Acacia julho 2012_

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´ Revista Ano XX- N o 91 Revista informativa e cultural do livre pensamento

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´Revista

Ano XX- No 91

Revista informativa e cultural do livre pensamento

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Arte da capa desta edição.

Mensagem

Mudanças

Estamos sentindo ares de mudanças no mun-do inteiro. As atuais estruturas políticas, eco-nômicas, financeiras, científicas e religiosas

estão carentes de um linguajar menos belicoso e en-fático, para uma linguagem mais humana.

A sinalização da necessidade dessas mudanças faz coro em qualquer lugar, inclusive no nosso país, variando apenas no aspecto do atendimento imedia-to e metódico, em curto, médio e longo prazo.

Os atuais modelos de desenvolvimento estão defasados, desajustados e desligados do ritmo das conquistas científicas.

Em vários países, inclusive o nosso, os detento-res do poder perderam os conceitos de honestidade, credibilidade, justiça, honorabilidade e decência. Se Nietzsche estivesse vivo poderia assistir a gloria da sua visão da genealogia da malandragem

A expansão da ciência e da Internet é algo assus-tador e incontrolável favorecendo golpes de esperte-za aos malandros. Estamos formando pessoas para um mercado que ainda desconhecemos. A taxa de natalidade da Índia e da China são as maiores do mundo, isto representa hoje, um terço da população mundial; sendo uma sinalização fundamental para o amanhã.

O nosso político é o mais bem remunerado do planeta e com as maiores mordomias à sua disposi-ção sem ter, por parte do sistema, o compromisso e a responsabilidade de uma qualificação mínima ainda quando candidato. Querem se eleger a qualquer pre-ço, porque uma vez eleito tem a chance de enrique-cer rápido, com raras exceções,

O povo está cada vez mais se deseducando moral e intelectualmente, ficando desligado do envolvimen-to que deveriam ter para com os demais segmentos culturais.

Os movimentos de mudanças voltados para pre-ocupações diárias e afetos a nossa cidadania já es-tão se arregimentando em quase todos os grupos da nossa sociedade na intenção de obter mais atenção das autoridades nas áreas da política, segurança, saúde, trabalho e educação, para melhoria nestes setores básicos de sobrevivência social

A expectativa é que, desses movimentos onde estamos inseridos possam surgir, em curto prazo, al-gumas melhorias bem orientadas, para se incorpora-rem ao bem estar econômico e social do nosso povo.

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Associação Acácia – CNPJ 97.323.562/0001-08

Revista Acácia – Revista periódica com circulação no Exterior – Ano XX

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Correspondente no Exterior

Uruguai Diego Rodrigues Mariño

Projeto gráfico e Diagramação

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Expediente

Índice

Índice04

A espada na maçonariaFlávio Martins Pinto26

Renovação Espiritual / Renovación EspiritualArcy Souza da Costa

39

Corpo carnalDelmar Estevan Brandão15

Individualismo com Responsabilidade SocialAilton Branco

43

Mensagem - Mudanças03

Rito Escocês Antigo e Aceito na visão hodierna / Rito Escocés Antiguo y Aceptado en la Visión HodiernaCarlos Paleo

30

Nossas leis, usos e costumesLuiz A Rebouças dos Santos06

Mensagem / mudanças05

Venerável mestre - o equolíbrio e sua missãoMario Galante Pacheco

11

Instinto e RazãoJoão Batista de Carvalho Silveira41

A competência está no saber serJorge Wolnei Gomes46

Tradição iniciática, período pré-babel e a obra de Serge Reynaud de La FerriéreFélix Soibelman

19

O papel da leitura na formação humana e maçônica / El papel de la lectura en la formación humana y masónicaGustavo Ferenci

33

Transforme-se, evolua, avance.

O homem muda constantemente. A borboleta transfor-ma seu visual. Mas qual o sentido da mudança? De-

pende da estrada e trajetóriado intérprete.

Para a borboleta Monarca a mudança impacta seu visu-al. Para alguns homens, também. Mas são aqueles que

transformam internamente - e assim melhoram seu mun-do e ao seu redor - que fazem a diferença e não adornam simplesmente a grande massa.

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Um corvo roubou um pedaço de carne e foi pousar sôbre uma árvore. Uma raposa oviu e quis apoderar-se da carne.

Postou-se, pois diante dele e começou a elogiar seu tamanho e sua beleza, dizendo que nenhum outro pás-saro merecia mais que ele ser rei, e que isso certamente aconteceria se ele tivesse um pouco de voz.

O corvo, querendo provar-lhe que tinha também voz, abriu a boca deixando cair a carne e pôs-se a crocitar com toda sua força.

A raposa correu, apanhou a carne e disse: “ó corvo, se tu tivesses também inteligência, nada te faltaria para seres rei de todos os animais.

Moral: a fábula se aplica ao homem tolo.

Esopo

O corvo

O alvo pretendido era atin-gir os pensadores científicos, onde a inteligência procura dar respostas sucintas e rápidas de linguagem lógica, mas os gran-

des interessados inicialmente foram os professores, adminis-tradores, legisladores, supervi-sores e universitários na área de educação.

LIVROINTELIGÊNCIAS MÚLTIPLASAutor: Howard Gardner Editora Artmed.

a raposae

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A s origens da franco-maçonaria são confusas e incertas. Entretanto, quando se invoca a passagem da maçonaria operativa para a

franco-maçonaria especulativa, é preciso recordar al-gumas evidências essenciais, confirmadas pelo esta-do atual das pesquisas sobre essa questão.

Na Idade Média, na época dos grandes canteiros de obras, existiam, lado a lado, em uma mesma co-munidade, dois tipos de organização:

De uma parte, as corporações, as guildas ou frater-nidades, formas elaboradas de organizações profis-sionais cujas finalidades eram mais econômicas (salá-rios, organização da profissão, ajuda mútua), técnicas (qualificação), éticas (comportamento social), do que especulativas. Fazendo uma comparação com os nossos dias, estaria mais próximo dos Conselhos de Profissão que regulamentam cada atividade;

De outra parte, as Lojas dos Canteiros, isto é, um local onde se agrupavam os trabalhadores do edifício (pedreiros, carpinteiros, talhadores de pedra, etc.) e que era utilizada com múltiplas finalidades, como reu-niões diversas, a guarda dos instrumentos, a forma-ção profissional, etc.

É inexato afirmar que a franco-maçonaria moderna tenha nascido na Inglaterra, crença que naturalmente foi alimentada pelos ingleses, que recuperaram o mo-vimento no início do Século XVIII e também é inexato considerar que houve uma suposta continuidade en-tre as organizações subsistentes de maçons – e não as confundir com as guildas, que agrupavam todas as profissões, inclusive os maçons – e a franco-maço-naria, uma vez que não há provas concretas que o possa justificar.

Em verdade, ao redor dos anos 1600, a herança medieval dos maçons, da qual os Antigos Deveres continha os temas da Renascença à sua maneira, foi remodelada para fornecer os fundamentos de uma instituição nova. E, para utilizar uma linguagem que nos é familiar, foi um arquiteto escocês, William Schaw que, reunindo antigas pedras esparsas, cons-truiu uma nova casa para os maçons.

Existe uma história lendária da profissão de cons-trutor, e de suas tradições consignadas nas antigas “Cartas” (Antigos Deveres) provavelmente do fim do Século XIV, e reagrupando diversos documentos mais antigos, e uma tradição oral ancestral (manuscritos Cooke, Poema Régius). Os Antigos Deveres fazem menção a Hermes (Thot, a Coluna) a Abrahão, que teria ensinado as sete artes liberais aos egípcios, a Euclides, a David, a Salomão e a construção do pri-meiro Templo.

No meu entender, o homem que mais do que nin-guém, merece o título de fundador da franco-maço-naria moderna é WILLIAM SCHAW (1550 – 1602) o mais jovem filho de um proprietário de terras escocês. Schaw era arquiteto e em 1583 foi nomeado pelo Rei James VI, da Escócia, Mestre de Obras dos Trabalhos e Superintendente Geral dos Maçons do Reino. Com essa função, ele supervisionava todas as construções empresariadas pelo Rei e controlava o emprego dos obreiros em todos os canteiros de obras oficiais.

Em 1598 e 1599, Schaw elaborou os estatutos que a história imortalizou sob o nome de Estatutos Schaw. Tratava-se essencialmente de regras práticas, esta-belecidas pelos Mestres da Corporação, reunidos em Edimburgo, e que a observação era prescrita a todos os maçons. Os dois primeiros artigos prescrevem a obediência e a honestidade. Preveem uma iniciação

Nossas leis, usos e costumesLuiz A Rebouças dos Santos

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maçônica de uma grande simplicidade, prestação do juramento e comunicação da palavra dos maçons.

Nos meses que se seguiram à promulgação dos Estatutos, apareceram os novos tipos de lojas especi-ficamente maçônicas, especialmente a de Edimburgo – Mary’s Chapel. Esta Loja existe até hoje e conser-vou seus arquivos. Observa-se que esta Loja reunia-se, no começo, no mesmo prédio em que se reuniam as corporações de ofício, das quais se encontraram as evidências de sua criação, através de um édito mu-nicipal com data de 1475.

O fato de que não existem referências a esse novo tipo de Loja, anteriores aos Estatutos Schaw, evi-dencia que elas foram conseqüência da iniciativa de William Schaw. Mas isto não exclui que algumas lojas existentes em canteiros acabados, pudessem ter con-tinuidade, quer no território francês, quer na Escócia, como a Loja de Kilwinning, que reivindica sua antigüi-dade, remontando ao Século XII, mas que, infelizmen-te, não conservou seus arquivos para constituir as provas históricas.

Ainda, em torno do ano 1630, os primeiros balaús-tres registram somente as sessões de iniciação, nos dois graus existentes, mas não dão os detalhes de como estas eram realizadas.

Em 1710 contava-se na Escócia cerca de 25 Lo-

jas que seguiam o Estatuto Schaw de 1598, dentre as quais, Edimburgo, Mary’s Chapel, Atkinson, Haven, St.Andrews, Sterling, Aberdeen, Glasgow, Kilwinning, etc.

De Schaw mesmo se conhece muito pouco, talvez apenas que era um católico em uma Escócia protes-tante e puritana, nessa época; que ele havia viajado bastante pela França, Dinamarca e Itália. Morreu em 1602, pouco tempo após a redação de seus Estatutos e de sua promulgação.

O que não se discute é que, a partir de 1600 e sobre tudo 1630, foram iniciados os não-operativos, os homens de ciências, e os hermetistas ligados à Rosa+Cruz e outras associações. O processo de inte-gração foi lento, mas no final do Século XVII algumas lojas escocesas tinham maioria de membros não-operativos, de diferentes camadas sociais.

Por outro lado, a diferença da franco-maçonaria in-glesa é que, no seu desenvolvimento, recebeu apenas não-operativos, cavalheiros, nobres ou burgueses, ini-ciados nas lojas escocesas durante suas viagens, e que, mais tarde, fundaram lojas na Inglaterra. A mais antiga reunião de cavalheiros maçons ingleses de que se possui registro foi em 16 de outubro de 1646, em Warrington, condado de Lancashire, para receber como maçom a Elias Ashmole, cavalheiro católico, e seu parente, o Coronel Mainwaring.

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Daí poder-se afirmar que as Lojas mais antigas do mundo são escocesas – 1599 – e algumas existem até hoje, e fazem sempre referência ao caráter opera-tivo em seus nomes.

À despeito das assertivas dos historiadores ingle-ses, não existem quaisquer provas da existência de Lojas permanentes na Inglaterra até o fim do Sécu-lo XVII, quando apenas se tem notícias de algumas reuniões pontuais em tabernas, para receber novos membros.

As quatro Lojas que se reuniram em 1717 para constituir a Grande Loja de Londres recuperaram um movimento que estava em gestação, e lhe deram uma estrutura institucional e uma constituição dita de An-derson que, convém assinalar, era escocês, filho de um vidraceiro, secretário da Loja de Aberdeen, evi-dentemente baseada em documentos mais antigos que, por conta do Pastor, foram eliminados.

Em 1723, a Constituição de Anderson marca uma ruptura doutrinária entre a nova Maçonaria e a Rosa+Cruz. Com efeito, o texto da constituição insiste sobre o ideal social da tolerância, e ignora totalmen-te o aspecto místico do ensino. Seu objetivo essen-cial é a moral, e não a pedagogia. As Constituições excluem a antiga definição de maçonaria, segundo a qual se identificava com a geometria. Em razão dessa virada que o Pastor Anderson fez, a Rosa+Cruz tenta manifestar- se fora da maçonaria, em faixa própria, mas também se volta para os assim chamados Altos Graus.

Neste momento de nossa exposição, é preciso fa-lar em André Michel de Ramsay (1686 – 1743) que fez seus estudos na Universidade de Glasgow e En-dinburgo e aprendeu o francês em Londres. O Senhor Cambrai o converteu ao catolicismo em 1709; perma-neceu na mansão da Senhora Guyon até 1717 e tor-nou-se, em seguida, preceptor do filho do Conde de Sassenage, genro do Duque de Chevreuse, influente defensor da causa estuartista.

Em seu famoso discurso pronunciado a 26 de de-zembro de 1736, podemos retirar estas frases: Dese-jamos manter todos os homens com o espírito escla-recido, maneiras dóceis e humor estável... através dos grandes princípios de virtude, de ciência, de religião, onde todas as nações possam buscar conhecimentos sólidos, e todas as pessoas, de todos os reinos, po-sam aprender a se amar, sem levar em consideração suas pátrias.

Os ingleses, posteriormente a esses fatos, e tendo presente o texto da Magna Carta de 1215 trouxeram o termo landmarks

Os landmarks da maçonaria são considerados pela maioria dos autores maçônicos, as mais antigas leis que a regem. Dentre outras coisas, prevêem a obrigatoriedade de uma crença em um ser superior (O Grande Arquiteto do Universo), o respeito entre seus membros, a ajuda mútua em casos de necessidade, entre outros. O último landmark diz que nenhum dos anteriores deve ser mudado. NOLUMUS LEGES MU-TARI.

Há inúmeras discussões entre grupos de maçons e, segundo alguns, os landmarks devem sofrer modi-ficações, adequando-se à nossa época. Uma das al-terações propostas seria a admissão de mulheres na Ordem Maçônica. Entretanto, de acordo com os de-fensores da sua imutabilidade, estas seriam cláusulas pétreas, sendo considerados os limites da maçonaria e, portanto, não poderiam ser passíveis de modifica-ções. Ainda na opinião desses teóricos, alterá-los sig-nificaria romper a sintonia maçônica mundial.

Segundo Percy Jantz, o termo maçônico landmark tem origem bíblica. O termo pode ser encontrado no li-vro dos Provérbios 22:28: Remove not the ancient lan-dmark which thy fathers have set. para destacar como os limites da terra foram marcados por meio das colu-nas de pedra. Cita mais uma lei Judaica: “Não remova os marcos (landmarks) vizinhos, eles tem sido usado desde os tempos antigos para definir as heranças.” para destacar como os marcos designam os limites

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da herança.

