anatomia dentes decíduos

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21 Odontologia. Clín.-Científ., Recife, 8 ( 1): 21-28, jan/mar., 2009 www.cro-pe.org.br Importância da anatomia dos dentes decíduos para os procedimentos clínicos  Tenório, M .D.H.; Cota, A.L.; T enório, D.M.H. Importância da anatomia dos dentes decíduos para os proce- dimentos clínicos Importance of the anatomy of deciduous teeth for the clinical pro- cedures  Correspondência para / Correspondence to: Maria Dânia Holanda Tenório Condomínio Aldebaran Ômega, Q.J-16 – Serraria - Maceió-AL - CEP: 57080-900 / E-mail: [email protected]  Artigo de Revisão /  Review Article Resumo  Abstract Key-words O objetivo deste trabalho é descrever os detalhes anatômicos gerais dos dentes decíduos, enfatizando os primeiros molares, e mostrar a importância destas características durante os procedimentos restauradores e endodônticos. Este estudo pode facilitar a identicação anatômica dos dentes decíduos e a reconstrução anátomo-funcional peculiar aos primeiros molares.  Anatomia Dental, Morfologia, De nte Decíduo, Molar. The aim of the present research is to describe general details from primary teeth, emphasizing rst molars and to demonstrate the importance of these characteristics during endodontic and restaurative procedures. This study can facilitate primary teeth anatomic identication and anatomic funcional singular reconstruction of rst deciduous molars. Dental Anatomy, Morphology , Deciduous Tooth, Molar. Descritores Maria Dânia Holanda Tenório *, Ana L ídia Cota**, Diene Maria Holanda Tenório*** * Professora Associada da Disciplina de Odontopediatria – FO/UFAL ** Estagiária da Disciplina de Odontopediatria – FO/UFAL *** Professora Doutora da Disciplina de Histologia – ICBS/UFAL INTRODUÇÃO O conhecimento dos detalhes anatômicos e das caracte- rísticas histosiológicas dos dentes decíduos são de fundamen  - tal importância para a realização de um bom preparo cavitário, que, aliado aos princípios de natureza biológica e mecânica dos materiais, permitirá o restabelecimento anátomo-funcional conseqüente de uma lesão de cárie ou de um traumatismo. 1 Apesar dos detalhes anatômicos serem mais discretos, os dentes decíduos apresentam características próprias, espe  - cialmente os primeiros molares. Estes possuem sulcos, fossas, cristas marginais e ponte de esmalte especícas porém, tem sido alvo de imitações da morfologia externa de premolares que se restaurados, com semelhante anatomia, não haverá uma oclusão adequada à dentição decídua. O objetivo deste trabalho é comentar sobre os detalhes anatômicos gerais dos dentes decíduos de importância para o restabelecimento anátomo-funcional, enfatizando a morfologia dos primeiros molares. REVISÃO DA LITERATURA CARACTE RÍSTICAS GERAIS DOS DENTES DECÍDUOS Serão utilizadas no texto abreviações, para os tipos de: dentes (molar decíduo MD ou permanente MP e premolar PM ), arcos (superior S ou inferior I) ordem (1º ou 2º) e superfícies (cervical, incisal, oclusal, vestibular, lingual, palatina, mesial e distal em: C, I, O, V, L, P, M e D, respectivamente. Dentre as características gerais relacionadas à parte coronária, estão a cor, a dureza e o volume. A cor dos dentes decíduos é mais opaca ou branco-leitosa. 2,3,4,5,6  em razão de possuirem menor quantidade de sais de cálcio salientando a cor da dentina. 7  As modicações de cor ou a presença de manchas são resultantes de pigmentações causadas por substâncias, defeitos estruturais ou da condição pulpar conse  - quentes de cárie ou trauma dentais. 1,5,8  Os fatores que causam manchas no esmalte de dentes decíduos estã o, resumid amente, apresentados no Quadro 1. A menor quantidade de cálcio também faz os decíduos apresentarem uma dureza menor, que, associada ao tempo e à abrasão, desgastam nas pontas das cúspides e bordas incisais. 2,3,4,9  Em relação ao volume estes dentes no sentido M-D apresentam-se mais largos do que C-I. 2,3,4,5,6,8 Os dentes decíduos possuem uma camada aprismática, localizada supercialmente no esmalte, cuja espessura é de 16 a 45µm, podendo chegar a 100µm, resultado da deposição de cristais de esmalte, dispostos no mesmo sentido. Nos dentes anteriores, esta camada diminui em direção ao terço incisal, provavelment e devido às forças da mastigação. 10,11,12 Maiores espessuras de esmalte são encontradas nos dentes anteriores, no terço cervical da face V e recebe o nome de “anel de esmalte;” 2,9 enquanto nos molares, encontram-se, no ângulo mesio-vestíbulo-cervical e recebe o nome de tubérculo de Zuckerkandl. Esta saliên cia de esmalte termina bruscamente, na união cemento-esmalte, gerando uma constricção no colo dental e fazendo com que a coroa apresente uma forma expulsiva. 2,3,4,5,6,9,13  

