Aljjubarrota (Azimute, nº 187)
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8/9/2019 Aljjubarrota (Azimute, nº 187)
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A Invasão Castelhana e a Batalha de Aljubarrota
“A batalha mais brilhante,mais decisiva nos seus resul-
tados e aquela que maior ecoteve em Portugal e no mundo”1
A batalha que iremos de se-guida abordar é uma natural evo-lução das batalhas ocorridas nosanos anteriores na Europa, coma vantagem adicional de esta ter sido genialmente conduzida por D. Nuno Álvares Pereira.
Para não sermos demasiadoexaustivos referiremos em sínte-se algumas das inovações maisimportantes nessas batalhas eque pudemos testemunhar o seuuso posterior em Aljubarrota2:
� Courtrai (11/7/1302)que opôs Flamengos a -
menga deveu-se, entre outros factores, ao in-teligente uso do terreno com as fossas, muitasdelas cheias de água, tirando partido do rioque isolava e limitava o campo de batalha e oscavaleiros apeados a combater;
� Bannockburn (24/6/1314) entre Escoceses eIngleses - Além do uso das linhas de água,foi alargado o aproveitamento do terreno comabatizes e covas de lobo (com estacas) alémde um dispositivo de forças inovador organi-zado em quatro conjuntos com a cavalaria acombater apeada com uso de longas lançasque sem dúvida foram um dos factores da vi-tória dos escoceses de Robert Bruce sobreEduardo II;
� Morgarten (15/11/1315) entre Suíços e Austríacos – mais do que uma batalha esta foiuma “emboscada” em que foi visível o esfor-ço na pesquisa de informações, nos reconhe-cimentos ao terreno com o uso de batedorese que permitiu escolher o melhor local para ocombate, além do aparecimento de um novodenominados “quadrados suíços” e ainda umaarma nova: a alabarda;
� Dupplin Moor (11/9/1332) entre Escoceses eIngleses – destaca-se o posicionamento dos
1 THEMUDO BARATA: 23
2 MONTEIRO, 37 e seguintes
arqueiros equipados com “Long-Bow”, comuma cadência de tiro muito mais elevada doque as tradicionais bestas, colocados nas alasda batalha, o que veio desta vez levar à vitóriados ingleses.
� Crecy (26/8/1346) entre Ingleses e Franceses – uma das mais famosas batalhas da Guerrados Cem Anos – foi notório o despique e adiferença de capacidades entre arqueiros ebesteiros, ganhando os primeiros em ritmo defogo. De destacar também o uso de “muralhas”fortalezas” feitas comas carroças;
� Poitiers (19/9/1356) entre Ingleses e Franceses – outra das mais famosas da Guerra dos cemanos – em que foi possível utilizar de forma in-teligente não só a cavalaria inglesa com explo-rar a mobilidade dos próprios arqueiros;
� Nájera (2/4/1367) entre D. Pedro I comIngleses contra Henrique Transtâmera com oapoio Francês - de notar a oportunidade comose explorou as fraquezas do adversário e denovo o uso inteligente dos arqueiros.
Interessa ainda ressalvar três aspectos muitoimportantes da forma de combater e da organiza-
no decorrer da Batalha de Aljubarrota:� Portugal, desde os tempos de Viriato, saben-
do-se das reais capacidades em meios hu-manos e materiais que possuía sempre privi-legiou combater usando a táctica da guerrilha
TCor Inf Lemos Pires
“ - ”
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“guerra guerreada” – ou seja, os soldados e oscomandantes portugueses estavam por issohabituados ao uso de tácticas mais ligeiras,com grande iniciativa, bom aproveitamento doterreno, rapidez de actuação e uso inteligente
dos meios materiais à disposição (foi assim eassim permaneceria quase sempre ao longoda nossa história);
� Nuno Álvares Pereira, herdeiro desta forma decombater era um verdadeiro adepto da mes-ma: executava deslocamentos longos, faziatodo o seu planeamento em segredo, utilizava
judiciosamente um excelente serviço de espio-nagem e tinha uma elevadíssima preocupaçãocom a segurança dos acantonamentos;
� A mobilização para guerra assentou numabase nacional e não regional: o Exército, mes-mo havendo partidários de ambos os lados,era um Exército do Rei e não a soma de pe-quenos exércitos feudais que deviam a sualealdade ao seu Senhor feudal , esta aparentepequena diferença permitiu sempre ao coman-dante nacional organizar, dispor e combater como um todo no uso das suas forças o quesomado ao inequívoco apoio das populações,vantagem táctica (lembremo-nos que as tropasinvasores precisavam do apoio da populaçãopara sobreviverem e esse apoio praticamentenão existia).