Mark Tabbert acredita que as regras e regulamen-tações atuais regidas pelos landmarks são derivadas das regras medievais dos stonemasons.

Segundo os Regulamentos Gerais publicados pela Grand Lodge of England em 1723, Cada Grande Oriente tem poder e autoridade para fazer novos regu-lamentos ou alterá-los, para os benefícios reais des-ta antiga Fraternidade; tomando os devidos cuidados para que os Landmarks sejam sempre preservados. Contudo, os landmarks não foram definidos nenhuma vez. A primeira vez, foi em Jurisprudence of Freema-sonry 1856 de autoria do Dr. Albert Mackey. Ele colo-cou três características básicas:

notional immemorial antiquity universality absolute “irrevocability”.

Ele afirmou que os landmarks são 25 no total e não podem ser alterados. Contudo, outros escritores tive-ram diferentes interpretações históricas do que seriam os landmarks exatamente. Em 1863, George Oliver publicou o livro Freemason’s Treasury no qual ele lis-ta 40 landmarks. No último século, algumas Grandes Lojas Americanas tentaram enumerar os landmarks,

variando da Virgínia (7) e nova New Jersey (10) até Nevada (39) e no Kentucky (54). Releva destacar, isto sim, que tais princípios não existiam catalogados até 1858, ou seja, até o século XIX. Em outubro da-quele ano, o norte-americano Albert Gallatin Mackey (12/03/1807 a 20/06/1881) os fez publicar na Revis-ta Trimestral Americana de Maçonaria (vol. II, p.230), num artigo denominado As fundações da Lei Maçôni-ca, que foi, posteriormente, incorporado no seu Text Book of Masonic Jurisprudence. A verdade é que, a partir dessa compilação começou a surgir questiona-mentos, dúvidas, discussões infindáveis, a ponto de um maçonólogo francês, questionar: Uma única per-gunta: mostrai-me um landmark, um verdadeiro!

As Grandes Lojas do Brasil, a primeira das quais foi fundada aos 22/09/1904 (Amazônia) e a última aos 05/11/1989 (Tocantins), assim como as demais do continente latinoamericano adotaram os landmarks compilados por Mackey, ao que se sabe, sem grandes questionamentos, ao passo que nos Estados Unidos da América do Norte, a mencionada classificação não mereceu unanimidade das cinqüenta e uma Grandes Lojas ali existentes, causando, isto sim, uma grande confusão visto que existem dezesseis (16) compila-ções, que abarcam desde três (03) até cinqüenta e quatro (54) landmarks! Isto representa, claramente, a não existência de unanimidade com relação à compi-lação de Mackey.

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Daqui, então se seguiram as Constituições ma-çônicas de cada Obediência e suas características – umas de notório conteúdo republicano, em geral dos Grandes Orientes, e outras confessadamente monar-quistas, enfeixando no Grão Mestre os três clássicos poderes republicanos, servindo essas Constituições, como a Magna Carta inglesa, para conter os poderes do rei.

E como o ser humano ainda necessite algo mais do que suas virtudes para a convivência social, sur-gem as necessidades de estatutos, regimentos inter-nos, atos, decretos, e toda a sorte de regulamentação. Quer dizer, nem os Dez Mandamentos ditados por Jeovah a Moisés foram suficientes para impor uma conduta sociável à humanidade.

Houve uma distorção importante nos usos e costumes das Lojas, com o correr dos tempos, e os maçons não se aperceberam. Houve uma inversão de valores: irmãos tei-mam em trazer para dentro da maçonaria, seus procedi-mentos profanos, com relação ao trabalho, principalmen-te no campo do direito, propondo temas profanos para discussão em Loja, oriundos do conhecimento que adqui-riram na vida profissional; na área contábil e econômica, teimam em discutir os assuntos dos metais, entendendo que devam ser gerenciados da forma profana, como se faz em bom procedimento fora da Ordem, com cobranças e supervalorização de seu uso; em nossos ritos, teimam em querer discutir a liturgia, que não estudam e não en-tendem – e sempre há um que deseja aperfeiçoar os ritu-ais, voltando a esta ou aquela data, ou acrescentando ou estirpando isto ou aquilo.

Pode-se argumentar que a Ordem é, a cada mo-mento, o reflexo de seu tempo; mas este fato não desculpa a distorção, porque a maçonaria subsiste há mais de trezentos anos, oficialmente, tendo sempre fórmulas simples e eficientes para contornar todas as crises pelas quais a humanidade passou.

Desde suas mais velhas Lojas, a maçonaria é uma instituição basicamente de ensino. Inegavelmente, junto aos canteiros de obras das antigas catedrais,

mestres artesãos ensinavam seus discípulos a arte de cortar as pedras, de poli-las e de ajusta-las nos devidos lugares. Hoje ela ensina o Homem a tornar-se melhor, mais ético, mais verdadeiro, e o estimu-la a participar ativamente dos clubes de serviço, dos partidos políticos, das entidades de classe ou das igrejas, e levar a essas entidades os princípios da Ordem, pelo exemplo, pela palavra, pela participação ativa – mesmo sem distintivos ou aventais. O objeti-vo da maçonaria é formar o homem maçom, e este, sim, participar da sociedade, levando seus princípios, e não sucumbindo à tentação de trazer para a Ordem os princípios desvirtuados ou corrompidos que encon-tra na sociedade de que participa.

Daí, então, concluo que as distorções comportamen-tais ou de caráter moral ou filosófico de nossas pedras brutas, só podem ser polidas em Loja, dentre aqueles que conhecem todos os fatos, com detalhes, e só pode caber recurso, como nos procedimentos profanos, ao Conselho de Mestres Instalados DA LOJA. Qualquer decisão tomada nesse nível é definitiva e inquestioná-vel, porque, repito, somente os mestres maçons da Loja em que os fatos ocorreram tem condições de julga-los, determinando a sanção ou absolvição ao culposo, com coragem, determinação e equidade e de acordo com NOSSAS leis, usos e costumes, sem a intromissão de profanos. Os diferentes tribunais que aparecem ao longo dos Graus são, inquestionavelmente, tribunais de auto-julgamento. Segundo nossas mais antigas tradições, somente a Reunião em Família ou em Câmara do Meio tem condições de avaliar os procedimentos, atos e faltas dos irmãos, de forma Justa e Perfeita.

Referências bibliográficas:

1. Points de Vue Initiatiques – cahiers de la Grande Loge de Fran-ce – nº 100 de dec. 1995, jan. et fev. de 1996 Paris, France.

2. Sampaio, Roberto Giannoúkas M.M. ‘LAND-MARKS’ (leis não-escritas, usos e costumes) Loja Hermanubis nº 34 e membro efe-tivo da Loja de Estudos e Pesquisas Universum nº 147.

3. Lavagnini, Aldo - Manual del caballero Rosacruz Buenos Aires Ed.Kier S.A.

4. Wikipédia, a enciclopédia livre.

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Venenerável mestre - o equilíbrio e sua missão

Mario Galante Pacheco*

Q uantas colunas tem uma Loja Maçônica? Qual a mais importante e de maior influ-ência, nos trabalhos ritualísticos? Qual é

a Missão de um Venerável Mestre? São perguntas, para as quais as respostas nos parecem óbvias. Para alguns, menos avisados, a Loja tem duas Colunas a do Norte e a do Sul, sendo muito difícil dizer-se qual a mais importante ou influente. Quanto à missão do Venerável Mestre, poder-se-ia dizer que será a “de dirigir a Loja”.

Em nossos escritos, Artigos e Livro, procuramos demonstrar que o R.´.E.´.A.´.A,´, tem uma relação “umbilical” com a Cosmogonia Cabalística. Confor-me sabemos, pela consulta aos Rituais, do 1º ao 33º constata-se este fato que devemos aos esfor-ços, bem sucedidos, do Ir.´. Albert Pike, o qual na passagem de consolidação dos diversos Rituais, do R.´.E.´.A.´.A.´.colocou, com muita propriedade e dis-

cernimento, a Cabala de maneira indelével em nos-sos trabalhos.

Pike disse “Sabedoria, Força e Beleza são for-ças que estão ao alcance de todas as pessoas; e uma associação de pessoas plenas dessas forças só pode exercer um imenso poder no mundo. Se a Maçonaria não o faz é porque parou de possuí-las.” Esta é uma observação contundente, pois fortalece o espírito deste Artigo.

Para a compreensão da maioria e ao desagrado de poucos, a Loja Maçônica, no Rito Escocês Antigo e Aceito, tem três Colunas, a do Norte (sob a égide do 1ºVig.´.), chamada, de maneira incompleta de Co-luna da Força, mas que seria mais bem denominada como Coluna do Rigor, a do Sul, sob o comando do 2º Vig.´. dita, impropriamente como a Coluna da Be-leza, cuja verdadeira denominação seria de Coluna

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da Misericórdia e, sem destaque, por não ser cos-tume cita-la, a Coluna do Equilíbrio que vai do Trono do V.´.M.´. até a `Porta do Templo.

Esta última, a Coluna do Equilíbrio é, sem qual-quer dúvida a mais importante da Loja, a mais in-fluente nos trabalhos e o campo, no qual o Venerável Mestre, cumpre a sua Missão. Podemos comparar o Venerável Mestre com o astro, luminar, o Sol, eis que o R.´.E.´. A.´.A.´. é um rito solar.

Poderíamos também percebe-lo como um “Rei” em seu reino. Mas uma das funções mais nobres , exercidas pelo V.´.M.´. é aquela que o caracteriza como um “Maestro” a reger a sua Nobre Orquestra, com virtuosa e harmoniosa participação.

Recentemente levou-se a efeito um Seminário, destinado a dar conceitos mais atuais do que seja “liderança” – por isso chamou-se, o Seminário de ”Vivendo a Liderança”, evento desenvolvido pelo Eminente Consistório dos Príncipes do Real Segre-do “ sob a inspiração do então Presidente, Ir.´. Luiz Antonio Rebouças, no qual participamos, como Co-ordenador, evento ministrado pelo Consultor Interna-cional, Sr. Ken O´Donell .

Os menos avisados podem pensar que “lider” é aquele que conduz o seu povo, em acordo com as suas idéias próprios, pois “elas são as que darão me-lhores resultados, sejam eles o que forem.

Qual o perfil de um verdadeiro Líder? Quais as “competências essenciais do verdadeiro Líder? Em uma linguagem profana, poder-se-ia dizer que deve-riam basear-se nos seguintes pontos:

-Ser um líder sábio;

-Possuir Os três pilares da sabedoria (compreen-são, reflexão e prática)

-Ter Autoconsciência.

-Praticar o Diálogo.

-Lidar com as mudanças.

Assim, dentro de nossa Sublime Instituição, o Venerável Mestre- líder natural de sua Loja, devera possuir ou desenvolver aquelas qualidades. Ou seja deverá ser o representante da Sabedoria, exercitan-do a compreensão, através da reflexão e, em decor-rência de sua autoconsciência, praticando o diálogo com seus pares e comandados, se capacitando, para as mudanças, que são as inevitáveis e constan-tes resultantes da Vida. A impermanência, como nos ensina o Senhor Buda é a única certeza que pode-mos ter, ao fim e ao cabo. Na vida nada mais certo que a Morte.

Sabemos que o Venerável Mestre dirige o Pilar (a Coluna) do Equilíbrio. Ele exerce uma função de interação entre o que provem das Colunas do Norte e do Sul, caldeando-as com a sua própria posição do que se chama de harmonia.

Que é interação? “Conjunto harmonioso das ações e relações entre os membros de um grupo ou entre grupos de uma comunidade ... Para darmos um conceito mais simples.

Que é harmonia, para os mesmos efeitos, ou seja a ação de dirigir uma Loja ou corpo maçônico: “ação da qual resulta a estabilidade mental e emocional; autocontrole, comedimento....de todo o grupo atra-vés da harmoniosa Interação, entre as Colunas do Norte e do Sul.

Desta forma jamais, o que resulta em uma Ses-são maçônica, será a vontade do Venerável Mestre, mas o que representa o melhor para o grupo.

Poderíamos objetar, dizendo que o Venerável Mestre (ou qualquer dirigente de um corpo maçôni-co) por ser mais preparado,deveria fazer prevalecer a sua opinião sobre a do grupo. Esta afirmativa, além de caracterizar o pensamento dos Ditadores, ignora a sublime atribuição de todo Líder que é a de con-duzir o grupo ao crescimento, com o conseqüente

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desenvolvimento de seus indivíduos.

O Venerável Mestre representa a Consciência, do grupo que dirige, é fundamental que tenhamos noção do conceito do que é “consciência” para os efeitos deste Trabalho.: s.f. (sXIII) 1 sentimento ou conhecimento que permite ao ser humano vivenciar, experimentar ou compreender aspectos ou a totali-dade de seu mundo interior 2 sentido ou percepção que o ser humano possui do que é moralmente certo ou errado em atos e motivos individuais.

Quando Pike afirma que a Ordem Maçônica per-deu seu poder sobre a Sabedoria, a Força e a Be-leza, (como vimos acima), está a dizer que foram esquecidos, deixaram de ser praticados, não foram valorizados ou não são conhecidas, por não terem estudadas e compriendidas as funções da Coluna do Equilíbrio. Ou seja da Coluna do Venerável.... (leia-se “qualquer dirigente de Corpo Maçônico).

1871, Albert Pike- Morals and Dogma of the An-cient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry.

É mais fácil encontrarmos um Ditador do que um verdadeiro Líder, por que o primeiro atende aos seus impulsos primitivos e naturais, enquanto que o se-gundo deve dedicar-se a burilar a sua pedra bruta e a dar brilho a sua pedra polida condição mais difícil e precípua.

Meditemos sobre o que seja Dignidade: “Pode-

mos tornar o mundo pedra ou diamante. A escolha é

de cada um. Sem valores meu caráter não consegue

enfrentar as tempestades da cobiça e do individua-

lismo. Mas quando consigo tocar a minha essência

e descobrir quão elevado sou, sacrifico a vantagem

pessoal em nome do ganho coletivo. Quando me

concentro nas virtudes mais grandiosas e acredito

nelas, o ser e o mundo se tornam tão valiosos com

um diamante.

Verbete Brahma Kumaris...

“Podemos tornar o mundo pedra ou diamante.

A escolha é de cada um. Sem valores meu caráter

não consegue enfrentar as tempestades da cobiça

e do individualismo. Mas quando consigo tocar mi-

nha essência e descobrir quão elevado sou, sacrifico

a vantagem pessoal em nome do ganho coletivo.

Quando me concentro nas virtudes mais grandiosas

e acredito nelas, o ser e o mundo se tornam tão va-

liosos como um diamante.”

* Consultor de empresas e RH – Astrólogo - Numerólogo

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O corpo carnal é o veículo que permite ao espírito realizar sua trajetória evo-lutiva. Ao encarnar o espírito se torna

refém de todos os condicionamentos que este corpo lhe impõe, a começar pelo esquecimento de suas vivências passadas.

As características básicas do corpo carnal, tanto morfológicas (formas), como fisiológicas (funcionamento), são delineadas no projeto re-encarnatório do reencarnante e são impressas em seu corpo modelador, durante o processo de preparação para o seu reencarne.

