Apostila Biotecnologia de Alimentos

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UNIJUI – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RS DBQ – DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA E QUÍMICA CURSO - QUÍMICA INDUSTRIAL DE ALIMENTOS

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  • UNIJUI UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RS DBQ DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA E QUMICA CURSO - QUMICA INDUSTRIAL DE ALIMENTOS

  • INDICE

    APRESENTAO........................................................................................................................... 1

    INTRODUO A TECNOLOGIA DE FERMENTAES........................................................... 2

    MICROORGANISMOS DE USO INDUSTRIAL ....................................................................... 9

    ESTERILIZAO DE EQUIPAMENTO, MEIOS DE CULTURA E AR..................................... 18

    CRESCIMENTO CELULAR ........................................................................................................... 27

    CLASSIFICAO DOS PROCESSOS............................................................................................ 37

    EMPREGO DE CULTIVOS INICIADORES STARTERS........................................................... 40

    SISTEMAS DE FERMENTAO.................................................................................................. 48

    INTRODUO AO ESTUDO DA FERMENTAO ALCOLICA........................................... 54

    SEPARAO DOS PRODUTOS DE FERMENTAO.............................................................. 66

    SEPARAO DOS PRODUTOS OBTIDOS POR FERMENTAO COM LEVEDURAS....... 73

    PRODUTOS OBTIDOS POR FERMENTAO COM BACTRIAS.......................................... 77

    DIGESTO ANAERBICA (FERMENTAO METANOGNICA)......................................... 79

    TECNOLOGIA DE PRODUO E UTILIZAO DE ENZIMAS.............................................. 89

  • Prof. Raul Vicenzi 1

    APRESENTAO

    A Biotecnologia um ramo muito amplo da Tecnologia que se ocupa da

    transformao ou tratamento de materiais de origem biolgica. Spinks (1980) define

    Biotecnologia como a utilizao de organismos vivos ou sistemas biolgicos para a

    produo industrial e seu uso em servios de saneamento.

    A tendncia atual de incluir no termo Biotecnologia, em seu aspecto mais

    essencial, a Microbiologia Industrial, que trata do aproveitamento dos microrganismos

    como agentes de degradao e sntese. Por semelhana dos conceitos fundamentais

    que regem o tratamento biolgico de efluentes, o cultivo de clulas animais e vegetais

    e a produo de certos medicamentos. Assim, tambm devido ao seu amplo

    significado, pode englobar tambm aspecto igualmente importante da Cincia,

    Tecnologia e Engenharia de Alimentos.

    De certa forma, os processos de fermentao representa uma elo que liga as

    antigas artes de elaborao de alimentos (queijo, vinho, ...), mediante o uso de uma

    flora microbiana natural com a moderna industria de fermentao de alimentos que

    utilizava cultivos puros e sofisticados equipamentos de controle do processo. A

    produo em larga escala de protenas de organismos unicelulares, produo de

    antibiticos, produo de clulas animais e vegetais e a produo compostos qumicos

    a partir de matrias-primas renovveis em substituio aos combustveis fsseis, so

    exemplos de outras reas onde os processos fermentativos podem ser utilizados.

    O componente curricular Biotecnologia de Alimentos pretende tem como

    objetivo principal estudar alguns elementos essenciais e bsicos dos processos

    fermentativos: introduo a microbiologia industrial, sistemas de fermentaes,

    desenho de fermentadores, cintica de crescimento, metabolismo microbiano,

    esterilizao na indstria fementativa, produo de enzimas, cultivos starters.

    Objetiva, tambm, abordar de forma mais detalhada alguns tipos de fermentao:

    alcolica, lctica, actica, metanognica.

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    INTRODUO A TECNOLOGIA DE FERMENTAES

    O termo Fermentao deriva do latim fervere (ferver), devido ao aparecimento das bolhas

    devido a produo de dixido de carbono pela ao das leveduras sobre o extrato de frutas ou gros

    de malte;

    Significado bioqumico: relata a gerao de energia pelo catabolismo de compostos orgnicos;

    Produo de vinho: 10.000 a.C. - provavelmente o vinagre foi descoberto na mesma poca e as

    bebidas alcolicas destiladas surgiram a mais de 10.000 a.C. na China;

    Cerveja: 5000 - 6000 a.C. - egpcios deixavam a cevada germinar em potes de barro, aps

    estrusavam e amassavam os gros lavando-os aps para obter a bebida, ainda, utilizavam as

    leveduras da cerveja produzir CO2 para o crescimento de pes;

    Leite e derivados lcteos: dados apontam que em 5000 a.C. se observou que o leite quando

    retido no estmago de terneiros jovens coagulava-se (ao enzimtica);

    Produtos crneos: conforme Erichsen (1983), cerca de 1500 a.C. o homem j sabia que a carne

    finamente triturada e misturada com sal e especiarias poderia ser preservada, esta carne era seca

    e enrolada (rolos) mantendo suas principais qualidades, como um flavor agradvel

    Este produto foi o precursor da lingia fermentada produzida atualmente.

    O nome salame provm da cidade de Salamis, destruda a mais de 2000

    anos, situada na costa oeste da ilha Grega de Cypros.

    Exame microscpico do sedimento de cerveja escavado de urnas que datam de 3400 a 1440

    a.C. demonstram claramente que na maioria das vezes continham leveduras, observando-se uma

    pureza maior nos sedimentos mais recentes.

    A necessidade de preservar a carne da caa e de animais domsticos abatidos durante o

    inverno e consumidos no vero (summer sausage), fizeram com que o homem procurasse solues

    para a preservao do produto.

    Assim, os produtos crneos fermentados tornaram-se de grande importncia no mercado

    alimentar permitindo preservar a carne e atribuir a ela sabor e aroma caractersticos da tecnologia

    usada.

    Antonie van Leeuwenhoek, um pioneiro no uso do microscpio, foi o primeiro a examinar em

    1680 gotas de cerveja fermentada. Entretanto esta descoberta foi esquecida......

    1856-1857: Louis Pasteur, aps investigaes detalhadas sobre as leveduras da cerveja e do

    vinho, concluiu finalmente que leveduras vivas fermentavam o acar em etanol e CO2 quando em

    anaerobiose.

    Pateur tambm observou muitas outras fermentaes: Ex.: observou provavelmente um

    Penicillium que fermentava D-tartarato de amnio em uma mistura racmica de D e L-tartarato

    (tartarato de Na, K);

    Observou tambm como uns microrganismos cilndricos produziam cido butrico somente em

    condies anaerbias e investigou a produo de cido actico por fermentao;

    1870 - Pasteur e outros pesquisadores observaram os efeitos antagonistas de um microrganismo

    frente a outros e previram suas aplicaes teraputicas;

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    1881 - Robert Kock estudou e desenvolveu tcnicas de cultivo puro assim como outros mtodos

    bacteriolgicos clssicos utilizados at hoje;

    Dois elementos vitais deram inicio a era moderna da tecnologia de fermentaes industriais:

    Emprego de fungos e leveduras na modificao de alimentos e bebidas e os estudos

    microbiolgicos pioneiros de Pasteur e Kock.

    Desenvolvimento de fermentaes em superfcie ou semi-slidas surgiu com o desenvolvimento

    de alimentos orientais e durante as grandes navegaes;

    Capacidade hidroltica de determinados fungos em hidrolisar o amido e protenas na produo

    de molho de soja, este foi o inicio das fermentaes industriais.

    Cultivo de algas e fungos deu inicio ao processo industrial de obteno de protenas alimentcias

    microbianas (SCP - protenas de organismos unicelulares) e de inculos de microrganismos

    Produo de vinagre e os estudos de Pasteur sobre a produo de cidos prepararam o caminho

    para o desenvolvimento de fermentaes que produzissem cidos orgnicos;

    O desenvolvimento da metodologia de cultivos puros por Kock proporcionou o surgimento de

    tcnicas que permitiram estudar as aplicaes industriais de espcies microbianas individuais,

    iniciando-se o emprego de cultivos puros, meios esterilizados e condies asspticas nas

    fermentaes industriais.

    FERMENTAO DE ALIMENTOS

    Fermentao de po, queijo e cerveja bem como bebidas alcolicas desenvolveram-se para

    satisfazer as exigncias comerciais modernas de produo em grande escala, com qualidade elevada

    e constante, custos competitivos e variedade de produtos.

    Produo de cultivos Starters para produtos lcteos e o emprego de enzimas industriais

    melhoraram a eficincia dos processos, assim como a automao e controle da qualidade na

    produo de po e produtos lcteos.

    Fermentao de po em temperaturas mais elevadas e com maior quantidade de inoculo;

    Uso de amilases microbianas na produo de acares fermentescveis a partir de gros de

    amido, proporcionando acares as leveduras para que fermentem liberando CO2 (crescer a

    massa de po e produzir textura caracterstica).

    Tcnicas de Pasteurizao: permitiram a produo de cerveja em escala industrial fazendo com que

    industrias artesanais de cerveja, vinhos, licores passassem rapidamente a grandes complexos

    produzindo em grande escala.

    Tcnicas de controle de processo como: (Para garantir maior vida-de-prateleira aos alimentos)

    Controle da velocidade de inoculao;

    Viabilidade e condies de armazenamento das leveduras;

    Controle das condies de oxignio dissolvido;

    Controle da concentrao de Nitrognio solvel e de acares fermentescveis no lcool;

    Controle da temperatura do processo;

    Fermentao em processos contnuos;

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    Introduo de inovaes tecnolgicas como:

    Obteno de cerveja com elevadas concentraes de mosto;

    Emprego de cereais no malteados e enzimas microbianas

    Produo de cervejas com baixos nveis de carboidratos

    Aplicao de tcnicas genticas convencionais para melhorar a qualidade das leveduras e

    eliminar caractersticas indesejveis.

    LEVEDURAS DE PANIFICAO

    Sculo XVII os padeiros obtinham suas leveduras nas cervejarias locais;

    Devido ao seu sabor amargo e atividades de fermentao variveis, foram gradualmente sendo

    substitudas por leveduras procedentes de fbricas de bebidas alcolicas.

    1781 obtm-se as primeiras leveduras de panificao prensadas, obtidas atravs do processo

    Holands e posteriormente em 1846 mediante o processo denominado Viena

    Ambos obtinham rendimentos baixos, 5 a 14% respectivamente referente a matria-prima e

    30% de lcool.

    1879-1919 - avanos substanciais nos processos fermentativos com uso de biomassa

    permitindo a obteno industrial de leveduras para panificao de forma independente de

    bebidas alcolicas;

    1879 - Marquardt introduziu a aerao no processo fermentativo de cereais permitindo

    aumentar o rendimento e diminuindo a produo de lcool a 20%.

