ANEXO I Programa de Iniciação Científica da UNILA · Artigo de divulgação publicado em...
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ANEXO IPrograma de Iniciação Científica da UNILA
Formulário para declaração de produtividade intelectual do pesquisador: (ANEXO I DA RESOLUÇÃOCOSUP nº 06/2015)
Identificação do pesquisador: Clovis Antonio Brighenti
Grande área de conhecimento – CAPES (marcar apenas UMA grande área de conhecimento com X)
Ciências Agrárias EngenhariasCiências Biológicas Ciências Sociais AplicadasCiências da Saúde X. Ciências HumanasMultidisciplinar Linguística, Letras e ArtesCiências Exatas e da Terra
A Maior titulação Peso Quant. Subtotal1 Doutorado 10 1 102 Mestrado 8 0B Bolsista de produtividade (Pq ou DT) 15 0C Coordenação e participação em projetos Peso Quant. Subtotal
1Coordenação de projeto de pesquisa ou inovação comfinanciamento 8 0
2Coordenação de projeto de pesquisa ou inovação semfinanciamento 5 1 5
3 Participação em projetos de pesquisa e inovação 3 04 Líder ou vice líder de grupo de pesquisa 1 0D Periódicos e/ou revistas Peso Quant. Subtotal
1
Membro de corpo editorial de periódicos ou revistas científicas eculturais ou organizador de dossiês temáticos (pontos por ano porrevista ou periódico) 6 0
2Revisor de periódicos ou revistas científicas e culturais (pontos porparecer) 1 3 3
E Artigos, trabalhos completos e resumos publicados Peso Quant. Subtotal
1Artigo técnico-científico publicado em periódico indexado – QualisA1 10 0
2Artigo técnico-científico publicado em periódico indexado – QualisA2 8 0
3Artigo técnico-científico publicado em periódico indexado – QualisB1 e B2 6 1 6
4Artigo técnico-científico publicado em periódico indexado – QualisB3 4 0
5Artigo técnico-científico publicado em periódico indexado – QualisB4, B5 e C e sem Qualis. 2 1 2
6 Trabalho completo publicado em anais de evento internacional 1,5 1 1,5
7Trabalho completo publicado em anais de evento nacional, regionalou local 1 1 1
8Artigo de divulgação publicado em revistas ou jornais ou resenhacrítica em periódicos indexados 1,5 0
9Resumo expandido ou resumo publicado em evento científico ouartístico-cultural internacional, nacional, regional ou local 0,2 0
F Produção Artísticas (Conforme Qualis artístico Capes) Peso Quant. Subtotal1 Obra artística – Qualis A1 10 02 Obra artística – Qualis A2 8 03 Obra artística – Qualis B1 e B2 6 04 Obra artística – Qualis B3 4 05 Obra artística – Qualis B4, B5 e C e sem Qualis 2 0
6 Demais produções artísticas e culturais apresentadas ao público 0,5 0G Livros Peso Quant. Subtotal
1 Autoria de livro didático, cultural, técnico ou científico com ISBN 10 2 20
2Edição, tradução, ou organização de livro didático, cultural, técnicoou científico com ISBN 8 0
3 Capítulo de livro didático, cultural, técnico ou científico com ISBN 6 9 54H Produção técnica Peso Quant. Subtotal
1
Patente ou produto registrado (aparelho ou instrumento, aplicativocomputacional, equipamento, fármaco, outros) - acrescentar 5pontos quando o projeto concorrer a editais de IniciaçãoTecnológica 10 0
2
Demais tipos de produção técnica (Cartilhas, Manual Técnico,laudos e material institucional para EAD, Materiais Cartográficos ousimilares) 6 1 6
3
Parecer como Consultor "ad hoc" de projetos ou relatórios técnicosou científicos de agência de fomento, comissão nacional de reformae avaliação de cursos de pós-graduação stricto sensu (pontos porparecer) 4 2 8
4Parecer de trabalhos em eventos internacionais, nacionais,regionais ou locais (pontos por parecer) 0,5 0
I Eventos e cursos Peso Quant. Subtotal
1Coordenador geral de eventos científicos, desportivos ou artístico-culturais internacionais e nacionais 8 0
2Coordenador geral de eventos científicos, desportivos ou artístico-culturais regionais ou locais 6 0
3
Participações nas comissões organizadoras de eventos científicos,desportivos ou artístico-culturais internacionais, nacionais, regionaisou locais 4 0
4
Organizador de conferências, palestras, minicursos, mesasredondas, eventos desportivos ou artístico-culturais internacionais,nacionais, regionais ou locais (por ação) 2 6 12
5Organizador de cursos de extensão, aperfeiçoamento ou formaçãode professores da educação básica cadastrados na IES 1 0
6
Apresentação de trabalhos (comunicação oral, palestras, etc.) emeventos científicos ou artístico-cultural internacional, nacional,regional ou local 0,5 19 9,5
7Apresentação de trabalhos: minicurso (ponto por hora de minicursoministrada), porter (ponto por pôster) 0,1 0
J Orientações Peso Quant. Subtotal
1Orientações ou coorientações concluídas de doutorado ou pós-doutorado na UNILA ou outra IES* 8 0
2Orientações ou coorientações concluídas de mestrado na UNILA ououtra IES* 6 0
3Orientações ou coorientações em andamento mestrado, doutoradoou pós-doutorado na UNILA ou outra IES* 4 0
4
