Adalberto do Carmo Telles - maxwell.vrac.puc-rio.br
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Adalberto do Carmo Telles
Joatildeo o Batista o maior entre os nascidos de mulheres
Uma anaacutelise exegeacutetica de Mt 112-15
Dissertaccedilatildeo de Mestrado
Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau de Mestre pelo Programa de poacutes-graduaccedilatildeo em Teologia do Departamento de Teologia da PUC-Rio
Orientador Prof Waldecir Gonzaga
Rio de Janeiro Dezembro de 2019
Adalberto do Carmo Telles
Joatildeo o Batista o maior entre os nascidos de mulheres
Uma anaacutelise exegeacutetica de Mt 112-15
Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau de Mestre pelo Programa de poacutes-graduaccedilatildeo em Teologia do Departamento de Teologia da PUC-Rio Aprovada pela Comissatildeo Examinadora abaixo
Prof Waldecir Gonzaga Orientador
Departamento de Teologia ndash PUC-Rio
Prof Heitor Carlos Santos Ultrini Departamento de Teologia ndash PUC-Rio
Profa Alessandra Serra Viegas Seminaacuterio Metodista Ceacutesar Dacorso Filho
Rio de Janeiro 11 de Dezembro de 2019
Todos os direitos reservados Eacute proibido a reproduccedilatildeo total ou
parcial do trabalho sem autorizaccedilatildeo da universidade do autor e
do orientador
Adalberto do Carmo Telles
Graduou-se em Teologia na Faculdade Evangeacutelica de Tecnologia
Ciecircncias e Biotecnologia da CGADB ndash FAECAD em 2016
Concluiu o curso de grego claacutessico no Cursos de Liacutenguas Aberto
agrave Comunidade ndash CLAC ndash UFRJ em 2017 Concluiu o curso de
inglecircs para leitura no Cursos de Liacutenguas Aberto agrave Comunidade ndash
CLAC ndash UFRJ em 2018
Ficha Catalograacutefica
Telles Adalberto do Carmo
Joatildeo o Batista o maior entre os nascidos de mulheres Uma anaacutelise exegeacutetica de Mt 112-15 Adalberto do Carmo Telles Orientador Prof Dr Waldecir Gonzaga ndash Rio de Janeiro PUC Departamento de Teologia 2019
149 f 30 cm Dissertaccedilatildeo (mestrado)ndashPontifiacutecia Universidade Catoacutelica
do Rio de Janeiro Departamento de Teologia 2019 Inclui referecircncias bibliograacuteficas
1 Teologia ndash Teses 2 Jesus 3 Joatildeo Batista 4 Maior
e menor 5 Nascidos de mulheres 6 Reino dos Ceacuteus I Gonzaga Waldecir II Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio de Janeiro Departamento de Teologia III Tiacutetulo
CDD 200
Dedico este trabalho agrave minha esposa Sheila Ferreira
Telles agrave minha famiacutelia e agrave minha Igreja
Agradecimentos A Deus meu Senhor toda Gloacuteria
Ao meu orientador Prof Dr Pe Waldecir Gonzaga pelo encorajamento e
dedicaccedilatildeo para a concretizaccedilatildeo deste trabalho e por sua valiosa amizade e carinho
Agrave CAPES e a PUC-Rio pelos auxiacutelios prestados sem os quais este trabalho natildeo
poderia ter sido realizado
Aos familiares principalmente agrave minha esposa pela atenccedilatildeo e compreensatildeo nos
momentos difiacuteceis
Agrave Igreja Assembleia de Deus Ministeacuterio de Inhauacutema pelas oraccedilotildees e
manifestaccedilotildees de carinho e apreccedilo
Aos professores que participaram da Comissatildeo examinadora Prof Dr Heitor
Carlos Santos Utrini e Profa Dra Alessandra Serra Viegas
Aos professores e funcionaacuterios do Departamento de Teologia Prof Dr Leonardo
Agostini Fernandes Prof Dr Abimar Oliveira de Moraes Profa Dra Maria de
Lourdes Correcirca Lima Prof Dr Heitor Carlos Santos Utrini pelos ensinamentos e
pela ajuda
A todos os funcionaacuterios do Departamento de Teologia
Aos meus companheiros e amigos de estudos da PUC-Rio
Agrave FAECAD que me deu a primeira formaccedilatildeo teoloacutegica tornando possiacutevel o iniacutecio
de todo este trabalho
Aos amigos que de uma forma ou de outra estimularam-me e ajudaram-me de
modo especial ao grande amigo Prof Me Esdras Bentho e Prof Me Leonardo
Silveira que foram uns dos primeiros a incentivar-me a fazer o mestrado
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento
de Pessoal de Niacutevel Superior - Brasil (CAPES) - Coacutedigo de Financiamento 001
Resumo
Telles Adalberto do Carmo Gonzaga Waldecir Joatildeo o Batista o maior
entre os nascidos de mulheres Uma anaacutelise exegeacutetica de Mt 112-15 Rio
de Janeiro 2019 149 p Dissertaccedilatildeo de Mestrado ndash Departamento de
Teologia Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio de Janeiro
Esta pesquisa versa sobre ldquoo maior entre os nascidos de mulheresrdquo com base
no texto de Mt 112-15 Partindo desse princiacutepio a pesquisa aborda sobre Joatildeo o
Batista no testemunho dado por Jesus aos disciacutepulos que estavam agrave sua volta Eacute
bem verdade que a vida de Joatildeo o Batista eacute um enigma a ser desvendado tendo
em vista as poucas informaccedilotildees oferecidas a respeito de sua vida com exceccedilatildeo
daquelas que satildeo encontradas em textos do Novo Testamento (Evangelhos e Atos
dos Apoacutestolos) e em textos extrabiacuteblicos Ao pesquisar essa periacutecope encontramos
um paralelo em Lc 718-28 com suas semelhanccedilas e diferenccedilas sobre as quais
faremos menccedilatildeo aqui em nosso estudo e abordagem Nesse sentido esse trabalho
faz uma anaacutelise do texto base aqui pesquisado recorrendo ao contexto histoacuterico de
Mateus passando pela comunidade mateana onde o Evangelho foi desenvolvido e
o testemunho de Jesus foi identificado a Joatildeo o Batista Em outro momento
faremos um status quaestionis a respeito do tema ldquoJoatildeo o Batista o maior entre os
nascidos de mulheresrdquo em Mt 112-15 com as contribuiccedilotildees necessaacuterias de alguns
autores Por fim faremos uma exegese da periacutecope de Mt 112-15 seguindo os
criteacuterios do Meacutetodo Histoacuterico-Criacutetico e da Anaacutelise Retoacuterica Biacuteblica para
alcanccedilarmos o sentido proacuteprio do texto direcionando para a compreensatildeo do tema
ldquoJoatildeo o Batista o maior entre os nascidos de mulheres Uma anaacutelise exegeacutetica de
Mt 112-15rdquo
Palavras-chave
Jesus Joatildeo Batista maior e menor nascidos de mulheres Reino dos Ceacuteus
Abstract
Telles Adalberto do Carmo Gonzaga Waldecir (Advisor) John the
Baptist the greatest women born An exegetical analysis of Mt 112-15
Rio de Janeiro 2019 149 p Dissertaccedilatildeo de Mestrado ndash Departamento de
Teologia Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio de Janeiro
This research deals with ldquothe greatest among women bornrdquo based on the text
of Mt 112-15 Based on this principle the research addresses John the Baptists
testimony given by Jesus to the disciples around him It is quite true that the life of
John the Baptist is a riddle to be unraveled given the little information offered about
his life except for that found in New Testament texts (Gospels and Acts of the
Apostles) and in extrabiblical texts In researching this pericope we find a parallel
in Luke 718-28 with its similarities and differences which we will mention here
in our study and approach In this sense this work makes an analysis of the base
text researched here using the historical context of Matthew passing through the
Matean community where the Gospel was developed and the testimony of Jesus
was identified to John the Baptist In another moment we will make a status
quaestionis on the theme ldquoJohn the Baptist the greatest among the born of womenrdquo
in Mt 112-15 with the necessary contributions of some authors Finally we will
make an exegesis of the pericope of Mt 112-15 following the criteria of the
Historical-Critical Method and Biblical Rhetorical Analysis in order to reach the
proper meaning of the text directing to the understanding of the theme ldquoJohn the
Baptist the greatest among women born An exegetical analysis of Mt 112-15 rdquo
Keywords
Jesus John Baptist major and minor born of women Kingdom of Heaven
Sumaacuterio
1 INTRODUCcedilAtildeO 12
2 O EVANGELHO DE MATEUS E A COMUNIDADE MATEANA 15
21 Data autoria e destinataacuterios 15
22 Possiacutevel local da redaccedilatildeo 18
23 A comunidade mateana 19
24 A relaccedilatildeo do Evangelho de Mateus com a Igreja de Antioquia 22
25 Estrutura idioma e tiacutetulo do Evangelho de Mateus 24
26 Marcos e ldquoQrdquo como fontes de Mateus e o problema sinoacutetico 30
27 A teologia de Mateus 34
271 Cristologia 35
272 Eclesiologia 38
273 Escatologia 40
28 Propoacutesitos do Evangelho de Mateus 42
281 Samuel Perez Millos 42
282 Donald A Hagner 43
283 Warren Carter 44
284 Isidoro Mazzarolo 45
285 Carson Douglas Moo e Morris 46
286 Russell Norman Champlin 46
287 Broadus David Hale 47
288 Conclusatildeo 48
3 STATUS QUAESTIONIS 50
31 Tomaacutes de Aquino 50
32 Randolph Vincent Greenwood Tasker 53
33 Wolfgang Trilling 54
34 Josef Schmid 55
35 Jean Radermakers 56
36 Javier Pikaza 58
37 Benocircni Lemos 58
38 David Michael Stanley 60
39 Rinaldo Fabris e Giuseppe Barbaglio 61
310 Angelo Lancellotti 62
311 Juan Mateos e Fernando Camacho 63
312 Russell Norman Champlin 64
313 Edmundo Lupieri 66
314 Andreacute Chouraqui 67
315 Donald A Hagner 68
316 Fritz Rienecker 69
317 Donald Arthur Carson 70
318 William Hendriksen 71
319 Warren Carter 72
320 Ulrich Luz 73
321 Manlio Simonetti 74
322 Roberto Di Paolo 76
323 Isidoro Mazzarolo 77
324 Seneacuten Vidal 77
325 Samuel Peacuterez Millos 78
326 Massimo Grilli e Cordula Langner 80
327 Joseacute Antonio Pagola 81
328 Ariel Aacutelvarez Valdeacutes 81
329 Sandro Gallazzi 83
330 Joatildeo Leonel 84
331 Robert Charles Sproul 84
332 Franco de Carlo 86
333 Jaldemir Vitoacuterio 86
4 EXEGESE DE MT 112-15 89
41 Criacutetica literaacuteria ou da Constituiccedilatildeo do texto 89
411 Delimitaccedilatildeo do texto de Mt 112-15 89
412 Estrutura de Mt 112-15 91
42 Criacutetica da forma e gecircnero literaacuterio 97
43 Criacutetica da redaccedilatildeo 99
44 Criacutetica das tradiccedilotildees 109
45 Criacutetica textual112
46 O texto grego de Mt 112-15 traduccedilatildeo e segmentaccedilatildeo 119
47 Comentaacuterio exegeacutetico de Mt 112-15 121
471 Joatildeo envia os seus disciacutepulos (Mt 112-3) 121
472 Jesus responde aos disciacutepulos de Joatildeo Batista (Mt 114-6) 124
473 Jesus daacute testemunho de Joatildeo Batista (Mt 117-15) 128
4731 Joatildeo Batista o maior entre os nascidos de mulheres
(Mt 1111) 133
5 CONCLUSAtildeO 141
6 REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 144
Lista de tabelas
Tabela 1 - Teoria do documento uacutenico 32
Tabela 2 - Teoria das duas fontes 33
Tabela 3 - Teoria dos quatro documentos 34
Tabela 4 - Paralelismo sinteacutetico de Mt 112-3 93
Tabela 5 - Estrutura em forma de ritmo de Mt 114-6 94
Tabela 6 - Segmentaccedilatildeo de Mt 117-10 95
Tabela 7 - Segmentaccedilatildeo de Mt 1111-15 96
Tabela 8 - Paralelismo antiteacutetico em Mt 1111 96
Tabela 9 - Paralelismo sinoniacutemico em Mt 1112 97
Tabela 10 - Sinopse de Mt 112-15 e Lc 718-30 102
Tabela 11 - Paralelo entre Mt 1112-13 e Lc 1616 106
Tabela 12 - O texto grego de Mt 112-15 traduccedilatildeo e segmentaccedilatildeo 121
Tabela 13 - Bases intratextuais de Mt 1110 131
12
1 INTRODUCcedilAtildeO
Desde o iniacutecio do Evangelho de Mateus surge Joatildeo o Batista jaacute denunciando
a atitude dos fariseus e saduceus que vinham de Jerusaleacutem para serem batizados por
ele no rio Jordatildeo (Mt 31-8 Mc 14-8 Lc 31-18) Satildeo bem evidentes as narrativas
da vida emblemaacutetica de Joatildeo Batista nos sinoacuteticos no Evangelho de Joatildeo e nos Atos
dos Apoacutestolos (Mt 31 1111 142 148 1614 1713 Mc 624-25 828Lc
7202833 919 Jo 1615 At 15) Suas apariccedilotildees nos Evangelhos envolvem o seu
anuacutencio primaacuterio de arrependimento o batismo de Jesus o envio dos dois
disciacutepulos o elogio feito por Jesus a respeito de Joatildeo Batista ser o ldquomaior entre os
nascidos de mulheresrdquo a prisatildeo e morte do Batista e a comparaccedilatildeo dele com o
profeta Elias
Mesmo com esses relatos evangeacutelicos sobre Joatildeo Batista e o seu ministeacuterio
sua vida ainda eacute um enigma comparando-o com os personagens mais ilustres do
passado Os proacuteprios disciacutepulos tanto os que eram seguidores de Joatildeo quanto os
que depois passaram a ser disciacutepulos de Jesus ouviam os seus contemporacircneos
dizer que Jesus era Joatildeo Batista ressuscitado (Mt 141-3)
Pelo que percebemos nos textos biacuteblicos quanto agrave criaccedilatildeo humana todos os
outros homens depois de Adatildeo tiveram os seus nascimentos por meio da mulher
O nascimento de mulher manifesta todos os sentidos da vida humana sua forccedila e a
sua fragilidade caracterizando assim a igualdade de todos os que nascem Tanto no
livro de Joacute 141 1514 254 como na carta aos Gl 44 aparece a expressatildeo ldquonascido
de mulherrdquo Mas eacute na declaraccedilatildeo que Jesus faz a respeito de Joatildeo que se percebe
uma grandeza nesse nascimento
Esta pesquisa delimitou-se a analisar exegeticamente o sentido de Joatildeo
Batista ser ldquoo maior entre os nascidos de mulheresrdquo (Mt 112-15) jaacute que Jesus
tambeacutem eacute ldquonascido de mulherrdquo (Gl 44) tendo como nossa aacuterea de pesquisa a
teologia biacuteblica com ecircnfase no Novo Testamento partindo da periacutecope de Mt 112-
15 como referencial base da nossa pesquisa
Em primeiro lugar fazemos esta pesquisa no propoacutesito de contribuir para o
mundo acadecircmico e para o estudo cientiacutefico do Novo Testamento bem como da
realidade pastoral e eclesiaacutestica Entendemos que a pesquisa nos Evangelhos eacute
fascinante A grandeza de detalhes apresentados pelos sinoacuteticos em suas
perspectivas e teologias diferentes por si soacute cria em noacutes uma curiosidade para
13
entender as intenccedilotildees e os sentidos subjacentes nestes textos biacuteblicos e mais
especialmente a partir da temaacutetica expressa nas frases ldquoentre os nascidos de
mulheresrdquo e ldquomaior e menor no reino dos ceacuteusrdquo (Mt 1111)
Em segundo lugar o texto de Mt 112-15 nos oferece diversos elementos de
investigaccedilatildeo Nesse sentido realizamos a pesquisa com a finalidade de contribuir
para um bom desenvolvimento do estudo biacuteblico-teoloacutegico-pastoral e para o
crescimento espiritual dos fieacuteis
Em terceiro lugar somos motivados a trabalhar academicamente nessa
temaacutetica por questotildees levantadas a respeito do Evangelho de Mateus e por ter sido
um dos livros do Novo Testamento mais pesquisados nos seacuteculos passados e nos
dias hodiernos Sua estrutura idioma e teologia nos impulsionam a fazer tal
desdobramento natildeo somente de modo exegeacutetico mas tambeacutem de forma biacuteblico-
teoloacutegico-pastoral a fim de ajudar na caminhada de nossas igrejas
Devido agrave complexidade do assunto eacute imprescindiacutevel entender o Evangelho
de Mateus e seu contexto histoacuterico para uma melhor compreensatildeo da temaacutetica
analisar as pesquisas jaacute realizadas a respeito do tema desenvolver a exegese de Mt
112-15 subsidiado pelo Meacutetodo Histoacuterico-Criacutetico e pela Anaacutelise Retoacuterica Biacuteblica
O presente tema foi escolhido como uma investigaccedilatildeo para apontar quais as
principais dificuldades na compreensatildeo da expressatildeo ldquoo maior entre nascidos de
mulheresrdquo Acreditamos que o assunto em questatildeo tem uma grande relevacircncia para
a pesquisa acadecircmica Cremos que examinar esta periacutecope do ponto de vista
proposto nos ajudaraacute a melhor entender em relaccedilatildeo agrave afirmaccedilatildeo de Cristo sobre
Joatildeo ser ldquoo maior entre os nascidos de mulheresrdquo e em relaccedilatildeo ao ldquomenor no Reino
do Ceacuteus ser maior do que elerdquo (Mt 1111)
A temaacutetica aqui indicada se reveste de um importante alcance exegeacutetico-
biacuteblico-teoloacutegico-pastoral por demonstrar um aspecto que possibilita esclarecer o
objeto da pesquisa Uma outra caracteriacutestica intriacutenseca desse tema eacute a sua relaccedilatildeo
com o paralelo de Lc 718-28 que descreve com algumas semelhanccedilas e
dessemelhanccedilas de palavras e frases o relato do testemunho de Jesus a respeito de
Joatildeo Batista proposto pelo texto base desta pesquisa Poreacutem Lc 718-28 natildeo seraacute
o objeto de estudo de nossa pesquisa
Desta forma pesquisar a periacutecope de Mt 112-15 nos permite ver a beleza que
existe dentro desse livro e a importacircncia que ele tinha na Igreja Primitiva Nos dias
atuais eacute perceptiacutevel o significado e a estima deste escrito para a Igreja A periacutecope
14
de Mt 112-15 faz parte do conjunto de textos do referido livro sendo uma obra-
prima inspirada por Deus e utilizada por uma comunidade de fieacuteis que a recebeu
como um livro de ensinamento e discipulado
Quanto agrave metodologia optou-se pela pesquisa bibliograacutefica anaacutelise textual
a sintaxe da liacutengua grega e os recursos da criacutetica histoacuterica Faremos o uso do Meacutetodo
Histoacuterico-Criacutetico e da Anaacutelise Retoacuterica cocircnscios de seus limites principalmente no
Evangelho de Mateus por este estar carregado de uma rica e frutiacutefera teologia
Desta metodologia usaremos os fundamentais passos exegeacuteticos estabelecidos pela
pesquisa A presente investigaccedilatildeo seraacute desenvolvida com base nos exames do texto
biacuteblico a partir do Novo Testamento Grego de Nestle-Aland 28a Ediccedilatildeo
A presente pesquisa em seu conteuacutedo estaacute distribuiacuteda em trecircs capiacutetulos Cada
capiacutetulo tem o objetivo de demonstrar a importacircncia do tema escolhido Sendo
assim no primeiro capiacutetulo trataremos de questotildees introdutoacuterias ao Evangelho de
Mateus percorrendo pelos trajetos histoacutericos sociais e poliacuteticos em que a
comunidade mateana estava inserida Em seguida discorreremos sobre a autoria
dataccedilatildeo local da escrita autenticidade possiacutevel local da redaccedilatildeo destinataacuterios
propoacutesitos estrutura idioma as fontes do problema sinoacutetico estilo literaacuterio e a
teologia de Mateus
No segundo capiacutetulo faremos um status quaestionis a respeito do tema ldquoJoatildeo
o Batista o maior entre os nascidos de mulheresrdquo em Mt 112-15 com as
contribuiccedilotildees de autores de eacutepocas correntes e de liacutenguas diferentes Neste capiacutetulo
atentaremos ao que se refere ao v 11 de nossa periacutecope e natildeo ao comentaacuterio como
um todo visto ser nele o foco de nossa pesquisa a partir da expressatildeo ldquoo maior
entre os nascidos de mulheresrdquo
No terceiro capiacutetulo faremos a exegese de Mt 112-15 utilizando as etapas
do Meacutetodo Histoacuterico-Criacutetico e da Anaacutelise Retoacuterica Biacuteblica para que haja uma
melhor compreensatildeo exegeacutetica do tema As seccedilotildees deste capiacutetulo estaratildeo divididas
pelos seguintes toacutepicos a criacutetica literaacuteria ou da constituiccedilatildeo do texto a criacutetica da
forma a criacutetica do gecircnero literaacuterio a criacutetica da redaccedilatildeo a criacutetica das tradiccedilotildees o
texto e sua traduccedilatildeo e o comentaacuterio exegeacutetico-biacuteblico-teoloacutegico-pastoral
Partindo desses pressupostos surge o interesse em pesquisar o tema proposto
a partir do valioso Evangelho de Mateus a saber ldquoJoatildeo o Batista o maior entre os
nascidos de mulheresrdquo que encontramos na periacutecope de Mt 112-15 constituindo
os objetos formal e material deste trabalho
15
2 O EVANGELHO DE MATEUS E A COMUNIDADE MATEANA
Satildeo fascinantes as pesquisas em torno dos textos canocircnicos
neotestamentaacuterios1 No conjunto dos quatro primeiros livros do Novo Testamento
o Evangelho de Mateus ocupa o primeiro lugar sendo o livro2 base para o tema
dessa pesquisa Sabe-se que os quatro Evangelhos natildeo satildeo uma biografia da pessoa
de Jesus mas sim o testemunho das comunidades dos fieacuteis que as redigiram no
periacuteodo do primeiro seacuteculo Tambeacutem eram a sua mensagem a respeito de Jesus sua
vida ensinamentos e milagres Desta forma o Evangelho de Mateus eacute um
testemunho das vivecircncias religiosas da comunidade e de suas tradiccedilotildees cristatildes
firmadas em Jesus Cristo
Neste capiacutetulo buscamos apresentar as partes que compotildeem as questotildees
introdutoacuterias do Evangelho de Mateus Na seccedilatildeo 21 analisamos dados como
dataccedilatildeo autoria e destinataacuterios do livro procurando considerar as mais importantes
opiniotildees sobre o assunto Na seccedilatildeo 22 descrevemos a possiacutevel localidade onde foi
escrito o presente Evangelho Na seccedilatildeo 23 analisamos o contexto da comunidade
mateana em seus aspectos mais importantes para o desenvolvimento do tema Na
seccedilatildeo 24 apresentamos a relaccedilatildeo do evangelho de Mateus com a Igreja de
Antioquia e suas contribuiccedilotildees para essa comunidade Na seccedilatildeo 25 pesquisamos
sobre a estrutura o idioma e o tiacutetulo do Evangelho de Mateus Na seccedilatildeo 26
analisamos as fontes usadas pelo evangelista em seu escrito Na seccedilatildeo 27
trabalhamos os contornos da teologia Mateana sintetizando a cristologia a
eclesiologia e a escatologia E por fim na seccedilatildeo 28 abordamos os propoacutesitos do
Evangelho de Mateus
21 Data autoria e destinataacuterios
Sobre a dataccedilatildeo e a autoria do Evangelho de Mateus encontramos diversas
opiniotildees entre autores e pesquisadores do Novo Testamento3 Eacute bem verdade que
1 GONZAGA W O Corpus Paulinum no Cacircnon do Novo Testamento Atualidade Teoloacutegica Rio
de Janeiro v 21 n 55 p 24 janabr 2017 GONZAGA W As Cartas Catoacutelicas no Cacircnon do
Novo Testamento Perspectiva Teoloacutegica Belo Horizonte v 49 n 2 p 422 maiago 2017
GONZAGA W Compecircndio do Cacircnon biacuteblico p 19 2 O termo ldquolivrordquo aqui usado e em todo o conteuacutedo deste projeto com letra maiuacutescula e minuacutescula
estaacute sendo usado para se referir ao Evangelho de Mateus 3 HENDRIKSEN W Mateus Comentaacuterio do Novo Testamento p 137
16
eles partem sempre do princiacutepio das testemunhas mais antigas para afirmar a data e
a autoria do Evangelho de Mateus4 poreacutem satildeo nas pesquisas recentes que
comeccedilam a surgir as diferenccedilas entre opiniotildees sobre a data e autoria desse livro A
esse respeito Monasterio afirma que
Podemos encontrar um teacutermino a quo O judaiacutesmo com o qual Mateus polemiza
reflete as caracteriacutesticas unitaacuterias e legalistas posteriores ao ano 70 o texto de 227
natildeo pode ser explicado senatildeo como referecircncia agrave destruiccedilatildeo de Jerusaleacutem Portanto
eacute preciso datar o evangelho como a maioria dos autores afirma pouco depois do ano
805
Haacute autores que datam o escrito de Mateus nos anos 80 Contudo existem
aqueles que defendem a dataccedilatildeo desse Escrito nos anos 606 Se realmente o
Evangelho de Mateus foi escrito nos anos proacuteximos a 80 entatildeo Mateus natildeo poderia
ser o autor7 Carson Moo e Morris afirmam que as citaccedilotildees de Inaacutecio a respeito de
Mateus sustentam uma delimitaccedilatildeo para a data do desenvolvimento do escrito
mateano entre 70 a 80 dC e que outros defendem uma aproximaccedilatildeo mais tardia
considerando o periacuteodo entre 80 e 100 dC8
Jaacute para Boring no Evangelho natildeo existe uma correspondecircncia cronoloacutegica
que demonstre o momento em que Mateus foi compilado Ele acredita que a data
natildeo pode ser identificada com total seguranccedila9 Por conseguinte Boring oferece
alguns indiacutecios de um tempo geral como
(1) De acordo com a Hipoacutetese dos dois documentos 2DH Mateus deve ter sido
escrito apoacutes de Q e Marcos Haacute boas razotildees para datar Marcos alguns anos antes de
70 dC de modo que Mateus deve ser posterior o suficiente para que Marcos se
tornasse a tradiccedilatildeo sagrada de uma comunidade (2) A revolta de 66-70 d C e a
destruiccedilatildeo de Jerusaleacutem estatildeo quase seguramente refletidas em 227 cf tambeacutem
2141 2338 No entanto Mateus natildeo parece ficar impressionado pela cataacutestrofe que
parece estar a certa distacircncia no espaccedilo e no tempo (3) Mateus parece estar
comprometido com o desenvolvimento do judaiacutesmo formativo na geraccedilatildeo poacutes 70
(4) Mateus e natildeo apenas a tradiccedilatildeo mateana parece ter sido utilizado tanto pela
Didaqueacute quanto por Inaacutecio A Didaqueacute provavelmente vem do periacuteodo em torno de
100 dC Inaacutecio escreve por volta de 110 dC assim parece que Mateus foi
4 MILLOS S P Mateo p 44-46 GRILLI M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo
p 7 HAGNER D A Matthew 1-13 p 43-46 ALBRIGHT W F MANN C S Matthew
Introduction translation and notes p 24 HENDRIKSEN W Mateus Comentaacuterio do Novo
Testamento p 142-144 5 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 257 6 MILLOS S P Mateo p 52 GRILLI M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo
p 12 HAGNER D A Matthew 1-13 p 73-75 CARSON D A O comentaacuterio de Mateus p 39
HAGNER D A Matthew 1-13 p 44 7 CARTER W O Evangelho de Satildeo Mateus p 35-36 ALBRIGHT W F MANN C S Matthew
p 167 8 CARSON D A MOO D J MORRIS L Introduccedilatildeo ao Novo Testamento p 85 CARMONA
A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 257 9 BORING M E Introduccedilatildeo ao Novo Testamento p 969 Aqui Boring apresenta quatro indiacutecios
de tempo para a dataccedilatildeo do presente Evangelho
17
composto no periacuteodo entre 80 e 100 para o qual 90 pode servir como uma boa figura
simboacutelica10
A tradiccedilatildeo mais antiga para defender a autoria do livro a Mateus busca a sua
base nos escritos de Papias que atribui a composiccedilatildeo do Evangelho ao disciacutepulo de
Jesus chamado Mateus11 Outros membros da tradiccedilatildeo antiga tambeacutem conferem que
o escritor eacute Mateus12 Para alguns pesquisadores do NT o autor do livro em questatildeo
possivelmente era um judeu-cristatildeo13 e haacute ainda outros que acreditam ser ele um
pagatildeo-cristatildeo anocircnimo14
O escrito mateano sempre foi considerado o livro da Igreja o mais usado por
ela para a catequese dos novos crentes e para o discipulado daqueles que jaacute viviam
