Anais Simca
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ISBN: 978-85-8083-125-2
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COMISSO CIENTFICA
Prof. Dr. Eguimar Felcio Chaveiro (IESA/LABOTER/UFG)
Profa. Dra. Maria Geralda de Almeida (IESA/LABOTER/UFG)
Prof. Dr. Carlos Eduardo Santos Maia (DEGEO/NuGea/UFJF)
Profa. Dra. Mary Anne Vieira Silva (UEG/IESA/UFG)
Prof. Dr. Joo Guilherme Curado (UEG)
Profa. Dra. Maria Idelma Vieira DAbadia (UnUCSEH/TECCER/UEG)
Profa. Dra. Lea Freitas Perez (UFMG)
Prof. Dr. Xos Santos (Universidade de Santiago de Compostela - Espanha)
Profa. Dra. Maria Tereza Arcila Estrada (INER/UDEA)
Prof. Dr. Janio Roque Barros de Castro (UNEB)
Prof. Dr. Fadel David Antonio Tuma Filho (UNESP)
Profa. Dra. Maria Augusta Mundim Vargas (UFS)
Profa. Dra. Maria das Graas Silva Nascimento Silva (UNIR)
Profa. Dra. Amlia Regina Batista Nogueira (UFAM)
Profa. Dra. Liliana Lpez-Levi (UNAM Mxico)
Doutoranda Rosiane Dias Mota (IESA/LABOTER/UFG)
CATALOGAO NA FONTE
FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECRIA ANDRA
PEREIRA DOS SANTOS CRB-1 / 1873
SIMPSIO INTERNACIONAL E NACIONAL SOBRE ESPACIALIDADES E
TEMPORALIDADES DE FESTAS POPULARES, 1.; 2., GOINIA, GO, 2013.
Anais do I Simpsio Internacional e II Nacional Sobre Espacialidades e
Temporalidades de Festas Populares / LABOTER, IESA, UFG, 3 a 7 de setembro
de 2013 Goinia: LABOTER/FUNAPE, 2014.
il.
Tema: Manifestaes do Catolicismo
ISBN: 978-85-8083-125-2
1. Festas populares simpsio. 2. Espacialidades e temporalidades. 3.
Catolicismo manifestaes. I. LABOTER. II. Ttulo: Anais do I Simpsio
Internacional e II Nacional sobre Espacialidades e Temporalidades de Festas
Populares.
CDU: 911:061.3
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ISBN: 978-85-8083-125-2
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SUMRIO
APRESENTAO
06
COMUNICAES LIVRES
BANDA DE COURO: ELEMENTO INTEGRANTE DA PAISAGEM SONORA EM
PIRENPOLIS
08
HABITUS E RELIGIOSIDADE NO SERTO GOIANO: REFLEXES SOBRE A
FESTA DE SO SEBASTIO NO POVOADO DE POUSO ALTO GO
23
O LIRISMO DA CENTENRIA MATRIZ DE TRINDADE TERRITRIO DA
ROMARIA E DA F NO BRASIL CENTRAL
39
CATOLICISMO CAMPONS NA COMUNIDADE RURAL PEDRA LISA
(QUIRINPOLIS/GOIS)
85
POTENCIALIDADES DO TURISMO RELIGIOSO NAS FESTAS CATLICAS DO
ESTADO DE SERGIPE
106
FESTA DE SO JORGE: PATRIMNIO CULTURAL DA CIDADE DO RIO DE
JANEIRO
133
CICLO FESTIVO DE COSME E DAMIO: RELIGIOSIDADE NUMA
COMUNIDADE QUILOMBOLA NO NORTE DE MINAS GERAIS
157
O SEGREDO E O REVELADO NA FESTA DO DIVINO
172
ESPACIALIDADES FESTIVAS, MANIFESTAES DE CUNHO SAGRADO E
MIXAGENS INTERCULTURAIS NO SUDESTE BRASILEIRO: A FESTA DO
ROSRIO EM BETIM (MG) NUMA PERSPECTIVA ETNOGEOGRFICA E
SOCIOCULTURAL
189
A CAADA DA RAINHA, UM OLHAR SOBRE A MANIFESTAO NOS
MUNICPIOS DE COLINAS DO SUL, CAVALCANTE E MONTE ALEGRE DE GOIS 205
A IMPORTNCIA DOS ESPAOS URBANOS SAGRADOS PARA O TURISMO
RELIGIOSO MUNICIPAL: O FESTEJO DE NOSSA SENHORA DO LIVRAMENTO
EM CARACARA, RORAIMA
219
IMAGEM, DIVULGAO E CONSUMO DOS FESTEJOS DO CICLO JUNINO EM
SERGIPE-BRASIL
259
FOLIAS S MARGENS DO RIO DO PEIXE
277
AS REZADEIRAS DE GOIS: CONSTRUO E RECONSTRUO DA MEMRIA
296
CARNAVAL DE CONGO E MSCARAS: CONSTRUO E RECONSTRUO
DE UM RITUAL
307
VIVA SO JOS... VIVA! DO LOUVOR AO SANTO PADROEIRO HIEROFANIA
328
PAISAGENS SIMBLICAS: CATOLICISMO POPULAR E O MITO DAS
BANDEIRAS VERDES NA ROMARIA DO SENHOR DO BONFIM EM 347
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ARAGUACEMA, TOCANTINS
O ESPAO SAGRADO DE TRINDADE-GO
366
MANIFESTAES RELIGIOSAS NA COMUNIDADE CRUZEIRO DOS MARTRIOS,
CATALO (GO)
380
O CATOLICISMO POPULAR E AS FESTAS RELIGIOSAS DAS COMUNIDADES
QUILOMBOLAS KALUNGA: SINGULARIDADES DE UM ESPAO CAMPONS
399
VER E VIVER A FESTA: O TRABALHO DE CAMPO NA FESTA DE SANTOS REIS
(MARTINSIA, MINAS GERAIS, 2010)
420
OS TERRITRIOS DA FESTA DO BUMBA-MEU-BOI DO MARANHO
450
A FESTA DO BOI--SERRA E A PRODUO DE UMA IDENTIDADE
TERRITORIAL EM SANTO ANTNIO DO LEVERGER/MT
464
RELIGIOSIDADE POPULAR: A DANA FESTEJA O RITO!
480
AS ORIGENS DA FESTA E DA F - HISTRIAS E MEMRIAS DOS MITOS DO
CONGADO
512
O ESPAO SAGRADO DA COMUNIDADE KALUNGA DO VO DE ALMAS:
CONVERGNCIA DE PRTICAS SOCIOCULTURAIS
528
CAMINHANDO PRA TERRA SANTA: PERCEPES SOBRE MEMRIA E F NA
ROMARIA DO DIVINO PAI ETERNO
548
OS REFLEXOS DAS PEREGINAES DA FESTA DE NOSSA SENHORA
APARECIDA NA CIDADE DE PETROLINA DE GOIS: VIVNCIAS E
EXPERINCIAS COM O SAGRADO
572
ENCENAO DA PAIXO DE CRISTO EM MUCAJA, RORAIMA: AS DEMANDAS
POR UM PLANEJAMENTO DO ESPAO URBANO
593
VALORES CULTURAIS NUMA VIA DE MO DUPLA: O CASO DA FESTA DE
NOSSA SENHORA AUXILIO DOS CRISTOS, EM VITRIA DO XINGU-PA
614
UM OLHAR SOBRE A DEMANDA TURSTICA DAS FESTAS RELIGIOSAS DE
DIAMANTINA/MG LUZ DO TURISMO CULTURAL
629
A PAISAGEM DAS FESTAS DO CICLO JUNINO NO ESTADO DE SERGIPE: O CASO
DE ESTNCIA
657
DIMENSO DO TURISMO NAS FESTAS EM SERGIPE: UM ESTUDO PAUTADO
NOS CICLOS JUNINO E NATALINO DO ESTADO
672
OS VETORES DOS LUGARES SIMBLICOS DAS FESTAS GOIANAS: FESTA DO
MUQUM EM NIQUELNDIA E FESTAS DE FOLIAS DE REIS EM GOIANIA
692
SACRALIDADE KALUNGA: FESTEJOS DE NOSSA SENHORA DA ABADIA NO
TERRITRIO QUILOMBOLA EM CAVALCANTE-GO 709
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O TERNO DOS TEMEROSOS: A FOLIA EM LOUVOR AOS SANTOS REIS NO
SERTO DO SO FRANCISCO
724
ASPECTOS ETNICO - CULTURAIS DO GRUPO DE CONGOS DA COMUNIDADE
AUDE NO MUNICIPIO DE SANTA ROSA-TO
752
FESTA DE NOSSA SENHORA DA PENHA EM GUARINOS 1950-2013
765
FOLIAS DE REIS EM RIO VERDE-GO, ENTRE O RITO E O MILAGRE
780
EXPOSIES FOTOGRFICAS
O GIRO DA CAPELINHA
794
O SHOW DAS QUADRILHAS PROFISSIONAIS NO II ARRAI DO CERRADO 2013
795
SIGNOS Y SIMBOLOS DE LA RELIGIOSIDAD POPULAR
806
PARTICULARIDADES DA FESTA DO DIVINO PAI ETERNO TRINDADE, GOIS,
2013
816
UM ATO DE F: A CAMINHADA DA LUZ DE JACOBINA-BA
827
A REPRESENTAO DA COMIDA NAS FOLIAS DE REIS EM ANPOLIS-GO
829
FOLIA DO DIVINO ESPRITO SANTO PIRENPOLIS/2013
838
MESAS REDONDAS
TEMPO E ESPAO NA CONGADA EM GOINIA: MUDANAS E PERMANNCIAS
846
O CONGADO UMA FESTA: PERSONAGENS, HISTRIAS E MEMRIAS
858
DIFERENTES DIMENSES DO SAGRADO NO TERRITRIO BAIANO: ENTRE A
EXCEPCIONALIDADE LOCALIZADA DOS SANTURIOS E A IRRUPO NOS
ESPAOS DE CIRCULARIDADE COTIDIANA
885
MEGAEVENTOS, RELIGIO E AGENDIAMENTOS HBRIDOS. O CRIO DE
NAZAR E SEUS FLUXOS DEVOO
902
FUNO E NORMATIZAO DAS FESTAS PAULISTANAS DO PERODO
COLONIAL PRIMEIRA REPBLICA
925
ACREANIDADE E INVENO DE TRADIES: A SANTA DOS SERINGUEIROS
942
LAS NUEVAS DIRECTRICES DE LA POLTICA CULTURAL PARA EL TURISMO
DE GALICA: EL CAMINHO DE SANTIAGO
953
PAISAGEM CATLICA EM SERGIPE: INTERFACES DA F
973
COMISSO RESPONSVEL
996
PROGRAMAO
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APRESENTAO
Este volume resulta das apresentaes orais e mesas redonda que aconteceram durante
o I Simpsio Internacional e II Nacional sobre Espacialidades e Temporalidades de Festas
Populares -Manifestaes do Catolicismo, no perodo de 3 a 7 de setembro de 2013. Aps a
primeira edio, em 2011, na Cidade de Juiz de Fora, promovido pelo Departamento de
Geocincias da UFJF, com apoio da CAPES e da FAPEMIG, o Simpsio Sobre
Espacialidades e Temporalidades de Festas Populares torna-se um evento internacional, sem
deixar de ter sequncia, porm, a sua edio nacional.
