Programa municipal Ordem na Casa tem desafio de melhorar uma cidade degradada
ANÁLISE DE SOLOS E SEDIMENTOS DA ÁREA DEGRADADA POR … · enquadrado no grupo dos climas...
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ANÁLISE DE SOLOS E SEDIMENTOS DA ÁREA DEGRADADA POR EROSÃO URBANA NA AVENIDA VITALINA MARCUSSO - MUNICÍPIO DE OURINHOS/SP
Juliana Marina Zanata, UNESP/Campus Experimental de Ourinhos, [email protected]; Profa. Dra. Maria Cristina Perusi, UNESP/Campus Experimental de Ourinhos, [email protected], Anahi Chimini Sobral,UNESP/ Campus Experimental de Ourinhos, [email protected]
RESUMO: É notório o fato de que o crescimento das cidades, sem o planejamento adequado, é um dos agravantes dos processos erosivos urbanos. A erosão é um fenômeno natural que ocorre independente da ação humana. Com a interferência antrópica, esse processo tende a ser intensificado. Com a erosão, além do empobrecimento do solo pela perda de nutrientes e matéria orgânica, ocorre também a contaminação dos recursos hídricos, pois a água que não infiltra arrasta consigo diversos produtos químicos como corretivos, fertilizantes, condicionadores e agrotóxicos. No município de Ourinhos/SP pode-se perceber essas característica na área degradada localizado ao longo da Avenida Vitalina Marcusso, a jusante do Córrego Água da Veada. A origem do processo erosivo deve-se à captação do ponto de lançamento de uma rede de drenagem de 4 bairros para uma propriedade privada que pratica atividade pecuária dentro do perímetro urbano. Os sedimentos resultantes do processo erosivo se concentram na nascente do referido córrego, tornando-o totalmente assoreado. Sendo assim, este trabalho tem como objetivo identificar as alterações físicas e químicas dos solos e sedimentos do entorno e do talvegue da erosão, que se apresenta na forma de ravinas e voçorocas. Na primeira etapa do trabalho foram realizadas coletas de amostras de solos em 5 pontos: duas amostras distantes 200 metros da cabeceira da erosão e três nas proximidades do ponto de lançamento de rede de drenagem, responsável pelo agravamento do processo erosivo: uma amostra coletada na área central deste, e duas distantes 20 metros, lados direito e esquerdo do início do processo erosivo. Foram feitas análises físicas e químicas das amostras. Por hora, os resultados permitem concluir que as amostras coletadas nas proximidades do processo erosivo apresentam interferência antrópica, principalmente na boca de lobo, onde o solo perdeu suas características compatíveis com o material de origem, configurando um depósito tecnogênico.
Palavras-chaves: erosão, planejamento urbano, degradação ambiental.
ABSTRACT: As we can notice, the cities growth without the adjusted planning is one of the aggravations for the urban erosive processes. The erosion is a natural phenomenon which occurs independently of the human action but with its interference, this process tends to be intensified. Besides the erosion and its consequent impoverishment of soil because of its loss of nutrients and organic matter, occurs on the same way the contamination of the water resources, for the reason that, the water which doesn’t infiltrates, takes with itself several of chemistries products just as correctives, fertilizers, conditioners and pesticides. In Ourinhos´s Municipality/ SP we can notice these events in a degraded area which is localized throughout of the Vitalina Marcusso Avenue, downstream of “Água da Viada” stream. The origin of this erosive process occurs because of the capitation of the launching point of a draining net which is located near around of four neighborhoods. This launching is on behalf of a private property which practices cattle on its urban edge. The resultant sediments from the erosive process concentrate themselves at the spring of the “Águas da Viada” stream, becoming all it long in a silting river. So this research objects to identify the physical and chemistries changes of the soils and the sediments on its around besides the thalweg and the erosion, which plays on ravines and gullies form. At the first part of this research were done collections of soils sample’s in 5 points: two samples far 200m from the erosion’s headwater and 3 samples near of the point of the draining net, responsible for the aggravation of the erosive process: regarding these 3 samples, one was collected from the central area, the others were collected in a far of 20m, its sides are right and left considering the beginning of the erosive process. Chemistries and physical analysis were done. For the moment the results allow us to conclude that the collected samples near of the erosive process plays a human action interference mainly in “Boca de Lobo”, place where the soils arrives without its original characteristics, configuring itself as a tecnogenic deposit.