em torno de Jesus e que eram mais proacuteximos dele do que as multidotildees que o
cercavam Nesse caso eacute importante ver aqui quem satildeo os primeiros destinataacuterios
desse Evangelho A esse respeito Mazzarolo afirma que
Os destinataacuterios primeiros da obra de Mateus seriam os cristatildeos da Palestina ou de
uma cidade onde a presenccedila de judeus fosse significativa que vivia em tensatildeo Os
que aderiam ao cristianismo eram hostilizados pelos que o rejeitavam e as
perseguiccedilotildees eram constantes A comunidade de Mateus conhece muito bem as
tradiccedilotildees dos antepassados sabedora dos preceitos costumes e normas dos judeus
e encontra muita oposiccedilatildeo e dificuldades para mudar suas convicccedilotildees Essa
comunidade pode ser a Antioquia da Siacuteria ou outra comunidade da cidade costeira
mas sempre proacutexima da Palestina15
O que seria possiacutevel constatar eacute que o livro buscava auxiliar os crentes de sua
proacutepria regiatildeo Caso seja aceito que Mateus tenha trabalhado em grandes
metroacutepoles onde havia uma grande comunidade judaica ou na Palestina ou na
Siacuteria jaacute que o Evangelho tem grandes caracteriacutesticas de traccedilos judaicos eacute provaacutevel
que o autor a princiacutepio natildeo estivesse falando a uma comunidade cristatilde gentiacutelica16
10 BORING M E Introduccedilatildeo ao Novo Testamento p 969 11 EUSEacuteBIO DE CESAREIA Histoacuteria Eclesiaacutestica p 119 GRILLI M LANGNER C
Comentario al Evangelio de Mateo p7 HAGNER D A Matthew 1-13 p 44 12 EUSEacuteBIO DE CESAREIA Histoacuteria Eclesiaacutestica p 119 Apud CARMONA A R
MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 258-259 O autor cita os
nomes de Oriacutegenes Irineu e Papias 13 BARBAGLIO G FABRIS Os Evangelhos (I) p 40 14 BORING M E Introduccedilatildeo ao Novo Testamento pp 965-966 Para esse autor o Evangelho eacute
atribuiacutedo a Mateus para assegurar o testemunho apostoacutelico Ele tambeacutem apresenta as provas que os
criacuteticos fazem contra a autoria apostoacutelica Boring supotildee que o autor era anocircnimo e de origem judaica
judeu da diaacutespora com uma estreita intimidade cultural helenista de liacutengua grega e com capacidade
de ler a Septuaginta Tambeacutem tinha condiccedilotildees de trabalhar com o hebraico e tinha tambeacutem um bom
conhecimento das tradiccedilotildees e dos meacutetodos da sinagoga 15 MAZZAROLO I Evangelho de Mateus p 5 16 CARSON D A MOO D J MORRIS L Introduccedilatildeo ao Novo Testamento p 90 MILLOS S
P Mateo p 52-53
18
Champlin baseia-se no testemunho antigo para fazer suas afirmaccedilotildees
concernentes aos destinataacuterios do Evangelho de Mateus estarem em uma regiatildeo da
Aacutesia Menor e da Siacuteria sabendo que os indiacutecios mais propiacutecios apontam para esses
lugares Nesse sentido ele sustenta que
O testemunho antigo eacute de que o evangelho de Mateus visava sobretudo aos judeus
receacutem-convertidos como uma espeacutecie de manual de instruccedilatildeo na feacute Assim datildeo a
entender Irineu e outros Entretanto outros supotildeem que seu propoacutesito se assemelha
ao do Apocalipse isto eacute consolar e fortalecer os maacutertires em potencial assegurando-
lhes o caraacuteter genuiacuteno de Jesus como Messias Nesse caso deve estar em pauta uma
audiecircncia bem mais lata Se o evangelho de Mateus foi escrito em algum lugar da
Siacuteria os cristatildeos daquele paiacutes podem ter sido os destinataacuterios originais dos livros
Haacute poreacutem quem observe que esse eacute o mais universal dos evangelhos pelo que a
nenhuma localidade particular foi ele endereccedilado O evangelho de Mateus tem sido
chamado de ldquomanual da vida de Cristo e da teologia biacuteblicardquo E isso aponta para uma
larga audiecircncia Se tivermos de supor alguma audiecircncia especiacutefica entatildeo nada mais
convincente pode ser dito aleacutem do que esse livro visava aos cristatildeos judeus e gentios
da Aacutesia Menor e da Siacuteria17
Mesmo que haja alguma diferenccedila nas opiniotildees dos autores as informaccedilotildees
e afirmaccedilotildees corroboram na direccedilatildeo dos destinataacuterios serem cristatildeos-palestinenses
ou cristatildeos-gentios mas que viviam proacuteximo dos territoacuterios da Palestina18 Tais
consideraccedilotildees direcionam a uma investigaccedilatildeo do possiacutevel local onde o evangelista
estava para desenvolver o seu evangelho
22 Possiacutevel local da redaccedilatildeo
Ao observar as questotildees importantes do Evangelho de Mateus percebe-se que
natildeo haacute uma ideia unacircnime para alguns toacutepicos como o local da redaccedilatildeo deste
Evangelho Dentre os autores e pesquisadores do NT a grande maioria defende a
cidade de Antioquia como o local de sua escrita Merrill afirma que Antioquia pode
ser o lugar mesmo do desenvolvimento do Evangelho de Mateus19 Os escritos
primitivos principalmente os de Papias e Inaacutecio concordam com isso As Igrejas
Primitivas judaicas na Siacuteria tinham esse livro como o favorito e para Merrill natildeo haacute
outro lugar que reuacutena mais condiccedilotildees para tal realizaccedilatildeo20 Em seu comentaacuterio
17 CHAMPLIN R N Mateus ndash Marcos p 258 18 MILLOS S P Mateo p 53 HAGNER D A Matthew 1-13 p 64 19 TENNEY M C O Novo Testamento sua Origem e Anaacutelise p 162 HAGNER D A Matthew
1-13 p 75 ALBRIGHT W F MANN C S Matthew p 184 20 TENNEY M C O Novo Testamento sua Origem e Anaacutelise p 163 Nesse comentaacuterio Benedict
T Viviano O P defende a ideia de que o Evangelho de Mateus tenha sido escrito em Cesareia
Mariacutetima
19
Champlin tambeacutem afirma que o local do escrito de Mateus eacute a cidade de Antioquia
da Siacuteria21 Os autores de tradiccedilatildeo antiga acreditavam ser o Evangelho desenvolvido
na Palestina22 Outros ainda mencionam a Feniacutecia e tambeacutem Tiro como local
provaacutevel do desenvolvimento do Evangelho23 Haacute tambeacutem autores que
consideravam Alexandria no Egito como lugar da redaccedilatildeo sendo ela de linha
gentiacutelica24 Por fim haacute os que defendem a cidade de Cesareia e ateacute propostas de
Pella como cidade onde teria sido redigido este texto25
Essa seccedilatildeo permitiu ver a importacircncia de se identificar o local onde foi
desenvolvido esse Evangelho Contudo tambeacutem se entende a dificuldade de chegar-
se a um denominador comum mas acreditamos que a cidade de Antioquia seja a
mais provaacutevel para esse empreendimento26 Assim sendo descrevemos a seguir a
respeito da comunidade mateana e as opiniotildees dos estudiosos a esse respeito
23 A comunidade mateana
A comunidade mateana era uma comunidade bem diversificada composta
por uma grande parcela basicamente de judeus-cristatildeos um grupo de judeus-
cristatildeos helenistas e tambeacutem outros cristatildeos que provinham do mundo pagatildeo27
Segundo Boring essa comunidade era messiacircnica um povo escatoloacutegico de Deus
com traccedilos diferenciados daqueles que natildeo aceitaram a Jesus de Nazareacute como o
Messias mesmo judeus ou gentios28 Vielhauer nos oferece uma afirmaccedilatildeo sucinta
a respeito dessa comunidade mista
A comunidade da qual e na qual surgiu o Evangelho de Mateus daacute a impressatildeo de
ser uma comunidade mista na qual a parcela cristatilde-judaica ainda natildeo se separou
21 CHAMPLIN R N Mateus ndash Marcos p 258 Champlin inicia dizendo que possivelmente natildeo se
deve afirmar com precisatildeo o lugar onde se desenvolveu o Livro porque ele tem um bom conteuacutedo
de material judaico e por isso alguns acreditavam ser o Livro oriundo da Palestina GRILLI M
LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo pp 11-12 22 CARTER W O Evangelho de Satildeo Mateus p 34 23 GRILLI M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p 11-12 HAGNER D A
Matthew 1-13 p 75 24 GRILLI M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p 11-12 HAGNER D A
Matthew 1-13 p 75 25 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 258
ALBRIGHT W F MANN C S Matthew p 167 26 BORING M E Introduccedilatildeo ao Novo Testamento p 969 27 GRILLI M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p 9 HAGNER D A Matthew
1-13 p 71 BARBAGLIO G FABRIS R Os Evangelhos (I) p 40 Barbaglio afirma que na
comunidade mateana os que eram cristatildeos-helenistas poderiam tambeacutem ser denominados como
anomistas eles eram a favor da total liberdade da Lei de Moises 28 BORING M E Introduccedilatildeo ao Novo Testamento p 975
20
totalmente da sinagoga e se encontra em veemente confronto com o judaiacutesmo Com
efeito parece ser assim como KILPATRICK tentou demonstrar que esse judaiacutesmo
jaacute natildeo eacute mais o judaiacutesmo multivariado que se nos depara em Marcos e sim o
judaiacutesmo da Mishnaacute em fase de consolidaccedilatildeo Vaacuterias manifestaccedilotildees indicam que
uma parte dessa comunidade talvez a cristatilde-gentiacutelica pensava de forma mais liberal
do que a outra com relaccedilatildeo agrave Lei Dificilmente poreacutem se poderaacute falar de um
antinomismo em face de Mt 517-20 75ss 2410ss29
Essa comunidade cristatilde estava em confronto com o judaiacutesmo formativo
farisaico30 As questotildees entre esses dois grupos se referiam a qual deles seria o
verdadeiramente povo de Deus que interpretava perfeitamente as Santas Escrituras
e que detinha o real conhecimento da Lei31 Overman faz as seguintes consideraccedilotildees
sobre essa comunidade
No ambiente fluido e fragmentado do judaiacutesmo poacutes 70 tanto o judaiacutesmo formativo
como a comunidade de Mateus lutavam para estabelecer ordenar e definir suas
crenccedilas e sua vida Ambos eram influenciados pelo cenaacuterio mais amplo da natureza
sectaacuteria do judaiacutesmo e de fato ambos adotaram certos padrotildees e procedimentos
caracteriacutesticos desse periacuteodo transformando-os para seu proacuteprio uso no periacuteodo poacutes-
70 Os desenvolvimentos sociais e institucionais da comunidade de Mateus que
vamos examinar agora servem como evidecircncias do processo de definiccedilatildeo e
desenvolvimento nessa comunidade depois de 70 Como o judaiacutesmo formativo a
comunidade de Mateus estava lutando para sobreviver e encontrar seu caminho no
que foi sem duacutevida um periacuteodo incerto e instaacutevel na Palestina depois da construccedilatildeo
do Templo de Jerusaleacutem Esses desenvolvimentos auxiliaram a assegurar a
perpetuaccedilatildeo da comunidade e como todos os papeacuteis e instituiccedilotildees ajudaram a guiar
os membros da comunidade em sua vida e seu comportamento em relaccedilatildeo aos outros
membros e aos de fora do grupo32
Possivelmente a comunidade de Mateus jaacute se considerava divorciada da
sinagoga tendo em vista que alguns textos de seu Evangelho tratam sobre ela como
algo muito comum Mateus tenta tradicionalizar as crenccedilas de sua comunidade em
relaccedilatildeo agrave vida e ministeacuterio de Jesus33 Eacute oacutebvio que nem todos da comunidade se
desligaram da sinagoga e provavelmente possa ser esse o motivo das divergecircncias
entre os grupos Mas os problemas natildeo paravam por aiacute pois tambeacutem havia as
questotildees internas da comunidade que talvez fossem produzidas pela diversidade de
membros que compunham esse grupo de fieacuteis Sobre isso nos afirma Monasterio
Haacute deficiecircncias notaacuteveis na coerecircncia vital dos cristatildeos o que explica a insistecircncia
na exortaccedilatildeo a ldquoproduzir bons frutosrdquo Tambeacutem se observa a ldquopouca feacuterdquo quando
29 VIELHAUER P Histoacuteria da Literatura Cristatilde Primitiva p 395 Citado pelo autor aqui
KILPATRICK G D Era teoacutelogo e sacerdote anglicano e sua obra usada foi The origin of the
Gospel according to St Matthew 30 BORING M E Introduccedilatildeo ao Novo Testamento p 974-976 HAGNER D A Matthew 1-13
p 71-73 31 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 252 32 OVERMAN J A O Evangelho de Mateus e o Judaiacutesmo Formativo p 79 33 OVERMAN J A O Evangelho de Mateus e o Judaiacutesmo Formativo p 80 GRILLI M
LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p 10
21
chegam momentos difiacuteceis Haacute falsos profetas que propagam doutrinas errocircneas
(715-23 241124) escandalizam e desencaminham os membros fracos da
comunidade (1861012-14) Provavelmente trata-se de doutrinas liberais sobre a
Lei e fundadas num desvanecimento carismaacutetico (721-23) 34
A comunidade mateana estava localizada em um grande centro urbano35
tendo caracteriacutestica organizacional com possiacuteveis ministeacuterios e aplicaccedilotildees
disciplinares36 Pelo fato de o evangelista fazer uso das Escrituras e com a
demonstraccedilatildeo do conhecimento dos costumes judaicos provavelmente pode
inferir-se uma escola de escribas cristatildeos nessa comunidade Boring no que diz
respeito ao status social de alguns membros dessa comunidade afirma que
O fato de Mateus parecer representar uma comunidade urbana eacute ilustrado pelas
evidecircncias supracitadas para Antioquia Dados adicionais sugerem uma comunidade
que tinha pelo menos alguns membros relativamente ricos As bem-aventuranccedilas
ldquoQrdquo para os ldquopobresrdquo e ldquoos que tecircm fomerdquo tornam-se em Mateus ldquopobres de
espiacuteritordquo e ldquoos que tem fome e sede de justiccedilardquo (Mt 53 6 Lc 620-21) As
referecircncias a moedas de cobre de baixo valor satildeo substituiacutedas por referecircncias ao ouro
e a moedas de maior valor (Mt 68 Mt 109 Lc 1911-27 Mt 2514-30) e satildeo
contadas histoacuterias que contecircm valores financeiros muito altos (eg 18 23-35) e
jantares luxuosos (221-14) Mateus especificamente acrescenta a Marcos que Joseacute
de Arimateia que sepultou Jesus era tanto um disciacutepulo quanto um homem rico
(2757) 37
Um outro dado importante desta comunidade seria a possibilidade de uma
escola de escribas cristatildeos Provavelmente o Evangelho de Mateus possa ter sido
desenvolvido no meio desse grupo e o seu autor tenha caracteriacutesticas judaico-
cristatildes com uma excelente capacidade de escriba38
Satildeo evidentes as citaccedilotildees do Antigo Testamento no Evangelho de Mateus
extraiacutedas sobretudo da versatildeo da LXX Vendo isto Overman percebe que de
alguma maneira a exemplo da comunidade de Qumran Mateus estava empenhado
em se apoiar nas Escrituras a fim de enfatizar as crenccedilas e praacuteticas de sua
34 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 252 35 CARTER W O Evangelho de Satildeo Mateus pp 48-50 O autor aqui afirma que ldquoO mundo
acadecircmico recente afirma que a audiecircncia de Mateus provavelmente natildeo consistia
predominantemente de lsquomarginais involuntaacuteriosrsquo do niacutevel social mais baixo mas de uma amostra da
sociedade urbanardquo Carter cita autores e pesquisadores que ratificam a sua teoria acrescentando que
por causa da forma do escrito mateano sugere assim uma comunidade que tambeacutem tinha uma
educaccedilatildeo e boa erudiccedilatildeo GRILLI M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p 9 36 W CARTER O Evangelho de Satildeo Mateus p 50-54 Carter afirma que a comunidade Mateana
possivelmente era numericamente pequena ou seja minoritaacuteria Ele segue dizendo que eacute improvaacutevel
afirmar quantos disciacutepulos formavam essa comunidade mas ele propotildee conjecturas para apresentar
suas estimativas 37 BORING M E Introduccedilatildeo ao Novo Testamento p 979 38 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 252
GRILLI M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p 11 HAGNER D A Matthew
1-13 p 75
22
comunidade opondo-se ao grupo com o qual estava em divergecircncia O evangelista
se firmava nas profecias onde encontrava base para ser usado como propoacutesito de
confirmar a autoridade e a posiccedilatildeo de Jesus e ao mesmo tempo garantir a feacute e a
vida de sua comunidade jaacute que o judaiacutesmo formativo fazia as mesmas
reinvindicaccedilotildees quanto agraves promessas e tradiccedilotildees39
Quanto agraves questotildees sobre a comunidade mateana onde o Evangelho foi
desenvolvido fica evidente a importacircncia de compreender o processo constitutivo
desse grupo ou grupos de fieacuteis O proacuteximo passo eacute relacionar o escrito evangeacutelico
mateano com a comunidade e a Igreja de Antioquia onde tambeacutem entende-se ser o
lugar dessa comunidade
24 A relaccedilatildeo do Evangelho de Mateus com a Igreja de Antioquia40
Como jaacute foi posto acima a comunidade mateana eacute um grupo diversificado de
pessoas em suas origens que agora fazem parte do povo de Deus Dentre esses
grupos de cristatildeos diversos estaacute a Igreja de Antioquia41 onde possivelmente pode
ter surgido o Evangelho de Mateus42 Essa cidade era a principal proviacutencia do
governo romano na Siacuteria com uma caracteriacutestica bem miscigenada O grego era o
idioma oficial e a cultura helecircnica era bem forte no meio desse povo misto Havia
ali tambeacutem uma comunidade judaica com uma forte influecircncia do helenismo43
A Igreja de Antioquia foi constituiacuteda segundo os propoacutesitos de Deus e a
perseguiccedilatildeo contra os cristatildeos judeus helenistas de Jerusaleacutem que migraram para
essa cidade contribuiu para o desenvolvimento da Igreja ali localizada44 Em
Antioquia um fato notoacuterio foi o reconhecimento que os seguidores de Jesus tiveram
39 OVERMAN J A O Evangelho de Mateus e o Judaiacutesmo Formativo p 83 MILLOS S P
Mateo p 47-48 40 CARTER W Evangelho de Satildeo Mateus p 36-47 Este autor entende que a Igreja de Mateus
estaacute localizada em Antioquia da Siacuteria sendo ela a terceira maior cidade do impeacuterio romano Ele
ainda afirma que a estimativa populacional dessa cidade naquele periacuteodo era de 150000 a 200000
habitantes Na base estrutural social a cidade tinha os mesmos aspectos das proviacutencias do impeacuterio
sendo constituiacuteda por dois grupos baacutesicos a pequena elite que controlava a cidade e a natildeo-elite que
era composta por pobres e poucos ricos Sua organizaccedilatildeo e espaccedilo fiacutesico era de uma verticalidade
social As diferenccedilas sociais eram grandes pois enquanto os da elite viviam em grandes casas e com
mordomias os outros viviam em pequenas casas ou apartamentos menores em corticcedilos de vaacuterios
andares 41 BORING M E Introduccedilatildeo ao Novo Testamento p 969 42 MAZZAROLO I Evangelho de Mateus p 5 43 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 253 44 CARTER W Evangelho de Satildeo Mateus p 50-51
23
pelos habitantes em serem chamados pela primeira vez de cristatildeos (At 1126)
Aleacutem disso os gentios foram incorporados como cristatildeos nessa comunidade de
fieacuteis livres das exigecircncias das tradiccedilotildees judaicas Dois polos de grande importacircncia
para o surgimento do cristianismo primitivo foram as cidades de Jerusaleacutem e
Antioquia que mesmo seguindo o uacutenico Senhor natildeo deixavam de ter suas
distinccedilotildees De um lado temos a comunidade de Jerusaleacutem composta por judeus-
cristatildeos intrinsicamente ligados agraves tradiccedilotildees da Lei e de outro a comunidade de
Antioquia composta por judeu-cristatildeos helenistas e cristatildeos provenientes do
paganismo com suas caracteriacutesticas proacuteprias45
Havia uma intriacutenseca relaccedilatildeo entre o Evangelho de Mateus e a Igreja de
Antioquia pois acredita-se que foi ali que se desenvolveu este Evangelho46
Monasterio nos oferece possibilidades entre as particularidades literaacuterias e
teoloacutegicas do livro de Mateus e a situaccedilatildeo vital da Igreja em Antioquia Para ele
esse evangelista eacute o uacutenico que menciona a possiacutevel visita ativa de Jesus agrave Siacuteria (Mt
424) sendo um escrito em grego era tambeacutem o idioma dos centros urbanos
mesmo que no interior houvesse a possibilidade de existir o idioma hebraico ou
aramaico47 As tradiccedilotildees gregas afloravam na cidade de Antioquia e isto seria uma
boa caracteriacutestica para o surgimento desse Evangelho nesta cidade48 Outro dado
importante eacute o de Inaacutecio de Antioquia que foi o primeiro a usar o Evangelho de
Mateus em seus escritos (Esmirna 11 Policarpo 22 Efeacutesios 192-3)49 As
caracteriacutesticas da Igreja mateana satildeo idecircnticas agraves que encontramos em Antioquia
no sentido de ministeacuterios Laacute havia profetas e mestres
Outro aspecto importante para a confirmaccedilatildeo da elaboraccedilatildeo do Evangelho de
Mateus na Igreja de Antioquia foi o embate entre judeus de estirpe farisaica que o
evangelista conheceu como sendo depois da deacutecada de 70 dC50 e os cristatildeos que
se desligavam da sinagoga Tais disputas foram bem acaloradas nesta cidade a
ponto de influenciarem os seacuteculos posteriores Assim sendo eacute imperioso afirmar
que o Evangelho de Mateus e a histoacuteria da cidade de Antioquia se identificam
intrinsecamente
45 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 253 46 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 254 47 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos pp 254-
256 48 CARTER W Evangelho de Satildeo Mateus pp 36-50 49 Apud CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos
p 255 50 BORING M E Introduccedilatildeo ao Novo Testamento p 972
24
25 Estrutura idioma e tiacutetulo do Evangelho de Mateus
O autor do Evangelho de Mateus era um compilador fiel dos costumes
transmitidos pela Igreja Primitiva sobre a obra de Jesus e a vida da Igreja Ele
tambeacutem construiu de maneira criativa tais costumes com novas perspectivas e
novos realces Para o autor desenvolver o seu escrito ele usou ldquoduas categorias
amplas de material a narrativa e o discursordquo 51 Isto fez com que ele alcanccedilasse os
seus variados objetivos Sobre a estrutura do Evangelho de Mateus Viviano afirma
que
Se levarmos a seacuterio a combinaccedilatildeo de discurso e narrativa no evangelho e a
compreendermos como pelo menos em parte devida agrave inserccedilatildeo dos ditos de Q na
estrutura da narrativa de Marcos devemos admirar o equiliacutebrio sutil que o
evangelista alcanccedilou Mas se observarmos os cinco grandes discursos nos quais
Mateus reuniu muito material catequeacutetico como por exemplo o Sermatildeo da
Montanha (caps 5-7) o Discurso Missionaacuterio (10) o Discurso em Paraacutebolas (13) o
Discurso sobre a Comunidade (18) e os Discursos Apocaliacutepticos de Juiacutezo (23-25) e
o cuidado e o domiacutenio oacutebvios com que reuniu percebemos o centro do interesse
positivo e da criatividade de Mateus (O material apologeacutetico e polecircmico tende a ser
introduzido no material narrativo com exceccedilatildeo oacutebvia do cap 23) Certamente
cristatildeos posteriores encontraram imediatamente nos discursos as obras-primas do
evangelho52
Viviano percebe que o Evangelho estaacute estruturado ldquoem duas categorias
amplas de materialrdquo a narrativa e o discurso possibilitando assim o uso do livro
como um manual para os liacutederes da Igreja53 Desta forma o livro contribuiacutea para o
desenvolvimento da mensagem do ensino do culto da missatildeo e da apologia
Na perspectiva de Monasterio o Evangelho de Mateus tem um grande aspecto
doutrinal objetivando instruir a comunidade mateana a respeito dos diversos
aspectos do Reino dos Ceacuteus Assim o Evangelho estaacute estruturado em seccedilotildees
narrativas que satildeo idecircnticas ao Evangelho de Marcos Monasterio afirma que
[] Mateus eacute o mais esquemaacutetico e conciso busca normalmente explicitar
ensinamentos doutrinais Por exemplo comparar o longo e vivo relato do
endemoninhado de Gerasa em Mc 51-20 com o paralelo em Mateus 828-34 e a
cura da sogra de Pedro em Mc 129-31 com Mt 814-15 O interesse doutrinal revela-
51 VIVIANO B T FITZMYER J A MURPHY R E BROW R E (ed) In Novo Comentaacuterio
Biacuteblico Satildeo Jerocircnimo p 133 GRILLI M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p
12-15 HAGNER D A Matthew 1-13 p 50-51 ALBRIGHT W F MANN C S Matthew p
62-73 52 VIVIANO B T FITZMYER J A MURPHY R E BROW R E (ed) In Novo Comentaacuterio
Biacuteblico p 133 53 VIVIANO B T FITZMYER J A MURPHY R E BROW R E (ed) In Novo Comentaacuterio
Biacuteblico p 133
25
se sobretudo nos cinco grandes discursos balizam toda a obra e demonstram sua
grande capacidade de siacutentese atraveacutes da combinaccedilatildeo das fontes54
Eacute evidente que o Evangelho de Mateus tem uma estrutura concisa de modo
que os discursos natildeo satildeo partes soltas e estranhas que irrompem o relato pelo
contraacuterio completam-se nele fazendo uma conexatildeo com as seccedilotildees narrativas
garantindo o entendimento da accedilatildeo55
No contexto judaico era comum reunir os escritos em grupos de cinco ldquocinco
Livros de Moiseacutes cinco Livros dos Salmos cinco divisotildees nos Megillot e em Pirkeacute
Abotrdquo56 Mesmo havendo essa cultura no judaiacutesmo antigo natildeo seria conveniente
relacionar os cinco discursos do Evangelho de Mateus com os cinco livros do
Pentateuco pois muitos associam o meacutetodo Monasterio acredita que os discursos
nesse Evangelho tecircm cada um sua unidade proacutepria literaacuteria e temaacutetica57 Por isso
Monasterio introduz em sua pesquisa os cinco discursos de Mateus da seguinte
forma
A) Mt 51ndash7 O Sermatildeo da Montanha Jesus proclama o Reino dos Ceacuteus e suas
exigecircncias
B) Mt 935ndash1042 O discurso Missionaacuterio A ampliaccedilatildeo do Reino dos Ceacuteus
C) Mt 133b-52 O discurso em Paraacutebolas A natureza do Reino dos Ceacuteus
D) Mt 183-34 O discurso eclesioloacutegico A comunidade que aceita o Reino dos
Ceacuteus
E) Mt 231 ndash 2546 O discurso escatoloacutegico Preparados para a vinda do Reino dos
Ceacuteus58
Tenney observa a estrutura do livro de Mateus com um duplo esboccedilo
marcado com frases repetidas59 A primeira parte seria a biograacutefica com uma boa
aparecircncia da biografia de Jesus em Marcos e Lucas Isso se caracteriza nos dois
momentos da divisatildeo um destes estaacute em Mt 417 ldquoDaiacute em diante Jesus comeccedilou a