Mas vamos directos ao ano de 1385 e à Batalhade Aljubarrota:D. Juan I de Castela concentrara-se com a
sua hoste em Ciudad Rodrigo e, após descartar apossibilidade de optar por um outro tipo de guerra(devastações fronteiriças, nomeadamente), entraem Portugal por Almeida, na segunda semana deJulho de 13853. Toma o itinerário das beiras emdirecção a Lisboa4 (Pinhel, Trancoso, Celorico,Fornos, Mangualde, Mortágua, Mealhada, Coimbrae Soure). O exército português, comandado pelorei D. João I, após ter assegurado que os caste-lhanos não cercariam Elvas, passa para a margem
norte do Tejo, vindo a estabelecer-se em Abrantesno Alentejo, em recrutamento, e viria a juntar-se-lhe em Abrantes, a 3 de Agosto.
Desde Junho desse ano que a frota castelha-na voltara a ocupar o estuário do Tejo e D. Juan Iavança sobre a capital, para lhe levar novo cerco,acreditando que, desta vez e depois da malogra-da tentativa do ano passado, seria muito difícil aresistência portuguesa. Em Abrantes reúne-se umJoão a optar pelas preferidas “acções de guerra
3 MONTEIRO, 80. e também BESSA: 44
4 “ganhada Lisboa, todo Portugal era cobrado” citado emBESSA:36
comunicações na retaguarda castelhanas e forçar assim o monarca castelhano a movimentar as suasforças nessa direcção “melhor seria entrar pela
�-rer ali, desviando-o de Lisboa”5.
D. Nun’Álvares Pereira tem opinião contrária. Jánão estamos em momento para guerrilhas. É fun-damental travar uma batalha decisiva. Uma vitóriafronteira, D. João I como rei de Portugal. Pelo con-trário, mover uma guerra de “guerrilha” neste mo-mento da campanha daria azo a que D. João e asua causa fossem considerados como meros rebel-des, num reino que aparentava pertencer à coroade Castela. Perante a hesitação do rei, D. Nunoparte de Abrantes com a sua parte da hoste emdirecção a Tomar, obrigando D. João a rever a suaopção e a sua estratégia.
Na ideia de D. Nuno é importante travar essabatalha num local em que os castelhanos já esti-vessem bem internados em território de Portugal,uma derrota permitisse algum tempo de reorgani-zação. A 8 de Agosto todo o exército português estáem Tomar. D. Nuno terá, nesta altura, enviado umbatalha. Este regressa no dia 10 com notícias alar-mantes: a hoste castelhana é constituída por maisde 7000 lanças e 2000 ginetes, além de um númeroincontável de besteiros e homens a pé. Consigo,
muitos senhores portugueses que a ele se aliaram.D. Nuno opta então por esconder os verdadei-
ros valores às suas tropas, fazendo transmitir queos castelhanos eram poucos e mal equipados. Eranão só importante executar uma boa estratégia decontra-informação como prover para que a mo-ral se manti-vesse eleva-da entre osportugueses.
A hoste por-tuguesa conta-
ria entre 5000a 10000 com-batentes, de-pendendo dosautores. É cer-to que a hostecastelhana asobrepassavabastante emnúmero, prova-velmente aci-ma dos 20000.
A 11 de Agostoos portugue-ses avançam para Ourém e a 12 os castelhanos
5 BESSA: 46
o como prover para que a mo
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para Leiria. Informado dos movimentos do inimigo,D. Nuno avança para Porto de Mós, onde estacionana noite de Sábado, dia 126.
