Aconcágua - Relato da Expedição Polacos
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Aconcagua – Expedição Polacos
Dezembro 2010/Janeiro 2011. Particpantes: Arthur Estevez e Paulo Marim Junior.
Texto: Paulo Marim Junior. Revisão: LH Moreira
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Glaciar dos Polacos – parte 1 .................................................. 3 Pisar nas encostas daquela montanha novamente me fazia automaticamente
lembrar das circunstâncias da primeira experiência há quatro anos. Eu não podia deixar de sempre comparar com o que eu estava vivendo agora. No
final, cheguei à conclusão de que fora...
Pé na estrada – parte 2........................................................... 9 No dia seguinte saímos para resolver a burocracia da permissão na Secretaria de Turismo e Caro nos acompanhou. Tive problemas para sacar dinheiro do
cartão do meu “querido” banco Santander que insiste em bloquear minhas transações internacionais mesmo utilizando o...
Muita neve – parte 3 ............................................................ 16 Nesta noite nevou pesado sem interrupção. Para sair da barraca primeiro tivemos que desobstruir a entrada. Acordamos com meio metro de neve cobrindo tudo de branco. Mais tarde partimos para o campo um. Arthur me
contou que ouvira de alguém, que...
Expectativa – parte 4 ........................................................... 25 No dia seguinte não fizemos o dia de descanso e movemos nosso acampamento do 1 para o 2. A subida foi um pouco menos dura, pois pelo menos eu já sabia que ela terminava e onde. Eu oltara a usar...
A Escalada – parte 5 ............................................................. 31 Acordei com o bip inaudível do alarme do meu relógio de pulso. Diferente dos dias de folga, que eu custava para levantar às nove da manhã, eram 4:30 da
madrugada e fazia 21 graus negativos no termômetro. Chamei Arthur que...
A Volta – parte final ............................................................. 43 Não sei se era porque estava escuro, mas a descida me pareceu muito maior do que eu lembrava. Uma nova onda de medo bateu. Se eu não conseguisse forças para descer… A maioria das estórias que eu conhecia de acidentes...
Cronograma ......................................................................... 66
A Equipe .............................................................................. 67
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Glaciar dos Polacos – parte 1
Pisar nas encostas daquela montanha novamente me fazia automaticamente lembrar as circunstâncias da primeira experiência há quatro anos. Eu não podia deixar
de sempre comparar com o que eu estava vivendo agora. No final, cheguei à conclusão de que fora quase outra
montanha.
De 2006 pra cá, subi algumas montanhas nevadas. Algumas com companhia. E uma delas foi o Tronador, na
Argentina. Tive sorte de encontrar com Arthur Estevez na cidade de Bariloche querendo subir a mesma montanha e
sem parceiro. No final conseguimos fazer cume e desde
então combinávamos uma próxima escalada.
Recebi alguns convites de amigos para voltar ao Aconcagua, mas já que era pra sofrer aquilo tudo
novamente, eu gostaria de fazer algo bem diferente da rota normal, que eu já conhecia. Sentir a ansiedade que
antecederia o que seria pra mim um novo desafio. Eu queria tentar o Glaciar dos Polacos, pela rota direta. A face
do Glaciar dos Polacos tem um nível de dificuldade intermediário naquela montanha e a rota direta
acrescentaria o fator aventura.
O Glaciar dos Polacos fica na face nordeste da montanha ligeiramente oposta à rota normal na face
noroeste. Esta última costuma ter bem menos neve, pois recebe a maior parte dos ventos que carregam a neve que
se deposita na face sul e nos glaciares do leste.
Em 2010, quando eu começava a planejar alguma
montanha na Bolívia, Arthur me perguntou se eu não queria voltar ao Aconcagua.
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- Só se for pela Polacos Direta! - Respondi.
Achamos que já estávamos prontos para encarar
uma rota um pouco mais técnica na maior montanha das Américas e sugeri que nos preparássemos para a
temporada de 2011. O negócio é que eu pensava em dezembro de 2011 e Arthur já planejava para janeiro.
Quando percebi o que ele quis dizer, fiquei um pouco assustado com o pouco tempo que eu teria para treinar e
organizar todos os detalhes da expedição, mas mesmo assim sugeri o período entre o natal e o meio de janeiro. E
por que não fazer também alguma alta montanha no meio do ano? Seria um belo treino. O colega russo Alexey
Maylibaev convidou para escalar no Peru e o treino estava acertado.
Aos poucos Arthur foi chegando com as notícias de apoio das marcas representadas pelas empresas Proativa e
Verticale. Pudemos então contar com equipamentos excelentes da Deuter, Princeton Tec, Lorpen e Edelweiss e
eu ainda com o apoio da Associação da minha empresa, a Assiplan.
Apesar de ter escalado três montanhas por volta dos
6.000 m no Peru e estar com certo ritmo de treinamento,
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eu tinha a impressão de que em 2006 estava muito
melhor preparado. O que era uma pequena preocupação, visto que imaginava que o esforço seria muito maior desta
vez. Eu não conseguia me imaginar na condição que eu anteriormente cheguei ao cume, sem agüentar dar um
passo antes de respirar profundamente e tendo que escalar um lance de rocha de vinte metros que fosse. A
quase 7.000 m de altura, com todo o peso do equipamento e mais alguma coisa (parafusos, estacas, corda,
mosquetões, capacete), seria um esforço hediondo, mesmo para um terceiro grau. E os lances de 60 graus de
inclinação? É a inclinação das paredes do Morro da Babilônia. Isso ia ser extremamente desgastante para
progredir reto para cima por um trecho de 100 metros…
Cruzar novamente a cordilheira dos Andes, na estrada de Santiago do Chile a Mendoza, me transportou
no tempo também. Eu acompanhava cada detalhe da ferrovia abandonada que seguia paralelamente a estrada e
que ainda resistia ao tempo. Por vezes desaparecida sob algum desmoronamento e outras vezes serpenteando
intacta através dos numerosos túneis na rocha.
Na fronteira, alcancei o ponto mais alto do percurso,
por volta de 3.100 e a cabeça pesou. Ao sair do ônibus para os procedimentos de imigração, senti repentinamente
o ar frio e seco doer as narinas e o vento frio em contraste com o calor abafado de Santiago. Na rodoviária de
Mendoza, fui recebido pelo casal de amigos Sebastian e Caro que me acompanharam até o Hostel onde Arthur se
hospedara. Larguei minhas coisas lá também e saímos para jantar. Sentados num restaurante de frente para
uma praça com guarda-sóis vermelhos e mesas na calçada, onde em 2006 comi uma hamburguesa,
contamos nosso primeiro perrengue com o aumento da
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permissão de escalada em 50% (só para o governo de
Mendoza, estávamos desembolsando 1.500,00 reais) e nossa pretensão de economizar ao máximo dali pra frente.
Talvez por isso também, o casal tenha nos convidado para um assado em sua casa no dia seguinte e oferecido
também uma pernoite lá antes de partirmos para a região do Aconcagua.
Sebastian e Caro
O assado argentino é uma espécie de churrasco com alguns legumes também feitos na brasa. Além disso,
tínhamos uma piscina no quintal para aliviar do calor “mendocino” que só se diferenciava do carioca por ser
extremamente seco. Aproveitamos bem com a consciência
de que não veríamos banho e carne por quase um mês.
Sebastian já esteve no topo do Aconcagua por três vezes e o conheci lá em 2006 em sua segunda vez. Depois
voltou com uma equipe de cientistas para ajudar na manutenção dos equipamentos de medição que estão
instalados no topo. Seba nos forneceu muitas informações importantes e contou algumas estórias curiosas a respeito
do andinismo em Mendoza e no Aconcagua. Segundo ele,
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esta estava sendo uma das temporadas mais frias e há
dois dias tinham sido registrados ventos de 100 km/h no cume. De conhecimento desta última notícia, Arthur ficou
um pouco apreensivo, pois optara em não levar os gogles (máscara de esqui). Soubemos de uma gigantesca
expedição japonesa de uma empresa multinacional na década de 90 que ocupou o acampamento de Plaza de
Mulas e consumiu todos os recursos de infraestrutura de mulas, porteadores para colocar uma grande equipe no
topo com cinegrafistas espalhados pelo caminho para produção de um documentário. Conversamos sobre o
acidente do mendocino Federico Campanini e Seba contou alguns detalhes. Seba estava se preparando para retornar
em dois meses para ajudar a levar um equipamento chamado gravímetro, de 45 quilos, lá pra cima que serviria
para um estudo sobre a força da gravidade no local. Os cientistas querem saber se a força da gravidade age com
maior ou menor intensidade naquela altitude e se o enorme volume de massa da montanha também influi
alterando a intensidade da atração gravitacional. Perguntei se ele sabia como ia levar o equipamento, que
não podia ser desmontado, mas não havia sido decidido ainda. Talvez seja carregado por porteadores peruanos…
Os porteadores nos Andes são os equivalentes aos
sherpas no Himalaia. Trabalham como carregadores de
altitudes levando até 30 quilos, subindo várias vezes ao dia entre um acampamento e outro, montando barraca,
fazendo comida e ocasionalmente como guias ou assistentes para os clientes de expedições comerciais.
Cada trecho feito por eles custa em torno de 100 dólares, seja subindo ou descendo. Isto, é claro, estava fora de
nosso orçamento. E, segundo nosso plano de aclimatação, iríamos fazer cada trecho entre os acampamentos
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superiores duas vezes. Uma para transporte de carga e
outro definitivo. Isso nos possibilitava levar 15 quilos cada um em cada viagem, uma vez que nossa carga total era de
60 kg incluindo equipamentos técnicos e comida.
A aproximação de três dias até o acampamento base ainda não estava 100% decidida. Na noite anterior,
conversamos sobre estes detalhes pendentes, ainda considerávamos uma pequena hipótese de não pagar o
serviço de mulas para diminuir o nosso prejuízo total com os 500 dólares do aumento da taxa da escalada que juntos
teríamos que pagar. As mulas no Vale de Vacas custam o dobro do preço do mesmo serviço no Vale de Horcones. A
empresa mais barata que encontramos cobrou 290 dólares. Além de o caminho ser mais longo, sessenta
quilômetros até Plaza Argentina contra quarenta até Plaza de Mulas, muitos dos que contratam as mulas para Plaza
Argentina fazem a travessia e voltam pelo outro vale. Assim as mulas fazem uma viagem somente com carga
enquanto as outras do outro valem fazem ida e volta com clientes.