Naquele primeiro evento, focaram-se o carnaval e as manifestaes carnavalescas,
englobando pesquisadores de diversos ramos cientficos (antroplogos, socilogos,
historiadores e gegrafos) e das artes (artes plsticas e msica), alm da comunidade juiz-
forana envolvida diretamente com o carnaval da sua cidade. O carter trans e interdisciplinar
contribuiu bastante para que as discusses fossem inovadoras, apresentando-se diversos
olhares das potencialidades tursticas do nosso carnaval, sua diversidade cultural,
historicidade e geograficidade. O clima acalorado das mesas redondas, comunicaes livres,
dilogos, exposies e debates entre os participantes fizeram-nos apostar na continuidade do
Simpsio que, em sua I edio internacional e II nacional realizada no IESA/UFG, esteve sob
a responsabilidade do Programa de Ps Graduao em Geografia e do LABOTER, em
parceria com o NuGea/UFJF e a UEG.
Para esta edio, a comisso organizadora escolheu como ncleo central as
manifestaes do catolicismo, mantendo-se a dinmica de conferncias, mesas redondas,
comunicaes livres, debates e dilogos com fazedores de festas. A novidade nesta edio
ficou por conta das exposies de fotos digitalizadas, bem como da mostra de filmes de curta
metragem.
A escolha das manifestaes do catolicismo decorre da grande expresso que as
festas desta vertente religiosa, especialmente em sua verso de catolicismo popular,
entendendo-se a palavra popular num sentido lato, assumem em diferentes pases, regies,
lugares, momentos histricos e formaes culturais; traduzindo crenas e rituais, textos e
contextos, memrias e histrias, polticas e ideologias. Podemos nos perguntar, ento, por que
razes ainda hoje, na ps modernidade, tantas festas florescem e permanecem no catolicismo?
O que dizer das romarias, procisses, folias e quermesses? Que representaes, interesses e
performances perpassam as celebraes de padroeiros, a Semana Santa, o Corpus Christi, o
Natal, as homenagens s diferentes imagens de Nossa Senhora, do Esprito Santo ou do
Divino Pai Eterno, entre outros? A tradio de estudos destas festas fundada na oposio entre
sagrado e profano ainda se faz coerente?
Estas e outras perguntas foram orientaes potenciais, mas no exclusivas, para
trabalhos agrupados nos eixos temticos: Prticas festivas e polticas da cultura; Espaos e
tempos de rituais e performances; e Memria e patrimnio.
Durante o evento aconteceram conferncias, mesas-redondas, comunicaes orais nos
eixos temticos e nas sesses de exposio fotogrfica e filmes de curta metragem, alm de
exposies de fotos. Ainda foi realizado o II Frum sobre a Dimenso territorial das festas
populares e aproximaes com o turismo em Gois, que faz parte do projeto A dimenso
territorial das festas populares e do turismo: estudos comparativos do patrimnio imaterial
nos estados de Gois, Cear e Sergipe. Este projeto foi financiado pela CAPES-MINC,
Programa Pr-Cultura, do Programa de Apoio ao Ensino e Pesquisa Cientifica em Cultural
(Edital n7/2008). A realizao do Frum foi uma atividade proposta no projeto para
apresentar os resultados da pesquisa.
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Entre os pases, tiveram representantes do Brasil, da Frana, da Espanha, do Mxico e
da Colmbia e no total foram 125 participantes inscritos.
Para a realizao deste evento foi imprescindvel o apoio financeiro da Fundao de
Amparo Pesquisa de Gois (FAPEG), da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de
Nvel Superior (CAPES), do Pr-Cultura, projeto Capes/edital n7/2008, da Pos-Graduao
em Geografia da UFG, aos quais agradecemos, pois foi por meio dos apoios concedidos que
nos foi dada a condio de palestrantes convidados, assim como desta publicao.
Esse livro contm uma seleo das apresentaes nas mesas redondas e das
comunicaes que foram especialmente recomendadas pelos pareceristas para esta
modalidade de apresentao. As demais apresentaes feitas no evento esto recomendadas
para Anais digital e publicao em peridicos.
A Comisso Organizadora do I Simpsio Internacional e II Nacional sobre
Espacialidades e Temporalidades de Festas Populares pensa, assim, ter contribudo com o
aprofundamento das questes ligadas s manifestaes festivas, fortalecido a Geografia
Cultural e demais cincias sociais.
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BANDA DE COURO: ELEMENTO INTEGRANTE DA PAISAGEM SONORA EM
PIRENPOLIS
BAND OF COURO: INTEGRANT ELEMENT OF THE SOUND LANDSCAPE IN PIRENPOLIS
BANDA DE COURO: UN ELEMENTO INTEGRAL DEL PAISAJE SONORO EN PIRENPOLIS
Aline Santana Lbo Universidade Estadual de Gois UnUCSEH Anpolis. E-mail:
Ronypeterson Morais Miranda Universidade Estadual de Gois UnUCSEH Anpolis. E-mail:
Resumo A Banda de Couro que se faz presente nos festejos do Divino Esprito Santo em
Pirenpolis Gois, originria das festas de negros, perpetua at os dias atuais, compondo a
paisagem sonora da cidade. Este estudo objetiva expor o interesse pela pluralidade das
prticas do catolicismo popular atravs da compreenso, bem como pelas representaes
da musicalidade presente nos cortejos que ocorrem na Festa do Divino. Quando esta
Banda passa pelas ruas as pessoas despertam para a festa. A atmosfera musical singular
executada cria o sentimento de pertencimento e se perpetuam na atualidade por
apresentarem sonoridades que concedem familiaridades na paisagem do lugar.
Palavra chave: Pirenpolis. Memria. Paisagem Sonora. Banda de Couro.
Abstract The Band of Couro makes itself present in the Holy Divine Spirit celebration in
Pirenpolis- Gois, originated from the slaves festivities, perpetuates until nowdays,
drawing the soundscape of the city. This study aims expose the interest for the plurality of
popular catholicism pratices through comprehension, as well as the musicality
representations presente in the processions that take place in the Holy Divine Festival.
When this band passes through the streets people arouse to the celebration. The
singular musical atmosphere executed criates the sentiment of belonging and perpetuates
itself nowdays for presenting sonority that grant familiarities in the landscape of the place.
Keyword: Pirenpolis. Memory. Soundscape. Banda de Couro.
Resumen
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La banda de Couro est presente en la celebracin del Espritu Santo en Pirenpolis-
Gois, partes originales de los negros, perpetuado hasta la actualidad, haciendo el paisaje
sonoro de la ciudad. Este estudio pretende exponer el inters por la pluralidad de las prcticas
catlicas a travs de la comprensin, as como por las representaciones de la musicalidad en
los desfiles que se producen en la fiesta del Divino. Cuando esta banda pasa por las calles
la gente despierta para la fiesta. El ambiente musical ejecutado crea la sensacin de
pertenencia y se perpeta hoy para presentar sonidos que otorgan la familiaridad en el paisaje
del lugar.
Palabras clave: Pirenpolis. Memoria. Paisajes Sonoros. Banda de Couro.
INTRODUO: A CONSTRUO DE UMA PAISAGEM
Pirenpolis, batizada inicialmente como Minas de Nossa Senhora do Rosrio de Meia
Ponte, localiza-se no sop da Serra dos Pireneus, interior de Gois. Surgiu no perodo da
atividade aurfera em meados do sculo XVIII, onde o companheiro de Bueno, Manoel
Rodrigues Tomar encontrara uma nova jazida para ser explorada. Logo, o povoado
desenvolveu-se no s economicamente, como tambm suas prticas culturais e religiosas,
claramente vistas nos festejos e manifestaes populares e cultos aos santos.
Tratando-se de um cunho histrico de conhecimento que muitos ncleos
populacionais se desenvolveram a partir da explorao do ouro na Capitania de Gois.
Segundo Gomes e Teixeira Neto, Vila Boa, Santa Cruz e Meia Ponte surgiram ao
longo dos crregos e ribeires, nos fundos dos vales ou nas encostas dos morros (1993, p.
67).
Segundo Palacin (1994), Meia ponte era
mais cntrica [sic.], com melhor clima, no ponto de confluncia dos
grandes caminhos So Paulo, Minas, Rio de Janeiro, Bahia Meia
Ponte torna-se logo rival de SantaAnna. Quando em 1737 o conde
Sarzedas vem a Gois para erigir a primeira vila, so muitos os que
pensam que deve ser Meia Ponte e no SantAnna a sede do novo
municpio (1994, p. 26).
Saint-Hilaire (1975) mesmo presenciando Meia Ponte quase um sculo depois de
sua descoberta, ainda discorre quanto s caratersticas topogrficas do ento arraial, que
segundo ele, foi construdo numa pequena plancie rodeada de montanhas e coberta por
rvores de pequeno porte. Estendendo-se ao longo da margem esquerda do Rio das Almas,
por uma encosta suave, e defronte ao prolongamento dos montes Pireneus (p.36).
O perodo de minerao foi prspero tanto para o arraial de Meia Ponte, quanto para
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outros ncleos populacionais goianos, quando, no apogeu da atividade aurfera que durou
cerca de meio sculo, vrias foram as edificaes voltadas a administrao pblica e templos
religiosos construdos em funo da explorao desse metal, sendo que em terras
Meiapontenses cinco das mais vistosas igrejas so datadas desse perodo. Seguindo os
costumes da poca, logo construiu uma igreja Matriz em homenagem a padroeira local.