Orientações ou coorientações concluídas de trabalho de conclusãode curso de graduação, pós-graduação lato sensu, iniciaçãocientífica ou tecnológica, iniciação docente (PIBID), PET, extensão,monitoria, tutoria, residência médica ou estágio supervisionado naUNILA ou outra IES* 2 6 12
5
Orientações ou coorientações em andamento de trabalho deconclusão de curso de graduação, pós-graduação lato sensu,iniciação científica ou tecnológica, iniciação docente (PIBID), PET,extensão, monitoria, tutoria, residência médica ou estágiosupervisionado na UNILA ou outra IES* 0,5 4 2
L Participação em bancas Peso Quant. Subtotal
1Participação em banca examinadora de dissertação ou tese dedoutorado 4 5 20
2Participação em banca examinadora qualificação de mestrado oudoutorado 2 5 10
3Participação em banca de seleção de mestrado, doutorado ou pós-doutorado 1 0
4 Participação em banca examinadora de TCC ou monografia 0,5 11 5,55 Participação em banca examinadora de concurso público 0,2 1 0,2M Premiações Peso Quant. Subtotal
1
Premiações recebidas (prêmio de teses e dissertações concedidopor agencia de fomento ou sociedades científicas, prêmios artísticosde abrangência nacional e/ou internacional) 6 0
2Premiação concedida por organismo de governança nacional ouinternacional ou sociedade civil organizada e instituições privadas 2 0
3Artigos e obras premiadas em eventos científicos e culturais deabrangência nacional e/ou internacional 1,5 0
4Demais premiações (menção honrosa, segundo e terceiro lugar,pôsteres, premiações locais) 0,2 0TOTAL 187,7
Total (conforme o Edital) 187,7
PLANO DE TRABALHO DE BOLSISTA
Título
Construções historiográficas das fronteiras nacionais e as práticas guarani
Introdução
Os Guarani contemporâneos ocupam um território que extrapola as fronteiras dos
Estados Nacionais de países do Cone Sul da América, estão presentes na Argentina,
Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. São conhecidos como Kaiowa (Brasil) ou Pãi-
Tavyterã (Paraguai); Mbya (Brasil, Paraguai e Argentina - até recentemente havia
também algumas famílias vivendo no Uruguai); Avá Guarani ou Xiripa (Brasil,
Argentina e Paraguai); Guarani Ñandeva (Paraguai); Aché, e Nhandeva (Paraguai).
Na Bolívia, os Guarani são denominados Chiriguano, nome genérico dado a
partir de fora. Ocupam partes do que é hoje a Argentina (especialmente os Tapui, no
noroeste) o Paraguai (Guarayo/Gwarayu e Tapieté, no departamento de Boquerón) e a
grande maioria na própria Bolívia (Gwarayu, Ava Guarani, Tapieté, Isoseño, Mbia e
Yuki, nos departamentos de Santa Cruz, Tarija e Chuquisaca) perfazendo mais de 350
comunidades apenas na Bolívia. Organizam-se politicamente em torno da Assemblea
del Pueblo Guarani - APG. A APG representa os Guarani nos três países citados, e tem
como meta a “Autonomía Territorial Guaraní”. Segundo essa organização, a população
Guarani ultrapassa 200 mil pessoas.
Esse território, com registros históricos e arqueólogos, foi recortados pela
geopolítica do prata desde antes da invasão português na América através do Tratado de
Tordesilhas, e reafirmado por diversos outros tratados entras as monarquias Ibéricas. O
Guarani, nunca ouvido e respeitado no processo continuam sua mobilidade, agora
enfrentando inúmeros desafios por terem que relacionar-se com quatro diferentes
Estados (Nacionais).
As organizações sociopolíticas contemporâneas são um desafio a essa população
bem como um instrumento de resistência. Buscam contemplar em seu universo
organizativo aspectos relacionados às práticas e conhecimentos tradicionais com as
dinâmicas da organização política moderna. É no diálogo que buscam manejar os
diferentes pensamentos e fazer valer seus direitos.
Objetivos
Compreender as dinâmicas atuais de relações sócio culturais, mobilidade,
territorialidade e espacialidade Guarani no contexto da fronteira Argentina, Brasil,
Bolívia e Paraguai;
Estabelecer análise historiográfica entre práticas dos Estados Nacionais e práticas
Guarani de rompimento das fronteiras por suas ações políticas e socioculturais.
Metodologia
Pesquisar de acervo historiográfico e arqueológico sobre a ocupação Guarani
antes da ocupação colonial, as dinâmicas e mobilidade, comprando com os discursos e
práticas contemporâneas dessa população, buscando compreender as rupturas e
continuidades do pensamento mítico e sociocultural a fim de perceber os desafios
contemporâneos. Para esse análise serão utilizados acervos documentais da
historiografia do Prata comparando com os discursos contemporâneos coletados pela
metodologia da história oral e da etnologia, bem como discursos políticos transcritos em
documentos das organziações Guarani da região.
O acadêmico usará as fontes já coletadas em diferentes acervos e disponíveis
online e quando possível fará diálogo com o Conselho Continental da Nação Guarani
(CCNAGUA), organização criada em 2010 com o propósito de aglutinar forças e dar
vazão juntos aos Estados Nacionais das demandas dessa população. Também será
fundamental contar com acervos de organizações Guarani locais e regionais, também
disponíveis em meios eletrônicos.