Estas características, denominadas con-dições individuais de retorno, fazem parte do chamado destino inarredável do reencarnante, e cumprem o objetivo de favorecer ao espírito, tanto atingir as metas de desenvolvimento de qualidades ainda embrionárias, quanto realizar o ressarcimento de débitos do passado.

São as cargas genéticas do corpo carnal e do corpo modelador as matrizes destas quali-dades, que ficam impressas na macromolécula DNA, contida no núcleo de cada célula do corpo humano.

DNA – O PORTADOR DACARGA GENÉTICA

A carga genética carnal, proveniente da fu-são dos núcleos da célula germinativa feminina (óvulo) e da célula germinativa masculina (es-permatozóide), fica contida no núcleo do óvulo fecundado (zigoto). Ela está toda contida na ma-cromolécula DNA, que rege o desenvolvimento do embrião, imprimindo-lhe características mor-

fológicas e orgânicas.

A macromolécula DNA tem a forma de uma longa escada em caracol, que é constituída por degraus compostos por pares de moléculas de-nominadas AT (adenina e timina), e CG (citosi-na e guanina). Cada degrau corresponde ou ao par AT, ou ao CG e, a seqüência destes degraus configura um código de barras, portador de in-formações que regram o desenvolvimento dos seres vivos. Estima-se que, no DNA contido no núcleo de cada célula, existam mais de três bi-lhões de seqüências deste tipo !

A macromolécula de DNA é extremamente longa e se configura tridimensionalmente sob a forma de quarenta e seis “novelos”, os cromos-somos.

Em cada cromossomo se alinham cerca de mil desses genes. São estas “unidades genéti-cas” que portam todas as informações relativas às características morfológicas e orgânicas da criatura. Contudo, apenas cerca de dez por cen-to dos genes apresentam tais características co-dificantes. A grande maioria deles é responsável pela produção de substâncias que atuam sobre o funcionamento de todo o organismo. Assim, por exemplo, no DNA das células do fígado, es-tão ativados genes que promovem a produção de compostos que, excretados pelas células, participam do processo digestivo.

Para a produção destas substâncias existem, no núcleo celular, moléculas denominadas RNA (e suas variações), que têm por função a de-codificação das informações contidas no DNA. As variações do RNA, denominadas Micro RNA, circulam pelo DNA, ativando ou desativando ge-

Corpo CarnalDelmar Estevan Brandão*

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nes.

A ativação e desativação do funcionamento dos genes pode também decorrer do processo de metilação dos mesmos. Este processo con-siste na ligação de moléculas de hidrogênio e carbono à base dos genes, e pode afetar a ope-ração de cerca de setenta por cento dos genes existentes no DNA.

No interior das células ocorrem, pois, proces-sos determinantes do funcionamento (saudável ou doentio) do organismo, sendo relevante ob-servar que o processo de metilação pode de-correr da ação de fatores externos. Assim, por exemplo, hábitos alimentares podem acarretar a metilação de certos genes, bloqueando o seu funcionamento.

O estudo da influência dos fatores externos sobre os genes é objeto da Epigenética, sen-do denominado Epigenoma o conjunto das alte-rações químicas provocadas pelo ambiente no DNA.

CÉLULAS – As Bases da Vida

Todas as células têm três componentes bási-cos em sua estrutura: o núcleo, o citoplasma e a membrana superficial (plasmática).

No núcleo se localiza a macromolécula DNA, que pode ser considerada a memória e inteli-gência celular, alem de ser a grande usina sin-tetizadora de compostos orgânicos essenciais para o funcionamento do corpo.

O citoplasma corresponde ao corpo celular, nele existindo compostos orgânicos vitais para a existência da célula e do organismo em que ela se insere. Assim, por exemplo, no citoplasma de células capazes de adotar uma variedade de formas e de executar movimentos coordenados

e direcionados (células eucarióticas), ocorre a existência de uma rede de filamentos protéicos (citoesqueletos), responsáveis por tais ações.

A membrana celular além de dar forma à cé-lula, desempenha papel relevante no processo de interação dela com as demais. Para tanto, existem na superfície celular, substâncias deno-minadas receptores, que atuam como seletoras e gerenciadoras das trocas vitais existentes en-tre as células e o meio. A forma e dimensão das células dependem da função que desempenham na constituição dos diferentes tecidos e órgãos.

As células se multiplicam pelo processo de mitose, dividindo-se em duas, cumprindo assim seu ciclo de vida e renovando o tecido de que fazem parte.

Relevante é o fato de as células germinativas (óvulo e espermatozóide) só portarem vinte e três cromossomos, de modo a garantir o núme-ro exato de cromossomos após a ocorrência da fusão das duas.

A fusão das células germinativas, no processo denominado fecundação, é fenômeno ímpar na biologia celular. Desta fusão resulta uma nova célula, o zigoto (com cerca de 1,30 mm de diâ-metro), com quarenta e seis cromossomos, em cujo DNA existem todas as informações neces-sárias para dar início à formação do embrião.

As células resultantes da multiplicação ce-lular do zigoto, denominadas células tronco to-tipotentes, são capazes de se transformar em qualquer outro tipo de células.

Assim, graças ao processo de diferenciação celular, ocorre o desenvolvimento do corpo car-nal.

As células constituintes do corpo carnal po-dem responder de forma direta aos impulsos nervosos que recebem do cérebro (tal como as

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células musculares), como também de forma in-direta graças, por exemplo, aos estímulos hor-monais.

Gestação do Corpo Carnal

O estudo do desenvolvimento do corpo car-nal é objeto da ciência denominada Ontogenia. O corpo carnal inicia sua formação recebendo, desde as primeiras multiplicações celulares, a carga genética carnal herdada de seus proge-nitores. Na visão reencarnacionista, alguns dias após a fecundação, o embrião passa a receber a carga genética astral, que lhe é entregue pelo corpo modelador.

Assim, a partir do zigoto acontece a multipli-cação celular, que dá origem às denominadas células tronco totipotentes, capazes de se trans-formar em todos os tipos de células necessárias ao desenvolvimento do embrião.

A multiplicação celular ocorre inicialmente em ritmo lento, havendo oito células no terceiro dia após a fecundação, crescendo este núme-ro para quarenta no quarto dia, e chegando a cento e vinte no quinto dia. A partir daí a divi-são celular se acelera e o conjunto de células totipotentes dá origem a uma estrutura esférica, denominada blastócito, de cuja parte externa se originará a placenta e da interna resultará o desenvolvimento do embrião. Entre o sexto e o sétimo dia o blastócito se fixa ao útero materno.

As células da parte interna do blastócito são também denominadas células tronco pluripoten-tes, pois que podem dar origem a qualquer parte do corpo humano. São estas células que atu-almente estão sendo estudadas, visando o seu emprego em medicina regenerativa.

As células pluripotentes começam a se dife-renciar, quando seu número se torne suficiente

para dar início à formação dos trezentos e trinta tecidos existentes no corpo humano. Então, por camadas, as células pluripotentes começam a formar os tecidos que darão origem a órgãos e estruturas do embrião. Assim, por exemplo, a formação das células nervosas começa a partir do seu décimo quarto dia de vida.

Cerca de dez dias após a fecundação, tem início a encarnação, com a progressiva ligação do cordão astral de cada chacra à glândula en-dócrina (em formação) sobre a qual o chacra atuará.

Desta forma começa a se efetivar a entrega da carga genética astral, que passa a operar, como modeladora, sobre o DNA que o reencar-nante herdou de seus progenitores. A estrutura da macromolécula DNA é sensível à ação dos chacras do corpo modelador, que nela proce-dem as alterações genéticas necessárias, para

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que se cumpram as programações inarredáveis constantes no projeto reencarnatório do espíri-to.

O processo de diferenciação das células pluripotentes, que darão início à formação dos tecidos constituintes das diversas estruturas e órgãos do corpo carnal, resulta da ação de um grupo de genes controladores, denominado ho-meobox. Estes genes acionam outros genes, induzindo-os a um determinado comportamento. Assim, vão sendo formados não somente os ele-mentos biológicos necessários para a formação dos diferentes tecidos, mas também se estabe-lece a modelagem do novo ser vivo, sua estrutu-ra, o ordenamento de seus órgãos, etc.

A carga genética astral influi, necessariamen-te, sobre estes genes controladores da formação fetal, entregando-lhes características programa-das no projeto encarnatório do reencarnante.

Já durante a quarta semana de gestação se completa a formação do coração, tendo início o processo de bombeamento sanguíneo, de-corrente dos batimentos cardíacos. Inicia-se, também, neste período, o desenvolvimento da coluna vertebral do embrião. Ao fim da quarta semana de gestação, a massa celular do ser em desenvolvimento é cerca de dez mil vezes maior do que a do zigoto.

A partir de sua oitava semana de vida o em-brião começa a adquirir a forma fetal, com o de-senvolvimento de seus membros e dos órgãos internos.

Relevante considerar que até adquirir a forma fetal, o embrião passa por uma série de formas in-termediárias, que evidenciam a evolução dos ani-mais vertebrados no planeta (cujo estudo deno-mina-se Filogenia). Assim, por breves períodos, o embrião apresenta brânquias como peixes, mem-branas interdigitais como aves aquáticas, etc.

Na décima quarta semana de gestação o feto apresenta rosto com aspecto humano e sexo de-finido.

Na vigésima segunda semana o feto come-ça a reagir a estímulos externos, alterando seus batimentos cardíacos na ocorrência de ruídos externos, por exemplo.

Ao completar sua gestação, o feto já possui quatro trilhões de células.

Simultaneamente à gestação do corpo carnal, ocorre a gestação do corpo vital (duplo etéreo) cujo desenvolvimento se dá no corpo modelador materno e que, sendo de matéria astral, escapa à observação do homem encarnado.

A encarnação se completa quando o espírito abandona o útero materno, passando a viver na dependência de seu novo corpo carnal, ficando desligado das memórias de suas vivências ante-riores (cujos registros não se encontram nos cé-rebros de seus corpos modelador e carnal, mas permanecem guardados em seus corpos mental e emocional). Contudo, mesmo as memórias dos fatos ocorridos até o terceiro ano de vida encar-nada não são fixadas nos cérebros dos corpos modelador e carnal, mas ficam registradas no corpo mental. A formação da memória de longa duração, guardiã da identidade do reencarnado, ocorre a partir dos três anos de idade.

Contudo, os registros existentes no corpo emocional influem sobre o comportamento do reencarnante, desde o seu nascimento. Os im-pulsos emocionais agem sobre o sistema en-dócrino, imprimindo reações automáticas, que costumam escapar do controle racional. Estas reações caracterizam o temperamento de cada indivíduo.

* Professor - Escritor

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Félix Soibelman*

Tradição iniciática, periodo pre-babel e a obra de Serge Raynaud de La Ferriére

Introdução

P ode a Tradição Iniciática ser atestada pelas religiões comparadas? O histori-cismo e o estudo das religiões compa-

radas socorre a dignidade intelectual para este desiderato, mas o resolverá completamente?

Como podemos aferir o grau de verdade de qualquer coisa nesta matéria? Pelo historicis-mo, por simplesmente enunciar as similaridades entre distintos testemunhos da experiência mís-tica, símbolos religiosos, Escolas esotéricas, te-ologias ou ainda pela palavra daqueles que go-zam de prestígio e consideração entre eruditos, religiosos, ou entre as massas?

Iniciando a resposta, digo que isto tudo pode fazer parecer que estamos diante de uma de-cisão, mas não estamos. Fosse uma decisão restaria contrariada a natureza transcendental dessa apreensão de forma que não passaria,

pois, de uma erudição que converge ao místico, pela qual fazemos escolhas e emitimos simples opiniões.

Nada que se pretenda como inerente à reali-dade fundamental do destino humano pode ser arbitrado pelo nosso gosto ou identificação pes-soal, ou, noutras palavras, não pode a conside-ração sobre essa existência fixar-se num relati-vismo.

Não será, pois, nenhuma autoridade, ainda que espiritual, que possa garantir coisa alguma e muito menos poderemos concluir por uma si-metria da “santidade” entre as distintas religiões, escolas ou vertentes espirituais, como se para atestar sua existência e igual valor nos bastasse saber que alguém é reconhecido como tal, mor-mente quando vemos textos de S. Crisóstomo, por exemplo, de uma puerilidade total.

Por esse expediente os santos declarados,

s

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Informações

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como o são alguns da cristandade, mediante um processo canônico póstumo, de lastro mo-ral com improcedente averiguação de suposta conexão entre a Luz incriada e a averiguação de milagres, seriam equiparados aos santos realizados, cujo conceito é totalmente distinto, compreendendo estados metafísicos transindivi-duais alcançados por eles.

No entanto, o fato é que, ao olhar exterior ne-nhum dos dois casos permite ajuizar nada, dado que tal capitulação somente se justifica no foro interior.

Eis-nos aqui, pois, diante do dilema cuja so-lução somente poderá ser de ordem perceptiva. Sim, para não ser uma mera apreciação cultu-ral, deve haver uma percepção, uma apreensão que faça inteligível esta verdade para nos inserir numa outra ordem valorativa. Ela não será ou-torgada pela evidência num sentido lógico asso-ciativo pelo qual um estado de consciência pode ser avaliado analiticamente, isto é, por um juízo, como se as premissas adotadas numa condição mental ordinária servissem a balizar o reconhe-cimento de estados superantes do “eu”, tomando como regra os preceitos meramente assumidos fideística, moral ou filosoficamente para dizer: “este é santo, aquele não é, este é iluminado, aquele não é”, etc. O intranscendente não pode avaliar o transcendente, uma categoria de pen-samento não pode avaliar outra.

Logo, o que nos fará saber do grau de verda-de da existência dessa Tradição Iniciática será sempre um contato direto com o conhecimento em que dita existência implica, conhecimento este que é, portanto, intuição.

Esta intuição unicamente pode servir-se des-sas considerações a respeito do sincretismo religioso, para dar-se na medida em que todo processo intuitivo é precedido de um ruminar in-telectual, que, não obstante, jamais o constituirá

finalmente.

Destarte, para que essa Tradição Iniciática não seja mais do que um alento de sincretismo religioso e semelhanças fugidias, deve necessa-riamente haver algo que nos chancele sua pre-sença. Eis, pois, que ninguém conhece verda-deiramente a Tradição Iniciática senão por este viés presencial, não sendo todo o restante mais do que conjectura comparativa.

Quem queira discorrer sobre a Tradição de-verá mesmo fazê-lo num marco puramente fide-ísta e místico, contando com o auxílio de uma função empática pela qual ecoe na consciência alheia os mesmos móveis que fizeram palpitar a consciência de quem o enuncia, não poden-do, contudo, produzir uma prova objetiva sobre a Tradição. Tudo que pode ser dito a seguir vela por esse princípio.

A TRADIÇÃO INICIÁTICA

Observando-se advertência na última fra-se acima, a Tradição Iniciática é e sempre foi para aqueles que a conhecem verdadeiramente, um Poder transmitido desde a Fonte, de Deus, através dos tempos, que permite ao homem as-cender metafisicamente, sendo a única forma de fazer reais os postulados transcendentais da filosofia e de todas as religiões.

