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18/10/12 APACAME - Mensagem Doce 118 - Artigo 1/8 www.apacame.org.br/mensagemdoce/118/artigo.htm Figura 1. Distribuição normal para algumas características quantitativas e a resposta da próxima geração à seleção. Artigo MELHORAMENTO GENÉTICO PARA A PRODUÇÃO DE PRÓPOLIS SOARES, A.E.E. 1 & MARTÍNEZ, O.A.C. 2 1 Departamento de Genética, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP). Av. Bandeirantes, 3900. Monte Alegre, Ribeirão Preto, SP, CEP; 14.049-900 e-mail: [email protected] 2 Aluno de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Genética, FMRP-USP e-mail: [email protected] Resumo O mecanismo de coleta de própolis varia entre as colmeias, não somente com relação às plantas visitadas, como também pela disponibilidade de resinas secretadas e pelos componentes genéticos envolvidos neste comportamento. Desta forma é fácil se constatar que colmeias colocadas em uma mesma área respondem diferentemente com relação a qualidade e quantidade de própolis coletado e isto se constitui em uma base importante para produzir rainhas das colmeias mais produtoras. Com os avanços na técnica de inseminação instrumental e produção de rainhas é possível se conseguir aumento de produtividade, usando critérios bem estabelecidos pelos programas de seleção. Palavras-chave: Produção de rainhas, propolis ver, melhoramento genético, inseminação instrumental, seleção. 1. SELEÇÃO E MELHORAMENTO GENÉTICO Existem vários tipos de seleção que podem ser aplicados ao melhoramento de abelhas. Porém, quatro estratégias de seleção têm dado os melhores resultados em populações fechadas e que também podem ser aplicadas às populações abertas com bons ganhos genéticos. Estes são: 1. seleção dentro da família, na qual se escolhe a rainha filha com o valor fenotípico mais alto de cada rainha matriz; 2. seleção em massa, as novas rainhas matrizes são escolhidas independentes de relações familiares; 3. seleção em massa combinada com seleção para alta viabilidade da cria; 4. seleção ao acaso para as novas matrizes (Omholt & Ådnøy, 1994). Para um programa de melhoramento genético ser bem sucedido deve ser realizado uma seleção em massa de colméias, porém, esta tem que ser contínua, geração após geração, para manter os níveis atingidos pelo programa. Assim será alcançado o limite ambiental máximo no qual não há aumento produtivo por colméia, mas o nível máximo do apiário é mantido. O melhoramento genético em qualquer organismo visa o aumento na população das freqüências gênicas dos loci de importância econômica a serem selecionados. Com respeito às abelhas isto é o aumento da freqüência do número de colônias que produzam acima da média da geração a partir da qual foi feita a seleção (Figura 1). O tipo de seleção mais comum e praticada pelos apicultores é a escolha de quais os indivíduos de uma população que serão utilizados para a reprodução e formação da próxima geração. Por ser orientada racionalmente, a seleção artificial imprime maior progresso genético por unidade de tempo que a seleção natural. Assim podemos obter o diferencial de seleção (DS) o qual é definido como a diferença entre a média do grupo selecionado para a reprodução e a média da população base. Ou seja, sendo o DS igual ao desvio da média dos selecionados em relação à média da população, quanto maior o DS, maior será a pressão de seleção. Outro aspecto importante em relação ao diferencial de seleção é que a liberdade para selecionar colméias dentro dos apiários é limitada pela taxa de colméias (rainhas) que a cada geração devem ser mantidas para substituir as que são descartadas. O diferencial de seleção depende da proporção do grupo selecionado e do desvio-padrão do caráter. Assim

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Figura 1. Distribuição normal para algumas

características quantitativas e a resposta

da próxima geração à seleção.

Artigo

MELHORAMENTO GENÉTICO PARA A PRODUÇÃO DEPRÓPOLIS

SOARES, A.E.E.1 & MARTÍNEZ, O.A.C.2 1Departamento de Genética, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP).

Av. Bandeirantes, 3900. Monte Alegre, Ribeirão Preto, SP, CEP; 14.049-900

e-mail: [email protected] 2 Aluno de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Genética, FMRP-USP

e-mail: [email protected]

Resumo

O mecanismo de coleta de própolis varia entre as colmeias, não somente com relação às plantas visitadas,como também pela disponibilidade de resinas secretadas e pelos componentes genéticos envolvidos nestecomportamento. Desta forma é fácil se constatar que colmeias colocadas em uma mesma área respondemdiferentemente com relação a qualidade e quantidade de própolis coletado e isto se constitui em uma baseimportante para produzir rainhas das colmeias mais produtoras. Com os avanços na técnica de inseminaçãoinstrumental e produção de rainhas é possível se conseguir aumento de produtividade, usando critériosbem estabelecidos pelos programas de seleção.

