos é que isso acabou nos can-sando...

Primeiro foi virando uma bola de neve! Investimos muito em divulgação do projeto (folders, blog, reuniões...) com o passar do tempo fomos rece-bendo cada vez mais convites e fomos aceitando... e aceitando... e os nossos pacientes?! Já estávamos ficando sem tempo e, sobretudo, sem energia para eles... que sempre foram o nosso prin-cipal objetivo. Daí vale o questionamen-to: Até que ponto vocês querem expan-dir o seu projeto?!

Passamos a sentir necessidade de selecionar os convites recebidos. Tive-mos que estabelecer limites para nossa atuação, a fim de que pudéssemos tra-balhar melhor e com compromisso no nosso picadeiro dentro das nossas limi-tações de estudantes da área de saúde entupidos de aulas, provas, estágios...

Inevitavelmente criamos laços e vín-culos no Hospital, de maneira que as crianças e mesmo os profissionais de saúde permanecem na expectativa por nossas visitas!

3. Acompanhamento de trabalhos e pesquisas em andamento:

E não é só brincadeira não ?!

Para aflorar sorrisos, muito trabalho e dedicação têm que existir!

Especialmente no caso da palhaçote-rapia como ferramenta de humanização da medicina, não dispomos de muitos trabalhos científicos que comprovem a eficácia dessa “terapia alternativa do riso”.

Para que nosso movimento de palha-çoterapia vingasse fez-se mister buscar

os pensadores e as pesquisas que em-basariam sua implantação. Basicamen-te dois pilares se mostraram aparente-mente propícios para tanto: a ciência das endorfinas e a liberdade filosófica.

Um e outro nos farão claudicar sem-pre. Explicamos.

As endorfinas são pobres diante de tudo o que nós vivemos nos corredo-res e leitos de hospital. Nenhuma uni-dade de endorfina que corra entre os neurônios de nossos pequenos poderá traduzir o significado imenso de nos-sa passagem por lá. Não há superfície atômica de qualquer ligação e nature-za que reflita, límpido como uma água santa, o sentimento sublime que corre em nossas veias, nas veias das crian-ças e das mães, nas dos funcionários. Creio que não haja aparelho nem pa-lavra para analisar o conteúdo dessas veias, senão um aparelho que devasse o espírito, senão uma palavra que seja poesia. Mas, enquanto o homem não atinge tamanha tecnologia, é louvável o esforço de tatear os esconderijos da matéria para se ver face a face com os mistérios da dor e do consolo no ho-mem. Não encarceremos a explicação de todo o fenômeno na matéria, por-que, na verdade, o que encontraremos serão meras sombras de um jogo muito mais glorioso a desenrolar-se nas teias divinas do ser.

A filosofia, de outro modo, muitas ve-zes se perde dentro de discussões de palavras que não geram resultado prá-tico nenhum, ao menos de imediato.

Com ciência e filosofia poderemos ter uma dupla que sustente o nosso fazer.

De qualquer forma, somos o fenôme-no. Todo fenômeno surge antes da ex-plicação. O que fazer para nos explicar - palhaços?

Enfim, na tentativa de divulgar, jus-tificar e respaldar para a comunidade acadêmica o valor da palhaçoterapia, buscamos elaborar trabalhos acerca da nossa atuação, a partir de relatos das nossas vivências. Publicamos um arti-go na Revista de Pediatria do Ceará e,

atualmente, estamos em andamento com uma pesquisa qualitativa acerca da percepção dos estudantes de medicina, das acompanhantes das crianças e dos profissionais do Hospital quanto às vi-sitas realizadas por nossos “doutores palhaços”.

Alguns de nossos trabalhos mais re-centes...

a. Ser palhaço em Y por um dia – A pedagogia do palhaço como alternativa verdadeiramente prática de humaniza-ção.

b. Relato de experiência HU e ICC.

c. Seleção e formação de novos in-tegrantes do Projeto Y, de riso, sorriso e saúde – uma estratégia de educação humanizada pela arte.

d. Blog do Projeto Y- Fazendo a mídia companheira de disseminação.

e. Natal solydário.

f. Natal Branco.

g. Natal do HU e ICC.

h. Dia das mães.

i. Dia das crianças.

j. Oficina de arteterapia.

l. Projeto Y - Visita hospitalar no Re-veillon.

m. Projeto Y, de riso, sorriso e saúde na II Semana de arte médica.