O local exacto da batalha foi criteriosamente se-leccionado. Ambos, D. João e D. Nuno, terão pon-
derado as vantagens daquela área, bem próximado couto e mosteiro de Alcobaça, onde o abadeD. João de Ornelas, com bastante rapidez, pode-ria conseguir recrutar mais homens para a hostee, ao mesmo tempo, fornecer mantimentos. Alémdisso, D. Nuno, acompanhado por 100 cavaleiros,aproveita o domingo dia 13 de Agosto, para um re-conhecimento detalhado a todo o terreno que ia dePorto de Mós às imediações de Leiria. O facto de le-var uma tão grande força para um reconhecimentodeve-se, provavelmente, a dois aspectos: primeiro,à necessidade de segurança, dada a proximidadedo inimigo e, segundo, tudo leva a crer que D. Nunoterá gizado o plano de operações para o dia se-guinte na companhia dos seus lugar-tenentes, ouseja os seus subordinados directos. Ele quis queeles vissem o terreno e ajudassem nas decisõesoperacionais.
Ainda antes do alvorecer do dia 14 de Agostode 1385 (nesse dia o raiar da aurora deu-se à 3h37e foi dia claro às 4h487), a hoste portuguesa levan-tou o arraial de Porto de Mós e percorreu os 7 a8 km que a separavam do planalto de S. Jorge,onde se veio a colocar, voltada a norte, num cabe-ço que hoje é sobranceiro à povoação da Batalha
(que na altura era somente um lugarejo chamadoJardoeira). A enorme coluna castelhana, que secalcula ter mais de 15 km, vinda de Leiria, atinge abaixa da Jardoeira a meio da manhã. A vanguardapôde observar desse local a hoste portuguesa noduas linhas de água profundas.
Em boa linguagem militar vamos descrever odispositivo, a composição e articulação das forças8:
“uma formação de quadrado a duas azes (ba-talhas) com uma Vanguarda
Álvares Pereira) próprio comandava, a seiscen-
tas lanças; uma Ala direita de duzentas lanças decavaleiros cujo comando seria atribuído a MemRodrigues e coadjuvado por seu irmão Rui Mendes;uma Ala esquerda de duzentos homens de armasque Antão Vasques comandaria; e, recuada, umaRetaguarda, com el-rei, de setecentas lanças,montadas tanto quanto possível para maior mobili-dade, como Reserva, pronta para contra-atacar ou reforçar a Vanguarda, a Ala esquerda e a Ala direi-ta por esta ordem; os arqueiros ingleses atribuídosà Ala esquerda; os besteiros guarneciam todas asfaces do dispositivo, com prioridade para as Alas
6 MONTEIRO, p. 82
7 OLIVEIRA, Frederico Alcide de, Aljubarrota Dissecada,Direcção do Serviço Histórico-Militar, Lisboa 1988
8 RODRIGUES: 90
e, juntamente com os peões montariam guarda àcarriagem, esta colocada por trás da Reserva, comexcepção de um reduzido trem de apoio ao comba-te dos arqueiros e besteiros que se situaria dentrodo quadrado”
Perante esta forte posição portuguesa a opçãocastelhana foi a de envolver por oeste, passandopela povoação da Calvaria, num longo movimentoque demoraria toda a tarde, acabando a vanguar-da castelhana por se posicionar no Chão da Feira,exactamente 5 km à retaguarda da posição inicialportuguesa, entre as 16 e as 17 horas.
D. Nuno acompanha o movimento torneantecastelhano e faz mover o seu dispositivo cerca de2 km mais para sul, invertendo-o. Encontrava-se,agora, ainda no planalto de S. Jorge, entre as duas
linhas de água (embora menos acentuadas, poisestava mais próximo das nascentes9), mas temtempo de organizar o terreno e reajusta, proporcio-nalmente, o dispositivo escolhido:
“Quanto à composição e articulação das forças, pensara não serem necessárias grandes altera- reforçar a Frente à custa da Reserva, aí com umasoitenta a cem lanças, porque o terreno era maisfraco e mais extensa a frente a cobrir mas, faceà possibilidade do inimigo empregar em qualquer direcção, mesmo pela retaguarda, a sua cavalaria
ligeira sob o comando do Mestre de Alcântara (…)optara por manter a Reserva forte (…) esta última
posição permitia-lhe também, criar um saco (umabolsa), uma zona de morte onde nos derradeirosmomentos antes do contacto, o inimigo aí entrado,seria sujeito a um potencial de tiro das armas dearremesso que queria devastador” 10
Manda colocar abatises, abrir fossos e covas delobo a sul desta nova posição, numa frente que nãoseria superior a 300 metros.