    INOVAES TECNOLGICAS:

    Adio gradual de acar

    Surge o primeiro processo de retro-alimentao

    Permite elevar a eficincia do processo ate

    prximo do mximo terico sem a formao

    conjunta de lcool.

    Durante a Primeira Guerra Mundial a Alemanha desenvolve a produo de leveduras de

    panificao usando melao (todo resduo dos processos industriais da poca) como substrato, com a

    finalidade de produzir protena para o consumo humano - Primeiro processo moderno para produo

    de SCP.

    Durante a Segunda Guerra Mundial, tambm na Alemanha, inicia-se a produo de SCP para

    consumo humano e animal a partir de Candida utilis, utilizando melao procedente da produo de

    papel e polpa de celulose, obtendo-se os acares (substrato) a partir da hidrlise cida da madeira.

    USA, Sua, Taiwan e Rssia passam tambm a utilizar este processo.

    CIDOS ORGNICOS

    1881 inicia-se a produo comercial de cidos orgnicos sendo que at hoje 50% do cido

    lctico utilizado a nvel industrial produzido via fermentao usando Lactobacil1us delbrueckii.

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    cido Ctrico extrado inicialmente a partir do suco de limo e posteriormente sintetizado a

    partir do glicerol.

    1923 - inicia-se a produo de Citrato via fermentao industrial, atualmente estima-se uma

    demanda aproximada de 450.000 toneladas/ms produzidas exclusivamente por fermentao,

    inicialmente:

    Empregava-se cultivo em superfcie de Aspergilius niger como organismo produtor (citrato).

    Aps a 2 Guerra Mundial introduziu-se o processo de cultivo submerso. Entretanto em 1977

    desenvolve-se o processo que utiliza Candida, muito mais eficiente.

    Outros cidos orgnicos so produzidos de forma econmica e rentvel por fermentao:

    Ex.: produo de Acido Glucnico e Acido Actico, este obtido pela oxidao do etanol

    utilizando Acetobacter aceti. Entretanto, o cido Actico em escala industrial produzido somente

    por via qumica.

    LCOOL E CETONAS

    Durante Primeira Guerra Mundial a Alemanha impedida de importar azeites vegetais utilizados

    na produo de glicerol, componente para produo de explosivos, desenvolve a primeiro processo

    fermentativo de produo de glicerol, produzido por leveduras a partir do etanol em presena de

    bissulfito de sdio;

    Durante a Primeira Guerra na Inglaterra desenvolvido o processo de fermentao acetona-

    butanol por via anaerbia, utilizando Clostridium acetobutylicum, este foi o primeiro processo em

    grande escala que necessitava mtodos de cultivos puros para prevenir a contaminao.

    Aps a Guerra a demanda deste produto diminuiu, entretanto aumentou a procura por n-butanol,

    produzido por fermentao at os anos 50, sendo substitudo pelo n-butanol produzido a partir do

    petrleo, cujo preo era mais baixo que o preo do amido e dos substratos a base de acar utilizados

    no processo fermentativo.

    1941 - Inicia-se a implementao da indstria da fermentao alcolica nos USA, aps revogar-

    se a proibio da produo de lcool por bioprocessos, sendo responsvel ento por 77% do lcool

    industrial produzido

    1973 - A crise do petrleo faz surgir projetos para produo de combustveis alternativos.

    Surge o PROLCCOL no Brasil, projeto que em 1987 chegou a produzir 3 bilhes de gales de

    etanol/ano, a partir da cana-de-acar.

    Nos USA inicia-se o Gasohol Program que destinava-se a produzir lcool a partir do milho,

    adicionando cerca de 10% na gasolina. Este projeto fez surgir um nmero muito grande de plantas

    industriais de pequena e grande escala utilizando processos contnuos e descontnuos.

    AMINOCIDOS

    Glutamato Monosdico e a Lisina so os que se produzem em maiores quantidades, cerca de

    500.000 e 80.000 toneladas/ms, respectivamente.

    A produo de aminocidos resultado do trabalho de pesquisa sobre os mecanismos

    bioqumicos que regulam a biosntese destes compostos por microrganismos, obtendo-se

    superprodues a partir de mutaes e do controle do processo de fermentao.

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    As novas tcnicas passam a:

    Estimular as clulas para que usem substratos alternativos;

    Preveno ou impedimento de reaes laterais;

    Induo e ativao de enzimas biosintticas;

    Reduo ou inibio de atividades enzimticas que poderiam degradar o produto e, finalmente

    facilitar a excreo do aminocido pelo microrganismo.

    As pesquisas que culminaram com o desenvolvimento do processo de fermentao para

    produo de cido glutmico foram as responsveis pelo grande avano na produo de aminocidos

    por fermentao.

    Hoje a maioria dos aminocidos comerciais so produzidos por fermentao. Assim como a

    de monofosfatos de inosina e a guanosina utilizados como potencializadores de sabor.

    BIOPOLIMEROS

    Goma Xantana - biopolmero mais importante atualmente em funo do volume de produo,

    utilizada como gelificante ou estabilizante de suspenses. Produzido por fermentao utilizando a

    bactria Xanthomonas campestris.

    Outras gomas:

    Alginato produzido pelo Azetobacter vinelandii;

    Pululano produzido pelo Aureobasidium pullulans;

    Escleroglucana produzido pelo Sclerotinum;

    Gelano produzido pela Pseudomonas elodea

    Gomas em geral possuem elevados pesos moleculares e altas viscosidades causando

    problemas nos processos de mistura, transferncia de massa e calor em fermentadores. Estes

    aspectos devem ser levados em conta na hora de escolher ou desenhar um aparelho de fermentao.

    POLIHIDROXIBUTIRATO (PHB) : polister termoplstico acumulado intracelularmente em

    alguns tipos de bactrias (Bacillus subtilis, Pseudomonas oleovorans, Alcaligenes eutrophus, entre

    outras) at um nvel de 80% da massa seca celular, sua produo permite a fabricao de plsticos

    biodegradveis.

    VITAMINAS

    A maioria das vitaminas produzida por mtodos qumicos. Entretanto algumas vitaminas

    podem ser produzidas por fermentao. Ex.: vitaminas do grupo B como a tiamina, biotina, cido

    flico, cido pantotnico, piridoxamina, vitamina B12 e riboflavina.

    A sntese qumica da vitamina B12 muito complexa sendo que sua produo comercial s

    vivel por via fermentativa utilizando Pseudomonas.

    Riboflavina: sua produo por fermentao compete eficazmente com os mtodos de sntese e

    semi-sntese, sendo que 30% da demanda mundial produzida por fermentao.

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    Recentemente uma cepa recombinante de Bacillus subtilis foi patenteada, sendo capaz de

    produzir 4,5g de riboflavina em 24 horas de fermentao, perodo muito inferior aos 5 dias

    necessrios quando se utiliza Ascomycetes.

    ANTIBITICOS

    Pasteur identificou efeitos antagonistas de alguns microrganismos frente a outros e julgou

    que poderiam ter efeito teraputico.

    1928 - Alexander Fleming observou que Penicillium notatum, contaminante dos cultivos de

    Staphylococcus aureos, matava as bactrias, identificando o ingrediente ativo, a Penicilina, podia

    inibir outras bactrias.

    Aps a penicilina ter sido isolada na sua forma ativa, em 1940 nos USA, Florey e Chain

    demonstraram sua destacada atividade antibacteriana desenvolvendo-se ento um processo

    fermentativo comercial para sua produo. Este fato marcou o incio da indstria de antibiticos.

    Seguiu-se ento a descoberta de

    Estreptomicina a partir de espcies de Streptomyces

    Cefalosporinas a partir de Cephalosporium acremonium

    Com o desenvolvimento a partir de 1940 de tcnicas de gentica microbiana que implicaram

    em tcnicas de mutao e seleo de microrganismos, permitiu aumentar muito o rendimento da

    produo de penicilina de poucas mg/L para at 20g/L de cultivo.

    Iniciam-se tambm, nesta poca, os estudos sobre a produo de metablitos secundrios,

    pequenas molculas como os antibiticos que no tm papel importante no crescimento e

    manuteno das clulas.

    TRANSFORMAES DE ESTERIDES

    O uso de microrganismo, o domnio das tcnicas microbiolgicas e fermentativas permitiu

    fazer transformaes enzimticas altamente seletivas e especificas, representando um grande avano

    na produo de frmacos, como os hormnios esterides.

    1940 - descobriu-se que a cortisona, esteride secretado pela glndula adrenal, aliviava a dor de

    pacientes com artrite reumtica, o que fez desenvolver-se um processo de sntese qumica para

    sua produo que requeria 37 etapas, a um custo de 200 U$/g;

    1952 - cientistas descobrem que uma cepa de Rhizopus arrhizus hidroxilava a progesterona,

    produzindo 11-hidroxiprogesterona, permitindo que o custo da sntese de cortisona casse para

    11 etapas e o custo reduzisse para U$ 16/g.

    1980 - Introduziram-se modificaes no processo e os custos foram diminuindo gradativamente

    de forma que hoje estes custos esto prximos de U$ 0,46/g.

    Tcnicas semelhantes de biotransformao microbiana permitiram a sntese de outros

    esterides como a aldosterona, prednisona e prednisolona, assim como de outros frmacos

    importantes na medicina.

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    ETAPAS DO PROCESSO FERMENTATIVO

    1) Formulao do meio de cultura a ser usado no processo;

    2) Esterilizao do meio de cultura, fermentadores e equipamentos auxiliares;

    3) Produo de uma cultura pura e ativa em suficiente quantidade para inocular no fermentador;

    4) Crescimento dos organismos no fermentador sob condies timas para a formao do

    produto

    5) Extrao do produto e sua purificao;

    6) Disposio dos efluentes produzidos no processo.

    REAS DE APLICAO DA FERMENTACO INDUSTRIAL

    A) ALIMENTOS

    v Massas fermentadas (po, panetone);

    v Carnes fermentadas (salame, lingia);

    v Bebidas fermentadas (cerveja, vinho ...);

    v Bebidas destiladas (conhaque, aguardente ...);

    v Leite fermentado (iogurte, queijo ...);

    v Enzimas (proteases, amilases, glicose oxidase ...);

    v Condimentos (vinagre, glutamato...)

    v Aminocidos (lisina, cido glutmico);

    v Polissacardeos (dextrano)

    B) PRODUTOS AGROINDUSTRIAIS

    v lcool (industrial e carburante);

    v Antibiticos de uso veterinrio;

    v Biogs;

    v Hormnios de crescimento vegetal.

    C) MEDICAMENTOS

    v Antibiticos;

    v Vacinas;

    v Vitaminas;

    v Hormnios de consumo humano (insulina);

    v Aminocidos.

    D) CIDOS ORGNICOS E SOLVENTES

    v cido ctrico;

    v cido actico;

    v Etanol;

    v Propanol;

    v Butanol;

    v cido lctico.

