ANARQUISMO, ANARCOSSINDICALISMO E SINDICALISMO ... · Anarquismo e sindicalismo •Em seus 150 anos...
Transcript of ANARQUISMO, ANARCOSSINDICALISMO E SINDICALISMO ... · Anarquismo e sindicalismo •Em seus 150 anos...
ESFORÇOS ORGANIZATIVOS INTERNACIONAIS (1868-1939)
ANARQUISMO, ANARCOSSINDICALISMO E SINDICALISMO REVOLUCIONÁRIO
Felipe Corrêa
Palavras prévias
• Agradecimento: organização, público, mesa e Lucien van der Walt, por suas importantes contribuições para esta apresentação
• Felipe Corrêa: Membro do ITHA, professor, pesquisador, editor
100 anos da Internacional Comunista de 1919
• Objetivo: Apresentar um panorama geral dos esforços organizativos internacionais do anarquismo, de 1868 a 1939, que culminaram na (re)fundação da Associação Internacional dos Trabalhadores, ou “Internacional Sindicalista” em 1922/23, que buscou contrapor o COMINTERN e o PROFINTERN
• E, também, mostrar, nesse período, as alianças e cisõesentre anarquistas, outros socialistas e comunistas
Anarquismo: questões conceituais
Anarquismo e sua história
• Tipo libertário de socialismo revolucionário
• Possui uma imensa e influente história entre todos os tipos de trabalhadores (campos e cidades)
• Existe há praticamente 150 anos em todo o mundo (fenômeno global)
Fundamentos ideológico-doutrinários
• Tem como fundamento ideológico-doutrinário:
Crítica radical do capitalismo, do Estado e de todas as formas de dominação
Defesa de um projeto autogestionário e federalistacom socialização generalizada da propriedade, do poder político e do conhecimento
Estratégia classista, de trabalhadores e oprimidosmobilizando força social por enfrentamentos com coerência entre meios e fins, promovendo uma revolução social e construindo uma sociedade de igualdade e liberdade plenas (autogestão e federalismo)
Anarquismo e sindicalismo
• Em seus 150 anos de história, expressou-se sobretudo, por meio de seus vetores sociais
• Destacadamente, o sindicalismo intenção revolucionária(sindicalismo revolucionário e anarcossindicalismo)
• Essa forma de sindicalismo foi a principal estratégia
de massas do anarquismo histórico
Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) ou “Primeira Internacional” (1868-1877)
Formação, projeto e forças
• Fundada em 1864 por esforço dos trabalhadores franceses (mutualistas) e ingleses (unionistas)
• Projeto de articulação internacional de trabalhadores(organizações de massa, sindicais) que se radicaliza ao longo dos anos
• Desde o início, conflito entre federalistas (maioria) e centralistas (minoria)
• Até 1867, a maioria dos federalistas era mutualista; entre 1867 e 1868 isso se modifica, e ela passa a ser coletivista
• Anarquismo e sindicalismo revolucionário a partir de 1868como parte principal desse campo federalista-coletivista
Conflitos e ruptura
• Progressivamente, trabalhadores se engajando com crítica ao capitalismo e defendendo o socialismo
• Conflito fundamental: Estratégia• Articulação da classe em organização classista e
revolucionária de massas e destruição do Estado X Transformação da classe em partido da classe e conquista do poder político
• “Ruptura” de 1872 • Fim da “Internacional Centralista”• Início da Internacional Antiautoritária (até 1877)
M. Bakunin
J. Guillaume
A. Schwitzguébel
Congresso Socialista Revolucionário (Londres, 1881)
Internacional Negra
• Tentativa de reconstruir a antiga Internacional, num contexto de grande repressão (pós-Comuna de Paris)
• Conformação da “Internacional Negra”, praticamente sem desdobramentos significativos
• Participação de setores revolucionários do socialismo: anarquistas, sindicalistas, comunistas, blanquistas
• Algumas organizações mais amplas, mas grande quantidade de pequenos grupos (- organ. massas, + grupos)
• Oposição às instituições econômicas e políticas; contraponto ao reformismo, ao parlamentarismo e à retórica de transformação
• Necessidade de ação revolucionária• “Propaganda pelo fato”
P. Kropotkin
L. Michel
E. Malatesta
Internacional Socialista ou “Segunda Internacional” (1889-1896 e depois)
Constituição e conflitos
• Fundada em 1889, visando novamente dar continuidade aos esforços da “Primeira Internacional”
• Papel determinante da socialdemocracia alemã e francesa• Anarquistas e sindicalistas revolucionários participam
• Desde 1º Congresso, questão que “cindiu” a AIT é retomada: partidos políticos e disputa de eleições; hegemonia do reformismo socialdemocrata
