Análise crítica cap i sermão
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Esquema-síntese das principais ideias apresentadas no capítulo I do Sermão de Santo António aos Peixes
1. Apresentação do tema:
2. Exploração do tema:
3. Constatação: «Não é tudo isto verdade? Ainda mal.» (l.13)
4. Resolução:
Sermão de Santo António aos Peixes de Padre António Vieira
Capítulo I - Exórdio
Alegoria – representação de uma realidade abstrata através de uma outra concreta que a simboliza por analogia,
encadeando de forma lógica imagens, metáforas, comparações… é o simbolismo concreto que abrange o conjunto de
toda uma narrativa ou quadro, de maneira a que cada elemento do símbolo corresponda a um elemento significado ou
simbolizado.
1º Parágrafo
Conceito Predicável – «Vós sois o sal da terra» - a função do sal é impedir a corrupção, logo a função de todos nós é
impedir que a corrupção exista. Cristo, no entanto, dirige esta função especificamente aos pregadores.
Problema – Corrupção na terra – «o sal não salga» (os pregadores não estão a cumprir a sua função, impedir a
corrupção na terra) ou «a terra não se deixa salgar» (a terra/as pessoas não querem deixar de ser corruptas, não
querem receber a verdadeira palavra de Deus)
Causas Pregadores Ou Terra/Pessoas
Não pregam a verdadeira doutrina Ou Não querem receber a verdadeira
doutrina
Não dão o exemplo, pois dizem uma coisa e
fazem outra
Ou Querem imitar o que os pregadores
fazem e não o que dizem
Pregam-se a si, preocupam-se com os seus
interesses e não com os interesses cristãos
Ou Preocupam-se com os seus
«apetites»/interesses e não servem a
Cristo
Orações coordenadas disjuntivas – estabelecem uma relação de alternância
Conectores do discurso mais utilizados neste capítulo:
. adição (ex. e);
. causa (ex. porque);
. hipótese (ex. se);
. oposição (ex. mas).
Os conectores sequencializam as ideias e
estabelecem relações entre elas. Padre António
Vieira tem necessidade de justificar o que diz,
colocando sempre hipóteses e refutando-as.
2º Parágrafo
«Suposto pois» - Expressa uma condição para o que se segue, supõe-se que há algo que é tido como certo e, sendo
assim, há necessidade de concluir acerca disso. Neste caso relaciona-se com o facto de ser certo que «ou o sal não
salga» «ou a terra não se deixa salgar» e, por isso, tem que haver uma solução para qualquer um destes casos.
Interrogações retóricas – Habitualmente utilizadas por Padre António Vieira. O objetivo de qualquer sermão é ser
ouvido e não lido, desta forma há que ter preocupações adicionais com o auditório (princípios da oratória). As
interrogações retóricas têm como função chamar a atenção dos ouvintes, questionando a sua inteligência para que
reflitam acerca do que está a ser tratado. Não se pressupõe uma resposta, esta está implícita, todavia o auditório tem
que se questionar interiormente relativamente aos aspetos tratados.
Citações evangélicas – ao longo do Sermão são utilizadas citações evangélicas que pretendem atribuir credibilidade e
força àquilo que é dito. A argumentação serve-se de citações bíblicas de forma a consolidar as ideias expressas dando-
lhes veracidade, afinal essas ideias estão a ser comprovadas com a palavra de Cristo.
3º Parágrafo
Panegírico (discurso de louvor, enaltecimento de virtudes de personalidades, ações ou feitos de grande valor) – Louvor
a Santo António que tendo dificuldade em pregar a verdadeira doutrina aos homens, não cedeu às tentações de não a
pregar ou pregar uma coisa e fazer outra, ou ainda pregar-se a si e aos seus interesses e decidiu pregar aos peixes.
Padre António Vieira toma-lhe o exemplo e decide fazer o mesmo, daí a homenagem que lhe presta no seu dia (13 de
Junho), em vez de falar do Santo, junta-se a ele e seguindo-lhe o exemplo prega aos peixes, que se revelam um melhor
auditório.
Diferentes ritmos – Interrogações retóricas – chamar a atenção do auditório, fazendo-o refletir sobre o que é dito «Que
faria logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo?»; Jogos antitéticos – jogos de palavras
reveladores de antíteses, realidades antagónicas «Deixa as praças, vai-se às praias, deixa a terra, vai-se ao mar»;
modelações prosódicas – entoações diferentes da voz que são feitas mediante o que se diz. São inflexões e
intensidades de voz que diferenciam a importância do que é dito.
O efeito tido sobre o auditório é simplesmente captar a atenção e agitar as mentalidades, fazê-las pensar,
refletir sobre a vida e a sua conduta.
4º Parágrafo
Antítese - «… voltar-me da terra ao mar…» - pretende reforçar a desilusão de Padre António Vieira face à incapacidade
dos homens ouvirem a verdadeira doutrina;
Enumeração e Polissíndeto - «Muitas vezes vos tenho pregado nesta Igreja, e noutras de manhã, e de tarde, de dia, e
de noite, sempre com doutrina muito clara, muito sólida, muito verdadeira, e a que mais necessária e importante é a esta
terra…» - explicita a importância da verdadeira doutrina na conduta de Padre António Vieira e a sua prestação em
relação à terra/homens. Estes dois recursos estilísticos reforçam a ideia de Padre António Vieira ser incansável na
divulgação da palavra de Cristo, ele tenta sempre «salgar» a terra, a terra é que «não se deixa salgar» por ele.
Ironia - «É muito bom Texto para os outros Santos Doutores; mas para Santo António vem-lhe muito curto» - Padre
António Vieira louva Santo António em detrimento dos outros pregadores aos quais apelida ironicamente de «Santos
Doutores», quando na realidade não são «santos», pois não pregam a verdadeira doutrina, por isso mesmo é que «é
muito bom o Texto» para eles, porque como não o pregam, é-lhes suficiente; «…o sal da minha doutrina, qualquer que
ele seja, tem tido nesta terra ua fortuna tão parecida à de Santo António em Arimino, que é força segui-la em tudo» -
reforça a ideia da recusa dos homens em ouvir a verdadeira doutrina e da necessidade dos pregadores que querem
divulgá-la terem que o fazer aos peixes.
Alusão – Sempre que se refere a Santo António
6º Parágrafo
Invocação – No final do exórdio existe uma invocação a «Domina maris» - Maria, Senhora do Mar. Esta invocação
existe pelo facto de Maria ser a inspiradora do discurso religioso, assim Padre António Vieira pretende, desta forma,
pedir inspiração a Maria para proferir este sermão à semelhança de Santo António, a quem faz o seu panegírico.
Funcionamento da língua A forma verbal «façam» encontra-se no presente do conjuntivo exprimindo, por isso, uma dúvida, uma possibilidade, um
desejo. Nesta frase «porque quer que façam…» está antecedido de um verbo modalizador (explicita a apreciação do
locutor sobre o valor da verdade da proposição), neste caso o verbo «querer», que lhe atribui uma maior noção de
certeza ao desejo expresso pelo presente do conjuntivo.