4. Organização de eventos:

Considerando nossa contribuição para a Educação Médica, realizamos algumas atividades buscando além da divulgação do nosso trabalho, a partir de iniciativas de humanização dentro do Centro de Ciências da Saúde.

- II Semana de Arte Médica

- Congresso de Saúde da Família (Or-ganização de Oficina de Arteterapia)

- Outubro Médico (Organização de Oficina de Arteterapia)

- Natal Solydáryo – organização de

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campanha para doação de brinquedos para as crianças do HU e ICC e promo-ção de encontro para acadêmicos e pro-fessores com apresentação de grupos musicais , atividades lúdicas etc.

- Ser palhaço em Y por um dia.

- Myny-Curso

Viram as múltiplas possibilidades de atuação de um grupo de palhaçotera-pia? Vocês devem estar pensando... como é que dão conta de tudo isso!?

DIVISÃO DE TAREFAS

Essa é a solução!

Trabalhar em grupo é difícil, porém quando há integração, ajuda mútua, organização e sobretudo dedicação o resultado é efetivo!

Nosso grupo é composto por:

- Orientadora geral

- Orientadora em pesquisa

- Orientador artístico

- Presidente

- Vice-presidente

- Secretarias:

* Ofícios e Informática: responsabili-zam-se da parte burocrática.

* Relações Públicas: contatos com orientador, diretores da faculdade de hospital.

* Limpeza: cuidar da higienização da sala.

* Festas: organizar momentos de con-fraternização.

* Ata: registrar todas as reuniões.

* Ferramentas: Catalogar, controlar acervo de adereços e ferramentas uti-lizadas nas visitas.

* EspYnhos: controlar freqüência dos integrantes nas visitas e reuniões, com

o objetivo de prevenção e detecção pre-coce de palhaços estressados e deses-timulados. Na medida em que ocorrem faltas nas visitas, reuniões, atrasos, descumprimento de encaminhamentos, o integrante vai contabilizando espY-nhos. Quando o doutorzinho está quase se tornando um Cactus, há uma adver-tência, de modo que ele possa buscar tratamento, tendo a oportunidade de perder espYnhos ao realizar visitas ex-tras ou encaminhamentos!

* E como é que vocês se susten-tam?!

Logo quando o Projeto foi fundado, cada integrante pagava uma mensa-lidade de 3 reais. Somos baratinhos mesmo! Para o nosso trabalho só preci-sa mesmo é de boa vontade!

Costumamos receber doações que nos ajudam muito e tudo isso conquis-tamos através da divulgação. Recebe-mos computador... impressora... brin-quedos... e dinheiro...!

* Com o quê gastam tanto !?

- Maquiagens

- Brinquedos (presentes para as crian-ças em datas comemorativas)

- Produtos de limpeza

- Organização de eventos

- Ferramentas para visitas (brinque-dos, adereços...)

Tudo pronto... O momento mais esperado.... A VISITA !

* Que que cês fazem mesmo, hein?

Vishi! Tem tantas maneiras de res-ponder essa pergunta, que a gente acha que é por isso que ela vale ser feita. Quando tem muita resposta, não tem resposta nenhuma, né não? Mas, com objetividade, a gente se veste de palhaço pra brincar com as crianças do

hospital. Óbvio, não? O que deixa essa atividade profunda é o tal vestir-se de palhaço, porque no fundo você percebe que é mais ser palhaço do que só se vestir. E ser palhaço é mais uma des-coberta do que uma mera técnica de bem fazer rir. Outra coisa que vai além é a tal da criança do hospital. Porque ela não é só a criança do hospital. Ser do hospital é não estar no seu meio. A princípio você poderia pensar – então ela está zangada! Algumas sim. Essas choram ou lhe batem. Outras não. Es-sas brincam com você antes mesmo que você brinque com elas. Mas o mais emocionante é quando você converte em algumas (porque arte não se faz em massa, são raros momentos de es-tação em estação) a zanga em alegria. Digo, a maioria você acaba fazendo rir, entende, mas aquela que você provo-ca um riso especial de conversão, é só algumas. Lembrar também que no hos-pital não tem só as crianças da pedia-tria. Você percebe que o nariz vermelho desperta crianças por onde você passa. Desde as zangadas que não querem in-teragir e fogem, até os gaiatos que que-rem ser mais palhaço que vocês.