• Maiores conflitos com anarquistas por este motivo durante os quatro primeiros congressos (Paris, 1889; Bruxelas, 1891; Zurique, 1893; Londres, 1896)
• Anarquistas acusam a Internacional de ser reformista e de romper com os pressupostos da transformação social revolucionária
Anarquismo, sindicalismo e guerra
• Presença relevante de anarquistas (60 delegados no Cong. de Zurique, por ex.), impedidos de participar ou excluídos; sindicalistas (revolucionários e/ou anarquistas) continuaram
• Também houve continuidade de presença sindicalista revolucionária (sobretudo aqueles que não se recusavam aparticipar de eleições)
• PSI, na Itália; SPA, nos EUA, com Bill Haywood (IWW); SLP, nos EUA, com De Leon; International Secretariat of National Trade Union Centres (ISNTUC)
• Crise com a Primeira Guerra que põe a 2ª Internacional em crise também tem impacto nos meios anarquistas; imensa maioria se opõe à guerra, alguns (importantes) apoiam
G. Landauer
E. Reclus
F. Pelloutier
Congresso Anarquista de Amsterdã (1907)
Internacional Anarquista
• Iniciativa de belgas e holandeses, com presença de aprox. 60 delegados (principalmente da Europa) visando estabelecer uma Internacional Anarquista
• Debates e posições mais relevantes:• Antiorganizacionismo • Organizacionismo (sindicalismo exclusivo)• Dualismo organizacional (anarquismo e sindicalismo)• Modelo de organização anarquista
• Criação de um bureau internacional para relações e arquivo (E. Malatesta, R. Rocker e A. Schapiro)
• Congresso de 1909 não ocorre e Internacional não se consolida
E. Goldman
L. Fabbri
A. Dunois
P. Monatte
Congresso Sindicalista de Londres (1913)
Criar uma nova Internacional?
• Proposta de ingleses e holandeses para articular uma Internacional Sindicalista (sindicalismo revolucionário e anarcossindicalismo)
• Crítica ao reformismo do International Secretariat of National Trade Union Centres (ISNTUC), vinculado à 2a Internacional• Problemas com participação da CGT francesa, maior organização dessa linha, mas que era parte do ISNTUC
• Questão importante: Criar uma organização sindicalista revolucionária e anarcossindicalista ou atuar em organizações mais amplas (como ISNTUC) para influenciar de dentro?
Resultados
• Presença de 38 delegados representando 12 países (Europa e América Latina) e 250 mil trabalhadores
• Estabelecimento de uma Internacional Sindicalista (com um bureau em Amsterdã e um Bulletin Internationale du Mouvement Syndicaliste)
• Declaração: crítica do capitalismo e do Estado, necessidade de emancipação (comunidade admin. meios de produção), luta de classes internacional, organização autônoma de trabalhadores (sem divisão política e religiosa), livre associação e ação direta
• Desarticulação com a Primeira Guerra, mas origem da Internacional Sindicalista de 1922/3
Sessão do Congresso de Londres, 1913 C. Cornelissen
T. Mann F. Kater
Internacional Comunista ou “Terceira Internacional” (1919-1921)
COMINTERN
• Contexto de enfrentamento do reformismo socialdemocrata e de certas aproximações com bolcheviques (perspectiva revolucionária, maioria contra a guerra etc.)
• Revolução Russa bem vista, reforça essa aproximação• Proximidade e alianças de anarquistas, anarcossindicalistas e sindicalistas revolucionários• Repressão aos anarquistas russos desde 1918; 1ª onda 1918; 2ª onda 1919; 3ª onda 1920; 4ª onda 1921-1922
• Estabelecimento da Internacional Comunista em 1919 (COMINTERN); ela abre-se aos sindicatos, convidados ao 2º congresso de 1920; organizações anarcossindicalistas e sindicalistas revolucionárias atendem
• Contato com repressão aos libertários russos
PROFINTERN
• 2º congresso de 1920 -> Fundação do PROFINTERN em 1921
• 1920/1: Anarcossindicalistas e sindicalistas revolucionáriosestabelecem condições para participação: independência de classe relativa aos partidos políticos
• Fundação do PROFINTERN, aparelhado pelo PC russo• Braço sindical do comunismo da COMINTERN
• Cisão de organizações de distintos países• Primeiro: Alemanha, Suécia, Holanda e Noruega• Depois: Espanha, Itália e França
• Decisão de criar uma nova organização à parte
Associação Internacional dos Trabalhadores ou “Internacional Sindicalista” (1922/23-1939)
Fundação, organizações e membros
• Congresso entre fins de 1922 e início de 1923 em Berlim funda a Associação Internacional dos Trabalhadores ou “Internacional Sindicalista” (reivindica ser a legítima continuadora da AIT, 64-77)
• Representa 1,5 milhões de trabalhadores de 13 países (Europa e América Latina)