Quando dizemos “tornar real” estamos, pois, em sede do elemento fulcral que a distancia do conhecimento ordinário, isto é, mediante este Poder o objeto do conceito torna-se realmente existente na percepção, produzindo a transfor-mação da própria consciência.

Na definição de Serge Raynaud de la Fer-rière realizar é, pois, compreender através de uma expansão de consciência. A Tradição Inici-ática somente se põe de manifesto quando isto

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ocorre, ou seja, quando esta realização sucede. Quem não conta com isto não tem participação e nada pode, senão pequenos prolegômenos.

Como sobredito, é a transmissão de um Po-der. Tradição vem de transmissão, ou seja, legar a outrem uma capacidade ou bem. No caso é o poder do Verbo, a fonte, o influxo espiritual ne-cessário à manifestação da Gnose na abertura da consciência, seja em qual via de realização for.

Eis aí a razão de se afirmar que o livre pen-samento nada pode na assimilação de Deus e seria por essa reciprocidade, entre Deus e o

homem, que este último pode conduzir-se pela Teose.

Não obstante, o livre pensamento é necessa-riamente predecessor de toda assimilação supe-rior, pois, o conhecimento sucede por um trân-sito do conhecido no espelhar do pensamento em si mesmo, que é a consciência. Isto significa que nada pode ser conhecido com a plena mani-festação de seu Ser, sem que o seja neste am-biente de inteira autonomia imanente. É nessa autonomia da imanência e só por ela, que pode o ser, fazer consciência de algo.

A liberdade é, portanto, uma essência primei-

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ra do pensamento, ainda que seja para a decisão de submeter-se a uma disciplina legada epifani-camente. Desta sorte, o Iluminismo foi um res-gate da consciência para a Gnose, ao contrário do que pretendem os críticos desse movimento.

Destarte, se por um lado a Gnose só pode ocorrer pelo legado da revelação, por outro não pode ela fecundar se não for participando na própria condição reflexa e imanentista da cons-ciência, o que nos remete à eterna questão do livre arbítrio e da liberdade de eleição, apreen-são e adoção das idéias.”

Estando entendidos os elementos deste, esta troca entre a revelação e a consciência, impõe-se entender também a natureza desta transmis-são em si mesma, no que chegamos a seu argu-mento cosmológico.

O Argumento cosmológico da Tradição Ini-ciática

Um princípio que consiste na transmissão de um fluxo de consciência pode ser ele mesmo in-consciente? Amiúde supomos inconsciência, ou não atinamos para a existência de uma cons-ciência nas coisas não antropomórficas, tais como os princípios, mas seria flagrantemente contraditório supor uma inconsciência na fonte máxima da consciência.

Assim é que Tradição Iniciática não é um princípio inconsciente. Desta premissa resul-tam dois conceitos dos quais, por sua vez, en-gendram um argumento cosmológico:

a) tudo entre Deus e o homem terá consci-ência, dado não haver possível grau acima do homem que seja menos consciente do que ele é;

b) o homem, em sua via de realização, gra-dualmente faz consciência Dele (Deus) se in-

cluindo nisto uma distância que nada mais é que Deus cumprindo a si mesmo, uma vez que nada podendo ser, sem ser Deus, sob pena de insub-sistência de sua natureza Absoluta, o indivíduo nada mais é que Deus revelando-se a si mesmo, de forma que negação do indivíduo é tão vazia quanto a negação do contrário, entendido como Absoluto trascendental.

É este, pois, o argumento cosmológico que fundamenta a presença da Sublime Hierarquia Espiritual sobre a Terra.

A natureza consubstancial da Hierarquia e o centro de todas as coisas.

Esta idéia de hierarquia vige nas diversas tradições religiosas. Até mesmo São Dinis (ou Dionísio), o Aeropagita, contemplou, mesmo de dentro do seu cristianismo imberbe, a existência de hierarquias celestiais. Mas todas as teologias possuem essa noção hieráquica, seja mediante as hostes angelicais, seja mediante a santidade que toca os céus.

Por isto mesmo as ordens religiosas e prin-cipalmente as esotéricas, amiúde refletem a or-dem cosmológica com iguais hierarquias e as-censão por elas, pelas quais flui o princípio.

Caracteriza-se a mais elevada expressão dessa Hieraquia como um Centro Sagrado que está em todos os lugares e em parte alguma, particularmente naqueles que, alcançando essa realização, têm sua consciência com ele amal-gamada. É chamado Graal, Thebah, Agharta, Shambalah, Israel, como seja, todos eles nomes simbólicos.

A crítica depreciativa da idéia da Shambalah como um esoterimso vulgar é paradoxalmente padecedora da mesma inferioridade filosófico-intelectual que quer acusar, dado que são tão

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parvos estes que a erigem, que não percebem que a idéia prístina da Shambalah é a da con-substancialidade do centro, entendendo-se que as consciências que logram a realização divina tornam-se consciência deste Princípio, assim nele unificadas.

Não cabem aqui considerações bizantinas e tolas de quem pensa enganar alguém com o simples enunciado de que o “Centro não está no manifestado” ou “o Centro está no não ser” e outras tolices que alguém arrume para crer-se emancipado de um ideário esotérico, ou situar-se numa dignidade metafísica que se sobreporia ao aqui descrito.

Ora, esta pretensão supramencionada não passa de tentativa de infundir a idéia de que, aquele que a manifesta, está na posse de uma contemplação do princípio infinito encimando categorias, tal qual mediante o simples conceito estivesse em linha direta com isto e em paridade com aqueles que estão na profundidade do Ser, quando isto sequer é idealizável pela pessoa que assim pensa.

Nada seria, pois, mais cristão, no sentido degenerativo assumindo essa religião, do que esta estrábica idéia de que os cumes metafísi-cos podem ser tateados pelo intelecto com o es-

quecimento do Ser, tal qual este fosse algo des-conectado em sua ultimação ontológica dessas instâncias supraessenciais. Isto acima é uma besteira sem tamanho que mereceu o justo cla-mor de Heidegger contra o esquecimento do Ser e por outro lado desaguou, com a progressiva reação filosófica, no positivismo.

Um homem de grande elevação espiritual dis-se-me, certa vez, que não se chega ao Pai sem passar pelo Filho. Este é o sentido, ou seja, não se ultrapassa o ser sem realizar todo o potencial da ontologia, tudo aquilo em que o fato de ser importa como fundamento e pode conter outor-gando esta dimensão de consciência.

Pois bem, entendida a base da afirmação dessa Hierarquia mediante o argumento cosmo-lógico de que nada pode ser inconsciente entre Deus e o homem, que empreende a consciên-cia de Deus, já estamos em condições de com-preender que tal Hierarquia é necessariamente cosmogônica, não secular, e muito menos pen-de ou é pendente de nenhuma forma religiosa e está diretamente implicada na teofania.

A Tradição Pura ou Babel perdida

Portanto, a partir das religiões nada deriva

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de propriamente novo e muito menos são elas expressões da Tradição Iniciática Pura que re-serva todos estes conhecimentos, mas, ao con-trário, essa Sublime Hierarquia atravessa todos os tempos e manifesta sua verdade única no seio da contraparte esotérica dessas religiões, o que dito de outro modo significa que as Escolas existem apesar das religiões.

Algumas escolas recebem forma destas reli-giões, mas não são por elas sustentadas e sim pelo Poder que essa Hierarquia lega quando seus membros a ela acodem restabelecendo ou mantendo o elo com o Centro Universal.

Nada há, no entanto, que faça necessário que essa Sublime Hierarquia Espiritual manifeste-se na sombra das religiões que são simples siste-ma de crenças. Se assim ocorre é por razões puramente cíclicas e não por diversidade huma-na, como alguns sustentam de forma barateira.

A perda da unidade primordial não foi um aca-so, mas um ciclo de contração da consciência. Nada obsta a existência de períodos degenerati-vos nos quais a Grande Babel se instaura.

O que foi a Torre de Babel? O Gênesis descre-ve o momento da perda dessa unidade, quando havia sobre a Terra essa língua única que nada mais é do que a parábola para o conhecimento único, a teofania intacta.

A perda dessa linguagem única significa, nou-tras palavras, que o homem perdeu a capacida-de de pensar segundo este princípio teofânico na medida em que foi descurando o ensinamen-to Iniciático até ingressar no mecanicismo reli-gioso.

A comunhão com o Divino era expressada, pois, pela linguagem, isto é, uma linguagem hierofânica que consumava a “Aliança ontológi-ca”, como tão bem nomeia Gusdorf.

Diz Serge Raynaud de la Ferriére sobre estes tempos em que os homens atentavam para lo-gos, a palavra oculta dentro de todas as coisas, a sua essência atuante:

“..os seres humanos daqueles tempos que eram adeptos. Procedentes da Prístina Causa, encontravam-se tão próximos da Fonte de onde emanava vida que tudo lhes era conhecido”

Babel é a eloqüente ilustração de uma de-generação coletiva. A isto se atribui a formação das várias raças, tradições, etc., pelo que che-gamos aqui à concepção dos ciclos evolutivos.

Os ciclos evolutivos

Babel, de per si, já encerra a idéia dos ciclos envolvendo a coletividade. E a própria seqüên-cia do Antigo Testamento descreve as sucessi-vas epifanias que se seguem, pelas quais Deus volta a trazer a si os homens no Êxodo, o que significa progresso coletivo, sim.

A aventura do povo judeu em comunhão ínti-ma com Deus nada mais é do que uma teofania coletivamente experimentada e a expressão de um ciclo. Provada está a existência dos ciclos no discurso religioso, estampado assim no fluxo e refluxo consciente, que constatamos no pró-prio Gênesis.

Isto posto fica saliente que há ciclos de con-tração e de expansão da consciência em nível coletivo. Em ciclos de contração o homem perde essa linguagem e aí surgem as diversas tradi-ções religiosas, que assim apresentam a Tra-dição Iniciática multifacetada. Concerne a tais ciclos a religiosidade diversificada e vemos, por exemplo, a Trindade em várias delas (Pai, Fi-lho-Espíirto-Santo, Bhrama-Vishnu, Shiva, Sat-Chit-Ananda, Kether-Hoschmasch-Binah)..ou os sete centros , os plexos endócrinos (sete sephi-

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rots na Qaabalah, sete chackras, o número sete em diversas tradições)...e ainda encontraríamos muitos outros, como Ying e Yang, Ida e Pínga-la...etc.

Este centro nunca cessa sua emanação e os membros dessa Sublime Hierarquia podem manifestar-se conforme o ciclo pelas religiões (modo empobrecido), ainda em Escolas Iniciáti-cas delas derivadas, ou por seus agentes puros que seriam os Iluminados que a fazem presente diretamente sem pertencer a uma específica re-ligião, retornando ao período pré-Babel da Reli-gião prístina que foi perdida.

Amiúde socorrem também a cadeia transmis-siva alguns elementos que assim vêm a res-taurar um núcleo iniciático específico (como são as tantas escolas surgidas e desaparecidas, ou ainda o exemplo das Turuks, entre os islâmicos, ou até certas vertentes da maçonaria, os Essê-nios, etc.) Não obstante, essas escolas amiúde se degeneram, também, dado que se são elas, por um lado, atualizadoras de uma epifania em seu sentido de infusão espiritual, não contêm sua dimensão originadora.

No presente momento irrompe uma Nova Era na qual aparecem tantos Mestres de um esote-rismo puro, universalistas, ou seja, porque o ci-clo que ora se inicia preme o retorno à Tradição Iniciática pura pré-Babel.

Serge Raynaud de la Ferrière era, sim, um desses agentes puros da Tradição Iniciática, al-guém que escreveu muitas Obras e criou uma instituição cultural a par de uma Ordem Iniciáti-ca pelas quais pretende a reunificação em torno da única e verdadeira RELIGIÃO. O fato de ele não ter ainda uma dimensão histórica em nada depõe contra ou a favor, principalmente se pen-samos que somente com Constantino, quase 300 anos depois, é que o cristianismo universa-lizou-se, de forma que nos primeiros cem anos

de sua existência não foi mais do que sombra e expectativa.

Tal universalismo, no entanto, desconcerta os escudeiros da miséria espiritual cristã, religião das mais profanas que habitou o Globo no declí-nio que encarnou, sobrando na Terra com a re-volução axiológica, maravilhosa neste aspecto, mas coroando a perdição dos princípios. Uma religião, como dito acima, tão raquítica espiritu-almente que acostumou os homens a pensarem que cumpriam com a distância entre Deus e eles com a simples mediação de conceitos

O recurso desesperado do cristianismo é capi-talizar a profundidade filosófica no derredor desta realização ontológica como se ela dependesse de uma forma religiosa para existir, opondo-se as-sim a um holismo superficial que seria a chama-da “Nova Era”, empenhando nisto o engodo de dar a crer que as aspirações universais presentes no homem, desde que é homem, não possam ser sem a guia de um sistema de crenças, isto é, um conjunto de idéias conjuminadas com prescrições de comportamento e atos disciplinares que, não necessariamente, colocam o homem em contato com a tecitura do real, a essência desvelada, que seria já um domínio da Fé e não da crença.

Há o todo tipo de refratários arrogantes que querem salvar da obsolescência uma mensagem que cumpriu seu papel axiológico mas já carece de qualquer Poder. Para isso recorrem a metafísicas caricaturais de seu ciclo como, por exemplo, ser a trindade cristã não-numeral alojada no não dual e outras destas bizantinas concepções maquinadas no desiderato de emprestar alguma superioridade e perenidade ao cristianismo e, é claro, eclipsar pessoas despreparadas que sobre a Nova Era fa-lem e não percebam esse constante embuste inte-lectual, com miasmas religiosos.

* Advogado

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“N ão penseis que vim trazer paz a Terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois vim causar divisão entre o homem e

seu pai; entre e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Assim os inimigos do homem serão os da sua pró-pria casa.” (Mateus, X: 34-36).

A afirmação bíblica de Mateus, além de ser uma metáfora, coloca em nosso caminho uma espada como garantidora da ordem.

Na Maçonaria, repleta de Simbolismos, há quem questione o uso da espada por ser ela um antigo artefato bélico de uso de guerreiros e a maçonaria oriunda de pedreiros, que não usavam, nem usam espadas. Os seus instrumentos, dentre outros, são o maço, o cinzel, a régua, o esquadro e o compasso.

No mundo profano, tem-se o costume de consi-derar a espada como uma tradição essencialmente guerreira e, portanto, motivo de temor, como símbo-lo maçônico. Não se pode contestar que existe um aspecto guerreiro neste símbolo; porém, seu senti-do esotérico transcende seu caráter de violência e é encontrado em várias Ordens e crenças religiosas.

Para um oficial das Forças Armadas, a espada re-presenta não só a autoridade a ele confiada, como também a possibilidade de atingir a mais alta gra-duação na vida militar a ser descortinada. Seja na declaração de aspirante, nomeação ou promoção ao primeiro posto, ela lhe é entregue, cerimoniosamen-te, como um símbolo material da autoridade e que deve ser usada na aplicação dos mais legítimos prin-cípios da honra cultuados e praticados na carreira.