O Arraial de Meia Ponte, at meados do sculo XVIII, contava com cinco
igrejas. A Matriz, tendo como filiais: a Igreja de Nossa Senhora do Rosrio dos Pretos,
erigida entre 1743 e 1757 pela irmandade de mesmo nome; a Igreja de Nossa Senhora do
Monte do Carmo, sem data precisa de construo, mas foi terceira a ser edificada; a Igreja
de Nosso Senhor do Bonfim, construda entre os anos de 1750 e 1754; e a Capela de Nossa
Senhora da Boa Morte da Lapa, erigida pela extinta Irmandade de Nossa Senhora da
Lapa dos Pretos Livres e fundada em 1760 (CURADO; LBO, 2011, p. 83).
O povoado chegou a abrigar cerca de 12,16% de toda a populao goiana, que na
poca contava com a extenso territorial que hoje pertence ao estado do Tocantins
(PALACIN; MORAES, 1994, p. 34). Mas todo o burburinho gerado pela minerao nas
encostas dos rios e ribeires goianos teve seu fim devido escassez do ouro em Gois,
refletindo de forma direta no cotidiano dos moradores que se adaptaram s mudanas,
desenvolvendo outros meios econmicos.
Durante o auge da minerao, Meia Ponte j contava com cinco igrejas, estas
usadas como cenrios de encontros sociais e festivos, pois as mesmas concebem a ideia de
um espao sagrado ou centro do mundo, reforando assim, o sentimento de
pertencimento com o lugar. Segundo Eliade, todo microcosmo, toda regio habitada, tem
o que poderamos chamar de um Centro, ou seja, um lugar sagrado por excelncia
(1991, p.35).
Para Curado; Lbo as festas alm de expressar a cultura, so acontecimentos
estruturalmente relevantes e tradicionais, dotados de significados e valores que definem
comportamentos e constituem a histria do lugar (2011, p. 87). Assim, a festa do
Divino Esprito Santo tornou-se uma manifestao do catolicismo,
aquela festa crist que foi introduzida, na segunda metade do sculo
XVIII, a serem precedentes informaes que nos foram prestadas por
pessoas cuja existncia datada dos primrdios do sculo XIX [...] a
despeito de perseverantes e cuidadosas indagaes, notcias exatas,
anteriores ao ano de 1819, dessa festa popular, para qual ocorrem
proslitos de todos os pontos do municpio e das povoaes vizinhas
(JAYME, 1971, p. 610).
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Os escravos envolvidos com a minerao do ouro no Rio das Almas construram a
Igreja de Nossa Senhora do Rosrio dos Pretos e ali criaram e executaram suas prticas
religiosas, festivas e musicais. Mello e Souza (2002) discorrem sobre a questo da figura de
rei nos festejos dos negros, sendo esta uma prtica anterior vinda dos escravos ao Brasil,
para a autora
as cortes festivas, antes de serem adotadas na Amrica portuguesa, j
existiam em Portugal, associadas s corporaes de ofcios, quando
essas realizavam danas especficas nas festas de rua, geralmente como
parte de comemoraes de datas que marcavam a vida de corte e a poltica.
Momentos de teatralizao do poder real, as festas envolviam grupos e
situaes diversas, que iam das procisses solenes nas quais o rei e a
corte desfilavam o seu luxo e pompa diante dos sditos, as danas de
ruas, jogos guerreiros, dramatizaes de embates entre mouros e cristos e
outras dimenses populares. Nessas, as corporaes de ofcios costumava
apresentar danas e desfiles nos quais se destacava a figura de um rei
(2002, p. 215).
A Banda de Couro pertence cultura local desde o sculo XVIII quando os
negros forros numa conjugao de manifestaes da cultura africana com as liturgias e
crenas do catolicismo, conforme observou Silva:
As festas de Nossa senhora do Rosrio nasceram sob a influncia da
igreja. No entanto, ao circular entre os negros, a devoo do Rosrio foi
reelaborada, com o acrscimo de elementos da cultura africana. Assim,
ao se organizar em irmandades religiosas, os negros produziram um
catolicismo alternativo, em relao s determinaes eclesisticas, do qual
a prpria elite local participou (SILVA, 2001, p. 44).
Reduzidos os trabalhos da minerao, a Abolio, a misria e o pouco nmero de
negros na cidade fizeram com que as irmandades dos pretos perdessem sua vitalidade, o
que se agravou ainda mais com a implantao da romanizao da Igreja Catlica em
Pirenpolis a partir da dcada de 1920 (SILVA, 2001). Isso culminou num maior controle da
Igreja sobre as formas de exerccio da f e as festas de negros ficaram restritas a alguns
grupos que as mantinham dentro de padres tradicionais de sociabilidade e religiosidade.
Diversas confrarias religiosas, dentre elas a de Nossa Senhora do Rosrio dos
Pretos e a de So Benedito, pertencentes aos negros escravos e forros, praticavam festas do
catolicismo, onde o Reinado e o Juizado eram formas de expresso da cultura negra local,
advinda da presena de escravos na cidade durante a edificao de Meia Ponte nos anos
aurferos e em seguida, durante o perodo ruralista.
quase sempre, quando um artista devoto do catolicismo popular fala do
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que cria e faz, no culto da festa de seu santo, diz que tudo aquilo deve
ser vivido e realizado entre as pessoas presente, alternando ou
misturando a orao [...] o canto, o gesto cerimonial e a dana
(BRANDO, 2004, p. 26).
A incorporao das festas de negros por mestios deu-se por eles se
identificarem como pertencentes a um mesmo segmento social, pobres, despossudos de bens
e margem da participao social e poltica conforme concluiu Brando (2004). Os
festejos do reinado, como eram nominados pela populao, perderam ainda mais o seu
vigor na dcada de 1940 com a demolio da Igreja de Nossa Senhora do Rosrio dos
Pretos, transferindo sua concentrao para a Matriz de Nossa Senhora do Rosrio, a igreja
dos brancos.
Apesar das transformaes experimentadas pelas festas de pretos Pirenpolis, de
acordo com as pesquisas realizadas por Lbo (2006), e consequentemente suas
manifestaes musicais com a reduo do seu espao de realizao e representatividade estas
nunca deixaram de acontecer, estiveram sempre presentes integrando o imaginrio e a cultura
do lugar. Constituiu-se, assim, um meio permeado pela tradio, onde novas identidades e
representaes foram recriadas, congregando smbolos diferentes e decodificados pelos
diversos grupos sociais envolvidos.
OS SONS DA/NA FESTA
No municpio de Pirenpolis, acontece anualmente a Festa do Divino Esprito
Santo, uma manifestao do catolicismo popular que, foi registrada como patrimnio
cultural e imaterial no ano 2010 (IPHAN, 2010).
A extenso da festa e de seus vrios eventos que em muitas vezes acontecem
simultaneamente, possui um extenso cronograma, que tem seu pice no domingo de
Pentecostes. Desta forma, torna-se objeto de pesquisa a festa-patrimnio e suas
peculiaridades, rituais e sons nela presentes, assim como a relao existente entre a
perpetuao da cultura atravs memria coletiva dos moradores.
Buscou-se na msica executada pela Banda de Couro durante momentos diversos,
conhecer os smbolos festivos existentes nos festejos do Divino em Pirenpolis.
a msica fala ao mesmo tempo ao horizonte da sociedade e ao vrtice
subjetivo de cada um, sem se deixar reduzir s outras linguagens. Esse
limiar est fora e dentro da histria. A msica ensaia e antecipa aquelas
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transformaes que esto se dando, que vo se dar, ou que deveriam se
dar, na sociedade (WISNIK, 1989, p.13)
Os sons executados pela Banda de Couro de Pirenpolis, numa viso ampliada, no
s do forma ao lugar, mas de maneira combinada e associada constroem um contedo
indenitrio. Esculpem na cidade um sentimento de pertencimento em que os ancestrais,
seus feitos e suas festas tornaram-se os emblemas da sociedade.
A Banda de Couro popularmente conhecida como zabumba. Durante os nove dias
da festa, ao alvorecer, s quatro horas da manh, crianas e adolescentes, rompem o silncio
da madrugada, saem pelas ruas tocando as caixas artesanais de madeira forrada com o couro
de animais.
No final das novenas, quando toca o hino do Divino, soltam fogos e roqueiras1,
os componentes da Banda comeam a tocar os tambores na porta da igreja da Matriz,
acompanhados por um instrumento meldico como: flauta, saxofone, acordeom e saem
pelas ruas da cidade acompanhadas por pessoas que estavam na igreja.
A Banda de Couro composta de zabumba, rufadeira e vrios
instrumentos de percusso da famlia do tambor, construdos de madeira,
cobertos com couro de bezerro (o que d origem ao seu nome). E
amarrados com solas de uma forma muito rudimentar (MENDONA,
1981).
A Banda de Couro tambm participa dos Reinados e Juizados de Nossa Senhora do
Rosrio e So Benedito que acontecem na segunda e tera feira depois do Domingo de
Pentecoste no perodo matutino. Logo ao amanhecer, perto das sete horas da manh, o som
das caixas conclamam a populao a acompanhar o cortejo dos reis, rainha, juiz e juza pelas
ruas da cidade para lev-los missa e no final da mesma retornar de volta para a casa dos
respectivos personagens, afim de, confraternizar aos sons da msica, licores e doces.
1 A Roqueira ou tiro de toco, tem confeco artesanal, prende um cano de metal num pedao de madeira, soca
plvora e pe fogo.
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Figura 1 Caixas de Couro
FONTE: Acervo Particular. 2013.
Pelas ruas executam msicas Os toques produzidos pelos sons das caixas sugerem a
seguinte letra, que mentalmente cantada por quem conhece:
Vamo, vamo, vamo com doce. Vamo, vamo, vamo com doce.
As msicas entoadas pelos instrumentos de solo no so cantadas em voz alta, no
entanto a letra bastante conhecida e transmitida nas suas variedades, transcrevemos aqui as
mais comuns, algumas delas encontradas na Revista Folclrica (PINA FILHO, 1973, p. 73,
N 3):
Pica-pau l no serto (Bis) No como o daqui no (Bis) O de l bica no pau (Bis)
O daqui no corao (Bis)
Vem c, Bitu, vem c, Bitu Vem c, vem c, vem c
No vou l, no vou l, no vou l Tenho medo de apanhar
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Mariquinha muchacha Mariquinha muchacha
Que que est fazendo, Mariquinha?