pregar arrependam-se pois o Reino dos Ceacuteus estaacute proacuteximordquo e outro texto estaacute em
Mt 1621 ldquoDesde entatildeo Jesus comeccedilou a explicar aos seus disciacutepulos que eacute
necessaacuterio ele partir para Jerusaleacutem e muitas coisas sofrer dos anciatildeos dos chefes
54 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 192
Encontramos aqui onde o autor afirma que no final de cada discurso Mateus usa uma terminologia
proacutepria dele caracterizando sua identidade e importacircncia A fraseologia ldquoe sucedeu quando terminou
Jesus estas Palavrasrdquo servia natildeo somente como conclusatildeo do discurso mas tambeacutem como uma
maneira de transiccedilatildeo agrave narraccedilatildeo D A HAGNER Matthew 1-13 p 51 55 HAGNER D A Matthew 1-13 pp 51-56 56 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 192 57 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 192
Esses discursos revelam diversas caracteriacutesticas do Reino dos Ceacuteus havendo uma progressatildeo entre
eles 58 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos pp 192-
195 59 TENNEY M C O Novo Testamento sua Origem e Anaacutelise p 163
26
dos sacerdotes e dos mestres da lei e ser morto e ao terceiro dia ser ressuscitadordquo
O primeiro texto (Mt 417) se refere ao iniacutecio do ministeacuterio da pregaccedilatildeo de Jesus
indicando o seu aparecimento puacuteblico e o segundo (Mt 1621) aponta para a sua
impopularidade que desemboca na sua paixatildeo60
A segunda parte do esboccedilo do Evangelho de Mateus eacute caracteriacutestica do
primeiro Evangelho O livro estaacute em forma de um esboccedilo toacutepico Tenney apresenta
esse esboccedilo em cinco livros com uma temaacutetica proacutepria e dominante61 A sua
proposta de divisatildeo dessa estrutura estaacute em sete partes incluindo a introduccedilatildeo do
livro e a conclusatildeo com o desfecho do relato da paixatildeo de Cristo
Eacute bem verdade que no seacutec II dC jaacute havia um reconhecimento de que o
Evangelho de Mateus tinha uma estrutura que contava com cinco livros a partir de
seus cinco discursos62 O autor do referido Evangelho teve a preocupaccedilatildeo de
estruturaacute-lo de forma loacutegica e sistemaacutetica Sendo assim para deixar isso claro nas
seccedilotildees ele usa uma espeacutecie de nota final de cada livro63 podendo ser visto nos
seguintes textos Mt 728 111 1353 191 261 ldquoΚαὶ ἐγένετο ὅτε ἐτέλεσεν ὁ
Ἰησοῦς λόγους τούτουςE aconteceu que concluindo Jesus estes ensinosrdquo
Analisando a estrutura do Evangelho de Mateus Curvillier mescla as opiniotildees
de autores e pesquisadores que contribuiacuteram para o seu desenvolvimento
explicativo Ele descreve assim o que entende a respeito dessas opiniotildees
Enquanto alguns se detecircm na organizaccedilatildeo geograacutefica semelhante a de Marcos a
maior parte dos exegetas constata a complexidade da mateacuteria Mateana Alguns
privilegiam a organizaccedilatildeo temaacutetica em torno de cinco discursos (e sua conclusatildeo
estereotipada ldquoΚαὶ ἐγένετο ὅτε ἐτέλεσεν ὁ Ἰησοῦςrdquo cf 728 111 1353 191
261) que se alternam com as partes narrativas outros sublinham o caraacuteter
estruturante da expressatildeo ldquoἈπὸ τότε ἤρξατοrdquo em 417 e 1621 passagens as quais eacute
preciso talvez juntar 2616 outros ainda querem a todo custo descobrir no
evangelho estruturas em quiasmo (jamais se pode entretanto mostrar que a figura
retoacuterica do quiasmo tenha sido aplicada na literatura antiga ao conjunto de uma
obra) Eacute sem duacutevida prudente natildeo se ater agrave prova da coerecircncia do conjunto da
60 TENNEY M C O Novo Testamento sua Origem e Anaacutelise p 163 61 TENNEY M C O Novo Testamento sua Origem e Anaacutelise pp 163-164 Os toacutepicos temaacuteticos
divididos por Merrill satildeo ldquoI as profecias realizadas do Messias o advento 11-4 11 II Os princiacutepios
do Messias anunciados O discurso inaugural convite para entrar 412-7 29 III O poder do Messias
revelado os milagres convite para seguir 8 1-111 IV O programa do Messias explanado as
paraacutebolas convite para aceitaccedilatildeo convite para entender 11 2-1353 V O propoacutesito do Messias
declarado a crise da cruz chamado para testemunhar 13 54-192 VI Os problemas do Messias
apresentados conflito com os oponentes convite ao arrependimento 19 3-26 2 VII A paixatildeo do
Messias consumada a morte e ressurreiccedilatildeo 263-28 10 VIII Epiacutelogo boato e realidade convite agrave
accedilatildeo 28 11-20rdquo 62 HALE B D Introduccedilatildeo ao Estudo do Novo Testamento p 91 63 PAROSCHI W Origem e Transmissatildeo do texto do Novo Testamento p 31 O autor aqui define
o termo ldquocolofotildeesrdquo como sendo notas acrescentadas no final dos manuscritos Ele ainda explica que
a palavra grega kolofwn significa ldquotopordquo ldquoteacuterminordquo e estaacute relacionado ao verbo kolofwnew que
significa ldquocoroarrdquo
27
narraccedilatildeo De qualquer maneira eacute impossiacutevel explicar a complexidade da narraccedilatildeo
por meio de uma estrutura por mais detalhada que seja64
Curvillier faz um plano estrutural do Evangelho de Mateus dividindo-o em
seis partes A preparaccedilatildeo da Boa-nova (11 ndash 411) O anuacutencio da Boa-nova (412
ndash 111) Feacute e incredulidade (112 ndash 1612) A comunidade dos disciacutepulos de Jesus
(1613 ndash 2034) Uacuteltimos dias em Jerusaleacutem (211 ndash 2546) e o Relato da Paixatildeo
(261 ndash 2820) 65
Champlin tambeacutem nos deixa entrever em suas consideraccedilotildees sobre a estrutura
do livro de Mateus que ldquoo evangelho de Mateus eacute toacutepico e natildeo cronoloacutegico Isso
significa que o interesse do autor era expor seu material arranjado por assuntos e
natildeo seguindo a ordem cronoloacutegica dos acontecimentosrdquo66
Com essas observaccedilotildees o autor afirma que Mateus estaacute didaticamente
dividido em cinco grandes blocos e os fatos histoacutericos estatildeo arrumados em volta
dessas seccedilotildees O material reunido pelo evangelista eacute tipicamente em cinco blocos
Para ele a cronologia natildeo eacute elemento central para o autor do livro tendo em vista
que o evangelista ajuntou declaraccedilotildees realizadas em diversos momentos e as uniu
segundo os tipos67
A respeito do idioma grego em que foi compilado o Evangelho de Mateus
deve ser igualmente objeto apreciado tendo em vista a importacircncia natildeo somente
dos testemunhos mais antigos a respeito desse assunto onde percebemos suas
valiosas contribuiccedilotildees mas tambeacutem pela crenccedila de que a anaacutelise que os estudiosos
dos dias hodiernos fizeram sobre a liacutengua usada pelo evangelista traz novas
perspectivas e ateacute evidecircncias diferentes dos testemunhos mais antigos Eacute
compreensiacutevel que cada tempo tenha contribuiacutedo para as conclusotildees desse assunto
De acordo com Albright e Mann que citam os testemunhos mais antigos tais
como Papias Irineu Euseacutebio e Jerocircnimo o Evangelho primitivo de Mateus teria
sido escrito possivelmente em hebraico68 O hebraico claacutessico pode ter se perdido
pelos judeus no exiacutelio da Babilocircnia e quando voltaram para a sua terra nativa no
periacuteodo de Esdras e Neemias retornaram falando o aramaico Mas existe uma outra
64 CUVILLIER E O Evangelho Segundo Mateus p 81-82 65 CUVILLIER E O Evangelho Segundo Mateus p 81-82 66 CHAMPLIN R N Mateus ndash Marcos p 259 67 HAGNER D A Matthew 1-13 p 44-45 R N CHAMPLIN Mateus ndash Marcos p 260-262 O
autor oferece em seu comentaacuterio o esquema em cinco discursos do evangelho com um grande
esboccedilo separando tambeacutem as seccedilotildees 68 ALBRIGHT W F MANN C S Matthew p 175 EUSEacuteBIO DE CESAREIA Histoacuteria
Eclesiaacutestica p 119 MAZZAROLO I Evangelho de Mateus p 4-5
28
linha de pesquisadores que afirmam ser o livro de tonalidade pessoal com um autor
individual Poreacutem a obra em questatildeo poderia ter passado por uma revisatildeo feita
atraveacutes de um grupo de cristatildeos Por esse motivo Mazzarolo afirma que a liacutengua e
o estilo satildeo de caraacuteter popular mas bem elaborado e trabalhado sendo o indicador
de um texto de uma comunidade cristatilde com alto niacutevel cultural e entendida no Antigo
Testamento69 Uma opiniatildeo um pouco divergente de Mazzarolo seria a de
Monasterio que afirma o seguinte sobre o idioma usado no Evangelho de Mateus
A literatura do Novo Testamento nasce na encruzilhada cultural do mundo
heleniacutestico e do mundo semiacutetico E isso se percebe de maneira especial no evangelho
de Mateus o mais judaico dos evangelhos que natildeo obstante escreve num grego
mais correto que o do Evangelho de Marcos e que contra o que se acreditava em
outros tempos natildeo eacute mera traduccedilatildeo de um original aramaico ou hebraico mas usa
de diversos procedimentos estiliacutesticos de origem semiacutetica70
As questotildees levantadas sobre o idioma do Evangelho de Mateus tem suas
raiacutezes nas afirmaccedilotildees de Papias que foram conservadas por Euseacutebio de Cesareia
em seu livro Histoacuteria Eclesiaacutestica71 Euseacutebio de Cesareia testemunha que ldquoMateus
compilou os logias na liacutengua lsquohebraicarsquo (isto eacute aramaica) e cada um os traduzia da
melhor maneira possiacutevelrdquo 72 Eacute evidente que esse testemunho serviu como alicerce
da antiga tradiccedilatildeo para aceitar o idioma hebraico (aramaico) como sendo a possiacutevel
liacutengua original de escrita desse Evangelho73
Contrapondo a tradiccedilatildeo antiga os estudiosos modernos em sua maioria
acreditam que o Evangelho aqui visto teve seu original grego E que isso seria a
dependecircncia de Mateus de um original grego de Marcos e da fonte ldquoQrdquo Champlin
afirma que alguns confundem o fato aceitando um original duplo ou seja uma obra
em aramaico e outra em grego acreditando ser isso difundido desde o princiacutepio74
Quando abrimos as paacuteginas de nossas Biacuteblias no Novo Testamento jaacute
encontramos nos primeiros livros os tiacutetulos de cada um deles Natildeo eacute diferente no
Evangelho de Mateus onde encontramos no texto grego o tiacutetulo ldquoKATA
69 MAZZAROLO I Evangelho de Mateus p5 70 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 188 71 EUSEacuteBIO DE CESAREIA Histoacuteria Eclesiaacutestica p 119 72 EUSEacuteBIO DE CESAREIA Histoacuteria Eclesiaacutestica p 119 HAGNER D A Matthew 1-13 p 44
ALBRIGHT W F MANN C S Matthew p 45-46 73 CHAMPLIN R N Mateus ndash Marcos p 258 74 CHAMPLIN R N Mateus ndash Marcos O Novo Testamento Interpretado Versiacuteculo por Versiacuteculo
p 259 O autor acredita que isso seria forccedilar a questatildeo Ele acrescenta em seu comentaacuterio que os
indiacutecios mais contundentes contra um original aramaico seria o fato de natildeo existir uma uacutenica coacutepia
desse documento que tenha chegado ateacute os dias de hoje e que por outro lado temos cerca de 1400
coacutepias gregas de Mateus Ele cita diversos autores que firmam crenccedila no original grego do
Evangelho de Mateus
29
MAQQAIONrdquo (kata Maththaionsegundo Mateus)75 A esse respeito afirma
Vincent
O Evangelho (euvaggelion) Esta expressatildeo significa originalmente um presente
dado em troca de uma boa notiacutecia Assim Homero faz Ulisses dizer a Eumeu ldquoseja
esta recompensa (euvaggelion) entregue em troca destas boas novasrdquo No grego aacutetico
ela significa (no plural) um sacrifiacutecio por boas notiacutecias Posteriormente veio
assumir o sentido uacutenico de boas novas ndash as alegres notiacutecias do reino do Messias
Apesar de a expressatildeo ser naturalmente utilizada como tiacutetulo dos livros que
continham a histoacuteria das boas novas no texto do Novo Testamento em si ela jamais
eacute aplicada no sentido de um livro escrito mas sempre significa a palavra
proclamada Segundo (kata ) O uso deste termo difere da expressatildeo Evangelho de
Mateus O Evangelho eacute de Deus natildeo de Mateus nem de Lucas sendo
substancialmente um e o mesmo em todos os escritos dos evangelistas Logo o
vocaacutebulo ldquosegundordquo implica um elemento geneacuterico no Evangelho que Mateus passa
adiante no seu estilo peculiar O significado eacute as novas do reino conforme entregues
ou representadas por Mateus Mateus (Matqaion) Mateus e Levi designam a mesma
pessoa (Mt 99 Mc 214 Lc 527) O nome Levi natildeo aparece em nenhuma lista que
apresenta os apoacutestolos de Jesus Mateus entretanto eacute mencionado em todas [] este
uacuteltimo eacute uma forma contraiacuteda do nome hebraico Mattathias e significa presente de
Deus que corresponde ao nome grego Teodoro (Qeoj Deus dwron um presente) 76
Natildeo sabe-se ao certo se os quatro Evangelhos veiculavam sem uma
designaccedilatildeo adequada kata Maqqaion (katagrave Maththaionsegundo Mateus) Ou
alguma coisa desse tipo O que parece eacute que os escritos evangeliacutesticos poderiam ter
veiculado de forma anocircnima e a princiacutepio sem os seus tiacutetulos Natildeo se tem
conhecimento sobre o quatildeo antigo eacute esse tiacutetulo Carson Moo e Morris datildeo as
seguintes afirmaccedilotildees sobre o tiacutetulo do Evangelho
Ateacute haacute pouco a maioria dos estudiosos pressupunha tacitamente que no comeccedilo os
quatro evangelhos circulavam anocircnimos e que os tiacutetulos atuais foram lhes dados pela
primeira vez por volta de 125 d C Natildeo haacute praticamente elemento algum que
favoreccedila decisivamente essa data ela natildeo passa de uma conjetura erudita baseada
apenas na suposiccedilatildeo de que na sua forma original os evangelhos eram inteiramente
anocircnimos e no fato de que por volta de 140 e talvez antes os tiacutetulos tradicionais
eram amplamente conhecidos sem uma variaccedilatildeo significativa77
75 NESTLE-ALAND Novum Testamentum Graece Ed XXVIII Stuttgart Deutsche
Bibelgesellschaft 2012 p 1 em nota de rodapeacute afirma que o Evangelho de Mateus tambeacutem recebeu
tiacutetulos diversos nos mais variados tipos de Manuscritos que trazem o texto do Evangelho de Mateus
a saber euaggelion kata Matqaion (Maqqaion W 565) D K W G D f 13 33 565 700 892 1424 Ucirc
bo brvbar agion euaggelion kata Matqaion f 1 (boms) brvbar arcn sun qew tou kata Matqaion euaggeliou
1241 brvbar ek tou kata Matqaion Lbrvbar - a B brvbar txt a 1 B1 76 MILLOS S P Mateo p 21 VICENT M R Estudo no Vocabulaacuterio grego do Novo Testamento
p 7 A citaccedilatildeo de Homero pelo autor foi retirada de Homero Od xiv 152 GONZAGA W ldquoA
noccedilatildeo de avlhqeia e de euvaggelion no NTrdquo Atualidade Teoloacutegica PUC-Rio Rio de Janeiro Ano 18
fasc 46 p 30-34 2014 77 CARSON D A MOO D J MORRIS L Introduccedilatildeo ao Novo Testamento p 73 Nessa obra
os autores fazem citaccedilatildeo de Martin Hengel que na sua obra intitulada ldquoStudies in the gospel of
Markrdquo aborda de forma clara e objetiva a respeito dos tiacutetulos dos evangelhos
30
As opiniotildees satildeo bem diferentes entre alguns estudiosos a respeito do
significado do tiacutetulo ldquokata Maqqaionrdquo (katagrave Maththaionsegundo Mateus) Para
uns o tiacutetulo tem sentido de autoria mas para outros o tiacutetulo ldquokata Maqqaionrdquo natildeo
apontaria para o sentido de autoria e sim como um escrito feito de conformidade
ao ensino de algueacutem78
As questotildees acima analisadas servem para ajudar a presente pesquisa Pois ao
olhar para a estrutura o idioma e ateacute mesmo para o tiacutetulo do Evangelho de Mateus
percebe-se a importacircncia de se averiguar as fontes usadas pelo evangelista para
estruturar o seu Evangelho
26 Marcos e ldquoQrdquo como fontes de Mateus e o problema sinoacutetico
Neste toacutepico queremos observar as possiacuteveis fontes literaacuterias usadas pelo
autor do Evangelho de Mateus Eacute bem verdade que os estudiosos reconhecem que
este evangelista fez uso de duas fontes principais a fonte ldquoQrdquo79 e o Evangelho de
Marcos Monasterio afirma que o evangelista ao usar essas duas fontes percebeu
um ponto de vista literaacuterio e teoloacutegico80 a partir do qual Mateus realiza basicamente
uma siacutentese partindo de Marcos e da fonte ldquoQrdquo onde Marcos eacute sua base referencial
que daacute a caracteriacutestica narrativa do Evangelho e a fonte ldquoQrdquo lhe serve como base
de material discursivo Do ponto de vista teoloacutegico segundo Monasterio Mateus eacute
obra de siacutentese pois o trabalho narrativo de Marcos buscou apresentar Jesus como
Filho de Deus por meio da cruz jaacute a fonte ldquoQrdquo oferece um conjunto de ditos com
ecircnfase escatoloacutegica revelando Jesus na posiccedilatildeo de um juiz futuro como Filho do
Homem81
Mesmo que o evangelista tenha usado Marcos e ldquoQrdquo haacute tambeacutem no
Evangelho uma quantidade significativa de passagens que satildeo peculiares apenas a
Mateus originadas de uma fonte ldquoMrdquo (material proacuteprio de Mateus) Champlin
78 CARSON D A MOO D J MORRIS L Introduccedilatildeo ao Novo Testamento p 74 79 OPORTO S G Ditos Primitivos de Jesus p 9 O autor explica que essa sigla vem da primeira
letra da palavra alematilde ldquoQuellerdquo que significa ldquofonterdquo A sigla passou a ser usada a partir do final do
seacuteculo 19 Seu uso designava o conjunto de ditos de Jesus que Mateus e Lucas teriam usado na
formaccedilatildeo dos seus escritos evangeliacutesticos GRILLI M LANGNER C Comentario al Evangelio
de Mateo p 7 HAGNER D A Matthew 1-13 p 47-48 ALBRIGHT W F MANN C S
Matthew p 39-48 80 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 187 81 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 188
HAGNER D A Matthew 1-13 p 47 ALBRIGHT W F MANN C S Matthew pp 42-43
31
afirma que satildeo consideradas tradiccedilotildees da Igreja de Antioquia da Siacuteria e
possivelmente foram usadas por ele e tambeacutem as experiecircncias de sua atividade
redacional contribuiacuteram para o seu material proacuteprio82 Curvillier faz as seguintes
consideraccedilotildees a respeito da hipoacutetese das duas fontes
O Evangelho de Mateus compreende 1048 versiacuteculos No contexto da teoria das
duas fontes Mateus utiliza o evangelho de Marcos a fonte dos logia (Q) e tradiccedilotildees
que lhe satildeo proacuteprias (SMt) Dos 661 versiacuteculos de Marcos ele toma 523 ou seja
80 (o que constitui quase a metade do evangelho de Mateus) Mas pode-se
considerar que 90 da mateacuteria marcana se encontra em Mateus Ele reproduz
Marcos bastante fielmente mas modifica sua ordem (ateacute o capiacutetulo 14) 83
Praticamente uma grande parte dos comentaacuterios sobre o Evangelho de Mateus
defende a teoria das duas fontes Carson por exemplo escreve que ldquoA hipoacutetese
das duas fontes permanece a soluccedilatildeo geral mais atraenterdquo 84 No acircmbito das questotildees
das duas fontes percebe-se tambeacutem que Mateus faz suas citaccedilotildees do Antigo
Testamento utilizando a versatildeo grega dos Setenta (LXX)85 Portanto entendem-se
as grandes questotildees que estatildeo por detraacutes da hipoacutetese das duas fontes e a importacircncia
de se pesquisar os Evangelhos e seus testemunhos
Tendo presente que o problema sinoacutetico86 versa sobre as semelhanccedilas e as
diferenccedilas que existem nos trecircs primeiros Evangelhos87 como problema exposto
surgiu a necessidade de oferecer uma soluccedilatildeo para essa dificuldade Eacute evidente que
a soluccedilatildeo para essa questatildeo natildeo eacute mais faacutecil do que a exposiccedilatildeo propriamente dita
do problema
Para oferecer uma resposta plausiacutevel sobre o problema sinoacutetico foram
desenvolvidas algumas hipoacuteteses que possivelmente responderiam a algumas
questotildees levantadas sobre esse problema Analisando esses autores que abordam
sobre o problema sinoacutetico88 percebe-se que eles concordam na maioria das vezes
82 CHAMPLIN R N Mateus ndash Marcos p 259 83 CUVILLIER E O Evangelho Segundo Mateus p 90-91 84 CARSON D A O comentaacuterio de Mateus p 32 85 CARSON D A O comentaacuterio de Mateus p 32-33 ALBRIGHT W F MANN C S Matthew
p 60 86 MILLOS S P Mateo p 35-41 CHAMPLIN R N Mateus ndash Marcos p 152 O autor desta
obra faz uma anaacutelise da palavra sinoacutetico demonstrando o seu significado concernente aos trecircs
primeiros evangelhos Ele tambeacutem eacute um dos autores que abarca em seu comentaacuterio as quatro teorias
para tentar solucionar e ou dar uma resposta adequada para o problema sinoacutetico 87 VIELHAUER P Histoacuteria da Literatura cristatilde primitiva p 295-300 Aleacutem da teoria das duas
fontes o autor cita em sua obra quatro tentativas de soluccedilatildeo para o problema sinoacutetico ldquoA Teoria do
Evangelho Original A teoria da Tradiccedilatildeo A teoria das diegeses e A teoria do uso de uns evangelistas
por outrosrdquo MILLOS S P Mateo p 35 88 CARSON D A O comentaacuterio de Mateus p 29 CHAMPLIN R N Mateus ndash Marcos p 152
VIELHAUER P Histoacuteria da Literatura cristatilde primitiva p 295-300 CARMONA A R
32
sobre a quantidade de hipoacuteteses levantadas para o desenvolvimento de uma possiacutevel
soluccedilatildeo deste assunto Poreacutem o que na verdade os diferencia satildeo os nomes dados
por eles para cada uma dessas hipoacuteteses A relaccedilatildeo entre Mateus Marcos e Lucas eacute
clara e evidente pois os trecircs tecircm um plano geral parecido Essas relaccedilotildees nos
Evangelhos sinoacuteticos podem ser melhor observadas usando uma sinopse dos
Evangelhos89
Uma das hipoacuteteses sugeridas como propostas de soluccedilatildeo da questatildeo sinoacutetica
eacute a teoria da ldquodependecircncia comum de um Evangelho originalrdquo90 Trata-se de uma
teoria que supotildee a formaccedilatildeo dos Evangelhos independentes um do outro natildeo
usando nenhuma fonte comum seja na tradiccedilatildeo oral ou escrita em hebraico ou
aramaico91 Natildeo obstante tal teoria natildeo se susteacutem pois a relaccedilatildeo entre os
Evangelhos eacute forte porque 85 do material contido nos sinoacuteticos satildeo comuns ao
menos entre dois dos trecircs Evangelhos92
Uma outra teoria hipoteacutetica eacute a do documento uacutenico Alguns estudiosos
afirmam que teria sido escrito um uacutenico documento apostoacutelico antigo que
possivelmente composto em aramaico de modo autocircnomo mas usado pelos trecircs
Evangelistas93 Assim sendo a tabela a seguir pode auxiliar na compreensatildeo desse
tema94
Evangelho Primitivo
Tabela 1 - Teoria do documento uacutenico
MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 63 MILLOS S P Mateo
p 38 89 KONINGS J Sinopse dos Evangelhos de Mateus Marcos e Lucas e da ldquoFonte Qrdquo340 paacuteginas
MILLOS S P Mateo p 35-40 90 MILLOS S P Mateo p 35-40 91 MILLOS S P Mateo p 36 CARSON D A MOO D J MORRIS L Introduccedilatildeo ao Novo
Testamento p 31 92 CARSON D A O comentaacuterio de Mateus p 29 93 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 63
MILLOS S P Mateo p 35-36 HENDRIKSEN W Mateus p 53 94 CUVILLIER E O Evangelho Segundo Mateus p 20 O graacutefico esboccedilado na pesquisa pode ser
encontrado tambeacutem nesta obra
Mateus Marcos Lucas
33
A maioria dos autores95 mesmo que eles exponham em seus escritos a teoria
do documento uacutenico natildeo a aceita porque ela natildeo consegue sustentar uma soluccedilatildeo
plausiacutevel pois os proacuteprios Evangelhos sinoacuteticos demonstram de certa forma uma
singularidade como se percebe no material usado por eles A exemplo disso
existem informaccedilotildees no proacutelogo de Lc 11-4 que podem refutar essa teoria do
documento uacutenico96
Como jaacute mencionado anteriormente a teoria das duas fontes eacute mais uma
hipoacutetese considerada quase por unanimidade como a resposta mais plausiacutevel a
respeito do problema sinoacutetico97 Encontra seu predecessor no filoacutesofo F
Scheiemacher98 que se baseou nos testemunhos de Papias a respeito de Mateus
Nesse contexto demonstrar-se-aacute em um quadro abaixo a relaccedilatildeo que existe entre os
trecircs primeiros Evangelhos chamados sinoacuteticos para asseverar a teoria das duas
fontes99
Os 330 versiacuteculos de Marcos se encontram tambeacutem em Mateus e em Lucas 278 de
Marcos estatildeo parte em Mateus parte em Lucas 230 satildeo comuns a Mateus e Lucas
Versiacuteculos proacuteprios satildeo 53 em Marcos 330 em Mateus 500 em Lucas As periacutecopes
da tradiccedilatildeo triacuteplice constituem a metade de Marcos e uma parte de Mateus e Lucas
A dupla tradiccedilatildeo supotildee uma quinta parte de Mateus e Lucas100
Mateus Marcos Lucas
330 330 330
178 278 100
230 230
330
53
500
Tabela 2 - Teoria das duas fontes
Visto que a teoria das duas fontes natildeo nos ofereceu uma proposta para o
material usado por Mateus e por Lucas que natildeo se encontram nem em Marcos nem
na fonte ldquoQrdquo uma outra teoria hipoteacutetica foi levantada a teoria dos ldquoquatro
documentosrdquo101 Essa hipoacutetese baseia-se na soma do material do Evangelho de
95 MILLOS S P Mateo p 38-39 CARSON D A O comentaacuterio de Mateus p 29-34
VIELHAUER P Histoacuteria da Literatura cristatilde primitiva p 298-299 CARMONA A R
MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 63 96 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 62 97 CUVILLIER E O Evangelho Segundo Mateus pp 81-82 98 Apud CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos
p 65 HENDRIKSEN W Mateus p 59- 74 99 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 59 100 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 60 101 MILLOS S P Mateo p 40-41 CHAMPLIN R N Mateus ndash Marcos p 152 HALE B D
Introduccedilatildeo ao estudo Novo Testamento p 58 nomeia essa teoria como ldquoA teoria dos documentos
34
Marcos e do material da fonte ldquoQrdquo onde agora eacute acrescentado o material chamado
ldquoMrdquo (proacuteprio de Mt) e o material chamado ldquoLrdquo (proacuteprio de Lc) 102 Abaixo eacute
apresentada uma tabela que ilustra melhor a ideia da teoria dos quatro
documentos103
Roma Antioquia
(65) (50)
Jerusaleacutem
Cesareacuteia Cesareia
(65) (60)
Jerusaleacutem
Antioquia Cesareia
(85) (80-85)
Tabela 3 - Teoria dos quatro documentos
Portanto entende-se a importacircncia de ter sido levantada a questatildeo do