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    INTER-RELAES ENTRE MICRORGANISMOS E ENZIMAS

    As relaes existentes entre microrganismos e as enzimas neles contidos so muito

    importantes quando se deseja explorar as enzimas que levam a determinadas reaes qumicas

    especificas.

    As enzimas podem ser isoladas e assim a biotecnologia enzimtica pode convenientemente

    ser manipulada em bio-reatores apropriados.

    Por outro lado as clulas microbianas quando encontram-se imobilizadas em um suporte

    slido, atuam como catalizadores que levam a reaes qumicas concretas, da mesma maneira que as

    enzimas isoladas, o que denota menos trabalho preparativo.

    Desta maneira uma grande parte da tecnologia de fermentaes se refere ao cultivo de

    microrganismos em grande escala.

    A seleo e aplicao dos princpios da engenharia gentica aplicada a microrganismos

    apropriados permitem manipular o contedo enzimtico destes em determinadas condies. Tambm

    o crescimento de microrganismos em um substrato apropriado provocar a induo da enzima

    necessria para a degradao desse substrato de crescimento dentro da clula.

    Ex.: o cultivo de levedura sobre maltose induzir a biossntese da enzima maltase, (uma -

    glucosidase) que degrada maltose a glicose, que necessria para a produo de energia qumica em

    forma de ATP dentro da levedura.

    MICROORGANISMOS DE USO INDUSTRIAL

    Introduo Os produtos comercialmente importantes das fermentaes industriais so de 4

    categorias: clulas microbianas, molculas grandes como enzimas e polissacardeos, produtos bsicos

    e metablitos secundrios que no so necessrios para o crescimento celular. A produo comercial

    dos produtos de fermentao tem utilizado principalmente diversas espcies de bactrias, leveduras e

    fungos, ainda que os avanos recentes no desenvolvimento de tcnicas de cultivos tm permitido

    utilizar clulas mais complexas nos processos de fermentao.

    Microrganismos Industriais Na natureza existem duas classes principais de clulas, ambas

    utilizadas nos processo de fermentao industrial:

    procariontes - clulas bacterianas;

    eucariontes -leveduras, fungos, clulas animais e vegetais.

    Os microrganismos tambm se diferenciam em funo de suas exigncias de oxignio,

    podendo dividir-se em estritamente aerbias, como os Streptomyces e a maioria dos fungos

    filamentosos, que podem desenvolver-se unicamente em presena de O2 e os estritamente

    anaerbios, como os Clostridios, que unicamente podem crescer na ausncia de O2 e os

    microorganismos facultativos, entre eles as leveduras industriais, que podem crescer em situao de

    aerobiose e anaerobiose.

    As bactrias utilizadas nos processos fermentativos so principalmente quimiorganotrficos,

    isto , podem obter sua energia e seu carbono por oxidao dos compostos orgnicos. As bactrias

    podem dividir-se em Gram positiva e Gram negativa, em funo de suas resposta a colorao de

    Gram. A reproduo se d por diviso assexuada. Os esporos so produzidos usualmente em resposta

  • Microbiologia industrial

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    as condies adversas do meio, porque so mais resistentes ao calor e aos compostos txicos que as

    clulas vegetativas e posteriormente germinam em condies apropriadas. As bactrias so

    desprovidas de clorofila, mas podem possuir outros pigmentos fotossintticos

    Os fungos (bolores) tambm so quimiorganotrficos e os mais importantes utilizados nas

    fermentaes se classificam principalmente em dois grupos: os Zigomycotina, asseptados dos

    gneros Mucor e Rhizophus e os Deuteromycotina, septados dos gneros Thicotherma, Aspergillus,

    Penicillium Fusarium e Aureobasidium. Os fungos so desprovidos de clorofila ou outros pigmentos

    fotossintticos. Sua reproduo pode ser assexuada (esporulao) ou sexuada.

    As leveduras so fungos geralmente unicelulares e que se reproduzem de forma assexuada

    (por gemao ou diviso binria) ou sexuada. A levedura mais utilizada nos processos fementativos

    industriais a Saccharomyces cerevisiae, principalmente para produo de lcool e nas panificaes.

    Esta levedura no degrada a lactose, por isso para produzir lcool e biomassa a partir de soro de leite

    utilizada Kluyveromyces lactis, que possuem as enzimas necessrias para degradar lactose. Outras

    leveduras importantes so: Candida utilis e Endomycopsis fibuliger

    Os vrus no tm estrutura celular alguma, possui o material gentico (DNA ou RNA) contido

    por uma camada de protena. No possuem atividade metablica e, portanto, no sintetizam

    protoplasma nem crescem. Em conseqncia disto sua multiplicao no pode ser feita por um

    processo de diviso, como nos microrganismos celulares. Novos vrus so produzidos pelas clulas

    nas quais penetram, de acordo com as informaes contidas no seu cido nuclico. So agentes

    submicroscpicos que infecta as plantas, animais e bactrias. Os vrus bacterianos (bacterifagos)

    infectam os processos de fermentao de cepas microbianas e causa srios problemas,

    particularmente nos cultivos starter utilizados no processamento de alimentos.

    Clulas animais e clulas vegetais tambm podem ser utilizadas nos processos fermentativos

    industriais, principalmente para a produo de antibiticos e hormnios vegetais. Necessitam de um

    meio muito nutritivo e so sensveis a flutuaes de fatores externos como temperatura, pH, O2 e CO2

    dissolvidos.

    FONTES NUTRICIONAIS PARA OS MICRORGANISMOS

    Basicamente as necessidades nutricionais dos microorganismos so as mesmas de todos os

    seres vivos, que para renovarem seu protoplasma e exercerem suas atividades, exigem fontes de

    energia e fonte de material plstico. Nos seres superiores encontra-se apenas dois tipos nutritivos:

    a) os vegetais so fotossintticos (obtm energia da luz solar) e autotrficos, se nutrem

    exclusivamente de substncias inorgnicas;

    b) os animais so quimiotrficos, pois obtm energia as custas de reaes qumicas e heterotrficos,

    por exigirem fontes orgnicas de carbono.

    Entre os microrganismos h uma grande variedade de tipos intermedirios.

    FONTES DE ENERGIA

    a) Algumas bactrias realizam fotossntese, porm no produzem oxignio. Podem utilizar fontes

    inorgnicas (liotrficas) ou compostos orgnicos (organotrficas) como doadores de eltrons.

    b) Os fungos, leveduras e a grande maioria das bactrias so quimiossintticas, obtendo energia as

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    custas de reaes qumicas, nas quais substratos adequados so oxidados com desprendimento de

    energia. Estes substratos podem ser inorgnicos (litotrficos) ou orgnicos (organotrficos). No

    primeiro grupo encontramos apenas bactrias, como por exemplo, Thiobacillus, capazes de

    oxidar enxofre, produzindo cido sulfrico, podem ser utilizados na lixiviao de metais, como

    cobre e urnio. A grande maioria das bactrias e a totalidade de fungos, leveduras e, tambm, os

    protozorios so quimiorganotrficos.

    FONTES DE MATERIAL PLSTICO

    MATRIASPRIMAS COMO FONTE DE CARBONO

    Para os autotrficos a nica fonte de carbono necessria o CO2. Para os heterotrficos, h

    necessidade de suprir o meio com outras fontes de carbono, naturais ou sintticas:

    Celulose, Amido, Sacarose, Lactose, Glicose (alto custo), leos, Metanol, Etanol;

    Melao de cana-de-acar Composio varivel (rico em aminocidos, vitaminas, minerais,

    vrios acares); corrigir deficincias (N, P, S);

    Extrato de Malte cevada malteada; 90-95% de CHO; rico em aminocidos.

    MATRIASPRIMAS COMO FONTE DE NITROGNIO

    Quanto s necessidades de nitrognio h trs categorias principais de microrganismos:

    Alguns microrganismos, especialmente bactrias, retiram o nitrognio diretamente da atmosfera e o

    converte em nitrognio orgnico. Muitos fungos e quase totalidade das bactrias utilizam compostos

    inorgnicos de nitrognio, como amnio e nitratos. Algumas bactrias exigem fontes orgnicas de

    nitrognio. De um modo geral, adicionar aminocidos ou hidrolisados de protenas favorece o

    crescimento da maioria dos heterotrficos.

    o Sais de Amnio, Sais (nitratos); Uria

    o Lquido da macerao do milho ( 4% N);

    o Extrato de levedura e Peptonas (laboratrio)

    o Ar atmosfrico

    ONS INORGNICOS ESSENCIAIS

    Alm de nitrognio, os microrganismos exigem uma srie de outros elementos, sob a forma de

    compostos inorgnicos, alguns em quantidade bem maiores que outros.

    o Macronutrientes P, S, K, Mg, Ca, Fe

    o Micronutrientes Cu, Zn, Co, B, ...

    FATORES DE CRESCIMENTO

    So os compostos orgnicos indispensveis a um determinado microorganismo, que ele no

    consegue sintetizar. Tais fatores devem estar presentes no meio para que o microrganismo possa

    crescer, como por exemplo vitaminas (especialmente do complexo B), aminocidos, nucleotdios,

    cidos graxos, entre outros.

    Aspecto importante dessa exigncia resulta do fato que, quando um microrganismo exige um

    determinado fator, seu crescimento ser limitado pela quantidade desse fator presente no meio.

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    Dentro de certos limites, o crescimento ser proporcional ao teor do composto limitante. Isso

    permite a elaborao de um mtodo de dosagem de certos compostos, baseados na medida do

    crescimento microbiano. Essa a base da dosagem microbiana de uma srie de substncias,

    principalmente aminocidos e vitaminas.

    AGUA

    A gua no constitui um nutriente, mas absolutamente indispensvel para o crescimento dos

    microrganismos. Seu papel mltiplo. Os microrganismos se nutrem pela passagem de substncias

    em soluo atravs da membrana citoplasmtica. Exerce funo na regulao da presso osmtica e

    regulao trmica. A maior parte dos microrganismos morre rapidamente pela dessecao, a no ser

    quando esta precedida pelo congelamento brusco (liofilizao)

    OXIGNIO ATMOSFRICO

    Como a gua o oxignio no um nutriente e funciona apenas como receptor de hidrognio

    nos processos de respirao aerbica. Os microrganismos se comportam diferentemente em presena

    de O2 livre:

    Aerbios exigem oxignio livre; alguns, porm, em pequenas quantidades no tolerando as

    presses normais de O2 atmosfrico;

    Anaerbios no toleram a presena de O2 livre;

    Facultativos crescem na presena ou ausncia de O2.

    Entre as bactrias encontra-se os trs tipos de comportamento. Os fungos (bolores) so estritamente

    aerbios, enquanto as leveduras so aerbias ou facultativas.