Essa era nossa idéia também. Queríamos voltar pelo outro vale. Queríamos aproveitar que estaríamos mais
leves, sem o peso da comida, combustível e descendo, para não contratar as mulas na volta. Por Horcones
seriam somente dois dias. Seria mais interessante fazer um caminho diferente para voltar, para eu relembrar 2006
e para Arthur conhecer o outro lado da montanha. Talvez uma visita à face sul…
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Pé na estrada – parte 2
No dia seguinte saímos para resolver a burocracia da permissão na Secretaria de Turismo e Caro nos acompanhou. Tive problemas para sacar dinheiro do
cartão do meu “querido” Banco Santander que insiste em bloquear minhas transações internacionais mesmo
utilizando-o assim várias vezes ao ano. Escolhemos a empresa que forneceria as mulas e aproveitamos para
esticar até a Casa Orviz, na mesma avenida. Uma loja de venda e aluguel de equipamentos que eu conhecia por ter
grande oferta de material e preços bons. Eu decidia ainda se comprava ou alugava uma jaqueta de penas de ganso,
pois eu tinha uma de pluma sintética muito pesada – 1,6 kg contra os 600 g da maioria dos modelos de pena de
ganso. No final, decidi ir com a minha mesmo que apesar de pesada era muito quente. Compramos somente um refil
de gás para levar para o cume junto com um pequeno fogareiro em caso de emergência. Conhecemos uma
paulista que trabalhava na loja. A menina nos mostrou os dedos levemente atrofiados e contou que tivera
congelamentos há alguns anos por não utilizar mitones (luvas de dois dedos, mais quentes do que as de dedos
separados). Recomendou que levássemos hot-hands, uma espécie de sachê que, em contato com o ar, produz calor
por até 12 horas. Concordamos prontamente e levamos um par para as mãos e um para os pés.
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No dia seguinte, estávamos pegando o último ônibus
para Los Puquios, base ao lado da rodovia de onde sairiam nossas mulas e onde acamparíamos ao lado de uma
cabana que funcionava como restaurante também. Foi engraçado ver um grupo de alemães e americanos nos
observando com cara de preocupação quando sacamos a barraca dentro da embalagem, ainda lacrada, e
começamos a descobrir como montaríamos em meio a alguma leitura nas instruções. Eu namorava esse modelo
de barraca há anos pela internet em uma loja chilena e algumas semanas antes de viajar, descobri que havia
somente uma dela e em promoção. Comprei e pedi para entregar na casa de uma conhecida de Arthur que morava
em Santiago. Depois de conversar com os gringos que também acampavam em Los Puquios, expliquei que
somente a barraca era nova. Nós tínhamos alguma experiência! Os alemães foram muito gentis e ficaram
empolgados depois que contamos que tínhamos o apoio da marca alemã Deuter no Brasil e que tentaríamos o
Glaciar.
Logo durante a noite, a barraquinha já tinha o seu batismo, suportando uma pesada chuva que diminuiu de
intensidade somente pela manhã, se transformando em um sereno. Arrumamos nossas coisas, acompanhamos o
empacotamento do equipamento que seguiria nas mulas e
seguimos de van até a entrada do parque em Punta Vacas. Lá fizemos o “check-in” na tenda dos guarda parques e
começamos o nosso primeiro dia de caminhada embaixo de uma chuva fina.
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Após 4 horas, mais ou menos, cheguei ao
acampamento Pampa de Las Leñas e Arthur, que tinha se adiantado, já me aguardava. Neste primeiro dia as mulas
chegaram depois de nós. No segundo dia, decidimos colocar a barraca que carregávamos na carga das mulas
para ficarmos ainda mais leves e desta vez quase corremos por outras quatro horas até o acampamento Casa de
Piedra. O caminho desde então, apesar de longo, com vinte quilômetros cada dia, tinha pouco desnível, mas o
trecho seguinte nos reservava o dobro ou mais: mil metros até o acampamento Plaza Argentina.
No acampamento Casa de Piedra, conhecemos um
polonês que falava um pouco de português. Morou alguns meses no Brasil e nos contou de sua idéia de também
entrar no glaciar conquistado por seus conterrâneos.
Neste terceiro dia, acordamos muito cedo, às cinco da manhã, para as sete já estar atravessando um rio de
degelo que corria ao lado do acampamento. Só de tirar o
sapato e a meia, já dava uma tristeza sem fim. No primeiro passo dentro da água congelante, já não senti mais o pé. A
partir daí era pisar com cuidado pra não machucar nas pedras e torcer pra acabar logo. O torpor virava uma dor
aguda com o passar do tempo. Mesmo depois de calçar os
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sapatos novamente, ainda caminhamos um bom tempo
com os pés gelados e dormentes.
Combinamos de Arthur se adiantar, pois no dia anterior segui seu ritmo e achei que tinha me desgastado
mais do que no primeiro. Além do mais eu parava para fotografar e filmar. Neste último dia, a beleza do Vale de
Vacas continuava presente na vegetação rasteira até quase 4000m. Numa das paradas que fiz para descansar,
sentei num tufo daquelas gramíneas e imediatamente senti as nádegas pegando fogo! Saltei com a sonoplastia
de um berro. É claro que uma vegetação que nasceu a tanto custo naquela altitude e com aquele clima desértico,
tinha que se proteger das mulas e espertinhos como eu com centenas de espinhos duros, com o comprimento de
uma unha e afiados como agulhas, camuflados entre as pequenas folhas.
Somente neste terceiro dia também é que tivemos a nossa primeira visão do gigante. Caminhando por um
estreito cânion, depois de abandonar o Vale de Vacas, o primeiro que aparece é uma ponta branca de neve atrás
de montes de rocha. Quando o glaciar se mostrou por inteiro e pude identificar, inclusive, a rota direta 4000 m
acima de mim. Senti-me um insignificante arrogante e pretensioso. Eu tentava me imaginar formiguinha,
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arranhando o glaciar e pendurado em alguma parte da
imensidão branca. Quem tinha inventado essa idéia? Mais uma enrascada! O glaciar parecia uma parede, visto dali
onde estava. Quem disse que era o tempo todo 45 graus de inclinação? Restava-me ir lá e conferir…
Neste dia reparamos numa equipe de oito
montanhistas indonésios que traziam os dizeres “Seven Summits” nas bagagens. Seria o Aconcagua o primeiro ou
o último cume dos de cada continente que eles estariam tentando? Por ser um grupo maior ou por estarem com
mais peso, ultrapassei o pessoal, agradecendo a passagem.
Horas depois cheguei ao acampamento base Plaza
Argentina e encontrei Arthur já finalizando a montagem da nossa barraca. O esquema lá é parecido com o de Plaza
de Mulas. O acampamento é todo loteado pelas empresas de expedições e de acordo com o fornecedor contratado,
você acampa em um local determinado. Neste primeiro dia não fizemos mais nada a não ser beber água e urinar.
Para gostar de alta montanha tem que ser meio doido. Deve-se gostar de andar mais que Cristo e de beber
água até explodir, estilo tortura oriental. A consequência é a vontade de urinar a cada hora. Uma vontade que chega
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devastadora e de repente você tem poucos segundos para
resolver. A solução é deixar uma garrafa com boa capacidade e boca larga dentro da barraca. E esvaziá-la de
vez em quando lá fora.
Era o último dia do ano, o segundo réveillon que eu passava dormindo sem comemorações e na companhia de
Arthur. Quantas pessoas estariam se abraçando, desejando votos de felicidades numa onda que circundava
o planeta a cada hora? Naquele momento somente interessava me aninhar no saco de dormir e me entregar
ao sono sem tomar conhecimento de nada.
No dia seguinte, tiramos para descanso, pois no
próximo faríamos nossa primeira subida com carga ao primeiro acampamento de altitude, o campo 1. No nosso
dia de folga visitamos o médico para exames de rotina. Já vínhamos monitorando a oximetria com um oxímetro
de bolso e sabíamos que estávamos com bons níveis. Arthur se mantinha com a porcentagem de oxigênio
alguns pontos melhor que eu, mas no exame com o médico, apresentou a pressão arterial um pouco alta. Foi
recomendado evitar sal e fazer uma nova visita depois.
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O médico e a guarda parque Erica nos deram
algumas informações e sugeriram que fizéssemos porteio em cada acampamento de altitude. Disseram que
poderíamos conseguir informações com dois porteadores que haviam feito a mesma rota há algumas semanas, um
deles chamado Mariano. Procurei a pessoa pelo acampamento, mas não o encontrei.
Ocasionalmente, víamos montanhistas manipulando
equipamentos técnicos: cordas, parafusos, estacas e capacetes. Isso confortava, pois sabíamos que existiriam
outras equipes no glaciar, mas preocupava com a possibilidade de haver engarrafamento nos lances mais
delicados, caso a rota fosse a mesma que a nossa. Tratamos de separar nossa tralha que subiria no dia
seguinte.
Muita neve – parte 3
Nesta noite nevou pesado sem interrupção. Para sair da barraca, primeiro tivemos que desobstruir a entrada. Acordamos com meio metro de neve cobrindo
tudo de branco. Mais tarde partimos para o campo um. Arthur me contou que ouvira de alguém, que o ideal para
sabermos se conseguiríamos fazer a Polacos era se conseguíssemos subir o trecho entre o acampamento base
e o acampamento um em três horas e meia. Segundo informações na internet esse percurso era feito de 3 a 5
horas.
Ia ser a primeira vez que eu iria caminhar com
aquelas minhas novas botas duplas. Novas porque eu estava estreando, mas eu as tinha comprado de segunda
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mão. Foi meio em cima da hora e pela internet, pois as
minhas antigas tinham começado a se esfarelar na última montanha que fiz no Peru. Não me preocupei muito com
isto, pois elas eram do mesmo número da antiga e, apesar de serem de outra marca e modelo, já vinham amaciadas!
Bolhas nos calcanhares
Mas não é que as coisinhas começaram a fazer um atrito miserável nos calcanhares? Eu não estava nem na
metade, Arthur já tinha disparado na frente com os “silver tape” enrolados nos bastões e agora eu ia pisando com
cuidado e curtindo as dores das bolhas que começavam a se formar. Sempre costumo dizer que bolha se resolve no
início. E a melhor solução pra mim é cobrir o local com “silver tape” antes de formar a bolha e não vi outra
opção. Nem me lembro da última vez que tive bolhas nos pés e agora eu tinha mais uma coisa pra me preocupar. Se
andar algumas horas estava me torturando, no dia do cume, com 10 horas de escalada e o pé já detonado há
dias ia ser uma delícia, além de ficar mais suscetível a congelamentos nas áreas machucadas.
Durante a subida, novamente ultrapassei uma turma que havia começado antes de nós e entre eles, os
indonésios do grupo “Seven Summits”. Notei que um deles caminhava muito devagar com uma cara nada boa,
acompanhado de perto por um guia. A dupla estava bem
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distante do resto do grupo e parava com frequência para
que o cliente se recuperasse. Acho que esse indonésio, infelizmente, retornou antes do campo 1.
Vento branco no cume à esquerda,
subindo para o campo1
Consegui chegar ao campo 1 com as 3:30h, mesmo parando algumas vezes e não caminhando a todo vapor.
Arthur chegou com uma hora de antecedência e tiritava de frio me esperando abrigado do vento atrás de um muro de
pedras construído rusticamente. Ensacamos os equipamentos que iam ficar lá dois dias até a nossa volta
e os colocamos contra a parede de pedra com algumas rochas por cima. Um grupo que acabava de chegar, nos
perguntou quando voltaríamos, pois queriam usar o espaço para a barraca deles. Com a nossa resposta,
começaram a armar seu acampamento por ali, já que pensavam em deixar o campo 1 logo no dia seguinte,
antes de retornarmos.
O campo 1 me era muito exposto, pois fica na borda
de um despenhadeiro bem íngreme e rochoso, mas as barracas se aglomeravam dali para cima ao longo de uma
canaleta estreita que parecia mais abrigada dos ventos que vinham do alto.