O espadim do cadete da Academia Militar das

A Espada na Maçonaria

Flávio Martins Pinto*

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Agulhas Negras e a espada de oficial general, répli-cas da espada invencível do Duque de Caxias, enal-tecem a aplicação daqueles princípios e valores, dos quais se destacam a responsabilidade, competência, a bondade, a aplicação da justiça, o amor à Pátria e tudo que a ela diz respeito.

Caracteriza-se, portanto, não como um mero sim-bolismo, mas sim como um instrumento para exal-tação do que existe de mais belo e puro na carreira do oficial: o uso da espada, ou da autoridade militar investida, para se cumprir os deveres e obrigações militares.

Muitos a tratam apenas como uma peça metálica e que as pessoas de boa índole devem ter a prerro-gativa de portá-la.

A cultura oriental nos revela uma expressiva sa-bedoria em relação a este símbolo. Para entender, devemos concebê-la como uma trilha a ser percorri-da, a exemplo das artes marciais, que possuem um caminho interno constituído na forma de uma senda espiritual.

Esta senda, dentro das artes guerreiras, é chama-da de BUDO, e sua maior expressão é, sem dúvida, a conhecida pelos mestres como I AI DO. E esta é, dentre aquelas artes, a mais refinada e conservado-ra do espírito do BUDO. Utiliza-se a espada –Kata-na- como arma cerimonial e seu treinamento e sua

disciplina consistem em dominar o desembainhar, o corte e o embainhar dessa arma.

O I AI DO fora utilizado inicialmente pelos samu-rais como forma de se defender de golpes inespera-dos. Consistia em um treinamento dos instintos para responder, rapidamente, a qualquer tipo de ataque imprevisto, principalmente quando o samurai se en-contrasse meditando.

Manejar bem a espada é uma tarefa difícil, mas não só pelo aspecto técnico, que é exigido a níveis próximos da perfeição, como pelo equilíbrio e pela capacidade de discernimento do praticante. A espa-da é símbolo da vontade do espírito e deve ser trata-da de modo especial. As katanás no Japão possuíam um tratamento singular desde sua forja, que era exe-cutada artesanalmente por monges que dedicavam toda sua vida a esse sagrado ofício.

A manufatura da espada japonesa não era um simples ato de fabricar um objeto para uma batalha ou utilização específica: o mestre-espadeiro coloca-va seu espírito em todas as fases da fabricação, che-gando ao ponto de abster-se de sexo, bebidas, carne e da presença das pessoas comuns durante todo o processo. Seu ateliê era um santuário sagrado, sen-do o aço dobrado sobre si próprio em operações de forjamento sucessivo. O sentimento colocado em cada martelada era um ato religioso que conferia um espírito à sua lâmina, nas imersões na água, nas

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passadas na pedra de afiar deixando-a viva com a energia de seu criador.

Existe uma história que é relacionada ao espíri-to do artesão que era colocado nas fibras do aço: o mais famoso armeiro japonês Massamuné, conheci-do pelo seu espírito bom, sempre que podia ajudava as pessoas de seu vilarejo, via suas obras como um objeto artístico e instrumento para a busca da paz. Seu melhor discípulo foi Muramasa que, apesar de aprender toda a técnica da arte, possuía um espírito ruim e, devido a isso, foi excluído do ateliê.

Conta-se que ao colocarem-se duas espadas, uma de Massamuné e outra de Muramasa em um regato, quando folhas são jogadas na água, elas são atraídas e cortadas pela lâmina da segunda e repe-lidas pela primeira. Isto é relacionado pelos estudio-sos ao sentimento ruim que Muramasa colocava em suas lâminas.

Ao conhecer esta arte marcial, a sublime arte de lutar e de viver, dos samurais, percebi sua semelhan-ça com o ofício das armas e a destinação do oficial na estrutura militar de paz e de guerra.

Na cerimônia de minha Iniciação aqui a encontro novamente, à entrada do templo. Após rápido diálo-go, a porta é aberta e sinto a ponta de um ferro no meu peito. A confirmação veio com a resposta que recebi:

Era a espada representante da palavra, decidindo quem entraria no Templo e informando das graves conseqüências que estaria propenso a assumir, caso desrespeitasse a ordem.

Teria de submeter a minha vontade e iniciar uma grande viagem dentro do meu interior, contra meus próprios demônios, para purificar meu caminho de guerreiro. Também teria de dar provas de resignação e coragem.

Muito nervoso divagava eu na cerimônia, quando me perguntaram sobre Virtude. E novamente me vie-

ram fortes, implacáveis, justiceiras, as imagens das espadas que tinha n minha mente e os juramentos que fiz sobre elas. A crença de que a katana , com o tempo, assume a personalidade do seu manejador me assustava. A espada, como a alma do samurai, sempre limpa e pura, seria o meu guia e pude res-ponder com segurança sobre aquela característica da raça humana, que só dignifica quem a pratica.

Juntas, estavam agora, na virtude, a minha es-pada de oficial, usada durante mais de trinta anos sem manchas, a katana a qual também me orgulho e a outra, inquisidora, que me desafiava a apresentar méritos para entrar no Templo.

De acordo com Helena Pietrova Blavatsky, na sua Doutrina Secreta, “existe outro aspecto em que ela simboliza:-... a luta que o homem deve conduzir contra os “Inimigos da Luz” e contrários à ordem e à Unidade de Deus. A “guerra” sempre estabeleceu o equilíbrio e a harmonia (ou justiça) e assim, propor-cionou a unificação, de certo modo, dos elementos em oposição entre si.

Isso quer dizer que o seu fim normal e, sem dúvi-da, sua única razão de ser, é a paz que só pode ser verdadeiramente obtida pela submissão à vontade divina colocando cada elemento em seu lugar com a finalidade de fazê-los todos concorrerem para a rea-lização consciente de um mesmo Plano”.

Sim, era agora a espada representante da pala-vra, da justiça, garantidora da ordem na luta contra os Inimigos da Luz de Blavatsky, no seu silêncio me garantindo apoio total na busca e trilhar do caminho que decidi seguir.

A simbologia da espada completar-se-ia com a vi-são final nas mãos do Guarda do Templo, garantindo a entrada e saída do templo. Era a missão definitiva de segurança desempenhada humildemente pela espada do guerreiro.

Ao encararmos a espada como a projeção da nos-

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sa alma, assim como as luvas brancas recebidas, a associamos em definitivo ao sucesso na luta contra as paixões na direção da prática da Virtude plena.

A dualidade da espada-guerreira e de paz- nos conduz a harmonia e tolerância necessárias na nos-sa caminhada.

É a busca do eixo no qual as oposições se recon-ciliam, entrando em equilíbrio justo e perfeito.

Ver na espada o símbolo da honra e esforçar-se a merecê-la, tornando-a seu guia na senda espiritu-al, procurando sempre, de acordo com Helena Bla-vatsky, “cumprir a missão do Guerreiro de Luz, que tem a sublime tarefa de projetar em sua lâmina toda a pureza, todo o esplendor e mostrar aos menos afortunados o verdadeiro caminho para a unidade de Deus e toda a Glória do Templo. Ao se fazer merece-dor, não mais será um homem comum”.

A espada é usada por todos os Mestres Maçons como símbolo de igualdade.

Numa iniciação, segura pelo Mestre Experto, atua na descarga de energia saturada produzida pelo pro-fano iniciado, energia que trás do mundo profano.

Assim como canaliza a energia do Venerável Mestre na hora da sagração como maçom.

Vemos, também, que a espada empunhada pelos Mestres atua na proteção dos segredos e da tradi-ção, do compromisso de se manter o sigilo e ainda na vingança sobre o perjuro, lembrada no momento de receber a luz.

Para concluir, a espada ao mesmo tempo em que nos serve, no seu silêncio, de guia na senda espi-ritual, apontando para a necessidade da pureza da Alma, nos observa apontando seu gume para as nos-sas paixões não vencidas. Ela não está ligada à sim-bologia nem militar nem guerreira nem mágica e sim ligada absolutamente à energia que circula dentro do Templo, lembrando que a cada ato que cometemos lá dentro, reflete em todos os irmãos presentes e é compartilhada por todos.

Diz a espada do samurai “Que não me desem-bainhe sem motivo e não me embainhe sem honra.”

*Militar

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D esde o meu ingresso na ordem e depois na inspetoria litúrgica, há quase três dé-cadas, aprendi a ler muito sobre a maço-

naria em geral e, principalmente, sobre o rito es-cocês antigo e aceito em particular.

Passaram por meus olhos autores consagra-dos como Mackey, Waite, Pike, Gould, Macoy. Wirth, Cassad, Abrines, Arderiu, Leadbeater, La-vagnini, Ragon, Papus, Adoum, Levi, Ambelain, Lepage, Mellor, Aslan, Castellani, Da Camino, Burman, Trautwein, Hoyos e outros.

A cultura maçônica e o conhecimento do rito foram sendo sedimentados aos poucos. No iní-cio de modo muito vago e, posteriormente, com maiores esclarecimentos e pesquisas, quando então, minha compreensão foi se aclarando e ampliando.

Os ritos, historicamente, foram estruturados muito tempo depois do surgimento dessas ordens monásticas. Em 1771, William Preston publicou o primeiro ritual maçônico. No início era apenas um catecismo que, com o passar dos tempos foram introduzindo algumas lendas e instruções. O sur-gimento de alguns novos autores decorreu do fato deles terem copiado dados dos rituais e publica-do. Não satisfeitos com este expediente, passaram também a transcrever dados dos cobridores am-pliando cada vez mais à exposição pública, alguns aspectos que deveriam continuar em sigilo.

As primitivas obras destacavam aspectos tra-dicionais, antropológicos, místicos, e cronológi-cos, mas sempre no final das leituras, consta-tava-se grande volume de informações, porém difíceis de entender, memorizar e traduzir, este aprendizado.

Rito Escocês Antigo e Aceito na Visão Hodierna

Carlos Paleo * Carlos Paleo *

D esde mi ingreso en la orden y después en la inspectoría litúrgica, a casi tres décadas, aprendi a leer mucho sobre la masonería en

general y, principalmente, sobre el rito escocés anti-guo y aceptado en particular.

Pasaron por mis ojos autores consagrados como Mackey, Waite, Pike, Gould, Macoy. Wirth, Cassad, Abrines, Arderiu, Leadbeater, Lavagnini, Ragon, Pa-pus, Adoum, Levi, Ambelain, Lepage, Mellor, Aslan, Castellani, Da Camino, Burman, Trautwein, Hoyos y otros.

La cultura masónica y el conocimiento del rito se fueron sedimentando de a poco. Al princípio, de modo muy vago y, posteriormente, con mayores esclarecimientos y pesquisas, fue entonces que mi comprensión se fué aclarando y ampliando.

Los ritos, historicamente, fueron estructurados mucho tiempo después del surgimiento de esas ór-denes monásticas. Em 1771, William Preston publi-có el primer ritual masónico. Al início era apenas un catecismo que, con el pasar de los tiempos fueron introdujiendo algunas leyendas e instrucciones. El surgimiento de algunos nuevos autores decurrió del hecho de ellos haber copiado datos de los rituales y publicado. No satisfechos con este expediente, pa-saron también a transcribir datos de los cubridores ampliando cada vez más para la exposición pública, algunos aspectos que deberian continuar em sigilo.

Las primitivas obras destacaban aspectos tradi-cionales, antropológicos, místicos y cronológicos, pero siempre al final de las lecturas, se constataba gran volúmen de informaciones, difíceis de enten-der, memorizar y traducir, este aprendizaje.

Nueva constatación comenzó a aparecer. Preo-cupantes manifestaciones de algunos palestrantes que enfocaban siempre la filosofia del rito y no la

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Nova constatação começou a aparecer. Preo-cupantes manifestações de alguns palestrantes que focavam sempre a filosofia do rito e não a essência dos recados de cada grau. Outros ten-tando abordar determinado aspecto citavam graus distintos como sendo correlatos, quando na reali-dade tinham muito pouca relação entre os mes-mos.

No antigo aprendizado ficou entendido que o nosso rito com seus trinta e três graus sintetiza-vam os elos de uma mesma corrente, mas que na realidade, vários não mostravam vínculos de dependência.

Na tentativa de encontrar respostas a essas e outras questões, alguns mestres procuraram for-jar métodos de ensino sem observarem os reais objetivos do rito, entendendo apenas que havia necessidade de mudanças.

O grande desafio de buscar respostas deve-se a resistência à inovação principalmente nas institui-ções esotéricas, porque a lógica do medo funciona e procura escamoteá-la.

Os primeiros contatos que tivemos da Visão Hodierna numa linguagem mais contemporânea permitiram o discernimento sobre a filosofia uti-lizada, propiciando a fundamental consistência das séries e a necessária inter-relação dos trin-ta e três graus entre si, dando mais clareza no entendimento seqüencial e lógico, possibilitando

esencia de los mensajes de cada grado. Otros inten-tando abordar determinado aspecto citaban grados distintos como siendo correlatos, cuando en reali-dad tenían mucha poca relación entre los mismos.

En el antiguo aprendizaje quedó entendido que nuestro rito con sus treinta y tres grados sintetiza-ban los eslabones de una misma corriente, pero que en realidad, muchos no mostraban vínculos de de-pendencia.

En el intentao de encontrar respuestas a esas y otras cuestiones, algunos maestros buscaron forjar métodos de enseñanza sin observar los reales obje-tivos del rito, entendiendo apenas que había necesi-dad de mudanzas.

El gran desafio de buscar respuestas se debe a la resistencia a la innovación principalmente en las instituciones esotéricas, porque la lógica del miedo funciona y trata de escamotearla.

Los primeros contactos que tuvimos de la Visión Hodierna en un lenguaje más contemporánea permi-tieron el discernimiento sobre la filosofia utilizada, propiciando la fundamental consistencia de las se-ries y la necesaria interrelación de los treinta y três grados entre si, dando más clareza en el entendi-mento secuencial y lógico, posibilitando memorizar tanto los recados, los mensajes de cada serie y el própio contenido filosófico del rito.

En esa visión, actualmente, la propuesta es de construir el arquétipo del Hombre Masón cuyo mo-

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memorizar tanto os recados, as mensagens de cada série e o próprio conteúdo filosófico do rito.

Nessa visão, atualmente, a proposta é de cons-truir o arquétipo do Homem Maçom, cujo modelo deva ser o mais próximo do tipo ideal aos nossos tempos, para que seja um referencial de credibili-dade, dentro do verdadeiro espírito.

Na projeção deste modelo, a intenção é destacar as oportunidades de interação entre o conhecer e o praticar, mesmo que, em alguns casos, ocorram situações quase utópicas. Por isso é vantajoso um grupo docente, escolhido, que utilize uma fala inter-pretativa capaz de ser assimilada por todos e traga, na sua expressão, o sentimento do amor sublime.

O Rito Escocês Antigo e Aceito é sabidamente um rito comportamental e que acompanha todas as etapas da vida. Ele induz ao irmão orientação no rumo a seguir, uma vez que a decisão final sempre será do caminhante e não do instrutor, porque tal escolha decorre das próprias bases conceituais e dos recursos inerentes a cada pes-soa. .