T cumeno bulacha (T bebeno cachaa) (T plantano batata)
(Eu t torrando caf/ Torra bem torradinho, Mariquinha (Bis)/ Refro/ Bolinho de
fub/ Pra p na mesa, Mariquinha/ Pra Sinh toma).
(Penteando o meu cabelo (bis), pra ficar bem penteadinho, Mariquinha) Assim
continua at citar toda toilette
A participao da Banda de Couro estende-se, ainda de vrios outros momentos
festivos, tais como: levantamento dos mastros de Nossa Senhora do Rosrio e de So
Benedito, no domingo anterior a Pentecoste; levantamento do mastro do Divino Esprito
Santo na noite do sbado dedicado ao Divino; participa da abertura no campo das
cavalhadas e nas cavalhadas mirins que acontecem nos bairros da cidade depois da festa
maior.
Uma nica caixa de couro exerce sua funo de acordar os cavaleiros para os
ensaios que antecedem as cavalhadas chamando-os no meio da madrugada
Vamo pro campo cavaleiro Vamo pro campo cavaleiro....
O som da caixa de couro d ritmo ao trotar dos cavalos, durante as carreiras no
espetculo das cavalhadas no dia da apresentao e relaciona os ritmos do trabalho aos
ritmos sonoros que segundo Halbwahs (2004), remete ao ritmo musical, sendo, portanto,
uma construo social.
Os sons das caixas de couro talvez tenham inspirao no compasso da vida dos
negros submetidos ao trabalho forado, as batidas so fortes e repetitivas como as
atividades cotidianas dos escravos. Os tambores imitam os sons da natureza e esta por sua
vez est cheia de ritmos talvez os homens das cavernas tenham tido a ideia de imitar os
ritmos da natureza inventando assim os instrumentos de percusso (COELHO, 2006, p.
10).
A Banda de Couro introduziu novidades, recriando repertrios que no fazem
referncia alguma sua origem ou sua funo como elemento definidor de uma festa de
preto. Tocar as caixas, numa perspectiva fisiolgica, era representar um cotidiano marcado
pelo trabalho pesado e atrair pessoas. Mas sua sonoridade, numa dimenso psicolgica,
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traduz a alegria de festejar homenageando os santos de devoo e negociando os valores
que sero transmitidos para as geraes.
O ritmo de vida foi alterado e as relaes resultaram na agregao e na troca de
favores, mas as caixas continuaram fazendo a percusso e dando o ritmo do compasso do
trabalho, amenizado por um instrumento meldico que faz o solo de msicas simples e
inocentes que trazem alegria e emocionam.
Lugar no apenas onde algo est situado; o prprio lugar incorpora
significado, que depende da histria pessoal que uma pessoa traz para ele.
atravs dessas interaes pessoas-lugar que desenvolvemos uma profunda
associao psicolgica com um lugar especfico, seja ele lar, rua, cidade,
zona rural, estado, regio ou nao (CARNEY, 2007, p.128).
Os elementos para a leitura acerca dos valores atribudos a um lugar tem na
msica aspectos que oferecem estudos histricos e geogrficos constitutivos da paisagem
sonora. George Carney (2007) refere-se msica como influencia de imagens e atitudes das
pessoas dos lugares em que vivem. Assim, as msicas tradicionais e/ou regionais
apresentam-se ao estudo geogrfico como importante material interpretao dos lugares.
Pensar no lugar festivo, em seu espao de atuao e nos sons produzidos pela
Banda de Couro compreender que Pirenpolis tem sua identidade sonora marcada por seu
contexto histrico e scio-espacial e que considerada, um dos marcos da tradio
reconhecida e mantida pela comunidade local, uma entidade em que tudo
compartilhado e celebrado (CANCLINI, 2003) concebendo-se como um lugar especfico
com prtica e contedo emocional, integrando e definindo o sentimento de pertencimento
cultura pirenopolina.
O lugar , pois, o centro das aes e das intenes onde realizamos nossos
eventos mais significativos (RELPH, 1980). Isso tem uma funo integradora, servindo para
definir o sentimento de pertencimento da comunidade e para a perpetuao desse fenmeno
festivo. A banda constitui um lugar a partir do envolvimento e da compreenso das
experincias vividas pelos participantes com os locais de realizao do festejo, transformando
este em entidades distintas, j que as experincias humanas nele vivenciada so repletas de
significaes prprias. Com efeito, a Banda de Couro, sendo definida a partir de um
dispositivo espacial e visto como um lugar (TUAN, 1980), impe-se como marco para
referir-se tradio reconhecida e mantida pela comunidade local.
Segundo Aug vivemos num mundo que ainda no aprendemos a olhar. Temos que
reaprender a pensar o espao (1994, p. 38). Temos tambm que aprender a ouvir o espao e
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a festa um momento que nos propicia esta vivncia e este aprendizado. A execuo das
msicas tradicionais da festa do Divino e dentre elas as tocadas pela Banda de Couro
produzem a euforia e a efervescncia de um povo que no dizer de Schafer (2009) ouve e
decide os sons que o estimula ao exigir a presena da msica, pois, esta atua no seu
prazer, proporcionando experincias emotivas e dando-lhe compreenso vida.
A msica pode transmitir imagens do lugar, e tambm pode servir como fonte
primria para compreender a natureza e a identidade dos lugares, desta forma, no
contexto da anlise musical deve-se haver uma preocupao tanto para o lugar simblico
da msica na vida social, bem como para os simbolismos empregados na msica.
Os sons da festa ocorrem em um tempo e espao especficos. O som delimita o
espao da festa, modificando a paisagem, agregando valor e promovendo novos
comportamentos ou atitudes. Nas batidas de um compasso simples binrio marcados pela
zabumba, com seus sons fontes e fracos, assim que os rituais coletivos que
suspendem a realidade cotidiana e a transformam momentaneamente. Os fortes viram
fracos e os fracos fortes, segunde DaMatta
trata-se de um momento em que se pode deixar de viver a vida como um
fardo e castigo. no fundo a oportunidade de fazer tudo ao contrrio: viver
e ter uma experincia do mundo como excesso mas como excesso de
prazer, de riqueza (ou de luxo), de alegria e de riso; de prazer (2004, p
38).
E na simplicidade das melodias infantis os partcipes ao acompanharem a Banda
redefinem papeis sociais, os poderosos tornam-se humildes e os humildes poderosos.
Durante os instantes do ritual, o mundo familiar alterado para, ao seu final, tudo voltar ao
que era antes, com mais fora e resignao.
Numa reflexo prvia, poderamos constatar, quanto a relao entre rito
e msica, uma certa sobreposio; em outras palavras, no nvel histrico
comparado podemos afirmar que a msica sempre funcionou como
recheio do mbito ritual, e, a seu modo, foi um sinal de extrema
importncia para estabelecer o tempo e at o espao da celebrao do rito (
TERRIN, 2004, p. 269).
Em Pirenpolis, ao realizarem-se ano aps ano, os festejos ligados ao ritual do
reinado e este acompanhado pela Banda de Couro, reproduzem continuamente as memrias
de acontecimentos ou em momentos passados, por isso estes festejos com sua sonoridade
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singular, mesmo estando aglutinados Festa do Divino Esprito Santo, so ainda uma festa
de negros. Portanto, a integridade da tradio no deriva do simples fato da persistncia
sobre o tempo, mas do trabalho contnuo de interpretao que
realizado para identificar os laos que ligam o presente ao passado (GIDDENS,
1997, p. 82).
Ao considerarmos os ritmos e as melodias tocadas pela Banda de couro, podemos
desvelar todo um universo social construdo pelo imaginrio coletivo da sociedade, nos
auxiliando na compreenso de quem somos no contexto de nossa contemporaneidade e do
passado recente de que fomos partcipes. Ao ouvir os sons da banda este pode despertar nos
ouvintes as mais diferentes sensaes. Reconhecemos que a musicalidade presente na festa
pode provocar uma ressurgncia1
no pirenopolino.
Paisagem Sonora: o som que veio para ficar
Todo som tem origem e est relacionado de forma direta ou indireta a um
determinado lugar; assim, a paisagem sonora responsvel por conceder identidade ao
lugar. A audio evoca memrias e imagens, as mais profundas e refora valores existentes
em cada indivduo.
Murray Schafer definiu como paisagem sonora qualquer evento acstico que
compe um determinado ambiente. Dentro dessa perspectiva, o termo pode referir-se a
ambientes reais ou a construes abstratas, como composies musicais e montagens de fitas,
em particular quando consideradas como um ambiente (1991, p. 366).
Os sons encontrados em ambientes culturais possuem uma dimenso sonora
reconhecida. A sonoridade encontrada nos festejos do Divino, em particular, entoadas pelos
tambores das caixas de couro soa repetitivamente atravs de geraes, ecoando na memria
coletiva cujo passado no preservado, mas reconstrudo coletivamente com base no
presente.
A tradio musical complexa e plural. Segundo Almeida (2008) A paisagem
produto da apropriao e transformao do meio ambiente pelo homem. Esta possui
significados simblicos. A vida musical desde sculos passados, das ruas, senzalas e
1 Ao ou efeito de ressurgir; reapario ao ar livre, sob a forma de grande nascente, de um lenol de gua
subterrneo.
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bairros populares era intensa, embora tenha deixado poucos registros impressos ou
escritos. Seu legado basicamente oral e preservado atravs das canes folclricas,
festas populares e danas dramticas.
Schafer (1991 e 2009) compreende que a msica molda o tempo de modo
particular e imprime na alma humana uma experincia concreta de suas qualidades
rtmicas essenciais.
Figura 2 A Banda de Couro
FONTE: Acervo particular, 2013.
Portanto, a msica, entendida como um organismo vivo (PETRAGLIA, 2010),
produzida pela Banda de Couro um som que perpetua em seus mltiplos aspectos e
inter-relaes. Na performtica produo da sua sonoridade o tom, o tempo, o fluxo
sonoro e os silncios produzidos fluem e atuam no s na emoo, mas no ser no mundo de
quem vivencia a cultura. A atmosfera musical singular executada cria o sentimento de
pertencimento e se perpetuam na atualidade por apresentarem sonoridades que concedem
familiaridades na paisagem do lugar.
