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R. bras. Est. Pop., São Paulo, v. 24, n. 1, p. 37-51, jan./jun. 2007 A relação entre renda e morar sozinho para idosos paulistanos – 2000 Mirela Castro Santos Camargos * Carla Jorge Machado ** Roberto do Nascimento Rodrigues *** Apesar de o número de domicílios unipessoais não ser expressivo em relação aos demais arranjos domiciliares de idosos, cresce, ao longo dos anos, a quantidade de idosos brasileiros morando sozinhos. Este trabalho tem como objetivo principal analisar a relação entre renda e morar sozinho para idosos paulistanos, em 2000, utilizando a base de dados do Projeto Sabe (Saúde, Bem- estar e Envelhecimento na América Latina e Caribe). Como morar sozinho sofre a influência de determinantes demográficos, socioeconômicos e de saúde, estas variáveis também são consideradas neste estudo. Assim, foi realizada uma análise de regressão logística binária múltipla, sendo construídos dois modelos: o primeiro apenas com a variável renda como independente e o segundo incluindo todas as demais. Os resultados indicaram uma associação entre renda e morar sozinho, de forma significativa. Ao controlar por educação e pelas variáveis demográficas e de saúde, o efeito da renda permaneceu significativamente associado com as chances de morar sozinho. De acordo com os resultados encontrados nos dois modelos, as probabilidades de o idoso morar sozinho crescem à medida que aumenta a renda. Palavras-chave: Idosos. Domicílios unipessoais. Renda. Introdução A preocupação recente em se estudar pessoas idosas deve-se ao fato de que em muitos países, como é o caso do Brasil, o processo de envelhecimento tem se dado de forma muito rápida e as condições so- cioeconômicas não permitiram que fossem instauradas medidas suficientes para cobrir as necessidades dessa população. Os estudos têm demonstrado que a família, co- residente ou não, por meio de seus apoios, tem tido um papel muito importante no bem- estar e qualidade de vida dos idosos. No entanto, as interações entre os familiares podem variar entre homens e mulheres, re- giões mais ou menos urbanizadas, mais ri- cos em comparação com os mais pobres, tradições familiares, intervenção de apoios institucionais e características socioeconô- micas do país (MONTES DE OCA, 2001). Um estudo realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) analisou os arranjos domiciliares dos idosos, apre- sentando dados comparativos de 130 países (UNITED NATIONS, 2005). Entre as * Doutoranda em Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional – Cedeplar, da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Bolsista CNPq Brasil. ** Professora do Departamento de Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional – Cedeplar, da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. *** Professor do Departamento de Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional – Cedeplar, da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.

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A relação entre renda e morar sozinho paraidosos paulistanos – 2000

Mirela Castro Santos Camargos*

Carla Jorge Machado**

Roberto do Nascimento Rodrigues***

Apesar de o número de domicílios unipessoais não ser expressivo em relaçãoaos demais arranjos domiciliares de idosos, cresce, ao longo dos anos, aquantidade de idosos brasileiros morando sozinhos. Este trabalho tem comoobjetivo principal analisar a relação entre renda e morar sozinho para idosospaulistanos, em 2000, utilizando a base de dados do Projeto Sabe (Saúde, Bem-estar e Envelhecimento na América Latina e Caribe). Como morar sozinho sofrea influência de determinantes demográficos, socioeconômicos e de saúde, estasvariáveis também são consideradas neste estudo. Assim, foi realizada uma análisede regressão logística binária múltipla, sendo construídos dois modelos: oprimeiro apenas com a variável renda como independente e o segundo incluindotodas as demais. Os resultados indicaram uma associação entre renda e morarsozinho, de forma significativa. Ao controlar por educação e pelas variáveisdemográficas e de saúde, o efeito da renda permaneceu significativamenteassociado com as chances de morar sozinho. De acordo com os resultadosencontrados nos dois modelos, as probabilidades de o idoso morar sozinhocrescem à medida que aumenta a renda.

Palavras-chave: Idosos. Domicílios unipessoais. Renda.