Esta forma de mostrar o rito dividido em 33 graus, não é um fato aleatório ou casuístico. Trata-se de um profundo ensinamento para mudar os caracteres mundanos que um profano deve, necessariamente, modificar para tornar-se um iniciado.

O motivo disto é que somente um iniciado poderá compreender a verdadeira e reveladora mensagem oculta deste rito. Cada detalhe, cada utensílio e cada palavra são propositadamente inseridos no ritual, pois motivam uma lógica. É uma tarefa que busca envolver o iniciado na egrégora do Corpo.

Enfim, o objetivo do Rito Escocês Antigo e Acei-to de formatar o tipo exemplar do Homem Maçom, sempre dependeu duma interpretação esotérica que não era exposta dificultando o seu entendimento, por isso, com a Visão Hodierna, a sua viabilização se torna mais clara e compreensível.

* Economista

delo debe ser el más próximo del tipo ideal en nues-tros tiempos, para que sea un referencial de credibi-lidad, dentro del verdadero espíritu.

En la projección de este modelo, la intención es destacar las oportunidades de interacción entre el conocer y el practicar, aunque, en algunos casos, ocurran situaciones casi utópicas. Por eso es vanta-joso un grupo docente, escojido, que utilize un ha-bla interpretativa capaz de ser asimilada por todos y traiga, en su expresión, el sentimiento de amor sublime.

El Rito Escocês Antiguo y Aceptado es sabida-mente un rito comportamental y que acompaña todas las etapas de la vida. El induce al hermano orientación con rumbo a seguir, una vez que la de-cisión final siempre será del caminante y no del ins-tructor, porque tal elección transcurre de las própias bases conceptuales y de los recursos inherentes a cada pessoa. .

Esta forma de mostrar el rito dividido en 33 gra-dos, no es un hecho aleatório ó casuístico. Se trata de una profunda enseñanza para mudar los caracte-res mundanos que un profano debe, necesariamen-te, modificar para tornarse un iniciado.

El motivo de todo esto es que solamente un ini-ciado podrá comprender el verdadero y revelador mensaje oculto de este rito. Cada detalle, cada uten-sílio y cada palabra son propositadamente inseridos en el ritual, pues motivan una lógica. Es una tarea que busca envolver al iniciado en la egrégora del Cuerpo.

Enfin, el objetivo del Rito Escocés Antiguo y Acep-tado de formatar el tipo ejemplar del Hombre Masón, siempre dependió de una interpretación esotérica que no era expuesta dificultando su entendimiento. Por eso, con la Visión Hodierna, su viabilización se hace más clara y comprensible.

* Economista

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Também há as naus que não chegam Mesmo sem ter naufragado: Não porque nunca tivessem

Quem as guiasse no mar Ou não tivessem velame

Ou leme ou âncora ou vento Ou porque se embebedassem

Ou rotas se despregassem, Mas simplesmente porque

Já estavam podres no tronco Da árvore de que as tiraram.

Jorge de Lima

E ra um domingo de janeiro. Pai, mãe e filho seguiam rumo ao centro de Porto Alegre. O jovem casal procurava manter a atenção da

criança de não mais que quatro anos. Eu os obser-vava. Logo ao entrar no trem, a mãe abriu um livro e começou a ler para o menino, que ficara inicialmen-te concentrado nos caracteres, figuras e na boca da mulher que emitia fonemas que davam sentido a tudo o que estava naquele objeto de leitura. Logo, o menino – olhos brilhando – pediu o livro para a mãe e começou a “ler”. Criou uma história fantástica, com elementos que já conhecia, mas recheado de novas concepções criativas típicas de uma criança em pleno desenvolvimento. Minutos depois, o pai – que estava alheio à interação com o filho, até então – pegou o menino no colo e apontou para o Guaíba, para os navios, para o eminente crepúsculo e con-

O papel da leitura na formação humana e maçônica

Gustavo Ferenci *

También existen las naos que en el llegan Aún sin haber naufragado: No porque nunca tuviesen Quien las guiase en el mar

O en el tuviese vela O timón el ancla el viento

O porque se emborracharan O rutas se desplegaran,

Pero simplesmente porque Ya estaban podridas en el tronco Del árbol de donde las sacaron.

Jorge de Lima

Era un domingo de enero. Padre, madre y hijo seguían rumbo al centro de Porto Alegre. La joven pareja buscaba mantener la atención

del niño que no tenía más que cuatro años. Yo los observaba. Luego al entrar en el tren, la mamá abrió un libro y comenzó a leerselo al niño, que estaba inicialmente concentrado en los caracteres, figuras y en la boca de la mujer que emitia fonePero que daban sentido a todo lo que estaba en aquel objeto de lectura. Enseguida el niño – com sus ojos brillan-do – le pidió el libro a su madre y empezó a “leerlo”. Creó una história fantástica, con elementos que ya conocia, pero relleno de nuevas concepciones criati-vas, típicas de un niño en pleno desarrollo. Minutos después, el padre – que estaba ajeno a la interac-ción con el hijo hasta entonces – agarró al niño, lo colocó en su falda y apuontó para el Lago Guaíba,

El papel de la lectura en la formación humana y masónica

Gustavo Ferenci *

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tou que as embarcações levavam e traziam “coisas” para que as pessoas vivessem melhor e que o seu avô fazia estas viagens. “Não fica triste”, disse a criança ao pai.

Eu seguia observando-os e, mais do que isto, eu os lia.

E o que eu estava lendo? Os atos de leitura da-quela cena familiar. Explico: Num primeiro momen-to a mãe leu os caracteres contidos no livro, com a razão típica de quem é alfabetizado e conhece as regras gramaticais, emitindo uma interpretação lite-ral da obra que tinha em mãos. Em seguida o meni-no leu, de forma totalmente sensorial, o mesmo ob-jeto (o livro), contando, naturalmente, a sua versão, a sua interpretação. Por fim, o pai trocou o objeto de leitura, mas continuou lendo para o filho, agora, amparado pelos objetos do mundo que os cercava, que serviu de base para que ele rememorasse um pouco da história da família – e o fez de manei-ra evidentemente emocional. A partir daí, idéia da leitura, da importância do ato de ler, dos objetos da leitura, da importância de saber ler o texto e o mundo passaram a povoar o meu pensamento. Na minha cabeça de maçom, ler já não poderia apenas ser encarado apenas como um ato de decodificar símbolos e reproduzi-los. Ler era mais do que isto, era interpretação, era olhar além das sombras da caverna platônica. Como fiquei instigado com esta questão, busquei fazer uma breve reflexão sobre a importância de ler para a formação humana. E o primeiro desafio foi compreender o que é a leitura.

Por uma visão tradicional, a leitura, a partir da descrição acima, se limitaria ao ato formal de ler, qual seja, a mãe que reproduz verbalmente o con-junto de caracteres linguísticos contidos nas pági-nas do livro. Mas será que ler é somente isto? Por óbvio que não. A leitura é uma condição “sine qua non” da existência humana. O intelectual e o anal-fabeto leem, ainda que não da mesma maneira. A criança, quando tomou por empréstimo o livro das

para los barcos y navíos, para el eminente crepúscu-lo y le contó que las embarcaciones llevaban y traían “cosas” para que las personas vivieran mejor y que su abuelo hacía estos viajes. “No te pongas triste”, dijo el niño a su padre. Yo seguía observándolos y, más aún, yo los leía.

¿Y que és lo que yo estaba leyendo? los actos de lectura de aquella escena familiar. Explico: Em un primer momento la madre leyó los caracteres conte-nidos en el libro, con la razón típica de quien es alfa-betizado y conoce las reglas gramaticales, emitien-do una interpretación literal de la obra que tenía en manos. Enseguida el niño leyó, de forma totalmente sensorial, el mismo objeto (el libro), contando, natu-ralmente, su versión, su interpretación. Por fín, el pa-dre cambió el objeto de lectura, pero continuó leyen-do para su hijo, ahora, amparado por los objetos del mundo que los cercaba, que sirvió de base para que recordara un poco de la história de la família – y lo hizo de manera evidentemente emocional. A partir de ese instante, idea de la lectura, de la importancia del acto de ler, de los objetos de la lectura, de la im-portancia de saber leer el texto y el mundo pasaron a poblar mi pensamiento. En mi cabeza de masón, leer ya no podria apenas ser encarado apenas como un acto de decodificar símbolos y reproducirlos. Leer era más que esto, era interpretación, era mirar más allá de las sombras de la caverna platónica. Como quedé instigado con esta cuestión, treté de hacer una breve reflexión sobre la importancia de leer para la formación humana. Y el primer desafio fué com-prender que es la lectura.

Desde um punto de vista tradicional, la lectura, a partir de la descripción supra, se limitaría al hecho formal de leer, como sea, la madre que reproduce verbalmente el conjunto de caracteres linguísticos contenidos en las páginas del libro. Pero será que leer es solamente esto? Seguro que no. La lectura es una condición “sine qua non” de la existencia hu-mana. El intelectual y el analfabeto léen, aunque no del mismo modo. El niño, cuando tomó por présta-

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mãos da mãe, começou a ler a partir do conheci-mento que tem do mundo. O pai, quando pegou o filho no colo e olhou pela janela do vagão de trem, passou a ler aqueles objetos – construídos e natu-rais - que compunham um cenário real, sem carac-teres gramaticais, mas repleto de simbologias.

A leitura, portanto, e esta é a primeira constata-ção, é anterior a própria alfabetização. O menino lia aquele livro (pois fazia uma leitura sensorial), mas diferente da mãe (que realizou uma leitura racional) e, também, de forma diversa do pai (que externou uma leitura emocional). Não quer dizer, com isto, que se deva ignorar a importância da leitura tradi-cional, porque, sempre vale lembrar Paulo Freire: “refiro-me a que a leitura do mundo precede sem-pre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele. E podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo, mas por uma certa forma de ‘escrevê-lo’ ou de ‘reescrevê-lo, quer dizer, de transformá-lo através de nossa prática conscien-te” .

Em suma, a maioria de nós é dotado dos cinco sentidos para poder ler o mundo de forma sensorial, assim como todos nós somos providos de sentimen-tos e, com isto, podemos, com maior ou menor grau, fazer uma leitura emocional. Além disso, boa parte dos cidadãos têm as ferramentas necessárias para ler caracteres, ao menos em sua língua pátria, mes-mo que, infelizmente, em países como o Brasil, boa parte dos alfabetizados são os chamados analfabe-tos funcionais, ou seja, leem, mas não entendem o que leem. Aí paira a grande questão: ler é apenas decodificar símbolos? Não, claro que não, ler é sa-ber interpretar os caracteres, os símbolos, o mundo que nos cerca. Interpretação é a palavra-chave para quem quer deixar de ser um ser humano passivo e alheio ao que acontece ao redor para se tornar um sujeito ativo, consciente das movimentações sociais que o cercam e pronto para agir em prol do bem comum.

mo el libro de las manos de la madre, comenzó a leer a partir del conocimiento que tiene del mundo. El padre, cuando agarro a su hijo y lo puso em su falda y miró por la ventana del vagón del tren, pasó a leer aquellos objetos – construídos y naturales - que componían un escenario real, sin caracteres grama-ticales, Pero repleto de simbologias.

La lectura, por lo tanto (y esta es la primera cons-tatación), es anterior a la propia alfabetización. el niño leía aquel libro (pues hacía una lectura senso-rial), Pero de modo diferente del la madre (que reali-zó una lectura racional) y, también, de forma diversa del padre (que externó una lectura emocional). No quiere decir, con esto, que se deba ignorar la impor-tancia de la lectura tradicional, porque, siempre vale recordar lo que dijo Paulo Freire: “Me refiero a que la lectura del mundo precede siempre la lectura de la palabra y la lectura de esta implica la continuidad de la lectura de aquel. Y podemos ir más lejos y decir que la lectura de la palabra no es apenas precedida por la lectura del mundo, Pero por una cierta forma de ‘escribirlo’ o de ‘reescribirlo, o sea, de transfor-marlo através de nuestra prática consciente”.

En suma, la mayoría de nosotros es dotado de los cinco sentidos para poder leer el mundo de forma sensorial, así como todos nosotros somos provistos de sentimientos y, con ellos, podemos, en mayor o menor grado, hacer una lectura emocional. Además, gran parte de los ciudadanos tienen las herramien-tas necesarias para leer caracteres, al menos en su lengua patria, aunque, infelizmente, en países como Brasil, buena parte de los alfabetizados son los lla-mados “analfabetos funcionales”, o sea, léen, pero no entienden lo que leen. Ahí surge la gran duda: ¿Leer, es apenas decodificar símbolos? No, claro que no. Leer es saber interpretar los caracteres, los símbolos, el mundo que nos cerca. Interpretación es la palabra-clave para quien desea dejar de ser un ser humano pasivo y ajeno a lo que acontece al rededor para tornarse un sujeto activo, consciente de las mo-vimentaciones sociales que lo cercan y pronto para

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O exímio escritor contemporâneo Luiz Ruffato, possui uma série de livros sobre a classe operária brasileira chamada de “Inferno Provisório” Em cin-co volumes, ele compõe um grande mosaico sobre a desesperança nas pequenas e grandes cidades. Ao longo do texto, o autor mineiro descreve com maestria a falta de compreensão de mundo de seus personagens, que vivem em pequenos universos oriundos de sonhos criados pela sua ignorância. Es-tes personagens, com características semelhantes a muitas pessoas que nós conhecemos, vivem num inferno provisório porque não conseguem libertar-se de uma realidade cruel, não conseguem refletir para além do que está diante dos seus olhos, não conseguem enxergar que a vida tem muito mais a oferecer, não conseguem perceber que o mundo é uma construção e que eles não precisam ser ví-timas da situação. O que estes personagens não têm? Interpretação do mundo que os cerca, ou seja, leitura crítica de mundo.

A partir desta leitura – e, para lembrar, o texto de Rufatto que não consiste em uma análise so-ciológica, mas, sim, de literatura – refleti sobre o que podemos cobrar de pessoas que são analfa-betos funcionais, quando não analfabetos plenos – e, justamente por isto, não têm o discernimento necessário para compreender a grandeza de sua existência. É muito fácil, para nós, que tivemos oportunidades e somos letrados, dizer àqueles que não o são: “se estão nesta situação é por-que querem”. Particularmente acho esta afirma-ção muito reducionista e, até certo ponto, cruel e irracional. Mas este não é o escopo do meu ra-ciocínio. Meu grande questionamento é por que homens que tem condições de ler o mundo e agir sobre eles ficam inertes esperando as coisas mu-darem?

Sei que o tema é espinhoso, talvez filosófico demais. É evidente que este trabalho não quer “ensinar a roda” ou educar ninguém, sobretudo porque todos já sabemos que nossa tarefa é fa-

actuar en prol del bien común.