Como fontes teóricas são usados elementos da história indígena produzidos por
diferentes autores bem como os conceitos modernos de colonialidade, buscando
compreender que as diferentes relações estabelecidas foram mediadas por um
pensamento colonial que se apresentava em diversas modalidade (Encomenderos,
Bandeirantes, Igreja etc), porém com um único pensamento de converter o outro,
transformá-lo em um não indígena.
Os Guarani disseram não ao processo, souberam dialogar e resistir. Seguem
afirmando que nunca abandonaram seus costumes e que desejam ter de volta seu
território, não de maneira exclusiva, mas através de espaços demarcados e autônomos.
A pesquisa será desenvolvida a partir da UNILA não demandando recursos para
deslocamentos e pesquisas.
Referências
AGAMBEN, Giorgio. O que é contemporâneo? e outros ensaios. Trad. ViniciusNicastroHonesko. Chapecó: Argos, 2009.
ARRIGHI, Giovanni. O longo século XX: dinheiro, poder e as origens de nossotempo. Rio de Janeiro/São Paulo. Contraponto/Ed. Unesp. 1996.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. São Paulo: Jorge Zahar Editor, 2001.
BRIGHENTI, Clovis A. Estrangeiros na Própria Terra: Presença Guarani e EstadosNacionais. Chapecó-Florianópolis: Argos/EdUFSC, 2010.
CHAMORRO, Graciela. A espiritualidade Guarani: Uma teologia ameríndia dapalavra. São Leopoldo: SINODAL, (Série teses e dissertações, v. 10), 1998
CLASTRES, Hélène. Terra sem mal. O profetismo tupi-guarani. São Paulo:Brasiliense, 1978.
Documento Final. I Assembléia Continental do Povos Guarani. Guarani. SãoGabriel – RS: 07 de fevereiro de 2006.
Documento Final. II Assembléia Continental do Povo Guarani. Porto Alegre – RS:14 de Abril de 2007.
Documento Final. III Encontro Continental do Povo Guarani. Assunção – PY: 19de novembro de 2010.
Documento Guarani. Aldeia Massiambu, Palhoça-SC, novembro de 1989.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2006. p.86.
KUPER, Adam. Cultura: a visão dos antropólogos. Bauru. Edusc, 2002.
LITAIFF , Aldo - O “kesuita” guarani: mitologia e territorialidade. EspaçoAmeríndio, Porto Alegre, v. 3, n. 2, p. 142-160, jul./dez. 2009.
MELIÀ, Bertomeu ett all. O Guarani: Uma bibliografia etnológica. Santo Ângelo:Fundames, 1987.
POUTIGNAT, Philippe; STREIFF-FENART, Jocelyne. Teorias da Etnicidade.Tradução de Elcio Fernandes. São Paulo: UNESP, 1998.
SILVA, Helenice R. “Rememoração”/comemoração: as utilizações da memória.Revista Brasileira de História, São Paulo, vol.22, n. 44, p. 425-438, 2002.
SILVA, Tomaz Tadeu da. A produção social da identidade e da diferença. In: SILVA,Tomaz Tadeu da. (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais.Petrópolis: vozes, 2000.
MELIÀ, Bartomeu. A experiência religiosa Guarani. In: MARZAL, Manuel M. ORosto Índio de Deus. Petrópolis: Vozes, 1988. p. 293-357. (Col. Teologia daLibertação, série VII, v. 1).
NOELLI, Francisco S. Silva. Curt Nimuendajú e Alfred Métraux: a invenção da buscada “terra sem mal”. Suplemento Antropológico, Asunción, 34 (2): 123-166,dez.1999.
SUSNIK, Branislava. Los Aborígenes del Paraguay. Etnohistória de los Guaranies.Época colonial. II. Asunción: Museo Etnografico Andres Barbero, 1979-1980.
Cronograma de atividades
2016 2016Atividade Ago set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun julEstudos sistematizados da historiografia e etnografiahistórica e contemporânea da população guarani na regiãode fronteira;
Estudo da dinâmica da população Guarani a partir daarticulação política atual, articulada em trono do ConselhoContinental da Nação Guarani.Participação em eventos científicos e acadêmicos
Produção de artigos a partir da sistematização dadocumentação historiográfica
Foz do IguaçuAbril de 2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO AMERICANA
INSTITUTO LATINO-AMERICANO DE ARTE, CULTURA E HISTÓRIA(ILAACH)
CURSO DE HISTÓRIA – AMÉRICA LATINA
Clovis Antonio Brighenti
Memórias e práticas transfronteiriças do povo Guarani
Projeto de Pesquisa apresentado aoEdital PRPPG 05/2014.
Foz do Iguaçu
Abril de 2016
I. Título
Memórias e práticas transfronteiriças do povo Guarani
II. Autoria
Clovis Antonio Brighenti
III. Resumo
O presente Projeto de Pesquisa pretende ser um espaço de investigação a serrealizado com o povo Guarani presente no Brasil, Argentina, Paraguai e Bolívia.Terá como eixo central a memória Guarani no que tange as relações com osEstados Nacionais e as ações contemporâneas desse povo na conquistas dosdireitos. No caso específico do Brasil faremos uma ponte com nosso Projeto de
Extensão no que concerne as ações do Estado brasileiro como violador de direitosna segunda metade do século XX, quando a referida população perdeu suas terrasem três processos distintos: colonização; criação do Parque Nacional do Iguaçu; econstrução da Hidrelétrica Itaipu Binacional. Nossa atuação terá como referênciaas recomendações apresentadas em dezembro de 2014 no Relatório Finalpublicado pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), no que concernem asrecomendações pedagógicas encaminhadas ao Estado brasileiro.