Uma das questões que sempre se tem colocadoaos vários investigadores da Batalha, após obser-
vação do campo de batalha e das escavações ar-queológicas que revelaram até agora pelo menos830 covas de lobo e fossos, um deles com 182 mde comprimento e uma profundidade dos 40 aos 70cm, é: de quanto tempo dispuseram os portugue-ses para os escavar? Estima-se que num tempode três horas e empenhando cerca de metade doefectivo, tornariam possível a acção, mas não é dedescartar totalmente a possibilidade de D. Nuno ter começado a organização do terreno mais cedo. Naverdade há vários factores que levam a crer queele já sabia, desde o início, que o combate se iria
9 A oeste, o ribeiro de Vale de Madeiros (que corre para a Azenha da Amieira) e, a leste, o do Carqueijal ou de Vale daao Lena). MONTEIRO, p. 87.
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travar de sul para norte e não de norte para sul. Aliás, uma das razões pelas quais os castelhanosderam batalha foi o facto de estarem convencidosde que, envolvendo a hoste portuguesa, se encon-trariam numa posição de vantagem. É crível que D.
Nuno tivesse imaginado a manobra dessa forma ecom o apoio das populações envolventes tivesse oterreno preparado antes da mudança de posição.
(Nota: Usámos para esta recolha de informação -mos de destacar que os autores referidos recor-reram, para além das usuais crónicas de FernãoLopes, Pedro Lopes de Ayala e a do Condestabre,a importantíssimas fontes coevas como as “entre-vistas” recolhidas pelo cronista francês Froissart aJean de Rye – camareiro do rei de França e vetera-no das batalhas de Crecy e Poitiers - ou ao cavalei-ro gascão Espan du Lion – do condado de Foix, nosul de França que tinha combatido em Aljubarrota –ou ao relato de João Fernandes Pacheco – um dosheróis da Batalha de Trancoso e que também es-teve em Aljubarrota - são por isso testemunhos im-portantíssimos que nos ajudam a compreender me-lhor a Batalha o que cruzado com a célebre cartade D. Juan I de Castela à cidade de Múrcia poucosdias após a Batalha Real nos ajudam a perceber melhor o que se passou a 14 de Agosto de 1385).
“A batalha, mais do que entre os exércitos em presença, punha frente a frente os dois Reinos. Por
isso, nela participaram ambos os Reis, e muitos lhechamaram BATALHA REAL” 11
Pelas 17h00, a vanguarda castelhana, cons-tituída essencialmente por um a dois milhares decavaleiros franceses, carrega sobre a posição por-tuguesa. A enorme frente montada é muito maislarga do que a frente portuguesa, mas, à medidaque a carga progredia, os cavaleiros, condiciona-dos pelos abatises, pelas linhas de água e pelanatural procura de estabelecer o contacto com uminimigo em frente mais estreita, vão afunilando. Àsemelhança dos Atoleiros, as armas de projecção(os besteiros portugueses reforçados por cerca de300 arqueiros mercenários ingleses) fazem tiro so-bre a massa de cavalaria que se precipita contraeles. Em simultâneo, cavalos e cavaleiros abatidosobrigam os seguintes a desviar-se e a cair commais facilidade nas covas de lobo e fossos (que-dos com vegetação). Para aquela massa confusade homens e cavalos é impossível recuar. Muitosperecem por esmagamento pelos próprios cama-radas que os seguiam, como comprovam inúmerasossadas extraídas do local12. Os poucos cavaleiros
11 BESSA: 58
12 Há um grande número de ossadas encontradas com sinaisde esmagamento e não de cortes ou fracturas provocadospor lâminas de armas de corte. Além disso há ainda doisaspectos que merecem a atenção: a existência de bastantes
franceses que sobrevivem são capturados e envia-dos para a zona da carriagem portuguesa, onde
Talvez cerca de uma hora mais tarde entra emposição a “batalha real castelhana”13. Mais uma vez
a frente castelhana sobrepassa enormemente a es-treita frente portuguesa. O avanço inicia-se mon-tado, mas mais uma vez as abatises e a própria
-perar que o centro “encaixe” no corredor de 300metros de largura que conduz à frente portuguesa.