    CLASSIFICAO DOS MOSTOS

    SINTTICO: composio conhecida quantitativamente e qualitativamente usado em pesquisas

    quando se quer controlar exatamente o curso de uma fermentao. O objetivo saber a rota de

    fermentao, saber quanto e quando e quais os substratos que esto sendo utilizados pelos

    Microorganismos. Tem um alto custo.

    COMPLEXO: composio no bem definida, esto enquadrados os meios naturais tais como:

    caldo de cana, melao, suco de uva, extrato de leveduras, enquadram-se todos os mostos naturais.

    CARACTERISTICAS DO MOSTO

    Requerimentos bsicos:

    1) Proporcionar o mximo rendimento de produto ou biomassa por grama de substrato usado;

    2) Produzir a mxima concentrao de biomassa ou produto;

    3) Permitir o mximo rendimento na formao do produto;

    4) Produzir o mnimo de subprodutos indesejveis;

    5) Ser de uma qualidade permanente e estar disponvel durante o ano todo

    6) No sofrer degradao durante a esterilizao

    7) No dever causar problemas em outras etapas do processo fermentativo particularmente:

    aerao, agitao, extrao, purificao e tratamentos dos efluentes.

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    SUBSTRATOS UTILIZADOS NA FERMENTAO ALCOLICA

    a) Aucaradas: neste grupo temos as diretamente fermentescveis (contm monossacardeos: Ex.:

    glicose, frutose, suco de uva, ma, pra, etc.).

    Principal substrato um monossacardeo (glicose) e este metabolizado diretamente at

    piruvato.

    As matrias-primas indiretamente fermentescveis so aquelas que contm dissacardeos,

    predominando a maltose e sacarose. Ex.: caldo de cana-de-acar e melao.

    A composio do melao de cana-de-acar varia em funo de fatores como:

    qualidade da matria-prima (variedade, idade, sanidade, maturao, queimada ou no, etc);

    mtodos de extrao do acar (moagem, clarificao, cozimento, etc);

    condies tcnicas das regies aucareiras;

    condies e tempo de armazenamento.

    b) Amilceas: contm em sua composio polissacardeos (amido) utilizada para produo de

    vodka, rum, whisky (tem que sofrer sacarificao).

    PREPARO DA MATRIA-PRIMA

    a) Melao: deve sofrer uma preparao prvia (de 82 Brix 18 -20 Brix)

    CRUZ DE COBENGE: regra das misturas, utilizada para calcular os volumes para diluio do

    melao.

    B M - b = Quantidade de melao em peso d = volume litros)

    M

    b B - M = Quantidade de gua em peso d = volume (litros)

    B = Brix do melao

    b = Brix da gua (zero)

    M = Brix desejado (18 20)

    d = densidade

    Ex.: melao: 80 Brix

    gua; 0 Brix

    M = 20 Brix

    dmelao = 1,6284

    dgua = 1,0000

    80 20 0 = 20 Kg melao = 12,31 Litros

    1,6284

    20

    0 80 20 = 60 kg de gua = 60 litros

    1,0000

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    No tanque de diluio controla-se:

    pH: entre 4,5 5,5

    Nutrientes: Sulfato de amnio (1 g/L); fosfato (1 g/L) sulfato de Mg (0,1 g/L) {ativador enzimtico}

    b) Caldo de cana-de-acar: no necessita diluio pois a cana sofre adio de gua por asperso na

    moenda para extrao do acar, neste ponto o brix deve ficar entre 18-20

    D = Brix do caldo x Volume do caldo - volume do caldo = Voluma de H2O a ser adicionada

    Brix desejado

    Ex.: Brix do caldo = 20

    Volume = 50.000 L

    Brix desejado = 16

    D = 20 x 50.000 50.000 = 12.500 L de H2O a ser adicionada para ter 16 Brix

    16

    Aps fazer a diluio corrige-se o pH para 4,5 - 5,5 usando cido sulfrico, ctrico ou ainda suco de

    limo (caseiro) e colocam-se os nutrientes.

    DETERMINAO DE SLIDOS SOLVEIS TOTAIS POR REFRATOMETRIA

    1) Preparo do mosto:

    a) Determinao de slidos solveis por refratometria

    - Para cada grau acima de 20 C subtrai-se 0,06 por grau;

    - Para cada grau abaixo de 20 C soma-se 0,06 por grau:

    Ex.: 20 Brix a 25C 5 x 0,06 = 0,3 20 Brix 0,3 = 19,7 Brix

    20 Brix a 15C 5 x 0,06 = 0,3 20 Brix + 0,3 = 20,3 Brix

    Um mosto inicialmente com 76 Brix preparar 300 ml de mosto com 16% de SST.

    100 g melao -------- 76 g SST

    X g --------------------- 16 g SST X = 21,05 g/100mL

    Para 300 mL = 63,15 g de mosto + 236,85 g de gua

    RELACO ENTRE DIFERENTES GRAUS DE MEDIDA.

    1 Brix corresponde a 0,54 Baum

    1 Baum corresponde a 1,8 Brix

    1 Brix corresponde a 0,85 Babo

    BRIX = % de slidos solveis existentes em uma soluo de sacarose quimicamente pura.

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    ELEMENTOS DE UM FERMENTDOR (BIOREATOR)

    O corao de qualquer processo fermentativo sem dvida o fermentador. Uma definio

    funcional para um fermentador seria dizer que consiste em um recipiente em que se mantm um

    ambiente favorvel para que se desenvolva um determinado processo biolgico.

    A palavra fermentador nos faz visualizar um recipiente de grande tamanho de ao inoxidvel

    brilhante e com uma instrumentao muito sofisticada. Ainda que muitos fermentadores industriais

    so assim, outros importantes processos biolgicos industriais, desenvolvidos em grande escala, so

    conduzidos em equipamentos muito menos sofisticados.

    Em alguns processos um fermentador pode consistir em um simples recipiente aberto,

    embora para processos cujas condies so muito sensveis ser necessrio um sistema fechado e

    muito bem controlado capaz de manter um ambiente favorvel.

    MEIO AMBIENTE

    As condies ambientais existentes dentro de um fermentador podem considerar-se sob trs

    aspectos diferentes: condies biolgicas, qumicas e fsicas.

    MEIO BIOLGICO

    Unicamente os microrganismos que contribuem para o processo em questo encontram-se

    presentes, enquanto que os no produtivos, destrutivos ou no desejveis estejam excludos do

    processo. Do ponto de vista de produo importante tambm que os microrganismos desejados

    estejam presentes em quantidades suficientes para que o processo se desenvolva a um ritmo rentvel.

    Um sistema que contenha somente o microrganismo desejado diz-se um sistema assptico.

    A assepsia consegue-se, primeiro, esterilizando o meio, eliminando todos os organismos

    vivos, diz-se ento esterilizado, segundo introduzindo o microrganismo desejado. O ato de introduzir

    o microrganismo desejado denomina-se inoculao.

    MEIO QUMICO

    Implica na composio do meio de crescimento microbiano, que dever conter as

    concentraes adequadas de substratos ou nutrientes microbiolgicos, assim como dos precursores

    sintticos, livres de substncias inibidoras e mantidas a um pH adequado.

    MEIO FSICO

    Refere-se fundamentalmente a temperatura do sistema cujo controle muito importante

    quando se projeta um fermentador.

    Este parmetro e a necessidade de manter a uniformidade das condies ao longo da

    fermentao, exigem um bom sistema de agitao, o que pode provocar por sua vez a ruptura dos

    organismos e de seus agregados.

    Quando se mantm um ambiente favorvel os parmetros ambientais no tm que

    necessariamente permanecerem constantes ao longo do tempo.

  • Fermentadores

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    Fermentao por batelada - caractersticas:

    v Diferentes fases de crescimento;

    v Diferentes condies timas;

    v Fermentao parece estar programada de acordo com a disponibilidade de nutrientes;

    v pH e temperatura oscilam ao longo do tempo, para que apaream de acordo com estas trocas as

    sucessivas fases de crescimento

    PRINCIPAIS TIPOS DE FERMENTADORES

    Os fermentadores classificam-se em dois grandes grupos:

    v Fermentadores de cultivo disperso: neste sistema os microrganismos esto imersos no meio

    de cultivo e seguem os movimentos dos nutrientes lquidos. O fermentador mais simples consiste em

    um tanque aberto no qual o microrganismo se dispersa no meio lquido.

    Estes fermentadores forma utilizados de gerao em gerao com muito xito na indstria

    cervejeira j que ao formar-se na fase anaerbica da fermentao, uma capa de espuma que contm

    CO2 e leveduras, impedindo que o ar penetre no interior do tanque. Para controlar a temperatura

    durante a fermentao se pode colocar tubos refrigerantes. So muito utilizados no tratamento

    biolgico de guas residuais em fluxo lento, onde a superfcie do lquido permite que se dissolva o

    O2 do ar e libere o CO2. Estes efeitos podem ser acelerados com a agitao do lquido que aumenta a

    transferncia de gases e mantm a homogeneidade. Nos sistemas anaerbios os prprios gases da

    fermentao podem proporcionar a agitao, atravs do desenho do fermentador (cnico/cerveja) ou

    por meio mecnico (bombas de recirculao).

    v Fermentadores de cultivo imobilizado: nos sistemas imobilizados o microrganismo se

    desenvolve sob forma de uma lmina ou capa disposta sobre uma superfcie que est em contato com

    o meio nutritivo. Em laboratrios se utiliza o cultivo em superfcie (placas). Inicialmente a

    produo de penicilina era feira em garrafas que eram introduzidas em uma incubadora. Atualmente

    se utilizada o cultivo em superfcie na fermentao do cido ctrico (Aspergillus niger), que se

    cultiva em uma superfcie com um meio adequado contendo melao em bandejas de pouca

    profundidade, colocadas em estantes temperatura constante e com circulao de ar freqente.

    Tambm e pode desenvolver pelculas microbianas sobre uma superfcie de meio slida adequada.

    Este meio pode ser de leito fixo, em pedras, plstico particulado, lminas de plstico onduladas,

    atravs dos quais se faz passar o meio lquido sobre a capa de microbiana da superfcie.

    v Na prtica, porm, ocorre que nos sistemas de cultivo disperso tambm aparece uma capa sobre

    a superfcie do recipiente, e no cultivo imobilizado existe um certo numero de microrganismos

    dispersos no meio de cultivo.