• Principais membros: FORA argentina, CNT espanhola, USI italiana, CGT portuguesa, FAUD alemã• Em seu apogeu, chegou a 3 milhões de trabalhadores
• Em 1923, havia três internacionais sindicais• Amsterdã (socialdemocracia)• Moscou (comunismo)• Berlim (sind. rev. e anarcossind.) Menor, mas significativa
Escritório, congressos e crise
• Escritório de representação: Berlim (1923-1935), Madri e Barcelona (1936-1939), Estocolmo (1938 em diante)
• Congressos: (II) 1925 Amsterdã, (III) 1928 Liège, (IV) 1931 Madri, (V) 1935 Paris, (Extraord.) 1936 Paris, (VI) 1938 Paris
• 1929 Fundação ramo da Internacional na América Latina: Asociación Continental Americana de los Trabajadores (ACAT)
• Crise da Internacional Sindicalista ocorreu nos anos 1930; contaram para tanto a ascensão do fascismo e a guerra na Espanha
Princípios
• 1.) Associação econômica, classista e revolucionária de trabalhadores para combater o capitalismo e o Estado; objetivo finalista é comunismo livre
• 2.) Autogestão/Federalismo campo-cidade em conselhos como modelo de sociedade futura e oposição ao Estado, aos partidos políticos e à ditadura
• 3.) Defesa das lutas reivindicativas e de sua conciliação com o mencionado objetivo revolucionário, autogestionário e federalista
• 4.) Autonomia, independência e federalismo dos trabalhadores; organização “de baixo para cima”
Princípios
• 5.) Antiparlamentarismo e contra o colaboracionismo com governos e parlamentos
• 6.) Internacionalismo, rejeição das fronteiras e do nacionalismo
• 7.) Antimilitarismo e combate às guerras dos Estados
• 8.) Ação direta, greve, boicote, sabotagem e greve geral
• 9.) Violência revolucionária como defesa da revolução
• 10.) Protagonismo das massas como caminho para transformação
Membros do congresso de fundação da Internacional Sindicalista em 1922-1923
R. Rocker
A. Schapiro A. Souchy
V. D’Andrea
Referências bibliográficas
• ALTENA, Bert. “Analysing Revolutionary Syndicalism: The Importance of Community”. In: BERRY, David; BANTMAN, Constance (orgs.). New Perspectives on Anarchism, Labour and Syndicalism: The Individual, the National and the Transnational. Newcastle: Cambridge Scholars, 2010.
• ANTONIOLI, Maurizio (org.). The International Anarchist Congress: Amsterdam (1907). Edmonton: Black Cat, 2009.
• BERTHIER, René. Social Democracy & Anarchism in the International Workers Association 1864-1877. Londres: Anarres, 2015.
• CORRÊA, Felipe. Bandeira Negra: rediscutindo o anarquismo. Curitiba: Prismas, 2015.
• _____. Liberdade ou Morte: teoria e prática de Mikhail Bakunin. São Paulo: Faísca / ITHA, 2019.
• DE JONG, Rudolf. “A A. I. T. de Berlim: de 1922 à Revolução Espanhola” (e anexos). In: História do Movimento Operário Revolucionário. São Paulo: Imaginário, 2004.
• ECKHARDT, Wolfgang. The First Socialist Schism: Bakunin vs. Marx in the IWMA. Oakland: PM Press, 2016.
• NETTLAU, História da Anarquia, 2 vols. São Paulo: Hedra, 2008/prelo.
• PATEMAN, Barry. “International Revolutionary Socialist Conference”. Kate Sharpley Library, 2013/2017.
Referências bibliográficas
• SILVA, Selmo N. Greves e Lutas Insurgentes: a história da AIT e as origens do sindicalismo revolucionário. Rio de Janeiro: UFF (doutorado em História), 2017.
• THORPE, Wayne. “The Worker Themselves”. Amsterdã: IIHS, 1989.
• _____. “Towards a Syndicalist International: The 1913 London Congress”. In: International Review of Social History, vol. 23, 1978.
• TURCATO, Davide. “The 1896 London Congress: Epilogue or Prologue?”. In: BERRY, David; BANTMAN, Constance (orgs.). New Perspectives on Anarchism, Labour and Syndicalism: The Individual, the National and the Transnational. Newcastle: Cambridge Scholars, 2010.
• VAN DER WALT, Lucien. “Revolução Mundial: para um balanço dos impactos, da organização popular, das lutas e da teoria anarquista e sindicalista em todo o mundo”. In: FERREIRA, Andrey C. Pensamento e Práticas Insurgentes: anarquismo e autonomias nos levantes e resistências do capitalismo no século XXI. Niterói: Alternativa, 2016.
• _____. “Fora das Sombras: a base de massas, a composição de classe e a influência popular do anarquismo e do sindicalismo”. In: FERREIRA, Andrey C. Pensamento e Práticas Insurgentes: anarquismo e autonomias nos levantes e resistências do capitalismo no século XXI. Niterói: Alternativa, 2016.
• WOODCOCK, George. História das Ideias e Movimentos Anarquistas, vol. 2. Porto Alegre: L&PM, 2002.
Obrigado!Felipe Corrêa:
Instituto de Teoria e História Anarquistahttp://ithanarquista.wordpress.com