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Começamos a descida que foi desgastante, mas bem
rápida – em torno de uma hora e meia.
No resto do dia tivemos Sol, vento forte, neve, Sol de novo, vento, neve outra vez…
Placas solares
O dia seguinte era mais um dia de folga e novamente passamos o dia bebendo água e urinando. Começava a
ficar chato ter que ir tantas vezes ao rio para buscar água e revezávamos. Como desde 2006 não havia mais o sinal
chileno de celular na montanha, começamos a nos distrair, pra não morrer de tédio, com os joguinhos do
meu celular, que eu carregava com umas plaquinhas solares. Arthur começou a reclamar de uma dor de cabeça
resistente à aspirina e atribuiu a ela a sua subida muito rápida. Talvez ele tivesse bebido pouca água. Sugeri a ele
que não tomasse a aspirina diária que ele vinha tomando para ajudar a afinar o sangue, pois isso poderia mascarar
qualquer falta de hidratação. Eu usava a minha dor de cabeça como alarme. Quando ela começava de leve, eu
bebia alguns litros de água e em pouco tempo ela desaparecia.
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Chegou o dia em que deixaríamos o acampamento
base e esse dia começou com um vento aterrador. Fomos dar uma última olhada na previsão do tempo e tiramos
uma foto da tela do “netbook” da barraca de uma expedição comercial, para podermos consultar depois.
Tínhamos planejado tentar o cume nos dias 9 ou 10 de janeiro. A previsão mostrava até somente o dia nove, com
neve neste último dia. Imaginando uma melhora dia 10 ou 11, desmontamos a barraca, com muita dificuldade – pois
ela teimava em achar que era um paraquedas - e partimos.
Agora eu usava as botas de “trekking”, pois vi que na
subida anterior não estava tão frio e nem foi necessário usar crampons. Tinha feito uns baitas
remendos com “silver tape” e esparadrapo nas bolhas dos calcanhares e nas novas bolhas dos dedos mínimos que
surgiram na descida. Como eu sabia que era capaz de fazer o caminho em três horas e meia, não me preocupei e
demorei um pouco mais parando no caminho para comer algumas barras de cereais. Comecei a subir a última
ladeira antes do acampamento e à medida que eu ganhava altura, o vento se tornava mais violento. O último trecho
antes do platô, que é o campo 1, era bem íngreme e, ainda no barranco, faltando um metro para alcançá-lo, pude ver
as primeiras barracas do acampamento. Tomei então uma
rajada de vento tão forte que tive que me agarrar com as duas mãos nas pedras ao meu lado e esperar um
momento para não voar ladeira abaixo. Ao chegar, lá estava Arthur, quase roxo de frio, se abrigando atrás de
outra parede de pedras. O grupo da barraca que ocupou o nosso lugar, não tinha desmontado acampamento e
aguardava ainda ali pela melhora do tempo. Arthur tinha começado a levantar outra parede de pedra que abrigaria
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nossa barraca e, depois de descarregar minha mochila,
ajudei-o a montar a nossa tenda. Vesti o casaco pesado de pluma para poder continuar o trabalho do muro no meio
da ventania e ficou razoável.
No resto do dia, a turbina continuou ligada e nevando. No dia seguinte, o vento continuou forte e
passamos boa parte do tempo tomando mate argentino – o chimarrão brasileiro. Era o nosso dia de folga antes do
porteio para o campo 2. A diversão dos nossos vizinhos de barraca deve ter sido contar as vezes que saíamos para
urinar. O chato de urinar no vento forte é que se tem que se preocupar em fazer o xixi e se esquivar dele ao mesmo
tempo. Depois passamos a usar as garrafas dentro da barraca. Se com a urina, resolvíamos com garrafa, com o
resto não tinha escolha. Era abaixar a bunda nua no vento e na neve e tentar ser o mais rápido possível. Arthur
começou com um papo de que ia fazer dentro da barraca, mas discordei com veemência! Desagradável por
desagradável, achei mais sensato continuarmos sentindo o frio na bunda do que o cheiro na barraca!
Pegar água no rio, quase sempre congelado, também era um castigo, o que ia lá sempre voltava com os dedos
duros e doendo de frio. Mesmo com luvas.
Neste dia chegaram muitas barracas e conversamos com um dos guias dos indonésios. Seu nome era Abu e ele
era peruano, de Huaraz. Arthur fez uma média comentando então que o camarada deveria ser bem forte e
Abu se empolgou contando suas façanhas. Disse que havia feito a Polacos direta de um tiro só desde a entrada
da rodovia em Punta Vacas e saiu por Horcones. Comentamos do Tocllaraju, montanha que escalamos em
Huaraz e Abu se amarrou relembrando e simulando com
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as mãos os movimentos com o piolet do lance negativo de
gelo sobre uma grande greta. Disse, então, que não teríamos dificuldades na rota direta, pois os lances
técnicos eram mais simples do que os do Tocllaraju. Abu também comentou sobre a bota de Arthur, pedindo para
ele tomar cuidado, pois ela era bem fria. Disse que já havia escalado com ela lá e que ele tinha que ser rápido,
sem parar, usar um sache de esquenta pés e recomendou levar um par de meias secas pra trocar quando as outras
ficassem úmidas. Disse que o Aconcagua era a montanha mais fria que ele conhecia.
Durante a noite continuou nevando.
Caminho para o campo 2
No dia do porteio, pra variar, o vento continuava bem forte e arrumamos as coisas devagar. Quando finalmente
deixamos o acampamento, uma fila indiana de vários grupos se espalhava por uma linha que era o caminho
na encosta nevada. Alcançamos o último grupo e
descobrimos que todos seguiam por uma bifurcação rumo ao acampamento Guanacos, para o que chamam de
Travessia da Polacos, Polacos Transversa ou Duas Faces. Neste ponto, os grupos saem para encontrar a rota normal
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mais ou menos na altura de Berlim ou Cólera, com uma
parada no acampamento Guanacos que também é conhecido como campo 3.
Tomamos o caminho da esquerda e começamos uma
subida interminável. A altitude começava a fazer diferença. No final alcançaríamos os 5.800 m do
acampamento 2. Somente mais um grupo de três homens e três meninas dos Estados Unidos seguiram conosco e
também se instalaram aos pés da imensa geleira. A visão daquela massa de gelo que agora sumia lá no topo entre
nuvens escuras era ao mesmo tempo incrível e assustadora. O belo e liso tapete branco visto desde os
3000 m de altitude agora se transformava num oceano encrespado de seracs, gretas e rimalhas como cicatrizes
ou rugas que se franziam por causa da nossa proximidade. Pelo menos a inclinação parecia menor.
Uma das meninas me ofereceu biscoitos amanteigados, mas recusei, num gesto de educação
irracional. Perguntei qual o caminho que eles fariam e me disseram que seguiriam para Cólera, numa variação da
Rota Duas Faces. Esta opção usa um trecho de aproximadamente duas horas para ligar o campo dois com
a rota normal e que também é chamada de Falsa Polacos quando a aproximação é feita pela rota normal, porém o
ataque ao cume é feito pelo glaciar, no sentido inverso. Este caminho nós utilizaríamos em parte da nossa
descida.
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O Glaciar visto do campo 2
A menina então perguntou qual a nossa rota.
Apontei para o Glaciar e disse:
-The Polish Direct.
-The glaciar? Good Luck! – Respondeu em inglês
desejando boa sorte.
Que surpresa. Tanta gente nos acampamentos inferiores e somente eu e Arthur pra entrar nesse mar de
gelo…
Iniciamos a descida para o campo 1 junto com o
grupo de americanos. No campo 2 nenhuma viva alma, somente nossos equipamentos.
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Expectativa – parte 4
No dia seguinte não fizemos o dia de descanso e movemos nosso acampamento do 1 para o 2. A subida foi um pouco menos dura, pois pelo menos eu já sabia que
ela terminava e aonde. Eu voltara a usar as botas duplas, administrando as bolhas com fitas, esparadrapos e
guardando para o dia do cume uns curativos próprios para bolhas que Arthur trouxera e me ofereceu. Era uma
espécie de adesivo de espuma em forma de círculos de vários tamanhos e vazados no meio para acomodar a
bolha.
Depois de montar a barraca, fomos nos abastecer
com benzina deixada lá pelos grupos que voltavam mais leves. Nossos dois litros iniciais já estavam no final e
garantimos mais um litro.
De acordo com nosso planejamento, precisaríamos ficar dois dias no campo 2 aclimatando antes de tentar o
topo no dia 9. Mas este dia era o dia da neve pela tarde. Aguardaríamos um pouco mais para, na véspera,
contatar o acampamento base via rádio e nos informar sobre o clima. Cheguei a cogitar a hipótese de, por conta
da meteorologia, antecipar a tentativa de cume para o dia 8, mas Arthur discordou, com razão. Não seria suficiente
para nos acostumarmos com a altitude. Precisávamos ter certeza que estaríamos em perfeitas condições físicas para
a escalada.
Meses antes, eu havia mandado “email” para as
listas de discussão sobre montanhismo de que faço parte buscando opiniões de quem por ventura houvesse
escalado esta rota. Recebi uma resposta de Rudah, do Rio Grande do Sul, que definiu a diretissima como mais
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tranquila para subir, porém mais complicada em caso de
abandono e retorno devido a alguns trechos mais íngremes.
Quando conversamos com o guia peruano Abu,
tivemos esta definição:
- O Glaciar dos Polacos é fácil, mas muito perigoso! Complicado para desistir e voltar por ele.
Além dessas informações, eu já tinha conhecimento de pelo menos uns dois relatos na internet sobre acidentes
fatais ali. Um ao tentar retornar e outros numa tempestade no próprio acampamento. Além disso, na
semana anterior, havia morrido uma americano que subiu pela Polacos. Provavelmente se esforçou além do que podia
para sair por cima e morreu na descida, pela rota normal, após chegar ao cume. Foi vítima de edema pulmonar e
graves congelamentos devido à tempestade que o surpreendeu na volta.
O maratonista e escalador carioca Fernando Vieira,
conhecido por sua força e velocidade na escalada, também tem uma estória na direta da Polacos. Encontrou um
parceiro na montanha para acompanhá-lo, mas este veio a falecer na tentativa. Fernando chegou ao topo, saindo da
rota, escalando lances de rocha ao invés de seguir pela neve. Ouvi a estória pelo Flávio Carneiro - o Bagre - e
Arthur pôde saber dos detalhes quando pegou o piolet
emprestado do próprio Fernando.
Em 2009, um vídeo repercutiu pela internet e TV, Mundo afora, mostrando o resgate frustrado do guia
argentino Federico Campanini que acompanhava um grupo de clientes pela rota normal. Os montanhistas
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chegaram muito tarde ao cume e o guia vinha subindo
distante, mais atrás, já sofrendo sintomas de edema pulmonar. Cansados, confusos e com o tempo fechado, os
clientes tomaram a direção do Glaciar dos Polacos na descida. Somente após duas noites esperando socorro, um
grupo de resgate alcançou os montanhistas. A italiana Elena Senin já havia falecido, vítima de uma
queda de centenas de metros por não ter equipamentos técnicos para o glaciar. Os outros três clientes italianos
foram salvos, mas Federico foi deixado ainda com um sopro de vida depois de infrutíferas tentativas de arrastá-
lo de volta para cima.