covas de lobo pejados de cadáveres e moribundos.Os arqueiros ingleses e os besteiros portuguesesdisparam chuvas contínuas de setas e virotões. Oscavaleiros têm de apear. Mesmo assim chegam aocontacto e tem início um feroz corpo a corpo, cominúmeras baixas em ambos os lados.
Segundo Fernão Lopes, nesta fase, a frenteportuguesa acabaria por ceder, mas as alas, maislibertas, dobram-se naturalmente para o interior,criando uma bolsa e continuam a disparar projéc-teis. D. João I viu necessidade de reforçar a frentecom elementos da retaguarda. Mandou matar osprisioneiros franceses, provavelmente para de-sempenhar o pessoal que lhes fazia guarda e, aoda guerra pudessem aproveitar o empenhamentoda frente para eles próprios tentarem algo sobre os
peões e criados que permaneciam nos trens.
O Rei contra-atacou decididamente (…) um cava-leiro castelhano enfrentou o Rei, que alçou a facha
para o abater. Ele, porém, parou o golpe, desarmou com a sua facha. O Rei, refazendo-se, aparou-o,
por sua vez, e desarmou o adversário. Quando iaabatê-lo, já era tarde. Alguém se lhe tinha anteci-
pado e o cavaleiro castelhano jazia morto. (...) esteepisódio tendo-o como um dos momentos cruciaisda batalha. Se a sorte do Rei lhe houvesse sido
adversa, outro seria certamente o desfecho docombate (…) e um novo acontecimento crucial - abandeira de Castela caiu derrubada.” 14
Os castelhanos acabariam por ceder e começamuma retirada desorganizada e tomada de pânico.
casos de lesões nos ossos frontal e occipital do crânio (queindiciam agressões direccionadas e provavelmente desferidaspor trás ou quando o indivíduo se encontrava caído no chão)e a frequência de fracturas remodeladas (ossos fracturadosque foram curados), que indiciam a presença de veteranosde guerra, com ferimentos de outras batalhas aos quaissobreviveram.
13 O corpo onde vinha o rei.
14 BESSA: 60-61, na opinião do Coronel Américo Henriqueso combate do Rei com o Castelhano Álvaro Gonçalves deSandoval deu-se mais tarde na Batalha, provavelmente durantea perseguição aos castelhanos
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(por Oeste era quase impossível devido ao declivedo terreno) e ataque à retaguarda portuguesa por parque do Mestre de Alcântara e algumas centenasde ginetes. O ataque começa por ser rechaçado por alguns besteiros e pessoal que se encontra com os
trens, dado que os castelhanos se encontram a ten-tar atravessar o ribeiro do Carqueijal (e os silvadosque o ladeavam). D. Nuno e alguns dos seus mon-tam nos poucos cavalos que se encontram dispo-níveis e acorrem à retaguarda, mas já o Mestre de
Alcântara retira pelo mesmo caminho. A perseguição, desferida de imediato pela hos-
te portuguesa, é terrível, completada ainda pelaacção dos populares. No entanto D. Nuno acaboupor limitá-la, mandando regressar a S. Jorge, dadoque tinha consciência que o exército castelhanoera muito numeroso e podia reagrupar para voltar a combater. Na realidade, isto não aconteceu. Sóna madrugada seguinte, com o levantar do dia, éque D. João I tem verdadeira consciência da retum-bante vitória. O exército português e os popularesdo couto de Alcobaça tinham morto cerca de 6000castelhanos e franceses. As baixas do lado portu-no terreno os tradicionais 3 dias que simbolizam avitória campal. No dia 17 de Agosto retira a hos-te portuguesa sobre Alcobaça e “à passagem pelae Nun’Álvares encontraram mortos muitos dos cas-telhanos que tinham logrado escapar na noite da