* Ai...mas eu num sou engraçado...

Olha, duas dicas do riso:

1) Modifique o sentido das coisas, in-verta, perverta até. Pode prestar aten-ção que em toda piada a graça está no inesperado. A piada conduzia seu pen-samento para um desfecho até que ela lhe surpreendeu. A própria forma de você se vestir vai já quebrar o senti-do dos transeuntes do hospital, e eles vão rir pela simples presença de vocês que quebram o sentido de todo aque-le cenário. Exemplo de piada: “O que um cromossomo disse pro outro? Cro-mossomos felizes!”. Primeiro você não esperava que um cromossomo falasse. Isso já te prepara pro riso. Depois você se depara com um significado com-pletamente inusitado de cromossomo, misturando os substantivos e verbos na sua cabeça. Não sei você, mas eu bolei de rir.

2) Use todo o seu corpo na ação. Os palhaços cearenses costumam usar muito a palavra. Você não precisa sair dizendo piada o tempo todo pra quem encontrar. O riso surge, repito, da con-trariedade inocente que dá certo. Tipo: você passa pela roleta e se engancha nela e sai dela de costas e fica andan-do de costas. A roleta, rodando, parece que confundiu seu senso de direção e te fez andar ao contrário. Você ia se enca-minhando para bater de frente com al-guém, quando vai chegando muito per-to, você desvia com um giro do Michael Jackson para direita e continua como se nada tivesse acontecido.

Se você ainda assim não se sentir se-guro, saiba que ao contrário do que a vida mostra, a felicidade se conquista de dois ou mais, nunca só de um. As melhores risadas surgem da situação que é gerada sem o seu controle. Da criança que te faz de cavalo. Da criança que te faz de cozinheiro. Da criança que te faz de passageiro. Da criança que te faz de cabide. Da cozinheira que te cha-ma pra te dar uma água de coco e de repente você se vê entupido com ela e o seu companheiro pega um desentupi-dor de pia para te desentupir e quando desentope se vê cuspido com água de coco. Perceba como essa duas coisas estão nas duas dicas: a perca do senti-do das coisas, o corpo todo sendo usado no riso. Tem tantas lições que a gente pode aprender com essa forma de viver, mas isso eu falo depois...

* Hummm... e se eu num souber fazer nada?

Travou? É comum. Às vezes isso acontece quando você não consegue acompanhar o seu companheiro que está, ao seu ver, se garantindo. Procu-re um outro palhaço com quem intera-gir, às vezes é só problema de equipe. Ninguém é obrigado a se dar bem com todo mundo. Ainda mais de primeira, assim. Pode ser que você esteja sendo ansioso demais. Vale esperar um pouco, pra ver se surge uma brecha pra você entrar no jogo. Mas, nunca se esque-

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ça de nunca sair do estado palhaço. O estado palhaço não é uma ação, é um estado de espírito, que se reflete em todo o seu corpo. Não vamos enganar vocês. A firmeza desse estado, um pa-lhaço “de personalidade”, só se alcança com o tempo. Mas, não deixem de ten-tar. Dica: façam um ritual de posses-são – colocou o nariz... ... ... ... ...Se o nariz vier a ser tirado, acontece, é uma oportunidade de jogo que se arma. Não será você novamente, mas um palhaço des-narizado. A visita pode passar a ser então “a saga do palhaço pelo seu na-riz”. Eu vejo um palhaço correndo para a brinquedoteca e tentando encaixar qualquer coisa que lhe vem pela frente para ver se cabe no seu narizinho. Per-guntando aqui e ali pelo seu nariz com uma voz fanha. De qualquer forma, é bom evitar esse tipo de situação. No iní-cio o nariz é de suma importância para o Dumbo voar. Depois, pode-se tirar a pena que ele faz o público rir sozinho. Entendeu? Seja o que for, não saia do palhaço e esteja aberto a novas expe-riências. Mas aberto, assim, constante-mente. Porque aberto você conseguirá ouvir uma criança atrás de você que susurra “psiu” e tão sussurrante quanto o “psiu” dela você tem que se abaixar e ir ver até onde o coelho da Alice pode te levar. Já deu pra entender que nessa brincadeira você não é o dono de tudo? Então, se você não souber fazer nada, é porque um outro tipo de tudo te espera. Esteja atento para encontrá-lo!

* Tô morrendo de medo!!!