  • Fermentadores

    Prof. Raul Vicenzi 17

    Qualquer processo fermentativo divide-se em uma etapa puramente fermentativa e outra de recuperao do(s) produto(s), conforme o esquema abaixo:

    Esterilizador Refrigerao Com ou sem ruptura celular

    Formulao

    Armazena,mento de Matrias-primas

    Inculo Volume: 1 a 2 litros

    Preparao de Meios

    Fermentador de produo

    Tanque de Semeadura

    (p-de-cuba)

    Separao de clulas

    Etapas de Recuperao do

    Produto

    Envasamento e Armazenamento

    PRODUTO

    Tratamento de Efluentes

    Utilizao de Subprodutos

    - gua - ar - vapor

    gua do Processo

    Ar Estril Vapor Energia Inculo Preparado 1:10

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    ESTERILIZAO DE EQUIPAMENTO, MEIOS DE CULTURA E AR

    Introduo

    A esterilizao implica a destruio, inativao ou remoo de toda forma de vida

    microbiana. Isso quer dizer que a esterilizao provoca nos microrganismos uma perda irreversivel

    da capacidade de reproduo no ambiente considerado. No implica, entretanto, a inativao total

    das enzimas celulares, toxinas, etc.

    Antes de entrarmos na discusso dos mtodos, conveniente fazermos algumas

    consideraes em torno dos mecanismos de esterilizao e das caractersticas das populaes

    microbianas.

    O mecanismo letal varia conforme o processo de esterilizao empregado. O efeito final,

    entretanto, o mesmo. Deve ocorrer a destruio e/ou inativao da(s) enzimaas) envolvida(s) em

    processos vitais para o microrganismo. Teoricamente, basta que o agente esterilizante bloqueie uma

    reao enzimtica essencial ou destrua uma molcula vital. Na prtica, entretanto, agentes com ao

    to especifica no encontram aplicao como esterilizantes, por vrios motivos: A heterogeneidade

    da populao microbiana; a possibilidade da existncia de microrganismos com capacidade de

    utilizar outras rotas metablicas para vencer o bloqueio estabelecido; a dificuldade do agente em

    atingir um alvo muito especfico; etc., podem ser mencionados como fatores que justificam a

    utilizao de agentes capazes de atingir o microrganismo de um modo mais grosseiro e inespecfico.

    Principalmente no caso da esterilizao de equipamentos industriais, procura-se utilizar processos

    capazes de danificar generalizadamente a clula, em vez de se procurar um ponto especfico de sua

    estrutura metablica.

    Outra considerao importante, no caso da esterilizao de equipamentos, a cessao do

    efeito esterilizante no final do processo de esterilizao. Em outras palavras, o agente ou condio

    esterilizante deve atuar eficientemente durante o processo de esterilizao. Terminada a

    esterilizao, no deve haver ao residual. No caso de fermentao industrial, por exemplo, uma

    possvel ao residual pode ser to ou mais prejudicial que a presena de certos contaminantes.

    Essas consideraes ajudam a apontar os processos fsicos como os mtodos de escolha na

    esterilizao de equipamentos.

    MTODOS DE ESTERILIZAO

    Fsicos Qumicos

    Calor:

    - Seco: Flambagem ; ar quente

    - mido: vapor fluente, vapor sob presso;

    tindalizao.

    Radiao:

    - Ultravioleta

    - Ionizantes (RX e )

    Filtrao : Membranas

    Lquidos, Gases e vapores

    Esterilizantes gasosos: xido de etileno (mais

    eficiente que os demais; utilizado em cmaras

    de esterilizao)

    Formaldedo mais comum

    -propiolactona- carcinogncia

    cido peractico

  • Esterilizao na indstria fermentativa

    Prof. Raul Vicenzi 19

    A escolha do mtodo depende das caractersticas dos produtos a serem esterilizado e do custo

    do processo.

    Quando se usa agentes qumicos: tempo de contato

    Quando se usa calor: tempo e a temperatura de contato

    OBS.: O vapor direto acarreta um aumento no volume do mosto

    MECANISMOS DE ESTERILIZACO

    Se bem que os mtodos usuais de esterilizao tenham uma ao generalizada sobre a clula,

    o mecanismo pelo qual isso conseguido varia conforme o agente empregado. No caso do calor,

    sabe-se, desde os tempos de Koch, que o mecanismo de destruio dos microrganismos pelo calor

    seco no o mesmo que ocorre quando se utiliza vapor.

    Exceto em casos em que haja uma destruio fsica do microrganismo, como o caso da

    flambagem do equipamento a ser esterilizado, o mecanismo de esterilizao no est bem elucidado.

    Em alguns casos, a ruptura da parede celular e a vacuolizao da clula so aparentes e poderiam ser

    interpretadas como oriundas da atuao de foras osmticas.

    A adsoro de corantes pelas clulas, a incapacidade de reproduo e, no caso de

    microrganismos mveis e a perda da motilidade, so caractersticas que auxiliam na constatao da

    perda de viabilidade de clulas individuais.

    Enquanto que a inativao pelo calor seco , essencialmente, um processo oxidativo, o uso de

    vapor causa uma coagulao das protenas celulares com prejuzo para a organizao estrutural do

    microrganismo, afetando a sua competncia fisiolgica.

    TABELA 1 - Efeito da temperatura sobre o tempo necessrio para destruir esporos bacterianos de

    fermentao simples em meio com concentrao inicial de 1,6 x 105 esporos/mL

    TEMPERATURA (C) TEMPO (minutos)

    100 1200

    105 600

    110 190

    115 7

    120 19

    125 7

    130 3

    135 1

    Tempo de esterilizao corresponde ao tempo em que o material foi submetido aquela

    temperatura especfica e no ao tempo total do processo, que deve incluir o tempo de aquecimento e

    resfriamento.

    DESNATURAO DE PROTENAS

    Alm das estruturas primria, secundria e terciria, as molculas de protena podem ser

    constitudas por mais de uma cadeia de polipeptdios. A conformao estrutural da molcula protica

  • Esterilizao na indstria fermentativa

    Prof. Raul Vicenzi 20

    estabilizada por ligaes covalentes e no-covalentes. Essas ligaes reduzem a flexibilidade das

    cadeias polipeptdicas, garantindo sua disposio de uma forma ordenada, compacta e,

    conseqentemente, de baixa entropia, em vez de uma associao ao acaso. Entre as ligaes

    covalentes, o tipo de ocorrncia mais geral a ligao dissulfeto As ligaes no-covalentes podem

    ser pontes de hidrognio, ligaes hidrofbicas e inicas. As ligaes hidrofbicas so as que mais

    contribuem para a estabilizao da estrutura protica, pois de um modo geral, 40% dos resduos de

    aminocidos de uma protena possuem ramificaes no-polares.

    Uma alterao estrutural da molcula de protena , normalmente, acompanhada de uma

    perda de atividade biolgica, pois a ao de enzimas pode ser explicada por uma perturbao

    conformacional especifica induzida pelo substrato no centro ativo da enzima.

    Considerando-se que as clulas de microrganismos podem conter, normalmente, de 40 a 60%

    de seu peso seco em protenas, e considerando-se, ainda, as funes metablicas e/ou estruturais

    desempenhadas por essas protenas na clula microbiana, pode-se perceber, com facilidade, o efeito

    que agentes ou condies capazes de desorganizar estruturalmente as protenas podero exercer

    sobre a clula.

    ALTERAO DNA

    Se, de um lado, agentes que atuam sobre as protenas so capazes de comprometer

    diretamente a competncia fisiolgica, agentes capazes de causar alteraes no material gentico do

    microrganismo podem provocar o aparecimento de mutaes letais. Donde a possibilidade de se

    utilizarem, na esterilizao, substncias ou condies que apresentem maior afinidade pelo cido

    desoxirribonuclico (DNA).

    - Agentes qumicos como propionolactona, cido nitroso, etc., agem sobre o material gentico das

    clulas, causando alteraes que tero conseqncias sobre as caractersticas fisiolgicas do

    microrganismo.

    - Radiaes Fazendo-se incidir uma radiao sobre microrganismos, os componentes celulares

    podero absorver energia radiante. O efeito letal das radiaes uma demonstrao da presena, na

    clula viva, de molculas capazes de absorvera energia radiante. Protenas e cidos nuclicos,

    constituintes essenciais da matria viva possuem estruturas que absorvem principalmente luz

    ultravioleta. As alteraes fotoqumicas que ocorrem, em virtude da absoro de luz ultravioleta, so

    muito prejudiciais s clulas.

    POPULAO MICROBIANA

    Ao tratar de esterilizao, temos de levar em conta, tambm, as caractersticas dos

    microrganismos contaminantes do equipamento a esterilizar. No caso de existirem no equipamento

    apenas formas vegetativas de microrganismos, e se o meio em que se encontram for um meio que

    no as abrigue e proteja da ao do agente esterilizante, e mais ainda, se pudermos estar certos de

    que o agente esterilizante ser capaz de atuar sobre as clulas microbianas em condies favorveis e

    por tempo suficiente, ento o problema de esterilizao ser relativamente simples.

  • Esterilizao na indstria fermentativa

    Prof. Raul Vicenzi 21

    FIGURA 1 - Esterilizao de um meio de cultura em autoclave a 121 C por 20 minutos. O tempo total de esterilizao 100 minutos.

    ESTERILIZAO POR AGENTES FSICOS

    CALOR SECO

    calor seco mata os microrganismos por oxidao dos componentes celulares. O ar seco no um

    bom condutor de calor e sua ao no to enrgica quanto a do vapor. Por esse motivo necessrio

    uma temperatura e tempo maiores de esterilizao.

    o emprego do calor seco ou ar quente, recomendado quando o contato direto ou completo do

    vapor sobre presso com o material indesejvel ou improvvel, que o caso de vidraria, leos, ps

    e substncias similares.

    A esterilizao pelo calor seco consiste em submeter o equipamento a ser esterilizado a uma

    temperatura tal que, durante o perodo de aquecimento, haja inativao dos microrganismos

    presentes.

    A maior resistncia demonstrada por microrganismos ao calor seco parece depender de um

    endurecimento da camada mais externa da clula por meio de coagulao das protemas, dificultando

    a penetrao do calor no interior da clula propriamente dita e ulterior coagulao das protenas

    plasmticas. Devido muito menor capacidade de penetrao do calor seco, necessrio aquecer o

    equipamento a ser esterilizado a temperaturas mais altas por tempo mais prolongado, o que torna

    esse mtodo inadequado quando materiais como papel, algodo, plsticos, etc., esto presentes.

    Populaes homogneas de esporos apresentam uma relao linear de inativao com relao

    ao tempo de exposio a 125 C. A no-linearidade que ocorre com populaes naturais, pode ser

    atribuda a uma heterogeneidade da populao. As relaes no-lineares obtidas com populaes

    naturais podem ser reproduzidas por misturas adequadas de esporos com resistncias trmicas

    diferentes, isolados daquelas mesmas populaes. Alis, essa heterogeneidade das populaes

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    Prof. Raul Vicenzi 22

    naturais pode ser devida no s presena de esporos de espcies diferentes como tambm a

    diferentes graus de resistncia trmica entre esporos de uma mesma espcie.