Key words: EROSION, URBAN PLANNING, ENVIRONMENTAL DEGRADATION.
INTRODUÇÃO
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O processo de produção do espaço urbano, quando realizado de forma acelerada e desordenada,
pode resultar em sérios problemas no que diz respeito aos impactos ambientais. Segundo o artigo 1° da
resolução N.°001/86 do CONAMA (1986) impactos ambientais consiste em: Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas, biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que afetam direta ou indiretamente: a saúde, a segurança, e o bem estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias ambientais; a qualidade dos recursos ambientais.
De acordo com Carrijo e Baccaro (2000) são várias as conseqüências do processo de
urbanização, como os loteamentos, a impermeabilização do solo para a construção civil, aumento da
degradação ambiental decorrente da concentração da população em áreas urbanas.
Braga (2003, p. 01) complementa que:
As cidades são, certamente, as construções humanas de maior impacto na superfície terrestre. (...) Além disso, o avanço da urbanização sobre o meio natural, de maneira desordenada, tem causado a degradação progressiva das áreas de mananciais remanescentes, com a implantação de loteamentos irregulares à instalação de usos e índices de ocupação incompatíveis com a capacidade de suporte do meio. O parcelamento indiscriminado do solo nas periferias urbanas é uma das principais fontes de problemas ambientais das cidades.
Segundo o referido autor, o processo de urbanização modifica todos os elementos da paisagem:
o solo, a geomorfologia, a vegetação, a fauna, a hidrografia, o ar e, até mesmo, o clima. O processo de urbanização e as alterações decorrentes do uso do solo, como a retirada da vegetação (que desprotege os corpos d’água e diminui a evapotranspiração e a infiltração da água) e a impermeabilização do solo (que impede a infiltração das águas pluviais), causam um dos impactos humanos mais significativos no ciclo hidrológico, principalmente sobre os processos de infiltração, armazenagem nos corpos d’água e fluxo fluvial (BRAGA, 2003, p. 03-04).
Segundo Freire (2006) a relação entre a natureza do solo e a urbanização, o estabelecimento de
distritos industriais é, também, bem conhecida, porque a natureza do solo se reflete na salubridade das
áreas urbanas, na poluição dos cursos d'água e na degradação estética do ambiente. Uma forma de
manifestação desta degradação estética do ambiente são os processos erosivos, que se manifestam
principalmente na forma de ravinas e voçorocas, que além de contribuir prejudicialmente para a
estética do meio ambiente afetam o recurso natural solo, desagregando-o e tornando-o menos fértil.
De acordo com Pires e Souza (2006) com a erosão, além do empobrecimento do solo pela
perda de nutrientes e matéria orgânica, e do próprio solo, ocorre também à contaminação dos recursos
hídricos, pois a água que não infiltra arrasta consigo além desses elementos, diversos produtos
químicos como corretivos, fertilizantes, condicionadores e agrotóxicos.
Para Bertoni e Lombardi Neto (2005) o solo perdido pela erosão hídrica é geralmente mais
fértil, contendo os nutrientes das plantas, húmus e algum fertilizante que o lavrador tenha aplicado.
Assim, milhões de toneladas de solo superficial são perdidos anualmente.
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O processo erosivo ocorre de forma diferenciada em áreas rurais e urbanas. Enquanto que em
áreas rurais o principal agravante para tal problema, fica a cargo do manejo inadequado dos solos,
como por exemplo, plantio em declive sem a utilização de curvas de nível, desmatamento, plantio de
monoculturas, pisoteio de gado, dentre outras. Em áreas urbanas o principal agravante é o
planejamento inadequado na execução de obras, principalmente de drenagem, Ramos (1995) citado
por Silva et al. (2003-2004, p. 48) afirmam que: A erosão e o transporte de sedimentos superficiais de uma região urbanizada diferem significativamente dos processos que ocorrem em regiões onde o uso do solo é predominantemente para fins rurais. Nas áreas urbanas, embora possam ocorrer modalidades de erosão semelhantes às áreas rurais, predominam aquelas decorrentes da concentração de fluxo, principalmente em razão de deficiências do sistema de drenagem.