problema sinoacutetico e as possiacuteveis respostas oferecidas pelas teorias aqui
supracitadas As duas uacuteltimas teorias apresentam uma abordagem mais equilibrada
e com uma boa recepccedilatildeo pelos estudiosos Embora alguns autores optem pela teoria
dos quatro documentos e suas contribuiccedilotildees essa pesquisa poreacutem concorda com
Carson a respeito da teoria das duas fontes104
27 A teologia de Mateus
Eacute bem verdade que os quatro Evangelhos tecircm a sua teologia proacutepria contendo
uma cristologia eclesiologia e escatologia etc De certo modo essas aacutereas da
teologia tecircm o seu desenvolvimento inicial nesses escritos Com isso percebe-se
muacuteltiplos Nesse propoacutesito Hale afirma que o primeiro propositor dessa teoria foi B H Streeter
HENDRIKSEN W Mateus p 53-55 102 VIELHAUER P Histoacuteria da Literatura cristatilde primitiva p 303-304 O autor esclarece aqui o
sentido das siglas ldquoMrdquo e ldquoLrdquo que fazem parte da teoria dos quatro documentos 103 CARSON D A MOO D J MORRIS L Introduccedilatildeo ao Novo Testamento p 35 104 CARSON D A O comentaacuterio de Mateus p 32
Marcos
ldquoMrdquo
Mateus
ldquoQrdquo
ldquoLrdquo
Lucas
35
que o Evangelho de Mateus com toda a sua estrutura literaacuteria eacute reconhecido como
o Evangelho que tem essas trecircs principais aacutereas da teologia interligadas uma com
a outra com um caraacuteter perceptiacutevel e pessoal do autor em todo o contexto do livro
O evangelista ao compor o seu Evangelho permite transparecer a cristologia a
eclesiologia e a escatologia onde agora seraacute feita uma abordagem sobre estes trecircs
grandes temas presente neste Evangelho
271 Cristologia
O evangelista Mateus jaacute no iniacutecio do seu escrito apresenta Jesus como o
Cristo o ungido de Deus (Mt 1116-17 ldquoCristojrdquo)105 A esse propoacutesito Vielhauer
inclui Mt 2 como sendo a preacute-histoacuteria constituindo aspecto fundamental para a
cristologia Ele afirma que
A preacute-histoacuteria (histoacuteria da infacircncia) de Mt 1 e 2 eacute especialmente importante para a
cristologia de Mateus Nesses capiacutetulos se entrelaccedilam concepccedilotildees judaicas e
helenistas ou judaico-helenistas que o autor encontrou em sua tradiccedilatildeo e aproveitou
Jesus eacute o ldquoMessiasrdquo o ldquoFilho de Davirdquo com genealogia legiacutetima que remonta ateacute
Abraatildeo (11-17) e por isso eacute o legiacutetimo ldquorei dos judeusrdquo (22) Mas ele tambeacutem eacute o
ldquoFilho de Deusrdquo e natildeo apenas por adoccedilatildeo e sim jaacute por sua milagrosa concepccedilatildeo e
nascimento (118-25) Aqui a filiaccedilatildeo divina eacute entendida fisicamente como
frequentemente no mundo helenista106
Eacute evidente que Mateus reconhece que Jesus o nazareno eacute o Messias de
Israel107 Cuvillier vecirc isto de forma manifesta na narrativa de Mateus em trecircs
aspectos O primeiro seria que o Jesus de Mateus eacute apresentado por duas vezes
como o enviado ou enviando os seus disciacutepulos agrave casa de Israel (Mt 105-6 1520)
O segundo aspecto consiste nas citaccedilotildees de cumprimento onde percebe-se que
Jesus eacute o enviado aguardado e anunciado O terceiro aspecto satildeo os tiacutetulos
cristoloacutegicos de Jesus recebidos do Antigo Testamento ldquoFilho de Davi Messias
Filho do homemrdquo108 Carson apresenta uma estrutura parecida com a de Cuvillier
no sentido das abordagens aos elementos distintivos da cristologia mateana109
105 SCHNELLE U Teologia do Novo Testamento p 559 ALBRIGHT W F MANN C S
Matthew p 157 106 VIELHAUER P Histoacuteria da Literatura cristatilde primitiva p 391 107 GRILLI M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p 17 ALBRIGHT W F
MANN C S Matthew p 80 108 CUVILLIER E O Evangelho Segundo Mateus p 97 109 CARSON D A O comentaacuterio de Mateus p 45 O autor aqui cita a obra ldquoStages in Christology
in the Synoptic Gospelsrdquo de G M Styler onde ele afirma que Mateus sustenta uma cristologia mais
expliacutecita do que a de Marcos GRILLI M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p
17
36
A cristologia de Mateus eacute clara e os tiacutetulos cristoloacutegicos que ele conteacutem
contribuem para esta formaccedilatildeo ldquoἸησοῦς Χριστός υἱοῦ ΔαυίδJesus Cristo o filho
de Davirdquo jaacute aparece nos primeiros capiacutetulos do livro e com repeticcedilotildees da expressatildeo
em versiacuteculos do mesmo capiacutetulo (Mt 1116-18)110 Esse eacute um dos tiacutetulos mais
importantes que aparece nesse Evangelho e ele estaacute intrinsecamente vinculado ao
tiacutetulo ldquoMessiasrdquo111 Natildeo obstante o tiacutetulo ldquoFilho de Davirdquo representa Jesus como o
Messias enviado a Israel como realizaccedilatildeo das promessas Poreacutem satildeo poucas as
apariccedilotildees dessa expressatildeo no Evangelho de Mateus (Mt 112-3 1616 2663)
Monasterio afirma que esse tiacutetulo eacute uma qualificaccedilatildeo correta de Jesus entretanto eacute
insuficiente e com ambiguidades Ele argumenta
[] Quando Jesus introduz esse tiacutetulo numa discussatildeo eacute para questionar o
messianismo de mera filiaccedilatildeo daviacutedica (2241-45) Somente numa ocasiatildeo Jesus
utiliza esse tiacutetulo mas de uma forma um tanto enigmaacutetica na terceira pessoa se bem
que natildeo haacute duacutevida de que se refere a si mesmo (2310) Mateus previne tambeacutem
contra os impostores que se arrogam essa funccedilatildeo Na seccedilatildeo introdutoacuteria junto ao de
Messias tem importacircncia fundamental o tema da descendecircncia daviacutedica de Jesus Jaacute
observamos isso em (1161720 26) Mateus eacute o texto do Novo Testamento que
mais utiliza a expressatildeo Filho de Davi das nove vezes em que aparece no Evangelho
sete foram introduzidas por seu redator112
ldquoFilho de Davirdquo foi na verdade o tiacutetulo aclamado pela multidatildeo (Mt 21915)
Na manifestaccedilatildeo do poder de Jesus o povo fez menccedilatildeo a esse tiacutetulo (Mt 1223) Os
necessitados e os que estatildeo precisando de misericoacuterdia o clamam pelo tiacutetulo ldquoFilho
de Davirdquo (Mt 2030) Mateus faz uso do tiacutetulo cristoloacutegico ldquoFilho de Davirdquo para
vinculaacute-lo ao ldquoServo de Deus sofredorrdquo113 A respeito do tiacutetulo ldquoFilho de Deusrdquo
(ldquoυἱοῦ θεοῦrdquo) eacute possiacutevel que este tiacutetulo seja o mais importante dentro da cristologia
mateana Monasterio afirma que
Eacute o tiacutetulo mais importante de Jesus mas sobretudo eacute o misteacuterio iacutentimo de sua
pessoa Na introduccedilatildeo (11-422) estaacute muito bem elaborada a apresentaccedilatildeo
programaacutetica e progressiva de Jesus Eacute o Filho de Davi e o Filho de Abraatildeo nele
verifica-se as promessas messiacircnicas e a becircnccedilatildeo universal mas sobretudo eacute o Filho
de Deus (215) que cumpre o destino de Israel e que seraacute proclamado pelo Pai seu
Filho (317) Provavelmente isso estaacute relacionado para Mateus a sua concepccedilatildeo de
110 SCHNELLE U Teologia do Novo Testamento p 560 O autor afirma que o tiacutetulo ldquofilho de
Davirdquo ocorre 17 vezes em Mt 7 vezes em Mc e 13 vezes em Lc Sendo que em Mt esse tiacutetulo tem
o caraacuteter especial GRILLI M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p 17
HAGNER D A Matthew 1-13 p 61 111 GRILLI M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p 17 112 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 226 113 GRILLI M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p 17 ALBRIGHT W F
MANN C S Matthew p 157
37
uma virgem pela forccedila do Espiacuterito (120-23) A voz do ceacuteu voltaraacute a proclamaacute-lo
Filho de Deus quando comeccedilar a parte mais difiacutecil de sua missatildeo (175) 114
Outro tiacutetulo cristoloacutegico importante eacute o tiacutetulo ldquoκύριοςSenhorrdquo Esse tiacutetulo
demonstra que o evangelista acompanhou a traduccedilatildeo grega da Septuaginta onde se
refere ao nome impronunciaacutevel de Deus no Antigo Testamento O tiacutetulo eacute
caracteriacutestico do Evangelho mateano no sentido de Jesus ser aclamado como
Senhor pelos personagens desse livro115
Mateus tem dois usos do tiacutetulo ldquoκύριοςSenhorrdquo Primeiro eacute usado nas
atividades de Jesus para os homens especialmente as curativas ou seja ldquosalvaccedilatildeordquo
(Mt 826825 9 28 1430 152225 1622 17415 1821 203033)116 Segundo
o tiacutetulo ldquoκύριοςSenhorrdquo eacute mais importante ao ser aplicado a Jesus como o ldquoJuiz do
tempordquo (Mt 721-23 251137-44)117
Monasterio argumenta que ldquoeacute uma expressatildeo no vocativo sempre em contexto
de respeito de pedido de ajuda e de feacute Nunca estaacute na boca dos adversaacuterios nem
como designaccedilatildeo narrativa em terceira pessoardquo118 Tanto os disciacutepulos como Pedro
e outros homens e mulheres anocircnimos ou natildeo reportavam-se a Jesus como
ldquoKuriojSenhorrdquo
A expressatildeo ldquoυἱοῦ τοῦ ἀνθρώπουFilho do Homemrdquo119 eacute um tiacutetulo
cristoloacutegico igualmente usado por Mateus Ele parece ser um tiacutetulo de designaccedilatildeo
complicado mas o propoacutesito do uso dele aqui eacute impreterivelmente por causa do seu
valor redacional No que tange a isso Monasterio afirma que
Nos sinoacuteticos haacute trecircs classes de ditos sobre o Filho do Homem os que se referem
ao ministeacuterio terreno de Jesus (820) os que se relacionam com sua paixatildeo e morte
(1722 2018 262) e os que falam da parusia do Filho do Homem Todos esses ditos
sempre se encontram na boca de Jesus como autodesignaccedilatildeo Eacute peculiar de Mateus
falar do Reino do filho do Homem [] o que eacute mais caracteriacutestico de Mateus satildeo
seus ditos do Filho do Homem futuro como juiz120
114 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 227-
228 115 GRILLI M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p 19 SCHNELLE U
Teologia do Novo Testamento p 560 HAGNER D A Matthew 1-13 p 61 ALBRIGHT W F
MANN C S Matthew p 154 116 ALBRIGHT W F MANN C S Matthew p 154 117 ALBRIGHT W F MANN C S Matthew p 154 118 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 229 119 SCHNELLE U Teologia do Novo Testamento p 569 O tiacutetulo ldquoFilho do Homemrdquo tem uma
ocorrecircncia de 29 vezes no Evangelho de Mateus ALBRIGHT W F MANN C S Matthew p
156 120 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 231
O autor aqui entende que em alguns casos sobre a expressatildeo Filho do Homem pode ser uma
referecircncia clara a Dn 7 13-14 natildeo apenas concernente ao tiacutetulo mas tambeacutem a alguns elementos
como nuvens ceacuteus vir gloacuteria reino juiacutezo (19 28 13 41 25 31-33)
38
A ideia que Mateus tem do Filho do Homem eacute de algueacutem que recebe a
autoridade de Deus e eacute colocado no trono de Deus para ser juiz121 O evangelista
recorreu ao estilo das teofanias biacuteblicas com o propoacutesito de criminar esse juiacutezo com
as citaccedilotildees que faz do Antigo Testamento quase sempre a partir da versatildeo grega da
LXX
272 Eclesiologia
O Evangelho de Mateus em comparaccedilatildeo com os outros Evangelhos sinoacuteticos
eacute o uacutenico que usa o termo ldquoIgrejardquo (evkklhsia) em duas passagens (Mt 1618
1817)122 Uma dessas menccedilotildees tem relaccedilatildeo direta com o novo povo de Deus123 Os
discursos desse Evangelho deixam claro a vida da Igreja com os seus conflitos e
possiacuteveis ministeacuterios Concernente ao que se entende por Igreja em Mateus Carson
nos apresenta os seguintes aspectos sobre essa eclesiologia
Determinados aspectos destacam-se O primeiro Mateus insiste que Jesus predisse
a continuaccedilatildeo de seu pequeno grupo de disciacutepulos em uma comunidade distinta um
povo santo e messiacircnico a ldquoigrejardquo Esse tema baseia-se em diversas passagens natildeo
em apenas um ou dois textos de autenticidade discutiacutevel O segundo Jesus insiste
que a obediecircncia agraves exigecircncias eacuteticas do reino longe de ser opcional para os que
compotildeem a igreja tecircm de caracterizar a vida destes A fidelidade deles prova ser
falsa sempre que natildeo fazem o que Jesus ensina (721-23) O terceiro deve-se impor
determinada disciplina agrave comunidade (1618-19 1815-18) Mas Mateus descreve
essa disciplina em princiacutepios natildeo em detalhes (natildeo haacute menccedilatildeo a diaacuteconos liacutederes
religiosos presbiacuteteros ou semelhantes) e por isso essa disciplina natildeo eacute anacrocircnica
desde que podemos aceitar o fato de que Jesus previu a continuaccedilatildeo de sua
comunidade124
Mateus revela uma eclesiologia com perspectivas do Reino de Deus Toda a
sua estrutura ou seja o modus vivendi da Igreja deve ser o oposto da dominaccedilatildeo
meramente humana Assim afirma Mazzarolo ldquoo modelo de Jesus eacute a libertaccedilatildeo
do homem e o modelo do impeacuterio eacute a sua escravidatildeo125
Na eclesiologia do evangelista os fatores cristoloacutegicos e escatoloacutegicos estatildeo
presentes pois o grupo de Jesus eacute sua Igreja e com o passar do tempo adquire uma
121 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 231 122 GRILLI M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p 19 HAGNER D A
Matthew 1-13 p 62 123 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 229
ALBRIGHT W F MANN C S Matthew p 153 124 CARSON D A O comentaacuterio de Mateus p 50 125 MAZZAROLO I Evangelho de Mateus p11 O autor aqui afirma que um dos motivos dos
sofrimentos dessa igreja eacute por viver diferente dos paradigmas contemporacircneos
39
forte concepccedilatildeo escatoloacutegica126 Jesus estaacute continuamente com sua Igreja e ela deve
seguir com sua missatildeo a todas as naccedilotildees Com isso Monasterio delineia duas
caracteriacutesticas baacutesicas de Mateus a primeira caracteriacutestica eacute a permanente presenccedila
de Jesus na Igreja significando que Jesus eacute o Deus conosco o sempre presente a
segunda caracteriacutestica eacute a intriacutenseca continuidade entre Jesus e a Igreja A
continuidade na Igreja eacute evidente no comissionamento dos disciacutepulos em Mt 101-
14 e 2816-20127
Para Mateus a Igreja eacute uma comunidade comprometida com a comunhatildeo que
tem a presenccedila de Jesus Nela natildeo podem existir diferenccedilas mas sim imitaccedilatildeo da
unidade e da comunhatildeo que haacute entre o Pai e o Filho Fundamentalmente a
comunidade de Mateus eacute uma comunidade de irmatildeos128
Existem outros aspectos eclesioloacutegicos no livro e dentro desses aspectos estaacute
a concepccedilatildeo de ldquodisciacutepulordquo (maqhthj) que deve ser observada agrave forma referencial
e especial desse termo no Evangelho de Mateus129 Enquanto o termo apoacutestolo soacute
aparece uma vez no Evangelho (Mt 102) o vocaacutebulo disciacutepulo se evidencia em
todo o livro assinalando a eclesiologia de Mateus Sobre isso Monasterio afirma
que
Os disciacutepulos satildeo pessoas que se vincularam de forma especial ao Jesus histoacuterico
mas sua realidade estaacute atualizada eclesiologicamente de modo que ser disciacutepulo eacute
um conceito que deixa transparecer o que significa ser cristatildeo Referecircncias ao
acontecimento passado e atualizaccedilatildeo eclesial satildeo sempre dimensotildees inseparaacuteveis em
Mateus Precisamente porque se vincularam especialmente com Jesus sua realidade
se converte em modelo para o presente130
Aleacutem do aspecto caracteriacutestico eclesioloacutegico do discipulado nesse Evangelho
temos Pedro como o disciacutepulo proeminente131 Ele eacute pessoa marcante em Mt 1616-
20 texto que ateacute os dias hodiernos causa divergecircncias teoloacutegicas e doutrinais
Mateus natildeo somente apresenta fatos negativos de Pedro mas tambeacutem revela seu
lado positivo de disciacutepulo e o enfatiza A esse respeito Cullmann afirma
126 GRILLI M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p 19 127 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 229 128 SCHNELLE U Teologia do Novo Testamento p 560 Nessa obra o autor afirma que o
conceito-chave da eclesiologia mateana eacute o discipulado com uma ocorrecircncia do termo cerca de 72
vezes em comparaccedilatildeo as 46 vezes em Mc e 37 vezes em Lc GRILLI M LANGNER C
Comentario al Evangelio de Mateo p 18 D A HAGNER Matthew 1-13 p 62 129 GRILLI M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p 18 HAGNER D A
Matthew 1-13 p 63 ALBRIGHT W F MANN C S Matthew p 75 130 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 234 131 CULLMANN O Pedro Disciacutepulo Apoacutestolo Maacutertir p 28 O autor percebe em suas pesquisas
nos Evangelhos que Pedro eacute realmente o disciacutepulo que ocupa uma posiccedilatildeo especial VITOacuteRIO J
Lendo o Evangelho segundo Mateus p 13
40
No entanto mesmo dentro desse ciacuterculo mais iacutentimo Pedro estaacute quase sempre em
primeiro lugar na histoacuteria da pesca maravilhosa (Lc 51 e segs) Pedro eacute
evidentemente o protagonista embora bem no final os filhos de Zebedeu tambeacutem
sejam incluiacutedos Conforme Mt 1428 soacute Pedro tenta imitar o seu Senhor que estaacute a
andar sobre o lago Ele quase sempre se nos apresenta como porta-voz dos doze
Vimos acima que Pedro responde quando Jesus dirige uma pergunta a todos os
disciacutepulos (Mc 829 segs paral)132
Aleacutem disso por exemplo o evangelista o coloca como sendo sempre aquele
que toma as iniciativas entre os outros disciacutepulos133 Pedro eacute quem afirma que Jesus
eacute o Cristo (Mt 1618 Mc 827-30 Lc 918-21) ele eacute considerado o alicerce da Igreja
(Mt 1620) mas tambeacutem eacute o que nega Jesus (Mt 2670-75 Mc 1466-72 Lc 2225-
27) Destarte com todas as questotildees envolvendo sua vida Pedro eacute figura
fundamental na comunidade mateana com uma capacidade instrumental de caraacuteter
doutrinal134
Um dado importante da eclesiologia do Evangelho de Mateus eacute a
probabilidade da existecircncia de profetas e escribas na comunidade Eacute possiacutevel que
esses ministros escribas cristatildeos e profetas da Igreja juntos com Pedro fossem os
administradores da disciplina na comunidade de fieacuteis (Mt 1815-20)135 Os profetas
e escribas podem ser vistos nas passagens de Mateus (2334 1351-52) que
afirmam a existecircncia deles na comunidade mateana Monasterio afirma que tais
ministeacuterios satildeo conhecidos no cristianismo primitivo136 Portanto percebe-se a
grandiosidade e a riqueza da eclesiologia de Mateus com todos os seus aspectos e
argumentos
273 Escatologia
Tendo analisado de maneira sinteacutetica a cristologia e a eclesiologia de Mateus
com os seus contornos de maior relevacircncia agora seratildeo tratadas algumas questotildees
132 CULLMANN O Pedro Disciacutepulo Apoacutestolo Maacutertir p 28-29 133 VITOacuteRIO J Lendo o Evangelho segundo Mateus p 12 134 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 236-
238 CULLMANN O Pedro Disciacutepulo Apoacutestolo Maacutertir p 29 135 SCHNELLE U Teologia do Novo Testamento p 585-586 A princiacutepio o autor inicia dizendo
que a comunidade mateana desconhecia ministeacuterios institucionalizados se reconhecendo como uma
comunidade de irmatildeos onde o batismo eacute constitutivo e no meio dessa comunidade circulam os
profetas os doutores da lei e os carismaacuteticos Ao mesmo tempo ele fala da autoridade da Igreja em
aplicar a medida disciplinar eclesiaacutestica institucionalizada Ao finalizar sobre esta questatildeo o autor
afirma que ldquoa anaacutelise em sua totalidade mostra que a comunidade jaacute estaacute marcada por uma forte
institucionalizaccedilatildeordquo 136 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 239
O autor indica a (Didakheacute XI 3-6)
41
sobre a escatologia do mesmo Evangelho137 A escatologia de Mateus eacute sem
duacutevida uma obra bem elaborada com uma extensatildeo que jaacute se destaca desde o iniacutecio
dos discursos ateacute o final Exemplos baacutesicos seriam desde o Sermatildeo da Montanha
nos caps 5 ndash 7 ateacute o proacuteprio discurso escatoloacutegico nos caps 23 ndash 25 O evangelista
enfatiza em seus ensinamentos a vinda de Jesus e o aspecto do juiacutezo futuro Sobre
isso Monasterio afirma que
Jaacute vimos anteriormente que Mateus destaca a vida de Jesus como Filho do Homem
na funccedilatildeo de juiz universal e glorioso que daraacute a cada um conforme os seus meacuteritos
(1627-28 2429-31373944 2664 1336-43 2531 1928) Eacute o uacutenico evangelista
que usa a expressatildeo parusia para falar da vinda do Filho do Homem (243273739)
Eacute tambeacutem ele quem daacute mais destaque ao juiacutezo futuro que decidiraacute a sorte definitiva
do homem138
A comunidade mateana eacute consciente de uma parusia iminente (Mt 2432-36)
poreacutem o grupo de Mateus tem por um lado o sentimento claro e consciente do
atraso desta parusia (Mt 255)139 e por outro lado natildeo eacute propoacutesito do evangelista
fazer especulaccedilotildees a respeito do futuro escatoloacutegico e sim abordar sobre essas
questotildees para estimular a comunidade a viver uma vida de prudecircncia e praticar o
bem Segundo Monasterio dois temas enfatizam a escatologia mateana a
preocupaccedilatildeo moral e o interesse pela vida cristatilde com um senso criacutetico do juiacutezo
futuro de Deus abandonando qualquer falsa seguranccedila140
Entende-se que a escatologia de Mateus tem um caraacuteter especiacutefico de juiacutezo
onde cremos ser ele um juiacutezo universal Mas qual seria o tempo escatoloacutegico Para
Mazzarolo natildeo existe separaccedilatildeo entre tempo e escatologia ambos satildeo intriacutensecos
um ao outro de maneira que o tempo presente seraacute futuro da mesma forma que a
escatologia eacute presente141 Se considerarmos que Jesus dizia que ldquoeacute chegado o Reino
dos Ceacuteusrdquo (Mt 417 ἤγγικεν γὰρ ἡ βασιλεία τῶν οὐρανῶν) como uma expressatildeo
137 SCHNELLE U Teologia do Novo Testamento p 592 A escatologia de Mateus eacute importante
para um entendimento do lugar histoacuterico e teoloacutegico desse evangelista HAGNER D A Matthew
1-13 p 63 138 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 242 139 SCHNELLE U Teologia do Novo Testamento p 5594-595 HAGNER D A Matthew 1-13
p 63 140 CARMONA A R MONASTERIO R A Evangelhos sinoacuteticos e Atos dos Apoacutestolos p 243 141 MAZZAROLO I Evangelho de Mateus p10 O autor continua afirmando que Deus ofereceu
atraveacutes de Jesus o Messias no tempo de cada pessoa o privileacutegio de fazer a escolha de seu futuro
escatoloacutegico Nessa obra fica evidente que cada homem e mulher eacute responsaacutevel por suas escolhas
O autor finaliza dizendo ldquoO juiacutezo depende da histoacuteria de uma declaraccedilatildeo ou de uma negaccedilatildeo do
Filho do Homem e da praacutetica da justiccedilardquo (Mt 1032-33 Lc 12 8-9)
42
de sentido escatoloacutegico deve-se entatildeo concordar com Carson que percebe em
Mateus quatro periacuteodos de tempos distintos consistentemente142
A escatologia do Evangelho de Mateus natildeo soacute revela o caraacuteter do juiacutezo futuro
e tudo o que deve ocorrer nesse periacuteodo mas tambeacutem evidencia o arrependimento
jaacute que o Jesus descrito pelo evangelista se coloca na ldquogrande tradiccedilatildeo profeacutetica
veterotestamentaacuteria na qual a funccedilatildeo da linguagem do julgamento eacute o apelo ao
arrependimentordquo 143 O autor mateano descreve um tempo onde mulheres e homens
poderatildeo ser salvos caso aceitem a Boa-Nova do Evangelho anunciado pelos
disciacutepulos de Jesus
28 Propoacutesitos do Evangelho de Mateus
Neste item queremos abordar opiniotildees de alguns autores a respeito dos
propoacutesitos do Evangelho de Mateus Apenas algumas propostas Cada autor
mencionado apresenta os objetivos do livro de Mateus sempre apontando para o
aspecto didaacutetico que o Evangelho possui Estes mesmos autores seratildeo abordados
novamente no quesito Status Quaestionis que versaraacute especialmente sobre o v 11
que traz a afirmaccedilatildeo de que Joatildeo o Batista eacute ldquoo maior entre os nascidos de
mulheresrdquo
281 Samuel Peacuterez Millos
Samuel Peacuterez Millos em seu comentaacuterio ao Evangelho de Mateus entende
que seu autor natildeo oferece expressamente uma razatildeo para ter escrito seu Evangelho
Sem sombra de duacutevidas Millos acredita que um dos objetivos do livro eacute comunicar
a mensagem de salvaccedilatildeo que repousa sobre a pessoa de Jesus Cristo Eacute possiacutevel que
142 CARSON D A comentaacuterio de Mateus p 50 Os quatro periacuteodos de tempo descritos nesta obra
satildeo ldquo1- O periacuteodo de revelaccedilatildeo e da histoacuteria anterior de Jesus 2- A inauguraccedilatildeo de algo novo na
vinda e no ministeacuterio dele 3- O periacuteodo que inicia com a exaltaccedilatildeo de Jesus a partir do qual toda a
soberania de Deus eacute medida por intermeacutedio dele e seus seguidores proclamam o evangelho do reino
para todas as naccedilotildees e 4- A consumaccedilatildeo e aleacutem delardquo 143 CUVILLIER E O Evangelho Segundo Mateus p 102 O autor aqui afirma que a linguagem
desse julgamento faz aparecer uma outra linguagem de revelaccedilatildeo fazendo o homem aparecer assim
como ele eacute indiviacuteduos escravos da hipocrisia e do mal
43
esta intenccedilatildeo do evangelista tenha sido consequecircncia do recurso que Mateus tinha
quando escreveu seu Evangelho (Mt 2820)144
Uma outra intenccedilatildeo importante de Mateus eacute enfatizar a identificaccedilatildeo de Jesus
como o ldquoFilho de Davirdquo prometido e esperado Desde o princiacutepio do Evangelho haacute
uma intencionalidade que eacute percebida na genealogia (Mt 11) onde o autor mateano
liga Jesus a Davi e a Abraatildeo em quem se concentram os pactos de Deus Os
milagres narrados neste Evangelho demonstram certamente uma realidade
messiacircnica de Jesus Portanto Jesus eacute demonstrado aqui como o ldquoFilho de Davirdquo145
O conteuacutedo apologeacutetico que eacute outra marca do Evangelho de Mateus eacute mais
uma finalidade do escrito mateano Os detalhes da ressurreiccedilatildeo de Jesus
