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Análise das condições microclimáticas da Biblioteca Central da UFMG
e de seu entorno para a conservação de seu acervo
Carolina Concesso Ferreira
Danielle Luce Cardoso
Raquel F. G. Augustin
Eleonora Sad de Assis
Carolina Concesso Ferreira - Danielle Luce Cardoso - Raquel F. G. Augustin - Eleonora Sad de Assis
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Resumo
Este trabalho apresenta as condições de conservação a que o acervo da Biblioteca Central
da UFMG está submetido. Grande parte das coleções de bibliotecas é formada por objetos em
papel, o qual está sujeito a diversos tipos de danos ambientais ocasionados por altos valores de
umidade relativa e temperatura e/ou pela flutuação dos mesmos. O objetivo foi estudar a relação
entre as condições climáticas do entorno e do interior do prédio, identificando a influência das
características térmicas das envoltórias do edifício. Através da organização dos dados no
Diagrama de Isopermanências e do software Dew Point©, observou-se a taxa de deterioração a
que o acervo está exposto nas atuais condições proporcionadas por tais características térmicas.
Notou-se que o acervo encontra-se em ambiente com níveis inadequados de umidade relativa e
temperatura, considerados elevados para acervos em papel, além da flutuação de tais níveis, que
pode ser mais prejudicial ao acervo do que seus altos valores. Constatou-se que as envoltórias
externas são ineficientes quanto a garantir a inércia térmica desejável para um edifício biblioteca,
mostrando-se necessária a climatização do prédio a fim de propiciar efetiva conservação dos bens
sob a guarda da Biblioteca Central da UFMG.
Abstract
This paper presents the actual conditions of conservation for the collection of the UFMG Central
Library. Most of libraries have their collections made up of paper, which is subject to various types
of environmental damage caused by high values of relative humidity and temperature and/or their
fluctuation. The aim was to study the relationship between climate conditions around and inside the
building, identifying the influence of the thermal characteristics of building envelopes. Data plotted
on the Isoperm Diagram and Dew Point© software, allowed to notice the rate of the collection
deterioration. It was observed that the collection is in inadequate environment with high levels of
relative humidity and temperature for paper collections. In addition the fluctuation of the variables
values may be more harmful to the collection than their high values. It was also found that the
building envelope is inefficient in terms of ensuring the thermal inertia desirable for a library building.
Therefore, a climatization should be necessary in order to provide effective conservation for this
collection.
Análise das condições microclimáticas da Biblioteca Central da UFMG para a conservação de seu acervo
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1. Introdução
Arquivos e bibliotecas abrigam coleções, por vezes, únicas, de importância cultural,
histórica, etc. Sua salvaguarda deve ser vista, portanto, como o aspecto mais relevante na
concepção ou readaptação de edificações que abrigam tais coleções, considerando que o
edifício será o principal elemento a protegê-las “de danos causados por temperatura,
umidade, luz, tempestades, água, incêndio, pragas e uma ampla gama de estragos”
(TRINKLEY, 2001: 9). A maior parte destas coleções possui como suporte o papel, o qual
está sujeito a diversos tipos de danos ambientais ocasionados por altos valores de umidade
relativa e temperatura e/ou pela flutuação dos mesmos.
A temperatura elevada atua como agente catalisador das reações químicas, acelerando a velocidade
do evento: de acordo com Trinkley (2001), um aumento de 7,8°C na temperatura duplica a taxa de
deterioração do papel. Já a absorção de umidade, quando o ambiente apresenta valores acima de 60%,
além de intensificar as reações de acidificação, pode gerar deformações físicas e facilitar a proliferação de
fungos. Por se tratar de um material higroscópico, a flutuação dos fatores ambientais promove uma
movimentação estrutural em escala celular. Além disso, as obras compostas por mais de um material
podem apresentar, segundo Teijgeler (2007), tensões em sua superfície de contato já que cada
componente possui um coeficiente térmico de expansão distinto.