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    Odontologia. Cln.-Cientf., Recife, 8 (1): 21-28, jan/mar., 2009www.cro-pe.org.br

    Importncia da anatomia dos dentes decduos para os procedimentos clnicos

    Tenrio, M.D.H.; Cota, A.L.; Tenrio, D.M.H.

    Importncia da anatomia dos dentes decduos para os proce-dimentos clnicos

    Importance of the anatomy of deciduous teeth for the clinical pro-

    cedures

    Correspondncia para / Correspondence to:

    Maria Dnia Holanda TenrioCondomnio Aldebaran mega, Q.J-16 Serraria - Macei-AL - CEP: 57080-900 / E-mail: [email protected]

    Artigo de Reviso /Review Article

    Resumo

    AbstractKey-words

    O objetivo deste trabalho descrever os detalhes anatmicos gerais dos dentes decduos, enfatizando

    os primeiros molares, e mostrar a importncia destas caractersticas durante os procedimentos

    restauradores e endodnticos. Este estudo pode facilitar a identicao anatmica dos dentes

    decduos e a reconstruo antomo-funcional peculiar aos primeiros molares.

    Anatomia Dental, Morfologia, Dente Decduo,

    Molar.

    The aim of the present research is to describe general details from primary teeth, emphasizing

    rst molars and to demonstrate the importance of these characteristics during endodontic and

    restaurative procedures. This study can facilitate primary teeth anatomic identication and anatomic

    funcional singular reconstruction of rst deciduous molars.

    Dental Anatomy, Morphology , Deciduous

    Tooth, Molar.

    Descritores

    Maria Dnia Holanda Tenrio*, Ana Ldia Cota**, Diene Maria Holanda Tenrio***

    * Professora Associada da Disciplina de Odontopediatria FO/UFAL** Estagiria da Disciplina de Odontopediatria FO/UFAL*** Professora Doutora da Disciplina de Histologia ICBS/UFAL

    INTRODUO

    O conhecimento dos detalhes anatmicos e das caracte-rsticas histosiolgicas dos dentes decduos so de fundamen-tal importncia para a realizao de um bom preparo cavitrio,que, aliado aos princpios de natureza biolgica e mecnicados materiais, permitir o restabelecimento antomo-funcionalconseqente de uma leso de crie ou de um traumatismo.1

    Apesar dos detalhes anatmicos serem mais discretos,os dentes decduos apresentam caractersticas prprias, espe-cialmente os primeiros molares. Estes possuem sulcos, fossas,cristas marginais e ponte de esmalte especcas porm, temsido alvo de imitaes da morfologia externa de premolaresque se restaurados, com semelhante anatomia, no haver

    uma ocluso adequada dentio decdua.O objetivo deste trabalho comentar sobre os detalhes

    anatmicos gerais dos dentes decduos de importncia para orestabelecimento antomo-funcional, enfatizando a morfologiados primeiros molares.

    REVISO DA LITERATURA

    CARACTERSTICAS GERAIS DOS DENTES DECDUOSSero utilizadas no texto abreviaes, para os tipos de:

    dentes (molar decduo MD ou permanente MP e premolar PM),arcos (superior S ou inferior I) ordem (1 ou 2) e

    superfcies (cervical, incisal, oclusal, vestibular, lingual, palatina,mesial e distal em: C, I, O, V, L, P, M e D, respectivamente.