Na área estudada no presente trabalho, identificam-se atividades rurais no perímetro urbano,
como a criação de gado de corte, cujo pisoteio dos animais provoca compactação do solo e erosão
zoógena. O quadro de degradação é agravado com o ponto de lançamento de uma rede de drenagem
que capta a água pluvial dos bairros do entorno para dentro da propriedade. Esse fato acaba
contribuindo para a formação de ravinas e voçorocas, bem como pontos de depósitos tecnogênicos,
formadas a partir da tentativa de conter o avanço do processo erosivo. Além disso, a área degradada
localiza-se a montante do córrego Água da Veada, afluente do rio Pardo, tributário do rio
Paranapanema, resultando no assoreamento dos referidos cursos hídricos.
Inserido nesse contexto, o objetivo deste trabalho é identificar as alterações físicas e químicas
dos solos do entorno da erosão urbana localizada na Avenida Vitalina Marcusso, município de
Ourinhos-SP (Figura 1) bem como do talvegue da mesma, tendo como padrão de comparação amostras
de perfis de solo que guardam características edáficas mais conservadas.
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Figura 1: Localização do município de Ourinhos no Sudoeste do Estado de São Paulo e delimitação da área de pesquisa
CARACTERÍSTICAS GERAIS DO MUNICÍPIO E DAS ÁREAS AMOSTRADAS
O município de Ourinhos localiza-se no sudoeste do Estado de São Paulo (Figura 1). No ano de
2007, segundo o IBGE, contava com 98.868 habitantes, sendo que destes 96,30% se encontram na área
urbana do município. Teve como marco de fundação o ano de 1918, diretamente relacionado com a
cultura do café. Atualmente a agroindústria da cana-de-açúcar configura-se como a principal atividade
econômica. Os solos do município, de acordo com a EMBRAPA (1999) são os Latossolos Vermelhos,
oriundos do intemperismo do basalto, Grupo São Bento, formação Serra Geral. De acordo com a
classificação climática de Strahler, citado por SIGRH (2000), o município de Ourinhos está
enquadrado no grupo dos climas controlados pelas massas de ar tropical e polar em permanente
alteração e no sub-grupo do clima subtropical úmido das costas ocidentais e subtropicais dominadas
largamente pela massa tropical marítima (Tm).
Os pontos de coleta das amostras analisadas no presente trabalho situam-se em uma área de
embaciamento, que recebe grande quantidade de material particulado e coloidal, fator que contribui
com a aceleração do processo de degradação dos solos desta área, localizada nas proximidades da
Avenida Vitalina Marcusso, Jardim das Paineiras, município de Ourinhos-SP. As propriedades
pertencem à família Marcusso desde 1935. Há cerca de 20 anos, grande parte das terras foram loteadas
pela empresa Santa Paula, responsável pela construção dos bairros Jardim das Paineiras e Jardim
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Brilhante. A referida propriedade foi repartida entre os herdeiros de Vitalina Marcusso, e hoje se
resume em duas porções de terra separadas pela Avenida Vitalina Marcusso: uma localizada a
montante da área degradada, fora da influência da erosão, chácara Peretti, onde foram coletadas as
amostras 1 e 2, e a outra onde se identifica o foco erosivo, local de coleta das amostras 3,4 e 5 (Figura
2).
Figura 2. Localização dos pontos de coleta das amostras de solo Fonte: Google earth (2009)
Na chácara Peretti, que compreende em média um hectare, pode ser encontrado, além da
residência e do pomar, uma área destinada ao cultivo de hortaliças, que é comercializada nos pequenos
supermercados do município. No local destinado á horta o proprietário realiza correção do solo por
conta própria, aplicando em média, 250 gramas de calcário por m2. Em entrevista com Perretti (2008)
afirmou que esse procedimento vem sendo realizado durante os últimos dois anos, mas nunca coletou
uma amostra de solo para realizar análises e nem tem assessoria de um técnico agrícola.