Palavras-chave: Produção de rainhas, propolis ver, melhoramento genético, inseminação instrumental,seleção.

1. SELEÇÃO E MELHORAMENTO GENÉTICO

Existem vários tipos de seleção que podem ser aplicadosao melhoramento de abelhas. Porém, quatro estratégiasde seleção têm dado os melhores resultados empopulações fechadas e que também podem ser aplicadasàs populações abertas com bons ganhos genéticos.Estes são: 1. seleção dentro da família, na qual seescolhe a rainha filha com o valor fenotípico mais alto decada rainha matriz; 2. seleção em massa, as novasrainhas matrizes são escolhidas independentes derelações familiares; 3. seleção em massa combinada comseleção para alta viabilidade da cria; 4. seleção ao acasopara as novas matrizes (Omholt & Ådnøy, 1994).

Para um programa de melhoramento genético ser bem sucedido deve ser realizado uma seleção em massa decolméias, porém, esta tem que ser contínua, geração após geração, para manter os níveis atingidos peloprograma. Assim será alcançado o limite ambiental máximo no qual não há aumento produtivo por colméia,mas o nível máximo do apiário é mantido. O melhoramento genético em qualquer organismo visa o aumentona população das freqüências gênicas dos loci de importância econômica a serem selecionados. Comrespeito às abelhas isto é o aumento da freqüência do número de colônias que produzam acima da média dageração a partir da qual foi feita a seleção (Figura 1).

O tipo de seleção mais comum e praticada pelos apicultores é a escolha de quais os indivíduos de umapopulação que serão utilizados para a reprodução e formação da próxima geração. Por ser orientadaracionalmente, a seleção artificial imprime maior progresso genético por unidade de tempo que a seleçãonatural. Assim podemos obter o diferencial de seleção (DS) o qual é definido como a diferença entre a médiado grupo selecionado para a reprodução e a média da população base. Ou seja, sendo o DS igual ao desvioda média dos selecionados em relação à média da população, quanto maior o DS, maior será a pressão deseleção.

Outro aspecto importante em relação ao diferencial de seleção é que a liberdade para selecionar colméiasdentro dos apiários é limitada pela taxa de colméias (rainhas) que a cada geração devem ser mantidas parasubstituir as que são descartadas.

O diferencial de seleção depende da proporção do grupo selecionado e do desvio-padrão do caráter. Assim

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sendo, admitindo-se que os fenótipos se distribuem segundo a curva normal, pode-se expressá-lo emtermos de desvio padrão. Isto permite, conhecendo-se a porcentagem de indivíduos que se deseja manterem reprodução e as tabelas das áreas de ordenadas da curva normal, estimar-se o diferencial de seleção emunidades de desvio-padrão.

A redução do intervalo entre gerações é uma maneira eficiente de aumentar o progresso genético porunidade de tempo. Isto segue mantendo-se uma população que se reproduz a menores idades, o queautomaticamente leva a maiores porcentagens de reposição. Isto não é independente da proporçãoselecionada, já que maiores reposições implicam em selecionar mais colméias.

A medida acurada das características é essencial para o sucesso de um programa de seleção. A via maisimportante para incrementar a acurácia é tomar medidas nas abelhas que se encontram em um ambientecomum e com histórias de manejo semelhante. O grupo de colônias deve partir de um ponto comum notempo para registro. No futuro estas serão avaliadas quando o apiário ou outras condições permitam umaexpressão completa das capacidades das colméias. Por exemplo, a avaliação da produção de mel deve serfeita durante condições de fluxo de néctar que, são condições típicas onde se espera que o estoque melhoredemonstrando seu melhor desempenho. Medidas mais precisas ou medidas repetidas como método paraaumentar a precisão pode melhorar a acurácia (Rinderer, 1986).