Desta forma, para os morados, quando se escuta os sons e repertrios festivos
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produzidos pela Banda de Couro durante a festa do Divino Esprito Santo em
Pirenpolis, desperta-se a vontade de comemorar, num acontecimento coletivo,
transformando a rotina local onde os sons presentes compem a paisagem sonora onde a
festa acontece.
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HABITUS E RELIGIOSIDADE NO SERTO GOIANO: REFLEXES SOBRE A FESTA DE SO SEBASTIO NO POVOADO DE POUSO ALTO - GO
HABITUS AND RELIGIOSITY IN THE HINTERLAND OF GOIS: REFLECTIONS
ABOUT THE SO SEBASTIO PARTY IN THE THORP OF POUSO ALTO - GO
HABITUS Y RELIGIOSIDAD EN LA RURALIDAD GOIANA: REFLEXIONES
SOBRE LA FIESTA DE SAN SEBASTIN EN EL POBLADO DE POUSO ALTO-GO.
Ana Carolina de Oliveira Marques
Universidade Federal do Tocantins - [email protected]
Rusvnia Luiza Batista Rodrigues da Silva
Universidade Federal de Gois - [email protected]
Resumo
Este trabalho deriva de parte da discusso feita na dissertao de mestrado intitulada
Espao e habitus no serto goiano: o povoado de Pouso Alto - GO e tem como
objetivo principal apresentar a investigao de um habitus o sertanejo a partir da
observao e vivncia da festa de So Sebastio no povoado estudado. Neste artigo
apresenta-se uma breve descrio da festa como habitus rural, destacando os elementos que
auxiliaram na compreenso das disposies incorporadas nos esquemas de pensamento e
ao de sujeitos, moradores do povoado, adentro de um espao maior: o serto goiano.
Alm da observao e da metodologia aplicada utilizou-se de instrumentos de fotografia e filmagem, recursos importantes para auxiliar na compreenso da festa como expresso da
ruralidade e como espetacularizao, simultaneamente. Perceberam-se contradies
caractersticas de um lugar e sujeitos que vivem a globalizao da forma mais sutil, embora
de maneira profunda. Constatou-se que a convivncia de tempos e espaos distintos mantem
inmeros recursos simblicos na festa, porm, h predominncia da territorialidade
camponesa.
PALAVRAS-CHAVE: Festa de So Sebastio, Serto Goiano, Habitus.
Abstract
This work results from part of the dissertation entitled "Space and habitus in the hinterland
of Gois: the thorp of Pouso Alto GO/Brazil" and has as main objective to present the
investigation of a habitus of the country person - from observation and experiences of
So Sebastio Party in the thorp studied. This article presents a brief description of the
party as rural habitus, highlighting the elements that helped in understanding the provisions
incorporated in the schemes of thought and action of people,villagers, inside a larger
space: the hinterland of Gois. Besides observation, the methodology used tools of
photography and filming, those are important resources to assist in the understanding of
the party as an expression of rurality and as spectacle, simultaneously.Were perceived
contradictions typical of a place and people who live the globalization in a subtle way
although in a profound manner.The results found the coexistence of different times and
places maintains numerous symbolic resources in party however, there is a predominance of
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territoriality peasant.
KEYWORDS: So Sebastio Party, Hinterland of Gois, Habitus.
Resumen
Este trabajo deriva de una parte de la disertacin del magster titulada "Espacio y
habitus en la ruralidad goiana: el poblado de Pouso alto-GO" y tiene como objetivo
principal presentar la investigacin de un habitus- rural- a partir de la observacin y
vivencia de la fiesta de San Sebastin en el poblado estudiado. Este artculo trae una
breve descripcin de la fiesta como habitus rural, destacando los elementos que ayudaron
en la comprensin de las disposiciones incorporadas en los esquemas del pensamiento y
accin de sujetos, habitantes del poblado, dentro de un espacio ms grande: la ruralidad
goiana. Adems de la observacin en la metodologa aplicada se utiliz como instrumento
la fotografa y la filmacin, recursos importantes para ayudar en la comprensin de la fiesta
como expresin de la ruralidad y como espectculo, al mismo tiempo. Se percibieron
contradicciones caractersticas de un lugar y pueblo que vive la globalizacin de forma ms
sutil, aunque profunda. Se constat que la convivencia de tiempos y espacios distintos
mantiene numerosos recursos simblicos en la fiesta, sin embargo, se evidenci la
predominancia de las territorialidades campesinas.
PALABRAS-CLAVES: Fiesta de San Sebstian, Ruralidad goiana, Habitus.
INTRODUO
Este artigo oriundo de uma das discusses realizadas na pesquisa de mestrado
(2011-2013), cuja dissertao teve como ttulo: Espao e habitus no serto goiano: o
povoado de Pouso Alto - GO. O campo de estudo dessa pesquisa um lugar em meio a
contradies de diversas ordens (rural/urbano, tradicional/moderno, novo/velho), e carrega
no seu isolamento espacial indcios de processos globais que atravessam o lugar.
Localizado na fronteira entre trs unidades da federao, Gois, Tocantins e Bahia, o
distrito de Pouso Alto como classificado oficialmente identifica-se como um lugar que
vive a globalizao da forma mais sutil porm profunda no modo como se apresenta e
que, do mesmo modo, responde as suas variveis por elementos de referncias tradicionais,
camponesas, organizando a cotidianidade dos sujeitos moradores. Cientes dessas
singularidades, optamos por mtodo(s) que possibilitasse(m) uma anlise temporal,
multiescalar e dialtica que abrangesse um processo de desnaturalizao de olhares
sobre lugares como esse. Nessa tentativa, aproximaes entre a Geografia e as teorias
sociolgicas foram feitas mediadas por categorias de anlise como espao e habitus.
Assim como a festa de So Sebastio, outros eventos/objetos constituram ao
decorrer da pesquisa laboratrios de investigao daquele espao onde se encontram
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fortes semelhanas com a cultura sertaneja do oeste da Bahia. Os bailes noturnos, as
tcnicas de produo de alimentos, a cultura alimentar propriamente dita, a organizao do
cotidiano e o modo de viver e constituir o lugar. A anlise do serto goiano, partiu dos
pressupostos do mtodo praxiolgico presente na obra de Pierre Bourdieu, foi realizada
levando em considerao uma miscelnea de dimenses da vida social, relacionando
aspectos econmicos, educacionais, polticos, relacionados ao trabalho e tambm,
religiosos.
Juntamente com a produo material, a religio, a lngua, a msica so pontos que
estabelecem uma relao dialtica com a estrutura social, contidos nos movimentos de
mediao, condio e reflexo envolvidos na trama da vida. O vis simblico ,
portanto, fundamental na matriz que orienta as escolhas do sujeito, a formatao dos
universos possveis.
Pretendeu-se com a metodologia utilizada na pesquisa, contribuir para a
valorizao na geografia do olhar crtico/poltico para o sensvel, assim como favorecer
um dilogo desta cincia com outros subcampos do conhecimento, como a sociologia.
Objetivou-se ainda enriquecer a base terica sobre regies esquecidas em discursos e
polticas oficiais, como o o Nordeste Goiano, e a importncia cultural desses sujeitos
para a inteligibilidade da identidade goiana. Afinal, o Nordeste, embora geograficamente
afastado de grandes centros polticos e demogrficos demonstra compor o chamado
desenvolvimento desigual e combinado, ou seja, geograficamente, o distrito de Pouso Alto
apresenta contradies que refletem ora a tendncia preservacionista da histria camponesa
que o compe, ora a apropriao do capital vista at mesmo nos lugares mais ntimos, como a
casa sertaneja.
O texto est estruturado em trs partes. Num primeiro momento, fez-se uma
breve apresentao do distrito de Pouso e sua situao fronteiria. Logo depois foram
expostas as categorias de anlise que orientaram a investigao da Festa de So Sebastio
como lugar de manifestaes de habitus e relaes sociais. Por fim, fez-se a efetiva
descrio e anlise da festa, seguidas pelas consideraes finais.
POUSO ALTO E SUA SITUAO FRONTEIRIA
Trs palavras, dentre outras, expressam a histria do povoado de Pouso Alto:
fronteira, migrao e sobrevivncia. Nesta trade se encontra indissocivel a relao do
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homem, o sertanejo, com o meio, o Serto. A localizao do povoado (ilustrada no mapa
1) informa a situao fronteiria embora outros elementos marquem o lugar para alm de
uma dimenso geodsica, mas espacial, interferindo tambm nas temporalidades que ali
dividem a cena.
Mapa 1 Localizao do Distrito de Pouso Alto GO
A figura mostra que o distrito est no extremo Nordeste Goiano situando-se
prximo s divisas dos estados de Gois, Tocantins e Bahia, territrios que ao longo
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da histria estabeleceram inmeras relaes de troca de mercadorias, pessoas e culturas. O
povoado se enquadra num grupo de ncleos populacionais nascidos do intenso xodo rural
do sculo XX, resultado de medidas desenvolvimentistas aplicadas ao interior brasileiro.
(MARQUES, 2013). O desenho curvado do rio que corta o distrito, dividindo Gois e
Tocantins, faz meno aos rearranjos que a regio sofrera ao longo dos tempos, escritos pelos
deslocamentos de sujeitos migrantes. O carter assimtrico do povoado tambm visto em
lei de sua criao:
Comeam na cabeceira do Rio Mosquito, junto Serra Geral e Chapada
Ocidental da Bahia, nas divisas com o Estado do Tocantins [...] seguem pelo Rio
Mosquito a jusante, contornando todas as suas curvas [...]. (GOIS - Lei n 586/95 de
22 de novembro de 1995).
Referimos ao Nordeste goiano como territrio sertanejo por alguns motivos.
Primeiro porque esse espao estabelece uma relao com o serto nordestino, em especial
com o Estado da Bahia, determinante nas prticas espaciais dos pouso-altenses. Por outro
lado, apesar de cientes da ampla discusso acerca da regio como categoria de anlise
geogrfica, recorremos diviso considerada no planejamento estatal para evidenciar e
incitar reflexes sobre a participao do Estado no processo de produo desse espao.