IV. Introdução
Os Guarani contemporâneos ocupam um território que extrapola as fronteiras
dos Estados Nacionais de países do Cone Sul da América, estão presentes na Argentina,
Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. São conhecidos como Kaiowa (Brasil) ou Pãi-
Tavyterã (Paraguai); Mbya (Brasil, Paraguai e Argentina - até recentemente havia
também algumas famílias vivendo no Uruguai); Avá Guarani ou Xiripa (Brasil,
Argentina e Paraguai); Guarani Ñandeva (Paraguai); Aché, e Nhandeva
(Paraguai).
Na Bolívia, os Guarani são denominados Chiriguano, nome genérico dado a
partir de fora. Ocupam partes do que é hoje a Argentina (especialmente os Tapui, no
noroeste) o Paraguai (Guarayo/Gwarayu e Tapieté, no departamento de Boquerón) e a
grande maioria na própria Bolívia (Gwarayu, Ava Guarani, Tapieté, Isoseño, Mbia e
Yuki, nos departamentos de Santa Cruz, Tarija e Chuquisaca) perfazendo mais de 350
comunidades apenas na Bolívia. Organizam-se politicamente em torno da Assemblea
del Pueblo Guarani - APG. A APG representa os Guarani nos três países citados, e tem
como meta a “Autonomía Territorial Guaraní”. Segundo essa organização, a população
Guarani ultrapassa 200 mil pessoas.
Não é consenso entre pesquisadores que os Guarani formam um único povo ou
nação, apesar da proximidade sócio-linguística e cultural entre os diferentes grupos.
Também é possível perceber diferenças sociopolíticas representadas a partir das práticas
de mobilidade específica em cada grupo ou subgrupo linguistico. Raramente um
Kaiowá migra para a região leste do Brasil, da mesma forma que raramente um Mbya
migra para o nordeste paraguaio ou sul do Mato Grosso do Sul. Portanto, compreender a
mobilidade linguística e territorial de cada subgrupo Guarani é uma das chaves para
compreensão da articulação política continental e do sentimento de pertencimento a um
povo ou nação Guarani.
As pesquisas desenvolvidas com comunidades do povo Guarani necessitam
dimensionar o recorte espacial (Países, Unidades da Federação ou micro regiões) com a
espacialidade ou territorialidade indígena e a relação que as mesmas estabelecem, ante o
perigo de fracionar e inviabilizar o território construído historicamente por eles,
especialmente porque esse território ultrapassa as fronteiras nacionais (TOMMASINO,
2001), contexto que pode ser, e o é em algumas situações, utilizado pelos Estados para
negar direitos, apelando para a condição de estrangeirismo. Nesse sentido, torna-se
imperioso conhecer a espacialidade e territorialidade Guarani, sua relação com o meio e
a mobilidade.
Figura 1 – MAPA CONTINENTAL: GUARANI RETÂ GUAZÚ1
Localização atual da população guarani no cone sul
Fonte: ACUÑA, Jorge.
1. O mapa está em fase de elaboração, portanto trata-se de uma versão parcial construída a partir de dadosdisponibilizados por um conjunto de organizações científicas e ONGs da Argentina, Brasil, Bolívia eParaguai, projeto ao qual fazemos parte. A maior área em destaque (desde a Bolívia e Noroeste Argentinoao litoral atlântico) é hoje ocupada pelos Guarani. As aldeias indicadas no mapa são aquelas quecompõem o mapa Guarani Retã (2008).
Os Guarani habitam as terras baixas do cone sul da América, região de clima
subtropical há pelo menos dois milênios (BROCHADO, 1982), território que se estende
ao sul do trópico de Capricórnio, do litoral atlântico as planícies anteriores aos Andes,
atual território boliviano, ao sul incursionavam até a atual Buenos Aires. A época da
ocupação europeia estima-se que haviam mais de 2 milhões de habitantes
(P.CLASTRES, 1978; MELIÀ, 1988). O primeiro registro de contato com europeus
ocorreu na Bahia da Babitonga, atual São Francisco do Sul/SC em 1504, quando Binot
Paulmier de Gonneville, navegador a serviço da coroa francesa, levou para a França
dois Guarani, Iça-Mirim e Namoa (SANTOS, 2004, p. 25). O nome “Guarani” foi
registrado pela primeira vez na carta de Luis Ramires, tripulante da expedição do
veneziano Sebastião Caboto a serviço da coroa espanhola, quando navegavam pela
bacia do Prata em 1528 (MELIÀ, 1986). Porém, durante séculos foram empregados
inúmeros nomes para designar parcialidades ou mesmo a totalidade da população, sendo
nomeados a partir de critérios exógenos.
São diversos os registro de contados amistosos entre Guarani e europeus nesses
primeiro anos de ocupação. Ocorre que sem os conhecimentos geográficos e
agronômicos dessa população e sem o aporte de alimentos, retardaria significativamente
o domínio europeu. Um dos registros mais significativos da dimensão espacial,
territorial e linguística do povo Guarani foi efetivado pelo governador do Paraguai
Álvar Nuñes Cabeza de Vaca. Ao partir da atual Florianópolis para tomar posse do
governo em Asunción, foi guiado pelos Guarani através dos caminhos pré-coloniais.