Um segredo só entre nós. Agora eu tenho que deixar um recado pessoal. Aqui quem fala é o Allan. Eu sempre tive. Nunca deixei de ter. Quando a Mia foi visitar o HGF e ela adorou a Pediatria lá. Ai! Chega que eu tremi as pernas. E depois ela ainda veio me dizer que que-ria que o Y fosse fazer uma visita lá. Ai! Que vontade de fazer cocô. Mas, o que eu fiz? A Fafel tem bons motivos para trazer palhaços para cá. Vai que dá tudo errado e eu levo carão dos staffs por ter me responsabilizado por isso? Vai que dá tudo certo e os meninos não

tem mais respeito por mim porque não sou mais o doutor, mas o palhaço? Se é um projeto que tanta gente cativou com tanto esmero, não tem porque não apostar na expansão dele e deixar de abrir portas. Arrisco. Se houve uma coi-sa que eu aprendi com o Acerola é que vale sempre a pena levar quedas ten-tando alcançar um riso de amor. Quem já viu o Acerola na enfermaria, sabe o significado doloroso que tem essa li-ção. Pessoal, é tampar o nariz e pular. O estrago a gente conserta depois, ou não...

Teve um cara aí na história da física que colocou a mão no fogo, ou melhor, o corpo no relâmpago pra provar que não acontecia nada com ele. Era a tal da gaiola estática. Ele tinha percebido que sempre quando se eletrizava um corpo, as cargas se espalhavam do lado de fora do corpo metálico oco e nun-ca dentro. E isso, uniformemente. Ele reuniu um monte de cientistas, se co-locou dentro de uma gaiola e esperou o relâmpago cair. A gaiola tremeu, mas ele saiu intacto. Percebe o que é se ar-riscar? Vão lá pra dentro daquela gaio-la onde estão as crianças e mostra pro mundo que brincar faz bem, não mata, e ainda, dá é mais vida.

E tantas outras coisas que o brincar faz... mas isso a gente conversa depois de brincar!

Para fazer uma introdução filosófica ao que poderíamos chamar de filosofia do palhaço, no nosso caso, fylosofya, podemos seguir uma forma de ver as coisas muito característica dos nossos tempos: a história das idéyas.

O objetivo desse texto é mostrar para vocês como o palhaço se encaixa em diferentes filosofias que a humanidade experienciou na sua existência. Fala-remos de quatro grandes sistemas de pensamento: Estoycysmo, Crystyanys-mo, Modernysmo e o pensamento de Nietzsche.

Não nos aprofundaremos em nenhum deles, mas tentaremos mostrar os ele-mentos de nossa atividade de médicos-palhaços que estão presentes em cada um desses sistemas.

A construção desse raciocínio servirá para lhes mostrar que o que vocês pre-tendem fazer é muito mais do que con-tar piadas, que essa atividade vai muito além do que um mero recreio.

Pois bem! Me sigam. Tentarei ser bre-ve, sem perder a beleza.

Na Antigüidade Clássica todos nós conhecemos que havia os famosos fi-lósofos.

Era comum àquela época as pessoas se reunirem para discutir sobre o sen-tido último da vida e, antes de chega-rem a conclusões que sinalizassem esse sentido, tentar definir de forma consis-tente o que era cada coisa que nos cir-cundava. A definição das coisas que nos circundam daremos o nome de teoria. Há uma coisa em especial entre aquilo que nos circunda que nos fere, em to-dos os sentidos: o outro alguém. A es-peculação sobre a forma de viver com o outro chamaremos de moral ou ética. E no final de todo pensamento há uma constatação inquietante: não dá para

pensar sobre tudo isso pra sempre. Um dia o pensamento morre, e você com ele. A resposta que conduzirá o homem a vencer a morte, o que vale dizer ven-cer o medo da morte, o que vale dizer se salvar, chamaremos de sabedoria. O sábio, portanto, muito mais que um in-telectual, que está mais preso ao bom domínio da teoria, é o que tem conhe-cimento prático suficiente para ser livre do medo da morte, que tem o conheci-mento da salvação.