Introdução

A preocupação recente em se estudarpessoas idosas deve-se ao fato de que emmuitos países, como é o caso do Brasil, oprocesso de envelhecimento tem se dadode forma muito rápida e as condições so-cioeconômicas não permitiram que fosseminstauradas medidas suficientes para cobriras necessidades dessa população. Osestudos têm demonstrado que a família, co-residente ou não, por meio de seus apoios,tem tido um papel muito importante no bem-

estar e qualidade de vida dos idosos. Noentanto, as interações entre os familiarespodem variar entre homens e mulheres, re-giões mais ou menos urbanizadas, mais ri-cos em comparação com os mais pobres,tradições familiares, intervenção de apoiosinstitucionais e características socioeconô-micas do país (MONTES DE OCA, 2001).

Um estudo realizado pela Organizaçãodas Nações Unidas (ONU) analisou osarranjos domiciliares dos idosos, apre-sentando dados comparativos de 130países (UNITED NATIONS, 2005). Entre as

* Doutoranda em Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional – Cedeplar, da Universidade Federal deMinas Gerais – UFMG. Bolsista CNPq Brasil.** Professora do Departamento de Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional – Cedeplar, da UniversidadeFederal de Minas Gerais – UFMG.*** Professor do Departamento de Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional – Cedeplar, da UniversidadeFederal de Minas Gerais – UFMG.

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principais conclusões do informe, podemser mencionadas as seguintes: aproxima-damente uma em cada sete pessoas idosas(90 milhões) vive sozinha, sendo que cercade 2/3 dessas são mulheres; existe umatendência a favor de modalidades de vidaindependente (sozinho ou sozinho com ocônjuge) mais consolidada em países de-senvolvidos; há uma menor proporção demulheres idosas casadas, comparativa-mente aos homens (cerca de 45% contra80%); embora nos países desenvolvidos oarranjo mais comum seja morar separadodos filhos, naqueles em desenvolvimento amaioria dos idosos vive com seus filhos.

O informe da ONU mostra que os arran-jos domiciliares variam bastante entre asdiversas regiões. Nos países mais desen-volvidos, a proporção de idosos vivendocom os filhos diminui substancialmente como avançar da idade. Em contrapartida, emmuitos daqueles em desenvolvimento, aporcentagem de idosos que vivem com osfilhos continua sendo elevada, sugerindoque os pais tendem a residir com pelomenos um dos seus filhos durante todo ociclo de vida. Pode-se observar que, quantomaior o nível de desenvolvimento econô-mico do país, menores são as taxas de co-residência entre os idosos.

No Brasil, a co-residência permaneceelevada entre os idosos e, assim comoocorre em diversas partes do mundo, otamanho e a composição dos arranjos do-miciliares variam de acordo com o tempo eentre as várias regiões. Segundo Leme eSilva (2002), a população idosa brasileira,neste início do século XXI, é proveniente deuma época com valores culturais marcados,nos quais a família ampliada exercia umpapel importante. A convivência com avós,tios e primos fazia parte do cotidiano e eraa família que, de alguma forma, provia boaparte das necessidades de apoio social aosseus membros. Tal situação, de valorizaçãoafetiva, efetiva e social da família, per-maneceu e permanece no consciente ouno subconsciente da maioria dos idososbrasileiros. No entanto, segundo Carvalho(1993), entre 1990 e 2030, a populaçãoidosa brasileira será composta, cres-centemente, por gerações de pais que

produziram o declínio da fecundidade, ouseja, será constituída por pessoas com umnúmero cada vez menor de filhos. Assim, opapel tradicional da família, principal pro-vedora de necessidades materiais e psico-lógicas do idoso, tornar-se-á cada vez maisdébil. Além da redução do tamanho da fa-mília, a entrada da mulher no mercado detrabalho, alterando seu papel tradicionaldentro da família, e o surgimento de novosarranjos familiares, decorrentes de novasformas de união conjugal, tendem a com-prometer as condições de cuidado eatendimento diretos à pessoa idosa nafamília (NASCIMENTO, 2000).

