Agricultura familiar e agroecologia mudam a vida e a história de comunidades

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1267 Novembro/2013 A agricultura familiar vem ganhando força por essas bandas. Não é difícil encontrar famílias que, ao contrário do comum há alguns anos, decidem voltar para o Sertão, recomeçar e investir na vida na roça. É o caso de Edna e Clirécio, novos personagens que encontramos em nossas andanças pela região. Tudo bem familiar, um início de vida muito duro, percorrendo grandes distâncias em busca de água para consumo, pouco dinheiro, pouca comida e muita gente em casa pra alimentar. Um dia, vai embora para a cidade em busca de uma vida melhor, estudar, trabalhar, criar os filhos... Mas, e quando isso não dá certo? Volta para o Sertão! As dificuldades se transformam em trabalho, geração de renda e segurança alimentar para essa família. A produção orgânica, o aprendizado da agroecologia, a convivência com o Semiárido e o respeito à natureza promovem a recuperação dos recursos naturais da região e mudam a vida de muitas famílias. Edna chega a se emocionar quando, olhando o seu pedaço de terra, considera: “Foi aqui que eu nasci, cresci e vivi momentos maravilhosos da minha vida. Sempre quis voltar, sempre quis a tranqüilidade, a qualidade de vida que só vejo aqui, na minha casa, na roça, comendo o que planto, sem agrotóxico. A gente precisa dar valor ao que a gente tem. A água é pouca, é difícil passar tanto tempo sem a chuva, mas quando ela vem, vem generosa, enche nossa cisterna e a gente consegue segurar a água até chover outra vez. Se a gente planta hortaliça, economizamos água. A gente vende e aumenta a renda. A gente consome e mata a fome. É assim que funciona... É fácil conviver com o semiárido, se souber o que fazer”. No povoado, cerca de 15 famílias tem acesso, em cada propriedade, a uma tecnologia de captação de água da chuva, que já dão conta de manter a região muito mais verde. “Aqui, tudo dá! De hortaliça, pode encher a terra que vinga. Fruta de todo tipo, umbu, acerola, seriguela, manga, caju, banana, mamão... No meu pedaço de chão planto feijão, brócolis, couve, cana... Essa terra é boa demais, só a água que é pouca, mas os projetos sociais estão resolvendo isso. Aqui no Serigado, cada rocinha dessa recebeu sua cisterna. Todo mundo planta tudo e o que sobra a gente divide entre a gente. Tentamos plantar coisas diferentes para um vizinho vender para o outro e deixar o dinheiro por aqui mesmo”, completa Clirécio. Agricultura familiar e agroecologia mudam a vida e a história de comunidades Morro do Chapéu Foto: Fernanda Cunha (ASCOM)

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1267

Novembro/2013

A agricultura familiar vem ganhando força por essas bandas. Não é difícil encontrar famílias que, ao contrário do comum há alguns anos, decidem voltar para o Sertão, recomeçar e investir na vida na roça. É o caso de Edna e Clirécio, novos personagens que encontramos em nossas andanças pela região.

Tudo bem familiar, um início de vida muito duro, percorrendo grandes distâncias em busca de água para consumo, pouco dinheiro, pouca comida e muita gente em casa pra alimentar. Um dia, vai embora para a cidade em busca de uma vida melhor, estudar, trabalhar, criar os filhos... Mas, e quando isso não dá certo? Volta para o Sertão!

As dificuldades se transformam em trabalho, geração de renda e segurança alimentar para essa família. A produção orgânica, o aprendizado da agroecologia, a convivência com o Semiárido e o respeito à natureza promovem a recuperação dos recursos naturais da região e mudam a vida de muitas famílias.

Edna chega a se emocionar quando, olhando o seu pedaço de terra, considera: “Foi aqui que eu nasci, cresci e vivi momentos maravilhosos da minha vida. Sempre quis voltar, sempre quis a tranqüilidade, a qualidade de vida que só vejo aqui, na minha casa, na roça, comendo o que planto, sem agrotóxico. A gente precisa dar valor ao que a gente tem. A água é pouca, é difícil passar tanto tempo sem a chuva, mas quando ela vem, vem generosa, enche nossa cisterna e a gente consegue segurar a água até chover outra vez. Se a gente planta hortaliça, economizamos água. A gente

vende e aumenta a renda. A gente consome e mata a fome. É assim que funciona... É fácil conviver com o semiárido, se souber o que fazer”.

No povoado, cerca de 15 famílias tem acesso, em cada propriedade, a uma tecnologia de captação de água da chuva, que já dão conta de manter a região muito mais verde. “Aqui, tudo dá! De hortaliça, pode encher a terra que vinga. Fruta de todo tipo, umbu, acerola, seriguela, manga, caju, banana, mamão... No meu pedaço de chão planto feijão, brócolis, couve, cana... Essa terra é boa demais, só a água que é pouca, mas os projetos sociais estão resolvendo isso. Aqui no Serigado, cada rocinha dessa recebeu sua cisterna. Todo mundo planta tudo e o que sobra a gente divide entre a gente. Tentamos plantar coisas diferentes para um vizinho vender para o outro e deixar o dinheiro por aqui mesmo”, completa Clirécio.

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

Quando os projetos sociais chegaram à região, as famílias cadastradas participaram dos cursos de gerenciamento de água, oferecidos pelas entidades responsáveis pela construção das tecnologias. Clirécio tem orgulho em dizer que foi o agricultor mais empenhado durante os cursos ministrados na comunidade e garante que cada ensinamento será levado para toda a vida.

“A gente participou dos cursos na época que recebemos a cisterna. Foi aí que percebemos que, com pequenas soluções, a vida poderia ser mais farta e mais próspera. Mudei o jeito de plantar, abandonei os venenos e aprendi novas tecnologias que me ajudaram a plantar e usar melhor a minha Cisterna Calçadão.

F i camos mo t i vados com a possibilidade de aumentar a produção sem aumentar demais o custo, de preservar o meio ambiente, pois temos propriedades muito pequenas e já desgastadas pelo mau uso, de produzir de forma saudável e ensinar aos vizinhos como fazer suas plantações do jeito certo”.

Hoje, o povoado que antes não desenvolvia, prende cada família à esperança de prosperidade. A vida, o verde, a saúde, tudo faz parte dessa terra de gente guerreira, que sabe o que faz, que quer crescer e viver com dignidade no lugar que nasceram.

”A gente tem muito orgulho do que fazemos aqui. Não há arrependimento em voltar pro sertão, a gente é feliz aqui, vivemos bem aqui, e cada dia que ficamos fora é um sofrimento. Quero molhar minhas plantas, alimentar minhas galinhas... Temos que respeitar a nossa terra, trabalhar em conjunto com o mesmo objetivo: viver melhor, alimentar nossas famílias e complementar nossas rendas com dignidade e consciência de que não estamos agredindo os recursos naturais. A agroecologia é o futuro e as cisternas estão iluminando nossas vidas, facilitando o armazenamento de água, e dando esperança pra essa gente toda daqui”, conclui Edna, com sorriso no rosto e braços abertos.

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CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

Foto: Fernanda Cunha (ASCOM)