Um programa de melhoramento produtivo precisa de vários passos a ser seguidos para alcançar osobjetivos estabelecidos. Este deve envolver a melhoria de todos os procedimentos e práticas de manejo derotina do apicultor nos seus apiários. Pode se destacar: a) o uso de cavaletes individuais como suporte paraas colméias; b) a alimentação energética e/ou protéica nas épocas de baixa disponibilidade destes recursosna natureza; c) não uso de rainhas de subespécies européias especialmente quando importadas diretamentedos Estados Unidos ou da Europa. (Esta prática traz grandes riscos de introdução de doenças nãopresentes no Brasil) e de troca anual de rainhas. O estabelecimento correto destas práticas junto com umacapacitação de manejo geral das abelhas irá moldar uma base forte para o estabelecimento de programasrigorosos de melhoramento genético. Assim este programa será efetivo e trará bons resultados para os seususuários.

2. Inseminação instrumental

Entre as ferramentas para o melhoramento produtivo, está a técnica da Inseminação Instrumental, quepermite agilizar os programas de melhoramento genético, permitindo o controle dos cruzamentos epropiciando a formação de matrizes de boa qualidade e um completo controle da contribuição parental(Manrique, 2001). A Inseminação instrumental é uma técnica na qual se transfere instrumentalmenteesperma do macho para o sistema reprodutivo da fêmea. Esta técnica é amplamente praticada emvertebrados para criação de animais com fins econômicos ou para conservação biológica. Porém, eminvertebrados só alguns poucos casos foram bem sucedidos (Baer & Schmid, 2000).

Os trabalhos e pesquisas na inseminação instrumental de abelhas Apis mellifera datam de décadaspassadas, um dos primeiros resultados data do ano 1926 e publicado em 1928 no qual o Dr. Lloyd R.Watson da Universidade de Cornell (USA) fez as primeiras tentativas para inseminar instrumentalmenteabelhas rainhas. Porém, a reprodução das abelhas não era ainda muito bem compreendida. Na épocapensava-se que a rainha se acasalava exclusivamente com um zangão e, portanto as inseminações eramfeitas com sêmen de um só macho. Laidlaw (1944) melhorou consideravelmente a taxa de sucesso dainseminação instrumental depois de aprender a inserir a ponta do capilar através de uma estrutura em formade orla (a válvula) que cobre a entrada da vagina e oviduto médio. Ele abaixou a válvula e injetou o sêmendireto no oviduto médio. Mackensen (1947) usou dióxido de carbono para imobilizar as rainhas durante ainseminação, facilitando a inserção do capilar na vagina. Além do mais, descobriu-se que a narcose comCO2 fazia com que as rainhas começassem a botar ovos mais rápido depois da inseminação (Apud, Moreno,2006).

Na inseminação são depositados 8 microlitros (µl) de sêmen no oviduto médio tentando simular aquantidade depositada naturalmente e o qual tem se mostrado suficiente para encher completamente aespermateca das rainhas virgens (Page & Laidlaw, 2000). Em condições naturais um zangão produz entre 6 e10 milhões de espermatozóides o que corresponde a 1,5 µl de sêmen aproximadamente. As rainhas seacasalam naturalmente com mais de 10 machos, os quais transferem mais de 100 milhões de espermatozóidesnum vôo de acasalamento. Porém, só 3 a 5 milhões destes migram por meios passivos e ativos para aespermateca.

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Figura 2. Algumas características do método

de Inseminação Instrumental.

A técnica de inseminação instrumental em abelhas requer uma série de passos os quais são de vitalimportância para o sucesso das rainhas produzidas. Assim, rainhas com menos de 7 dias de vida podem serinseminadas. Estas rainhas são fixadas e anestesiadas no equipamento de inseminação escolhido. Oprocesso principal de qualquer tipo de inseminação é explicado a seguir (Figura 2):

1.Coloque a rainha no aparelho de inseminar e abra acâmara do ferrão delicadamente. Para isto, use comoauxilio os ganchos para separar as placas abdominais,deixando desta forma exposto o orifício da vagina.

2.Desça levemente a agulha ou capilar contendo o sêmenpreviamente coletado, lembrando que o sêmen édepositado no oviduto médio, para isto deve-se passar aválvula da vagina.

3.A ponta da agulha pode ser utilizada para passar a válvula, efetue um leve movimento de zig - zag e desçade forma delicada a agulha novamente.

4.Injete a quantidade de sêmen que seu protocolo de inseminação determinou, lembrando, injetar no mínimo8 µl de sêmen por cada rainha

5.Finalmente, retire a agulha delicadamente, libere as placas abdominais e se a rainha ainda não estivermarcada faça a devida marcação.