Deste modo, é necessário um controle das condições microclimáticas a que o acervo está
exposto. Ogden (2001) relata que os valores recomendados internacionalmente variam entre 18°C
e 24°C para temperatura e para umidade relativa, 45% podendo variar de mais ou menos 3%. Uma
das formas mais usuais de controle ambiental é o uso de climatização artificial, entretanto, nem
todas as instituições têm condições financeiras para manter um sistema deste tipo, ficando as
coleções sujeitas à climatização natural que, por sua vez, é mediada pelas trocas térmicas entre
envoltórias da edificação e o exterior.
Alguns índices de adequação ambiental foram desenvolvidos por profissionais vinculados à
preservação de acervos para quantificar a influência dos valores de temperatura e umidade sobre a
permanência esperada de uma coleção. Dentre tais índices, pode-se citar o método das
isopermanências (SEBERA, 1997), destinado a acervos em papel, ou os critérios desenvolvidos
por Thomson (1994) e Michalski (s/d; 2007).
Visto que as envoltórias externas têm papel importante na proteção climática do acervo da
Biblioteca Central da UFMG, o presente trabalho visa estudar a relação entre as condições
climáticas do entorno e internas do edifício, verificando se as características térmicas das
envoltórias do edifício são adequadas para a sua função, além de analisar a taxa de deterioração
do acervo resultante destas condições microclimáticas.
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2. Recomendações para a conservação preventiva de acervos em papel
A conservação de acervos em papel é um dos temas mais estudados na área da conservação
preventiva, existindo atualmente numerosas diretrizes para a conservação desse tipo de acervo,
inclusive relacionadas ao desempenho das edificações que abrigarão tais coleções.
Thomson (1994) estabeleceu diretrizes para a conservação de acervos especiais e mistos.
Para ele, os índices de adequação ambiental não deveriam ser inflexíveis, e sim adaptados à
amplitude termo-higroscópica adequada ao material da coleção. Além disso, o autor defende a
ideia da aproximação entre valores climáticos internos e externos. Michalski (s/d; 2007) adota em
parte as recomendações de Thomson, indicando a necessidade de se estabelecer um intervalo
seguro de variação psicrométrica para o acervo e apresentando possibilidades de flutuações
aceitáveis para determinados níveis de preservação.
Sebera (2001) desenvolveu um procedimento objetivo, baseado na observação das condições
típicas de permanência de um acervo sujeito à variação de amplitude psicrométrica de temperatura
e umidade do ar, determinando as condições sob as quais o acervo estaria sujeito ao mesmo
período de existência.
Este procedimento, chamado método das isopermanências ou das isopermas, restringe-se ao
estudo da perda de resistência associada às reações químicas de hidrólise e de oxidação da
celulose. O Diagrama de Isopermanências (figura 1) mostra graficamente o efeito dos fatores
ambientais de temperatura e umidade relativa sobre a expectativa de vida útil prevista de coleções
em papel. No gráfico, a taxa de deterioração pode ser identificada a partir da combinação de pares
de temperatura e umidade relativa que resultam nas mesmas condições de permanência (mesma
linha de isoperma). Sebera define como linha de isoperma 1 a combinação de valores de 20°C e
50% tomados como referência, já que são condições comumente encontradas em áreas de
armazenamento, onde a coleção teria uma expectativa de permanência de 45 anos. As linhas de
isoperma localizadas à direita da linha de isoperma 1 representam um aumento na taxa de
deterioração, enquanto valores posicionados à esquerda indicam um decréscimo na taxa de
deterioração.
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Figura 1 - Diagrama de Isopermanências. Desenvolvido de acordo com Sebera, 2001.
Embora seja um dos métodos mais aplicados atualmente, há outros, como o índice de efeito-
tempo para preservação (IETP), direcionado aos materiais orgânicos em geral, que avalia a
eficiência do ambiente de armazenamento por meio de um procedimento de síntese dos dados
coletados.