evidenciavam a mentira divulgada pelos liacutederes religiosos de que o corpo de Jesus
natildeo estava na tumba por ter sido roubado pelos disciacutepulos de Jesus (Mt 2811-15)146
O evangelista escreve de maneira intencional para responder agrave pergunta ldquose
Jesus eacute o Messias onde estaacute o seu reinordquo Millos afirma que essa pergunta eacute
respondida de modo pleno no Evangelho com uma visatildeo voltada para o futuro de
onde a manifestaccedilatildeo do Reino dos Ceacuteus seraacute uma realidade na Terra Assim Mateus
demonstra a razatildeo de enfatizar o tiacutetulo ldquoFilho de Davirdquo para referir-se a Jesus como
o cumprimento das profecias do Antigo Testamento em relaccedilatildeo ao Messias147
282 Donald A Hagner
D A Hagner afirma que o gecircnero ou o caraacuteter literaacuterio e forma de um
documento eacute vitalmente relacionado aos propoacutesitos de seu autor Natildeo obstante ele
aponta o Evangelho o midrash como gecircneros literaacuterios no escrito mateano Em
forma de Evangelho Mateus tem a intenccedilatildeo de fazer um relato da vida de Jesus
Basicamente um Evangelho proclama as boas novas relativas agrave atividade salviacutefica
de Deus148
A estrutura do Evangelho de Mateus em cinco discursos fez com que ele
fosse considerado como um manual catequeacutetico com a finalidade de instruir e
edificar os novos disciacutepulos de Jesus Na Igreja Primitiva as afirmaccedilotildees de Jesus
144 MILLOS S P Mateo p 51 145 MILLOS S P Mateo p 51 146 MILLOS S P Mateo p 51 147 MILLOS S P Mateo p 51 148 HAGNER D A Matthew 1-13 p 57
44
eram supremamente autoritaacuterias e desempenhavam um grande papel na instruccedilatildeo
de novos convertidos bem como dos membros mais antigos da Igreja149 Para
Hagner a visatildeo do Evangelho como catequese estaacute de acordo com a seriedade do
ensino em todo o escrito mateano
Segundo Hagner ldquocorretivos da Igrejardquo pode ter sido outro intento no livro
de Mateus A comunidade passa por momentos seacuterios de dificuldades e o
evangelista escreve para corrigir a comunidade de fieacuteis No material negativo
encontram-se pistas para descobrir o desiacutegnio corretivo do Evangelho A exemplo
disso Mt 1722 ndash 1835 a comunidade de Mateus estava seriamente dividida e os
escacircndalos eram comuns Outro exemplo temos em Mt 13 onde a comunidade foi
atingida natildeo somente por problemas internos mas tambeacutem por uma inquietaccedilatildeo
espiritual que se manifestou no materialismo no secularismo e num desrespeito
pela lei150
para este autor a propaganda missionaacuteria eacute mais uma das finalidades do
Evangelho de Mateus Pois ele tem a intenccedilatildeo de demonstrar Jesus como o Messias
O Evangelho oferecia a possibilidade de ser usado como instrumento primordial na
missatildeo da Igreja aos judeus Com isso o destaque na realizaccedilatildeo em todo o
Evangelho pode oferecer suporte para esta hipoacutetese151
283 Warren Carter
W Carter afirma que eacute pouco convincente dizer que o Evangelho oferece uma
exposiccedilatildeo histoacuterica da vida de Jesus O Evangelho em si natildeo vecirc em primeiro lugar
a prioridade em informar sobre a historicidade de Jesus (Mt 724-27 1246-50)
Improvaacutevel tambeacutem seria a opiniatildeo que acredita ter o Evangelho um propoacutesito
missionaacuterio Eacute perceptiacutevel que o livro conteacutem um material que consiga alcanccedilar os
novos seguidores de Cristo No entanto basicamente o livro estaacute interessado pelos
disciacutepulos formadores aleacutem dos jaacute comprometidos152
O Evangelho de Mateus seria melhor entendido como tendo o propoacutesito
orientador para os que jaacute pertencem a Jesus como seus disciacutepulos ou seja a sua
importacircncia educativa e a orientaccedilatildeo comunitaacuteria O livro procura formar uma
149 HAGNER D A Matthew 1-13 p 58 150 HAGNER D A Matthew 1-13 p 58 151 HAGNER D A Matthew 1-13 p 59 152 CARTER W Evangelho de Satildeo Mateus p 23
45
comunidade de disciacutepulos Natildeo obstante isto eacute visto nos cinco blocos doutrinais do
Evangelho (Mt 5-7 10 13 18 24-25) Nesse sentido Carter afirma que
Esta funccedilatildeo mais formativa do que informativa e a orientaccedilatildeo comunitaacuteria tecircm
constituiacutedo um constante foco nos estudos do evangelho no uacuteltimo meio seacuteculo A
maioria dos estudiosos entende que o evangelho tem algum tipo de funccedilatildeo educativa
e pastoral embora debatam sobre se ele se preocupa com o repudiar outros grupos
cristatildeos definir as relaccedilotildees com o restante do judaiacutesmo ou distanciar os disciacutepulos
do judaiacutesmo153
Portanto o Evangelho de Mateus eacute propositalmente uma narrativa que forma
identidade que modela um estilo de vida Carter afirma que ldquoidentidade significa
aquilo que define o compromisso ou o aporte central de membros da audiecircncia de
Mateus a saber a sua lealdade para Jesus como agente de Deusrdquo 154
284 Isidoro Mazzarolo
I Mazzarolo compreende que o livro de Mateus eacute demasiado polecircmico no
que diz respeito agrave superaccedilatildeo dos esquemas do AT155 Em sua concepccedilatildeo a vontade
de Jesus eacute que seus ouvintes possam sair das tradiccedilotildees dos seus pais para uma nova
perspectiva que seria a formaccedilatildeo de uma nova comunidade firmada na justiccedila (Mt
520)156
O autor aqui acredita que o Evangelho de Mateus tem um objetivo principal
Ele afirma que ldquoo objetivo principal deste Evangelho eacute fazer com que os
convertidos e os que pretendiam sua conversatildeo sejam capazes de acreditar em Jesus
como o verdadeiro Messias o filho de Abraatildeo legiacutetimo segundo todas as profecias
e tradiccedilotildeesrdquo157 Nesse sentido o autor afirma que Jesus ldquomostra uma leitura e
hermenecircutica da Lei partindo da libertaccedilatildeo de todas as escravidotildeesrdquo e por isso a
nova comunidade precisa ser formada na justiccedila e separada dos padrotildees opressores
e conservadores de um ldquostatus quordquo cristalizados por geraccedilotildees158
153 CARTER W Evangelho de Satildeo Mateus p 24 154 CARTER W Evangelho de Satildeo Mateus p 25 155 MAZZAROLO I Evangelho de Mateus p 6 156 MAZZAROLO I Evangelho de Mateus p 6 157 MAZZAROLO I Evangelho de Mateus p 6 158 MAZZAROLO I Evangelho de Mateus p 6
46
285 D A Carson Douglas J Moo e Leon Morris
Estes trecircs autores acreditam que por natildeo ter sido delineado pelo evangelista
quais seriam os objetivos de seu Evangelho isto natildeo se caracteriza como obstaacuteculo
para que se faccedilam inferecircncias sobre os propoacutesitos que o Evangelho possivelmente
possui Por isso eles afirmam que
Pelo fato de Mateus natildeo incluir declaraccedilotildees diretas acerca de seu propoacutesito em
escrever o evangelho todas as tentativas de identificaacute-lo satildeo inferecircncias extraiacutedas
dos temas que ele aborda e de maneira como trata certos temas em comparaccedilatildeo como
os outros evangelhos tratam temas semelhantes Isso nos obriga a reconhecer
diversas limitaccedilotildees que se devem impor agrave busca de descobrir o propoacutesito do autor
Os temas dominantes em Mateus satildeo diversos complexos e ateacute certo ponto
contestados159
Pelo fato do Evangelho de Mateus ter uma grande quantidade de citaccedilotildees do
AT eles afirmam que alguns tecircm a opiniatildeo de que o evangelista escreve com o
desiacutegnio de instruir os crentes a lerem as Escrituras Sagradas160 Outra finalidade
do livro seria evangelizar os judeus talvez o propoacutesito de instruir os cristatildeos no
aperfeiccediloamento da apologeacutetica por causa dos embates contra o judaiacutesmo formativo
farisaico Possivelmente Mateus tenha escrito para refutar o antinomianismo
incipiente ou ateacute o paulinismo por seu livro explicar algumas leis Existia ainda a
possibilidade de tecirc-lo escrito para natildeo permitir que houvesse uma
institucionalizaccedilatildeo da Igreja Para alguns esses temas e ateacute outros teoricamente
poderiam ser listados no Evangelho para suprir as distintas dificuldades na
comunidade de entatildeo
286 Russell Norman Champlin
R N Champlin enumera ao menos dez propoacutesitos contidos no Evangelho de
Mateus sempre com a finalidade de instruir os cristatildeos que teriam esses escritos
em matildeos Desta forma seratildeo apresentados em forma de itens para que haja uma
visatildeo panoracircmica dessas finalidades oferecidas pelo autor
1 O propoacutesito do livro tem a ver com as muitas citaccedilotildees que Mateus faz do Antigo
Testamento e elas devem ser ao mesmo tempo literais e polecircmicas Com isso o autor
do evangelho objetiva demostrar um cristianismo mais elevado do que o judaiacutesmo
159 CARSON D A MOO D J MORRIS L Introduccedilatildeo ao Novo Testamento p 90 160 CARSON D A MOO D J MORRIS L Introduccedilatildeo ao Novo Testamento p 91-92
47
2 Caracterizar Jesus como o novo Moiseacutes tendo os seus ensinamentos como uma
espeacutecie de nova Lei
3 Consolar os cristatildeos que sofriam perseguiccedilatildeo possivelmente comandada pelo
imperador Domiciano caso tenha esse Evangelho sido escrito nesse periacuteodo
4 Edificar uma nova autoridade jaacute que Jerusaleacutem estava destruiacuteda E essa autoridade
recaiu sobre os ombros do Apoacutestolo Pedro
5 A necessidade de ter um conjunto de ensinamentos jaacute que havia falta de uma
estrutura sistemaacutetica dos ensinamentos de Jesus
6 Revelar aos judeus e gentios que Jesus eacute o Messias Salvador
7 Demonstrar uma escatologia que reflita a feacute dos cristatildeos em uma parusia de Cristo
bem iminente
8 Desenvolver a eacutetica do reino divino e de Jesus como o Rei desse reino
9 Suprir as necessidades de uma Igreja que parece estar crescendo
10 Apresentar a todos o poderio de Jesus ao curar os enfermos e operar milagres161
287 Broadus David Hale
Para B D Hale um dos desiacutegnios do livro de Mateus eacute ldquoorganizar e sintetizar
suas conclusotildees acerca de Jesus o Cristordquo 162 Segundo ele o Evangelho tem a
intenccedilatildeo de anunciar as obras de Deus realizadas por intermeacutedio de seu Filho amado
para perdoar e salvar o homem de sua condiccedilatildeo de pecador Sendo este Evangelho
escrito no periacuteodo da guerra judaico-romana o livro procura mostrar agrave comunidade
judaico-cristatilde que o Messias agora eacute o Jesus de Nazareacute o Servo Sofredor
Hale cita outros estudiosos que definem um tema principal no Evangelho de
Mateus e afirma que ldquoos estudiosos haacute muito tecircm argumentado sobre a maneira
como Mateus chega ao seu propoacutesito expresso O tema permanente do Evangelho
de Mateus eacute reconhecido como sendo o Reino do Ceacuteurdquo 163 Intriacutenseco a esse tema
estaacute o objetivo lituacutergico do Evangelho para suprir os imperativos da adoraccedilatildeo e da
leitura puacuteblica
Hale tambeacutem aborda o escopo ldquokerigmaacuteticordquo do Evangelho por seu fundo de
pregaccedilatildeo evangelismo e missotildees Ele afirma que o objetivo era de anunciar a
mensagem de Jesus aos judeus natildeo cristatildeos Ligado ao ldquokerigmardquo estatildeo os intentos
didaacuteticos e apologeacuteticos do presente Evangelho Didaacutetico afirma ele porque
Mateus estrutura o seu escrito de modo a facilitar o ensino tendo em vista que uma
grande parte da missatildeo de Jesus constitui em ensinar164 Com isso percebe-se que
161 CHAMPLIN R N Mateus ndash Marcos p 258 162 HALE B D Introduccedilatildeo ao Estudo do Novo Testamento p 93 163 HALE B D Introduccedilatildeo ao Estudo do Novo Testamento p 94 164 HALE B D Introduccedilatildeo ao Estudo do Novo Testamento p 95
48
Mateus escreve no sentido de orientar os judeu-cristatildeos a compreenderem o real
significado da pessoa de Jesus Cristo o Messias Sofredor
288 Conclusatildeo
Percorreu-se ateacute agora no presente capiacutetulo o processo de desenvolvimento
e o Sitz im Leben em que estaacute situado o Evangelho de Mateus Neste sentido foram
abarcadas as principais caracteriacutesticas do escrito mateano e de sua comunidade
cristatilde Eacute na comunidade mateana que compreende-se toda a importacircncia desse
Evangelho e eacute tambeacutem nela que percebemos o quanto esse escrito eacute da Igreja e para
a Igreja Desta forma toda a sua estrutura teologia e propoacutesito foram construiacutedos
para o crescimento e o desenvolvimento da comunidade de fieacuteis
Natildeo haacute como negar a importacircncia do Evangelho de Mateus na Igreja Primitiva
e tambeacutem na Igreja dos dias atuais pelos motivos do livro ter um conteuacutedo que se
preocupa com os ensinamentos de Jesus distribuiacutedos em seus discursos e
narrativas Eacute bem verdade que esse escrito foi um dos mais pesquisados nos tempos
passados e continua sendo estudado ainda hoje Os resultados das pesquisas feitas
em torno desse evangelista tecircm sido animadores Com eles podemos conhecer
melhor todo o contexto que envolve o Evangelho ouvindo opiniotildees de testemunhas
antigas e recentes
Com informaccedilotildees do contexto histoacuterico de Mateus compreende-se ser ele um
Evangelho que fez uso de documentos de outras fontes para elaborar os seus
escritos Por esse motivo observamos a grandeza das semelhanccedilas e diferenccedilas no
que tange aos Evangelhos sinoacuteticos165 Eacute possiacutevel tambeacutem perceber no escrito
mateano uma teologia proacutepria do autor e da comunidade seja pelo uso de termos
cristoloacutegicos que remetem ao conviacutevio deste grupo de fieacuteis seja de uma visatildeo de
Igreja e de salvaccedilatildeo tendo em vista que somente o autor faz menccedilatildeo da palavra
Igreja Portanto acredita-se que essas informaccedilotildees contribuem para o
desenvolvimento desta pesquisa com o objetivo de alcanccedilarmos o tema aqui
proposto Com isso passa-se para a proacutexima etapa deste trabalho onde faremos um
status quaestionis a respeito do tema ldquoJoatildeo o Batista o maior entre nascidos de
mulheresrdquo em Mt 112-15 com as contribuiccedilotildees necessaacuterias de vaacuterios autores para
165 KONINGS J Sinopse dos Evangelhos de Mateus Marcos e Lucas e da ldquofonte Q p 22-23
49
o desenvolvimento do proacuteximo capiacutetulo com a finalidade de responder ao que estaacute
sendo proposto aqui em nossa pesquisa
50
3 STATUS QUAESTIONIS
Neste terceiro capiacutetulo queremos observar nos comentaacuterios que escolhemos
para serem pesquisados e perceber de que maneira estes exegetas interpretaram a
periacutecope de Mt 112-15 especialmente a problemaacutetica do ldquomaior entre os nascidos
de mulheresrdquo e do ldquomenor no Reino do Ceacuteusrdquo no v 11 Nesse sentido aqui o nosso
foco se refere ao v 11 de nossa periacutecope e natildeo ao comentaacuterio da periacutecope inteira
de Mt 112-15 que analisaremos no proacuteximo capiacutetulo
31 Tomaacutes de Aquino
No seacutec XIII Tomaacutes de Aquino (1225-1274) o maior nome entre os
escolaacutesticos escreveu uma obra em latim intitulada Catena Aurea onde ele fez
uma exposiccedilatildeo contiacutenua sobre os Evangelhos a partir dos comentaacuterios dos Padres
da Igreja orientais e ocidentais Desta sua obra recebemos a traduccedilatildeo e publicaccedilatildeo
(2019)166 para a liacutengua portuguesa da parte referente ao Evangelho de Mateus
Nela ele analisa a periacutecope Mt 112-15 e a divide em quatro seccedilotildees denominadas
de lectio (leitura)167
Os comentaacuterios transcritos por Tomaacutes de Aquino dos vv 2-15 foram feitos
pelos Padres da Igreja Gregoacuterio Magno Ambroacutesio Joatildeo Crisoacutestomo Jerocircnimo e
Hilaacuterio de Poitiers Raacutebano Mauro Pseudo-Crisoacutestomo Agostinho e Remiacutegio de
Axuxere168 Nos vv 2-6 eles comentam a respeito do envio dos disciacutepulos de Joatildeo
e a sua pergunta sobre o Cristo169 Os Padres da Igreja aqui mencionados concordam
entre si e afirmam que Joatildeo Batista fez a pergunta natildeo porque tinha duacutevidas de que
Jesus seria o Cristo mas para que os disciacutepulos ldquotendo ocasiatildeo de ver seus milagres
e virtudes cressem nrsquoEle e aprendessem pela pergunta de seu mestrerdquo170 A
exemplo disso Joatildeo Crisoacutestomo diz que os disciacutepulos ldquopartiram completamente
convencidos a respeito de Cristo por causa dos milagres que viramrdquo171
166 AQUINO T Catena Aurea Exposiccedilatildeo contiacutenua sobre os Evangelhos vol I Evangelho de Satildeo
Mateus 167 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 389-398 168 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 389-392 169 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 389-391 170 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 390-391 171 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 392
51
Na exposiccedilatildeo dos vv 7-10 os Padres da Igreja comentam a respeito do
testemunho de Jesus sobre a pessoa de Joatildeo Batista e compreendem a importacircncia
da grandeza de Joatildeo e o seu papel como precursor do Messias172 Para eles Joatildeo
Batista natildeo era um homem flexiacutevel e nem inconstante e muito menos um homem
vestido com vestes finas173 Gregoacuterio Magno afirma que ldquocomo precursor Joatildeo eacute
portanto mais que profeta porque predisse o que viria depois dele e o apontou
revelando-ordquo174 Para Joatildeo Crisoacutestomo o Batista eacute maior do que os demais profetas
por ldquoestar perto de Cristordquo175
Os comentaacuterios feitos por alguns Padres da Igreja sobre os vv 12-15 dizem
respeito ao Reino dos Ceacuteus sofrer violecircncia e a relaccedilatildeo que haacute entre a pessoa de
Joatildeo Batista com o profeta Elias176 Para Gregoacuterio Magno ldquoo Reino dos Ceacuteus se
refere ao trono celestial ao qual quando os pecadores manchados com alguma maacute
accedilatildeo retornam mediante a penitecircncia e corrigem-se a si mesmosrdquo177 e com isso
ingressam no Reino como saqueadores e ldquoarrebatam com violecircncia o Reino dos
Ceacuteusrdquo178 Jerocircnimo afirma que ldquoo Reino dos Ceacuteus padece violecircncia e que satildeo os
que se violentam que o tomamrdquo179 Nessa acepccedilatildeo Jerocircnimo observa que os servos
de Deus eacute que devem ldquofazer violecircncia a si mesmosrdquo para chegarem ao Reino dos
Ceacuteus e ldquopossuiacute-lo por uma virtude que natildeo temos por naturezardquo180
No que se refere ao Batista ter sido chamado de Elias Jerocircnimo diz que natildeo
se deve ter a ldquomesma compreensatildeo que tinham os filoacutesofos e alguns hereges que
sustentam a metempsicose isto eacute a migraccedilatildeo da alma de um corpo para o outrordquo181
Segundo Jerocircnimo Joatildeo Batista eacute Elias porque teve a ldquomesma graccedila ou a mesma
medida do Espiacuterito Santordquo182 Joatildeo Crisoacutestomo afirma a respeito de Joatildeo Batista ser
Elias como ldquoaquele eacute este e este eacute aquelerdquo visto que ambos foram precursores183
Chegamos agora ao que mais nos interessa saber sobre os comentaacuterios de
alguns Padres da Igreja a respeito de Joatildeo Batista ser o ldquomaior entre os nascidos de
172 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 392-395 173 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 394 174 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 394 175 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 395 176 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 397-398 177 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 397 178 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 397 179 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 397 180 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 397 181 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 398 182 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 398 183 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 398
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mulheresrdquo e o ldquomenor no Reino dos Ceacuteus ser maior do que Joatildeordquo em Mt 1111
Joatildeo Crisoacutestomo afirma que Jesus ldquonatildeo se contentou com a recomendaccedilatildeo de Joatildeo
que fez anteriormente citando o testemunho do profeta mas expocircs a proacutepria
opiniatildeo que tem delerdquo184 e por isto o Mestre diz que ldquonatildeo veio ao mundo outro
maior que Joatildeo Batistardquo para designar a grandeza do precursor do Messias185
Para Raacutebano Mauro o texto de Mt 1111 diz que Joatildeo eacute o maior ldquoentre os
nascidos de Mulherrdquo e natildeo ldquode virgemrdquo186 e isto jaacute demonstra que o nascido da
virgem eacute maior do aquele que nasce de mulher pois Raacutebano Mauro afirma ldquoa
palavra mulher significa propriamente a que teve relaccedilotildees conjugaisrdquo e o termo
ldquomulherrdquo em Jo 1926 para Maria apenas foi usado para indicar o seu sexo187
Segundo Jerocircnimo Joatildeo Batista ldquoeacute superior a todos os homens nascidos de
mulheres e do concubinato dos homensrdquo188 No entanto o Batista natildeo eacute o que nasceu
de ldquouma virgem e do Espiacuterito Santordquo e este nascimento virginal por si soacute faz com
que Jesus seja maior do que Joatildeo Batista189 Para este Padre da Igreja as palavras
de Jesus ldquonatildeo puseram Joatildeo acima dos demais profetas e patriarcas e de todos os
homens mas iguala-os a Joatildeordquo190 Pois mesmo eles natildeo sendo maiores do que Joatildeo
ldquonatildeo decorre imediatamente que ele seja maior que os outrosrdquo191
No que se refere a Joatildeo Batista ser o ldquomenor no Reino dos Ceacuteusrdquo temos a
seguinte afirmaccedilatildeo de Pseudo-Crisoacutestomo ldquopenso que todos os santos em relaccedilatildeo
agrave sutileza do juiacutezo divino satildeo maiores ou menores entre si donde entendemos que
aquele que natildeo tem ningueacutem que lhe seja maior eacute o maior de todosrdquo192 Para Joatildeo
Crisoacutestomo o dito de Mt 1111c seria uma correccedilatildeo do que Jesus havia dito antes
para que ldquonatildeo houvesse excesso de elogios e natildeo levasse os judeus ao erro de
preferirem Joatildeo a Cristordquo193 Ele continua afirmando que Jesus ao dizer ldquono Reino
dos Ceacuteusrdquo estaacute se referindo ao que pertence ldquoagraves coisas espirituais e em tudo o que
184 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 396 185 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 396 186 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 396 187 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 396 188 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 396 189 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 396 190 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 396 191 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 396 192 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 396 193 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 396
53
estaacute relacionado agraves coisas do Ceacuteurdquo194 e eacute provaacutevel que Cristo esteja citando aqui os
apoacutestolos
Agostinho de Hipona possibilita duas possiacuteveis interpretaccedilotildees de Mt
1111c195 A primeira interpretaccedilatildeo eacute que Jesus pode ter chamado de ldquoReino dos
Ceacuteus aquele que ainda natildeo recebemos como o habitam os anjos o menor deles eacute
maior que qualquer justo que carrega um corpo corruptiacutevel sobre a terrardquo196 A
segunda interpretaccedilatildeo eacute que o ldquoReino dos Ceacuteus pode-se entender a Igreja de quem
satildeo filhos todos os justos desde o princiacutepio do mundo ateacute os dias atuaisrdquo197
Para Jerocircnimo o ldquomenor no Reino dos Ceacuteusrdquo eacute todo fiel que jaacute se encontra
com o Senhor em sua eternidade e por isso eacute maior do que todos os servos de
Deus que ainda estatildeo nas lutas e batalhas da caminhada cristatilde pois Jerocircnimo afirma
que ldquouma coisa eacute cingir a coroa da vitoacuteria e outra ainda lutar na linha de
batalhardquo198
32 Randolph Vincent Greenwood Tasker
Em 1961 Tasker escrevia o seu comentaacuterio ao Evangelho de Mateus na
liacutengua inglesa Este comentaacuterio foi traduzido em portuguecircs e publicado no Brasil
em 1980 em uma coleccedilatildeo de introduccedilatildeo e comentaacuterio do Novo Testamento199 O
autor divide a periacutecope de Mt 112-15 em duas partes a primeira parte abarca os
vv 4-6 onde Jesus faz a sua reacuteplica aos enviados de Joatildeo Batista e a segunda parte
consiste nos vv 7-15 que traz um ensinamento ao povo a respeito do Batista e o
lugar que ele ocupava na dispensaccedilatildeo divina200
Tasker vai direto ao ponto no que se refere a Joatildeo Batista Para ele o Batista
eacute o ldquomaior entre os nascidos de mulheresrdquo por causa de seu ministeacuterio de precursor
imediato do Messias201 Ele eacute maior do que os profetas que apenas prenunciaram a
vinda do Messias Por isso a sua importacircncia eacute singular E ainda ele eacute mais do que
profeta como eacute asseverado no v 9 Os profetas que antecederam ao Batista natildeo
194 AQUINO T Catena Aurea Exposiccedilatildeo contiacutenua sobre os Evangelhos vol 1 Evangelho de Satildeo
Mateus p 396 195 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 396 196 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 396 197 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 396 198 AQUINO T Catena Aurea vol I Evangelho de Satildeo Mateus p 396 199 TASKER R V G Mateus 200 TASKER R V G Mateus p 87 201 TASKER R V G Mateus p 87
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viram e nem conheceram o Messias enquanto Joatildeo Batista foi contemporacircneo do
Messias e teve a prerrogativa de testemunhar acerca da pessoa de Cristo202
Para este estudioso a grandeza de Joatildeo Batista estaacute condicionada ateacute a
chegada do Reino dos Ceacuteus onde o menor no Reino eacute maior do que ele Sem
duacutevida o Batista era grande mas natildeo era suacutedito do Reino que o Messias haveria de
implantar Joatildeo eacute de certa forma o ponto final da profecia veterotestamentaacuteria
poreacutem natildeo pocircde desfrutar os benefiacutecios proporcionados por esse Reino pois sua
missatildeo implicava a sua morte como maacutertir antes de serem alcanccediladas as