Com o desenvolvimento da inseminação instrumental como uma técnica prática na década de 1940, a criaçãocontrolada de abelhas teve seu início (Harbo & Rinderer, 2005). Considerada uma ferramenta para omelhoramento produtivo, esta técnica permite acelerar os programas de melhoramento genético, porquepermite o controle dos cruzamentos, propiciando a formação de matrizes de boa qualidade e permite umcompleto controle da contribuição parental (Manrique, 2001).

Esta ferramenta é essencial para o pesquisador que precisa de cruzamentos específicos e para o apicultorenvolvido em um programa de melhoramento produtivo. As diferentes contribuições de especialistas ecientistas nos últimos 60 anos possibilitaram o aperfeiçoamento da técnica (Schley, 2005). A habilidade decontrolar os acasalamentos permite a seleção, desenvolvimento e manutenção de características desejadas.A indústria apícola se beneficiaria caso desejasse manter as linhagens "resistentes" que estão sendodesenvolvidas, justificando que esta tecnologia deva ser incorporada aos programas comerciais de criaçãode abelhas (Cobey & Schley, 2002). A inseminação instrumental é uma técnica de melhoramento valiosa quepossibilita a seleção de características desejáveis. Permite tipos de acasalamento que não são possíveiscom o acasalamento natural como, por exemplo, o acasalamento com um só macho ou com poucos machosespecíficos, o acasalamento entre rainhas e machos mutantes e o cruzamento de uma rainha com sua própriaprogênie de machos. Naturalmente, as rainhas podem se acasalar com machos de origem desconhecida eproduzirem operárias com características indesejáveis. Permite ao criador se beneficiar de programas demelhoramento nos quais se pode manter um isolamento genético total que permite produzir rainhasconsistentes e de alta qualidade, selecionadas para uma característica específica e para alta viabilidade dacria (Cobey, 2007).

A inseminação tem a flexibilidade necessária para realizar muitos tipos de acasalamentos controlados.Porém, uns dos mais utilizados é a inseminação de rainhas com uma mistura uniforme de espermatozóides.Entre outras possibilidades, esta técnica pode ser usada para manter a heterogeneidade genética numprograma de melhoramento ou para produzir inseminações uniformes mais heterogêneas geneticamente, emum grupo de rainhas. Estas inseminações incluem espermatozóides geneticamente diversos, mas que sãouniformes porque o sêmen para cada inseminação é coletado aleatoriamente de um grupo grande de machose misturado em um pool gênico (Harbo, 1986).

A Inseminação Instrumental de rainhas não é difícil para aqueles que estão familiarizados com o uso demicroscópios. Além disso, é necessário acrescentar que o equipamento seja adequado, estéril, preciso e queo técnico tenha um trabalho cuidadoso, para que não se torne decepcionante ou mesmo frustrante. Uminteresse genuíno é muito útil, mas deve ser enfatizado que o sucesso depende da precisão e de umaesterilidade estrita (Laidlaw, 2000).

Porém, a Inseminação Instrumental no Brasil não tem se desenvolvido muito devido ao alto custo dos

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aparelhos e ao pouco treinamento no procedimento. Enquanto, em países industrializados a técnica estámuito bem desenvolvida a ponto de que praticamente não existam diferenças entre rainhas acasaladasnaturalmente e rainhas inseminadas obtendo assim colônias altamente produtivas as quais podem seravaliadas diretamente. A Inseminação Instrumental esta tão bem desenvolvida que atualmente se fazinseminação em rainhas de Bombus spp (Baer & Schmid, 2000).

Segundo Moreno 2006, num trabalho realizado na Universidade de São Paulo campus Ribeirão Preto,observou que a inseminação é uma técnica viável mas, altamente especializada e detalhada que requerexperiência e cuidados na execução. Uma vez dominado todo o procedimento, comprovou ser umaferramenta essencial no melhoramento genético que permite avanços rápidos nas características desejadas.A produção de um número grande de rainhas inseminadas permite a avaliação destas no campo e facilita oestudo da herdabilidade de características quantitativas. Este mesmo autor ressalta que a nova técnica deinseminação com o aparelho criado pelo Dr Peter Schley é minimamente invasiva e de rápida execução. Istodiminui os danos físicos causados às rainhas. Portanto, estas rainhas são perfeitamente viáveis, semdiferenças evidentes no desempenho, produzindo enxames populosos e geneticamente superiores nascaracterísticas selecionadas. Esta nova técnica de inseminação permite a obtenção de rainhas inseminadasque atingem nas suas colônias estados produtivos normais, assim estas rainhas não têm diferençassignificativas com as rainhas fecundadas naturalmente.