Diante da tendência recente de reduçãodo número de filhos, aumento de divórcios,mudanças de estilo de vida, individualismo,melhora nas condições de saúde dos idosose conseqüente ampliação da longevidade,com destaque para a maior sobrevivênciafeminina, é de se esperar que ao longo dosanos haja um crescimento dos domicíliosunipessoais, ou seja, do número de idososvivendo sós.

Considerando o conjunto da popula-ção, o número e a proporção de domicíliosunipessoais cresceram entre as décadasde 70 e 90, sendo que, em 1998, esse tipode arranjo domiciliar representava 8,8% dototal do país (MEDEIROS; OSÓRIO, 2001).De acordo com Camarano e El Ghaouri(2003), considerando as famílias de idosos,ou seja, aquelas nas quais o idoso é ochefe, entre 1970 e 1999, verifica-se que amudança mais importante foi o crescimentodaquelas formadas por mulheres vivendosozinhas, cuja proporção quase quadru-plicou no período (de 2,2% para 8,5%).Neste mesmo espaço de tempo, tambémocorreram aumentos na proporção dehomens idosos morando sós, porém em me-nor escala. Para as autoras, as separaçõese, principalmente, a viuvez são fatores ex-plicativos de parte do crescimento dasfamílias unipessoais.

De forma geral, pode-se observar quenem todos os idosos vivem com suasfamílias. Em 1998, por exemplo, no Brasil eno Estado de São Paulo, os idosos quemoravam sozinhos representavam cerca de12% do total da população de 60 anos e

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mais (IBGE, 2000). Assim, surgem algunsquestionamentos sobre quais caracte-rísticas estariam associadas à condição demorar sozinho entre os idosos e quaisseriam os fatores determinantes para queum idoso viva só.

A universalização da seguridade social,as melhorias nas condições de saúde, osavanços tecnológicos e nos meios decomunicação, os elevadores em edifícios,os automóveis, entre outros, podem sugerirque viver sozinho, para os idosos, repre-sente, na realidade, uma forma mais ino-vadora e bem-sucedida de envelhecimento,em vez de sugerir abandono, descaso e/ousolidão (DEBERT apud CAMARANO; ELGHAOURI, 2003). Assim, viver só podetambém refletir uma consciência maisprofunda em relação às suas necessidadese direitos e uma mudança em relação aosestereótipos (VARLEY; BLASCO, 2001).Tendo em vista que a privacidade é um bemdesejado por todos, principalmente nos diasde hoje, e que as pessoas lutam por inde-pendência e autonomia, a escolha pormorar sozinho pode ser considerada umaespécie de ideal, quando não se querdepender de outras pessoas ou mesmocompartilhar do convívio diário.

No entanto, é preciso considerar que aescolha por privacidade está intimamenteligada à renda e que para morar sozinho oidoso demanda recursos.

Diante do que foi exposto, este trabalhotem como objetivo principal analisar arelação entre renda e morar sozinho. Sabe-se que morar sozinho sofre também ainfluência de determinantes demográficos(sexo, idade, estado conjugal, ter filho(a)vivo(a), etc.), socioeconômicos (além darenda, sofre a influência da educação) e desaúde (tais como, número de doençascrônicas, autopercepção de saúde e capa-cidade funcional). Estas variáveis tambémsão levadas em conta nesse estudo.

A análise neste trabalho é circunscritaao município de São Paulo que, no Brasil,foi o foco de investigação no âmbito do pro-jeto Sabe (Saúde, Bem-estar e Envelheci-mento na América Latina e Caribe), dedi-cado especificamente a fornecer informa-ções sobre as condições de sobrevivência

da população idosa. Trata-se, portanto, deuma base de dados que oferece vantagenscomparativas únicas, em relação a outrasfontes de informações, como será desta-cado mais adiante.

A seguir, faz-se uma breve revisão deliteratura, contemplando os principais tó-picos relacionados ao tema central dessetrabalho, seguida pelos aspectos metodo-lógicos empregados, resultados encontra-dos, discussão e considerações finais.