    Dentre as caractersticas gerais relacionadas partecoronria, esto a cor, a dureza e o volume. A cor dos dentesdecduos mais opaca ou branco-leitosa. 2,3,4,5,6em razo depossuirem menor quantidade de sais de clcio salientandoa cor da dentina.7As modicaes de cor ou a presena demanchas so resultantes de pigmentaes causadas porsubstncias, defeitos estruturais ou da condio pulpar conse-quentes de crie ou trauma dentais. 1,5,8Os fatores que causammanchas no esmalte de dentes decduos esto, resumidamente,apresentados no Quadro 1.

    A menor quantidade de clcio tambm faz os decduosapresentarem uma dureza menor, que, associada ao tempoe abraso, desgastam nas pontas das cspides e bordasincisais. 2,3,4,9Em relao ao volume estes dentes no sentido

    M-D apresentam-se mais largos do que C-I.2,3,4,5,6,8

    Os dentes decduos possuem uma camada aprismtica,localizada supercialmente no esmalte, cuja espessura de 16a 45m, podendo chegar a 100m, resultado da deposio decristais de esmalte, dispostos no mesmo sentido. Nos dentesanteriores, esta camada diminui em direo ao tero incisal,provavelmente devido s foras da mastigao. 10,11,12

    Maiores espessuras de esmalte so encontradas nosdentes anteriores, no tero cervical da face V e recebe o nomede anel de esmalte; 2,9enquanto nos molares, encontram-se,no ngulo mesio-vestbulo-cervical e recebe

    o nome de tubrculo de Zuckerkandl. Esta salincia de esmalte

    termina bruscamente, na unio cemento-esmalte, gerandouma constrico no colo dental e fazendo com que a coroaapresente uma forma expulsiva. 2,3,4,5,6,9,13

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    Tenrio, M.D.H.; Cota, A.L.; Tenrio, D.M.H.

    Nos molares decduos a camada de esmalte e dentina mais delgada, especialmente na regio das projees pulpares.Estas camadas nos 1sMS medem, cerca de 1.2 a 3.8mm enos 1sMI, 1.2 a 4.7mm; nos 2sMS, de 1.8 a 3.8mm e, cercade 1.8 a 4.2mm nos 2sMI. 3 A camada de esmalte tem aproxi-madamente 1 mm e uniforme em toda a coroa, terminandona borda cervical de forma bem denida; a maior espessurade dentina encontra-se no centro do dente. 3,4,12A partir dotero mdio h uma convergncia das superfcies V e L paraO, tornando a face O menor que a C. 2,3,4,5,6,9,13,14

    As zonas de contato dos dentes decduos so importantesna preservao do espao para os dentes permanentes, nodiagnstico de crie e nas restauraes proximais. Nos dentessuperiores, estas reas encontram-se:entre canino e 1M emum pequeno contato circular no tero O-V; entre 1ose 2osM,amplo contato na metade O-L da superfcie D em forma demeia lua (convexidade em direo O); os 2osMD e os 1osMPpossuem amplos contatos em forma de meia lua. Nos dentesinferiores:entre caninos e 1osM, no h contato devido aos es-

    paos primatas; entre 1

    os

    e 2

    os

    M o contato amplo, em formade meia lua, logo abaixo da unio do sulco M; entre 2osMD e1osMP o contato pequeno, arredondado e em posio V- Cao sulco D 3.

    Algumas semelhanas podem ser notadas, entre os2osMDe 1osMP, tanto nos superiores como nos inferiores, porpossurem uma anatomia oclusal semelhantes pela, presenado tubrculo de Carabelli (face M-P) nmero de cspides, fos-sas, sulcos e cristas.2,3,4,5,6,9A Figura 1, mostra que os 2osMDSapresentam quatro cspides e a ponte de

    esmalte, semelhante aos 1osMPS, une a MP DV. Da mesmaforma, a Figura 2 mostra que, os 2osMDI semelhantemente aos1osMPI, apresentam na face O, cinco cspides sendo, 3 voltadaspara V, onde a mediana a maior, seguida pela MV e DV e, 2

    voltadas para a L, de tamanhos aproximadamente iguais.3

    Alm das caractersiticas gerais da parte coronria importante tambm considerar aquelas relacionadas parteradicular.