benevolecircncias do Reino 203 No entanto Joatildeo Batista pode ser considerado menos
abenccediloado do que aqueles humildes servos e disciacutepulos que jaacute vivem na
dispensaccedilatildeo do Reino dos Ceacuteus implantado pelo Messias204
33 Wolfgang Trilling
Em 1962 Trilling escrevia o seu comentaacuterio ao evangelho de Mateus na
liacutengua alematilde no periacuteodo em que estava tendo iniacutecio o Conciacutelio Vaticano II205 Este
mesmo comentaacuterio foi traduzido e publicado em portuguecircs no Brasil em 1968 O
autor divide a periacutecope de Mt 112-15 em duas partes a primeira parte consiste nos
vv 2-6 (A pergunta do Batista) e a segunda parte consiste nos vv 7-15 (O
testemunho de Jesus sobre Joatildeo Batista)206 Ele afirma e defende em seu
comentaacuterio que Joatildeo Batista eacute o ldquomaior entre os nascidos de mulheresrdquo porque traz
sobre si a imagem do portador da salvaccedilatildeo aquele que endireita o caminho do
Senhor207
Para Trilling Joatildeo Batista eacute como um arauto destemido Ele tambeacutem defende
que a grandeza do Batista testemunhada por Jesus no v 11 jaacute eacute evidente no v 9
quando o mestre de modo elogioso afirma que o Batista eacute ldquomais do que um
profetardquo e isto natildeo quer dizer que ele eacute apenas um mensageiro para o povo mas
sim que ele eacute como o mensageiro da salvaccedilatildeo figura salviacutefica208 Isto natildeo lhe foi
202 TASKER R V G Mateus p 87 203 TASKER R V G Mateus p 92 204 TASKER R V G Mateus p 92 205 TRILLING W O Evangelho segundo Mateus O Conciacutelio Vaticano II teve o seu iniacutecio no
segundo semestre de 1962 e o seu teacutermino em oito de dezembro de 1965 206 TRILLING W O Evangelho segundo Mateus pp 258-260 207 TRILLING W O Evangelho segundo Mateus p 261 208 TRILLING W O Evangelho segundo Mateus p 261
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imposto por causa de sua postura asceacutetica mas a sua atitude eacute maior do que a dos
outros profetas e isto lhe conferiu uma importacircncia iacutempar porque ele tinha sido
chamado a preparar o caminho do Messias209
Este autor ao comentar o v 11 assevera que Joatildeo Batista natildeo eacute apenas um
grande vulto como precursor no seu ministeacuterio mas tambeacutem como homem entre
os nascidos de mulheres natildeo houve maior210 O elogio que Jesus fez a respeito de
Joatildeo Batista afirmando que ele era maior entre os nascidos de mulheres parece ter
sido um elogio extravagante e exagerado feito por Jesus Poreacutem era esse mesmo o
propoacutesito do mestre ele queria elevar a figura do Batista acima de todos os seus
contemporacircneos e tambeacutem colocaacute-lo acima de todos os homens do passado211
Para Trilling a sentenccedila que vem a seguir potildee limite ao que foi dito
anteriormente a respeito de Joatildeo Na verdade o Batista eacute grande poreacutem sua
grandeza eacute insignificante comparado agrave nova idade ao Reino dos Ceacuteus212 ldquoo menor
no Reino dos Ceacuteus eacute maior do que elerdquo (Mt 1111) Para o autor a nova idade jaacute se
iniciou o Reino dos Ceacuteus avanccedila e os que fazem parte desse novo tempo satildeo
maiores do que todos aqueles que viveram e vieram antes destes e isto inclui o
proacuteprio Joatildeo Batista Ou seja na era do Reino dos Ceacuteus o homem que vive nesse
tempo o homem da graccedila o homem remido estaacute em uma maior posiccedilatildeo do que
Joatildeo Batista que eacute o maior entre os nascidos de mulheres213
34 Josef Schmid
Em 1965 Schmid escrevia o seu comentaacuterio ao Evangelho de Mateus em
alematildeo Esta mesma obra foi traduzida para a liacutengua espanhola e publicada na
Espanha em 1967214 sendo esta a traduccedilatildeo que usamos aqui em nosso trabalho
Este autor delimita a periacutecope de Mt 112-19 e a divide em duas partes a primeira
parte eacute formada pelos vv 2-6 (a pergunta do Batista) e a segunda parte abarca os
vv 7-19 (testemunho de Jesus sobre o Batista)215
209 TRILLING W O Evangelho segundo Mateus p 261 210 TRILLING W O Evangelho segundo Mateus p 261 211 TRILLING W O Evangelho segundo Mateus p 262 212 TRILLING W O Evangelho segundo Mateus p 262 213 TRILLING W O Evangelho segundo Mateus p 263 214 SCHMID J El Evangelio seguacuten San Mateo 215 SCHMID J El Evangelio seguacuten San Mateo p 273-276
56
Ao comentar Mt 1111 Schmid vai direto agrave questatildeo por noacutes abordada e afirma
que Joatildeo Batista eacute o ldquomaior entre os nascidos de mulheresrdquo por causa do seu papel
uacutenico de precursor imediato do caminho do Senhor na obra da redenccedilatildeo216 O autor
considerou a grandeza do Batista jaacute quando Jesus asseverou que o mensageiro do
deserto eacute ldquomais do que um profetardquo e verdadeiramente segundo ele Joatildeo foi o
profeta que havia sido predito por outro profeta (Ml 3123)217
Para Schmid todos os homens que apareceram ateacute aquele momento da
histoacuteria tiveram a sua importacircncia no entanto Joatildeo eacute considerado maior do que
todos eles e esta declaraccedilatildeo magnificente a respeito da grandeza de Joatildeo Batista no
v 11 ldquonatildeo surgiu entre os nascidos de mulheres maior do que Joatildeordquo saiu dos
proacuteprios laacutebios de Jesus218
Apesar desta maravilhosa declaraccedilatildeo da grandeza do Batista o proacuteprio Jesus
tambeacutem coloca uma imposiccedilatildeo a ela ou seja o Mestre potildee um ldquolimite de
importacircnciardquo219 porque uma nova ordem iniciou e o Batista natildeo pertence a essa
nova ordem Para Schmid a chegada do Reino dos Ceacuteus eacute a abertura desta nova
ordem que apesar de ter uma ldquoessecircncia escatoloacutegicardquo jaacute comeccedilou a operar as suas
becircnccedilatildeos salviacuteficas no tempo presente220 Segundo este estudioso Joatildeo Batista natildeo
pertence a esse novo tempo da manifestaccedilatildeo da presenccedila de Jesus mesmo sendo
aquele que anunciou a vinda do Messias221 Nesse sentido para Schmid o Batista
faz parte da ldquovelha ordemrdquo Ainda assim com sua consideraacutevel condiccedilatildeo de
destaque ele estaacute em uma posiccedilatildeo ldquodepois do uacuteltimo daqueles que fazem parte da
nova ordemrdquo ou seja o menor no Reino dos Ceacuteus eacute maior do que Joatildeo Batistardquo222
35 Jean Radermakers
Em 1972 Radermakers escrevia o seu comentaacuterio ao Evangelho de Mateus
na liacutengua italiana numa perspectiva de leitura teoloacutegico-pastoral223 O autor a
exemplo de outros tambeacutem divide a periacutecope de Mt 112-15 em duas partes a
216 SCHMID J El Evangelio seguacuten San Mateo p 278 217 SCHMID J El Evangelio seguacuten San Mateo p 278 218 SCHMID J El Evangelio seguacuten San Mateo p 278 219 SCHMID J El Evangelio seguacuten San Mateo p 278 220 SCHMID J El Evangelio seguacuten San Mateo p 278 221 SCHMID J El Evangelio seguacuten San Mateo p 278 222 SCHMID J El Evangelio seguacuten San Mateo p 278 223 RADERMAKERS J Lettura pastorale del vangelo di Matteo
57
primeira parte consiste nos vv 2-6 (a pergunta de Joatildeo Batista e as obras de
Cristo) e a segunda parte constitui-se dos vv 7-15 (Joatildeo Batista profeta
mensageiro do reino e os violentos)224
Rademakers defende em seu comentaacuterio que Joatildeo Batista eacute o ldquomaior entre os
nascidos de mulheresrdquo (Mt 1111) porque sobre ele estava a expectativa de Israel
exteriorizada pela tradiccedilatildeo profeacutetica e que nele alcanccedilou o seu cumprimento225 Este
estudioso afirma que Joatildeo Batista estaacute inserido em uma linha de continuidade com
os profetas do Antigo Testamento e que todos eles prepararam o caminho para o
Messias226 No entanto existe uma ruptura que Joatildeo experimentou em sua carne
por meio de sua duacutevida e seu aprisionamento227
Para este autor o Reino dos Ceacuteus que se aproximou dos homens e mulheres
em Jesus eacute uma novidade profundamente radical Natildeo obstante o menor no Reino
dos Ceacuteus ou seja os disciacutepulos satildeo maiores do que Joatildeo Batista228 Nesse sentido
passa-se da realidade humana a posiccedilatildeo de uma crianccedila nascida de uma mulher
para a realidade filial a condiccedilatildeo de um filho do Pai que somente os ldquopequeninosrdquo
podem compreender (Mt 1125)229
Para Radermakers tanto o Batista quanto os ouvintes de Jesus e todos os
leitores do Evangelho de Mateus precisam perceber e descobrir que Jesus
desconsiderava toda a concepccedilatildeo meramente humana do que eacute grande e pequeno230
Pois ateacute entatildeo o que havia era a ideia de que Moiseacutes fosse o primeiro e o maior de
todos os profetas (Dt 3410) poreacutem na interpretaccedilatildeo de Jesus Joatildeo Batista parece
ser maior do que Moiseacutes na perspectiva apresentada em Dt 1815-18231 Nesse
sentido esta ideia vai aleacutem pois a verdadeira grandeza eacute a pequenez a humilhaccedilatildeo
que se apresenta na atitude de Jesus Para o autor o verdadeiro ldquomenorrdquo no Reino
dos Ceacuteus eacute o proacuteprio Jesus em quem reside toda a autoridade mas natildeo toma sobre
si as caracteriacutesticas de um juiz irado antes assume as condiccedilotildees de um servo se
humilha se envolve com o homens e sofre com eles232
224 RADERMAKERS J Lettura pastorale del vangelo di Matteo p 198-199 225 RADERMAKERS J Lettura pastorale del vangelo di Matteo p 199 226 RADERMAKERS J Lettura pastorale del vangelo di Matteo p 199 227 RADERMAKERS J Lettura pastorale del vangelo di Matteo p 199 228 RADERMAKERS J Lettura pastorale del vangelo di Matteo p 199 229 RADERMAKERS J Lettura pastorale del vangelo di Matteo p 199 230 RADERMAKERS J Lettura pastorale del vangelo di Matteo p 199 231 RADERMAKERS J Lettura pastorale del vangelo di Matteo p 199 232 RADERMAKERS J Lettura pastorale del vangelo di Matteo p 199
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36 Javier Pikaza
Em 1974 Pikaza escrevia na liacutengua espanhola a sua teologia e comentaacuterio
ao Evangelho de Mateus Este comentaacuterio foi traduzido em portuguecircs e publicado
no Brasil em 1978233 Ele diferentemente dos demais autores natildeo divide em partes
a periacutecope de Mt 112-15 mas a coloca em uma grande seccedilatildeo inteira que vai de Mt
112ndash1620234 Conforme este autor toda essa seccedilatildeo estaacute centralizada na pergunta
de Joatildeo Batista ldquoeacutes tu o que haacute de vir ou devemos esperar outrordquo235 Neste
comentaacuterio o autor eacute sucinto em afirmar que Joatildeo Batista eacute o ldquomaior entre os
nascidos de mulheresrdquo (Mt 1111) por causa de seu chamado de anunciar a chegada
do Reino dos Ceacuteus e nisto ele se difere de todos os demais profetas
veterotestamentaacuterios236
Para Pikaza a pergunta de Joatildeo Batista provoca uma reaccedilatildeo dupla em Jesus
Primeiro porque ele responde ao Batista revelando a sua proacutepria identidade como
o Messias esperado que somente os pequenos o aceitaram e o seguiram (Mt 114-
6) Segundo porque Jesus tambeacutem revelou a pessoalidade de Joatildeo Batista como o
profeta que prepara o caminho do Messias e que dispotildee os homens e as mulheres
para o grande e definitivo juiacutezo divino (Mt 117-9)237
O autor ao comentar a respeito da grandeza de Joatildeo Batista no v 11 afirma
que a distinccedilatildeo decisiva dele estaacute em fazer parte com Jesus do chamado em que
Deus proclama o Reino O Batista jejua e este eacute o siacutembolo da austeridade do juiacutezo
Jesus come e bebe e isto eacute o siacutembolo da nova realidade do Reino e nisto percebe-
se a diferenccedila entre a grandeza de Joatildeo Batista e Jesus238
37 Benocircni Lemos
Em 1974 era escrito em liacutengua francesa um comentaacuterio ao Evangelho de
Mateus elaborado por diversos autores239 Esta mesma obra foi traduzida em
portuguecircs e publicada no Brasil em 1985 Neste comentaacuterio a periacutecope de Mt 112-
233 PIKAZA J Teologia de Mateus 234 PIKAZA J Teologia de Mateus p 68 235 PIKAZA J Teologia de Mateus p 70 236 PIKAZA J Teologia de Mateus p 70 237 PIKAZA J Teologia de Mateus p 70 238 PIKAZA J Teologia de Mateus p 70 239 LEMOS B Leitura do Evangelho de Mateus
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15 natildeo eacute dividida em partes mas faz parte de uma unidade maior que se estende
desde o v 2 ateacute o v 19 de Mt 11 com a apresentaccedilatildeo de Joatildeo Batista e a sabedoria
manifestada por suas obras240 Esta obra vai direto ao que interessa Ela afirma que
o Batista eacute o ldquomaior entre os nascidos de mulheresrdquo (Mt 1111) por ser o
mensageiro precursor da chegada do Messias aquele enviado que prepara e
endireita o caminho do que haacute de vir241
No seu comentaacuterio do v 11 jaacute se percebe a dimensatildeo da grandeza de Joatildeo
Batista ligado ao elogio extraordinaacuterio feito por Jesus no v 9 ldquoele eacute mais do que
um profetardquo ele eacute ldquoo maior entre os nascidos de mulheresrdquo v 11242 Esta afirmaccedilatildeo
demonstra a superioridade em grandeza do Batista concernente a todos os que lhe
antecederam Eles eram importantes por serem mensageiros do Messias poreacutem
Joatildeo era o precursor que anunciava com mais abrangecircncia a chegada do Messias
que seria como o temiacutevel juiz243
Eacute evidente que Jesus declarou a grandeza do Batista mas ponderou a elevaccedilatildeo
dele ateacute a chegada do Reino Jesus afirmou que o Batista eacute grande entretanto o
menor no Reino dos Ceacuteus eacute maior do que ele Essa comparaccedilatildeo entre o maior e o
menor natildeo foi feita por Jesus com o objetivo de confrontar duas pessoas Joatildeo
Batista e os que entram no Reino dos Ceacuteus mas sim duas ordens de grandeza244
A primeira diz respeito agrave grandeza do Batista que eacute terrena e por isso ele eacute o
maior entre os nascidos de mulheres ocupando assim o primeiro lugar A segunda
diz respeito aos que estatildeo no Reino que satildeo os menores poreacutem satildeo maiores do que
Joatildeo Batista por participarem dos privileacutegios do Reino dos Ceacuteus onde a grandeza
do arauto do deserto natildeo tem comparaccedilatildeo245
Natildeo obstante os autores desta obra afirmam que a atenccedilatildeo natildeo se deteacutem em
Joatildeo partindo dele ela abrange ateacute a chegada do Reino dos Ceacuteus que estaacute se
aproximando e das qualidades de existecircncia completamente novas que este reino
traz para aqueles que participaratildeo dele Por esse motivo natildeo eacute imperioso admirar o
Batista mas sim trabalhar para ter parte no Reino dos Ceacuteus246
240 LEMOS B Leitura do Evangelho de Mateus p 57 241 LEMOS B Leitura do Evangelho de Mateus p 57 242 LEMOS B Leitura do Evangelho de Mateus p 57 243 LEMOS B Leitura do Evangelho de Mateus p 57 244 LEMOS B Leitura do Evangelho de Mateus p 57 245 LEMOS B Leitura do Evangelho de Mateus p 57 246 LEMOS B Leitura do Evangelho de Mateus p 57
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38 David Michael Stanley
No ano de 1975 Stanley escrevia o seu comentaacuterio ao Evangelho de Mateus
fazendo uma anaacutelise de seus capiacutetulos e versiacuteculos247 O autor tambeacutem divide a
periacutecope de Mt 112-15 em duas partes a primeira parte compreende os vv 2-6
(indagaccedilatildeo do Batista) a segunda parte consta dos vv 7-15 (funccedilatildeo de Jesus na
histoacuteria da salvaccedilatildeo)248 Stanley afirma de forma concisa que Joatildeo Batista eacute o
ldquomaior entre os nascidos de mulheresrdquo (Mt 1111) devido a sua missatildeo de precursor
e arauto do Senhor mas ele foi na verdade o que anunciou a chegada do Messias
e o conheceu distinguindo-se assim de todos os mensageiros que o
antecederam249
O autor em seu comentaacuterio agrave periacutecope de Mt 112-15 jaacute percebe a grandeza
de Joatildeo Batista no v 9 Ele delineia a ocasiatildeo em que Jesus testemunha a respeito
do Batista para revelar o sentido da missatildeo dele e definir esta missatildeo ldquoeacute muito
mais do que um profetardquo250 O Batista eacute mais do que um profeta porque ele era o
arauto de Cristo o precursor do Messias que foi reconhecido como Elias no
judaiacutesmo tardio e nesse sentido eacute maior do que os profetas que o antecederam251
Segundo Stanley nenhum homem na histoacuteria de Israel foi melhor ou maior
do que Joatildeo Batista Poreacutem o autor relaciona a sua grandeza aos tempos do Antigo
Testamento agrave classe dos profetas periacuteodo em que as profecias ainda natildeo tinham
sido realizadas e natildeo o liga ao periacuteodo do Novo Testamento onde os tempos satildeo
dos cumprimentos das profecias e das suas realizaccedilotildees252 Nisto a grandeza do
Batista fica condicionada a um tempo antes da inauguraccedilatildeo do Reino dos Ceacuteus
implantado por Jesus entre os homens e mulheres formando um novo tempo de
salvaccedilatildeo e becircnccedilatildeo para os que vivem nele e onde o menor e mais insignificante
membro da Igreja eacute maior do que Joatildeo253
247 STANLEY D M Evangelho de Mateus 248 STANLEY D M Evangelho de Mateus pp 86-87 249 STANLEY D M Evangelho de Mateus p 87 250 STANLEY D M Evangelho de Mateus p 87 251 STANLEY D M Evangelho de Mateus p 87 252 STANLEY D M Evangelho de Mateus p 88 253 STANLEY D M Evangelho de Mateus p 88
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39 Rinaldo Fabris e Giuseppe Barbaglio
Em 1978 Giuseppe Barbaglio escrevia um comentaacuterio ao Evangelho de
Mateus em liacutengua italiana Este mesmo comentaacuterio foi traduzido para o portuguecircs
e publicado no Brasil em 1990 Esta obra eacute o primeiro volume de uma seacuterie de
comentaacuterios da Coleccedilatildeo Biacuteblica Loyola254 Barbaglio tambeacutem concorda em dividir
a periacutecope de Mt 112-15 em duas partes a primeira parte consiste nos vv 2-6
(resposta ao Batista) e a segunda parte compotildee-se dos vv 7-15 (a grandeza de
Joatildeo)255
Este estudioso sustenta categoricamente que Joatildeo Batista eacute o ldquomaior entre os
nascidos de mulheresrdquo (Mt 1111) porque foi o precursor do Messias Ele era o
mensageiro enviado por Deus que devia preparar o caminho do Messias256
Segundo ele a grandeza de Joatildeo Batista tem a sua referecircncia inicial no v 9 quando
os ouvintes satildeo interrogados por Jesus e como resposta o proacuteprio Jesus assume a
opiniatildeo puacuteblica contudo ele acentua que o Batista eacute mais do que um profeta257
Para Barbaglio o v 11 eacute um dito independente e que possivelmente pode ser
reivindicada a sua paternidade ao Mestre tendo em vista que a comunidade cristatilde
primitiva natildeo exaltaria demasiadamente a figura de Joatildeo Batista oposto pela seita
dos joanitas agrave proacutepria pessoa de Cristo como o vemos aqui em Mt 1111
representada pela comunidade mateana e em Lc 728258
No que diz respeito agrave grandeza de Joatildeo Batista este autor afirma que natildeo eacute o
embate entre duas pessoas que estaacute em jogo aqui mas sim duas eacutepocas da histoacuteria
da salvaccedilatildeo A primeira eacutepoca eacute o tempo da espera que pode ser vista em todo o
processo do Antigo Testamento E a segunda eacutepoca eacute o tempo do cumprimento das
promessas que foram feitas em eras passadas259 O cumprimento dessas promessas
inicia-se com a presenccedila do Messias esperado que tambeacutem inaugurou o tempo
escatoloacutegico Nesse sentido natildeo haacute como negar a grandeza do Batista Contudo ele
faz parte do periacuteodo preparatoacuterio isto eacute ele pertence ao tempo da espera260
254 BARBAGLIO G R FABRIS Os Evangelhos (I) 255 BARBAGLIO G FABRIS R Os Evangelhos (I) p 189-192 256 BARBAGLIO G FABRIS R Os Evangelhos (I) p 191 257 BARBAGLIO G FABRIS R Os Evangelhos (I) p 1891 258 BARBAGLIO G FABRIS R Os Evangelhos (I) p 191-192 259 BARBAGLIO G FABRIS R Os Evangelhos (I) p 192 260 BARBAGLIO G FABRIS R Os Evangelhos (I) p 192
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310 Angelo Lancellotti
No ano de 1980 Lancellotti escrevia o seu comentaacuterio ao Evangelho de
Mateus261 Ele em conformidade com outros autores dividiu a periacutecope de Mt
112-15 em duas partes a primeira parte consiste nos vv 2-6 (embaixada de Joatildeo
Batista) e a segunda parte compotildee-se dos vv 7-15 (elogio de Joatildeo Batista)262
Ao comentar a respeito da grandeza de Joatildeo Batista Lancellotti assevera que
ele eacute o ldquomaior entre os nascidos de mulheresrdquo (Mt 1111) pelo fato de ser o
precursor que prepararia o caminho do Messias263 Aleacutem disso este autor natildeo soacute
percebe mas tambeacutem concorda que essa grandeza jaacute estaacute presente no v 9 onde haacute
o elogio direto de Jesus sobre a identidade do Batista afirmando que ele eacute mais do
que um profeta Para ele a grandeza de Joatildeo natildeo eacute apenas pela sua vida austera e
pele sua pregaccedilatildeo de penitecircncia Muito mais do que isso ele eacute aquele que teve a
missatildeo de levar a cabo a fase preparatoacuteria do Antigo Testamento abrindo os novos
tempos Ele era o que anunciava a salvaccedilatildeo e de certa maneira a trazia tambeacutem264
Para o autor a expressatildeo ldquoos nascidos de mulheresrdquo eacute uma circunlocuccedilatildeo
tiacutepica oriental com que se indica o gecircnero humano e esta mesma expressatildeo foi
usada para indicar o quatildeo humano era o Batista265 A excelecircncia de Joatildeo como o
predecessor do Messias lhe conferiu um status acima de todos os personagens
nascidos de mulheres que anteriormente estavam aguardando ou preparando a
vinda do Messias266
Ao comentar a respeito do menor no Reino dos Ceacuteus o autor percebe que
Jesus colocou um limite consideraacutevel ao que foi afirmado sobre a primazia do
Batista Ou seja o autor propotildee com a ajuda da sintaxe semiacutetica que eacute atestada
diversas vezes na linguagem do Novo Testamento que o v 11 poderia ser traduzido
da seguinte forma ldquoEmbora entre os nascidos de mulher natildeo tenha aparecido um
maior todavia o menor etcrdquo267 Desta forma Joatildeo Batista eacute considerado a uacuteltima
e a mais importante manifestaccedilatildeo do Antigo Testamento Poreacutem no reino
261 LANCELLOTTI A Comentaacuterio ao Evangelho de Satildeo Mateus 262 LANCELLOTTI A Comentaacuterio ao Evangelho de Satildeo Mateus p 110-112 263 LANCELLOTTI A Comentaacuterio ao Evangelho de Satildeo Mateus p 112 264 LANCELLOTTI A Comentaacuterio ao Evangelho de Satildeo Mateus p 112 265 LANCELLOTTI A Comentaacuterio ao Evangelho de Satildeo Mateus p 112 266 LANCELLOTTI A Comentaacuterio ao Evangelho de Satildeo Mateus p 112 267 LANCELLOTTI A Comentaacuterio ao Evangelho de Satildeo Mateus p 112
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messiacircnico ele surge como ldquoinferiorrdquo porque o homem que estaacute na nova era da
graccedila encontra-se em relaccedilatildeo ao Batista uma posiccedilatildeo acima268
311 Juan Mateos e Fernando Camacho
Em 1981 Juan Mateos e Fernando Camacho escreviam em liacutengua espanhola
um comentaacuterio ao Evangelho de Mateus Esta mesma obra foi traduzida em
portuguecircs e publicada no Brasil em 1993269 Este comentaacuterio tem um teor exegeacutetico
e tambeacutem busca transmitir o sentido teoloacutegico de cada texto de Mateus nele contido
Aqui eles tambeacutem consideraram a periacutecope de Mt 112-15 em duas partes A
primeira parte baseia-se nos vv 2-6 (Joatildeo Batista estando na prisatildeo) e a segunda
parte compreende os vv 7-15 (Jesus daacute a resposta aos disciacutepulos de Joatildeo
Batista)270
Estes estudiosos ao fazerem a exegese de Mt 112-15 percebem e afirmam
que a sentenccedila anunciada por Jesus no v 11 a respeito de Joatildeo Batista ser o ldquomaior
entre os nascidos de mulheresrdquo estaacute ligada ao seu ministeacuterio de precursor do
Messias271 Segundo eles eacute por esse motivo que o Batista se tornou o maior de todos
os personagens histoacutericos que o antecederam
Para Mateos e Camacho a grandeza do mensageiro do deserto jaacute estaacute sendo
expressamente mencionada no v 7 e continua no v 9 com a consideraccedilatildeo de que
o Batista eacute mais do que um profeta272 Aqui tambeacutem se entende que a grandeza do
Batista estaacute vinculada agrave sua missatildeo de apontar diretamente para o Messias pois ele
eacute o mensageiro que prepara o caminho da libertaccedilatildeo definitiva que seraacute realizada
pelas obras do Messias e cuja terra prometida eacute o Reino dos Ceacuteus273
Ao comentarem o v 11 estes estudiosos afirmam que Jesus acentua
claramente a grandeza de Joatildeo Batista ldquonatildeo surgiu ningueacutem entre os nascidos de
mulheres maior do que Joatildeordquo Poreacutem ao mesmo tempo essa grandeza eacute delimitada
por Jesus ateacute a chegada desse reino composto por seus disciacutepulos anteriormente
denominados de ldquopequenosrdquo (Mt 1042) que agora satildeo maiores do que o proacuteprio
268 LANCELLOTTI A Comentaacuterio ao Evangelho de Satildeo Mateus p 112 269 MATEOS J CAMACHO F O Evangelho de Mateus 270 MATEOS J CAMACHO F O Evangelho de Mateus p 125-126 271 MATEOS J CAMACHO F O Evangelho de Mateus p 126 272 MATEOS J CAMACHO F O Evangelho de Mateus p 126 273 MATEOS J CAMACHO F O Evangelho de Mateus p 126
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Batista por fazerem parte desse reino ldquomas o menor no Reino dos Ceacuteus eacute maior do
que elerdquo274
Mateos e Camacho afirmam que Jesus marca a diferenccedila entre o tempo do
Antigo Testamento e o que se inicia com ele O Batista estava agraves portas do Reino
dos Ceacuteus proclamando a sua iminecircncia contudo a distacircncia entre este reino e os
homens e mulheres soacute pode ser superada pela aceitaccedilatildeo a Jesus275 Natildeo obstante
Joatildeo Batista eacute grande e vecirc a terra prometida mas natildeo pode entrar nela No entanto
os que pertencem ao reino regozijam-se de uma realidade de que o Batista natildeo pocircde
participar276
312 Russell Norman Champlin
Em 1986 Champlin escrevia na liacutengua portuguesa o seu comentaacuterio ao
Evangelho de Mateus Nesta obra o autor analisa versiacuteculo por versiacuteculo tomando
como base a criacutetica textual de Metzger277 Champlin reconhece e afirma que Joatildeo