O CONARQ (2000), Trinkley (2001) e outros autores relacionam a preservação dos acervos
com as edificações que os abrigam, buscando orientar as instituições mantenedoras em relação à
localização desses edifícios, seus materiais, equipamentos, prevenção e custo benefício durante o
planejamento para a construção, reforma ou adaptação de edifícios, a fim de se tornarem aptos a
suprir as necessidades ambientais dos acervos.
Carvalho (1998) apresenta a ideia de conciliação entre a conservação de acervos e a
arquitetura. A autora relaciona o controle ambiental para acervos com conceitos da arquitetura
bioclimática, indicando os aspectos que devem ser ponderados na concepção, manutenção e
adaptação dos espaços de salvaguarda específicos para acervo sobre papel em clima tropical
úmido.
Assis e Bastos (2007) desenvolveram um trabalho inicial que avaliou, através do método das
isopermas, as condições de permanência do acervo da Biblioteca da Escola de Arquitetura da
UFMG, o qual já demonstrava sinais de deterioração causada por condições microclimáticas
inapropriadas de armazenamento, apesar da adoção das rotinas recomendadas de manejo da
coleção. Através do programa Arquitrop®, as autoras simularam o desempenho termo-higrométrico
de um dos ambientes desta biblioteca e avaliaram as consequências de algumas propostas de
intervenção. Os dados gerados pela simulação foram tratados novamente pelo método das
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isopermas de modo a avaliar as melhores medidas de intervenção sem ter que submeter a coleção
ao eventual risco da implantação de cada medida.
Gonçalves et al (2008) abordam conceitos referentes ao uso de edifícios como ambientes de
guarda e exposição de coleções, apresentando a noção de planejamento como ferramenta de
preservação, na medida em que esta atividade, ao integrar os profissionais de conservação,
arquitetura e engenharia, poderia levar a uma especificação mais adequada de materiais, técnicas
construtivas, sistemas prediais, diminuindo a ocorrência de patologias específicas e riscos
vinculados à edificação que interferem na preservação do acervo. Os autores concluem
apresentando as possibilidades de análise dos componentes do edifício para propor medidas de
controle climático.
3. O edifício da Biblioteca Central da UFMG
O prédio da Biblioteca Central (BC) localiza-se em Belo Horizonte (Figura 2), tendo sido
construído na década de 1970 na parte nor-nordeste do campus universitário da UFMG (Figura 3).
A BC foi fundada em 1982 e no 4º andar deste prédio existem diversos setores com acervos
diferenciados, como a Divisão de Coleções Especiais (Figura 4). 1 Em decorrência da importância
destas coleções, tal andar foi escolhido como alvo de estudo do presente artigo.
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Figura 2 – Localização da cidade de Belo Horizonte, Brasil. Imagem adaptada de http:// www.pucminas.br Figura 3 – Edifício da BC no campus UFMG. Foto: Eber Faioli, s/d. Figura 4 – Planta esquemática do 4º andar da Biblioteca Central da UFMG. Adaptado de: https://www.bu.ufmg.br, acesso
10/07/2012.
O clima predominante na cidade de Belo Horizonte, onde o edifício se situa, é o tropical de
altitude. Michalski (2009) recomenda que se estabeleça o valor médio de umidade relativa no
decorrer do ano como valor padrão local e valores entre 15ºC e 25ºC de temperatura para a
conservação de acervos cujo principal suporte é o papel.
1 De acordo com as informações constantes em https://www.ufmg.br/boletim/bol1560/terceira.shtml e
http://www.bibliotecacentral.ufmg.br/index.php/pt/historia, ambos acessados em 10/07/2012.
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No caso de Belo Horizonte, os dados climáticos normais (INMET, 2009) indicam uma
temperatura média anual de 21,1oC, com o maior valor médio de 23,2oC ocorrendo em fevereiro e o
menor valor médio de 18,1oC no mês de julho. Quanto à umidade relativa, a média anual é de
72,2%, sendo o maior valor médio 79,0% em janeiro e o menor 64,5% ocorrendo em agosto.