Nas ltimas dcadas, o serto goiano poro do territrio goiano circunscrito
divisa com a Bahia, seguindo a definio presente em Darcy Ribeiro (2010)
apresentou inmeras contradies e foi alvo de discursos estereotipados, inclusive pela
cincia. Ora como regio isolada, excluda do progresso estadual por motivos ligado sua
natureza fsica, ora conforme a teoria do desenvolvimento desigual e combinado, exposta
por Novack (2008), resultado de processos socioeconmicos naturalizados na lgica
capitalista.
Apesar de considervel populao urbana1, ao percorrer a regio percebe-se a
presena dos hbitos rurais. Entretanto, para fazer tais consideraes, foi preciso avanar
alm da anlise da forma, da dimenso visvel das paisagens. Desse modo, fez- se necessrio
a investigao por meio de categorias que possibilitassem a leitura das entrelinhas, dos
significados.
ESPAO E HABITUS
1 Segundo o censo demogrfico de 2010, organizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, no
Nordeste Goiano esto 20 dos 246 municpios do Estado, tendo cada um destes um ndice populacional
inferior a 10.000 habitantes.
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preciso que se esclarea, a priori, que as categorias de anlise so os instrumentos
que auxiliaro o olhar do pesquisador para a realidade estudada. As categorias representam,
portanto, ferramentas mediadoras entre a teoria e a prtica e atravs delas que o
pesquisador consegue alcanar um nvel de teorizao dos fenmenos que garantir
validade a suas pesquisas. Santos confirma a importncia das categorias quando trata dos
elementos preponderantes de uma disciplina:
A identificao do objeto ser de pouca significao se no formos capazes de
definir-lhe as categorias fundamentais. Sem nenhuma dvida, as categorias sob
um ngulo puramente nominal mudam de significao com a histria mas, elas
tambm constituem uma base permanente e, por isso mesmo, um guia permanente
para a teorizao. (1990, p. 116-117).
Sobre espao geogrfico, Santos respalda que este [...] deve ser considerado
como um conjunto de relaes realizadas atravs de funes e de formas que se apresentam
como testemunho de uma histria escrita por processos do passado e do presente.
(SANTOS, 1990, p. 122). Na concepo do autor, o espao influencia diretamente na
distribuio dos recursos, na circulao de pessoas, na oferta de servios, na valorizao de
lugares ou regies. Assim, ele no pode ser entendido como simples reflexo da sociedade
ou produto de suas relaes, mas como um espao autnomo, ativo, numa perspectiva
semelhante que predomina nas teorias bourdieunianas.
Bourdieu (2009), por sua vez, expe sobre uma das suas principais categorias:
habitus. O autor, para falar de habitus, deixa claro a relao existente entre sujeito e
espao, transparece uma noo de espao (denominado meio) que desempenha papel
fundamental na vida dos sujeitos, que por sua vez, tambm influenciam na produo e
reproduo desse espao como natureza incorporada. Por meio dessa categoria, ao longo de
sua obra, o socilogo desenvolveu um pressuposto bsico para a anlise das questes
sociais: entender a realidade pelo movimento dialtico entre objetividade e subjetividade.
Assim, definiu habitus como:
[...] sistemas de disposies durveis e transponveis, estruturas estruturadas
predispostas a funcionar como estruturas estruturantes, ou seja, como princpios
geradores e organizadores de prticas e de representaes que podem ser
objetivamente adaptadas ao seu objetivo sem supor a inteno consciente de
fins e o domnio expresso das operaes necessrias para alcan-los [...].
(BOURDIEU, 2009, p. 87).
No estudo da sociedade, o autor baseia-se no somente numa diviso de classes por
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critrios econmicos, mas nos processos histrico-espaciais que aproximam ou fragmentam
grupos e sujeitos, destacam instituies e agentes. As relaes de dominao que
alimentam a hierarquia social so entendidas, sobretudo, a partir das estratgias sutis
materializadas no cotidiano. Essas estratgias englobam desde
conversas de boteco, prticas religiosas at mesmo a seleo de objetos na
composio interna da casa. O conhecimento integrado da realidade, que relaciona os
esquemas de pensamentos e aes dos sujeitos s condies materiais do espao compe
a teoria praxiolgica, esmiuada por Setton:
[...] a teoria praxiolgica, ao fugir dos determinismos das prticas, pressupe uma
relao dialtica entre sujeito e sociedade, uma relao de mo dupla entre
habitus individual e a estrutura de um campo, socialmente determinado. Segundo
esse ponto de vista, as aes, comportamentos, escolhas ou aspiraes
individuais no derivam de clculos ou planejamentos, so antes produtos da
relao entre um habitus e as presses e estmulos de uma conjuntura. (2002,
p. 64).
O sistema de disposies que acompanha cada um durante a sua vida , nesse
sentido, fruto das experincias sociais e responsvel por elas. Diferente da razo no
pensamento cartesiano, algo dado por Deus, a subjetividade entendida como uma
matriz de significados oriunda da relao do sujeito com o mundo exterior. As
representaes so nesse sentido definidoras de futuras aes e reaes, orientadas tanto por
determinantes histricos como pela liberdade individual admitida a cada sujeito.
Trabalhar a formao de um habitus remete s circunstncias espaciais que
aproximam sujeitos e assim as condies de vida dos sertanejos so pontos cardeais no
intuito de entend-los em suas particularidades, seus valores, seus costumes. A ideia de
serto distante, presente nos livros de literatura, em pginas antolgicas, remetemo-nos a
imagens de seca, vazio, abandono, espao aberto como os vrios sertes literrios: Serto
de Jos de Alencar. Serto de Afonso Arinos. Serto de Euclides da Cunha. Serto de
Graciliano Ramos. Serto de Rachel de Queiroz. Serto de Guimares Rosa. Serto infinito
em significados.
Na abordagem proposta percebe-se influncias de uma relao sujeito-espao. Cada
grupo elege um conjunto de elementos de acordo com as possibilidades que o meio
ambiente oferece e nem sempre esse universo de possibilidades consciente.
Logo, os gostos respondem a um
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[...] sistema de classificao constitudo pelos condicionamentos associados a uma
condio situada em determinada posio no espao das condies diferentes
rege as relaes com o capital objetivado, com este mundo de objetos
hierarquizados e hierarquizantes que contribuem para defini-lo, permitindo-lhe
sua realizao ao especificar-se. (BOURDIEU, 2007, p. 216).
No voluntariamente que o sertanejo em seus hbitos alimentares priorize
elementos como o buriti, o babau, o pequi, e nem rituais como as festas de folias e as
montarias. Tais elementos compem o universo possvel de sujeitos nas condies
objetivas que o serto oferece. Diante dessa teia de determinaes, delineiam-se os estilo
de vida, detalhados a seguir por um seguidor do pensamento bourdieuniano:
O mais importante das diferenas na ordem do estilo de vida e, mais ainda, da
estilizao da vida, reside nas variaes da distncia com o mundo suas
presses materiais e suas urgncias temporais distncia que depende, ao
mesmo tempo, da urgncia objetiva da situao no momento considerado e da
disposio para tomar suas distncias em relao a essa situao. (ORTIZ, 1983, p.
84).
A aproximao do sertanejo com o meio natural ocorreu, sobretudo, pela escassez
de recursos financeiros. A necessidade prtica o tornou um leitor da natureza, possuidor de
um olhar holstico para os fenmenos naturais. Para esse sujeito, o canto do pssaro, a
posio do sol, as nuvens fugidias, a correio de formiga, o revoo de savas e a direo
dos ventos so instantaneamente relacionados chuva e prosperidade das plantaes,
ao calor, s possibilidades de trabalho, assim como o tempo da lua constitui-se no
cronmetro da lavoura.
Apesar de autntico, o serto no est fora do movimento global e das relaes de
dominao favorecidas por grandes organizaes. Talvez no sejam encontradas
visivelmente as marcas institucionais na espacialidade sertaneja tradicional, mas h
cones e smbolos que informam a legitimao de pessoas, classes ou instituies histricas,
como a igreja, que por sua vez, respondem por interesses em nvel mundial.
De acordo com Bourdieu (2009), uma instituio s se realiza plenamente quando
anexada histria dos indivduos e na sua corporeidade. Seja na hxis corporal, nos
pensamentos ou nos valores. Nessa linha de raciocnio, percebe-se que a Igreja controlou
por muito tempo os meios de produo e de organizao da vida rural. Em contrapartida,
as prticas religiosas percebidas no serto goiano no se vinculam exclusivamente
experincia clerical, seno tambm ao catolicismo rstico/popular.
Nos tempos modernos, as escolas aparecem ainda como propagadoras de
conhecimentos e valores sociais, instituio que ganha fora no campo, principalmente a
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partir da formao dos patrimnios rurais. Junto educao das geraes mais jovens, ela no
exclui o papel da herana familiar que, no campo, d sentido vida mais do que na cidade.
Assim, por intermdio de experincias vinculadas a processos educacionais e espiritualidades
populares, o sertanejo construiu uma forma particular de aquisio de conhecimento e
valores, aproximando as instituies construtoras do habitus primrio campons: a famlia e
a igreja.
O estudo da festa de So Sebastio responde ento, ao intuito de explorar o que de
fato a religiosidade expressa de uma formao rstica no povoado, um habitus
sertanejo, e as questes relacionadas ao momento de consolidao de
espacialidades/temporalidades hegemnicas.
RELAES TEMPO/ESPAO NA FESTA DE SO SEBASTIO
Referindo-se s questes religiosas no serto, Ribeiro (2010, p. 320) relata que o [...]
sertanejo arcaico caracteriza-se por sua religiosidade singela tendente ao messianismo
fantico, por seu carrancismo de hbitos [...], por sua predisposio ao sacrifcio e
violncia. O autor diz ainda que o cangao e o fanatismo religioso, protagonizado por
Antnio Conselheiro, so provas vivas de tais disposies. V-se que a, a violncia e a
religio se encontram. O relato da festa de So Sebastio demontra que elementos
aparentemente antagnicos podem estar mais prximos do que se acredita, como a
uniformizao dos festeiros e a autenticidade de inmeros elementos de rusticidade e f ao
longo da festa.