    A temperatura empregada tem sido 125 C e comum cotar-se a resistncia trmica de um

    microrganismo em relao ao D125. A desorganizao molecular que ocorre nas clulas, devido

    exposio a temperaturas elevadas, pode se dar dos seguintes modos:

    a) ativao direta das molculas pela energia trmica, com alterao conformacional por quebra de

    ligaes intramoleculares e interveno subseqente de outras molculas;

    b) reao de molculas complexas com oxignio, gua ou vapor de gua (no caso de esterilizao

    pelo calor mido).

    A exigncia bsica da esterilizao pelo calor seco que todo o material seja sujeito

    temperatura esterilizante. As nicas causas possveis de fracasso na esterilizao so o controle

    defeituoso da temperatura; a no penetrao do calor; e a presena de microrganismos com

    resistncia trmica superior esperada.

    CALOR MIDO

    calor mido mata os microrganismos por desnaturao protica, ou seja: pela coagulao das

    protenas e enzimas celulares, e tambm a fuso dos lipdeos da membrana celular;

    quanto maior a temperatura menor o tempo necessrio;

    Para destruir esporos temos que submeter este vapor de gua a uma presso positiva para

    alcanarmos as temperaturas de trabalho;

    Sempre que possvel usa-se vapor para a esterilizao, pelo seu alto contedo de calor por

    unidade de peso ou de volume; porque cede facilmente calor a uma temperatura constante e

    controlvel; por ser de fcil produo e distribuio; e porque, mesmo sendo de aquecimento rpido,

    a velocidade de aquecimento e a temperatura final do equipamento podem ser controladas.

    TABELA 2 - Relao entre a presso de vapor de gua em diferentes presses

    Presso de vapor da gua (atm) Temperatura

    0 100,0

    0,34 109,0

    0,68 115,0

    1,00 121,0

    1,36 126,5

    Obs.:

    - Para assegurar a temperatura pela presso de trabalho precisamos ter certeza de que todo o ar foi

    expulso, primeiro porque o ar no bom condutor de calor, logo o calor no penetra no material a

    ser esterilizado. Segundo a temperatura do ar aquecido a uma presso inferior a temperatura do

    vapor aquecido a mesma presso.

    Causas da inativao trmica de bactrias pelo calor mido

    Os mecanismos propostos para explicar a influncia letal do calor mido sobre as bactrias

    so: (a) coagulao de protenas; (b) inativao de enzimas; (c) desorganizao dos lipdeos

    celulares; (d) desorganizao do aparelho gentico; (e) ruptura do RNA.

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    A morte das clulas expostas ao calor exponencial. A base bioqumica desse fenmeno

    difcil de ser explicada em termos de acontecimentos especficos na clula. O calor mido age sobre

    vrios componentes celulares e, na clula, pode-se observar uma srie de efeitos.

    Inativao trmica dos esporos

    Os esporos so dotados de uma camada interna de mucopeptdeo recoberta por uma capa

    protica rica em cistena. As seguintes teorias tentam explicar a termorresistncia dos esporos:

    impermeabilidade do esporo; enzimas em formas inativas estabilizadas; desidratao do material

    protico, com estabilizao conseqente da maior interaproximao dos radicais hidrofbicos e

    imobilizao inica.

    A inativao dos esporos em presena de vapor de gua deve-se atividade da gua e no

    propriamente ao calor latente do vapor. Esse fato mostra que os altos coeficientes de temperatura,

    caractersticos da inativao trmica de esporos. s podem ser devidos a processos de coagulao de

    protenas

    ESTERILIZAO DE EQUIPAMENTOS POR RADIAES UV E IONIZANTES

    Os princpios bsicos da utilizao da radiao UV so a reduo de microrganismos

    presentes no ar e a destruio de clulas depositadas na superfcie do equipamento e expostas

    radiao. A radiao UV tem sido empregada como agente auxiliar para diminuir os nveis de

    contaminao.

    A ao de radiaes ionizantes (raios gama) sobre os microrganismos se manifesta como um

    uma inibio do poder de multiplicao dos mesmos.

    ESTERILIZAO DE EQUIPAMENTOS POR AGENTES QUMICOS

    Apresenta a vantagem de ser feita a temperatura inferior a 50C. Os fatores que influenciam

    na eficincia da esterilizao so: tempo de contato, temperatura, pH, matria orgnica, estabilidade

    ao oxignio umidade, etc. detergentes, lquidos (cidos e lcalis, glutaraldedo, formaldedo, iodfors,

    cido peractico) Gases e vapores (oznio, brometo de metila, formaldedo, -propionolactona, xido

    de etileno, cido peractico)

    ESTERILIZAO DO MEIO DE CULTURA

    De acordo com um conceito bem amplo, a esterilizao de um meio a operao que tem por

    finalidade remover ou destruir todas as formas de vida, animal ou vegetal, macro ou microscpicas,

    saprfita ou no, existentes no meio considerado.

    O grau de esterilizao dos meios de fermentao varia conforme o processo a que se destina.

    Algumas vezes totalmente dispensvel (fermentao lctica de hortalias e polvilho; tratamento

    biolgicos de resduos); realizada de forma incipiente (fermentao alcolica; produo de leveduras

    para panificao; fermentao actica do vinagre); realizada com alto grau de exigncia (produo de

    antibiticos, enzimas, vitaminas, acetona, butanol). Em ensaios laboratoriais sempre necessrio

    (devido ao uso de culturas puras)

    Em plantas industriais o calor mido a principal forma de se efetuar a esterilizao. Pode

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    ser feita nos prprios recipientes destinados a fermentao (processo descontnuo) ou em separado

    (processo contnuo)

    ESTERILIZAO EM BATELADA:

    Vrios meios de cultura so esterilizados no fermentador a 121 C (para destruir esporos), o

    tempo calculado em funo dos constituintes do mosto(pH, material em suspenso, etc) e do

    tamanho do fermentador.

    Esterilizar s vlvulas e eletrodos e outros equipamentos que entram em contato direto com o

    fermentador

    Mtodo indireto - injetar vapor no fermentador atravs de camisa ou da serpentina;

    Mtodo direto - injetar vapor direto na soluo nutriente, assim o vapor deve estar livre de aditivos

    qumicos

    OBS.: O vapor gerado pela indstria normalmente contm substncias potencialmente txicas aos

    microrganismos, derivadas de anticorrosivos utilizados no processo de gerao de vapor. Com

    injeo direta de vapor no meio de cultura o volume deste aumentar, pois uma parte do vapor se

    condensa aumentando o volume do lquido dentro do fermentados.

    Vantagem

    a) tem a vantagem de esterilizar o fermentador e o meio simultaneamente, evitando perigos de

    contaminaes;

    Desvantagem

    a) Manuteno de temperaturas altas por perodos longos, favorecendo possveis alteraes no meio;

    b) Consumo elevado de vapor e gua de resfriamento;

    c) Problemas de corroso pelo contato do equipamento com o meio aquecido.

    d) Elevado tempo ocioso do equipamento;

    e) interaes qumicas com nutrientes

    ESTERILIZAO CONTINUA

    As principais desvantagens apresentas podem ser evitadas pela esterilizao contnua; melhor

    controle de temperatura; temperaturas mais elevadas diminui o tempo da operao; Fornece meio

    esterilizados para fermentadores de vrios tamanhos

    Etapa preliminar obrigatria nos processos fermentativos contnuos, tambm tem valor nos

    processos em batelada, pois diminui o tempo de esterilizao e a rea fsica necessria para o

    processo, devido a relao exponencial entre taxa de morte e temperatura tomando bem menor o

    tempo necessrio para a destruio de todos os microrganismos quando temperaturas maiores so

    utilizadas;

    Na esterilizao em batelada so necessrios 30 a 60 minutos a 121 C, a esterilizao contnua

    normalmente realizada em 30 a 120 segundos a 140 C;

    Meio de cultura torna-se diludo pois a condensao do vapor aumenta o volume do lquido,

    para resolver este problema o meio aquecido bombeado atravs de uma vlvula de expanso e o

    condensado removido por uma bomba de vcuo at que o meio de cultura fique com a mesma

    concentrao de antes da esterilizao.

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    Pode se feita pela injeo direta de vapor ou por meio de trocadores de calor.

    Em certos casos a pasteurizao j p suficiente para eliminar grande parte do flora microbiana.

    uma operao rpida utilizando temperaturas prximas de 100 C seguida de resfriamento. Em

    meio cidos equivale a uma esterilizao

    Para pequenas quantidade de meio pode-se lanar mo da tindalizao.

    FIGURA 2 - Esquema de esterilizao contnua do meio de cultura em trocadores de calor

    DESTRUIO DE NUTRIENTES

    A esterilizao do meio pelo calor acarreta alteraes na sua composio qumica. A

    experincia mostra que, quanto mais elevada for a temperatura de esterilizao de um dado meio,

    menor ser a destruio de nutrientes e, conseqentemente, melhores sero os resultados da

    fermentao posterior. Esta menor destruio de nutrientes uma conseqncia de fato observada

    experimentalmente de ser a energia de ativao de destruio trmica dos microrganismos maior

    do que a de destruio trmica dos nutrientes. Essa afirmativa de importncia prtica, tanto na

    esterilizao de meios de fermentao como na esterilizao de alimentos.

    ESTERILIZAO DO AR

    As fermentaes aerbias, com o microrganismo em suspenso, constituem os processos

    fermentativos de maior importncia industrial atualmente. Em tais fermentaes a quantidade de ar

    introduzida no sistema grande e perfeitamente aceitvel, que haja grande preocupao quanto a

    esterilizao do ar a ser admitido nos fermentadores. Tais cuidados devem ser tomados

    principalmente nas horas iniciais da fermentao.

    - A maior parte dos processos fermentativos conduzido com agitao vigorosa, e o ar fornecido

    ao fermentador deve ser estril.

    - O nmero de partculas e microrganismos depende da localizao da indstria, do movimento do

    ar e do tratamento prvio que o ar foi submetido.

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    MTODOS PARA ESTERILIZAO DO AR

    Calor seco - normalmente antieconmica ou de difcil realizao;

    Radiaes Apenas as radiaes UV poderiam ter aplicao prtica, porm pouco usada devido ao

    grande tempo de exposio. Pode ser usada em pequenas instalaes (laboratrios, pesquisa). Atua

    mais como desinfetante.

    Filtrao sem dvida o processo mais importante por ser o de maior aplicao na industria.

    Filtros feitos de l de vidro, acetato de celulose, etc

    Os filtros pode ser de dois tipos principais:

    Filtros que apresentam poros - reteno mecnica dos microrganismos (cartuchos de membranas de

    steres de celulose, nylon);

    Filtros de camadas de material fibroso (l-de-vidro, ) - Atua na combinao de vrios efeitos

    fsicos: inrcia, bloqueio, difuso, separao por gravidade e atrao eletrosttica.