Observa-se, portanto, que os valores médios de temperatura estão dentro da faixa recomendada
por Michalski (2009), enquanto que os dados de umidade apresentam uma amplitude média
superior aos 3% citados por Odgen (2001).
Os materiais constituintes das paredes externas do edifício são alvenaria de tijolo furado e
placas cimentícias (nos peitoris); a cobertura foi projetada como uma composição de telhas de
fibrocimento, laje de concreto e forro de lã de rocha. Esse sistema de cobertura cria duas câmaras
de ar entre seus componentes, uma entre as telhas e a laje e outra entre a laje e o forro.
A fim de identificar as condições de desempenho térmico das envoltórias do edifício,
foram calculadas as transmitâncias térmicas (U) de cada componente, de acordo com a
NBR-15220 (ABNT, 2003). A transmitância térmica ou coeficiente global de transmissão de
calor de um componente construtivo é o fluxo de calor que passa através desse componente,
na unidade de tempo e por unidade de área, quando há uma diferença unitária da
temperatura do ar em contato com cada uma de suas faces. Desse modo, pode ser
considerado um indicador do desempenho térmico de um componente da envoltória com
relação às trocas secas (calor sensível), em regime permanente. Se o valor da transmitância
térmica é alto, a componente construtiva intercambia calor com facilidade, caso contrário, a
componente oferece resistência ao intercâmbio térmico entre os ambientes externo e interno.
A telha de fibrocimento apresenta alta condutividade térmica, = 0,95 Wm-1K e pequena
espessura, o que favorece a transmissão do calor. Para compensar tal efeito, materiais com maior
resistência térmica devem ser usados na cobertura, considerando que a maior irradiância solar
ocorrerá sobre estas superfícies em regiões tropicais e, portanto, são essas as principais
superfícies a serem isoladas termicamente. A composição da cobertura deste prédio, com
pequenas câmaras de ar e uso do forro de lã de rocha, que tem baixa condutividade térmica ( =
0,045 Wm-1K) acabou por oferecer maior resistência à passagem do calor, com uma transmitância
térmica final de U = 1,35 Wm-2K para o fluxo de calor descendente, ou seja, do entorno para o
interior do edifício e U = 1,66 Wm-2K para o fluxo de calor ascendente, ou seja, de perda térmica.
As fachadas do edifício apresentam maior variação da transmitância térmica de seus
componentes. O vidro comum transparente tem alta condutividade térmica ( = 1,00 Wm-1K), além
de pequena espessura, resultando numa transmitância bem alta, de U = 5,88 Wm-2K. Já a parede
de alvenaria de tijolos furados tem uma transmitância calculada de U = 3,62 Wm-2K, porém, a placa
cimentícia usada nos peitoris, por sua baixa espessura, possui uma transmitância de U = 4,90
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Wm-2K, que é quase 40% maior que a de uma parede de alvenaria. Fazendo uma média
ponderada considerando a área de fachada ocupada por cada um desses materiais, chega-se a
uma transmitância média de U = 4,10 Wm-2K. Observando os resultados obtidos para as
transmitâncias das componentes envoltórias verticais e horizontais, conclui-se que enquanto a
cobertura oferece boas condições de resistência térmica, diminuindo as trocas de calor sensível
através dessa componente, as fachadas apresentam um valor médio alto de transmitância,
diminuindo a inércia térmica interior e favorecendo a ocorrência de maior amplitude psicrométrica
dentro do edifício, o que não é desejável para a conservação do acervo (TRINKLEY, 2001).
Outro aspecto considerado na análise da edificação foi a ventilação no interior, avaliada através
do programa FluxoVento®. 2 No presente trabalho, o programa foi usado para analisar as
condições de ventilação do 4º andar do edifício estudado. A planta desse andar foi desenhada com
suas divisões internas e aberturas, considerando a direção predominante do vento em Belo
Horizonte, que é leste (INMET, 2009).