Determinantes de arranjos familiaresque incluem idosos

O efeito acumulado de eventos so-cioeconômicos e demográficos e tambémde saúde, ocorridos em etapas anterioresdo ciclo de vida, reflete a situação familiardos idosos. O tamanho da prole, a mor-talidade diferencial, o celibato, a viuvez, asseparações, os recasamentos e as migra-ções vão conformando, ao longo do tempo,tipos distintos de arranjos familiares oudomésticos, que, com o avanço da idade,adquirem características específicas,podendo colocar o idoso, do ponto de vistaemocional e material, em situação de se-gurança ou vulnerabilidade. Morar sozinhoou com parentes pode ser resultado dedesenlaces ou celibato, da não existênciade prole, do falecimento dos filhos, ou aindada decisão de não viver com os filhos oucom qualquer outra pessoa, caso tenharecursos para tanto (BERQUÓ, 1996).

Ao analisar os dados da PesquisaNacional por Amostra Domiciliar (PNAD) de1998, Romero (2002) destaca que osarranjos familiares dos idosos, assim comoa condição que ocupam no domicílio, sãodistintos entre os sexos. Segundo a autora,a maioria dos homens idosos mora com seucônjuge (80,9%) e apenas 8,7% residemsozinhos. Já as mulheres distribuem-se emdiversas opções: 46% vivem com seu côn-juge; 23,5% com os filhos e sem o cônjuge;13,7% com um parente apenas; e 16,7%moram sozinhas. No total de idosos, 13,7%residem sós.

A maior longevidade feminina, pre-sente em todas as sociedades modernas,aumenta a possibilidade de a idosa vir a

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ficar sozinha, muitas vezes carente decuidados e dependente de novos arranjosdomésticos e institucionais de suporte. Nocaso do Brasil, os cuidados aos idosos sãoprestados predominantemente por suasfamílias e, na falta destas, por amigos evizinhos. Há evidências de que existe rela-ção entre o número de filhos e a possibi-lidade de os pais serem assistidos por eles(AQUINO; CABRAL, 2002).

Saad (2003), empregando dados doProjeto Sabe, analisou os fatores determi-nantes dos arranjos domiciliares de idososnão-casados do município de São Paulo,em 2000, utilizando uma regressão logísticamultinomial com variável resposta de quatrocategorias (“morando sós”, “com filhos não-casados”, “com filhos casados” e “com ou-tros parentes/não-parentes”). O nível educa-cional mostrou-se inversamente associadoà probabilidade de co-residência com filhos,particularmente os casados, indicando umapreferência por um arranjo domiciliar inde-pendente (morar só). Se, por um lado, o fatode o idoso receber algum rendimento não-familiar não influenciou sua estrutura fami-liar, por outro, se comparado com a situaçãode morar sozinho, viver com filhos ou comoutros parentes/não-parentes aumentousignificativamente as chances de residir emdomicílios mais bem equipados, ou seja,com maior número de bens. Além disso, oautor observou que um número maior de fi-lhos aumentou significativamente a proba-bilidade de morar com eles, sejam casadosou não, mas não afetou de maneira signi-ficativa a probabilidade de co-residir comoutros parentes/não-parentes, quandocomparados aos idosos que moram sós. Nocaso das variáveis de saúde, tanto o númerode doenças declaradas quanto a dificuldadeem realizar as atividades instrumentais davida diária tiveram pouca influência sobreseus arranjos domiciliares.

Segundo Romero (2002), os estudosenfatizam os dois lados da relação arranjosfamiliares de idosos e saúde/riscos de morte.Por um lado, pode-se dizer que existe umareciprocidade entre a saúde dos idosos e aestrutura e conformação das relaçõessociais e familiares, já que a deterioraçãoda saúde pode levar à redefinição dos

arranjos familiares, assim como de certasestruturas domiciliares. Por outro lado, o tipoe as características da rede social e familiarpodem levar a diferentes riscos de doençase morte. Assim, a saúde do idoso pode de-terminar o tipo de arranjo familiar e, aomesmo tempo, o arranjo familiar pode serdeterminante da saúde/risco de morte paraos idosos. Entretanto, a autora argumentaque não há certeza de que uma determinadacombinação de suporte e estrutura familiarfavoreça mais a saúde dos idosos.