Nos registros do governador constam que essa população, que se convencionou chamar
de Guarani, “fala uma linguagem que é entendida por todas as outras costas da
província” (CABEZA DE VACA, 1999, p.177). Menciona também a fartura de
alimentos que os Guarani produziam: “Os espanhóis festejavam alegremente o Natal,
pois os índios lhes traziam toda espécie de comida que conheciam. Como todos estavam
sem se exercitar, a comida em excesso chegava a causar mal estar em alguns”
(CABEZA DE VACA, 1999, p. 163), permitindo afirmações de que a agronomia
Guarani era mais apurada que a europeia (MELIÀ, 1988). É comum encontrar na
bibliografia histórica a existência de diversos núcleos populacionais, denominados
Guára (SUSNIK, 1980), ou seja, conjunto de aldeias/tekoa/ ou Tataypy Rupa e que
dadas as singularidades levaram a diferentes viajantes a registrá-los como se fossem
povos distintos. A atual classificação aceita no Brasil como Mbya, Nhandeva e Kaiowá
a partir de aspectos linguísticos e da cultura material é atribuída a Schaden (1974).
Soma-se a dimensão sócia cultural a configuração territorial desse povo na qual
a arqueologia tem relevância significativa na confirmação da documentação história. Há
aceitação entre arqueólogos que as primeiras migrações Guarani ocorreram da
Amazônia, bacia do Madeira-Mamoré sua região de origem, em direção às terras baixas
e florestadas na bacia dos rios Paraná/Paraguai estabelecendo um território de domínio
exclusivo (SCHMITZ; FERRASSO, 2011) onde desenvolveram a agricultura há pelo
menos 2000 anos A.P. Posteriormente, expandiram o território a partir de novas
migrações. O apogeu da expansão territorial ocorreu no início do segundo milênio de
nossa era, quando atingiram as terras litorâneas e o vale do rio Uruguai (SCHMITZ;
FERRASSO, 2011), com registro de presença entre 900 a 1.000 anos A.P.
(BANDEIRA, 2004), período em que conquistaram regiões antes ocupadas pelos
grupos de tradição “Jê”, ancestrais dos atuais Xokleng e Kaingang (NOELLI, 1999-
2000). Há controvérsia se teria ocorrido sobreposição ou uso comum do território, o que
é possível afirmar, segundo Noelli é a plasticidade da organização social, política e do
parentesco e a grande capacidade de se adaptar ao meio, que permitiu aos Guarani a
expansão para um amplo território:
A partir de uma revisão exaustiva da bibliografia Guarani, de estudosarqueológicos e visitas a diversas coleções de museus e sítios arqueológicosdo Sul do Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina, feitos nos últimos 12 anos,foi possível concluir que os Guarani tinham a prescritividade como norma.As pessoas não-Guarani e as “coisas novas” eram incorporadas eenquadradas nos seus códigos e estruturas. As inúmeras fontes indicam queos Guarani eram “radicalmente” prescritivos, reproduzindo-se continuamentecom pouca variabilidade na cultura material. Caso contrário, a contínuaassimilação de pessoas de outras etnias e a adaptação aos ambientes do Suldo Brasil poderiam resultar em mudanças significativas e evidentes. Épreciso reconhecer que os Guarani representam diversas populações quetinham em comum língua, cultura material, tecnologia, subsistência, padrõesadaptativos, organização sociopolítica, religião, mitos, etc. Há,evidentemente, variações em nível dialetal, de adaptabilidade e de etnicidade(NOELLI, 1999-2000, p. 248).
Uma das principais características dos Guarani e talvez a mais abordada na
etnologia, diz respeito a mobilidade. Segundo Melià (1989, p. 294) “a migração, como
história e como projeto, constitui um traço característico dos guarani,” embora
reconheça que muitos grupos nunca tenham realizado uma migração efetiva. As
migrações receberam interpretações variadas desde a busca da Terra Sem Mal
(NIMUENDAJU, 1987; MÉTRAUX, 1927), a fuga das violências físicas, epidemias,
escravização e maus tratos (FAUSTO, 1992), como a busca de espaços ambientalmente
preservados, ou seja, Terra Sem Mal, como “suelo intacto, que no ha sido edificado”
(MELIÀ, 1991). As diferentes interpretação não representam exclusões, ao contrário,
evidenciam que a dimensão ambiental adquire relevância significativa nos estudos de
mobilidade e conflitos atuais.
No contexto das comunidades Guarani na região da tríplice fronteira, local
privilegiado de nossa pesquisa e extensão, a construção da Hidrelétrica de Itaipu
(década de 1970 e 1980) pode ser considerada um evento marcante na pressão exercida
sobre o território Guarani, tanto do ponto de vista do alagamento de inúmeras
aldeias/Tekoá Guarani em ambas as margens do rio Paraná2 como a chegada de novas
levas de migrantes não indígenas que se instalaram naquela região. Pressionados, os
Guarani que habitam a margem esquerda do rio Paraná foram buscar abrigo nas terras
paraguaias (CARVALHO, 1981) e outros se espalharam pelo interior dos estados
brasileiros. Apoiados por instituições de Direitos Humanos regressaram ao Brasil e
passaram a demandar terras. A figura 02 traduz em imagens a intensificação da
deflorestação na década de 1970.
Os estudos sobre as migrações atuais dessa população não podem desconsiderar
os fatores externos de pressão e que desde o período colonial a mobilidade Guarani é
uma constante, desfazendo a interpretação errônea e de cunho preconceituoso de que
nos últimos anos o Brasil estaria vivenciado uma “invasão” de “Guarani paraguaios”
(REVISTA VEJA, Veja ano 40 nº 11, de 14/03/07 e Veja ano 43 nº 18, de 05/05/2010).