O programa simula a trajetória do fluxo no interior, gerando linhas indicadoras (Figura 5).
Observa-se um ínfimo fluxo de ventilação do ambiente, cujas aberturas não estão posicionadas de
modo a favorecer a movimentação e renovação do ar, além de as divisórias internas formarem
barreiras que impedem a livre passagem do vento. Com relação aos problemas de umidade,
distinguem-se 2 tipos diferentes de transferência de umidade para o interior de uma edificação: o
transporte de água líquida e o transporte de vapor d´água, este último relacionado, também, às
condições de trocas de calor sensível. Quanto ao primeiro tipo, o prédio foi vistoriado a fim de
observar eventuais patologias existentes, tais como infiltrações decorrentes de trincas e/ou
fissuras, vazamentos nas tubulações hidro-sanitárias, capilaridade do solo e ocorrência de
manchas, eflorescências, descolamento de pintura ou mofo nas superfícies. Não foi encontrado
nenhum tipo de problema, apesar da presença do espelho d’água em frente ao edifício.
2 Este programa foi desenvolvido em 2005 pelo Laboratório de Conforto Ambiental e pelo Grupo de Tecnologia em
Computação Gráfica da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, com o objetivo de dar suporte à análise de
conforto ambiental em ambientes construídos. Disponível em https://web.tecgraf.puc-rio.br/etools/fluxovento, acesso em
30/05/2012.
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Figura 5 – Resultado da simulação de ventilação do ambiente no programa Fluxovento®.
Fonte: elaboração própria.
4. Metodologia
Os dados microclimáticos obtidos durante o período de monitoramento na BC foram tratados
em planilha eletrônica e plotados no Diagrama de Isopermanências, o que possibilitou averiguar a
taxa de deterioração a que o acervo está exposto nas atuais condições.
Para a identificação de problemas associados ao transporte de vapor d´água, o indicador usado
foi a temperatura de ponto de orvalho (DP). A temperatura de ponto de orvalho corresponde à
temperatura a partir da qual o vapor d´água contido no ar muda para o estado líquido, isto é,
condensa. A DP é mais alta quando o ar contém mais umidade e vice-versa. Além disso, uma
queda na temperatura do ar aumenta a chance de que a DP seja atingida, de modo que nos climas
tropicais espera-se que ela ocorra com mais frequência no período noturno em ambientes não
climatizados.
O programa Dew Point Calculator© foi utilizado para calcular o DP a partir dos dados
monitorados no interior do edifício. Foi desenvolvido pelo Image Permanence Institute (IPI) para
auxiliar o gerenciamento ambiental em arquivos, bibliotecas e museus compostos por materiais
orgânicos. O programa é capaz de relacionar os dados de temperatura e umidade relativa
indicando a temperatura de ponto de orvalho. O programa indica, ainda, para os pares de
temperatura e umidade fornecidos, danos a que o acervo estaria suscetível, tais como: (a)
químicos, através do índice de preservação (PI), que estima a expectativa de vida, em anos, do
acervo; (b) biológicos, estimando a possibilidade de proliferação de microrganismos e (c)
mecânicos, através da taxa de movimentação do material.
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Figura 6 – Tela do Dew Point Calculator© exemplificando as condições de risco de condensação para 20°C de
temperatura e 50% de umidade relativa, bem como o índice de degradação química (PI) do material.
Por fim, os resultados foram analisados face aos indicadores de desempenho térmico e de
umidade da edificação, buscando relacionar os dados microclimáticos monitorados e tais
indicadores, para uma avaliação geral das condições de conservação do acervo.
4.1. Montagem da instrumentação
Atualmente, equipamentos digitais de aquisição de dados permitem maior praticidade durante
monitoramentos de curto e médio prazos, se comparados a outros instrumentos de medição de
temperatura e umidade convencionalmente usados, como termo-higrógrafos, permitindo maior
precisão na apuração dos resultados.