    Iniciando pelo teto da cmara pulpar, esta se encontradelimitada pelo nal da camada de dentina, acompanha aanatomia externa do dente e apresenta projees em direos cspides, formando as proeminncias ou cornos pulpares,sendo os mesiais dos molares mais projetados. 2,3,4,5,9

    Delimitada pelo teto, cornos pulpares e assoalhoencontra-se a cmara pulpar. Esta, abriga a polpa coronria, ampla, com um formato trapezoidal nos molares superiorese retangular nos inferiores (Figuras 3 e 4, respectivamente).3,5Com o tempo e a abraso, a cmara pulpar diminui, pelaformao de novas camadas de dentina, destinadas a compen-sar o desgaste exterior do dente.3Abaixo do contedo pulparencontra-se o assoalho da cmara, com uma elevao maiorna poro central e medindo cerca de 1,5mm, onde podem serencontradas, as foraminas. Estas so aberturas anmalas queconectam a polpa aos tecidos periodontais, originadas durantea formao da raiz, por defeitos na bainha epitelial de Hertwig,provavelmente devido persistncia de vasos sangneos, ondeem torno desses vasos, ocorre uma diferenciao de odon-toblastos e a formao de dentina irregular.15As foraminasagem como porta para a invaso bacteriana e suas toxinaschegarem a rea inter-radicular. Esta rea se compe nostio de alteraes, em dentes com

    comprometimento pulpar, onde apresentar, rediograca-mente uma rea radiolcida resultante de uma leso comperda ssea.15

    Quanto s razes, nos dentes anteriores so longas,achatadas no sentido M-D, desviadas para V a partir da 1/3mdio e, apresentam um canal amplo. Por trs das razes dosdecduos anteriores (faces L ou P) desenvolvem-se os germesdos incisivos e caninos permanentes. As razes dos

    Tipo de Mancha Fatores

    Branca Desmineralizao, hipoplasia, uorose.

    Amarela a marrom Amelognese imperfeita, uorose e ingesto de sulfato ferroso.

    Marrom a prpura Eritroblastose fetal e Porria.

    Marrom a preta Crie crnica, presena de bactrias cromognicas com anidade porcorantes.

    Amarela escura a acinzentada Ingesto de tetraciclinas na poca da odontognese.

    Acinzentada persistente Restos orgnicos, necrose pulpar ou sangue deixados nos cornos pulparesdurante pulpo/pulpectomias, pastas obturadoras de canais radiculares.

    Acinzentada passageira Congesto de vasos sangneos na cmara pulpar ou rupturas de capilarescom pequeno extravasamento de sangue, que poder ser reabsorvidoantes de se depositar nos tbulos dentinrios e manter a vitalidadepulpar.

    Marrom a acinzentada Permanncia de sangue nos tbulos dentinrios com hemlise das clulasvermelhas, liberao da hemoglobina com posterior degradao em ferroe deposio em forma de sulfato ferroso, ocorre degenerao pulpar.

    Rseo Destruio do tecido vascular da polpa manifestando-se aps semanas oumeses por reabsoro interna.

    Quadro 1 - Fatores que podem causar manchas nos dentes decduos.

    *Fonte: Machado et al 8; McDonald et al.5

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    molares apresentam canais, mais estreitos, secundriose acessrios, localizam-se no mesmo plano sagital que passaatravs dos vrtices das cspides 16 e so bastante curvas,para abrigar os germes dos premolares. Os molares superio-res apresentam 3 razes: 2V, 1P, sendo a DV mais curta e osmolares inferiores, 2 razes, M e D.2,3,4,5,6,9,14,15As razes sofremmodicaes, de acordo com o ciclo biolgico do dente, atravs

    do processo de rizlise.CARACTERSTICAS ESPECIAIS DOS PRIMEIROS MOLARESDECDUOS.

    Iniciando pelos 1sMS, estes possuem a face Vmarcadapor uma depresso que vai do centro para a D do dente. AfaceP quase corresponde metade da V; na maioria dos casos nica, mais lisa, arredondada e mais inclinada para a M. 17Na Figura 5A so ilustradas, as

    Figura 1 - Molares superiores: semelhana oclusal do 2 MD e 1 MP. Notar, em ambos os molares,as 4 cspides com a ponte de esmalte ligando a MP DV, e no 1MD as 3 cspides separadaspelo sulco MD, no centro do dente.