Hoje, as melhorias nas técnicas e no desenho dos equipamentos possibilitaram que o procedimento setornasse mais fácil de aprender e de aplicar. Desta forma, podem-se conseguir altas taxas de sucesso eníveis de desempenho das rainhas inseminadas similares aos das rainhas fecundadas naturalmente,diferenças entre rainhas acasaladas naturalmente e rainhas inseminadas deve-se principalmente a:quantidade de sêmen utilizado; idade das rainhas; métodos de introdução, cuidados pré e pós-inseminação(Cobey, 2007).

Existe uma grande variedade de aparelhos disponíveis, que variam em custo, qualidade e facilidade de uso.A escolha pode fazer a diferença no sucesso ou frustração do uso desta técnica. O procedimento é delicadoe requer precisão e exatidão em movimentos finos. Uma alta repetibilidade e um grande intervalo demovimentos são características importantes a se considerar nos aparelhos utilizados (Kemp, 2008).

Um complemento importante a esta técnica é a apicultura especializada a qual, geralmente, passadespercebida por iniciantes: Criação e maturação dos machos e das rainhas; cuidados pré e pós-inseminação das rainhas; e a introdução adequada das rainhas inseminadas. O êxito depende de umcuidadoso planejamento do programa (Cobey, 2007).

2. A IMPORTÂNCIA DOS ZANGÕES

Não podemos esquecer que os zangões também são responsáveis pela contribuição genética nas operáriasde uma colméia. É importante que o apicultor permita a produção natural de zangões nas suas colméias,preferencialmente naquelas que apresentam melhores níveis de produção. Isto aumenta o número dezangões em condições ambientais e aumenta a chance de acasalamentos com estes zangões (selecionados).

A cria de zangões é uma prática fundamental em um programa de inseminação. A qualidade e quantidade dezangões na hora de realizar as inseminações recebem e requerem a mesma atenção que a produção derainhas (Fert, 2008).

Técnicas de crioconservação do sêmen estão sendo desenvolvidas, (Almeida & Soares, 2002;Guzman_Novoa et al., (2008). Estes autores testando diferentes métodos de congelamento, diferentesdiluentes e diferentes criopreservadores têm alcançado altas porcentagens de viabilidade dosespermatozóides, criando assim uma nova alternativa de armazenamento e conservação de sêmen emabelhas Apis mellifera.

3. ALIMENTAÇÃO ARTIFICIAL - PASTA CÂNDI

Na produção comercial de rainhas é fundamental estabelecer uma programação adicional relacionada àalimentação artificial, pois colméias utilizadas para a produção de rainhas tem que possuir boas reservas dealimento, fato que em algumas regiões tem que ser auxiliado por meio de alimentação energética ou protéica.

A alimentação energética que substitui a entrada ou fluxo de néctar nas colméias e que na maioria doscasos é a mais utilizada pelo apicultor consta de 50% de água e 50% de açúcar, que pode ser oferecida por

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Figura 3. A - Açúcar de confeitaria, B - mel

e C - Pasta cândi.

meio de alimentadores individuais internos, alimentadores de teto ou alimentadores tipo boardman. Já para aalimentação protéica, que complementa um baixo fluxo de pólen na colméia podem ser utilizadas raçõespreviamente estabelecidas e que já são comercializadas. Vários alimentos substitutos podem ser usadospara as abelhas, como misturas contendo farinha de soja, farinha de fubá, levedura de cerveja entre muitosoutros. Algumas destas rações são tipo pasta e são oferecidas diretamente, sendo colocada entre a partesuperior dos favos e a parte inferior da tampa de cada colméia; algumas rações são tipo seco e sãooferecidas no fundo da colméia, em alimentadores de teto ou por meio de alimentadores coletivos. Porém,cada colméia se comporta individualmente, o que determinará a necessidade e a quantidade de alimento quedeverá ser fornecido. Embora existam várias receitas desenvolvidas para tentar suprir a deficiêncianutricional das abelhas no período de escassez de alimento, é necessário que o apicultor procurealternativas regionais para diminuir os custos de produção.