O pai teve acesso então ao chocante material que trazia registrados os últimos instantes do filho e desde
então lutou para provar que houve negligência na condução, deste que foi o resgate de maior mobilização da
estória da montanha. Aliado à comoção pública, conseguiu que o chefe da equipe de resgate fosse
exonerado do cargo. O pai faleceu no ano seguinte.
A família da italiana doou recursos para a
construção de um novo abrigo de emergência na rota normal, no acampamento Cólera, que passou a se chamar
refúgio Elena.
Todas essas estórias me traziam a certeza de que uma vez começado a escalada, ela teria de acabar no topo.
Então que esperemos pelo dia 10 ou 11.
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Mas esperar confinados num espaço de 2×2 sem ter muito o que fazer e ante tamanho desafio e riscos fazem a
mente trabalhar contra nós. Ou a favor de nossa integridade. É esperando pela batalha, que muitos
exércitos se acovardam. É preciso ter muito equilíbrio para afastar os pensamentos paranóicos sem perder o
bom senso. Passávamos o tempo lendo, jogando conversa fora, fazendo pequenos reparos nos equipamentos, com os
jogos do celular e com as tarefas diárias de derreter gelo, fazer comida e tomar líquidos.
Neste primeiro dia de folga no acampamento, vimos
uma dupla descendo pela nossa rota e fomos ao encontro deles para saber as condições. Eram dois russos, um
falava muito mal o inglês e o outro sabia algumas palavras de espanhol. Depois de muita dificuldade, entendemos
que eles tinham subido somente 200 m e comentaram que não havia muita neve. No máximo até a canela. Contaram
que estavam aguardando alguém subir antes deles para abrir o caminho…
Mais tarde, um grupo maior, mas microscópico pela distância, descia, desta vez, pela rota clássica, menos
inclinada e acompanhando a borda esquerda do glaciar numa grande curva. Mesmo assim o grupo parecia descer
lentamente e com dificuldade, usando corda em alguns
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lances. Não conseguimos encontrá-los para colher
informações.
Neste dia também fizemos contato com o Acampamento Base, via rádio, mas nem precisava.
Estávamos no dia 8 e a neve nem esperou pela tarde do dia 9 para cair. Com o entardecer, começou cair
pesadamente e assim permaneceu a noite toda e o próximo dia inteiro.
Após novo contato com os guarda parques de Plaza Argentina, ficamos sabendo que o dia seguinte seria de
céu azul, mas com ventos de 50 km/h. O dia 11 teria somente 20 km/h e isso é uma brisa no Aconcagua.
Tínhamos que torcer para durante o dia anterior ventar bastante e fazer calor para soprar ou derreter a neve do
glaciar e durante a noite fazer bastante frio para endurecer o que restasse. Ou…
Talvez no dia 12 tivéssemos mais um dia propício,
sem nuvens e pouco vento. Não seria melhor esperar mais um dia ainda pra garantir melhores condições no glaciar?
Pedi a Arthur que perguntasse sobre o prognóstico do dia 12 enquanto ainda estava no rádio com os guardas. Mas
Arthur não ouviu ou não achou necessário. Talvez não
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conseguisse se imaginar mais um dia de expectativa,
enfurnado na gaiola de nylon. Nós dois já não víamos a hora de começar o retorno. Não precisar urinar na garrafa
a alguns centímetros do parceiro. Respirar ar puro ao invés do ar malcheiroso da barraca de dois marmanjos, 15
dias sem banho e usando as mesmas roupas. Usar uma privada limpa ao invés de evacuar atrás de uma pequena
rocha, indignamente, quase em praça pública sob os olhares dos outros montanhistas. Comer um lomo - o filé
mignon argentino - em Mendoza. Tomar um suco de fruta real, ao invés de pó químico…
Outra vantagem também é que se o dia 12 fosse de
bom tempo também, seria um dia de novo intento caso a tentativa do dia 11 fosse fracassada.
O dia seguinte foi extremamente azul, com o sol derretendo um pouco da camada de meio metro de neve
que se formou pelo acampamento. Conversamos com um guia argentino chamado Julio que nos deu cereais,
biscoitos e capeletti que estavam sobrando nos mantimentos de sua expedição. Isto foi bem providencial,
pois nossa comida começava a ficar na conta certa, com os dias a mais além do planejado. Seu grupo sairia à tarde
para a travessia e acamparia nas proximidades de Cólera. Julio nos incentivou dizendo que a direta seria fácil e
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detalhou cada parte da rota, segundo havia ouvido falar.
Julio nunca teve oportunidade de fazê-la.
Esta seria a grande noite, preparamos os equipamentos e os colocamos nas mochilas de ataque.
Vestimos todas as roupas de baixo que usaríamos durante a escalada e nos aninhamos no saco de dormir. No início
da noite a temperatura estava igual aos outros dias: -18º.
Fomos dormir antes das 22 h, torcendo para
descansar o máximo possível até as 4:30 h. Antes de cair no sono, pedi à vovó, à bisa, ao sensei e a mais quem
conseguisse me ouvir que eu tivesse muita força, perseverança e bom senso no dia seguinte.
A Escalada – parte 5
Acordei com o bip inaudível do alarme do meu relógio de pulso. Diferente dos dias de folga, que eu
custava para levantar às nove da manhã, eram 4:30 h da madrugada e fazia 21 graus negativos no termômetro.
Chamei Arthur que começou os preparativos. Apesar de ter adiantado alguma coisa na noite anterior, vários
detalhes ainda eram necessários. Colei os curativos de Arthur nas bolhas dos meus pés, passamos protetor solar
fator 60, derretemos gelo, pois, antes de partir, precisávamos de água para beber e para levar nas
garrafas térmicas. Engolimos alguns biscoitos, fixamos as lanternas nos capacetes, regulamos os bastões, ajustamos
as cadeirinhas, vestimos balaclava, gorro, luva. Colocamos as botas e alguns minutos depois das seis, já estávamos
dando os primeiros passos em direção à grande geleira
com o tilintar dos metais pendurados.
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Na atmosfera violeta de fim de noite, uma fila
indiana de dez ou mais montanhistas caminhava lentamente a distância de um braço um do outro na
encosta da montanha rumo à face noroeste. Outro grupo deixava o acampamento e seguia junto conosco por
algumas dezenas de metros até desviar em direção a travessia também. Procurei alguma luz de lanterna à
nossa frente, mas a verdade era que seríamos os únicos naquela parede. Esta nossa ascensão teria ao todo 1200
m de desnível e achávamos que oito a dez horas seria um tempo aceitável para completar a empreitada.
Decidimos que após subirmos 600 m, verificaríamos
nosso tempo. Este deveria ser a metade também.
Na tarde anterior, também contatamos o
acampamento base para informar nossos planos de ataque para o dia seguinte. Foi-nos pedido novo contato
para avisarmos quando chegássemos ao cume.
A caminhada foi ficando levemente inclinada e, com
a luz dos primeiros feixes de Sol, paramos na rampa para colocar os crampons. O Sol já iluminava o dia e agora
procurávamos os trechos de gelo, onde fazíamos menos esforço do que nos dois palmos de neve fofa. Logo no
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início, estranhei o fato de não ser mais fácil pisar nas
pegadas de Arthur. Eu afundava do mesmo jeito e às vezes me atolava mais do que quando usava um caminho
diferente. Decidimos não subir encordados, mas levávamos a corda.
No tempo em que passamos observando a rota do
acampamento, identificamos alguns pontos estratégicos. Primeiro dividimos o glaciar em dois. Até a sua metade
seria uma bela rampa de 45 graus. Ali havia uma ilha de rocha pequena. Daquele ponto em diante dividimos a
segunda metade em três outras partes, mais ou menos com o mesmo tamanho. A primeira era da Ilha de Rocha
até o Cuello de La Botella, uma espécie de gargalo, como o nome mesmo diz, formado por uma rampa íngreme
espremida entre uma ponta da parede rochosa limítrofe da direita e um bloco de gelo dos seracs à esquerda. A
segunda parte seria uma grande rampa que ia dos 45 aos 60 graus até logo abaixo da chaminé rochosa. Este seria o
trecho mais íngreme. E a última parte seria o caminho até o cume. Cinquenta metros bem inclinados e depois uma
caminhada pela crista de mais ou menos duas horas até o ponto culminante.
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Aproximamo-nos da ilha de pedra ainda sem saber
qual lado usaríamos para contorná-la. Nesse ponto a rampa ficou mais íngreme e tivemos os primeiros
problemas com a neve fofa. Arthur tomou o lado esquerdo, o que eu acreditava ser melhor também, mas um pouco
mais afastado da rocha.
- Vai pela direita! Ele então gritou que eu tentasse o lado oposto, pois havia escalado um lance negativo para
alcançar um platô formado pela neve da rampa, acumulada no topo da porção de pedra. Dali, Arthur me
lançou uma ponta da corda para dar segurança, uma vez que eu começava a afundar e brigar com a neve fofa
naquele lance mais inclinado. Alternando piolet e grandes agarras, subi. Mas não sem bufar um monte e sentir o
coração disparar. Ali era o ponto onde teríamos que decidir se continuaríamos. Olhei o altímetro do GPS e
marcava em torno dos 600 m de diferença do acampamento 2. Estávamos na metade! E tínhamos feito
nas quatro horas que queríamos! Se continuasse assim, mesmo com aquela quantidade de neve, conseguiríamos
chegar a tempo. Sentíamo-nos bem e decidimos, sem muita dificuldade, continuar.
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A inclinação voltou aos 45 graus e a quantidade de
neve aumentou um pouco. O ritmo caiu, pois em alguns momentos, nos vimos desajeitados pisando naquele chão
instável que cedia com o nosso peso. Agora a neve chegava aos joelhos.
Em determinado momento, não acreditei no que
meus olhos estavam vendo. Uma avalanche descia como uma cachoeira pelo Cuello de La Botella. A neve vertia
como água numa cascata, por sobre os seracs, a rampa e a massa de rochas. Estático e com todos os sentidos
ligados, esperei uma reação de Arthur que estava uns 30 m à frente para confirmar o que eu vi. Arthur continuava
suas passadas. Olhei com mais cuidado para ter certeza, pois era bem onde teríamos que passar. Continuei com os
olhos vidrados para me certificar de que uma massa de neve maior não nos alcançaria. E depois que cessou tudo,
perguntei:
-Arthur, você viu aquilo? A avalanche no gargalo?
Arthur respondeu com uma negativa e deve ter
achado que eu estava delirando ou impressionado. Mas o fenômeno continuou, com menor intensidade. Descargas
de neve despencavam hora como água, hora como pó, dissolvendo ao vento.
Ok! Não chegavam até nós, cem metros abaixo. Não
era tão forte, mas aquilo ligou o alerta. Um deslizamento
maior parecia agora não ser tão impossível.