Aqui é o momento de você perceber que o palhaço é filósofo por excelên-cia. É digno de um filósofo parar para questionar sobre o mundo, como se fosse para, já em idade madura, voltar a conhecê-lo de novo, e assim, conhe-cê-lo melhor. O palhaço, vocês devem se aperceber disso, é um ser ingênuo que vê tudo no mundo como se fosse novo e até modifica o significado tra-dicional dessas coisas porque, na sua visão ingênua, ele encontra novas utili-dades para o que era já definido por ou-tros. Um tubo de soro fisiológico pode muito bem vir a ser um microfone, por que não? Outra coisa que já deve ser percebida é que vamos ao encontro di-reto da interação com outros que nos são semelhantes como humanos. A rei-nauguração das relações com o outro será motivo não só de graça, mas de questionamento ético sobre as relações tradicionais. Coisa mais singular, o ou-tro com quem teremos contato sofre, e está no hospital justamente para se livrar do sofrimento. Impossível não ver que todo sofrimento cheira a possibili-dade de morte. Como entregar salvação para os indivíduos que sofrem de outra forma que não usando a tecnologia mé-dica, distante e fria, maquinal e siste-mática? Eis a pergunta última que nos conduzirá a alguma sabedoria.

Os estóicos consideravam a natureza como a primeira de tudo, sem começo apreciável pelo homem, sem fim seme-lhante. A natureza humana era mortal por excelência. E se havia alguma vir-tude, ela estava naquilo que se asse-melhava a natureza. Dizer que um olho era virtuoso era dizer que aquele olho

SOBRE A NOSSA FYLOSOFYA

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era feito de substância perfeita. Em sua moral, eles vão tratar os homens não dando tanta importância as paixões e ao apego. Na verdade, repudiarão es-sas fraquezas humanas. Daí eles pas-sarem a idéia de pessoas austeras e incorruptíveis. Eram avessos a moda, porque toda moda passa. E seu ideal de salvação era, através de uma vida rigorosa, entender que o seu fim seria a re-conexão com a natureza mãe. Um re-conexão serena com aquilo que é eterno!

O que os médicos-palhaços têm dos estóicos? Não ligam pra moda, mas não são austeros. Os palhaços têm uma moda própria, a sua. Pode ela até mu-dar, mas para evoluir no sentido de con-seguir encontrar ainda mais o palhaço que ele é. Perceba que cada palhaço tem uma forma bem própria de se ves-tir, o que lhe confere identidade. Não ligam para as opiniões alheias, e sua vida é bem uma de exaltar o ridículo que há na civilização de tal modo que se torna um elemento estranho a ela. É essa estranheza aparentemente ino-cente do palhaço que gera riso. As pes-soas deviam se rir dos estóicos, pelas costas, porque eles eram sisudos. Dos palhaços, elas riem na frente, porque eles são inofensivos, por mais carran-cudo que aqui e acolá o palhaço seja. O que não concordamos com os estóicos, e isso é bem específico do médico-pa-lhaço, é o desapego pelos outros. Entre os Doutores da Alegria há narrações de visitas que terminaram em lágrimas de tristeza, entre a gente também. Não há mal nenhum chorar por causa dos pa-cientes, pelo contrário. Esse apego pa-rece estar diretamente relacionado com essa ingenuidade identitária do médico-palhaço.

A grande revolução que o cristianis-mo fundou que desbancou a filosofia estóica e a forma filosófica de pensar do mundo clássico como um todo foi a questão do apego. Essa questão estava diretamente relacionada com a forma de os cristãos verem o mundo. “Teoria” significa em grego “a visão de deus”. Para os estóicos, deus era a harmonia

natural, com sua beleza e imutabili-dade. Na morte, retornaríamos a esse todo. Um todo extremamente impesso-al e solitário. Para os cristãos? Deus é o fundador da natureza, não a natureza em si, e (aqui está o cerne da questão) se fez humano para nos mostrar sua moral e a forma de salvação. Se para os estóicos a moral virtuosa era aquela que seguia a forma de ser da natureza-deus, para os cristãos a moral sublime será a do próprio Deus encarnado, a di-zer, o Cristo. A questão da encarnação divina é completamente insana para os estóicos. Como a harmonia pode se en-carnar na carne corruptível humana? O que é incompreensível em teoria vai dar conseqüências extremamente acalenta-doras para a salvação. Amar ao outro é colocado na categoria de sabedoria. O amor-apego ganha espaço. Teoria per-feitamente lúcida para os loucos apai-xonados! O amor semelhante à forma de Cristo amar é o modelo a ser segui-do para a salvação da morte. Como ele amou? Deu a vida para a salvação de muitos! Sacrifício... Então, se sacrificar pelo ser amado ganha um colorido todo especial para os cristãos. Ganha o colo-rido paradisíaco. Só mais uma coisa: a salvação era para cada um individual-mente, nada de perder sua individua-lidade num todo harmônico. Eis o que representa a salvação em espírito e carne. A carne individualiza o espírito no céu. O espírito sem carne é bem o espírito dos filósofos estóicos. Uma coi-sa indefinida, sem limites, inespecífico. Um sopro qualquer!