Inicialmente acreditava-se que as migrações tinham um fluxo unilateral, de oeste
para leste. Essa interpretação estava calcada nos registros de Nimuendaju (1987), que
indicou a chegada ao litoral paulista dos Tañiguá (1820), dos Oguahuíva (1820) e dos
Apapokúva (1870 e 1912), e na etnografia produzida na década de 1970 por Egon
Schaden (1974, p. 4), observando que “ligam-se correntes migratórias, provenientes do
Oeste, que se vêm sucedendo desde o primeiro quartel do século passado”. Em outra
passagem, o autor indica que as migrações mais recentes foram dos Mbya do leste
paraguaio e nordeste argentino que, atravessando o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e
2 .Na margem esquerda do Rio Paraná foram indicadas 34 aldeias submersas pelo lago (GRÜMBERG,2008). Na margem direita não há estudos conclusivos, porém um estudo preliminar desenvolvido peloCimi Sul indicou a possibilidade de que diversas aldeias ficaram submersas (CIMI SUL,1982).
o Paraná, chegaram ao litoral de São Paulo. A etnografia de Schaden é produzida
exatamente no momento em que ocorriam intensas migrações, especialmente dos
subgrupos linguísticos Mbya e Nhandeva (Ava-Guarani) cujos territórios estavam sendo
desflorestados e ocupados intensivamente pela agropecuária. No entanto, estudos
recentes (DARELLA, 2004; BRIGHENTI, 2010) vêm demonstrando que a mobilidade
Guarani não obedece necessariamente a um sentido unidirecional – oeste-leste – ao
contrário, assemelham-se mais a sistemas circulares, e se alongarmos o período de
observação essa constatação fica mais evidenciada.
Figura 02 – Mapa da cobertura vegetal nativa na região da tríplice fronteira emquatro momentos no século XX
Na interlocução com nosso Projeto de Extensão registrado na Unila
investigaremos temas relacionados às demandas apresentadas pela Comissão Nacional
da Verdade (CNV)3 apresentadas no dia 10 de dezembro de 2014 quando publicou seu
Relatório com diversas recomendações ao governo brasileiro, dentre elas 3 (três)
recomendações pedagógicas:
1. “Reconhecimento, pelos demais mecanismos e instâncias de justiça transicional
do Estado brasileiro, de que a perseguição aos povos indígenas visando a
colonização de suas terras durante o período investigado constituiu-se como crime
de motivação política, por incidir sobre o próprio modo de ser indígena.
2. Inclusão da temática das “graves violações de direitos humanos ocorridas contra
os povos indígenas entre 1946-1988” no currículo oficial da rede de ensino,
conforme o que determina a Lei nº 11.645/2008.
3. Criação de fundos específicos de fomento à pesquisa e difusão amplas das graves
violações de direitos humanos cometidas contra povos indígenas, por órgãos
públicos e privados de apoio à pesquisa ou difusão cultural e educativa, incluindo-
se investigações acadêmicas e obras de caráter cultural, como documentários,
livros etc.”
Trabalharemos com parcerias, pois compreendemos que elas serão
fundamentais para o objetivo central do projeto, que é o fortalecimento da inclusão
da temática indígena no processo de justiça de transição, proporcionando à sociedade
uma aproximação com os postulados da justiça de transição em seus múltiplos eixos,
a saber, verdade, acesso à memória, reparação, responsabilização e mudança de
conduta do Estado.
Desta forma, o projeto será uma ferramenta multidisciplinar e criador de uma
rede de trabalho interinstitucional que atuam na região oeste do estado do Paraná,
para contribuir para o fortalecimento da democracia e o respeito aos direitos
constitucionais, territoriais e culturais dos povos indígenas.
3 “A Comissão Nacional da Verdade foi criada pela Lei 12528/2011 e instituída em 16 de maio de 2012.A CNV tem por finalidade apurar graves violações de Direitos Humanos ocorridas entre 18 de setembrode 1946 e 5 de outubro de 1988. Conheça abaixo a lei que criou a Comissão da Verdade e outrosdocumentos-base sobre o colegiado. Em dezembro de 2013, o mandato da CNV foi prorrogado atédezembro de 2014 pela medida provisória nº 632”. Disponível em: http://www.cnv.gov.br/institucional-acesso-informacao/a-cnv.html. Acesso em: 30 de novembro de 2015.
V. Fundamentação teórica
Partiremos dos pressupostos básicos da teoria e metodologia da história
indígena, na perspectiva de iniciativas plurais entre diferentes áreas do
conhecimento, especialmente na relação entre antropologia e história, relação que
nos últimos anos tem fundamentado inúmeras pesquisas empíricas em diferentes
tempos e espaços na América Latina nos quais os indígenas são enfocados com
sujeitos do processo (ALMEIDA, 2012, p.151). O diálogo entre história e
antropologia implica ir além do domínio metodológico, “os etno-historiadores devem
dominar ainda a arte de usar essas duas abordagens de maneira integrada”
(TRIGGER, apud ALMEIDA, 2012, p.158). Cardoso e Vaifas (2012) também
concordam que a “nova história cultural” está com um pé em cada mundo e tem na
antropologia a “interlocutora privilegiada”.