A necessidade de auxílio, seja físico,afetivo ou financeiro, faz com que muitosidosos deixem de viver de forma indepen-dente para irem morar com suas famílias.Essa opção muitas vezes pode significarmais uma necessidade do que propria-mente uma escolha. De acordo com Varleye Blasco (2001), nem todos os idosos, ne-cessariamente, querem viver com seusfamiliares. Em um estudo com idosasmexicanas chefes de domicílio, as autorasverificaram que mais de dois terços delasprefeririam continuar vivendo em suas pró-prias casas, quando fossem mais velhas,sendo que, destas, 11% escolheriam viversozinhas, em sua residência. Quando ques-tionadas sobre a preferência por moraremsozinhas, as idosas se mostraram preocu-padas com a possibilidade de ser uma“carga” para seus filhos, genros e noras,ou mesmo ser incomodadas por esses.

Conforme Aquino e Cabral (2002), éprematuro considerar a tendência de au-mento de idosos morando sozinhos comoum enfraquecimento dos laços familiares.Para as autoras, é preciso levar em conta,por exemplo, que atualmente há uma maiorfacilidade de comunicação e locomoção,que os idosos apresentam melhores con-dições de saúde que anteriormente e que aindependência é mais valorizada. Ao mes-mo tempo, está ocorrendo uma perda gra-dativa da centralidade da família, que deixade ser uma instituição única e completa emsi mesma, apresentando-se, cada vez mais,como parte da rede de relações sociais.

Diante do crescente número de idososvivendo sós, Kramarow (1995) sugere pos-síveis explicações, associadas a aspectosdemográficos, culturais e econômicos.

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Baseando-se no argumento demográfico,o autor dá o exemplo da queda da fecun-didade, que provoca a redução do númerode filhos e, conseqüentemente, diminui asalternativas de moradia para os idosos. Jáo fator cultural refere-se às mudanças nosvalores, tais como a adoção de padrõesindividualistas em detrimento das obriga-ções familiares, enquanto o aspecto eco-nômico está relacionado ao fato de a priva-cidade ser um bem desejado por todos, jo-vens e idosos, sendo que, atualmente, aspessoas têm mais recursos do que no pas-sado para exercer suas preferências.

A importância da renda na definição dosarranjos domiciliares que incluemidosos

A independência financeira e as pos-síveis melhoras na saúde podem possibili-tar aos idosos a opção por viverem sós(GRUNDY; TOMASSINI, 2002). No entanto,quando os problemas de saúde causamdependências e os idosos não têm con-dições financeiras para escolher onde ecom quem viver, a co-residência ou mesmoa internação em instituições de longa per-manência podem se tornar inevitáveis.

Para Saad (2004), a co-residência podeser considerada um elemento importanteno processo de transferências intrafami-liares de apoio, no contexto brasileiro e la-tino-americano, afinal uma parcela substan-cial das transferências se dá entre os mem-bros do mesmo domicílio. Segundo o autor,a co-residência, mais do que a quantidadede filhos, é um dos fatores primordiais paragarantir alguma forma de ajuda nas ati-vidades funcionais do dia-a-dia. Na análisecom dados do projeto Sabe, para osmunicípios de São Paulo, Buenos Aires,Montevidéu e Cidade do México, o autorobservou que a probabilidade de receberauxílio funcional entre os idosos que moramsozinhos é 63% menor do que para aquelesque co-residem com uma pessoa. Ademais,a coabitação tende a aumentar significa-tivamente o fluxo de ajuda financeira, sendoque a probabilidade de os idosos rece-berem e prestarem ajuda financeira é bas-tante baixa entre os que moram sozinhos.