No dia 20 de janeiro de 2012, s oito horas, deu-se incio missa em louvor ao
padroeiro do distrito de Pouso Alto: So Sebastio. Entraram os festeiros, todos
uniformizados, carregando a imagem do Santo. Prosseguiu-se a celebrao reproduzindo
cnticos comuns da religio catlica. O padre poca tinha vindo de Campos Belos, cidade
sede do municpio, especialmente para ministrar a missa e as atividades festivas ps-
missa. A preparao comeou antes do evento, com preparativos nas casas que recebero a
autoridade religiosa e/ou sero sedes de rezas domsticas. Naquele momento houve uma
diviso de atividades por gnero, nitidamente observvel. s mulheres couberam os afazeres
domsticos, como a preparao dos alimentos e a decorao das casas. Aos homens
realizaram os servios que demandam maior fora fsica, como a coleta de lenha e frutos
nos arredores do povoado.
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A celebrao em si tambm possui uma organizao prvia, com discriminao das
funes de cada sujeito, administrativas e religiosas. Os principais personagens
oficialmente definidos foram os festeiros e o mastreiro. Os primeiros se encarregam de
elementos como uniformes, decorao da Igreja, organizao do roteiro etc. J o
mastreiro, encarregou-se de levar a imagem do Santo at o altar e hastear o mastro.
Espera-se ainda da parte dele uma contribuio financeira de maior vulto para a parte da festa
que ocorre aps missa. A fotografia a seguir ilustra o momento exato da entrada da
comisso organizadora do evento (festeiros) e o representante central (mastreiro), onde se
percebe a presena de uniformes em verde e vermelho.
Fotografia 1: Incio da Missa de So Sebastio, janeiro de 2012.
Fotografia 1: Momento inicial da Missa em louvor a So Sebastio, quando da entrada da Imagem do
Santo trazida pelo mastreiro, acompanhado pelos festeiros. Fonte: Acervo da autora. Trabalho de
campo, janeiro 2012.
O vesturio dos participantes da missa complexo, desde, botinas, chapus e
outros apetrechos, remontam prtica tropeira, contrapondo com os uniformes e as
vestimentas que comunicam com o universo urbano. Isto no , porm, suficiente para
afirmar que essa festividade perdeu as caractersticas de um evento rural. Os eventos
sucessores missa informam o quanto esto presentes os costumes antigos e a rusticidade,
pois h enorme fartura, leiles e modos de vivenciar os momentos da festa que vinculam
tanto ao passado quando expressam a maneira novos processos de transformao da vida dos
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moradores do/no povoado.
Nos momentos finais da missa foi feito a escolha do novo mastreiro. Para um
estranho, esta parece uma ocasio de muita ansiedade, curiosidade e medo. H a agregao
de capital simblico no ato da escolha, pois subentende-se que o mastreiro seja uma figura
aceita pela comunidade e que tenha efetivamente condies financeiras para assumir a festa
no prximo ano. Visualiza-se a tambm uma relao de poder, na qual as famlias mais
conhecidas sentem-se orgulhosas em possuir um representante de uma das festas mais
importantes do povoando.
O medo mistura-se ao sentimento de orgulho mencionado, pois se espera que a cada
ano a festa supere a qualidade da anterior, em quesitos de organizao e recursos. A
fotografia a seguir, mostra o ritual da escolha do prximo mastreiro:
Fotografia 2: Escolha do Mastreiro da Festa de So Sebastio de 2013, janeiro de
2012.
Fotografia 2: Escolha do Mastreiro da Festa de So Sebastio de 2013, janeiro de 2012.
Fonte: Acervo da autora. Trabalho de campo, janeiro 2012.
Neste ano em especial (2012) o sujeito eleito a mastreiro foi o irmo da proprietria
da pousada na qual a equipe da pesquisa se hospedara. Pudemos ento, presenciar a
expectativa notvel nas expresses dos familiares, pegos, aparentemente pela surpresa da
escolha. A candidatura de apenas um sujeito deixou brechas para uma possvel ordem
popular que ali se efetivava. Essa expectativa estimulada pelos moradores era ainda uma
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estratgia de fortalecimento da festa, j que tradicionalmente, o momento da escolha do
mastreiro foi ansiosamente aguardado. Ali se via a reproduo do capital social de uma
famlia do lugar a partir da eleio de um de seus membros.
Eleito o mastreiro, o padre encerra a celebrao e d-se incio s procisses. Os
festeiros e demais fiis, portando a imagem de So Sebastio, visitam casa por casa em
busca da esmola, que a contribuio da comunidade para as despesas da matriz. Os
sentimentos de dever e gratido aparecem como manifestao do poder que a igreja
como instituio representa nessas comunidades, assim como os significados que a ela so
atribudos: lugar de caridade, encontro, comunho, fortalecimento conjunto, transmisso
de valores. Percebe-se nessas aes o resgate de uma identidade comum, mesmo quando a
preocupao com a honra sobressai diante do coletivo.
Aps a peregrinao, acontecem as rezas domsticas. As famlias que se
dispuserem, organizam um momento de orao, no qual ladainhas so cantadas e bastante
comida servida. A aliana entre igreja e comunidade, dois elementos marcantes da cultura
sertaneja, aparecem entrelaados: a religiosidade e a fartura.
A preparao da casa para as rezas tambm um momento de ansiedade.
Acompanhamos Dona Gemi1
no cumprimento de sua promessa: dar seguimento tradio de
seus pais, na qual era regra a organizao de uma reza domstica nos festejos de So
Sebastio. A herana familiar tambm alvo de um resgate constante, na inteno de
manter um nome, uma memria.
Desde bem cedo, os esforos se voltam para a confeco do oratrio, decorao do
espao interno da casa e dos alimentos que sero oferecidos comunidade. Chegada a hora,
primeiro canta-se as ladainhas. Separam-se todas as pessoas presentes em grupos que
alternam os versos, como se alguns perguntassem e outros respondessem. A hegemonia
feminina visvel nesse ritual.
1 Historiadora, filha de Dona Josina, uma das primeiras moradoras do povoado de Pouso Alto.
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Fotografia 3: Reza domstica, Pouso Alto, 2012.
Fotografia 3: Cntico da ladainha em reza domstica no final da tarde do dia 20 de janeiro. Fonte:
Acervo da autora. Trabalho de campo, janeiro 2012.
As gravaes de voz realizadas nessa ocasio permitiram identificar, mesmo que com
algumas discrepncias, a letra dos cnticos proferidos. Na lngua latina, este um momento
no qual a relevncia da educao popular se faz marcante, j que as extensas preces
coletivas no so, seno na prtica e no mbito familiar, ensinadas.
Apesar da pouca luminosidade, pela fotografia 3 nota-se a reunio de pessoas em volta
do oratrio, que abriga imagens, velas, folhas e flores. Tambm perceptvel a presena
de mulheres de diferentes faixas etrias, comprovando no s a predominncia feminina na
transmisso do capital religioso na sociedade sertaneja, mas a fora que essa tradio tem
nesses lugares, mesmo sendo desconhecida para muitos da cidade.
Aps as rezas domsticas, j no final da tarde, h uma concentrao frente
Igreja, onde acontecer o leilo de gado. A honra e o prestgio aparecem novamente nesse
evento. Durante o leilo, codinomes dos quais so esperados os maiores lanes so falados
em voz alta, reforando constantemente a importncia socioeconmica de sujeitos ou classe
social.
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Fotografia 4: Leilo de gado nos festejos de So Sebastio, 2012.
Fotografia 4: Leilo de gado nos festejos de So Sebastio, em frente Matriz.
Fonte: Acervo da autora. Trabalho de campo, janeiro 2012.
Em suma, na festa de So Sebastio foi possvel observar a reproduo de alguns
princpios camponeses, como o trabalho coletivo, a fartura, a religiosidade, a honra e o
medo. Mesmo com a entrada massiva de elementos da modernidade, visveis na
reconfigurao dos eventos (uso dos uniformes, som automotivo no ps-festa etc.), a
ruralidade aparece nos cenrios principais e em prticas como o cntico das ladainhas em
rezas domsticas. Nesta direo, analisando o carnaval em So Paulo, Linhares (2011, p.
71) disse que a rigor a energia residual do atrito entre temporalidades diversas pode
depositar a nfase da festa tanto num sentido conservador quanto num sentido de
transformao da vida social. H assim, elementos que parecem contraditrios, mas que
merecem mais ateno quanto s suas confluncias, levando-nos a refletir sobre as possveis
transformaes nas relaes sociais no campo, que nem sempre, representam o
empobrecimento da territorialidade camponesa.
CONSIDERAES FINAIS
A festa de So Sebastio realizada no povoado de Pouso Alto expressa os
elementos prprios da vida social da comunidade no deixando de demonstrar, por tal fato,
as contradies prprias da realizao atual do capitalismo. Embora seja uma realizao
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tradicional rural, elementos como as relaes de poder locais adentram o espao da festa
que, perde parte da espontaneidade e se espetaculariza ao mesmo tempo redesenha
ritualsticas expressivas do mundo rural sertanejo. Os festeiros so diversos: em parte,
envolvidos com o adormecer da festa, os preparativos e ordem de rituais, colocam-se
simultaneamente como sujeitos contemporneos atravessados por relaes de produo e de
poder que inferem, diretamente na representao da festa.
No entanto no momento da fartura, algo que aparece como face saudosa do
mundo rural tradicional, que o homem degusta o seu mundo, sente o seu gosto: ora,
mesmo com as mudanas da festa as permanncias do cardpio e da prtica elucidativa da
fartura denotam a fora do modo de vida campons. Se o comer no se separa do trabalho
nas sociedades rurais e se, o encontro do homem com o mundo mediado pelo trabalho, a
festa sublinha todos os acontecimentos do mundo rural: expe um habitus e uma prxis
cotidiana.
Embora saturada a festa de So Sebastio guarde no seu ncleo interior uma
centralidade vida: pode ser descrita, por um eixo terico, como meramente residual. Pode
ser analisada como contraposio a lgica do moderno. Porm, deve ser pensada como
espao de coexistncia de temporalidades diversas, expresso mais adequada do mundo,
lugar de encontro de representaes de mundos, contradio ou, simplesmente, realidade.
REFERNCIAS
BOURDIEU, Pierre. A dinmica dos campos. In: A distino: crtica social do julgamento.
So Paulo/Porto Alegre: Edusp/Zouk, 2007. p. 212-240.
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novembro de 1995.
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Dissertao de mestrado. Universidade Estadual Paulista.
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NOVACK, G. O. Desenvolvimento desigual e combinado na histria. So Paulo:
Sundermann, 2008 (Coleo 10, n.13).