A abordagem que propomos dialoga com as ciências ambientais e sociais,
mais especificamente com a história ambiental e a geografia. O diálogo entre as
várias áreas do conhecimento não se resume a uma necessidade “legal”, mas
constitui-se como um dos pressupostos teóricos metodológicos da história indígena,
que em seu percurso está se consolidando como um método que congrega, além da
antropologia e geografia, áreas como arqueologia e linguística (EREMITES DE
OLIVEIRA, 2003).
A pesquisa em história indígena caminha para a construção de novos marcos
referenciais em suas abordagens. Apesar de incipiente, os pressupostos teóricos
devem partir de outras temporalidades, diferentemente da abordagem clássica da
história. Afinal os indígenas não ingressaram na história apenas no século XV
durante o período colonial, a arqueologia é um importante instrumento para
demonstrar a longevidade da presença dessas populações no continente (CARNEIRO
DA CUNHA, 1992), nesse sentido amplia-se os universos de fontes para além da
produção escrita, sejam de indígenas ou não indígena, deslocando-se para a cultura
material e imaterial, dos conhecimentos e saberes transmitidos na oralidade. As
relações estabelecidas com indígenas na atualidade não podem ser pautadas pelos
conceitos de transitórios ou mesclados sugerindo que esses seriam menos indígenas
que as gerações passadas, mas na relação de sujeitos históricos de seu tempo, agindo
a partir das condicionantes temporais e tradicionais.
Esses também serão desafios para o ensino da histórica indígena e a inserção
de indígenas no universo acadêmico como produtores de conhecimentos a partir de
suas cosmovisões na interculturalidade com os saberes científico.
Na perspectiva da ação indígena, nosso projeto compreende que a partir da
conquista dos direitos, os povos indígenas estão empenhados na sua concretização,
deixando os “bastidores” para assumir o “palco”. No entanto parte da sociedade
brasileira ainda resiste à possibilidade de ver os povos indígenas como sujeitos de
direitos e se mobilizam na redução dos mesmos e na inserção desses povos na
sociedade de consumo. Nesse sentido, Anibal Quijano demonstra que a sociedade
latina Americana precisa superar a perspectiva da colonialidade, definida por ele
como “um dos elementos constitutivos e específicos de um padrão mundial de poder
capitalista. Se funda na imposição de uma classificação racial/étnica da população do
mundo como pedra angular daquele padrão de poder, e opera em cada um dos
planos, âmbitos e dimensões, materiais e subjetivas, da existência cotidiana e da
escala social”. A nova abordagem sobre a temática quer se opor a perspectiva do
Epistemicídio, definida por Boaventura de Sousa Santos como uma forma de
expropriá-los os povos indígenas de suas formas próprias de pensar a vida, do seu
jeito de existir no mundo.
As novas teorias sobre essa temática são fundamentais para possibilitar a
pluriculturalidade da sociedade brasileira. A abertura para essa nova abordagem
passa necessariamente pelo conhecimento da história e cultura desses povos nos
espaços formais da educação escolar e na educação popular.
VI. Objetivo Geral
Estabelecer conexões entre as dinâmicas atuais de relações sócio culturais,
mobilidade, territorialidade e espacialidade Guarani no contexto da fronteira
Argentina, Brasil, Bolívia e Paraguai, possibilitando formar pesquisadores e difundir
conhecimentos científicos sobre os saberes, práticas e direitos da população Guarani
com vista a construção de indicadores historiográficos e proposições para
intervenções em políticas públicas no marco do Mercosul Social, Estados Nacionais,
Centros de Ensino e o fomento para inserção de indígenas na universidade na
dimensão da interculturalidade.
.
VII. Objetivos específicos
• Desenvolver pesquisas sobre a mobilidade e conexões internas e externas da
população Guarani na região de fronteiras (Argentina, Brasil, Bolívia e
Paraguai) identificando aspectos territoriais, espaciais, fundiários, de migrações
e relações transfronteiriças, dimensões do direito consuetudinário e percepções
dessa população sobre temas contemporâneos;
• Sistematizar os conhecimentos científicos, produzindo artigos para revistas
científicas, livros, participar e propor eventos sobre a temática;
• Elaborar produtos para atividades pedagogias para centos de ensino (escolas –indígenas e não indígenas – e universidades)
VIII. Justificativa
Pesquisas científicas com a população Guarani pressupõe um conhecimento
prévio sobre a dinâmica atual e histórica (tradicional) de mobilidade na região de
fronteira. Há uma dinâmica específica sobre as fronteiras que, ligadas a mobilidade
territorial, são singulares por estarem em contexto bastante específico. É no contexto
da fronteira que se evidencia com maior nitidez o significado das mesmas para esse
conjunto de comunidades que se articulam por redes linguísticas e territoriais
desafiando o universo colonial.
A construção de processos de pesquisas sobre populações indígenas deve passar
pelo “pensamento de fronteira” umbilicalmente ligado aos projetos decoloniais
(MIGNOLO, 2013). O método que Mignolo chama de pensamento de fronteira,
implica, romper com as formas de pensamento europeu ou eurocêntricas de
modernidade e desafiar-se a pensar desde diferentes espaços, especialmente daqueles
que foram desprestigiados ao longo da modernidade, como os saberes e práticas
indígenas. Conforme aponta Bragato (2013) “o pensamento decolonial propõe uma
forma de conhecimento que implica desprender-se e abrir-se as possibilidades
encobertas e desprestigiadas pela racionalidade como sendo tradicionais, bárbaras,
primitivas, místicas etc”. Trata-se de uma perspectiva desafiadora em criar esses novos
conceitos, novos métodos, e, principalmente novas práticas em torno da visão pós-
colonial, algo que seja próprio dos povos latino-americanos (BENVENUTO LIMA
JÚNIOR, 2013). A região de fronteiras geográficas possibilita que seja experenciada
com maior intensidade a dimensão continental de modo a construir novas visão e
práticas pós-colonial. A partir do lugar que pesquisamos irmos criando ondas para
além das do marco local, para além da fronteira geográfica.