O que do cristianismo tem o médico-palhaço? A forma de amar a criança. Uma relação uma por uma. Sem medo de se apegar ao pequeno. Pelo contrá-rio, é aquele pequeno o motivo da sua ida ao hospital, para dar vida a uma re-lação que é movida à doação de si pelo outro. Muito se usa a palavra amor para descrever essa atividade. Outro elo com o cristianismo, porque Deus é amor. O que não tem a ver com o cristianismo? Não louvamos coletivamente a Deus. Não temos hábito grupal de nos comu-nicarmos com Ele, haja vista, preces, liturgias. Mas, cada um vivencia Deus

da sua forma no grupo. O que une a trupe de palhaços de hospital é o amor ao próximo, a parte que fala do amor a Deus acima de todas as coisas, isto é, a primeira parte do mandamento sintéti-co de Jesus, fica relegada a intimidade de cada um. Numa comunidade cristã verdadeira, o louvor se dá coletiva e ex-plicitamente.

Os modernistas foram aqueles que criaram a ciência como a conhecemos hoje. Decepcionados que estavam com a Igreja, desnorteados que se encontra-vam com as grandes descobertas cientí-ficas que tiraram a natureza do seu pe-destal de imutável, tiveram de fabricar um tipo de visão do mundo que ainda os permitisse viver, que acalmasse as suas dúvidas existenciais. É aí em que eles vêem no homem a grande respos-ta pra tudo. De onde vinha a harmonia eterna dos estóicos e o amor divino dos cristãos se a natureza é cheia de caos em níveis microscópicos e a igreja se tornou um antro de hipocrisia a olhos nus? Do homem! Não é a natureza que tem racionalidade por si só, é o homem que consegue, na sua consciência, har-monizar o que é em verdade caótico na natureza. Não é de Deus que vem o amor, mas dos próprios homens que se metem a amar entre si. Melhor dizendo, Deus pode até existir, mas deu ao ho-mem algo chamado autonomia. É essa autonomia que faz com que os homens tornem-se autores de sua própria vida e do universo. A partir desse pensamento a idéia de Deus começa a perder espaço nos debates filosóficos e surge o huma-nismo em detrimento do teocentrismo. Nessa época, a ciência surgia como a grande ferramenta humana organiza-dora do conhecimento natural, com um método e com uma disciplina extrema-mente produtivas. O debate moral saiu da vivência das escrituras sagradas para a Declaração dos Direitos Huma-nos. Uma escritura criada pelos seres humanos em papel numa conferência e não pelas revelações divinas em pedra num monte. E a salvação? Bem... consi-derando que a salvação está diretamen-te relacionada, veja bem, com a perda do medo da morte que não fosse por

vias patológicas, ela perdeu a questão da sacralidade, da grandiosidade, da conjugação com um pensamento divi-no (cristão) ou cósmico (estóico), para se tornar apenas uma via socialmente, e portanto humanamente, aceita. O sacrifício pela pátria, pela causa políti-ca, pela ideologia. Ao contrário do que temos hoje, havia um ideal de fazer a ciência ser de todo mundo e não só da-queles que tivessem ensino superior.

O que temos dos modernistas? De certa forma o palhaço tem participação do ato de fazer a graça. O médico-pa-lhaço toma a responsabilidade para si de dar alento para o outro que sente a dor, não espera uma intervenção divi-na, ou ainda, acredita, se acredita em Deus, que Deus quer que ele vá conso-lar o seu povo aflito. Em que diferimos? Em quase tudo e ainda aquilo que eu disse que é parecido é um bocado dife-rente. Não temos a razão como nosso guia, porque a graça depende da per-versão do lógico. Não fabricamos ver-dades de laboratório em massa, porque encontrar a verdade e a harmonia nem é muito bem o nosso objetivo. O palha-ço aposta na desordem do que há e se dá bem na medida que não fere expli-citamente ninguém, e ainda consegue promover modificações do existente, insidiosamente, pelas subversões que permite acontecer. Não acreditamos em morte pela pátria, pela ideologia, pela visão política. Como arte, o palhaço não se prende a um deus específico, senão a deusa Liberdade. Mas, na sua faceta de médico, ele evita o que pode fazer verdadeiramente mal a criança com quem está interagindo.