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ORTIZ, Renato. Pierre Bourdieu. Coleo Grandes Cientistas Sociais. So Paulo: tica,
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RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formao e o sentido do Brasil. 9 reimpresso. So
Paulo: Companhia das Letras, 2010.
SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova da crtica Geografia Geografia Crtica. 3.
ed. 1 reimpresso. So Paulo: Ed. Hucitec, 1990.
SETTON, Maria das G. J. A teoria do habitus em Pierre Bourdieu: uma leitura
contempornea. In: Revista Brasileira de Educao, mai./jun./jul./ago 2002. n. 20, p. 60-70.
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O LIRISMO DA CENTENRIA MATRIZ DE TRINDADE TERRITRIO DA
ROMARIA E DA F NO BRASIL CENTRAL
Bento Alves Arajo Jayme Fleury Curado
Universidade Federal de Gois [email protected]
Resumo
O presente artigo discute o papel histrico exercido pela Igreja do Divino Pai Eterno de
Trindade no seu centenrio de fundao. cone catlico goiano, o referido templo representa o
territrio do sagrado em nosso Estado, haja vista que, para ele, convergem todos os catlicos
do Centro Oeste e de todo o territrio brasileiro, constituindo-se numa romaria sertaneja e
cabocla sui generes, com os modelos representativos da festa caipira: cavaleiros, carreiros,
tropeiros, carros de bois, barracas de festas, procisses e penitncias. No Espao
trindadense, as marcas de territorializao da f em manifestaes dignas de nota. Num
rastreamento histrico o presente trabalho articula a paisagem pretrita e do presente em
torno da centenria Igreja, corao catlico do centro do Brasil, alm de sua importncia
no territrio goiano, como representante do deslocamento do povo sertanejo e caboclo de
outrora em virtude daquase bissecular Romaria do Brasil Central.
Palavras-chave: Matriz do Pai Eterno. Centenrio. Histria. Territrio da f. Tradio. Festa.
Abstract
This article discusses the historical role played by the Church of the divine eternal father of
Trinity in its centenary of Foundation. Catholic icon Ganesan, the temple represents the
territory of the sacred in our State, given that, for him, converge all Catholics in the Midwest
and throughout the Brazilian territory, being in a country and regional sui generes
pilgrimage, with the models representative of the Hillbilly party: Knights, Rocky paths,
cattle, oxen, tents for parties, processions and penances. In Trinidadian territorial markings
of faith in notable events. A historic trace this paper articulates the past and present
landscape around the century-old Church, Catholic heart of the Centre of Brazil, in addition
to its importance in metallurgy, as a representative of the displacement of the people
backcountry and caboclo of yore under daquase bissecular Pilgrimage of Central Brazil.
Keywords: Array of the eternal father. Centennial. Story. Territory of the faith. Tradition.
Party.
Resum
Rsum Cet article examine le rle historique jou par l'glise du divin Pre ternel de
Trinit dans son centime anniversaire de fondation. Icne catholique Gaspari, le temple
reprsente le territoire du sacr dans notre tat, tant donn que, pour lui, convergent tous
les catholiques dans le Midwest et dans l'ensemble du territoire brsilien, se trouvant dans un
tat et le plerinage rgional sui generes, avec les modles reprsentatifs du parti
Hillbilly : chevaliers, chemins rocailleuses, btail, bufs, tentes pour les parties,
mailto:[email protected]
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processions et pnitences. Marquage territorial trinidadien de foi dans les vnements
notables. Tracer un historique, ce papier s'articule en outre le paysage pass et prsent
autour de l'glise centenaire, cur catholique du Centre du Brsil, son importance dans la
mtallurgie, en tant que reprsentant le dplacement de l'arrire-pays de personnes et de
caboclo d'antan sous daquase bissecular plerinage du Brsil Central. Mots cls : Tableau
Mots cls : Tableau du Pre ternel. Centennial. Histoire. Territoire de la foi. Tradition. Parti.
Introduo
Sob a gide da Geografia, o lugar tem especial referncia. Nele se concentram
foras contrastantes, imagens, cones representativos de ua poca. Assim a Igreja do Divino
Pai Eterno de Trindade, que um dia foi apenas uma buclica capela perdida no serto de
Gois. Igrejinha buclica do corao do Brasil, do corao dos brasileiros. Levantada do
barro goiano, no Barro Preto da Santssima Trindade de Goyaz. Igreja lrica e carregada de
essncias, trescalando infinitas emoes que o tempo no apaga. No sentimento do Pai esto
abrigadas as dores e inquietaes de geraes numa centenria caminhada. Nela, vemos que
somos povo de Deus caminhando.
Esse caminhar do povo abriu diferentes rotas geogrficas no serto de Gois em
tempos de outrora.
Seguimos na marcha interminvel das geraes que pisaram o cansao desse cho.
Num tero imaginrio evocamos a imagem da igrejinha brejeira, nascida da f do culto
domstico, de gente de p no cho ou de botina ringideira, de gente de mos calosas e
almas de sol. Romaria sertaneja e cabocla do corao do Brasil, romaria da gente da terra,
da roa, da poeira de todos os caminhos, como incenso vermelho elevado a Deus.
Igreja do Divino Pai Eterno de Trindade! cone maior da f no Brasil Central, no
Brasil inteiro, na religiosidade que integra todos os homens num elo com Deus. Levantada
em distante era, 1912, nasceste para agasalhar tantas splicas, tantas dores, alegrias,
dissabores, mgoas que o tempo sepultou para a eternidade. Casamentos, batizados, crismas,
missas de corpo presente. Infinitas manifestaes do homem a Deus e das bnos
derramadas do bero ao tmulo, ali aconteceram nesses cem anos!
Igrejinha de barro e de madeira lavrada, de duras aroeiras retiradas em santa lua que
te levantaram em dias distantes para se tornar smbolo de eterno encantamento! Casa do Pai
Eterno, casa dos trindadenses, abrigo dos romeiros, das andorinhas vagabundas e
passeadeiras, das rolinhas fogo-pag no telhado e nas torres, vigilantes de todos os
momentos; andorinhas donas do tempo, pousando e modificando o relgio da torre.
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Igreja romanesca, de assoalho resistente e lagos portais e janelas descomunais,
abertas ao infinito. Que exemplo bonito lega ao futuro, nas inquietaes de geraes
vindouras. Quanto sentimento ali abriga, no ofertrio das vidas a servio de Deus.
No homem, reside a perquirio. Em Deus est a conformao. Na imagem de suas
torres, de suas janelas, de seu telhado, o sentido exato da vida. Vida que deve se consagrar a
Deus, que nada sem a presena do Pai. Meca sertaneja e cabocla do corao do Brasil,
amparo dos oprimidos!
Ps e almas cansadas te buscam, te encontram. Orientam-se pela bssola da f. Gente
castigada pelas injustias do mundo, gente em paz, gente que agradece; gente que padece.
Em cada prece elevada a Deus, um sentido do existir.
Igrejinha que razo de viver, de sonhar, presente no imaginrio e no corao
de tanta gente. Por tantos lugares do mundo a centenria ermida est centrada no corao
daqueles que esperam em Deus! Imagem do Pai nesse mundo de contradies e
desacertos; s, igrejinha, um relicrio querido dos tempos de Goyaz!
Igreja de terra socada e de adobe, em paredes que agasalham geraes. Em cada
canto do velho templo, chora uma saudade. Na paisagem pretrita, marcada pela existncia
da prpria igreja com sua construo barroca, evoca os tempos do passado, o tempo
esquecido que a prpria paisagem retm na memria coletiva e tambm individual. a
Geografia inexistente no aspecto fsico, mas presente no limite entre a lembrana e a
recordao.
E a velha igreja centenria enche-se de luz e de paz. Comunicam-se em sentidos
e significados os tantos seres que ela abriga. A igreja se enche para mais uma celebrao. A
vida em suas instncias tantas, em tantas dimenses do ontem e do hoje, celebrada.
Pelos meandros da Geografia potica, ou geopotica, como se define, ser possvel
compreender a vastido do sentido ideolgico da igreja do Divino Pai Eterno de Trindade,
no mbito da Geografia e da Histria do Estado de Gois. A mesma se constitui em cone
no mapeamento religioso que engendrou uma compreenso de espao e territrio nas terras
do Anhanguera.
Justamente essa f, nascida na Igreja centenria que ainda consegue manter viva a
identidade trindadense, mesmo estando a cidade de Trindade na regio metropolitana da
Grande Goinia, o processo de conturbao, assim como tantas outras como Aparecida de
Goinia, Bela Vista de Gois, Guap, Goianira e Bonfinpolis. O territrio da f se destaca
como um iderio de pertencimento.
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Assim, este artigo, de forma lrica e potica, busca evocar o passado da
centenria Matriz do Divino Pai Eterno de Trindade como smbolo de todo um povo, no
territrio marcado pela f e pela devoo em cem anos de existncia no corao do
Brasil.
inegvel se destacar, tambm, que o territrio marcado basicamente pelo poder, tal
fato desde os estudos de Maquiavel, de Ratzel, Foucault e tantos outros que buscaram
compreender a realidade do homem em determinado espao e como os territrios so
marcados decisivamente pelo poder e pela conquista.
Igrejinha buclica do corao do Brasil e dos brasileiros
O Arraial de Barro Preto da Santssima Trindade de Goyaz, potico recanto dos
sertes goianos, era, em 1912, j um distrito de Campininha das Flores, hoje bairro de
Goinia. As datas emblemticas de sua origem so desconhecidas, j que se baseiam em
informaes orais. No contexto geogrfico e poltico, pertencia Campininha das Flores
que tambm era jurisdicionada Cidade de Goyaz, antiga capital do Estado.
Mesmo como um simples distrito, Trindade j se configurava como territrio
especfico, j que, segundo Santos e Silveira (2002), o mesmo visto como unidade em
suas vrias diversidades, com fluidez abalizada pela acelerao, ou seja, mesmo como
Distrito, Barro Preto da Santssima Trindade de Goyaz j tinha uma especificidade que
era a prpria Romaria, que o distinguia dos demais dentro do territrio goiano.
Barro Preto em 1911, com as torres da Igreja ainda em construo, vista da Cruz das almas.
Dois anos antes, 1910, o padre Anto Jorge Heckemb