Na perspectiva decolonial a Universidade é um espaço estratégico para abrir-se a
práticas que resistiram a modernidade, que continuam abrindo janelas de diálogos. A
perspectiva decolonial não é nova no contexto latino-americano, segundo Mingolo
(2013) elas sempre existiram, mas enquanto reflexões filosóficas ideológicas foram
referências na Conferência de Bandung, em 1955 e na The Civil Right Movement, no
final dos anos 1960 nos Estados Unidos. Um marco do pensamento decolonial no
Brasil, mesmo que embrionário, pode ser considerado o movimento modernista no
início do século XX, que ao lançar o Manifesto Antropofágico, de certa maneira
buscava referências na cultura brasileira para opor-se a imposição europeia, da
Revolução Francesa, e criar uma “Revolução Caraíba” (MINGOLO, 2013).
Essa perspectiva produz implicações de diversas ordens, dentre elas o
reconhecimento de novas territorialidades e novas formas de relacionar-se com o
meio. Os Guarani de maneira particular tem uma contribuição significa na construção
do pensamento pos-colonial. Segundo Melià (2001) “o povo Guarani é muito
moderno, quase pós-moderno. Por quê? Porque o povo Guarani, embora sua
especificidade, a singularidade, sabe entrar em diálogo conosco. O pensamento deles
não está tão distante do nosso pensamento utópico. Pela sua linguagem, pelo seu modo
de ser, pela sua palavra, pela sua paciência mais que pela agressividade, o povo
Guarani é um particular universalizável”.
IX. Metodologia
Nossa metodologia pressupõe diálogo permanente com as comunidades e
organizações Guarani, principais sujeitos e destinatários de nosso projeto. No contexto
continental o Guarani se organizam no Conselho Continental da Nação Guarani
(CCNAGUA), organização que contempla presença de líderes dos diferentes
subgrupos linguísticos presentes nos quatro países citados.
Teremos como marco de análise a documentação histórica e contemporânea bem
como a memória oral dessa população. A partir da memória oral e da documentação já
catalogada produziremos material de caráter educativo e pedagógico voltado para a
sociedade regional em seus espaços de produção de conhecimento.
Será uma pesquisa participativa na qual a população guarani contemporânea terá
lugar central.
X. Atividades previstas
Atividade 01: Estudos sistematizados da historiografia e etnografia histórica econtemporânea da população Guarani na região de fronteira;
Atividade 02: Estudo de campo da dinâmica da população Guarani a partir daarticulação política atual, articulada em trono do Conselho Continental da NaçãoGuarani.
Essa atividade corresponde em acompanhar sua dinâmica de articulação política eproduzir estudos sobre o mesmo;
Atividade 03: Simpósios temáticos em eventos científicos.
No momento já propomos um evento no II Congreso Internacional Los PueblosIndígenas de América Latina. Siglos XIX-XXI. Avances, perspectivas y retos SantaRosa (La Pampa) Argentina – 20 a 24 de septiembre de 2016.
Viabilizar a participação de indígenas em atividades em sala de aula e/ou em atividadesespecíficas.
Atividade 04: Fomentar novos pesquisadores.
Oferecer aos alunos da Unila (em áreas afins) a participação na pesquisa comovoluntários e/ou bolsistas a fim de inserir os alunos na iniciação científica e na pesquisasobre a temática indígena, relacionado a disciplina de História Indígena.
Atividade 05: Organizar seminários e oficinas com as comunidades Guarani paradevolução do produto do relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e daComissão Estadual da Verdade (CEV);
Atividade 06: Sistematização das pesquisas e produção de material para as escolas dascomunidades indígenas;
Atividade 07: Interlocução para promover a presença de estudantes indígena na Unilaem cursos regulares e cursos específicos
XI. Resultados esperados
1. Maior conhecimento sobre a mobilidade Guarani, suas demandas socioculturais,
educacionais, ambientais, sociais e territoriais; Participar na construção do mapa
continental;
2. Produção de dois artigos para revistas científicas, sobre o contexto histórico e
tradicionais bem como sobre as ações contemporâneas nas intervenções dos
Guarani nas políticas públicas e nas problematizações dos contextos
sociopolíticos;
3. Produção de um livro sobre as transfronteiras e as populações indígenas, a partir
da participação de pesquisadores da temática, de diversas regiões do país e de
outros países latino-americanos, abordando os contextos geográficos e as
experiências socioculturais resultantes do processo.
4. Construção de novos referenciais da decolonialidade a partir do povo Guarani,
formulando indicadores para a formação de acadêmicos indígenas;
5. Proposição para criação de um Núcleo de Pesquisa da História Indígena na
UNILA.
6. Comunidades Guarani apoderando-se de instrumentais de registros da memória;
7. Contribuições para revisão historiográfica sobre a presença contemporânea
Guarani na região oeste paranaense.
8. Discentes capacitados em torno de pesquisa e extensão.
9. Construção de novos referenciais da decolonialidade a partir do povo Guarani,
formulando indicadores para a formação de acadêmicos indígenas;
XII. Bibliografia
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