Para nos aproximarmos do gargalo foi uma luta. Arthur tentou subir reto, mas a neve estava tão fofa que
teve que se desviar para o lado direito, fazendo um ziguezague e passando bem abaixo da rampa de neve, que
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possuía um desnível de dois metros. Parecia feito para um
caminhão encostar a caçamba ali e abastecer-se de gelo em pó. Aquele funil natural era o caminho óbvio para
grande parte da neve que descia. Infelizmente também era o único para nós que subíamos. Tentávamos,
inocentemente, nos mover na areia movediça branca. Tentei seguir meio para a esquerda e atolei mais ainda
com neve pela cintura. Arthur parecia que se saía um pouco melhor, talvez uns dez quilos a menos fizessem
diferença na consistência da neve. Eu continuava sem saber qual o melhor: se era pisar em neve virgem ou usar
as marcas dos passos de Arthur. Após um longo tempo para vencer menos de dez metros, nos reunimos na lateral
esquerda da rampa, junto ao serac.
Prosseguiríamos pelo gelo, uma vez que o caminho pela canaleta estava impossível. Nesse lance, Arthur
ofereceu que eu seguisse na frente. Eu disse a ele que eu preferia que ele fosse. Imaginei que ele estivesse menos
desgastado. E o lance requeria cuidado. Atamo-nos cada um a um ponta da corda e Arthur iniciou a subida
vencendo o balcão de gelo daquela rimalha. Tínhamos dois parafusos e três estacas e Arthur levou todos. Começou a
subir cravando a ponta frontal dos crampons e as piquetas na íngreme e reluzente parede de gelo. Alguns
metros depois fixou um parafuso para “costurar” a corda.
Enquanto eu fazia a segurança de baixo, novas descargas de neve caiam sobre nós, como uma ducha. Arthur
continuou a escalada e dessa vez esticou vários metros até finalmente fixar outro parafuso. Depois de algum tempo, a
corda esticou e comecei a subir simultaneamente. Tive um pouco de dificuldade na saída com o gelo e a neve
desmoronando sob meus pés e deixando a greta da rimalha cada vez mais visível. Não entendi como eu
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conseguia encontrar algum lugar sólido naquilo que
parecia ser bem o centro da boca da greta, mas consegui sair dali. Escalei 30 metros da parede lateral do serac até
encontrar com Arthur fazendo minha segurança.
Agora tínhamos a rampa íngreme até chegar à chaminé de rocha. Sugeri a Arthur que subíssemos
encordados a partir dali, pois Abu mencionara um acidente fatal, com uma pessoa que não usava corda no
momento de um escorregão. Arthur não achava vantagem, pois disse que se um escorregasse, cairiam os dois. Mas
falei que poderíamos usar as estacas entre a gente. Subiríamos simultaneamente e, quando eu chegasse à
estaca, avisaria Arthur para fixar outra antes que eu retirasse a primeira. Desta forma teríamos sempre uma
proteção entre nós e com somente três estacas poderíamos avançar três vezes o comprimento da corda. Assim
fizemos, mas após a terceira estaca, víamos que progredíamos muito mais lentamente. Me desencordei e
continuamos outra vez sem a segurança da corda.
O glaciar, que recebeu a luz direta do Sol a maior
parte do dia, começava a receber sombras na altura da chaminé. O Sol estava completando o seu ciclo e se
posicionava atrás da montanha agora. O medo veio de estalo! Eram quatro horas da tarde e ainda faltava muito!
Pelo menos um terço do trajeto. Já tínhamos estourado nosso horário planejado de chegada, que era às 14hs, o
limite para o cume, que era as 15 e provavelmente faltaria uma hora antes de alcançar a crista e mais duas até o
cume!
Progredir na neve fofa, cada vez mais alta, consumia muito o nosso tempo e energia. Aquelas condições
estavam fazendo uma diferença absurda. Levávamos
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muito tempo lutando para avançar poucos metros. Agora,
já havíamos chegado à região sombreada e, por sorte, não recebíamos ventos que, provavelmente, sopravam vindos
da direção oposta. Com a aproximação da chaminé, a inclinação aumentava e cada vez mais nos afundávamos
na neve. Em outro momento, tentei usar as pegadas compactadas por Arthur, mas parecia pior para mim, pois
elas cediam mais ainda e depois era mais difícil de sair do buraco em que eu afundava. Em outra situação, não
consegui sair do lugar, pois a cada movimento, o chão se desmanchava, revelando uma greta abaixo de mim. Tentei
cravar a piqueta acima, mais a neve se esvaía e a ferramenta não fixava. Nessa hora, lamentei não estar
encordado. Quando finalmente golpeei fundo algo mais sólido, pude dar um impulso e sair da borda do buraco,
torcendo e rogando para a piqueta não soltar. A inclinação estava forte, mas só percebíamos quando olhávamos para
o lado e víamos o perfil da parede em contraste com o céu e o horizonte. Algo como as escaladas de 3° ou 4º grau da
Urca.
Pouco depois, notei que os meus dedões de cada pé estavam dormentes. Movimentei-os dentro da bota, mas
soube que pouco podia fazer. A inclinação foi aumentando, Arthur já tinha chegado à base da chaminé
e preparava uma ancoragem com o parafuso e a piqueta.
Enquanto isso, lutei uns dez minutos para me mover seis metros para a direita e alcançá-lo. Arthur novamente
jogou a corda, mais com a finalidade de me desatolar do que dar segurança tradicional. Ancorei-me nas fitas e fiz
novamente o nó de correr, o UIAA, na corda e no meu mosquetão para assegurar a subida de Arthur. Este
começou a se deslocar para a esquerda, se afastando de mim na horizontal para ficar na direção da chaminé.
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Arthur se movimentava cravando os crampons e os piolets
quando a neve cedeu e ele deslizou somente um metro, parando na corda. Foi pouco, mas o suficiente para um
pequeno susto. Arthur ainda teve tempo de gritar me pedindo:
- Segura! Segura!
Acho que respondi:
- Claro!
A chaminé era uma vão na rocha da largura de uma pessoa. Arthur subiu e depois armou uma ancoragem
para me assegurar. Escalei o trecho relativamente fácil, alternando o piolet na neve do fundo desta canaleta, as
agarras na rocha e os pés nos degraus das paredes laterais. Depois de vinte metros encontrei Arthur. A
atmosfera já tomava a mesma cor violeta do amanhecer e a borda da crista brilhava com os últimos raios de Sol em
contraluz. Arthur enrolava a corda enquanto eu desenroscava o parafuso somente com a luva de polartec.
Havia tirado a grande e desajeitada luva de dois dedos chamada mitone para executar algumas tarefas mais
delicadas, como já havia feito antes. Depois de terminado, não senti mais o dedo polegar da mão direita. Estava
gelado, sem sensibilidade, como se simplesmente ele não estivesse ali. Enfiei a mão embaixo do braço por algum
tempo, esfreguei o dedo e coloquei-o junto com os outros
dedos na mitone. Alguns minutos depois ele voltou à vida e passei a senti-lo novamente.
Tínhamos transposto o último obstáculo da rota,
agora viria a parte fácil! Mas o cansaço não nos deixou este gostinho. Continuamos encordados, subindo pelos
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últimos lances inclinados, que pareciam levar uma
eternidade. Arthur subia mais devagar agora e achei que me esperava para a corda não esticar. Perguntei-me se ele
estaria com frio e torci para que chegasse logo na crista e fosse banhado pela luz do Sol, mas este parecia fugir de
nós na mesma velocidade em que avançávamos. Quando alcancei a crista da montanha, tive a sensação de estar
num sonho. Depois de tantos dias rodeados por cadeias de montanhas, agora não havia nada mais alto do que
nós, no horizonte. E este desaparecia no infinito. À nossa frente, uma pequena colina branca, para o qual
seguíamos lentamente, pé após pé, sem emitir nenhuma palavra. Além dele, o céu quase negro caía sobre o tom de
lilás e uma estreita linha alaranjada e brilhante se estendia no horizonte. Para completar o cenário, o vento
trazia um lençol de neve fina deslizando a um palmo do chão formando um efeito de fumaça de gelo seco. Fiquei
muito assustado. Era noite! E eu estava chegando ao cume do Aconcagua! Eu sabia que tinha que ligar o piloto
automático agora e só parar quando chegasse ao acampamento. A passos de zumbi, comecei a me
aproximar de Arthur e fui recolhendo a corda lentamente e enrolando-a na mão. Estávamos caminhando agora em
uma parte bem suave e com neve mais firme! Então me assustei novamente quando vi Arthur simplesmente parar
e tombar a cabeça. Ficou somente alguns segundos como se estivesse dormindo em pé, mas era a primeira vez que
eu o via assim tão esgotado! Temi que ele não tivesse forças para caminhar, esta seria uma situação terrível
para nós, pois certamente eu não conseguiria arrastá-lo nem com a ajuda de mais três pessoas. Passar uma noite
ali provavelmente seria fatal. Continuei enrolando a corda até passar a sua frente para dar algum apoio moral. Após
o primeiro monte, avistamos novo falso cume, mas a
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subida deste foi um pouco mais penosa, pois a neve
estava fofa, chegando à metade da canela com o pisar.
Cume (foto com brilho aumentado)
A superfície era bem lisa aparentando ser firme, mas afundava com um som de gemido tal quais passos nas
areias finas da Barra da Tijuca. No topo deste novo monte pudemos avistar agora um grande e alvo chapadão.
Começaram a surgir as primeiras rochas negras salpicadas na neve e a paisagem começou a ficar familiar.
Paramos ao lado de alguns blocos maiores para guardar a corda e colocar os casacos de pluma. A confirmação do
cume veio com a visão de um aparelho de medição, a vista do cume sul, mais afiado do que nunca, e de algum objeto
na escuridão que deveria ser a cruz. Que visual maravilhoso e ao mesmo tempo aterrador. A cadeia de
montanhas toda aos nossos pés, negras pela noite, mas com muita neve ainda refletindo um resquício de
iluminação. Que diferença da primeira vez, com Sol e tempo de sobra pra curtir e descansar!
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A noite estava incrivelmente clara, podíamos avistar muito longe com nitidez. Tivemos muita sorte de haver
somente uma brisa, já que, sem Sol, o frio aumentava a cada minuto. Eu só procurava o caminho da descida e
Arthur foi quem se lembrou de sacar a câmera para fazer duas fotos e me pedir para filmar. Puxei a filmadora, mas
esta só filmou dois segundos. A bateria se esgotou pelo frio.
Achamos a descida com facilidade, estava bem marcada de pisadas. Mas ao olhar pra baixo vi que
estávamos diante de um novo desafio. Uma longa descida na escuridão...
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A Volta – parte final
Não sei se era porque estava escuro, mas a descida me pareceu muito maior do que eu
lembrava. Uma nova onda de medo bateu. Se eu não
conseguisse forças para descer… A maioria das estórias
que eu conhecia de acidentes envolvia a chegada ao cume muito tarde, problemas na
descida e pernoite lá em cima. Acho que Arthur se lembrou de me saudar pelo nosso feito com um toque de
mão, mas eu só conseguia pensar em sair dali. Logo no início da descida, percebi que a neve que tanto nos
atrapalhou para subir, agora dava uma ajuda incomparável para descer. Os quatrocentos metros finais
da rota normal seguem “espremidos” entre grandes massas e pilares de rocha.