    Figura 2 - Molares inferiores: semelhana oclusal do 2 MD com o 1 MP. Notar, a disposiodas 5 cspides em ambos os molares e no 1 MD, as 4 cspides com a ponte de esmalteunindo as mesiais.

    caractersticas da face O, apresentando normalmente 3 cs-pides: duas voltadas para V e uma para P. Nos casos em queapresenta 4 cspides, a MP mais larga e pontiaguda e a DP,menor e mais arredondada. Possui ainda duas fossas rasas Me D, prximas s cspides V e um sulco MD que divide a faceO em lados V e P, atravessando as cristas marginais M e D.

    A crista marginalD menor, une ascspides Ve P em ngulo quase reto, enquanto a crista mar-ginal M maior, mais convexa, at encontrar o sulco MD e, apartir da, mais reta em direo a cspide MP. 3A anatomiaoclusal dos 1osMDS pode ser diferente em relao ao lado

    Os molares inferiores possuem caractersticas bastantepeculiares que no se assemelham a nenhum dente perma-nente 2,3,4,5,6,9,13,14,17. Sua face V bastante inclinada para O eapresenta a partir do 1/3 mdio, uma depresso resultanteda extenso do sulco V vindo da face Oe que marca a super-fcie em 2 lbulos M e D, sendo o M mais alto, volumoso eem posio quase vertical; na poro D a borda V cncava

    e da poro mediana at a M convexa. A face L menor einvadida por um pequeno sulco O-L que divide as cspides L(ML maior, mais alta e bastante convergente para O) e termina

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    molares decduos e premolares, ao se comparar, as Figuras1 e 2 (grupo de molares decduos superiores e inferiores,respectivamente) com as Figuras 7 e 8 (grupo de premolaressuperiores e inferiores respectivamente). Nota-se que, enquanto

    a face O dos 1s

    MDS apresentam 3 cspides 2V e 1P separadaspelo sulco MD, os 1sPMS apresentam apenas uma cspide V,bem aguada e outra L; enquanto os 2sMDS assemelham-seaos 1 MPS, os 2sPMS tm apenas duas cspides uma V euma P. Na regio inferior, os 1sMD possuem 4 cspides ea ponte de esmalte, mais voltada para M liga a MV ML oque diferencia dos 1sPM que possuem apenas 2 cspides ea ponte de esmalte liga a cspide V L, mais voltada parao centro do dente. Enquanto os 2sMD assemelham-se aos1sMP com 5 cspides, os 2sPM possuem apenas 2 cspides.2,3,4,5,6,9,13,15,17 Portanto, considerar estes aspectos importantepara que a restaurao de um molar decduo no apresente, nonal, a forma de um premolar e em consequncia, haja faltade engrenamento das cspides, para uma ocluso adequada dentio decdua.

    DISCUSSO

    A morfologia dos dentes decduos apresentada emlivros bsicos de odontopediatria 3,4,5,6,13,14,15e anatomia bucal

    Figura 3 - Cmara pulpar de um 2MDS - forma trapezoidal.

    Figura 4 - Cmara pulpar do 2MD I - forma retangular.

    em uma depresso

    no 1/3 mdio. Na Figura 6A so ilustrados os aspectos da faceO: a ponte de esmalte, unindo as cspides MV a ML; 2 fossas,a M (perto da cspide V, menor e mais profunda, de onde parteo sulco O-L que invade a face L e separa a crista marginal Mda cspide ML) e a fossa, D mais rasa e maior de onde partemaproximadamente 4 sulcos: O-L, (separa as cspides L em M eD), O-V (separa as cspides V em M e D) e, outros 2 menores,um mais voltado para a cspide DV e outro para DL. A cristamarginal M menor, mais inclinada para L e une-se em n-gulo reto face V e quase reto L. A crista marginal D maisconvexa, larga e une-se em ngulo reto face L e quase reto face V. Possuem 4 cspides: uma MV maior, seguida pelaML, DV e DL, sendo o vrtice da ML maior e mais aguado.

    Por estas disposies, a face Oassemelha-se a um nmero8 deitado, cuja parte menor corresponde superfcie M e amaior D(Figura 6B). 3

    Assim como h semelhanas, entre os 2osMDe 1osMP,podem ser observadas claramente, diferenas entre

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    Neste trabalho, foi possvel mostrar de uma forma maisresumida, os aspectos anatmicos coronrios e radiculares dosdentes decduos e em especial, as caractersticas dos 1osmola-res. O conhecimento destes detalhes importante e inuenciatanto no reconhecimento dos dentes decduos, quanto paradissipar algumas diculdades durante sua reabilitao.