El exímio escritor contemporaneo Luiz Ruffato, posee una serie de libros sobre la clase operaria brasileña llamada de “Infierno Provisorio”. En cinco volúmenes, él compone un gran mosaico sobre la desesperanza en las pequeñas y grandes ciudades. A lo largo del texto, el autor “mineiro” (del Estado de Minas Gerais – Brasil) describe con maestria la falta de comprensión de mundo de sus personajes, que viven en pequeños universos oriundos de sueños creados por su ignorancia. Estos personajes, con características semejantes a muchas personas que nosotros conocemos, viven en un infierno provisorio porque no consiguen libertarse de una realidad cruel, no consiguen reflexionar para más allá de lo que está delante de sus ojos, no consiguen ver que la vida tie-ne mucho más a ofrecer, no consiguen percibir que el mundo es una construcción y que ellos no precisan ser víctimas de la situación. ¿Qué és lo que estos personajes no tienen? Interpretación del mundo que los cerca, o sea, lectura crítica de mundo.

A partir de esta lectura – y, para recordar, el texto de Rufatto que no consiste en un análisis sociológico, pero si, de literatura – reflexioné sobre lo que pode-mos cobrar de personas que so analfabetos funcio-nales, cuando no analfabetos plenos – y, justamente por ello, no tienen el discernimiento necesario para comprender la grandeza de su existencia. Es muy fá-cil, para nosotros, que tuvimos oportunidades y somos letrados, decir a aquellos que no lo son: “si están en esta situación es porque quieren”. Particularmente creo que esta afirmación es muy reduccionista y, has-ta cierto punto, cruel e irracional. Pero este no es el escopo de mi raciocínio. Mi gran cuestionamiento es, ¿por que hombres que tienen condiciones de leer el mundo y actuar sobre elles quedan inertes esperando que las cosas cambien?

Sé que el tema es espinoso, talvez demasiado fi-losófico. Es evidente que este trabajo no quiere “en-señar la rueda” o educar a nadie, sobretodo porque

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todos ya sabemos que nuestra tarea es hacer la dife-rencia en el mundo – y sin recibir nada a cambio. Re-cordando nuevamente a Paulo Freire: “Nadie edu-ca a nadie, como tampoco nadie educa a si mismo: los hombres se educan en comunión, mediatizados por el mundo” y ¿Cuál es nuestro papel, em nuestra condición de hermandad que busca el perfecciona-miento de los hombres, se no contribuírmos, unos con otros, en el perfeccionamiento personal y con-secuente perfeccionamiento del edifício masónico?

Vamos..., ¿Acaso no buscamos ser hombres li-bres? Recordemos que “un hombre será realmen-te libre, cuando el concepto de libertad partir de su mente, de su corazón, de su alma, del hombre in-terior. Los pocos hombres libres actúan como los anticuerpos en el organismo que, aún siendo en pequeño número, poseen la capacidad de ahislar al gran número de células nocivas. Para que el masón se conscientice que es un hombre libre, debe actuar como tal” (Da Camino, 2006, p. 2030). Y para actu-ar como protagonista social es indispensable que se prepare para esto. Nadie nació sabiendo.

Leer, por lo tanto – dentro de la concepción de que leer es interpretar al mundo y de que, para tanto, la lectura de la escrita es apenas una das lecturas, es fundamental para calificar las lecturas sensitiva y emo-cional – es un calificador de los grandes hombres y, obviamente, precisamos leer con ojos atentos, mente abierta y corazón libre. Quiere decir, que si los hom-bres que quieren ser referencia de transformación so-cial y de liderazgo en los grupos em los que actúan deben ler. Nosotros que fuimos iniciados para construir un mundo mejor, tenemos la obligación de ler y, ¿Leer qué? Libros, pero con el debido cuidado de elegir, al menos de vez en cuando, aquellos que tengan algo más que entretenimiento. Televisión, pero siempre con la criticidad necesaria para identificar que la informa-ción no es apenas información, pero sí, una ideologia que podemos concordar o no, pero nunca aceptarla pasivamente. Debemos también leer las charlas, siem-pre atentos a los pormenores en las charlas profanas,

zer a diferença no mundo – e sem receber nada em troca. Lembrando novamente de Paulo Freire: “ninguém educa ninguém, como tampouco nin-guém educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo” E qual o nosso papel, enquanto uma irmandade que bus-ca o aperfeiçoamento dos homens, se não contri-buirmos, uns com os outros, no aperfeiçoamento pessoal e consequente aperfeiçoamento do edifí-cio maçônico?

Ora, não buscamos ser homens livres? Relem-bremos que “um homem será realmente livre, quan-do o conceito de liberdade partir de sua mente, do coração, da alma, do homem interior. Os poucos homens livres atuam como os anticorpos no orga-nismo que, mesmo sendo em pequeno número, possuem a capacidade de isolar o grande núme-ro de células nocivas. Para que o maçom se cons-cientize que é um homem livre, deve atuar como tal” (Da Camino, 2006, p. 2030). E para atuar como protagonista social é indispensável que se prepare para isto. Ninguém nasceu sabendo.

Ler, portanto – dentro da concepção de que ler é interpretar o mundo e de que, para tanto, a leitura da escrita é apenas uma das leituras, mas é fundamen-tal para qualificar as leituras sensitiva e emocional – é um qualificador dos grandes homens e, por óbvio, precisamos ler com olhos atentos, mente aberta e coração livre. Quer dizer, se os homens que querem ser referência de transformação social e liderança nos grupos em que atuam devem ler, nós que fomos iniciados para construir um mundo melhor, temos a obrigação de ler. E ler o quê? Livros, mas com o cuidado de escolher, ao menos de vez em quando, aqueles que sejam mais do que entretenimento. Te-levisão, mas sempre com a criticidade necessária para identificar que a informação não é apenas infor-mação, mas uma ideologia que podemos concordar ou não, mas nunca aceitá-la passivamente. Deve-mos também ler as conversas, sempre atentos aos pormenores nas conversas profanas, mas sempre

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de coração aberto e confiança plena nas conversas entre irmãos. Ah, claro, devemos ainda ler sempre de forma interpretativa e não ingênua, os discursos políticos, os sermões religiosos, os outdoor publici-tários, os mendigos pedindo esmola, os cegos que-rendo andar pelo centro da cidade, o motorista que insiste em buzinar, a correria das grandes cidades, as mutações da natureza, a harmonia e desarmonia do céu, o irmão ou amigo que precisa de um abraço – mesmo que não peça.

* jornalista

pero siempre de corazón abierto y confianza plena en las charlas entre Hermanos. Ah, claro, debemos toda-via leer siempre de forma interpretativa y no ingeua, los discursos políticos, los sermones religiosos, los outdo-or publicitarios, los mendigos pidiendo limosna, los cie-gos queriendo andar por el centro de la ciudad, el cho-fer que insiste em bocinar, la correría de las grandes ciudades, las mutaciones de la natureza, la harmonia y desarmonia del cielo, el hermano o amigo que precisa de un abrazo – aunque no lo pida.

* jornalista

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Renovação EspiritualArcy Souza da Costa* Arcy Souza da Costa*

Quando uma pessoa adulta começa a interessar-se em saber de onde veio e para onde vai, é chegado o momento de sua iniciação nos mistérios esotéricos, pois já demonstrou o interesse necessário para ex-cursionar na senda filosófica e a situar-se no universo em que vivemos.

A maçonaria nos mostra um Pórtico pelo qual devem passar os irmãos que desejam prosseguir a caminhada para o seu próprio aperfeiçoamento e, a partir daí o Mestre deve, por sua vontade, demonstrar o desejo de aprender mais, para encontrar a trilha do saber, através dos ensinamentos já percorridos por seus antecessores que deixaram bem assinalados vários rumos para o êxito.

Identificados e certos do que somos, partimos em viagem pelo mundo da existência, para conhecer melhor o universo físico que nos rodeia.

Experiências espirituais se renovam de forma pe-riódica e planejada. Renovamos um contrato com o GADU, comprometendo-nos a cumprir determinada tarefa ou missão.

Algumas informações colhidas ao longo dessa vida são o respaldo necessário para afirmar que: o espírito em preparação para descer a terra é apre-sentado aos seus futuros pais que, por sua vez, são chamados a comparecerem, também em espírito, junto à entidade regente das preparações, para se conhecerem e se aceitarem.

Somente quando admitirmos esta expansão de consciência, poderemos entender certas rejeições ocorridas em algumas famílias, pois a rejeição ocor-reu no plano espiritual. Fisicamente, poderá dizer: “Que fiz, para ter um filho com tais defeitos?” Ora, a rejeição, por qualquer motivo, pode produzir também

Renovación Espiritual

Cuando una persona adulta empieza a interesar-se en saber de donde vino y para donde vá, ha lle-gado el momento de su iniciación en los misterios esotéricos, pues demostró el interés necesario para excursionar en la senda filosófica e se situó en el universo en que vivimos.

La masonería nos muestra un Portal por donde deben pasar los hermanos que desean proseguir la caminada para su propia perfección y, de ahí em más el Maestro debe, por su voluntad, demostrar el deseo de aprender más, para encontrar la ruta del saber, a través de las enseñanzas ya rercorridas por sus antecesores, que dejaran muy bien señalados, varias direcciones para el éxito.

Identificados y seguros de lo que somos, partimos en viaje por el mundo de la existencia, para conocer mejor el universo físico que nos rodea.

Experiencias espirituales se renuevan de forma periódica y planeada. Renovamos un contrato con El G.A.D.U., comprometiéndonos a cumplir determina-da tarea o misión.

Algunas informaciones recojidas a lo largo de la vida son el respaldo necesario para afirmar que: el espíritu en preparación para descender a la tierra es presentado a sus futuros padres que, por su vez, son llamados a comparecer también en espíritu, junto a la entidad regente de las preparaciones, para se se co-nozcan entre si y se acepten.

Solamente cuando admitamos esta expansión de conciencia, podremos entender ciertos rechazos ocur-ridos en algunas familias, el rechazo aconteció en el plano espiritual. Fisicamente, podrá decir: “Que hice, para tener un hijo con tales defectos?” Pues bien, el rechazo, por cualquier motivo, puede producir también

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um aborto. Pobres mães que, desconhecendo prerro-gativas de apresentação e contrato de serviço espiri-tual, terão uma dura missão posterior em vida futura, com finalidade de aprenderem a lição de amar.

Estamos todos nesse ir e vir, da matéria ao espí-rito e do espírito à matéria renovando contratos de existência, de tal forma que nascemos numa família para com ela aprender e ela, a família, aprender co-nosco

Assim, quando todos se dispuserem a entender, então teremos uma fraternidade maior e melhor, fa-mílias mais estruturadas, respeitadoras das diferen-ças e dos limites de cada um.

* Engenheiro

un aborto. Pobres madres que, desconociendo prerro-gativas de presentación y contrato de servicio espiri-tual, tendrán una dura misión posterior en vida futura, con finalidad de aprender la lección de amar.

Estamos todos en este ir y venir, de la materia al espíritu y del espíritu a la materia renovando contra-tos de existencia, de tal forma que nacemos en una família para con ella aprender y, a família, a aprender con nosotros.

Así, cuando todos se dispongan a entender, entonces tendremos una fraternidad mayor y mejor, famílias más estructuradas, que respetan las diferencias y los limites de cada uno.

* Ingeniero

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O homem, ser vivo e ativo, assume desde o seu nascimento, um papel transformador na natu-reza que o cerca.

Inicialmente, embora sem o compreender, em sua complexidade, o homem exercita esse papel guiado por seu instinto e por sua intuição. O instinto de domi-nação o leva a esquadrinhar o ambiente ao seu redor, para poder posicionar-se e, a intuição o impele a en-gatinhar para depois andar, correr e desbravar o que estiver ao seu alcance, definindo, assim, o que chama de “seu espaço”.

É o predomínio de sua natureza animal, onde o que se sobressai é o instinto, sem qualquer tipo de restri-ção, porém, à medida que evolui tomando consciência de suas relações com o mundo exterior, acrescenta a razão como fator equilibrante de seus atos.

O instinto é a inteligência não racional, mas espon-tânea, que nos guia sempre e nunca se engana, por ser um impulso natural (não aprendido, nem treinado) e que aciona diretamente a pessoa, sem permitir consi-derações de ordem moral ou espiritual. É uma percep-ção pronta e clara, que leva à ação independente de qualquer processo de raciocínio, passando, por isso, a

ser negligenciada pelo homem, à medida de seu cres-cimento.

A razão é a capacidade de raciocinar, conhecer, compreender e julgar; é a justificação do pensamen-to lógico, discursivo, permitindo ao homem a escolha, em contraposição à impulsividade do instinto. Por ser resultado de um processo dependente de uma série de fatores (educação, meio, cultura,...) intrínsecos ao homem, a razão pode ser falseada pela má educação, pelo orgulho, e pelo egoísmo.

Instinto e razão devem andar unidos, em equilíbrio, porque enquanto o instinto é uma manifestação espon-tânea (medo, fome, sede,...), a razão pondera de acor-do com seus parâmetros definidos. De acordo com o padrão social vigente, quanto maior for à capacidade do indivíduo de dominar seu instinto, mais racional e, por conseqüência, civilizado ele será.

Segundo o filósofo norte-americano Will Durant, “Desde que a civilização começou, o instinto se faz ina-dequado e a vida teve que pedir socorro à razão”. Sem o emprego da racionalidade como fator equilibrante, talvez o homem já houvesse desaparecido do planeta.

Instinto e RazãoJoão Batista de Carvalho Silveira*

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Para evitar esse cenário catastrófico, o homem criou leis e códigos morais para impedir que os mais fortes, dentro do próprio gênero humano, escravizem, domi-nem, ou eliminem seus semelhantes menos favoreci-dos, o que somente foi possível alcançar através da experiência adquirida, com a evolução dos costumes através do tempo.

Sócrates, colocando-se ao lado da razão, posiciona-va-se dessa forma: “devemos seguir nossos instintos, mas a razão deve justificá-los, encontrando bons moti-vos para nossas ações”.

Com o passar do tempo, após completar sua forma-ção e instrução, o homem é impelido a agir, para assu-mir seu papel na sociedade. A partir desse momento, começa a batalha constante entre instinto e razão, em seu íntimo.

Ceder às tentações e paixões, dando vazão ao seu instinto, agindo por impulso, ou dominar-se e submeter a sua vontade, cumprindo as regras estabelecidas?

A alegoria da caverna de Platão nos leva a refletir sobre essa luta, evidenciando o instinto como motriz da saída da caverna e, uma vez liberto da teia ilusória, a razão atuando como fator de equilíbrio ao não permitir o retorno ao cenário anterior, demonstra sob pena de pagar com a própria vida.

Temos, neste cenário, a sombra como realidade, isto é, a ilusão e que as sombras projetadas no fun-do da caverna sejam reais e existam de fato, limitan-do o pequeno mundo existente apenas na imaginação ao espaço de projeção da sombra. Cria-se, então, um mundo de fantasia, perigoso e limitante do crescimento intelectual, por atribuir à ilusão contornos de realidade.

Com o instinto motivando a evolução, é na saída da caverna que se encontra a verdadeira realidade e, com Razão, sustentando o progresso alcançado, decorre o impedimento de retorno à situação anterior.

Em outra alegoria, também ambientada em uma ca-verna, temos figurativamente o instinto matando a am-

bição e a seguir desfalecendo, tomado por um estado de torpor ao reconhecer-se assassino de um desejo.