Espremidos para a proporção da montanha, pois,
para nós, é como uma auto estrada com uns 50 m de
largura. Um caminho de milhares de rochas de um
desmoronamento de milhões de anos. A neve pisada formava
uma rampa estreita seguindo rente à lateral, por cima daquele terreno irregular que eu bem me lembrava. Arthur
já recuperava as energias e disparava caminho abaixo. Eu ficava mais atrás e, de vez em quando, sentava em uma
pedra maior para descansar as pernas da forte e contínua descida. Não tardei em chegar à “Cueva”, uma cavidade na
parede do início da canaleta, usada como abrigo em
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situações de emergência. Lá havia dois tambores de
plástico azul provavelmente com água, comida, remédios, mantimentos e a frequência de rádio dos guarda parques
escrita na parte externa: 142.800 MHz. Arthur descansava lá também e decidimos passar um rádio para avisar que
estava tudo bem.
Na face em que nos encontrávamos, só conseguimos contato com o acampamento base Plaza de Mulas, da rota
normal. Demos detalhes de nossa situação e eles pediram que avisássemos o acampamento base Plaza Argentina, no
lado leste, quando chegássemos à barraca.
Noite turbulenta
Normalmente uma grande montanha não fica próxima de centros urbanos e poucas têm sinal de celular
ou alguma estrutura de resgate. Gosto de imaginar esse tipo de escalada como uma apresentação para o qual você
se prepara por muito tempo, mas na hora não há nenhum público para te assistir. Não funciona o: “Mãe, olha aqui
onde eu estou!”.
Bem que seria legal, talvez num futuro distante, uma transmissão ao vivo do que os nossos olhos vêem… Além
dos amigos distantes poderem acompanhar em tempo real nossos grandes momentos, seria mais seguro em caso de
problemas. Um diálogo como este poderia ser comum:
- O que você vai fazer hoje?
- Mais tarde vou acompanhar a entrevista de
emprego de minha filha que mora na Austrália. Ah e
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amanhã tem o ataque ao cume do Toinho que está lá no
Himalaia! Assiste lá em casa que é 3D…
Mas não precisou nem tanta tecnologia assim… Fomos assistidos com um equipamento já conhecido há
séculos. Sem que soubéssemos, o pessoal de Plaza Argentina acompanhou toda nossa escalada por
telescópio e transmitiam entre eles informações na frequência 142.800, frequência ouvida por muitos dentro
e fora do parque. Nossa situação então era repassada para outras frequências também como as das expedições
comerciais e empresas diversas no entorno. Estava criada a novela brasileira no Aconcagua.
Enquanto a médica Gabriela e as guardas Erica e Ruth torciam para que chegássemos ao cume antes de
escurecer, outros apostavam quando morreríamos. Há poucos dias, por causa do último acidente, acontecera um
treinamento para o pessoal do parque que trabalhava em Plaza Argentina e, vendo dois “brasileños” atolados na
neve e movimentando-se tão lentamente no glaciar, já tão tarde, era compreensível esperarem que muito em breve,
teriam que se por ao trabalho para resgatar algo lá de cima…
Os guarda parques estavam tendo uma noite
daquelas. Um pouco antes de chegarmos ao cume, os funcionários receberam um rádio que os deixaram ainda
mais alertas. Um grupo com dois guias havia chegado bem tarde no cume e um dos clientes tinha sintomas de edema
pulmonar. Na descida, devido à piora do estado de saúde do montanhista, um dos guias resolveu descer direto com
ele para Nido de Condores, para buscar um resgate ou médico, enquanto o outro grupo seguiu para Cólera, o
acampamento onde estavam estabelecidos.
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O grupo de guardas, que já estava alarmado, sem
saber se teria que resgatar os brasileiros, agora precisava mobilizar pessoal para esta outra situação. Foi quando
recebeu novo rádio com a notícia de que um desses clientes havia se perdido na descida! Mais tarde, recebeu
novo chamado informando sobre dois corpos encontrados nas proximidades do campo Cólera. Estava configurado o
cenário de confusão. Teria a novela brasileira terminado com um final triste? Seriam clientes do grupo guiado?
Seria outro grupo ainda? O dia amanheceria com meia dúzia de corpos lá em cima? Gabriela contou, mais tarde,
que por causa dessa noite turbulenta, os funcionários do acampamento base quase não dormiram. Foi combinado
que, no dia seguinte, um guarda parque de Nido de Condores subiria até Cólera e faria a travessia, descendo
até Plaza Argentina para verificar esse chamado.
Antes de retomarmos nossa descida perguntei, achando improvável, se Arthur ainda possuía água, pois
eu tinha sede desde as cinco ou seis da tarde, quando a minha terminara. Pra minha surpresa Arthur ainda tinha.
Fiquei um pouco preocupado, pois ele havia trazido ainda menos água do que eu. Ele tinha bebido muito pouco!
Recomeçamos a andar e me preocupei em manter a direita, para começar a contornar a montanha rumo à face
leste ao invés de perder a saída e continuar seguindo . pelo Gran Acarreo, uma ladeira sem fim de 2000 m de
desnível que eu tinha usado em 2006 para chegar direto a Nido sem passar por Berlin. Lá embaixo as luzes dos
acampamentos Nido de Condores e Plaza de Mulas brilhando na escuridão da noite lembravam as cidades do
Vale do Paraíba vistas das montanhas da Serra da Mantiqueira. Lembrei-me de quando eu estava lá embaixo,
na rota normal e vi, assustado, duas luzes descendo do
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cume a noite. Estaria agora mais alguém nos observando
também?
Chegamos rapidamente ao Independência, um refúgio em forma de chalé, em ruínas, sem teto.
Estávamos chegando perto do desvio para a Polacos e acompanhávamos no GPS, onde eu tinha marcado um
ponto com as coordenadas do acampamento. Estávamos na direção, mas havia sempre uma dúvida quanto ao
caminho que agora nenhum dos dois conhecia. Depois de algumas bifurcações, comecei a ver luzes lá em baixo.
Aquela nova “cidadezinha” que agora avistávamos provavelmente era o campo 2! Estávamos na reta final.
Mas este trecho era tão longo, reto e enfadonho que Arthur chegou a perguntar se realmente estávamos certos.
Só faltava essa! Errarmos de acampamento e ficarmos vagando exaustos pela montanha naquela noite fria!
Também me preocupei com isso e só tive certeza que era o campo 2 mesmo, quando cheguei.
Lá estava Arthur sinalizando para mim com a luz da lanterna. Mesmo a poucas dezenas de metros do
acampamento ele ainda não tinha reconhecido o local e me aguardava para confirmar. Em seguida, fomos
recebidos por uma dupla de noruegueses que nos trazia água, comida e nos acompanhou até nossa barraca.
Foram muito gentis nos oferecendo chá quente, biscoitos e chocolate. Perguntei duas vezes que horas eram até ter
certeza de que compreendi: 1:30 h da madrugada!
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Considerando que escurece por
volta de 10:00h da noite – provavelmente o horário que
chegamos ao topo -, levamos três horas e meia para descer. Naquela
noite, logo que Arthur tirou as botas e meias, comentou que não tinha
sensibilidade nos dedos dos pés e também notou uma coloração anormal. Eles estavam esbranquiçados nas
pontas e escurecidos no meio. Eu também sentia os meus dedos dormentes e não acreditamos que nenhum dos
casos fosse grave.
No dia seguinte, acordamos bem tarde e Arthur novamente examinou os dedos. Comentei:
- Não deve ser nada grave, Arthur. Não há bolhas. Da última vez, fiquei com um dedo da mão sem
sensibilidade por mais de um mês.
Ainda pela manhã, passamos um rádio para Plaza Argentina, para avisar que estava tudo bem conosco.
Arthur explicou que fizemos cume tarde e só chegamos na barraca 1:30 h da manhã.
- Está tudo bem. Agora vamos levantar
acampamento e partir para Nido de Condores para descer pela face noroeste e Vale de Horcones. Somente os meus
dedos dos pés que estão um pouco queimados.
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Ao término desta frase, a guarda que estava do outro
lado da transmissão, respondeu prontamente que deveríamos descer para Plaza Argentina. Arthur tentou
argumentar, disse que não era nada grave, mas não teve jeito. A mulher se mostrava convicta de que Arthur teria
que descer por lá mesmo para ser examinado. Arthur então disse que aguardaríamos para descer no dia
seguinte, pois estávamos cansados e desligou.
Discutimos então o que fazer.
Ignorar a guarda e descer por Plaza Mulas? Arthur
desceria por um lado e eu por outro? Arthur desceria e eu aguardaria ele voltar já que provavelmente não era um
congelamento grave? Eu acreditava nisso, mas eu não poderia saber. Quem estava sentindo o pé era Arthur.
Para mim, descer para Plaza Argentina significava deixar de conhecer um caminho novo, significava também levar
um dia a mais dentro do parque, deixar de rever os lugares por onde passei em 2006. Para Arthur, seguir por
onde eu queria poderia significar danos permanentes em seus pés e nem de longe seria justo que eu influísse nessa
decisão.
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Recepção
Arhur decidiu seguir as instruções de Erica naquele dia mesmo e
começamos a organizar as tralhas para partir. Agora
teríamos que descer tudo de uma vez e as mochilas
pesavam quase trinta quilos cada uma. Como
ele tinha pressa, me deixou terminando de arrumar as coisas e iniciou a descida quase uma hora antes de
mim. Despedi-me do campo 2, agora deserto, e comecei a descer também. Eu usava minhas botas de “trekking”
para dar um descanso aos meus pés e não me preocupei nem em encher minha garrafa com água, uma vez que a
descida não levaria mais de duas horas até o campo 1.
Logo no início do
caminho, enfrentei um trecho da trilha coberta de neve e com
uma bela ribanceira de centenas de metros pedregosos
abaixo. O peso da mochila e o solado inapropriado na
neve escorregadia quase me colocaram em apuros e soltei
alguns grunhidos enquanto fazia força nos bastões para não vazar lá pra baixo. Decidi colocar os crampons
automáticos sobre as botas de “trekking” mesmo e perdi um tempão tentando adaptá-los, já que a bota não tem os
encaixes para isto. Depois de muito apertar com os próprios cadarços da bota, agora envergada, me coloquei
de pé e constatei que não funcionou. Com o peso da
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mochila e o terreno pendendo para a esquerda, os pés
sambavam em cima dos crampons. O jeito foi colocar as botas duplas.
Nesse meio tempo dois grupos passaram por mim
subindo. Algumas horas depois, um destes grupos me alcançou quando já desciam. Eram dois caras e uma
garota da República Tcheca e mostraram uma foto que tiraram de mim e Arthur no meio do Glaciar. Fiquei
entusiasmado, dei meus e-mails e pedi que me enviassem, mas tal qual no Mont Blanc, estou esperando até hoje por
isso! Eles se adiantaram e mais um tempo depois um casal me alcançou também. Faltando menos de uma hora
para chegar ao campo 1, eu realmente descia devagar por causa do peso e da falta de água e comida. A dupla me
perguntou se eu estava bem, pois eu estava muito lento e
pesado, parando frequentemente para descansar.
- Sim, eu estou bem. – Respondi, mostrando um sorriso.
- Tem certeza? Não precisa de alguma coisa? –
Insistiu a mulher em inglês.
- Talvez um pouco de água…
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- Quando foi a última vez que você bebeu e comeu? –
Perguntou a mulher em tom de bronca, já puxando o seu reservatório de água de uma grande pochete para encher
minha garrafa.