Na chácara foram coletadas amostras compostas na área com gramíneas, onde não é realizada
correção de solo (amostra 1), e outra na horta, onde o solo é corrigido (amostra 2). Essa propriedade
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foi escolhida para a coleta de amostras por estar fora da área de influência do quadro erosivo sendo,
portanto, utilizadas para fins de comparação.
Com a construção da Avenida Vitalina Marcusso e o loteamento dos bairros adjacentes, fez-se
necessário a construção de um ponto de lançamento de rede de drenagem, a partir de um acordo
estabelecido entre a prefeitura, a loteadora e a família Marcusso. O ponto de lançamento da rede de
drenagem, por onde desembocam as águas pluviais, foi implantado na propriedade da família
Marcusso, onde se identifica os quadros de intensa erosão. Como essa obra de engenharia não fora
devidamente planejada, resultou em um quadro de degradação urbana com a presença de ravinas e
voçorocas, ocasionando assoreamento do Córrego Água da Veada, localizado a jusante da erosão.
Segundo o coordenador de Urbanismo da Secretária Municipal de Desenvolvimento Urbano de
Ourinhos, a construção do ponto de lançamento da rede de drenagem, tanto na configuração antiga,
que fora completamente destruída pela erosão, quanto à configuração atual, não possui um histórico
documentado, uma vez que não houve um planejamento. Segundo Ramos (2007) “a causa era
emergencial e estava ameaçando a pavimentação da avenida” o que evidencia a falta de
dimensionamento da obra.
Essas circunstâncias acabam comprometendo a nascente do córrego Água da Veada, uma vez
que todo material particulado tende a se concentrar na nascente, deixando-o completamente assoreado.
Segundo o coordenador de Urbanismo essa área vai ser assistida pelo Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) através da canalização do referido córrego.
Na área degradada desenvolve-se atividade pecuária onde a vegetação predominante é a
brachiária decumbens. Observam-se focos de ravinas e voçorocas que percorrem uma área de
aproximadamente 600 m de extensão, com 15 metros de largura e 9 metros de profundidade nos
pontos mais críticos (Figura 3). Esse panorama sugere risco eminente para o gado, uma vez que podem
cair dentro da erosão.
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Figura 3. Ponto crítico do processo erosivo
Em meio a esse quadro de degradação, foram coletadas amostras simples, sendo uma obtida
no ponto central da rede de drenagem (Figura 4), por onde escoa toda água pluvial captada nos bairros
adjacentes (amostra 3), outras duas distantes 20 m da cabeceira do processo erosivo, sendo uma a
esquerda (amostra 4) e a outra a direita (amostra5).
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Figura 4. Coleta no ponto central da rede de drenagem
MATERIAL E MÉTODOS
Material
O material utilizado no presente trabalho é oriundo do processo de intemperização do basalto,
mais especificamente Latossolo Vermelho (EMBRAPA, 1999). De acordo com a EMBRAPA (2006,
p. 82), os latossolos são “constituídos por material mineral, como horizonte B latossólico
imediatamente abaixo de qualquer um dos tipos de horizonte A, dentro de 200 cm da superfície do solo
ou dentro de 300 cm, se o horizonte A apresenta mais de 150 cm de espessura”. Os perfis destes solos
são espessos, com mais de 3 metros de profundidade e de coloração avermelhada. A textura varia de
argilosa a média. São, em geral, solos com boas propriedades físicas, de excepcional porosidade total,
sendo comuns valores de 50-60 % e, conseqüentemente, de boa drenagem interna, mesmo nos de
textura argilosa (LEPSCH, 2002).