A pasta cândi (figura 3) é o alimento que é utilizado ou fornecido às abelhas que acompanham a rainha nagaiola de transporte ou introdução. Sua fabricação é a partir de açúcar de confeiteiro e mel e requer algunscuidados:

Primeiro mesclar o açúcar com uma pequena parte de mel,a quantidade de mel utilizada para a fabricação do cândié mínima, assim, aconselhamos ir mesclando pequenasquantidades de mel

Amassar até que todo o açúcar esteja misturado com omel, caso seja necessário adicionar mais açúcar namescla

A mistura final não pode ficar nem muito seca nem muitoúmida

O ponto é dado principalmente com o açúcar, a pasta temque ter uma consistência firme e não pode ficar grudadana mão na hora de amassar a mesma.

Finalmente aconselhamos armazenar esta pasta fora do alcance de formigas, para poder ser futuramenteutilizada

4. UM PROBLEMA REAL E O PROVEITAMENTO DOS ENXAMES NATURAIS

Embora as caixas iscas sejam altamente atrativas para capturar os enxames que estão procurando um localdefinitivo de moradia, elas não se prestam para remover os enxames já instalados.

Assim, os enxames já alojados em uma área urbanizada, que se constituem numa ameaça constante deacidentes, necessitam ser removidos de uma forma eficiente e segura. Porém, quando se olha para estecontexto constatamos, que os apicultores não têm interesse direto na remoção, pois é uma atividade queenvolve muitas vezes, risco, demora na execução da tarefa e sobretudo não compensatória do ponto devista financeiro. Normalmente as pessoas envolvidas não querem pagar pelo serviço executado, alegandoque o apicultor poderá ficar com o mel.

Além destes impasses, existe uma agravante com relação à segurança das pessoas e animais, visto que aose trabalhar em área urbanizada, as abelhas poderão atacar pessoas e/ou animais, colocando em umasituação complicada o operador. Imagine que ao retirar um enxame, as abelhas se alvorocem, façam umataque em pessoas e eventualmente ocorra uma acidente fatal. O responsável por esta vítima é o operadorque irá ser enquadrado na legislação criminal como "crime doloso."

Assim, a remoção dos enxames em áreas urbanizadas passa a ser uma atividade a ser exercida pelo poderpúblico notadamente o Corpo de Bombeiros.

Na cidade de Ribeirão Preto, SP, com uma população de aproximadamente 610 mil habitantes, a Promotoriado Meio Ambiente, diante dos inúmeros casos de ocorrência de enxames em áreas urbanizadas, tentou como auxílio do Corpo de Bombeiros, Prefeitura Municipal, Universidade de São Paulo e apicultores,encontrarem alternativas para minimizar os acidentes.

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Figura 4. Coletor eficiente de abelhas.

Através da Portaria 004 de 13 de abril de 2009. Diário Oficial do Município de Ribeirão Preto, Ano, 37;número 8.244, foi estabelecido um Grupo de Trabalho para elaborar projeto de: Prevenção de acidentes ecaptura das abelhas africanizadas.

O grupo de trabalho constituído detectou que:

- Os Apicultores não têm interesse nessa atividade, pois não são remunerados; perdem horas de trabalho,existem riscos de acidentes ao se operar em alturas e não querem assumir os danos que eventualmentepossam ocorrer á terceiros.

- Os Bombeiros por sua fez, fazem os extermínios eventuais usando "lança chamas" em situaçõesemergenciais. Não são suficientemente treinados para fazerem remoções de enxames, que muitas vezes sãodemoradas. Entendem que não é prioridade da corporação este tipo de atendimento.

Existem agravantes, pelo fato de terem poucos veículos e não poderem disponibilizá-los em atividades nãoessenciais. Embora tenham equipamentos de segurança para o trabalho apícola, pela alta rotatividade dosmembros de plantão, nem sempre existem pessoas capacitadas para executar o serviço. O deslocamento deveículos com escadas e com caçambas, para se operar em lugares altos, não pode ser autorizado para estafunção, visto que ela é essencial em outros atendimentos emergenciais.

- A Prefeitura Municipal, através da Secretaria do Meio Ambiente, não dispõem de veículos adequados eembora conte com um profissional para executar essa atividade, entende que o número de enxames a serremovido é muito alto, e não tem alternativas para a sua utilização.