- Por volta de duas da tarde. – Menti, já que eu tinha
saído do campo 2 antes disso e mesmo lá não tinha bebido água.
A mulher continuou o pito me dizendo que se tem
que beber de hora em hora e bla, blá, blá. Não liguei e aproveitei a ajuda deles para encher a barriga de água e
barra de proteínas que me empurravam.
- Não se preocupe, eu estou acostumado a carregar
peso e passar estes perrengues… – Tentei me explicar.
“Não há lugar na montanha para heróis”, disse a braba menina de nacionalidade canadense. “O sujeito não
tem mais nem direito de passar um perrengue em paz”, pensei. Depois desta sessão de broncas e depois de
convencê-los de que eu não precisava de ajuda com minha carga, o casal se adiantou e eu pude continuar com muito
mais energia, quase acompanhando os dois, que levavam somente uma pochete cada um.
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A algumas dezenas de metros das primeiras barracas
do campo 1, um dos tchecos me aguardava com uma garrafa de isotônico morno. Uma espécie de chá de
gatorade. Agradeci e sorvi quase metade da garrafa. O tcheco me acompanhou por mais alguns metros,
insistindo em repartir o meu peso, quando fui abordado por mais pessoas. Dois guias de uma expedição
perguntaram se era eu o brasileiro que estava com Arthur, pois ele me esperava já em Plaza Argentina e tinham
mandado um recado por rádio para que me avisassem quando eu chegasse ali. Outro grupo de noruegueses
também se mostrou preocupado comigo, pois eram sete horas e temiam que eu não chegasse ao acampamento
base antes de escurecer. Eu explicava que tinha que descer tudo, pois Arthur estava lá me esperando com
metade da barraca. Ofereceram vaga em alguma barraca. Mais a frente, um americano se aproximou e ofereceu
sopa. Sentei, tirei a mochila e aceitei. Eu estava perto da barraca dos canadenses e a menina braba novamente
apareceu com uma embalagem de paella liofilizada fumegando! Não pude recusar. Mais alguém trouxe uma
garrafa com refresco e logo eu estava quase explodindo de tanta comida e bebida!
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Lamentei ter que deixar aquele acampamento de
gente tão amistosa. Um dos noruegueses se ofereceu para me acompanhar na descida até o acampamento base e na
metade do caminho encontramos com dois guardas parque enviados para me encontrar e me acompanhar até
Plaza Argentina. Perguntei do estado dos pés de Arthur e me responderam “assim, assim”. Agradeci ao norueguês e
me despedi quando este retornou para o campo 1. Enquanto eu tentava acompanhar o ritmo dos guardas
parque, um novo guarda nos alcançava descendo. O rapaz me parabenizou pela escalada. Era o guarda de Nido,
designado a procurar os dois corpos avistados na noite anterior. Misteriosamente não encontrara nada.
Chegamos ao campo base pouco depois de escurecer.
Fui direto para a enfermaria, onde Arthur já se encontrava jantando, sentado na única cama do lugar e com as
pernas enfiadas no seu saco de dormir. Além dele, a médica Gabriela, as guardas Erica e Ruth, um espanhol
com um dedo congelado e um argentino buscando remédios para um amigo. Cheguei fazendo piada e
filmando até começar a me inteirar do que aconteceu. Arthur contou que ao tirar as botas lá em baixo, as
malditas bolhas apareceram. Tínhamos que separar equipamentos para voltar de mulas e uma mochila
pequena com artigos essenciais leves, pois iríamos embora
amanhã, na parte da manhã, no helicóptero! Quase não acreditei, pois normalmente o helicóptero é deixado para
os casos extremos…
Dormi junto com os congelados na enfermaria, depois de um belo jantar que incluía sopa, macarronada e
chá, tudo oferecido pelos guardas, que foram todos sempre extremamente gentis e atenciosos. Acordamos no
frio das seis horas da manhã do dia seguinte e engolimos
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alguns biscoitos. Deixamos macarrão, cereais e os
biscoitos que sobraram dos nossos mantimentos para os funcionários e aguardamos o “helicóptero das sete”. O
primeiro que pousou era particular, contratado por uma expedição para deixar os montanhistas diretamente no
campo base. O nosso veio em seguida. Arthur foi auxiliado por dois guardas e caminhou com dificuldade, apoiando
somente os calcanhares pelo solo pedregoso até o heliporto demarcado na morena.
Vindo mais atrás, perguntei a um guarda sobre o
estado de Arthur. O conselho que recebi foi que tomássemos muito cuidado com o local onde Arthur fosse
tratado.
- Já vi pessoas na situação dele que se recuperaram
totalmente e outros que… Fipt! – Fez um gesto com a mão, decepando dedos invisíveis!
Fiz nova consulta com a médica Gabriela, que pôde
me passar detalhes.
- Existem quatro tipos de congelamento: 1º grau: superficial. 2º grau: quando surgem bolhas de coloração
clara. 2º grau profundo: quando surgem bolhas de sangue e 3º grau: quando há necrose e só o que resta é a
amputação. Arthur tem vários dedos com bolhas e dois deles com bolha de sangue. Por isso classificamos de
forma geral o congelamento dele como 2º grau profundo.
Só conseguiremos saber como vai se desenvolver daqui a uma semana. Talvez tenha que remover tecido e fiquem
algumas sequelas.
Gabriela recomendou uma médica particular em Mendoza, especializada em congelamentos. Erica me
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perguntou como eu estava e respondi que estava triste por
Arthur. Em outra situação eu estaria radiante pelo cume e por sobrevoar o parque…
Entramos no helicóptero, que manteve o rotor ligado,
provocando um vento que resfriava ainda mais o ambiente. Fomos acomodados no banco de trás e um dos
guardas também embarcou, sentando-se no banco da frente. A porta foi fechada e a aeronave subiu tão
suavemente que só percebi que estava voando já a dezenas de metros do chão, quando as pessoas
começaram a ficar anãzinhas. Despedimo-nos com um aceno de mão e já imediatamente começamos a tentar
absorver o máximo possível do que estávamos vendo. O piloto fez uma curva para manobrar e tomar altitude antes
de apontar para a cadeia de montanhas que separa Plaza Argentina de Plaza Francia. Plaza Francia é o
acampamento base aos pés da grande Parede Sul. Lentamente subíamos para vencer este passo e o vôo não
parecia tão suave e controlado agora que alcançava os 5.000 m de altitude. O helicóptero saía de lado como se
derrapasse na pista molhada e trepidava um pouco, talvez pela falta de sustentação no ar rarefeito ou por rajadas de
vento. Apesar de minha irmã ter trabalhado numa empresa de voos turísticos de helicóptero no Rio de
Janeiro e ter oferecido várias vezes uma carona, eu nunca
tinha aproveitado estes convites. Nunca poderia imaginar que o primeiro voo seria naquelas condições. Quando
finalmente ultrapassamos a muralha de pedra, tivemos a bela visão da íngreme face sul e todo o vale que leva à
Confluência, que foram descortinados repentinamente. Depois de estranhar o caminho feito de cima, finalmente
consegui identificar o rastro de formiga que era a trilha que saía de Confluência para Plaza Francia! Logo
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sobrevoávamos a pequena cidadela de barracas multicores
que era o campo Confluência. Um minuto depois avistamos Horcones e as instalações dos guarda parques.
Levamos três minutos para percorrer tudo aquilo que levaríamos três dias a pé. Ao descer em Horcones, reparei
que estava tudo reformado, pavimentado. As instalações de recepção e check-in não eram mais as tendas de lona
azul semicilíndricas e sim casas pré-construídas. Fomos fazer o “check-out” e encontrei o amigo Rubén
Massarelli, guarda parque que conheci em 2006 e reencontrei em Itatiaia, em 2008, quando foi trabalhar
num intercâmbio com o Parque Nacional. Ele contou o motivo da reforma na entrada do parque: em agosto de
2009, uma avalanche de neve e lama se precipitou sobre o refúgio da entrada do parque onde jantavam Rubén e mais
três guardas, dois guias e uma médica. Com algumas escoriações e hipotermia, o grupo conseguiu sair do
refúgio e chegar à autoestrada, onde foram socorridos. A avalanche destruiu tudo e foi quase um milagre terem
escapados todos com vida.
Refúgio dos guarda parques soterrado
Antes de partirmos, Rubén me presenteou com um belo pôster. Nosso transporte nos levou à Ponte Inca. No
caminho, o rapaz que dirigia e se chamava Emanuel,
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perguntou sobre os pés de Arthur, pois havia
acompanhado tudo por rádio. Combinamos com ele que iríamos a Mendoza no primeiro ônibus, às 11:40 h e eu
voltaria no dia seguinte para reaver nosso equipamento, que só chegaria de mula às sete da noite. Aguardamos o
ônibus na Hosteria Puente del Inca, onde tomamos café da manhã. Lá também conhecemos o gerente geral da
empresa de Expedições Aymará, que nos contou que também acompanhara nossa “epopéia” via rádio e explicou
que a temporada havia estado extremamente seca até então, quando a neve toda de um período desabou em
poucos dias.
Reflexões
Em uma mesa, Arthur, que já evitava caminhar com
aqueles pés inchados, enfaixados e cheios de bolhas, encontrara tempo para recapitular os acontecimentos dos
últimos dias, passando os olhos nas fotos e vídeos das câmeras, recolhendo-se sob a aba de seu boné. Aproveitei
o tempo que tínhamos agora para pensar em tudo que aconteceu e me afastei, já com lágrimas nos olhos, para ir
ao banheiro chorar um pouco. Eu e ele sabíamos que, na melhor das hipóteses, Arthur teria tempos difíceis daqui
pra frente. Meu parceiro começara a imaginar como conseguiria escalar em rocha novamente se tivesse que
amputar dedos dos pés e eu tentava animá-lo dizendo que todo mundo se adapta e que ele provavelmente voltaria a
escalar até melhor, se fosse o caso. Mas era uma barra bem pesada e me permiti derramar algumas lágrimas na
frente do espelho do banheiro. Que porcaria de esporte de maluco era aquele que matava e mutilava! Qual era o
sentido de tudo aquilo? Questionei-me com o pensamento de leigo. Perguntas que provavelmente sempre ecoarão
sem resposta.
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Limpei o rosto e saí para tentar resolver algumas
coisas por telefone. Passei quase uma hora ocupado com a tarefa de trocar o dinheiro em moedas e procurar
encontrar o único telefone público do lugarejo para discar pro Seba e perguntar se podíamos ir para sua casa. Numa
destas tentativas, liguei por engano para o celular de sua namorada, Caro, que naquele exato momento estava em
Machu Picchu. Gastei minhas moedas, mas valeu ouvir o entusiasmo em sua voz. Também consegui falar com a
médica recomendada por Gabriele, que cobrou cem dólares a consulta. Fiquei de decidir com Arthur e tornar a
ligar pra ela de Mendoza.
Ao retornar para a Hosteria onde estava Arthur, encontrei-o conversando com três turistas brasileiros que
estavam por lá de passagem.
- Cara, você não sabe quem morreu…
Esse tipo de pergunta é só pra dar mais angústia,
pois eu realmente não vou conseguir imaginar se foi um parente ou o Barack Obama. Perguntei, temendo a
resposta: “Quem?”.