Por isso, optou-se por um modelo digital, o termo-higrômetro Hobo U12 (figura 7). O Hobo U12
possui sensores para medições de temperatura, umidade relativa, intensidade da luz e uma
entrada para sensor externo. Nesse trabalho apenas os dois primeiros sensores foram utilizados. O
sensor de temperatura possui faixa de medição entre -20°C e 70°C e precisão de,
aproximadamente, 0,35°C em temperaturas entre 0°C e 50°C. Quanto ao sensor para medição de
umidade relativa, sua faixa de medição está entre 5% e 95% e sua precisão por volta de 2,5%,
para valores entre 10% e 90%, não ultrapassando 3,5%.
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Figura 7 – Termo-higrômetro digital Hobo U12.
Fonte: elaboração própria Figura 8 – Abrigo confeccionado em garrafa PET, com papel aluminizado.
Fonte: elaboração própria Figura 9 – Abrigo instalado no saguão do quarto andar da BC.
Fonte: elaboração própria
A fim de evitar a interferência de radiação de onda longa sobre o sensor de temperatura do
ar, o instrumento foi pendurado com linha de nylon dentro de um abrigo (figuras 8 e 9). Barbosa et
al (2008) demonstraram a importância de proteger o sensor de temperatura do Hobo de fontes
emissoras de radiação de onda longa, como as envoltórias aquecidas pela irradiação solar ou
equipamentos presentes no ambiente. É também importante manter a ventilação natural no abrigo,
renovando a camada de ar próxima ao sensor. O abrigo utilizado nesse trabalho foi construído de
acordo com as instruções desses autores, tendo se mostrado o mais eficiente nos vários testes que
eles realizaram, além de ser facilmente executado e leve.
O abrigo é um cilindro vertical aluminizado com ventilação natural de baixo para cima. É
confeccionado com uma garrafa PET de 2,5 litros, cuja parte superior foi retirada e invertida,
revestida com papel alumínio tanto no lado externo quanto interno (figura 8). A ventilação dentro do
abrigo é assegurada por meio de pequenas aberturas realizadas na parte superior, com o cuidado
de preservar a proteção aluminizada. O abrigo foi preso ao forro da BC no saguão do quarto
pavimento, com o auxílio de um fio de nylon (Figura 9).
4.2. Procedimento de monitoramento
A coleta de dados de temperatura e umidade relativa ocorreu entre os dias 20 de abril de
2012 e 30 de maio de 2012. O termo-higrômetro digital foi configurado para registrar os dados de
trinta em trinta minutos durante as vinte quatro horas do dia. Através do uso do programa
Hoboware©, que acompanha este instrumento de aquisição de dados, as informações foram
extraídas dos aparelhos e exportadas para tratamento em uma planilha eletrônica.
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Os dados do exterior no mesmo período foram coletados na estação automática de Belo
Horizonte, 3 do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) que foi instalada no campus da UFMG
na Pampulha, sendo a mais próxima do local de estudo.
4.3. Tratamento de dados
Para a comparação entre os dados exteriores medidos pela estação meteorológica do
INMET e os obtidos no interior da BC, ambas as séries foram inseridas numa planilha eletrônica e
plotadas no Diagrama de Isopermanências.
Os dados medidos no interior foram também inseridos no programa Dew Point Calculator©
para observar o comportamento da umidade no ambiente do acervo diante das condições ideais de
temperatura e umidade relativa propostas por Sebera (2001).
5. Resultados
5.1. Resultados do monitoramento no interior do edifício
Os dados obtidos no interior do prédio foram plotados juntamente com os dados obtidos do
INMET/Pampulha, a fim de se fazer uma comparação entre a condição exterior e interior do edifício.