Neste cenário, temos que a realidade é a própria sombra, ou seja, nessa caverna encontra-se o oposto complementar as características virtuosas que se pre-tende desenvolver. Diferentemente da alegoria de Pla-tão, a sombra está adormecida, inerte, sendo que, de um golpe desperta para, logo a seguir, ser novamente sufocada.

De forma análoga, porém, surge a razão como um fator equilibrante dos dois aspectos, que devem ser mantidos sob controle e em harmonia.

Somente é possível manter o equilíbrio, quando a razão submete o instinto ao reconhecimento do ato praticado e retoma o controle das ações.

Instintivamente, por medo, a tendência é recorrer-mos a um ser superior, que nos proteja de fenômenos que não compreendemos e que nos ameaçam, pois o desconhecido sempre atemoriza. Nos primórdios da existência humana, o surgimento do conceito de um “ser superior” remetia a deuses (com características humanas) iracundos, vingativos e eróticos que se im-punham pelo castigo e pela força. Com o desenvolvi-mento e emprego da razão, passamos a considerar, não um “ser superior”, mas uma sabedoria elevada agindo através de leis simples, naturais, (construtiva e positiva) - amor e não rancor.

Dessa forma os questionamentos, levantados pela ciência e amparados pela razão, podem confrontar a fé para que deixe de ser simplesmente dogmática e pas-se a ser elucidativa, apontando o caminho e contribuin-do para o progresso do homem.

Finalmente, o instinto, com sua espontaneidade, aponta o caminho que a razão, com seu pragmatismo, justificará.

* administrador

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Individualismo com Responsabilidade SocialAilton Branco*

No recente livro do sociólogo Alain Touraine, “Carnets de Campagne”, sobre a campanha de François Hollande, novo presidente socia-

lista francês, o autor aborda conclusões de seus es-tudos sobre as agruras da sociedade contemporânea como resultado da crise da era industrial.

Para Touraine, “a globalização e o predomínio do capital financeiro especulativo levaram a um confronto entre o mundo do lucro e o mundo da defesa dos direi-tos humanos e de um novo individualismo com respon-sabilidade social”.

Selecionei a opinião do sociólogo francês a respeito da percepção de um novo individualismo porque essa constatação enseja comentários sobre o modelo ante-rior e o novo.

O individualismo é um conceito que exprime liber-dade individual para fazer escolhas que, na sociedade contemporânea, estão associadas a um abrangente desejo de se sentir feliz. O individualismo com res-ponsabilidade social tem um ingrediente altruísta de promover o bem ao coletivo para atingir a satisfação individual. No anterior e tradicional conceito de indivi-dualismo há uma prevalência patriarcal que legitima a superioridade do interesse individual sobre o coletivo e do poder pessoal econômico, político, religioso e militar sobre as carências dos destituídos de poder.

Em quase todos os regimes absolutistas nos últimos séculos prevaleceu a formação política patrimonialis-ta que se caracteriza por não fazer distinção entre os limites do que é público e do que é privado. As rendas pessoais e as rendas obtidas pelo Estado se tornavam patrimônio do seu governante. A cultura do patrimonialis-mo originou um processo quase absoluto de concessão de títulos, de terras e de poder a homens escolhidos. Um poderoso dignitário reunia outros menos representativos em torno do governante num compromisso de lealdade

e paz. Esses agraciados constituíram estamento social estruturado numa hierarquia definida pela capacidade de influenciar o meio e pela dignidade do homem de bem. O homem de bem era a individualidade com in-fluente poder político, com patrimônio em terras e em serviçais. O Estado era, de certa forma, privatizado para o seu benefício, pelas mesmas pessoas que ocupavam uma posição de autoridade, primeiramente no topo do Estado, mas também em todos os níveis da pirâmide estatal. O dirigente político se comportava como chefe patrimonial, isto é, como verdadeiro proprietário de seu reino, pois era a expressão moral, política e social preva-lente diante da instituição social ou de Estado.

A ética do individualismo senhorial mostrou os pri-meiros indícios de mudança a partir das contribuições culturais do humanismo renascentista e da Revolução Francesa, evoluindo na direção de valores mais demo-cráticos. A famosa Declaração dos Direitos Humanos, de 1789, que é a imagem exterior mais visível e mais conhecida da revolução humanista, sem precedente na história das ideias, propõe a igualdade de todos os se-res humanos, sejam eles ricos ou pobres, homens ou mulheres, brancos ou negros.

A noção herdada dos antigos gregos, de que existe uma hierarquia natural dos seres, perde força paulati-namente e cede lugar ao aparecimento de nova moral, apoiada no fundamento da liberdade pessoal de esco-lha, o livre-arbítrio. O que é moral ou imoral é a liberda-de de escolha.

O raiar da modernidade despertou crescente re-jeição aos favorecimentos do individualismo original, que ganhou imagem intelectual desfavorável à sua essência de segregação e discriminação pessoais, e os prejuízos sociais disso inerentes. Hoje, mesmo com a evolução do individualismo dogmático na direção da responsabilidade social, a maioria dos comentários no quotidiano sobre atitudes personalistas libera intolerân-

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cias porque o preconceito do individualismo em geral intui sinônimo de egoísmo. Ao individualismo é credita-da parte expressiva de uma contemporânea pretensa crise de valores. Preferências e prioridades para a ob-tenção de prazer e felicidade ainda provocam interpre-tações negativas, porque prazer e felicidade, prerroga-tivas da individualidade, sobrepujam o coletivo.

A comprovação dessa propalada crise remanescen-te de valores éticos e morais, no entanto, não resiste a uma avaliação criteriosa da realidade presente e sem passionalismo puritano. A expressão “nada é mais res-peitado como no passado”, nivela as individualidades desiguais num ceticismo moral generalizado e ignora o protagonismo construtivo de personalidades que traba-lharam para a queda de antigas hipocrisias toleradas. Tornaram-se transparentes conceitos e procedimentos então acolhidos pela antiga moral porque acobertados por regras permissivas de poder ou costumes corrom-pidos e tendenciosos. Nesse mar de éticas decadentes viajamos desde o direito dos patrões de disporem do corpo e da vida de suas escravas ou dos serviçais, até a não muito distante guerra fria entre nações.

Nunca houve tanta preocupação com a proteção dos direitos da pessoa, dos animais e da natureza como agora.

A sociedade, através das suas organizações cole-tivas, pode reivindicar com sua dinâmica interativa, a primazia de vitalizar o exercício da igualdade entre os homens, mas não deve obscurecer o reconhecimento de que são constituídas pela agregação dos indivídu-os e, nesses, reside a matriz das vivências que tornam viável o sentimento de felicidade e a própria razão de existir dos grupos associativos. Os sentimentos são pes-soais, o coletivo apenas repercute a manifestação das emoções. O individualismo com responsabilidade social amplia a capacidade de o coletivo compartilhar praze-res existenciais. Em “Metamorfoses da Cultura Liberal”, Gilles Lipovetsky garante: “O apogeu do individualismo pós-moralista coincide, certamente, com a ascensão dos prazeres privados e das preocupações lancinantes

do eu, mas, paradoxalmente, em paralelo com a vonta-de de ajuda mútua, sem obrigações, sem coerção, livre-mente, sem exigência de regularidade e disciplina”.

O individualismo, há muito tempo, é o processo que projeta carências e exuberâncias de conflitos pessoais e percorre os labirintos das emoções humanas.

Para o filósofo Epicuro, 300 anos antes da era cris-tã, “é necessário cuidar das coisas que trazem a feli-cidade, já que, estando essa presente, tudo temos e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la”. Ele acreditou que “o maior bem era a procura de prazeres modestos de forma a atingir um estado de tranqüilidade e de liber-tação do medo, assim como a ausência de sofrimento corporal através do conhecimento do funcionamento do mundo e da limitação dos desejos”. Assegura que o sumo bem reside no prazer e, por isso, foi muitas vezes confundido com hedonismo. O prazer, de que fala Epi-curo, é o prazer do sábio, entendido como quietude da mente e controle das emoções. Por esse caminho ele alcança o domínio de si mesmo.

O nascimento da filosofia trouxe consigo a valoriza-ção do individualismo, pois a filosofia veio para libertar o homem. Na doutrina de Epicuro, “o ser humano será feliz se conseguir desenvolver três importantes ele-mentos: amigos, liberdade e uma vida racionalizada”.

O ser humano é um ser moral quando é livre, quando não é prisioneiro de nenhum código natural ou histórico determinante. Com base no moderno juízo de que não existe natureza humana, que a existência do homem an-tecede a sua essência, desponta a crítica aos que admi-tem uma essência própria a cada raça, a cada sexo, da qual os indivíduos são prisioneiros. O individualismo pa-triarcal é intrinsecamente discriminador do ser humano, porque se apoia na premissa do antigo mundo grego, um mundo aristocrático, universo que repousa sobre a convicção de que existem homens que são naturalmen-te feitos para comandar, outros, para obedecer. Caldo de cultura ideal para a proliferação da escravidão.

Mais uma vez Gilles Lipovetsky convida a pensar: “A

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cultura pós-moralista não conclama mais os cidadãos a morrer pela pátria, mas, ao mesmo tempo, nunca a democracia teve uma aprovação tão profunda e geral. Acreditar que a intolerância só aumenta é, em parte, uma ilusão de ótica. Quando reina o culto do ego, os valores de tolerância progridem; quando desaparecem as grandes obrigações e as ideologias heróicas, triunfa o ideal do respeito às diferenças e dos Direitos do Ho-mem; quando os indivíduos voltam-se, cada vez mais, para si mesmos é que manifestam a maior alergia à vio-lência sanguinária. O pós-dever não significa o recuo do humanismo, mas a sua consagração social e histórica”.

Hoje, o ideal de responsabilização humana alimenta a ambição de fazer retroceder o individualismo irres-ponsável.

E para não dizer que nada falei sobre maçonaria no contexto deste tema, faz-se indispensável destacar que em plena afirmação do modelo de individualismo com

responsabilidade social, os rituais praticados no Brasil trabalham o sentimento de filantropia nas novas perso-nas maçônicas através da esmola, costume do individu-alismo patriarcal. C. G. Jung ensina que “a persona é um complicado sistema de relação entre a consciência individual e a sociedade; é uma espécie de máscara destinada, por um lado, a produzir um determinado efei-to sobre os outros e, por outro lado, a ocultar a verdadei-ra natureza do indivíduo”. Os troncos de solidariedade, apresentados como símbolo do compromisso individu-al do maçom com os necessitados, constituem-se do modo simplista e conservador de dar dinheiro para os “infelizes”, como eram designados os pobres na época da criação dos Ritos atuais. Aos maçons brasileiros é oportuno ressaltar que o “tronco” deste momento históri-co, para ser de “solidariedade”, requer a associação dos “metais” com iniciativas de responsabilidade social, con-forme se verifica em Orientes estrangeiros.

* Psicoterapeuta

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Quanto mais pensa o Ven.´.Mestr.´. de uma loja, ou Grão-Mestre de nossas instituições e na Universidade Maçônica em todas as elevadas potências e funções, mais temos compreensão que somos uma instituição educacional.

Líderes do nosso pretérito foram muito competentes, audaciosos e com grande visão de futuro ao lançarem os fundamentos de nossa instituição, que ultrapassa o tempo e hoje consolida nossa Maçonaria como institui-ção. Foram, portanto, visionários de seu tempo! É o le-gado que temos que cada vez mais proteger e seguir. Não é hora de lamentar o que se perdeu, mas o que se ganhou.

Nossos líderes, quer queiramos ou não, têm que ser alguém além de seu tempo, que perceba tendências, tenha sensores avançados, seja inovador, inquieto, que sonhe com novas possibilidades, empreenda, imagine nossa instituição e imagine-se no futuro onde moram todas as possibilidades. Este maçom, ao mesmo tem-po, tem que manter a ternura, a sensibilidade com as limitações humanas, guardar os princípios da ordem, ser empático, resiliente, solidário com o sofrimento alheio e estabelecer limites para tolerância interna da própria or-dem.

Compreender as limitações da humanidade para po-der tornar cada vez mais feliz esta humanidade.

É o grande desafio que à nossa ordem se conforma. Qualidade e assertividade não se discutem, o nosso desafio é a excelência. É sonhando alto, encampan-do o desafio de liderar uma instituição com um time de águias. formando talentos, filósofos sociais, construtores sociais para um novo tempo.

Saibam, meus irmãos, às vezes é preciso desapren-der! A complexidade da sociedade atual trocou a cer-teza pelas incertezas, a estabilidade pela instabilidade,

levando quase todos ao futuro incerto. Cada vez mais observamos que realizando sempre a mesma atividade colhemos os mesmos resultados, ano após ano.Os ve-lhos livros empoeirados, vão reproduzir um modelo de maçom e sociedade que não existe mais!

A maçonaria como escola está tendo esta mudança reativa, seus membros e templos estão sendo invadidos por esta realidade e com certeza têm de adequar-se para o novo tempo. Isto ocorre desde o “templo-escola’’, as nossas lojas, até à gestão da loja e das Grandes Lojas.

A COMPETÊNCIA DO MAÇOM ESTÁ EM SABER SER MAÇOM!

Além disso, cada vez mais se sabe que a racionalida-de é importante mas lenta. A nossa intuição, exercitada pela meditação, é muito mais rápida: sabemos coisas que ainda a razão não processou, coisas que precisam ser explicadas. O maçom precisa saber trabalhar as coi-sas internas através da meditação e espiritualidade.

A conclusão é que esperamos que nossos lideres maiores continuem buscando espaços no MEC (Minis-tério da Educação), como reconhecimento de fato e de direito da Universidade da Maçonaria.

Nossos irmãos podem dever ser reconhecidos como nossos membros de nosso colegiado da Universidade. A verdadeira faculdade é aquela que brota de nosso íntimo e é a mais genuína das formações.

A Competência do Maçom esta em “saber ser” ou seja não se separa o que se é do que se faz. O ensino acadêmico e a MAÇONARIA ACADÊMICA é o combus-tível da inovação sem perda da tradição é a usina quân-tica nuclear que é nossa escola e uma universidade de crescimento permanente.

*Radiologista - Professor

“A competência esta no saber ser”Jorge Wolnei Gomes*

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Rito Escocês Antigo e Aceito

REAA - Rito Escocês Antigo e Aceito está entre os maiores ritos maçônicos existentes no mundo. Possui mais de duzentos anos de existência e está dividido em dois grandes segmentos: o que compreende os três primeiros graus simbólicos e o dos Altos Graus que abrange do grau quatro até o trinta e três. Somente maçons do simbolismo, que receberam todas as instruções , é que podem ingres-sar nos Graus Superiores.

O Rito Escocês Antigo e Aceito apresentado na Versão Hodierna conserva a ritualística, instruções, paramentos e rituais, mas acrescenta um novo enfoque na interpretação do recado de cada grau, objetivando identificar e esclarecer ao irmão a ótica contemporânea.

REAA

A caminhada dos Altos Graus está escalonada em cinco grandes subdivisões: Lojas de Perfeição: do grau 4 até o grau 14 Capítulos Rosa Cruz: grau 15 até o grau 18 Conselho Kadosh: grau 19 até o grau 30 Consistório: graus 31 e 32 Supremo Conselho: grau 33

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