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    CRESCIMENTO CELULAR

    O crescimento dos microrganismos uma parte integral de quase todos os processos de

    fermentao. Sabe-se que as bactrias se reproduzem por diviso binria, produzindo duas clulas de

    mesmo tamanho, entretanto a reproduo de muitas leveduras se d por gemao;os mofos crescem

    por extenso das hifas e a morfologia de seu miclio pode variar em funo do meio ambiente.

    quando um fungo cresce na superfcie de um meio slido produz uma rede miceliana , cuja natureza

    reflete a natureza do meio. Nos cultivos submersos, as clulas fngicas podem crescer unidas a

    partculas de nutrientes suspensas na forma de miclio filamentoso difuso ou como massa densa. A

    morfologia e crescimento influem na velocidade de crescimento e na formao de produtos

    Quando um microrganismo inoculado em um meio de volume e composio conhecidos, o

    cultivo passa por uma srie de fases, como se pode observar na figura 1. Depois da inoculao,

    existe uma fase de latncia, em que o microrganismo se adapta as condies do meio. Aps um certo

    perodo de tempo em que a velocidade de crescimento das clulas aumenta gradualmente, as clulas

    crescem a uma velocidade constante mxima ; esta fase se denomina exponencial ou logartmica.

    medida que o crescimento continua, os nutrientes se vo esgotando e os produtos vo sendo

    excretados pelo organismo, a velocidade de crescimento diminui e finalmente o crescimento cessa,

    devido freqentemente ao esgotamento de um nutriente ou pelo acumulo de algum produto txico;

    esta fase se denomina estacionria.

    FIGURA 3 Crescimento de um microorganismo em um cultivo desontnuo

    FATORES QUE INFLUEM NA VELOCIDADE DE CRESCIMENTO

    A velocidade de crescimento varia com o tipo de clula microbiana e tambm em funo das

    condies fsico-qumicas do meio ambiente. Em geral, o tempo para que se duplique a biomassa

    aumenta com a complexidade do microrganismo, de forma que os tempos de duplicao mdio para

    as clulas animais e vegetal so substancialmente maiores que os de mofos e leveduras, que por sua

    vez so maiores que das bactrias.

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    O crescimento celular varia com a temperatura. A maioria dos microrganismos cresce entre

    25 e 35 C. Dentro deste espao o crescimento aumenta com o aumento da temperatura at um valor

    mximo, acima do qual a velocidade cai rapidamente devido ao incremento da taxa de morte

    microbiana.

    O pH influi no crescimento da mesma forma que na atividade enzimtica. A maioria dos

    microrganismos cresce em uma escala de pH variando de 3 a 4.

    A velocidade de crescimento da clula microbiana depende da atividade de gua (Aw) e da

    umidade relativa. As bactrias necessitam uma Aw 0,95 enquanto os mofos podem crescer em

    valores de atividade de gua menores, de at 0,7 como mnimas.

    Como em qualquer reao qumica, a velocidade de crescimento depende da concentrao de

    nutrientes qumicos, e pode ser descrita pela equao de Monod. Os valores tpicos de Ks para as

    diversas fontes de carbono esto compreendidos entre 1 e 10 mg/dm3 . As clulas podem crescer a

    velocidades prxima as max quando a fonte de carbono limitante maior que 10 Ks ou 10 a 100

    mg/dm3. As concentraes de carboidratos elevadas podem inibir o crescimento devido ao efeito

    osmtico que tem uma influencia maior sobre as bactrias do que sobre os mofos

    Foi comprovado que a quantidade de massa celular total, formada durante o crescimento

    celular, freqentemente proporcional a quantidade de substrato utilizado.

    Biomassa produzida (g) x/s = ------------------------------ x/s =coeficiente de rendimento de biomassa Substrato consumido (g)

    METABOLISMO MICROBIANO

    O crescimento microbiano depende da capacidade da clula para utilizar os nutrientes de

    meio ambiente e sintetizar os compostos macromoleculares das estruturas celulares e tambm os

    principais compostos de baixo peso molecular, necessrio para a atividade celular. O metabolismo

    intermedirio inclui as reaes que transformam os compostos de carbono e nitrognio que entram

    na clula em novo material celular ou em produtos que so excretados. A sntese desses compostos

    necessita energia e a maioria das clulas utilizada nas fermentaes, so heterotrficas e obtm sua

    energia a partir da quebra de compostos orgnicos. Nos processos respiratrios ou aerbios, os

    microrganismos so capazes de oxidar completamente alguns dos substratos a CO2 e H2O, obtendo o

    mximo de energia para a converso dos substratos remanescentes em nova massa celular. No

    metabolismo fermentativo ou anaerbio, as clulas so menos eficazes para converter os substratos

    orgnicos em material celular e usualmente excretam intermedirios degradados parcialmente.

    O crescimento de urna cultura microbiana pode ser dividido em fases ou estgios. Aps a

    inoculao de uma cultura em um meio nutriente existe um perodo durante o qual o crescimento

    parece no ocorrer; este perodo refere-se fase lag e pode ser considerado como uma fase de

    adaptao. Seguindo um perodo durante o qual a taxa de crescimento das clulas aumenta

    gradualmente, as clulas crescem a uma taxa constante, este perodo conhecido como fase

    exponencial. Quando o crescimento diminui ou cessa e as clulas entram fase estacionria. Aps um

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    longo perodo de tempo o nmero de clulas viveis decresce e a cultura entra na fase de morte ou

    declnio. Tanto quanto esta cintica de crescimento, o comportamento de uma cultura pode ser

    descrito de acordo com os produtos, os quais so gerados durante os estgios da curva de

    crescimento.

    Quando um microrganismo inoculado em um meio rico em nutrientes, a velocidade da

    diviso celular, e portanto a produo de biomassa, varia de acordo com uma seqncia

    caracterstica. A fase lag pode virtualmente ser eliminada aumentando o tamanho do inculo e

    otimizando as condies fsicas dentro do fermentador. Em um processo industrial a durao da

    fermentao contribui pra o custo do produto, logo uma fase lag mnima aconselhvel.

    FIGURA 4. Curva de crescimento de biomassa e consumo de glicose em um cultivo em batelada.

    Quando um microrganismo cresce em um ambiente no qual todos os seus nutrientes

    essenciais esto em excesso, esses nutrientes se transformam em produtos finais do metabolismo

    energtico, em calor, ou em compostos requeridos para a reproduo de novas clulas. Durante a

    fase exponencial de crescimento a diviso celular ou velocidade de aumento da biomassa chega a ser

    mxima e os produtos gerados so essencialmente para o crescimento das clulas e incluem:

    aminocidos, nucleotdeos, protenas, cidos nuclicos, lipdios, carboidratos, etc. Estes produtos so

    conhecidos como os primeiros produtos do metabolismo ou METABOLITOS PRIMRIOS e a

    fase a qual eles so produzidos (fase log ou exponencial) como trofofase. Tambm se inclui nesta

    categoria a biomassa celular que pode ser considerada como o metablito mais primrio.

    Muitos produtos do metabolismo primrio so considerados economicamente importantes e

    so produzidos por fermentao.

    Durante a desacelerao e na fase estacionria, algumas culturas microbianas sintetizam

    compostos os quais no so produzidos durante a trofofase e os quais parecem no ter nenhuma

    funo bvia no metabolismo celular. A estes compostos nos referimos como METABLITOS

    SECUNDRIOS e a fase na qual eles so produzidos (equivalente fase estacionria) como

    idiofase. importante salientar que os metablitos secundrios ocorrem em cultivos contnuos a

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    baixas taxas de crescimento sendo uma propriedade destas, baixas taxas de crescimento, e tambm,

    da fase onde no tem crescimento celular.

    TABELA 3. Produtos do metabolismo primrio microbiano e sua significncia comercial.

    Metabolismo Primrio Significncia Comercial

    Etanol Ingrediente ativo em bebidas alcolicas, usado como combustvel em

    motores quando misturado ao petrleo

    cido Ctrico Vrios usos na indstria alimentar

    cido glutmico Intensificador de Flavor

    Lisina Suplemento alimentar

    Nucleotdeos Intensificador de Flavor

    Fenilalanina Precursor do Aspartame - Adoante

    Polissacardeos Aplicao na indstria alimentar

    Vitaminas Suplementa Alimentar

    Fonte: Stanbury, Whitaker & Hall in Principles of Fermentation Technology. 1995.

    Os metablitos secundrios so compostos que no so necessrios para a biossntese celular,

    no tendo um papel direto no metabolismo energtico. A biossntese destes compostos est

    intimamente ligada com o metabolismo primrio das clulas que os produzem, j que normalmente

    seus precursores so metablitos primrios ou modificados, como cidos orgnicos, aminocidos,

    derivados de acares e bases nitrogenadas. Um conceito apropriado para os metablitos secundrios

    so os compostos no essenciais para o crescimento exponencial (Wiseman, A.)

    Os metablitos secundrios mais importantes do ponto de vista comercial so os antibiticos,

    entre eles a Penicilina, cuja produo anual chega a 10.000 ton/ano. As toxinas e os alcalides

    representam o resto dos metablitos secundrios de importncia industrial.

    Quando se observa que microrganismos crescem a taxas relativamente baixas de crescimento

    no seu meio ambiente natural, isto sugere indicio de que a idiofase que prevalece sobre a trofofase,

    a qual pode ser mais uma das propriedades da cultura de microrganismos.

    METABOLISMO ENERGTICO

    A energia necessria aos microrganismos pode ser fornecida pela luz (organismos

    fototrficos), ou pela oxidao de substncias qumicas (organismos quimiorganotrficos). Nos dois

    casos a energia vai ser estocada pela forma de energia de ligao qumica, biologicamente utilizvel.

    Trata-se essencialmente da ligao anidridofosfrica do trifosfato de adenosina (ATP), formada pela

    fosforilao do difosfato de adenosina (ADP).

    ORGANISMOS QUIMIORGANOTRFICOS

    A maioria das bactrias, leveduras e mofos so incapazes de efetuar a fotossntese, utilizam a

    energia liberada no decorrer das reaes qumicas de oxidao. So chamadas quimiorganotrficas.

    As reaes de oxidao podem ser efetuadas de vrios modos:

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    - Perda de eltron:

    Fe++ Fe+++ + e- + energia

    - Desidrogenao:

    R-CH2OH R-CHO + 2H+ + 2e- + energia

    - Hidratao-desidrogenao:

    R-CHO + H2O R-COOH + 2H+ 2e- + Energia

    - Descarboxilao-desidrogenao:

    R-CO-COOH + H20 R-COOH + CO2 + 2H+ + 2e- + Energia

    Em todos os casos h perda de eltrons freqentemente acoplada a uma perda de prtons.