Uma das alternativas era o estabelecimento de apiários, que pudessem produzir mel para entrar na merendaescolar, se tornou inviável pelo fato de Ribeirão Preto, ser um "mar de canas" e que para se produzir mel deboa qualidade, os apiários necessitariam estar a pelo menos 200 km dessa região. A Prefeitura não tem mãode obra suficiente para operar apiários produtivos, que possam extrair e processar este mel par abastecer amerenda escolar.

- A Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, que desenvolve pesquisas com abelhas africanizadas hámuito tempo tem competência para dar cursos de Capacitação e Prevenção de Acidentes para os Bombeirose outras Entidades; domina as técnicas de instalação de caixas-iscas e uso de feromônios na atração dosenxames, mas não pode exercer a atividade de remoção de enxames em áreas urbanizadas por seusfuncionários, visto que isto se caracteriza desvio de função. Além disto, não tem equipamentos desegurança e pessoal treinado para se trabalhar em alturas e em áreas de risco.

Ela controla os enxames no Campus da USP instalando e monitorando caixas iscas e eventualmenteremovendo enxames alojados em tarefas que possam ser executadas em finais de semana e sem risco para apopulação.

Ligado a Universidade de São Paulo, a Unidade de Emergência do HC Cidade, dispõe de um setorcapacitado para entender ocorrências de risco com animais peçonhentos, incluindo aqui as cobras,escorpiões, aranhas, vespas e abelhas.

4.1, Busca de soluções

Diante dos diferentes impasses e dificuldades levantadas e da morosidade do Poder Público, na execuçãodo projeto de instalação e monitoramento de caixas iscas, que poderiam em parte minimizar os problemas, aUniversidade de São Paulo, desenvolveu um equipamento denominado Coletor Eficiente de Abelhas, quepermite a retirada dos enxames em áreas urbanizadas e de risco com grande segurança. (figura 4).

4.2 Coletor Eficiente de Abelhas

Foi desenvolvido por Pedro Caetano, apicultorautônomo; Jairo de Souza, técnico do Departamento deGenética da FMRP-USP e Ademilson Espencer EgeaSoares, docente do Departamento de Genética da FMRP-USP

Este equipamento está sendo patenteado e já foi utilizado mais de 30 vezes na remoção de enxames em áreas

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de risco, com a captura total das abelhas, inclusive da rainha, utilizando técnicas de sucção. Visto que oenxame não é morto, ele pode ser passado facilmente para uma colméia racional e ser utilizado na apiculturaconvencional. Todos os enxames capturados com este equipamento, não geraram nenhum tipo decontratempo. Foram remoções rápidas e seguras (Soares, 2010).

4.3. Avaliação do material genético

Evidentemente que estes enxames capturados pelo Coletor Eficiente de Abelhas são utilizados em colméiasracionais de produção e devidamente avaliados como possíveis fontes de material genético, para osprogramas de seleção e fornecimento de rainhas. Uma das formas de se avaliar o desempenho da colônia éestimar o seu ganho de peso ou número de favos de mel produzidos durante o período de floração principal.A morfometria de asas e de abdômen pode ser considerada com bons estimadores no potencial genéticodas rainhas, conforme foi demonstrado por Costa-Maia (2009).

Embora o Brasil ainda não apresente problemas significativos com relação a ocorrência de doenças e o usoindiscriminado de antibióticos, que possam contaminar o mel, o pólen e a cera, vale a pena ressaltar que abusca de matrizes que apresentam comportamento higiênico não deve ser negligenciada dentro dosprogramas de seleção. Em estudos recentes determinou-se que o comportamento higiênico é controlado porseis loci quantitativos (Oxley at al, 210) e que a seleção efetiva de matrizes, tem contribuído para odesenvolvimento de linhagens resistentes nas grandes empresas de fornecimento de rainhas nos USA(Spivak, 2010)

4.4. Distribuição de rainhas

Baseando-se no modelo desenvolvido pelo Depto. de Genética da Faculdade de Medicina de RibeirãoPreto, USP, hoje existem empresas especializadas que produzem e enviam rainhas geneticamenteselecionadas para os apicultores, pelo sistema SEDEX.

4.5. Expectativa futura.

Implantações de centrais de produção de rainhas em diferentes regiões do Brasil e que possam produzirrainhas selecionadas e mantidas por inseminação instrumental, contribuindo para o aumento daprodutividade de própolis no país.

Referências Bibliográficas

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