Foram analisadas duas amostras compostas de solos (pastagem: amostra 1 e horta: amostra 2,
resultado da homogeneização de 100 g de amostras simples coletadas em 5 pontos em cada área)
localizadas a montante da área degradada na Avenida Vitalina Marcusso, fora da área de influência da
erosão. Além disso, foi coletada uma amostra simples no ponto central de lançamento da rede de
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drenagem: amostra 3; duas amostras simples há vinte metros da cabeceira da erosão: uma do lado
esquerdo: amostra 4 e outra do lado direito: Amostra 5.
Metodologia de campo e laboratorial
Os procedimentos metodológicos para coleta das amostras dos solos foram realizados de
acordo com Santos et al. (2005). Para o trabalho de campo foram necessários os seguintes materiais:
enxadão, trena, sacos plásticos, G.P.S, martelo pedológico, prancheta, caneta, pisseta com água, anel
de Koppec, espátula, câmera fotográfica, cartas topográficas, mapas geológicos, geomorfológicos e
pedológicos.
Para obtenção da amostra composta, representativa da área de pastagem, em uma área de 400
m2, em pontos considerados convenientes de acordo com a metodologia, foram obtidas 5 amostras
simples a uma profundidade de 20 cm da superfície. Esse local está distante a aproximadamente 200 m
da cabeceira do processo erosivo, fora da influência da área degradada. As amostras, 100 g de cada
ponto, foram colocadas em sacos plásticos limpos e devidamente identificados. Parte das 500 g
resultantes desse procedimento foi utilizada para as análises físicas: textura e densidade da partícula.
Essas análises foram realizadas pela bolsista com a orientação da técnica Eliete Gomes da Silva, no
Laboratório de Geologia, Geomorfologia e Pedologia da UNESP/Campus Experimental de Ourinhos,
de acordo com a EMBRAPA (1997). Parte das amostras foi encaminhada para o Laboratório de Solo
do Departamento de Solos e Adubos da UNESP/Campus de Jaboticabal para a realização das análises
químicas, método IAC.
A segunda amostra composta foi obtida utilizando o mesmo procedimento anteriormente
descrito. Essa amostra é representativa de uma área de horta que ocupa aproximadamente 400 m2. Para
melhor êxito da produção, são realizadas correção de solo com calcário.
Na oportunidade, foram coletados anéis volumétricos para determinação da densidade do solo,
com duas repetições em cada área, a 20 cm de profundidade. Esse procedimento foi realizado no ponto
central das áreas amostradas (Figura 5).
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Figura 5. Coleta do anel volumétrico a 20 cm de profundidade
Na área de influência da erosão, foram coletadas três amostras simples, uma no ponto central
da rede de drenagem, e duas distantes 20 m da cabeceira do processo erosivo, sendo uma a esquerda e
a outra a direita (de costas para a rede de drenagem), igualmente a uma profundidade de 20 cm da
superfície. Também foi coletado o anel volumétrico nos três pontos.
Análises físicas
As análises físicas foram realizadas no Laboratório de Geologia, Geomorfologia e Pedologia do
Campus Experimental de Ourinhos de acordo com a EMBRAPA (1997).
Para compreender o processo de alteração da composição física dos solos, foram analisadas as
seguintes propriedades:
Análise textural da TFSA: método da pipeta, expresso em g.kg-1. Classe textural determinada
pelo Diagrama de repartição de classes texturais para classificação granulométrica do material
constitutivo das camadas do perfil (LEMOS; SANTOS, 1984 citados por OLIVEIRA et al.,
1992);
Densidade da partícula: método do balão volumétrico, expresso em kg.dm-3;
Densidade do solo: método do anel volumétrico, expresso em kg.dm-3;
Porosidade total do solo (VTP): método indireto = 100 X (DP – DS) / DP. Onde: DP=
Densidade da partícula; DS = Densidade do solo. Resultado dado em porcentagem;
Análises químicas
As análises químicas foram feitas no Laboratório de Solo do Departamento de Solos e Adubos
da UNESP/Campus de Jaboticabal, para fins de fertilidade. Foram feitas as seguintes determinações:
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Fósforo (P) – resina. Dado em mg/dm3;
Matéria orgânica (M.O.) – g/dm3;
Índice de acidez (pHCaCl2);
Potássio (K). Expresso em mmolc/dm3;
Cálcio (Ca). Expresso em mmolc/dm3;
Magnésio (Mg). Expresso em mmolc/dm3;
Alumínio (Al). Expresso em mmolc/dm3;
Soma de Bases (SB). Expresso em mmolc/dm3;
Capacidade de troca catiônica (CTC). Expresso em mmolc/dm3;
Saturação por Bases (V). Expresso em porcentagem (%).