Através do Diagrama de Isopermanências (figura 10), é possível observar que parte dos dados obtidos no
entorno apresenta-se concentrada na zona de desenvolvimento de mofo, com umidade relativa acima de
65%. As condições climáticas no exterior do prédio variam entre 30% e 95% de umidade relativa,
atingindo uma amplitude de 65% de umidade relativa. Quanto à temperatura apurada no período,
observa-se que varia entre 13°C e 30°C (aproximadamente, 55°F e 85°F), com amplitude de 17°C. As
altas temperaturas apuradas no entorno atingem a linha de isoperma 0,33, representando um aumento
de três vezes na taxa de deterioração do acervo em relação à isoperma 1.
Os dados do interior apontam que, assim como no entorno, existem dados concentrados na
zona de desenvolvimento de mofo. A amplitude, tanto de umidade como de temperatura,
apresenta-se menor, 25% e 8°C.
Os valores de umidade obtidos dentro do prédio estão entre 50 e 75%, enquanto que a
tempera-tura encontra-se entre 18°C e 26°C (aproximadamente, 65°F e 80°F). Apesar da pouca
amplitu-de da temperatura interna, conforme observado na figura 10, as condições microclimáticas
3 Dados disponíveis em http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=estacoes/estacoesAutomaticas acesso em
30/05/2012.
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no interior do prédio apresentam-se próximas da linha de isoperma 0,33, ou seja, a taxa de
deterioração do acervo sofre um aumento.
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Figura 10 – Dados medidos no período de abril a maio de 2012 sobre o Diagrama de Isopermanências.
Fonte: elaboração própria.
A variação das condições climáticas do entorno e do interior do prédio (figura 11) indica que
o acervo está exposto a uma amplitude de temperatura e de umidade relativa inadequados para a
sua conservação. A flutuação tanto de temperatura quanto de umidade relativa pode apresentar-se
mais prejudicial ao acervo do que altos valores desses parâmetros.
Os resultados mostram que as envoltórias externas do edifício não são eficientes em
garantir a inércia térmica adequada, o que provavelmente ocorre em função da alta transmitância
média das fachadas. O vidro e a placa cimentícia transmitem calor com facilidade, e compõem
cerca de 27% da vedação vertical. O fato de o aparelho de aquisição de dados ter sido instalado na
área central do 4º andar da BC permite-nos conjecturar que a condição microclimática encontrada
próximo às envoltórias teria ainda maior influência da variação externa.
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Figura 11 – Variação de temperatura e umidade relativa do período.
Fonte: elaboração própria.
A interferência das condições do entorno nos resultados obtidos internamente confirma-se
através da verificação de leve variação da umidade relativa medida no edifício, mantendo-se
sempre acima das condições adequadas, além da constatação da ocorrência de condensação em
alguns momentos, quando a temperatura do ponto de orvalho foi atingida, conforme exposto no
próximo tópico.
Dados coletados no primeiro andar da BC, medidos no mesmo período e nas mesmas
condições dos dados analisados nesse artigo, demonstram que a variação de temperatura e
umidade relativa ocorre também em outro ponto do edifício, corroborando com o resultado obtido
quanto a ineficiente inércia térmica do prédio estudado. Os valores de umidade obtidos no primeiro
andar estão entre 50 e 70%. Já a temperatura encontra-se entre 27°C e 30°C (aproximadamente,
82°F e 87°F). As condições microclimáticas no primeiro pavimento apresentam-se entre as linhas
de isoperma 0,33 e 0,10, estando próximas a zona de deterioração muito rápida.
5.2. Resultados obtidos a partir do programa Dew Point Calculator©
O programa foi calibrado com o par de referência de temperatura e umidade relativa (20°C e
50%) indicado por Sebera (2001), onde não há risco de desenvolvimento de mofo e o Índice de
Preservação (PI) é de 44 anos, ou seja, sob tais condições o acervo levaria 44 anos para
apresentar-se visivelmente deteriorado.