Por fim, Nietzsche. De todos os pen-sadores que existem por aí, Nietzsche parece ser o mais louvado entre os ar-tistas. É conhecido como o filósofo ar-tista, não tanto porque além de filósofo fosse artista, pois ele tinha uma paixão frustrada por composições clássicas, mas porque a forma que ele tinha de escrever era completamente diferente dos demais filósofos. Ele escrevia na forma de aforismos. Como todo bom aforismo, dizia dez idéias em uma sin-

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gela frase. Seus livros foram escritos com arte poética forte, densa, fascinan-te. Dizia ele escrever com sangue. Per-dia, aparentemente, a coesão de suas idéias, ora defendendo valores estóicos, ora defendendo valores humanistas, mas no fim das contas, ele conseguiu formar um pensamento novo. Um pen-samento que deu liberdade a muitos outros pensamentos terem voz, porque a ciência havia inibido as muitas formas de dizer a verdade, fazendo o mundo acreditar que só a razão experimental podia falar. Nietzsche colocou na boca de um profeta fictício que Deus estava morto; denunciou a ciência como sen-do a inconsciente substituta de Deus; exaltou o presente como único tempo válido para cada ser vivente; derru-bou a visão majestosa de um paraíso extra-mundano, convidando as pessoas a verem o paraíso na Terra; concluiu que a nova civilização que deveria advir do mundo sem Deus e sem a escravi-zação das idéias do mundo de ciência deveria ser uma criança, sempre aberta ao novo, sempre vivendo intensamente o mundo, não só interagindo com ele, mas, como um deus, dando significado a ele para além de seus limites mate-riais. A arte deveria ser o modelo uni-versal. Sem prejuízo para um valor ou outro. Cada criador com sua criatura! Todas as criaturas num mundo fantasti-camente humano.

Mas, uma coisa sempre acaba com a brincadeira: a morte. Como se livrar dela? Gostaria de desenvolver esse tema com muito mais poesia do que vou fazer em rápidas linhas. Lembram-se do carpe diem romântico? Vocês têm idéia do que seja estado de gra-ça? Conseguem imaginar a sensação de prazer de viver um momento que tem um óbvio fim, mas que deveria nunca acabar? Ele propunha que a vida deve-ria ser vivida como um Eterno Retorno. Que pudéssemos mergulhar em cada momento como se aquele momento pu-desse ser cristalizado num lugar a que chamarei de eternidade e pudesse ficar se repetindo ali, semprinfinitamente. A sabedoria, então, não estaria em apren-der a morrer, mas no seu contrário.

O que o médico-palhaço tem de Niet-zsche? A arte como valor norteador da vida. O momento que deve ser vivido em intensidade. A aposta no mundo infantil que deverá ser a humanidade. O pouco valor a lógica. O caráter de-sestruturador da realidade, destruindo verdades que queiram ser universais e eternas, mostrando um mundo que pode ser o que você quiser dependen-do do momento, do estado de espírito, do seu espírito. O que importa por aqui não é a verdade, mas a força da vida!

Estamos dando para vocês as mui-tas possibilidades de vocês entenderem o fenômeno que vocês representarão para a comunidade que lhes cerca. Não conseguimos nos isentar de dar um co-lorido mais especial as visões que mais nos afinamos. Particularmente, a do Cristo e a do Anti-Cristo (como se de-nominou certa vez Nietzsche). Acredito que tudo o que Nietzsche disse de bom – há o que ele disse de muito ruim – Je-sus já havia falado de forma muito mais intensa. A crítica nietzscheana contra a civilização das evidências científicas me permitiu ler o evangelho como se ele ti-vesse jorrando da pedra desde ontem à noite. Me permitiu entender o quanto o nosso projeto é um projeto divino. Mas, para falar sobre essa minha tese seriam necessárias outras tantas páginas. Dei-xemos isso para um próximo mini-curso em que mais do que expor, poderemos trocar idéias.