RESULTADOS E DISCUSSÂO
Resultado das análises físicas
Segundo Kiehl (1979), o valor esperado para a densidade de um solo argiloso fica em torno de
1,00 a 1,25 kg.dm-3. No caso das amostras analisadas, pode-se notar que todos os resultados deram
acima do que é esperado segundo o referido autor, variando de 1,4 a 1,7 kg.dm-3, como se pode
observar na Tabela 3.
Tabela 1. Resultado da determinação da densidade do solo, da partícula e da porosidade.
Amostra Densidade do solo
Densidade da partícula
VTP*
kg.dm-3 % 1 1,47 2,44 40 2 1,77 2,60 32 3 1,63 2,56 36 4 1,60 2,43 34 5 1,60 2,47 35
* Volume Total de Poros
Com esses resultados pode-se inferir que o solo sofre com o processo de compactação. Na
amostra 2 esse fator pode ser atribuído ao pisoteio de pessoas que cultivam a horta. Na amostra 3 o
resultado é conseqüência da presença de material antropogênico, como por exemplo a presença de
brita, areia de construção, dentre outros. Nas amostras 4 e 5 o resultado pode ser atribuído ao pisoteio
do gado, uma vez que a área é utilizada como pastagem. Nessas condições, os resultados da
determinação da densidade do solo são compatíveis com as referências consultadas.
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Quanto à densidade da partícula, como se pode observar na Tabela 1, pode-se afirmar que se
trata de solos eminentemente minerais, podendo inferir que se trata da caulinita, um dos principais
componentes minerais do solo em questão, por ser este material o que se encontra no estágio mais
avançado de intemperização. Sendo assim, característico dos latossolos, que segundo Freire (2006), é
típico de climas tropicais.
O VTP, volume total de poros, corresponde à porção do solo preenchida por água e ar. São
consideradas como poros todas as lacunas presentes entre uma partícula e outra, inclusive aquelas
provocadas pela ação de atividades de animais e das raízes. Segundo Kiehl (1979) a porosidade
esperada para solos argilosos gira em torno de 40 a 60 %. No caso das amostras em questão, os
resultados estão em torno de 35 a 40 %, diretamente relacionado com valores altos da densidade do
solo. Sendo assim, quanto maior a densidade do solo, maior a compactação, menor a porosidade. Pode-
se inferir que nessas condições, tanto o ar quanto a água teriam dificuldades de circulação/percolação,
respectivamente, sendo esse um dos agravantes para o quadro de erosão.
Segundo Freire (2006), os solos são compostos por uma mistura da areia, de silte e de argila em
diferentes proporções. São considerados solos arenosos os que possuem mais de 70 % de areia, e
argilosos quando contém mais de 35 % de argila.
No caso das amostras, 1, 2 e 5, estão dentro da classe textural argilosa, como se pode observar
na Tabela 2. Essa conduta é típica do solo que predomina na área pesquisada, o latossolo,
predominantemente argiloso, por ser oriundo da intemperização do basalto.
Tabela 2. Resultado da análise textural. Fracionamento da areia*
Amostras Areia Silte Argila MG G M F MF
g.kg-1 g.kg-1
1 438 142 420 0,0 27,2 24,2 42,2 30,9 2 500 124 376 0,1 2,3 25,6 42,9 29,1 3 928 48 24 14,7 24,9 44,9 13,7 1,8 4 620 280 100 0,8 0,3 29,3 44,0 25,6 5 466 116 418 0,4 5,1 35,9 39,4 19,3
MG: areia muito grossa; G: areia grossa; M: areia média; F: areia fina; MF: areia muito fina.