Dentre os valores de temperatura e umidade relativa obtidos a partir da variação média
diária do período de medição considerou-se o par com o menor valor (aproximadamente, 23°C e
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65%) para a comparação com as condições indicadas anteriormente. Assim como na situação de
referência, não há risco de desenvolvimento de mofo, porém o PI nessas condições reduz-se
drasticamente, em praticamente 50%. Mantido nas condições encontradas atualmente, em cerca
de 21 anos o acervo abrigado no 4º pavimento da BC estaria visivelmente deteriorado.
As temperaturas internas medidas no período de 20/04/2012 a 30/05/2012 alcançaram os
valores de ponto de orvalho, ou seja, a condensação superficial está ocorrendo e esse excesso de
umidade está sendo provavelmente absorvido pelos materiais higrófilos do ambiente, dentre os
quais, o acervo. Houve vinte e nove ocorrências de condensação no interior no período
monitorado, algumas durando uma hora, outras durando até quatorze horas.
É importante observar que a análise feita com o auxílio do Dew Point Calculator© para a
condição encontrada no prédio considerou o menor par da variação média diária para temperatura
e umidade relativa, sendo assim, pode-se considerar que o Índice de Preservação (PI) ainda pode
se apresentar menor que o obtido nessa simulação.
6. Conclusões
Este trabalho buscou estudar a relação existente entre as condições microclimáticas,
externas e internas da Biblioteca Central da UFMG. Foram integrados vários procedimentos
usualmente considerados isoladamente numa metodologia que relacionou o desempenho termo-
higrométrico das envoltórias do edifício às condições microclimáticas monitoradas e suas
conseqüências para a conservação de um acervo em papel.
A análise dos resultados medidos no local através do Diagrama de Isopermanências
permitiu observar que os níveis de temperatura e umidade no interior do edifício não estão
adequados para acervos em papel, uma vez que os dados apresentam-se próximos a linha de
isopermanência 0,33.
O uso do programa Dew Point Calculator© confirmou a necessidade de adequação das
condições microclimáticas, uma vez que o PI apresentado pelo ambiente também não foi
satisfatório. Entretanto, é importante considerar a necessidade de elaboração de índices de
preservação adequados ao clima tropical, já que a maior parte das recomendações e dos índices
utilizados tomam como referência a experiência de regiões de clima frio.
A análise dos dados medidos no período permitiu observar a influência do entorno na
condição microclimática encontrada no interior do edifício. A comparação dos dados internos e
externos revelou que a variação da umidade relativa medida dentro do edifício segue a variação
externa, mantendo-se sempre acima das condições adequadas, além da constatação da
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ocorrência de condensação em alguns momentos, quando a temperatura de ponto de orvalho foi
atingida.
Com relação às envoltórias, a alta transmitância térmica das fachadas favorece as trocas de
calor sensível, diminuindo a inércia térmica do interior e a falta de ventilação no interior do prédio
pode favorecer as condições de condensação superficial.
Os dados medidos apresentaram altos valores de umidade relativa associados ao período noturno,
sendo indicado o uso de um sistema de desumidificação mecânica apenas nesse período.
Diante dos resultados obtidos após a análise dos dados, pode-se afirmar a necessidade de
climatização do prédio a fim de propiciar efetiva conservação preventiva dos bens sob a guarda da
Biblioteca Central da UFMG.
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Carolina Concesso Ferreira
Escola de Belas Artes da UFMG, Curso de Conservação e Restauração de Bens
Culturais Móveis.
E-mail: [email protected]
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Danielle Luce Cardoso
Escola de Belas Artes da UFMG, Curso de Conservação e Restauração de Bens
Culturais Móveis.
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Raquel F. G. Augustin
Escola de Belas Artes da UFMG, Curso de Conservação e Restauração de Bens
Culturais Móveis.
E-mail: [email protected]
Eleonora Sad de Assis
Escola de Arquitetura da UFMG, Laboratório de Conforto Ambiental (LABCON).
E-mail: [email protected]