Batista eacute o ldquomaior entre os nascidos de mulheresrdquo278 e indica alguns dos possiacuteveis
motivos Na perspectiva do autor a grandeza do Batista estaacute esboccedilada no proacuteprio
texto de Mt 117-11 onde ele elenca as particularidades a respeito do ldquomaior entre
os nascidos de mulheresrdquo a saber279
1- O caraacuteter de Joatildeo natildeo se assemelhava a um caniccedilo
2- Natildeo era como certas autoridades dos judeus que buscavam favores poliacuteticos e
assim enfraqueciam sua independecircncia religiosa
3- Em contraste com outros homens religiosos natildeo frequentava os palaacutecios dos reis
procurando o favor de indiviacuteduos investidos de alta posiccedilatildeo mas satisfazia-se em ser
um homem simples cumprindo a sua missatildeo em lugar obscuro
4- Era profeta do niacutevel mais elevado
5- Era mensageiro especial de Deus o precursor do Messias
6- Foi o maior dos profetas antigos de toda a histoacuteria de Israel
Aleacutem das afirmaccedilotildees acima o autor percebe que o Batista eacute grande por ser o
ldquoprecursor do Messiasrdquo280 porque ldquoviu e testificou pessoalmente o Messiasrdquo281 e
tambeacutem porque ldquoera o representante especial do Reino dos Ceacuteus e veio anunciar o
274 MATEOS J CAMACHO F O Evangelho de Mateus p 127 275 MATEOS J CAMACHO F O Evangelho de Mateus p 127 276 MATEOS J CAMACHO F O Evangelho de Mateus p 127 277 CHAMPLIN R N Mateus e Marcos vol I p 393 278 CHAMPLIN R N Mateus e Marcos vol I p 393 279 CHAMPLIN R N Mateus e Marcos vol I p 393 280 CHAMPLIN R N Mateus e Marcos vol I p 392 281 CHAMPLIN R N Mateus e Marcos vol I p 392
65
estabelecimento deste reinordquo282 Champlin salienta que ldquoalguns interpretaram que
Jesus natildeo se referiu agraves qualidades morais nem agrave grandeza pessoal de seu caraacuteter e
sim agrave posiccedilatildeo de Joatildeo Batista dentro da teocraciardquo Poreacutem o autor entende que esta
interpretaccedilatildeo foi feita por aqueles que natildeo aceitavam a ideia de que o Batista poderia
ser maior do que ldquoAbraatildeo Joseacute Isaiacuteas Elias Jeremiasrdquo283 e muitos outros
considerados grandes no Antigo Testamento Natildeo obstante o autor compreende que
as palavras de Jesus a respeito da grandeza de Joatildeo foram ditas de ldquoforma
absolutardquo284 querendo dizer ldquode forma categoacutericardquo natildeo oferecendo condiccedilotildees para
uma interpretaccedilatildeo que as ldquoclassifique como uma posiccedilatildeo de Joatildeo Batista dentro do
Reinordquo285
No que diz respeito ao ldquomenor no Reino dos Ceacuteusrdquo Champlin apresenta
algumas interpretaccedilotildees diferentes que apontam para um possiacutevel significado da
locuccedilatildeo ldquoo menor no Reino eacute maior do que Joatildeordquo286 A exemplo disto o autor
defende que o termo ldquomenorrdquo se refere a Jesus pois ele era considerado o menor
pelos judeus287 No entanto Champlin afirma que esta ideia dificilmente ldquoajusta-se
dentro da declaraccedilatildeo de Jesusrdquo288 Uma outra teoria seria a afirmaccedilatildeo de que natildeo eacute
o ceacuteu que estaacute em foco mas o ldquoreino terrestre do Messiasrdquo e seu estabelecimento
Aqui segundo o autor Jesus estaria se referindo agrave ldquovinda da nova sociedade em
geralrdquo e natildeo do mundo vindouro289
Nesse sentido o servo fiel que estaacute vivo no tempo da vinda do Reino estaacute em
uma ldquoposiccedilatildeo de mais alto privileacutegio do que qualquer outro antes da chegada do
reinordquo290 Champlin ainda apresenta uma interpretaccedilatildeo em que se reconhece que
Joatildeo nasceu de mulher e que natildeo surgiu ningueacutem maior do que ele poreacutem ldquoos
disciacutepulos do reino teratildeo outro tipo de nascimento o nascimento que se origina nos
ceacuteusrdquo e por isso os ldquonascidos segundo os ceacuteusrdquo satildeo mais privilegiados do que todos
os que viveram antes do estabelecimento do Reino291
282 CHAMPLIN R N Mateus e Marcos vol I p 392 283 CHAMPLIN R N Mateus e Marcos vol I p 393 284 CHAMPLIN R N Mateus e Marcos vol I p 393 285 CHAMPLIN R N Mateus e Marcos vol I p 393 286 CHAMPLIN R N Mateus e Marcos vol I p 394 287 CHAMPLIN R N Mateus e Marcos vol I p 394 288 CHAMPLIN R N Mateus e Marcos vol I p 394 289 CHAMPLIN R N Mateus e Marcos vol I p 394 290 CHAMPLIN R N Mateus e Marcos vol I p 394 291 CHAMPLIN R N Mateus e Marcos vol I p 394
66
313 Edmundo Lupieri
Em 1988 Lupieri escrevia na liacutengua italiana o seu comentaacuterio a respeito da
vida de Joatildeo Batista numa perspectiva a partir da tradiccedilatildeo dos Evangelhos
sinoacuteticos292 Esta obra oferece uma grande contribuiccedilatildeo para a pesquisa cientiacutefica
devido agrave sua forma de expor a pessoa do Batista a partir dos textos de Mateus
Marcos e Lucas delineando os principais aspectos da vida e do ministeacuterio de Joatildeo
Batista
Lupieri comenta acerca de Joatildeo Batista no livro de Mateus mas reconhece
que natildeo haacute material proacuteprio neste Evangelho a respeito de Joatildeo e o que o evangelista
usou aqui em seu escrito teria sido extraiacutedo da fonte ldquoQrdquo293 Lupieri segue um
caminho diferente dos demais autores ao comentar Mt 112-15 Ele natildeo aborda a
respeito de Joatildeo Batista ser o ldquomaior entre os nascidos de mulheresrdquo (v 11) mas
afirma a importacircncia do Batista na dimensatildeo profeacutetica da Escritura quando Jesus
asseverou que ele eacute ldquomais do que um profetardquo (Mt 119)294
Lupieri parte do texto de Lc 728 para apresentar as suas afirmaccedilotildees e
consideraccedilotildees no que diz respeito agrave grandeza do Batista295 O autor natildeo deixa claro
o porquecirc de Joatildeo ser o ldquomaior entre os nascidos de mulheresrdquo ele tambeacutem natildeo fala
sobre o papel de precursor do Batista e nem que ele era o profeta com uma missatildeo
uacutenica Lupieri afirma que a ldquocronologia do nascimento de Joatildeo em relaccedilatildeo agrave de
Jesusrdquo seria um dado importante para Lucas explicar a associaccedilatildeo entre os dois296
Conforme o autor Deus escolheu o ldquomenor dos doisrdquo (Jesus) cronologicamente
falando e o fez maior do que o grande (Joatildeo Batista) usando o criteacuterio do
nascimento297
Para Lupieri o Batista ldquoestaria cronologicamente no reino de Deus e
portanto eacute ldquomais que um profetardquo (Lc 726)298 e o que vem depois dele eacute ldquomaiorrdquo
(Lc 728b) e ldquomais forterdquo (Lc 36)299 Segundo o autor Joatildeo natildeo era o Cristo mas
um entre ldquoos nascidos de mulheresrdquo sendo que ningueacutem eacute ldquomaiorrdquo do que ele (Lc
292 LUPIERI E Giovanni Battista nelle tradizioni sinottiche 293 LUPIERI E Giovanni Battista nelle tradizioni sinottiche p 81 294 LUPIERI E Giovanni Battista nelle tradizioni sinottiche p 97 295 LUPIERI E Giovanni Battista nelle tradizioni sinottiche p 96 296 LUPIERI E Giovanni Battista nelle tradizioni sinottiche p 97 297 LUPIERI E Giovanni Battista nelle tradizioni sinottiche p 97 298 LUPIERI E Giovanni Battista nelle tradizioni sinottiche p 97 299 LUPIERI E Giovanni Battista nelle tradizioni sinottiche p 97
67
728a)300 Ele compara o nascimento de Joatildeo com os nascimentos dos ilustres
descritos nos textos veterotestamentaacuterios e apresenta neles algumas caracteriacutesticas
comuns que existem entre estes fatos relatados como ldquoas mulheres que datildeo agrave luz
a figuras importantes no Antigo Testamento em geral satildeo esteacutereis ou idosas sem
filhosrdquo301 como foi a proacutepria matildee do Batista e com isso o autor acredita que Lucas
tinha um material suficiente para persuadir os seus leitores de que natildeo houve
ningueacutem ldquomaior do que Joatildeo entre os nascidos de mulheresrdquo302
314 Andreacute Chouraqui
Em 1992 Andreacute Chouraqui escreveu a sua obra em liacutengua francesa que foi
traduzida e publicada para o portuguecircs do Brasil (1996)303 na qual ele analisa e
considera a periacutecope de Mt 111-16 e a divide em seu comentaacuterio em cinco partes
a primeira consta dos vv 1-2 a segunda consiste nos vv 3-5 a terceira conteacutem os
vv 6-9 a quarta eacute formada pelos vv 10-12 e a quinta compreende os vv 13-16304
Chouraqui faz seu comentaacuterio exegeacutetico ao texto de Mt 111-16 salientando
as questotildees mais importantes contidas nesta periacutecope Ele comenta a respeito da
prisatildeo de Joatildeo Batista (v2) a pergunta de Joatildeo se Jesus eacute o Cristo ou se haacute de vir
outro (v 3) os milagres realizados por Jesus como resposta a Joatildeo e a prova de que
era o Messias (v 4-5) as palavras de Jesus para a multidatildeo acerca da pessoa e
ministeacuterio do Batista (v 6-9) a violecircncia que sofre o Reino dos Ceacuteus e os violentos
(v 10-15) e de Joatildeo Batista como todos os profetas que o antecederam (v 13-16)305
Na referida obra Chouraqui natildeo fez nenhum comentaacuterio ao v 11 no que se
refere a Joatildeo Batista ser ldquoo maior entre os nascidos de mulheresrdquo e o ldquomenor no
Reino dos Ceacuteus ser maior do elerdquo que eacute a base da temaacutetica desta pesquisa O autor
na verdade enfatiza que ldquoIeacuteshoua faz de Iohanacircn um profeta igual a todos aqueles
que se sucederam apoacutes Moshegraverdquo ou seja Chouraqui considera o Batista no mesmo
niacutevel que os demais mensageiros que o antecederam306 Ele tambeacutem ressalta a
300 LUPIERI E Giovanni Battista nelle tradizioni sinottiche p 97 301 LUPIERI E Giovanni Battista nelle tradizioni sinottiche p 97 302 LUPIERI E Giovanni Battista nelle tradizioni sinottiche p 97 303 CHOURAQUI A A Biacuteblia Matyah (O Evangelho Segundo Mateus) 304 CHOURAQUI A A Biacuteblia Matyah (O Evangelho Segundo Mateus) p 161-165 305 CHOURAQUI A A Biacuteblia Matyah (O Evangelho Segundo Mateus) p 161-165 306 CHOURAQUI A A Biacuteblia Matyah (O Evangelho Segundo Mateus) p 165
68
identificaccedilatildeo que Jesus fez de Joatildeo Batista com o profeta Elias e afirma que mesmo
Joatildeo na prisatildeo ldquoele eacute o verdadeiro inspirado e o verdadeiro anunciador do reino dos
ceacuteusrdquo307 Com isso eacute possiacutevel ver que mesmo natildeo fazendo nenhum comentaacuterio a
esse respeito percebe-se que haacute em Joatildeo Batista um diferencial sobre os demais
profetas veterotestamentaacuterios
315 Donald A Hagner
No ano de 1993 Hagner escrevia o seu comentaacuterio ao Evangelho de Mateus
capiacutetulos 1ndash13308 O autor divide a pericope de Mt 112-15 em duas partes a
primeira parte abarca os vv 2-6 (resposta de Jesus agrave pergunta de Joatildeo Batista) e
a segunda compreende os vv 7-15 (estimativa de Jesus acerca de Joatildeo o
Batista)309
O autor eacute assevera que Joatildeo Batista eacute ldquoo maior entre os nascidos de mulheresrdquo
(Mt 1111) pelo fato de ser o antecessor e o anunciador que indicava diretamente
para o Messias atraveacutes de sua mensagem o que os demais profetas natildeo fizeram
visto que eles anunciaram poreacutem natildeo apontaram de maneira clara para o Messias
como fez o mensageiro do deserto310 Hagner ao comentar o v 11 afirma que a
problemaacutetica sugerida neste versiacuteculo depende da premissa de que o Batista eacute um
personagem transitoacuterio entre duas ordens separadas e isso pode ser visto em
conjunto dos vv 12-14311 Para este autor Joatildeo Batista eacute o aacutepice da antiga ordem
ou seja um profeta semelhante aos profetas do passado poreacutem com um toque de
superioridade porque ele eacute mais do que um profeta312
Segundo este estudioso em Joatildeo Batista estava toda a expectativa do Antigo
Testamento e ele era o uacuteltimo e definitivo mensageiro que apontava diretamente
para a presenccedila do Messias Natildeo obstante em uma perspectiva humana ldquoningueacutem
maior do que Joatildeo jamais nasceurdquo 313 isto eacute ningueacutem da antiga alianccedila sobrepotildee a
Joatildeo em importacircncia Hagner ainda afirma que a importacircncia do Batista se
307 CHOURAQUI A A Biacuteblia Matyah (O Evangelho Segundo Mateus) p 165 308 HAGNER D A Matthew 1-13 309 HAGNER D A Matthew 1-13 p 298-308 310 HAGNER D A Matthew 1-13 p 308 311 HAGNER D A Matthew 1-13 p 305 312 HAGNER D A Matthew 1-13 p 305 313 HAGNER D A Matthew 1-13 p 305
69
centraliza na posiccedilatildeo e no papel dele no ponto da virada da histoacuteria da salvaccedilatildeo da
Antiga Alianccedila para a Nova Alianccedila314
Conforme Hagner a grandeza do Batista natildeo deve referir-se ao meacuterito
humano intriacutenseco Na verdade Joatildeo era ldquogrande diante do Senhorrdquo (Lc 115) mas
a grandeza pretendida eacute a incomparaacutevel grandeza do Reino do Ceacuteus315 Para isso o
autor propotildee que esta discussatildeo natildeo eacute apenas entre dois indiviacuteduos mas entre duas
eacutepocas duas alianccedilas Ele tambeacutem afirma que nem o proacuteprio Joatildeo Batista pode ser
excluiacutedo do Reino jaacute que Abraatildeo Isaque Jacoacute Moiseacutes Elias Davi Salomatildeo e
outros do passado vatildeo estar na festa messiacircnica316 De fato o autor afirma que tatildeo
gloriosa eacute a nova realidade que aparece no ministeacuterio de Jesus que a maior era que
a antecede ainda eacute inferior ao miacutenimo na nova ordem da dinacircmica do Reino A era
do cumprimento atual ofusca o tempo da promessa317
316 Fritz Rienecker
Em 1994 Rienecker escrevia em alematildeo um comentaacuterio ao Evangelho de
Mateus que foi traduzido para o portuguecircs e publicado no Brasil em 1998318 Este
autor ao fazer a anaacutelise exegeacutetica do texto natildeo divide em partes a periacutecope de Mt
112-15 mas a considera como um uacutenico bloco que vai dos versiacuteculos 2-19
contendo a pergunta de Joatildeo Batista e a resposta de Jesus319
Para Rienecker a grandeza de Joatildeo Batista jaacute eacute evidenciada nos vv 7-9
quando Jesus tem a oportunidade de elogiar e louvar o Batista diante de seus
ouvintes320 Aqui neste discurso Jesus sublinha primeiramente a importacircncia de
seu precursor no Reino de Deus e o seu lugar em comparaccedilatildeo com os que fazem
parte dos novos tempos Nesse sentido jaacute pode ser visto que existiram duas
manifestaccedilotildees divinas expressas no discurso de Jesus ao povo daquele tempo321 A
primeira manifestaccedilatildeo diz respeito agrave atuaccedilatildeo da figura de Joatildeo e a segunda implica
a proacutepria atuaccedilatildeo de Jesus322
314 HAGNER D A Matthew 1-13 p 306 315 HAGNER D A Matthew 1-13 p 306 316 HAGNER D A Matthew 1-13 p 306 317 HAGNER D A Matthew 1-13 p 306 318 RIENECKER F Evangelho de Mateus 319 RIENECKER F Evangelho de Mateus p 185 320 RIENECKER F Evangelho de Mateus p 189 321 RIENECKER F Evangelho de Mateus p 190 322 RIENECKER F Evangelho de Mateus p 190
70
O autor sustenta em seu comentaacuterio que Joatildeo Batista eacute o ldquomaior entre os
nascidos de mulheresrdquo (Mt 1111) por ele ter sido o precursor enviado que
profetizou a chegada do Messias o mensageiro que iria agrave frente para preparar o
caminho do Senhor323 Segundo ele Jesus natildeo soacute afirmou a grandeza do Batista no
v 11 mas tambeacutem explicou a sua importacircncia entre os demais profetas no v 9 De
fato ele eacute ldquomaior do que um profetardquo e por isso ningueacutem poderia ser chamado de
grande a natildeo ser o Batista324 A sua grandeza se evidencia entre os demais profetas
por causa da sua posiccedilatildeo uacutenica no Reino Joatildeo foi o que ldquoconcluiu a antiga alianccedila
e comeccedilou a novardquo325
Ao analisar a respeito dos menores no Reino dos Ceacuteus o autor afirma que
essa grandeza do Batista parece ter recebido de Jesus uma reticecircncia pois o Senhor
afirma que ldquoo menor no Reino dos Ceacuteus eacute maior do que elerdquo (Mt 1111)326 O maior
eacute menor do que os que estatildeo no Reino porque eles ldquoreceberam a daacutediva de
experimentar a forccedila redentora do Messiasrdquo327 algo que o Batista ainda natildeo
experimentou Os participantes do Reino satildeo maiores porque receberam uma
percepccedilatildeo mais ampla da natureza e do desenvolvimento das benevolecircncias do
Reino dos Ceacuteus o que tambeacutem Joatildeo ainda natildeo recebeu328
317 Donald Arthur Carson
Em 1995 Carson escrevia em liacutengua inglesa um comentaacuterio ao Evangelho
de Mateus Esta mesma obra foi traduzida para liacutengua portuguesa e publicada no
Brasil em 2010329 Este autor divide a periacutecope de Mt 112-15 em duas partes a
primeira parte constitui-se nos vv 2-6 com a pergunta de Joatildeo e a resposta de
Jesus e a segunda parte consiste nos vv 7-15 com Joatildeo o Batista na histoacuteria da
salvaccedilatildeo330
Em seu comentaacuterio Carson vai direto ao assunto e afirma que Joatildeo Batista eacute
o ldquomaior entre os nascidos de mulheresrdquo (Mt 1111) pelo fato de somente ele dentre
323 RIENECKER F Evangelho de Mateus p 190 324 RIENECKER F Evangelho de Mateus p 190 325 RIENECKER F Evangelho de Mateus p 190 326 RIENECKER F Evangelho de Mateus p 190 327 RIENECKER F Evangelho de Mateus p 190 328 RIENECKER F Evangelho de Mateus p 190 329 CARSON D A O comentaacuterio de Mateus 330 CARSON D A O comentaacuterio de Mateus p 310-313
71
todos os demais profetas que faziam parte da antiga alianccedila ter sido o precursor
que ldquopreparou o caminho para YHWH-Jesusrdquo e aponta-o de maneira mais
pessoal331
Para este autor o Batista eacute grande porque de um jeito todo especial indicou
atraveacutes de sua mensagem com clareza a Jesus o Messias332 Com isso Carson
concorda que o v 9 evidencia a superioridade de Joatildeo Batista em seu chamado
como precursor do Messias uma vez que ele eacute ldquomais do que um profetardquo pois estes
profetas natildeo poderiam ser considerados adequados como precursores imediatos do
Messias como foi o Batista Nesse sentido eacute que Joatildeo Batista eacute o maior entre os
nascidos de mulheres333
No que tange ao comentaacuterio sobre ldquoo menor no Reino dos Ceacuteus ser maior do
que Joatildeo Batistardquo (Mt 1111) Carson argumenta que isto natildeo pode ser tomado em
limites de um simples privileacutegio mas o menor no Reino deve ser considerado
superior ao Batista porque jaacute estaacute vivendo no Reino instaurado por Jesus o Messias
que outrora havia sido proclamado por Joatildeo334 Nessa perspectiva o menor eacute maior
do que Joatildeo Batista pois aponta de forma mais clara e evidente para Jesus do que
o Batista apontou335
318 William Hendriksen
No ano 2000 Hendriksen escrevia em liacutengua inglesa o seu comentaacuterio ao
Evangelho de Mateus Este mesmo comentaacuterio foi traduzido para a liacutengua
portuguesa e publicado no Brasil em dois volumes no ano de 2001336 Este autor
natildeo divide a periacutecope de Mt 112-15 em partes mas a considera como uma grande
unidade ampliando-a ateacute o v 19 com ldquoa duacutevida de Joatildeo Batista e a forma como
Jesus lidou com elardquo337
Ao comentar o v 11 Hendriksen afirma que Joatildeo Batista eacute o ldquomaior entre os
nascidos de mulheresrdquo natildeo somente pelo fato de ser um profeta mas por ser aquele
que profetizava sobre a vinda do Messias e por ser tambeacutem ldquoo objeto da
331 CARSON D A O comentaacuterio de Mateus p 315 332 CARSON D A O comentaacuterio de Mateus 2010 p 315 333 CARSON D A O comentaacuterio de Mateus 2010 p 315 334 CARSON D A O comentaacuterio de Me Mateus 2010 p 315 335 CARSON D A O comentaacuterio de M Mateus 2010 p 315 336 HENDRIKSEN W Mateus 337 HENDRIKSEN W Mateus p 682
72
profeciardquo338 Assim para ele o Batista tem a sua grandeza definida por ter sido
anunciada a sua entrada na histoacuteria da salvaccedilatildeo por outros profetas (Ml 31)339
Segundo este estudioso a grandeza do Batista caracteriza-se pela forma em
que este arauto do Senhor cumpriu a sua missatildeo Joatildeo realizou fielmente o que um
mensageiro devia fazer340 O mensageiro do deserto pregava apontando diretamente
para a chegada do Messias (Jo 129) anunciava de forma enfaacutetica o arrependimento
(Mt 31-3) e de maneira simples e humilde natildeo se fez de Cristo (Mt 311) mas
aceitou o seu chamado de precursor do Messias e por isso sua grandeza pode ser
relacionada agrave sua humildade341
Nas consideraccedilotildees de Hendriksen no que se refere a Joatildeo Batista ser o
ldquomenor no Reino dos Ceacuteusrdquo e o ldquomenor do Reinordquo ser maior do que ele o autor
afirma que o Batista natildeo pode ser considerado como um homem natildeo salvo
entretanto ele deve ser considerado como algueacutem que de alguma maneira seja
participante da salvaccedilatildeo divina342 A isso o menor no Reino dos Ceacuteus eacute maior do
que o Batista Haja vista que este natildeo estava em contato profundo como os
disciacutepulos de Jesus estiveram343 Para o autor o mensageiro do deserto natildeo era um
integrante imediato do Reino e nem foi uma testemunha direta no que diz respeito
agrave crucificaccedilatildeo de Jesus e tambeacutem natildeo experimentou os benefiacutecios do evento
Pentecostes344
319 Warren Carter
No ano 2000 Carter escrevia em liacutengua inglesa um comentaacuterio ao Evangelho
de Mateus Esta mesma obra foi traduzida para o portuguecircs e publicada no Brasil
em 2002345 O autor dividiu a periacutecope de Mt 112-15 em duas partes a primeira
parte abarca os vv 2-6 (a pergunta de Joatildeo sobre a identidade de Jesus) e a segunda
parte consiste dos vv 7-17 (afirmaccedilatildeo de Jesus sobre a identidade de Joatildeo)346
338 HENDRIKSEN W Mateus p 690 339 HENDRIKSEN W Mateus p 690 340 HENDRIKSEN W Mateus p 690 341 HENDRIKSEN W Mateus p 691 342 HENDRIKSEN W Mateus p 691 343 HENDRIKSEN W Mateus p 691 344 HENDRIKSEN W Mateus p 692 345 CARTER W O Evangelho de Satildeo Mateus 346 CARTER W O Evangelho de Satildeo Mateus p 324-325
73
Carter afirma a respeito de Joatildeo Batista ser o ldquomaior entre os nascidos de
mulheresrdquo (Mt 1111) ter a ver com o seu ministeacuterio de preparar de forma toda
especial o povo para a vinda e a missatildeo do Messias347 Segundo este autor a
grandeza do Batista estaacute evidente no v 9 quando da afirmaccedilatildeo de Jesus ao dizer
que o mensageiro do deserto ldquoeacute mais do que um profetardquo348 Joatildeo Batista foi um
profeta que enfrentou os poderosos e os religiosos de seu tempo e ainda proclamou
o arrependimento para ldquopreparar a iminente intervenccedilatildeo de Deusrdquo349
Ao comentar o v 11 a respeito do menor no Reino dos Ceacuteus ser maior do
que Joatildeo Carter natildeo apoia a ideia de que o Batista esteja excluiacutedo do Reino tendo
em vista que este reinado se faz presente mesmo que de modo humilde e em
parte350 Poreacutem o autor concorda com a hipoacutetese de que Jesus esteja falando de si
mesmo no que tange ao menor no Reino dos Ceacuteus ser maior do que Joatildeo351 Para
ele isso eacute bem provaacutevel jaacute que o Batista tem uma conduta subordinada (Mt 31-
12) quanto agrave autoridade de Jesus que reorienta a grandeza como ldquoserviccedilordquo e natildeo
como ldquodominaccedilatildeordquo352
320 Ulrich Luz
No ano de 2001 Luz escrevia o seu comentaacuterio ao Evangelho de Mateus em
liacutengua inglesa Nesta obra o autor faz comentaacuterios exegeacuteticos aos capiacutetulos 8ndash20
deste Evangelho e tambeacutem analisa a estrutura dos textos e apresenta uma histoacuteria
da interpretaccedilatildeo dos versiacuteculos relevantes353 Ele divide a periacutecope de Mt 112-15
em duas partes a primeira parte eacute composta pelos vv 2-6 (a pergunta do Batista)
e a segunda parte compreende os vv 7-15 (Elias retornou e o seu chamado para a
decisatildeo)354
Luz vai direto ao ponto quando comenta o v 11 Ele afirma que Joatildeo Batista
eacute o ldquomaior entre os nascidos de mulheresrdquo pela questatildeo de ser o precursor do
Messias355 Segundo este estudioso a grandeza do Batista precisa ser pensada como
347 CARTER W O Evangelho de Satildeo Mateus p 327 348 CARTER W O Evangelho de Satildeo Mateus p 326 349 CARTER W O Evangelho de Satildeo Mateus p 326 350 CARTER W O Evangelho de Satildeo Mateus p 327 351 CARTER W O Evangelho de Satildeo Mateus p 327 352 CARTER W O Evangelho de Satildeo Mateus p 327 353 LUZ U Matthew 8-20 354 LUZ U Matthew 8-20 p130-144 355 LUZ U Matthew 8-20 p 139
74
mais ligada agrave sua missatildeo e em relaccedilatildeo ao inteiro conjunto de sua mensagem mais
do que ao proacuteprio curso de sua vida Ou seja a grandeza de Joatildeo natildeo se concentra
na sua vida austera no deserto mas em seu ministeacuterio de proclamar a vinda do
Messias356
Segundo Luz a grandeza do mensageiro do deserto comeccedila a ser evidenciada
nos ditos de Jesus no v 9 quando o mestre de forma elogiosa afirma que o Batista
eacute maior do que um profeta357 Ao dizer isto a respeito de Joatildeo Jesus natildeo havia
oferecido uma ldquofoacutermulardquo objetiva para definir quem era realmente o Batista poreacutem
se ele havia dito que Joatildeo era mais do que um profeta Jesus esperava entatildeo que
houvesse uma obediecircncia toda especial a Joatildeo358
Quando analisa o v 11 Luz percebe que haacute uma dificuldade em definir quem
seria o ldquomenor no Reino dos Ceacuteusrdquo Segundo o autor a interpretaccedilatildeo claacutessica
compreendeu que o Reino dos Ceacuteus estaacute na manifestaccedilatildeo de Jesus e acreditou que
ldquoo menor disciacutepulo de Jesus seria como algueacutem maior do que o mais ilustre
judeurdquo359 E esta mesma interpretaccedilatildeo claacutessica legitimou a consideraccedilatildeo de que a
ldquoregeneraccedilatildeo para a relaccedilatildeo dos disciacutepulos com Deus como seus disciacutepulos estaacute
no batismo e no Espiacuterito Santordquo360 Poreacutem os disciacutepulos de Jesus assim como os
judeus tambeacutem nasceram de mulheres e isto pode dificultar sobre quem seria o
ldquomaior no Reinordquo361 Luz afirma que a expressatildeo ldquoo menor no Reino dos Ceacuteusrdquo foi
uma saiacuteda estrateacutegica da Igreja que cunhou esta frase diante de uma necessidade
para definir o lugar do Batista na histoacuteria da salvaccedilatildeo mas natildeo com a intenccedilatildeo de
cristianizar a pessoa do Batista jaacute que ele fazia parte do ldquoantigo mundo e natildeo do
novo mundordquo362
321 Manlio Simonetti