Quanto as amostras 3 e 4, são consideradas exceções, pois sofreram com a interferência
antrópica, apresentando uma grande heterogeneidade de materiais, manifestado na presença de
inúmeros artefatos que não fazem parte do material de origem, no caso, o basalto. Essas amostras
podem ser consideradas como depósitos tecnogênicos, pois não apresenta característica típica da
estrutura de um solo, resultante da dinâmica da natureza. O local de coleta destas amostras é uma área
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de embaciamento, que recebe grande quantidade de material particulado e coloidal, fator que contribui
com a aceleração do processo de degradação dos solos desta área.
A amostra 3, coletada no ponto de lançamento da rede de drenagem, apresenta inúmeros
materiais antropogênicos como brita, tijolo, restos de matérias de construção, dentre outros. Quanto a
amostra 4, pode-se inferir que tal comportamento se deve ao fato de que à montante desse ponto,
encontra-se uma área urbanizada resultando no transporte e deposição desses materiais.
A presença da fração areia muito grossa na amostra 3 (Tabela 2) é prova definitiva da presença
de materiais incompatíveis com a rocha de origem, cuja principal característica é a textura afanítica.
Sendo assim, pode-se inferir que o predomínio das texturas mais grosseiras devem ser oriundas de
restos de materiais gárbicos e úrbicos, transportados pela água pluvial. Ainda na Tabela 2, pode-se
observar que nas demais amostras predominam texturas de areia média, fina e muito fina, aí sim,
compatível com as características do material de origem.
Resultado das análises químicas
Como se pode observar na Tabela 3, o pH do solo varia de acidez muito alta, como identificado
na amostra 4, com valor de 4.3; média para o valor de 5,5 (amostras 1 e 5); 5.7, e acidez baixa
(amostra 2) e muito baixa, 6, 3 (amostra 3).
Tabela 3. Resultado das análises químicas.
Amostra pH em
CaCl2
M.O.
g/dm3
P Resina
mg/dm3
K Ca Mg H+Al SB T V
mmolc/dm3 %
1 5.5 17 27 2.4 36 15 22 53.4 75.4 71 2 5.7 17 56 3.8 42 20 18 65.8 83.8 79 3 6.3 7 182 1.8 189 32 10 222.8 232.8 96 4 4.3 14 4 1.0 8 3 38 12.0 50.0 24 5 5.5 21 7 0.6 36 20 28 56.6 84.6 67
A acidez ou alcalinidade do solo quantificada através do pH, são fatores que afetam
inteiramente a produtividade agrícola, uma vez que solos ácidos comprometem negativamente a
capacidade de troca catiônica, como se pode constatar na amostra 4. Além disso, com relação a
referida amostra, nota-se que num quadro de acidez muito alta, 4,3 os elementos como, P, K, Ca e Mg
apresentam-se em quantidades menores, se comparados aos de acidez média e baixa, respectivamente,
5,5 e 5,7. Cumpre esclarecer que no solo da amostra 2, obtida na horta, comumente é feita correção
com calagem, procedimento este responsável pela acidez baixa.
Quanto à quantidade de matéria orgânica, pode-se notar a presença de valores relativamente
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baixos, aliás, abaixo da média do Estado de São Paulo que fica em torno de 2,99 % ou 29,9 g/dm3
(KIEHL, 1979). O maior valor encontrado foi identificado na amostra 5, área destinada à pastagem,
com 21 g/dm3, as demais amostras apresentam valores em torno de 7 a 17 g/dm3. O menor valor
encontrado, 7 g/dm3, é referente a amostra 3, obtida na área central do ponto de lançamento da rede de
drenagem, esse fato pode ser explicado devido a ausência total de cobertura vegetal. A escassez de
matéria orgânica, importante propriedade química, permite inferir que nos locais amostrados
predomina material mineral, atribuído à retirada e/ou a inexistência de cobertura vegetal densa.