    Figura 5 - Detalhes anatmicos da face oclusal de 1MDS.

    Figura 6 - Detalhes anatmicos face oclusal de 1MDI.

    A cor branco-leitosa dos dentes decduos tem importn-cia para o diagnstico diferencial de manchas no esmalte ena seleo da cor de uma resina mais apropriada. Assim, ascores mais claras ou opacas so as mais utilizadas.

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    Figura 7 - Premolares superiores: presena de apenas 2 cspides bem denidas. Comparar comos molares decduos superiores da Figura 1.

    Figura 8 - Premolares inferiores: presena de apenas 2 cspides bem denidas. No 1PMI aponte de esmalte, central ao dente, liga a cspide V L. Comparar com os molares decduosinferiores da Figura 2.

    Como observaram, Silva et al (2004) 19, as cores mais apro-ximadas aos dentes decduos foram: B1 (Filtek) A110 (3M),B1-Amelogem (Ultradent) B0,5 Filtek e Z250 (3M).

    O volume das coroas um detalhe que deve ser consi-derado nas reconstrues coronrias, bem como nas prtesesxas funcionais ou prtese do sistema tubo-barra. Assim comoem adultos, para o planejamento de uma prtese importanteobservar, o nmero de dentes a serem substitudos, o espaopresente e, quando possvel, tomar como referncia as medi-das dos dentes adjacentes. Quando estes aspectos no soconsiderados, dentes anteriores podem ser colocados despro-porcionalmente e a criana pode apresentar uma aparnciade boca cheia.

    Apesar dos dentes decduos apresentarem menor es-pessura de esmalte e dentina 2,3,4,9, desgastarem mais que

    os permanentes e terem uma longevidade mais curta, estascaractersticas podem permitir, seguramente, a utilizaode resinas, tambm, em molares, em funo do tempo depermanncia na boca, coincidir com o desgaste natural dasmesmas.1No entanto, podem apresentar diculdades relacio-nadas a um efetivo condicionamento cido, devido camadaaprismtica. Por no haver interao com as salincias ereentrncias dos prismas, a camada age como uma barreiramecnica, no promovendo a formao dos tags ou tneisvazios para a reteno da resina. Assim, o cido fosfrico a 35% o mais recomendado sendo utilizado em um tempo de 15 a30 segundos. Alguns cuidados tcnicos so exigidos como, aprolaxia prvia do dente e a colocao do isolamento absoluto.Nos casos da impossibilidade do uso do isolamento absoluto,cuidados so necessrios para no haver contaminao porsaliva, aps o ataque cido, na troca dos roletes de algodoou mesmo pelo ar proveniente da seringa de ar comprimido,mido ou misturado com leo. 20,21,22

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    Pelo fato dos contatos proximais serem amplos, junta-mente com a constrico do colo e a proeminncia dos cornospulpares, diculdades podem ser encontradas durante ospreparos cavitrios em relao s paredes axial e gengival,para no envolver os cornos pulpares nem romper o suportedentinrio.14Quando este suporte rompido, no haver sus-tentao para o material restaurador, isto impedir que um

    molar seja devidamente restaurado.Em relao regio proximal - cervical, esta se constituiem uma rea de maior fragilidade das restauraes de molaresdecduos. Quando essa regio apresenta a juno amelocemen-tria onde, a dentina encontra-se exposta, ocorre um aumentoda permeabilidade dentinria e torna-se morfologicamente vul-nervel a agresses mecnicas, qumicas e bacteriolgicas.16Assim, em procedimentos restauradores, essa regio podegerar alguns problemas, tais como: a quebra da integridademarginal, microinltrao, descolorao marginal e recidiva decrie. Em relao aos problemas endodnticos pode ocorrer,desde a necrose pulpar at uma maior velocidade de reabsor-o patolgica, nos molares.17