No ano de 2001 Simonetti escrevia o seu comentaacuterio ao Evangelho de
Mateus em liacutengua inglesa Esta obra foi traduzida em espanhol e publicada na
Espanha em 2004 fazendo parte de uma coletacircnea de comentaacuterios expostos pelos
356 LUZ U Matthew 8-20 p 139 357 LUZ U Matthew 8-20 p 138 358 LUZ U Matthew 8-20 p 138 359 LUZ U Matthew 8-20 p 139 360 LUZ U Matthew 8-20 p 139 361 LUZ U Matthew 8-20 p 139 362 LUZ U Matthew 8-20 p 139
75
Padres da Igreja e autores do periacuteodo Patriacutestico363 Ele natildeo dividiu a periacutecope de Mt
112-15 em partes antes a considerou como uma grande unidade que abrange Mt
111-19 que traz o envio dos disciacutepulos de Joatildeo e Jesus falando a respeito de Joatildeo
Batista364
Ao comentar Mt 1111 Simonetti afirma que Joatildeo Batista eacute o ldquomaior entre os
nascidos de mulheresrdquo por causa de sua aproximaccedilatildeo com o Messias sendo ele o
mensageiro enviado por Deus que precederia a vinda do Messias365 Segundo ele o
Batista eacute maior do que todos os ldquosantosrdquo do passado e tambeacutem eacute maior do que todos
os mensageiros da antiga alianccedila por ter testemunhado e anunciado a respeito de
Cristo366 Todos os profetas do passado anunciaram todas as coisas futuras e a vinda
de Cristo antes de seu tempo Poreacutem o Batista natildeo apenas profetizou a respeito do
Messias mas tambeacutem assinalou para Cristo de forma mais clara e concisa como
que ldquoface a facerdquo367
Ao interpretar Mt 1111 no que diz respeito ao ldquomenor no Reino dos Ceacuteusrdquo
Simonetti concorda que o mensageiro do deserto eacute o ldquomenor no Reinordquo por natildeo
participar da graccedila grandiosa oferecida agravequeles que nasceram para a vida
incorruptiacutevel que segue logo apoacutes a ressurreiccedilatildeo dos mortos de modo a natildeo aceitar
mais a morte368 Nesse tempo o menor no Reino dos Ceacuteus teraacute a abundacircncia do
Espiacuterito Santo atuando em sua vida de maneira que ldquoseraacute impossiacutevel para aquele
que tenha menor participaccedilatildeordquo369 Outrossim o menor no Reino dos Ceacuteus eacute maior
do que o Batista porque jaacute desfruta nas becircnccedilatildeos presentes da chegada deste Reino
e que este menor eacute maior por estar em Deus e ainda eacute maior do que aqueles que
estatildeo em combate370
363 SIMONETTI M Evangelio seguacuten San Mateo (1ndash13) 364 SIMONETTI M Evangelio seguacuten San Mateo (1ndash13) p 290-303 365 SIMONETTI M Evangelio seguacuten San Mateo (1ndash13) p 298 Joatildeo Crisoacutestomo homiliacuteas sobre
el Evangelio de Mateo 372 366 SIMONETTI M Evangelio seguacuten San Mateo (1ndash13) p 297 Anoacutenimo Obra incompleta sobre
el Evangelio de Mateo 27 367 SIMONETTI M Evangelio seguacuten San Mateo (1ndash13) p 297 Anoacutenimo Obra incompleta sobre
el Evangelio de Mateo 27 368 SIMONETTI M Evangelio seguacuten San Mateo (1ndash13) p 299 Teodoro de Mopsuestia
Fragmentos sobre el Evangelio de Mateo 59 369 SIMONETTI M Evangelio seguacuten San Mateo (1ndash13) p 299 Teodoro de Mopsuestia
Fragmentos sobre el Evangelio de Mateo 59 370 SIMONETTI M Evangelio seguacuten San Mateo (1ndash13) p 299 Jeroacutenimo Comentario al
Evangelio de Mateo 2 1111
76
322 Roberto Di Paolo
Em 2005 Di Paolo escrevia o seu comentaacuterio ao Evangelho de Mateus em
liacutengua italiana Esta obra utilizou o meacutetodo da Anaacutelise Retoacuterica Biacuteblica Semiacutetica
como ferramenta de sua exegese ao texto371 Ele considerou a periacutecope partindo de
Mt 111-19 e a subdividiu em duas partes a primeira parte eacute constituiacuteda pelos vv
1-6 (quem eacute Jesus) e a segunda parte integra os vv7-19 (quem eacute Joatildeo)372
Di Paolo vai direto ao ponto da questatildeo a respeito de Joatildeo Batista ser o ldquomaior
entre os nascidos de mulheresrdquo Ele afirma que o Batista eacute grande por causa do seu
papel de profeta uacutenico que proclamou e preparou a vinda do Messias373 Para este
estudioso a grandeza do Batista pode ser redimensionada a partir de Mt 119 onde
o mensageiro do deserto tem o ofiacutecio singular de ser um ponto de chegada no
desenvolvimento da histoacuteria da salvaccedilatildeo de Deus374 Para Di Paolo a grandeza de
Joatildeo Batista tem relaccedilatildeo com o seu chamado divino de anunciar essa vinda e de
preparar o caminho do Deus que vem e por isso Jesus o declarou maior do que
todos os profetas pois ele natildeo apenas profetizou ou preparou o caminho para o
Messias mas ele eacute aquele que tambeacutem conclui este processo da profecia em vista
da vinda do Messias375
No que diz respeito ao menor no Reino dos Ceacuteus ser maior do que Joatildeo
Batista Di Paolo percebe que mesmo ele sendo considerado ldquoo maior entre todos
os nascidos de mulheresrdquo essa grandeza se relativiza tornando-se insignificante
em comparaccedilatildeo com a elevaccedilatildeo de uma dimensatildeo maior que eacute o proacuteprio Reino e
que essa grandeza desaparece no Reino dos Ceacuteus376 Para ele aqui natildeo se trata de
ldquoduas pessoas mas sim de duas economias divinasrdquo onde o Reino dos Ceacuteus
transcende o tempo precedente de modo que o que estaacute no tempo passado por
maior que seja eacute menor e inferior ao Reino dos Ceacuteus377
371 DI PAOLO R Il servo di Dio porta il diritto alle nazioni p 6 R MEYNET Rhetorical
Analysis p 21 A Anaacutelise Retoacuterica Biacuteblica Semiacutetica tem a finalidade de entender os textos E para
alcanccedilar este fim eacute necessaacuterio e fundamental colocar em evidecircncia a composiccedilatildeo do texto e
determinar-lhe os seus limites 372 DI PAOLO R Il servo di Dio porta il diritto alle nazioni p 18-30 373 DI PAOLO R Il servo di Dio porta il diritto alle nazioni p 46 374 DI PAOLO R Il servo di Dio porta il diritto alle nazioni p 44 375 DI PAOLO R Il servo di Dio porta il diritto alle nazioni p 45 376 DI PAOLO R Il servo di Dio porta il diritto alle nazioni p 46 377 DI PAOLO R Il servo di Dio porta il diritto alle nazioni p 46
77
323 Isidoro Mazzarolo
Em 2005 Mazzarolo escrevia o seu comentaacuterio ao Evangelho de Mateus
editado aqui no Brasil e em liacutengua portuguesa Esta mesma obra buscou analisar de
forma exegeacutetica todo o conteuacutedo do livro mateano378 O autor delimitou a periacutecope
de Mt 111-15 em duas partes a primeira parte conteacutem os vv 1-6 (a pergunta de
Joatildeo Batista) e a segunda parte eacute formada pelos vv 7-15 (dos nascidos de mulher
Joatildeo eacute o maior)379
Mazzarolo faz um comentaacuterio agrave periacutecope de Mt 112-15 abordando as suas
partes no que se refere ao Batista ao envio dos seu disciacutepulos (v 2) agrave sua pergunta
a respeito do Cristo (v 3) agrave resposta de Jesus (vv 4-6) e ao testemunho de Jesus a
respeito da pessoa e do ministeacuterio de Joatildeo Batista (vv 7-15)380 Poreacutem em sua
anaacutelise exegeacutetica de Mt 112-15 o autor apenas cita a afirmaccedilatildeo de Jesus a respeito
de Joatildeo ser ldquoo maior entre os nascidos de mulheresrdquo mas natildeo deixa clara a questatildeo
levantada sobre Joatildeo Batista ser o ldquomaior entre os nascidos de mulheresrdquo381 O que
Mazzarolo realccedila eacute que segundo Cristo ldquoJoatildeo eacute mais que um profetardquo 382 e que o
realce recai sobre ldquoa importacircncia do Reino de Deus em relaccedilatildeo ao lugar ou agraves honras
e prestiacutegio diante dos homensrdquo383
324 Seneacuten Vidal
No ano de 2006 Vidal escrevia na liacutengua espanhola um comentaacuterio a
respeito da missatildeo de Jesus o Galileu Esta pesquisa foi traduzida para o portuguecircs
e publicada no Brasil em 2009 O que curiosamente nos chama a atenccedilatildeo nesta obra
eacute que este autor oferece um importante material de pesquisa a respeito tambeacutem da
missatildeo de Joatildeo Batista de modo a demonstrar a relaccedilatildeo entre a missatildeo de Jesus e a
missatildeo do Batista384
378 MAZZAROLO I Evangelho de Satildeo Mateus Em nosso trabalho usamos o texto da segunda
ediccedilatildeo (2016) a qual na verdade eacute uma reimpressatildeo do texto original sem alteraccedilotildees 379 MAZZAROLO I Evangelho de Satildeo Mateus p 172-173 380 MAZZAROLO I Evangelho de Satildeo Mateus p 172-173 381 MAZZAROLO I Evangelho de Satildeo Mateus p 172-174 382 MAZZAROLO I Evangelho de Satildeo Mateus p 172-174 383 MAZZAROLO I Evangelho de Satildeo Mateus p 174 384 VIDAL S Jesus o Galileu p 10-11 Esta obra tem a finalidade de apresentar a missatildeo de Jesus
o Galileu dentro de um acontecimento histoacuterico onde percebe-se um processo evolutivo em trecircs
etapas que equivale aos ldquotrecircs projetos do Reino de Deusrdquo contemplados por Jesus As trecircs etapas
78
Segundo Vidal Joatildeo Batista eacute o ldquomaior entre os nascidos de mulheresrdquo (Mt
1111) por ser o precursor que prepara o caminho de YHWH e do Messias385 A
grandeza do Batista eacute toda especial poreacutem ela evidencia a diferenccedila e a separaccedilatildeo
entre a missatildeo do Batista e a missatildeo de Jesus386 Para este estudioso a grandeza e a
missatildeo do mensageiro do deserto pertencem a uma eacutepoca antiga ldquoeacutepoca da esperardquo
que foi suplantada pela chegada da missatildeo do Messias que eacute o periacuteodo do
cumprimento daquilo que o proacuteprio Batista havia anunciado anteriormente387 Para
Vidal haacute uma sucessatildeo temporal entre Joatildeo e Jesus para um tempo superior que eacute
a chegada do Reino dos Ceacuteus aos homens e mulheres que ouvem e se arrependem
dos seus pecados388
No que se refere ao menor no Reino dos Ceacuteus ser maior do que Joatildeo este
autor afirma que a ldquodiferenccedila e a superioridaderdquo da missatildeo do Messias entre a
missatildeo do Batista eacute a chegada do Reino dos Ceacuteus de modo que ldquoo menor no Reino
do Ceacuteus eacute maior do que o Batista mesmo sendo este o maior entre os nascidos de
mulheresrdquo389 Nesse sentido os disciacutepulos que pertencem a esse Reino os que
participam da mudanccedila radical qualitativa manifestada na missatildeo do Messias
coloca-os acima da grandeza de Joatildeo Batista que natildeo pode ser medida pelo periacuteodo
antigo em que o mensageiro do deserto pertenceu390
325 Samuel Peacuterez Millos
Em 2009 Millos escrevia em liacutengua espanhola um extenso comentaacuterio ao
Evangelho de Mateus Esta mesma obra se preocupou em analisar exegeticamente
o texto grego de Mateus fazendo comentaacuterios de cada capiacutetulo e versiacuteculo391
Millos delimitou e considerou a periacutecope de Mt 11 partindo dos vv 16-19 e a
dividiu em trecircs partes a primeira parte eacute composta pelos vv 1-6 (pergunta de Joatildeo
satildeo ldquoa ligaccedilatildeo de Jesus com a missatildeo de Joatildeo Batista a missatildeo galileia a missatildeo que implantaria
em Jerusaleacutem um reino messiacircnico especialrdquo 385 VIDAL S Jesus o Galileu p 44 386 VIDAL S Jesus o Galileu p 80 387 VIDAL S Jesus o Galileu p 80 388 VIDAL S Jesus o Galileu p 80 389 VIDAL S Jesus o Galileu p 80 390 VIDAL S Jesus o Galileu p 80-81 391 MILLOS S P Mateo
79
e resposta) a segunda parte consiste nos vv 7-15 (testemunho sobre Joatildeo) a
terceira parte compreende os vv 1-19 (comparaccedilotildees)392
Millos ao comentar Mt 1111 afirma categoricamente que Joatildeo Batista eacute o
ldquomaior entre os nascidos de mulheresrdquo (Mt 1111) por causa de sua missatildeo e vida393
Para ele a grandeza do Batista tem a ver com o seu ministeacuterio profeacutetico De fato a
sua missatildeo de precursor do Messias eacute o que caracteriza a grandeza do mensageiro
do deserto394 Muitos foram importantes na terra poreacutem nenhum deles chegou agrave
grandeza do Batista Ele foi o uacutenico que proclamou a chegada do Messias com
ecircnfase para que todos prestassem a atenccedilatildeo na condiccedilatildeo do Messias como o
ldquoCordeiro de Deusrdquo (Jo 129)395 Aleacutem disso ele anunciou o arrependimento como
a uacutenica forma de participar do Reino dos Ceacuteus396
Millos concorda com a afirmaccedilatildeo biacuteblica em dizer que embora o Batista seja
grande o menor no Reino dos Ceacuteus eacute maior do ele Segundo este estudioso Joatildeo
fazia parte de um tempo histoacuterico da revelaccedilatildeo do Reino dos Ceacuteus que se fez efetivo
logo apoacutes o acontecimento do Calvaacuterio e de Pentecostes ldquono Reino em misteacuteriordquo
ou seja a Igreja de Jesus Cristo397 Isso natildeo significa que o Batista natildeo fosse salvo
poreacutem ele natildeo fazia parte do corpo de disciacutepulos de Cristo que eacute a Igreja ele natildeo
foi a ldquoesposa do Cordeirordquo mas apenas o amigo do noivo398 Para este autor Joatildeo
foi de fato maior do que todos do Antigo Testamento contudo o menor disciacutepulo
no Reino dos Ceacuteus eacute maior que Joatildeo no que tange a privileacutegios espirituais e posiccedilatildeo
em Cristo399 O menor neste Reino eacute maior porque proclama o salvador morto
ressuscitado e glorificado e o Batista terreno natildeo conseguiu ver nem contemplar a
face do Messias ressuscitado e exaltado como a Igreja viu e testemunhou e agora
vive da superabundacircncia da graccedila oferecida pelo Cristo ressuscitado400
392 MILLOS S P Mateo p 715-742 393 MILLOS S P Mateo p 730 394 MILLOS S P Mateo p 730 395 MILLOS S P Mateo p 730 396 MILLOS S P Mateo p 730 397 MILLOS S P Mateo p 731 398 MILLOS S P Mateo p 731 399 MILLOS S P Mateo p 731 400 MILLOS S P Mateo p 730
80
326 Massimo Grilli e Cordula Langner
No ano de 2011 Grilli e Langner escreviam um comentaacuterio ao Evangelho de
Mateus em liacutengua espanhola401 Esta obra oferece uma importante introduccedilatildeo ao
livro de Mateus e em seguida eacute feito um trabalho hermenecircutico em cada capiacutetulo
Estes autores consideraram a periacutecope de Mt 112-19 e a dividiram em trecircs partes
a primeira parte compreende os vv 2-6 (a pergunta pela identidade de Jesus) a
segunda parte consiste nos vv 7-15 (a identidade de Joatildeo Batista) a terceira parte
eacute formada pelos vv 16-19 (Joatildeo o Batista e o filho do homem)402
Estes estudiosos afirmam que Joatildeo Batista eacute o ldquomaior entre os nascidos de
mulheresrdquo (Mt 1111) pelo fato de ele ser o anunciador do Reino dos Ceacuteus e esse
chamado para anunciar a novidade desse Reino eacute ao mesmo tempo um chamado
divino que eacute atribuiacutedo ao proacuteprio Deus como aquele que atua atraveacutes do Batista
para preparar o caminho do Messias e anunciar a chegada do Reino e eacute nesse sentido
que o apresenta como o maior entre todos do passado403
Segundo estes autores a grandeza do Batista eacute vista na maneira toda especial
em que Jesus testemunha agrave multidatildeo afirmando que ldquoele eacute mais do que um
profetardquo404 Joatildeo eacute o cumprimento das Escrituras ele foi aquele mensageiro que
preparou o caminho para o Messias405 A sua grandeza tambeacutem consistia em saber
e reconhecer que ele natildeo era o Messias mas o anunciador que prepara e corrobora
para a chegada do Messias esperado406
Mesmo depois do destaque que Jesus prestou acerca da pessoa de Joatildeo
Batista ele agora afirma que ldquoateacute o menor no Reino eacute maior do que elerdquo407 Segundo
estes estudiosos o menor no Reino eacute chamado para viver nesse Reino que o proacuteprio
Batista anunciou no entanto o mensageiro do deserto apenas experimentou
indiretamente a presenccedila do Reino porque estava na prisatildeo e suas duacutevidas somente
poderiam ser respondidas por meio de seus disciacutepulos que o informam a respeito
das obras que o Messias estava realizando408
401 GRILLE M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo 402 GRILLE M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p 299-300 403 GRILLE M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p 303 404 GRILLE M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p 301 405 GRILLE M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p 303 406 GRILLE M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p 303 407 GRILLE M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p 303 408 GRILLE M LANGNER C Comentario al Evangelio de Mateo p 303
81
327 Joseacute Antonio Pagola
Em 2011 Pagola escrevia o seu comentaacuterio ao Evangelho de Mateus em
liacutengua espanhola Esta mesma obra foi traduzida para o portuguecircs e publicada no
Brasil em 2013409 Este comentaacuterio trabalha o texto inteiro de Mateus oferecendo
uma abordagem em perspectiva libertadora410
Pagola analisa a periacutecope de Mt 112-11411 Ele aborda a prisatildeo de Joatildeo
Batista na fortaleza de Maqueronte considera Joatildeo Batista como ldquoo profeta que
envia dois de seus disciacutepulosrdquo412 cita a pergunta do Batista a respeito da identidade
de Jesus como o Cristo comenta a resposta de Jesus enfatizando os seus sinais
miraculosos confirmando assim que ele era o Messias prometido e esperado e
explica o significado do natildeo se escandalizar em Jesus413
No que diz respeito a Mt 1111 Pagola natildeo faz nenhum comentaacuterio O autor
transcreve o texto de Mt 112-11 em sua obra poreacutem ele natildeo diz nem afirma porque
Joatildeo Batista eacute o ldquomaior entre os nascidos de mulheresrdquo414 Aleacutem de natildeo haver
nenhuma citaccedilatildeo a respeito da grandeza do Batista o autor tambeacutem natildeo explica o
significado da expressatildeo ldquoo menor no Reino dos Ceacuteus ser maior do que Joatildeordquo415 Eacute
possiacutevel crer que Pagola tenha tido a finalidade de apresentar a periacutecope de Mt 112-
11 natildeo enfatizando a pessoa de Joatildeo Batista mas sim o enfoque na pessoa e
ministeacuterio de Jesus como uma proposta de revelar ldquogestos libertadores para aqueles
que necessitam de vidardquo416
328 Ariel Aacutelvarez Valdeacutes
Em 2012 Valdeacutes escrevia em liacutengua espanhola uma obra inteiramente
dedicada agrave pessoa e ao ministeacuterio de Joatildeo Batista Este mesmo comentaacuterio foi
409 PAGOLA J A O caminho aberto por Jesus 2013 410 PAGOLA J A O caminho aberto por Jesus p 7-10 A perspectiva libertadora nesta obra natildeo
tem a ver com ldquogestos justiceirosrdquo mas a diaconia libertadora dos que precisam de vida a sua
identidade de Jesus pode ser revelada por meio de suas obras que eacute a tarefa de curar sanar e libertar
a vida 411 PAGOLA J A O caminho aberto por Jesus p 135 412 PAGOLA J A O caminho aberto por Jesus p 140 413 PAGOLA J A O caminho aberto por Jesus p 140 414 PAGOLA J A O caminho aberto por Jesus p 136 415 PAGOLA J A O caminho aberto por Jesus p 136 416 PAGOLA J A O caminho aberto por Jesus p 136
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traduzido para a liacutengua portuguesa e publicado no Brasil em 2013 Neste livro eacute
possiacutevel perceber algumas novas observaccedilotildees e tambeacutem a criaccedilatildeo de novas
respostas para delinear uma descriccedilatildeo mais ampla da enigmaacutetica vida e missatildeo do
mensageiro do deserto que instaurou o batismo417
Ao comentar Mt 1111 Valdeacutes afirma que Joatildeo Batista eacute o ldquomaior entre os
nascidos de mulheresrdquo por ter sido ele o que saiu para anunciar e preparar o
caminho do Messias e que a sua grandeza e fama estatildeo ligadas ao seu ministeacuterio
de preparar e viabilizar a chegada da manifestaccedilatildeo de Cristo ao puacuteblico418 Para ele
o Batista era uma das pessoas mais importantes no Novo Testamento e isto eacute
perceptiacutevel nas proacuteprias palavras de Jesus que distinguiu o seu papel extraordinaacuterio
e uacutenico no propoacutesito salviacutefico de Deus419 Eacute por esse motivo que este autor
fundamenta a grandeza do Batista nos quatro Evangelhos pois neles estatildeo descritos
que Joatildeo anunciava a vinda do Messias420
O fato de Joatildeo Batista ter sido o anunciador da vinda do Messias como eacute
atestado no Novo Testamento fez com que a tradiccedilatildeo cristatilde lhe desse o sublime
tiacutetulo de ldquoo precursorrdquo421 Ele ainda foi honrado em Jo 17 como ldquoa testemunha
privilegiada de Jesusrdquo pois a sua missatildeo foi uacutenica e exclusivamente anunciar e dar
testemunho a respeito do Messias que jaacute estava entre eles E eacute por isto que os
Evangelhos introduzem logo no iniacutecio em suas narrativas a figura de Joatildeo Batista
no deserto anunciando a vinda de algueacutem que eacute ldquomaior e superior a elerdquo422
No que tange ao ldquomenor ser o maior no Reino dos Ceacuteusrdquo Valdeacutes
diferentemente dos outros autores nada aborda a esse respeito A pequenez que eacute
referenciada ao Batista eacute por ele ter entendido o seu chamado com simplicidade de
anunciar o Reino dos Ceacuteus e de reconhecer que natildeo era o Messias prometido por
Deus423
417 VALDEacuteS A A Enigmas da vida de Joatildeo Batista 2013 418 VALDEacuteS A A Enigmas da vida de Joatildeo Batista p 63 419 VALDEacuteS A A Enigmas da vida de Joatildeo Batista p 91 420 VALDEacuteS A A Enigmas da vida de Joatildeo Batista p 63 O autor afirma que Joatildeo Batista saiu
para anunciar a mensagem com a finalidade de preparar o caminho do Senhor conforme tem nos
quatro Evangelhos e por isso a tradiccedilatildeo deu-lhe o tiacutetulo emblemaacutetico de ldquoo precursorrdquo 421 VALDEacuteS A A Enigmas da vida de Joatildeo Batista p 63 422 VALDEacuteS A A Enigmas da vida de Joatildeo Batista p 63 423 VALDEacuteS A A Enigmas da vida de Joatildeo Batista p 64
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329 Sandro Gallazzi
No de 2013 Gallazzi escrevia o seu comentaacuterio ao Evangelho de Mateus em
liacutengua portuguesa numa perspectiva de leitura a partir dos pequeninos424 Nesta
obra o autor delimitou a periacutecope de Mt 111-15 e a dividiu em duas partes a
primeira parte abarca os vv 1-6 (os pobres satildeo evangelizados) e a segunda parte
consiste nos vv 7-15 (o menor no Reino dos ceacuteus eacute maior do que ele)425
Gallazzi afirma que Joatildeo Batista eacute o ldquomaior entre os nascidos de mulheresrdquo
(Mt 1111) pelo fato de ser o mensageiro que anuncia a vinda do Messias e que ele
era o Elias que devia vir426 Segundo este autor o Batista eacute um ldquodivisor de aacuteguasrdquo
ele eacute algueacutem que estaacute entre duas eacutepocas da histoacuteria pois nele se cumprem a lei e os
profetas427 Para este estudioso o mensageiro do deserto eacute grande porque nele se
reuacutene tudo o que o Antigo Testamento tem de ldquoprofeacuteticordquo de ldquopreparatoacuteriordquo para
aquilo que haveria de vir428 Neste sentido nos tempos de Joatildeo Batista inicia-se
uma nova eacutepoca Ele afirma que o Batista ldquocontinua e contemporaneamente inicia
a economia do Reinordquo429
No que diz respeito ao menor no Reino dos Ceacuteus ser maior do que Joatildeo
Batista Gallazzi afirma que natildeo eacute razoaacutevel considerar os termos ldquomenorrdquo e ldquomaiorrdquo
simplesmente como comparativos de grandeza430 Para este autor natildeo se deve
esquecer que o Reino dos Ceacuteus pertence aos ldquopobres no Espiacuteritordquo (Mt 53 Lc 620)
ou seja o Reino pertence aos que satildeo deixados agrave margem e eacute a estes que Jesus se
referiu e o autor afirma que ldquoo menor eacute dito de todos os pequeninos os pobres os
que choram os humildes os que tem fome e sede de justiccedila os misericordiosos os
pacificadores e sobretudo os perseguidos por causa da justiccedilardquo (Mt 53-12 Lc
620-22)431 Esses pequeninos que agora satildeo considerados ldquomaiores no Reinordquo satildeo
aqueles que receberam a ldquoforccedila e a presenccedilardquo do Espiacuterito Santo que os impulsiona
para o serviccedilo da justiccedila432
424 GALLAZI S O Evangelho de Mateus 2013 425 GALLAZI S O Evangelho de Mateus p 209-215 426 GALLAZI S O Evangelho de Mateus p 217 427 GALLAZI S O Evangelho de Mateus p 217 428 GALLAZI S O Evangelho de Mateus p 217 429 GALLAZI S O Evangelho de Mateus p 217 430 GALLAZI S O Evangelho de Mateus p 217 431 GALLAZI S O Evangelho de Mateus p 217 432 GALLAZI S O Evangelho de Mateus p 217
84
330 Joatildeo Leonel
Em 2013 Leonel escrevia em liacutengua portuguesa uma obra a respeito do
Evangelho de Mateus433 A pesquisa deste autor natildeo se concentra em um
comentaacuterio do livro de Mateus434 Neste trabalho Leonel aborda algumas formas
de ldquomeacutetodos interpretativos modernosrdquo baseados nas ciecircncias sociais e na teoria
literaacuteria tanto no ambiente europeu e americano como no acircmbito brasileiro para
interpretar o Evangelho de Mateus435 Segundo o autor estes meacutetodos
interpretativos ldquoindicam a revitalizaccedilatildeo dos estudos mateanos e sua contribuiccedilatildeo
para as pesquisas acadecircmicasrdquo436
O uacutenico comentaacuterio exegeacutetico que encontramos na obra de Leonel estaacute na
periacutecope de Mt 1422-33437 Nela o autor aplica a anaacutelise narrativa e tambeacutem
emprega algumas etapas do meacutetodo histoacuterico-criacutetico438 Leonel nada afirma no que
tange agrave periacutecope de Mt 112-15 Ele natildeo faz referecircncia ao ministeacuterio e vida de Joatildeo
Batista natildeo menciona porque o Batista eacute o ldquomaior entre os nascidos de mulheresrdquo
e muito menos faz citaccedilatildeo do ldquomenor no Reino dos Ceacuteusrdquo
331 Robert Charles Sproul
Em 2013 Sproul escrevia na liacutengua inglesa o seu comentaacuterio expositivo ao
Evangelho de Mateus Esta mesma obra foi traduzida para o portuguecircs e publicada
no Brasil em 2017439 Este autor natildeo divide a periacutecope de Mt 111-11 mas a
considera como uma grande unidade textual que se caracteriza com ldquoa indagaccedilatildeo
do Batistardquo440
Sproul assevera que Joatildeo Batista eacute o ldquomaior entre os nascidos de mulheresrdquo
(Mt 1111) por ser o mensageiro escolhido o arauto do Reino o que viria e
apresentaria o Messias Rei441 Para este estudioso a grandeza de Joatildeo pode ser
433 LEONEL J Mateus o Evangelho 2013 434 LEONEL J Mateus o Evangelho p13-28 435 LEONEL J Mateus o Evangelho p 29-68 436 LEONEL J Mateus o Evangelho p 29 437 LEONEL J Mateus o Evangelho p 117 438 LEONEL J Mateus o Evangelho p 118-147 439 SPROUL R C Mateus 2013 440 SPROUL R C Mateus p 291 441 SPROUL R C Mateus p 296