batalha” 15
. Mais uma vez se comprova o forte apoiolocal que se produziu nos terrenos envolventes aS. Jorge, em especial, pelo já referido Abade de
Alcobaça, D. João de OrnelasEm síntese foram estas as principais causas da
vitória16:� A ousadia de ir ao encontro de uma hoste muito
mais numerosa;� A escolha judiciosa do terreno;� O alongamento da coluna castelhana;� A precipitação do ataque castelhano – os cas-
telhanos sabiam o risco de, se seguissem em-
da com forças experientes na “guerra guerre-ada” e poderem ainda encontrar uma Lisboabem defendida;
� A rapidez da inversão do dispositivo português;� A articulação entre vanguarda, retaguarda e as
alas;� O impedimento da tentativa de envolvimento
castelhano;� Superioridade do comando e disciplina
portuguesaNa sequência do êxito de Aljubarrota, D. João
I ocupa Santarém, Leiria, Óbidos, Alenquer, TorresVedras, Sintra, Crato, Monforte, Vila Viçosa, Marvão
e outros lugares. Ainda no mesmo ano D. Nuno en-tra em Castela, para, mais uma vez, sair vitorioso
15 MONTEIRO: 115
16 BESSA: 72-73
no recontro de Valverde, numa acção propositadapara manter a pressão militar. O monarca caste-lhano, com um exército desfeito e dois grandes re-vezes na memória, nunca mais teve condições dediscutir a sucessão de D. Fernando.
�na vida dos portuguesas, a batalha por excelência.Portugal, que se estava gerando como Pátria, des-de os tempos de Afonso Henriques, vira chegada asua hora de surgir como Nação. Tinha condições egente. Teve chefe – e a história cumpriu-se” 17
17 RODRIGUES: 10
Azimute
�
O TCor Inf Nuno Correia Barrento de LemosPires é Licenciado em Ciências Militares pela
Academia Militar, em Gestão de RecursosHumanos pela Universidade Lusófona e pos-sui uma Pós-graduação em História Militar pela Universidade Lusíada.
Prestou serviço, entre outras unidades naEscola Prática de Infantaria, como instrutor dos principais cursos da Escola, no Instituto de
Altos Estudos Militares, leccionando a cadei-ra de História Militar, no Corpo de IntervençãoRápida da NATO em Valência/Espanha(NRDC – Spain) na área de informações edesde Novembro de 2007 como Comandante
do 2º Batalhão de Infantaria Mecanizado daBrigada Mecanizada em Santa Margarida.Com várias obras publicadas, colaborou
em diversos livros e projectos em Portugal eEspanha, especialmente no âmbito da históriamilitar, tendo igualmente publicado dezenasde artigos em diversas revistas e jornais, econduzido diversas conferências em Portugal,Espanha e Alemanha.
É sócio efectivo da Revista Militar, cola-borador e revisor para assuntos militares doCírculo de Leitores, membro do ConselhoMilitar, membro do Foro para el Estudio de laHistoria Militar de España.
�BESSA, Carlos Gomes, e BARATA, Themudo, Conferência
na Sociedade Histórica da Independência de Portugal, 23 deMaio de 1985, no Ciclo Comemorativo da Batalha de Aljubarrota.
MARTINS, A. de Oliveira, A vida de Nun’Álvares, GuimarãesEditores, Lisboa, 1968.
MONTEIRO, João Gouveia, Aljubarrota, 1385. A BatalhaReal, Lisboa, Tribuna da História, 2003.
OLIVEIRA, Frederico Alcide de, Aljubarrota Dissecada,
Direcção do Serviço Histórico-Militar, Lisboa 1988.RODRIGUES, H.S. Castro, Aljubarrota ou a Fava de Terena,
Moinho Velho, Lisboa, 2002
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