    A restaurao de regies proximais em molares podem,ainda, gerar diculdades, durante o momento da colocao do

    isolamento absoluto e/ou do porta-matriz. Estas diculdadesesto em funo dos detalhes anatmicos, tais como: o aspectoexpulsivo, a constrico do colo, o formato bulboso, o contatoamplo e elptico, como tambm a menor rea de trabalho e aforte musculatura da bochecha e dos lbios. Assim, gramposespeciais para dentes decduos seria uma soluo para oisolamento absoluto, e a utlizao das matrizes individuaispr-fabricadas ou soldadas, a matriz em T e o porta-matriz

    de Tofemire, para reconstrues proximais. A colocao datira-matriz imprescidvel e deve ter a medida compatvelcom a altura do dente, sem sobras, de forma a recobrir todo opreparo, o que facilitar tambm durante a escultura. O posicio-namento da cunha de madeira essencial, para a adaptao

    cervical da matriz, evitando os excessos de material restauradore restabelecendo a rea de contato.14 importante esclarecerque, reconstrues proximais incorretas de dentes decduos,principalmente das reas de contato, modicam as relaesdos dentes adjacentes, desviando-os de seu trajeto normal eacarretando em futuros problemas de espao.5

    Outro aspecto bastante importante, sobre as restau-raes de dentes decduos, diz respeito identicao dosmolares, para no serem confundidos com os premolares oumolares permanentes. Assim, pelo menos seis caractersticaspodero melhor identicar os molares decduos, quais sejam:a cor branco-leitosa, coroas mais largas, convergncia dassuperfcies V e L para O, a face O menor que a C, detalhesanatmicos discretos e o tubrculo de Zuckerkandl na face V.Alm disso, o desgaste oclusal causado pelo tempo, a idade

    da criana e a cronologia de erupo dos dentes permanentespodem auxiliar na identicao dos mesmos.

    Em relao s caractersticas endodnticas, frequente-mente, os molares decduos esto sujeitos a um comprometi-mento pulpar devido, menor espessura e mineralizao dascamadas de esmalte e dentina, projeo dos cornos pulparese ao grande volume pulpar. 17Os cornos pulpares mais altos sovulnerveis perfurao, pela progresso da crie ou durante aremoo de dentina cariada. No entanto, podem ser utilizadoscomo zona de eleio ao acesso da cmara pulpar. 23 Nestesentido, durante as manobras tcnicas de uma pulpotomia,dois aspectos importantes devem ser considerados: primeiro,no confundir o acesso cmara pulpar com a abertura de umcanal radicular, pois, abaixo dessa perfurao ou acesso existea polpa coronria ou o local onde a mesma existia (casos de

    necrose pulpar); segundo, prximo esfoliao, como o tetoe o assoalho se tornam mais prximos, na regio central dodente,23 cuidados so necessrios para no se perfurar o asso-alho, com brocas, durante a remoo de dentina cariada ou doteto da cmara pulpar. Para diminuir os riscos de perfuraes,

    A presena da rizlise tambm outro aspecto que me-rece ateno. Nos dentes anteriores, a radiograa periapicalno revela, exatamente, na face L ou P, a extenso da rizlise,sendo necessrios, cuidados durante a odontometria para nose introduzir a lima, no periodonto. Em molares, recomenda-se,recuar a lima em 1mm da regio apical ou limit-la acima doplano oclusal do germe permanente ao se constatar, radio-

    gracamente, sua presena na regio de furca; assim, todoo canal poder ser manipulado, se o germe estiver abaixo dopice radicular. 24Alm disso, importante, o conhecimentodas medidas do comprimento total dos dentes decduos, comosegue: incisivos, entre 14 a 19 mm; caninos, 17,5 a 22mm; 1osM,14 a 17mm e 2osM, 17,5 a 19,5 mm. 3

    CONSIDERAES FINAIS

    Neste trabalho, foi evidenciado que o conhecimento

    das caractersticas coronrias e radiculares dos dentes decdu-os importante, e que a reconstruo dos primeiros molares

    deve seguir, suas caractersticas, especiais, que os diferenciamdos premolares e molares permanentes. essencial que alunose clnicos, considerem estas caractersticas durante os proce-dimentos da operatria restauradora e endodntica para umamelhor devoluo anatmica funcional e esttica.

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    Recebido para publicao em 20/09/2007

    Enviado para reformulao em 23/11/2007

    Aceito para publicao em 17/09/2008