-Bernardo.
-Bernardo Collares? – A voz embargou. Arthur
contou o ocorrido, descritos pelos brasileiros que, apesar de não serem montanhistas, sabiam detalhes e até os
nomes dos escaladores. Estava difícil ter esperança de que não fosse o nosso pessoal. Tentei disfarçar o abatimento,
mas estava sendo difícil com uma porrada atrás de outra. Nem tivemos muito tempo de conjecturar, pois o ônibus
estava de saída. Os brasileiros fizeram questão de, um por um, tirar foto conosco. Será que nunca viram um sujeito
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com pé congelado?! A viagem até Mendoza foi só tristeza.
Arthur esteve presente na temporada anterior de El Chalten, convivendo e escalando com o pessoal lá e era
muito amigo de Bernardo há anos. Eu realmente o admirava por sua habilidade na escalada, dedicação ao
montanhismo, simpatia e simplicidade. Queríamos chegar logo em Mendoza para buscar notícias pela internet, mas,
além disso, tínhamos nossos próprios problemas para resolver.
Sebastian foi novamente muito gentil em nos
receber. Mal dava para acreditar que na madrugada do dia anterior estávamos descendo do cume do Aconcagua e
agora estávamos tomando um banho quente em Mendoza às três e meia da tarde. Ao sair do banheiro, Arthur
desabafou perdendo a esperança, ante o aumento das bolhas e do inchaço do pé, já deformado:
- Junior, o pé está ficando cada vez pior. Cara, acho que não vai ter jeito…
Respondi, ao estilo da canadense brava:
- Que nada! Vai ficar bom. Não pensa nisso não! –
Era impossível não pensar, com aqueles dedos iguais a uma ameixa roxa, cada um era quase como uma bolha só.
Vendo o nosso desespero, Seba contou que na primeira vez que foi ao Aconcagua também ficou com um dedo
parecido. Mas no acampamento base fizeram uma punção
e depois tratou com pomadas e comprimidos. Seu dedo parecia tão normal como qualquer outro! Segundo ele,
amputação era coisa do passado, hoje em dia é só tratar com uma “pomadinha”. Olhamos o seu dedão e não havia
sequela alguma. Somente uma tatuagem naquele local pouco convencional. Seria para esconder alguma cicatriz?
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Quase dei um abraço de felicidade em Seba pelo alento
que nos deu, quando já começávamos a perder toda a nossa esperança.
A médica Carina chegou logo e, após examinar os pés de Arthur e confirmar o diagnóstico de Gabriela, receitou
realmente a pomadinha antibiótica, vasodilatadores, comprimidos antibióticos, além de um cuidadoso
tratamento de assepsia duas ou três vezes ao dia. A alegria veio mesmo quando a mulher finalmente disse que
Arthur voltaria a escalar logo depois de um mês! Meio incrédulos, quase não nos contivemos com o alívio que
aquelas palavras trouxeram. Mas Arthur ainda teria um martírio pela frente. Não poder se locomover nas primeiras
semanas e, principalmente, não poder escalar tão logo. Arthur cancelara seus planos de viajar pelo Chile e
Argentina e antecipou a data de sua passagem de retorno pro Rio.
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GLACIAR DOS POLACOS
63
A recuperação de Arthur foi impressionante. Na
primeira semana os dedos pareciam ameixas maduras. Na segunda, já no Rio, pareciam ameixas secas. Na terceira, o
pé estava totalmente desinchado, mas alguns dedos estavam assustadoramente pretos e pareciam
envernizados. Na última semana, a casca preta começou a cair e revelar um dedo rosado novinho em folha. Somente
a unha permanecia escura. Ao todo, foram vinte sessões de câmara hiperbárica. Apenas um mês depois, com a
definitiva confirmação de que ele permaneceria com todos os dedinhos é que realmente pudemos comemorar a
escalada e reunir a galera para mostrar as fotos e vídeos.
Reflexões finais
Fazer parte de um grupo de montanhistas é um grande motivo de orgulho. Olhando para cada figura ao
meu lado tento imaginar quantas dificuldades e conquistas o indivíduo já viveu e, muitas vezes, somente
com um parceiro como testemunha. Quanta força forjada pelo sacrifício, cansaço e dor. Quantas pessoas realmente
se aproximaram dos seus limiares? E estes limites são parecidos com as fronteiras geográficas. Só conseguimos
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GLACIAR DOS POLACOS
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expandi-los quando vamos lá lutar para ultrapassá-los!
Ter amigos dos quais se orgulha e admira é também um privilégio. Poderia ser este um dos muitos motivos que
busco para justificar o gosto pelas montanhas e a filosofia do montanhismo. A habilidade de tomar decisões e
exercitar o bom senso, tentando prever as inúmeras variáveis que se ramificam numa escalada ou na nossa
vida é algo que acredito que o montanhismo desenvolve de forma grandiosa. Nos Andes é muito comum se desejar
“suerte!”. Realmente, no alpinismo, o fator sorte começa a fazer diferença, além de habilidade e conhecimento. É
quando exigimos mais ainda de outras habilidades para tentar “adivinhar” o clima, as condições do gelo ou, talvez
o mais difícil, as condições do nosso próprio corpo para tentar minimizar as probabilidades da “mala suerte”.
Sigo assim, procurando desculpas para justificar a
minha atração pelas montanhas. Respostas para questões que eu já acreditava respondidas. O que realmente
consigo saber é que até agora o montanhismo me deu muito mais momentos de satisfação do que de tristeza.
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FIM
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GLACIAR DOS POLACOS
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Cronograma estimado
Época e tempo máximo estimado para a expedição 22 dias (no período de 19 de dezembro de 2010 a 20 de janeiro de 2011)
ETAPAS DIAS PERÍODO 1 Planejamento, treinamento físico e pesquisa de informações. 240 10/04 a 10/12 2 Organização de equipamento 9 10/12 a 24/12 3 Transporte 1 a 2 24/12 a 25/12 4 Acomodação, compra de equipamentos e provisões. 2 25/12 a 26/12 5 Transporte para Punta Vacas 1 26/12 6 Aproximação do acampamento base 3 27/12 a 30/12 7 Descanso e aclimatação no acampamento base 5 30/12 a 03/01 8 Subida ao cume e retorno 7 03/01 a 9/01
9 Tempo livre, margem para espera de tempo bom, descanso, recuperação, retorno.
5 9/01 a 14/01
Fonte: http://expedicaopolacosnoaconcagua.wordpress.com/projeto/
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A Equipe
Arthur Estevez
Faz parte da nova geração de montanhistas brasileiros. Ele é um raro exemplo de um montanhista que se adaptou as mais distintas modalidades do
esporte, desde o Big Wall à escalada alpina. Apesar de seu perfil de montanha,
ele é um bom escalador esportivo e ama bouldering. Arthur começou a escalar
quando era muito jovem, 12 anos de idade e está agora com 25 anos.
Formando em turismo, é guia de montanha pela Associação de Guias Profissionais do Rio de Janeiro (AGUIPERJ). Louco por escalada em fendas e
nevados, tem a Patagônia como um destino anual. Agora com o apoio da Deuter
Brasil pretende superar seus maiores desafios.
Entusiasta por natureza e pela natureza, faz desse cenário sua área de
trabalho e lazer com respeito e dedicação. Apaixonado não só pelo montanhismo, mas também por qualquer atividade ao ar livre, participou de
remadas de longos percursos, pedaladas e outros.
De 2003 a 2004, colaborou na produção dos
filmes Cariocando e Terras de Gigantes. No ano de
2006 foi convidado por Sabiá e Flavio Carneiro, o
Bagre, para participar do filme 3, 2, 1, Fui! exibido no
Festival de Filmes de Montanha de 2006. Em 2009
fez parte do elenco de Caminho Teixeira,
documentário que reconstruiu a estória da conquista do Dedo de Deus, exibido na 9ª Mostra de Filmes de
Montanha. Desde 2008 vem colaborando com o portal
AdventureZone, onde escreve sobre escalada e
montanhismo. Nesse mesmo ano entrou para a equipe
de dublês “Só Ação”.
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Responsável pelo Cumes – www.cumes.com.br, curso onde ministra
seus conhecimentos de escalada em rocha para os futuros escaladores.
Algumas escaladas:
Bolívia – Pirâmide Blanca, Huayna Potosi e Pequeno Alpamayo
Argentina – Cerro Tronador (Cume Argentino) e Cerro Solo em Solitário, entre outras escaladas mistas na Patagônia e escalada em rocha em Arenales e no Frey.
Peru – Esfinge, Tocllaraju, Vallunaraju, Maparaju, Ishinca
Brasil – Escaladas de longa duração na região de Salinas, Serra dos Orgãos e BigWalls como o Tragados Pelo Tempo na Face Sul do Corcovado.
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Montanhista desde 1989, quando começou a fazer trilhas em
Teresópolis e no Parque Nacional da Tijuca com 14 anos. Os anos foram passando, os trekkings foram ficando mais longos, as trilhas tornaram-se mais
íngremes e a escalada veio naturalmente para possibilitar alcançar o topo de
novas montanhas. As montanhas também começaram a ficar mais altas com o
seu interesse no ambiente alpino. Subiu o Aconcagua pela rota normal em 2006 e produziu o filme “Aconcagua Sin Mulas”, vencedor de dois prêmios como
melhor filme na 7ª mostra do Festival de Filmes de Montanha em 2007.
Responsável pelo site Trilha & Cia. www.trilhaecia.com.br desde 2001
onde reúne relatos, mapas e croquis e artigos sobre montanhismo e
aventura. Participou como navegador da equipe Trilha & Cia, campeã nas categorias Expedição e Duplas do circuito Carioca Adventure de corrida de
aventura de 2006. Trabalhou no mapeamento das trilhas do Hotel do Frade em
Angra e coordenação da equipe de resgate da
competição BG Challenge em 2009.
Seu gosto por esportes ajuda a manter o preparo físico naturalmente, mas reconhece
os anos de treinamento no Karate como os
maiores responsáveis pelo seu
condicionamento. Junior é faixa preta 3° dan
e coleciona algumas medalhas em nacionais
da Shotokan Karate (SKICB) e Confederação
de Karate Interestilos do Brasil (CKIB).
Outras atividades que pratica: canoagem, mountain bike, caça
submarina, corrida.
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Algumas escaladas:
Escalou também o Huayna Potosi 6.088m na Bolivia com Emilia Takahashi em 2007;
Vulcão Osorno no Chile com 2.652m em solo em 2007; Mont Blanc 4.810m na França em solo (2008); Tronador 3.491m, Bariloche, em 2009, com Arthur, ocasião
em que o conheceu (relato no AdventureZone e relato no Trilha & Cia.);
Pico Humboldt 4.940m na Venezuela com Emilia em 2009; Pequeno Alpamayo na Bolivia em solo com 5.370m em
2009; Tentativa do Aneto 3.404m invernal (Espanha, Pirineus) em
2009 com Nuria Cirauqui . Cancelada por alerta de avalanches de nível 5 (de 1 a 5);
Pisco 5.750m no Peru com Nuria Cirauqui em 2010; E com Arthur novamente os nevados Ishinca 5.530m e
Tocllaraju 6.032m no Peru em 2010.
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