    Estes eltrons e prtons, aps transferncia mais ou menos longa, feita por intermdio de uma cadeia

    de oxireduo, vo reduzir um aceptor final. Os microrganismos quimiorganotrficos tiram sua

    energia da oxidao de substncias orgnicas elaboradas, as quais devem obrigatoriamente

    encontrar-se no meio, logo, trata-se de microrganismos heterotrficos. A grande maioria dos

    microrganismos que intervm na biotecnologia faz parte deste grupo.

    ACEPTOR FINAL DE ELTRONS

    O sistema de transporte de eltrons mais ou menos complexo e recorre as enzimas

    (desidrogenases, citocromos redutases, etc.) e co-enzimas (FAD, NAD, NADP, citocromos, etc.) que

    so intermedirios aceptores de eltrons (e de prtons); trata-se de um seguimento de reaes

    acopladas com oxireduo. No final desta cadeia, eltrons (e prtons) servem para reduzir um

    aceptor final que pode ser de diversas naturezas: Oxignio molecular, composto mineral oxidado ou

    composto intermedirio do metabolismo. Existe, tambm, um mecanismo de eliminao de eltrons

    e prtons prprio de numerosas bactrias anaerbias, sob a forma de hidrognio, devido a

    hidrogenase.

    Se o substrato for completamente oxidado, diz-se que h respirao (fala-se s vezes, de via

    oxidativa). Se o substrato for parcialmente oxidado e, por isso, incompletamente degradado, o que

    acarreta a formao de metablitos, diz-se que h fermentao. A fermentao traz geralmente o

    nome da(s) substncia(s) produzida(s) ou da mais abundante se a produo for complexa.

    RESPIRAO AERBIA

    Existem vrios mecanismos de respirao aerbia. O fato comum entre eles que o aceptor

    final de prtons o oxignio do ar e no podem intervir seno quando os microrganismos so

    cultivados em condies de aerobiose. Para cada par de prtons transformados em gua, h formao

    de 3 molculas de ATP, podendo s vezes haver uma oxidao direta. Esta via leva a formao de

    perxido de hidrognio (H202) que txico para clula; exceto se esta possuir catalase, enzima capaz

    de decompor o H2O2. Quando um microrganismo possui esta via, e no tem catalase, morto pelo

    oxignio do ar, sendo portanto, um anaerbio estrito.

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    FERMENTAO / RESPIRAO

    Na fermentao propriamente dita, uma substncia orgnica originria da degradao do

    substrato serve como aceptor de eltrons (e de prtons). De fato, pode-se considerar que a mesma

    substncia que serve, ao mesmo tempo, de doador e aceptor. Numerosas fermentaes podem ser

    efetuadas em anaerobiose, pois todos os prtons liberados servem para reduzir um substrato

    orgnico; outras devem ser efetuadas em aerobiose, pois pelo menos uma parte dos prtons liberados

    servem para reduzir o oxignio. CINTICA DO CRESCIMENTO MICROBIANO

    Na fase logartmica podemos dizer que dobram por intervalo de tempo:

    O nmero de clulas (bactrias e leveduras):

    A biomassa (actomicetos e fungos).

    A velocidade de crescimento se mantm constante durante a fase logartmica, ainda que o meio

    se altere pelo consumo de substrato e excreo de metablitos.

    A velocidade de crescimento independe da concentrao do substrato, pois um excesso de

    substrato est presente.

    O substrato limitante a substncia que pela mudana de sua concentraao promove:

    mudanas na velocidade de crescimento do microrganismo

    mudanas na velocidade de consumo do substrato

    mudana na velocidade de formao do produto.

    Na pratica podemos dizer que todo o substrato limitante.

    O processo industrial interrompido ao final da fase logartmica ou antes da fase de

    declnio, depende se o processo associado ou no associado.

    A taxa de aumento da biomassa est relacionada com a velocidade especfica de crescimento

    () e a concentrao da biomassa (X) expressa em g/L. dx ------- = X , onde dt = velocidade mxima da biomassa X = concentrao de biomassa A taxa do aumento do nmero de clulas est relacionada com a velocidade especfica de

    crescimento e com a densidade celuIar (N) expressa em clulas/L.

    dN ------- = N , onde N = densidade celular dt

    O tempo de gerao (G) uma constante da cepa da clula e depende das condies de cultivo.

    o espao de tempo necessrio para que uma clula se duplique. Quando o microrganismo est na fase

    exponencial o tempo de gerao constante e dado por:

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    t t G = --- = --------------------

    z 3,322 log Nf/Ni

    METABOLISMO MICROBIANO

    A sntese do produto se d no interior da clula, para que o substrato seja convertido em

    produto, ele deve entrar na clula e ser biotransformado por uma seqncia especfica de enzimas.

    Quanto mais complexo o produto, maior ser o nmero de enzimas envolvidas no metabolismo.

    Esquema simplificado do metabolismo celular. S [ X P ] P

    ENTRADA DO PROCESSO: transporte do substrato para dentro da clula

    METABOLISMO - TRANSFORMACO: o que diferencia o processo qumico do fermentativo.

    s vezes X =P.

    SAIDA DO PROCESSO: liberao do produto da enzima, podendo ficar intra ou extracelular.

    S = concentrao do substrato em g/L

    X = concentrao de clulas em g/L

    P = concentrao do produto em g/L ou mg/L

    VELOCIDADE DE FORMAO DE CLULAS

    A velocidade de formao de clulas e dada pela variao da concentrao de clulas em

    funo do tempo, na fase exponencial de crescimento (fase log), a velocidade constante e pode ser

    calculada pelo numero de clulas (N) por contagem direta dos microrganismos ou por contagem em

    placas e ainda pela massa seca de clulas (X). Ela chamada velocidade especifica de crescimento,

    calculada por:

    ln Nf ln Ni ln Xf ln Xi ln DOf ln DOi = ------------------- ou -------------------- ou ---------------------

    tf ti tf - ti tf - ti para [ ] de clulas para Biomassa para densidade tica

    FIGURA 5- Variao da Concentrao Celular em Funo do Tempo

    OBS.: Para microrganismos no filamentosos prefervel utilizar nmero de clulas e para

    microrganismos filamentosos, a massa seca de clulas.

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    VELOCIDADE DE CONSUMO DE SUBSTRATO

    A medida que a clula est se reproduzindo os substratos esto sendo consumidos, a

    velocidade de consumo do substrato ser teoricamente constante, enquanto for constante o

    crescimento celular, isto quase nunca acontece, uma vez que o substrato no s utilizado para o

    crescimento celular, mas tambm para formao de metablitos, em alguns processos o substrato

    pode ter uma velocidade de consumo quase linear por um perodo de tempo, e a velocidade

    chamada de velocidade especfica de consumo do substrato e calculada por:

    ln Sf ln Si = ------------------- Sf = concentrao de substrato

    tf ti

    FIGURA 6 - Variao da Concentrao de Substrato em Funo do Tempo

    VELOCIDADE DE FORMAO DO PRODUTO

    A velocidade de formao do produto tende a ser constante durante um perodo de tempo.

    chamada de velocidade especifica de formao do produto e calculada por:

    ln Pf ln Pi

    = ------------------- Pf = Produto final tf ti

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    FIGURA 7 - Variao da Concentrao de Produto em Funo do Tempo

    VELOCIDADE ESPECFICA DE CRESCIMENTO

    funo de trs parmetros:

    - Concentrao de substrato limitante (S)

    - Velocidade mxima de crescimento ( max)

    - Constante especifica do substrato (ks), equivale a concentrao em = 0,5 max

    a concentrao de substrato que d a metade da velocidade mxima de crescimento. E dada

    pela equao de MONOD, que equivale a equao de Henri-Michaelis-Menten para cintica

    enzimtica. S

    = max --------------- Ks = corresponde a metade do max Ks + S

    FIGURA 8 - Relao entre a Velocidade de crescimento e Concentrao de Substrato

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    Existindo vrios substratos limitantes, podemos estender a equao de Monod para: K1.S1 K2.S2 Kn.Sn

    = max . --------- + --------- + + .......+ ----------- K1 + S1 K2 + S2 Kn + Sn

    - Se existir um excesso de todos os substrato, ento = max e a cultura est na fase log, na sua

    velocidade mxima de crescimento.

    Se o primeiro substrato for exaurido e outro substrato estiver presente, teremos uma segunda

    fase lag e log com outro tempo de gerao que caracteriza a metabolizao deste segundo substrato,

    este fenmeno chamado de DIAUXIA. Isto ocorre porque um dos substratos, geralmente a glicose,

    catabolizada preferencialmente e inibe a quebra de outros substratos. As enzimas que catabolizam

    os outros substratos so induzidas (durante a segunda fase lag) aps a metabolizao completa do

    primeiro substrato. TABELA 4 - Efeito do comprimento da cadeia de glicose na velocidade mxima de crescimento de Fusarium graminearum a 30C

    ACAR N de UNIDADE de

    GLICOSE

    max (h-1) G (h)

    Glicose 1 0,28 2,48

    Maltose 2 0,22 3,15

    Maltotriose 3 0,18 3,85

    FIGURA 9 Crescimento triuxico de Fusarium graminearum

    Com isto chegamos a concluso que o mximo depende do:

    microrganismo;

    condies de cultivo;

    composio do meio de cultura;

    temperatura de incubao;

    outros fatores (pH, oxignio, etc.)

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    CLASSIFICAO DOS PROCESSOS

    TIPO 1 - ASSOCIADO

    No processo associado o produto derivado diretamente do metabolismo primrio, usado

    para a produo de energia. O crescimento, o catabolismo de carboidratos e a formao do produto

    ocorrem ao mesmo tempo. A TROFOFASE (fase de crescimento) e a IDIOFASE (fase de formao

    do produto) no so separadas.

    Ex. produo de biomassa, etanol e cido glucnico. Sendo A, B, e C, produtos

    intermedirios do metabolismo primrio, a formao do produto pode ser considerada:

    A B C PRODUTO

    FIGURA 10 - Relao entre Crescimento Celular e Formao de Produto em um Processo

    Associado

    TIPO 2- SEMI-ASSOCIADO

    O Produto derivado de um substrato usado no metabolismo primrio, mas segue uma rota

    colateral. A tropofase e a idiofase so separadas. Em fermentao em batelada este tipo de cintica

    possui dois pontos importantes:

    1) crescimento celular acompanhado de alto consumo de substrato e pouca ou nenhuma formao

    de produto;

    2) O crescimento diminui e a formao do produto comea acompanhada de um alto consumo de

    substrato.

    Ex.: produo de cido ctrico e de alguns aminocidos. A reao de formao do produto pode ser

    exemplificada como: A B C Metabolismo Primrio

    D E Produto

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    FIGURA 11 - Relao entre Crescimento Celular e Formao de Produto em um

    Processo Semi-Associado

    TIPO 3 - NO ASSOCIADO

    O metabolismo primrio e a formao do