Nas amostras analisadas é possível perceber uma grande variação do teor de (P), de baixo a
muito alto. Nas amostras 1 e 2, utilizadas para comparação, pode-se notar que a quantidade de fósforo
é ideal, principalmente na amostra 2, onde o solo é corrigido e cultivado com hortaliças. Na amostra 3,
a quantidade elevada deste elemento deve-se ao fato da grande quantidade de materiais particulados,
heterogêneos, de diversas origens que esta área recebe. As amostra 4 e 5 apresentam deficiência do
elemento em questão, por encontrar-se em uma área degradada, cujos elementos químicos tendem a ser
lixiviados e/ou carreados pela água pluvial.
No caso do potássio, a variação fica em torno de 3,8 mg/dm3 a 0,6 mg/dm3. Nas amostras 1 e 2 a
presença desse elemento é a esperada para um solo fértil. O maior valor (3,8 mg/dm3, amostra 2), foi
obtido em uma área onde o solo é corrigido. A amostra 3 é uma exceção, pois apresenta uma
heterogeneidade de materiais, por isso o valor encontrado não remete á uma área fértil. Quanto às
amostras 4 e 5 os valores são baixos, revelando a perda de nutrientes, devido ao processo erosivo.
Com relação ao Ca e Mg, observa-se que todas as amostras apresentaram valores altos desses
elementos. Isso pode ocorrer devido ao transporte e deposição de materiais de característica básica,
utilizados nos processos de urbanização. As exceções são as amostras 3 e 4. A amostra 3 apresenta um
valor elevado de Mg e Ca, mais uma vez podendo estar associado a deposição de materiais bastante
heterogênios. A amostra 4, com um valor 3 mmolc/dm3 de Mg e 8 mmolc/dm3 de Ca, pode estar relacionado
com a lixiviação e transporte desses minerais por água pluvial. A perda desses nutrientes compromete o
crescimento vegetativo das plantas. Nessas condições, pode-se inferir que a cobertura vegetal no local,
trata-se de uma pastagem degradada.
O maior valor de CTC foi encontrado na amostra 3, com 232,8 molc/dm3, o que pode ser
atribuído à diversificada quantidade de material particulado presente na área e a acidez muito baixa
(6), confirmando a correlação positiva entre o pH e o aumento da CTC. Cumpre esclarecer que a
amostra 3 configura-se como um depósito tecnogênico, não um solo com características naturais. O
valor alto da CTC na amostra 2 é devido ao cultivo de hortaliças em solo corrigido com calcário, o que
faz com que a acidez seja corrigida, aumentando igualmente a CTC.
O resultado da saturação por bases (V%), permite constatar que, com exceção da amostra 4, as
demais apresentam V % > 50, o que denota um caráter de maior disponibilidade de nutrientes.
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CONCLUSÕES
Baseada nos resultados laboratoriais constata-se intensa alteração das propriedades físicas e
químicas dos solos analisados. Essa afirmação é ainda mais representativa quando se compara a área
que não sofre influência da erosão com as amostras da área degradada. A pouca expressividade de
determinados nutrientes, como fósforo e o potássio nas amostras 4 e 5, legitimam essa afirmação. A
amostra 3 é considerada uma exceção, pois as características pertinentes aos latossolos foram
completamente alteradas, configurando notadamente um depósito tecnogênico. Entende-se que esses
resultados são pertinentes, uma vez que se trata de áreas intensamente modificadas pela ação antrópica,
mesmo aquelas analisadas como padrão de comparação, amostras 1 e 2.
Pode-se concluir, portanto, que os solos urbanos perdem suas características naturais em
decorrência de mobilização para edificações, urbanismo, acondicionamento de resíduos das mais
diversas origens, etc. Além disso, o uso inadequado do solo, manifestado nesse caso na forma de uma
obra de engenharia “a-dimensionada” pela Secretaria de Obras da prefeitura municipal, resultou na
formação de uma paisagem construída, degradada, incompatível com os princípios éticos da
conservação ambiental. Nesse sentido, o recurso natural solo vem sendo constantemente alterado, o
que afeta suas potencialidades.
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