Yazaki (1992) analisou os arranjos do-miciliares e o suporte familiar oferecido a66 idosos do município de São Paulo, per-tencentes a arranjos de duas ou três gera-ções, segundo a renda. A autora destacaque, de modo geral, o motivo que desen-cadeia os arranjos multigeracionais é a faltade autonomia econômica e/ou física dosidosos, embora tenham sido observadosproblemas econômicos por parte dos filhos,fazendo com que ambos se beneficiemdesse tipo de arranjo. Para Camarano e ElGhaouri (2003), a co-residência pode serconsiderada uma estratégia das famíliaspara beneficiar tanto as gerações maisvelhas como as mais jovens e, no caso doBrasil, pode significar melhora nas condi-ções de vida.

Analisando os domicílios com idososno município de Belo Horizonte, em 1991,Ferreira (2001) observa que as probabili-dades de ocorrência de domicílios de me-nor estrutura, como os unipessoais, aumen-tam à medida que cresce a renda. De acor-do com o autor, quando ocorre um aumentodos rendimentos domiciliares, existe umatendência à valorização da privacidade,reduzindo as chances de ocorrência dosdomicílios com algum tipo de extensão,mesmo isolando o fato de o domicílio selocalizar em uma favela. Segundo ele, foiconfirmada a hipótese de que a privacidadeé um bem superior, cuja demanda mais quecompensa os ganhos de economia de es-cala provenientes do consumo e dos ganhosda produção doméstica, ao acrescentarnovos membros, reprimindo o efeito dessesdois aspectos.

Para Kinsella e Velkoff (2001), a melho-ria nas condições financeiras pode permitirque uma grande proporção de idosos estejaapta a viver sozinha, exercendo sua escolhapor independência, e, ao mesmo tempo,mantendo contato com a família e redes deapoio. Nesse caso, os idosos, mesmo quan-do não residem na mesma unidade domés-tica, podem receber apoio e fazer parte dosistema de intercâmbio entre os membrosda família (MONTES DE OCA, 2001).

Um estudo realizado por McGarry eSchoeni (2000) mostra que o crescimentodos benefícios é o principal fator associado

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ao aumento do número de idosas que viviamsozinhas nos Estados Unidos, no século XX,explicando 47% das mudanças ocorridasentre 1940 e 1990. Nesse caso, o cresci-mento da renda se deu principalmente pelaampliação da cobertura de seguridadesocial. Além da renda, outros fatores, comoa melhoria da escolaridade, também expli-cam as mudanças nos arranjos domicilia-res. Segundo Kramarow (1995), as transfor-mações culturais, o aumento da renda e aqueda da fecundidade são os responsáveispelo crescimento do número de idososmorando sozinhos nos Estados Unidos, de1910 a 1990.

O conjunto dessas considerações, combase em resultados de outros estudos, servepara reforçar a importância de se analisaremos determinantes ou os fatores associadosaos arranjos familiares que incluem pes-soas idosas, uma vez que esses podeminfluenciar diretamente sua qualidade devida. Afinal, é nessa fase que tendem a surgirdificuldades físicas, afetivas e financeiras.Mesmo não representando a maioria entrearranjos familiares de idosos no Brasil, temcrescido consideravelmente o percentualdaqueles que vivem sozinhos. A realidadedesses idosos deve ser considerada tantopor investigadores como por aqueles quesão responsáveis pelas políticas públicas,pois esse segmento populacional espe-cífico, fragilizado ou não, requer apoio paraseguir vivendo os anos que lhe restam, deforma independente ou assistida, comdignidade e bem-estar.

Metodologia

As informações utilizadas neste estudosão oriundas da base de dados do ProjetoSabe, desenvolvido pela Organização Pan-americana de Saúde, com o objetivo deproduzir um banco de dados comparávelentre os países participantes para avaliaras condições de saúde, assim como seusdeterminantes socioeconômicos. A pes-quisa possui uma amostra representativados idosos de 60 anos e mais dos muni-cípios selecionados e inclui, em algunscasos, os cônjuges sobreviventes. A basecontém informações sobre: características

demográficas básicas e da família; auto-relato de saúde e doenças crônicas; me-didas antropométricas de incapacidadefuncional, depressão e estado cognitivo;uso e acesso a serviços de saúde; transfe-rências familiares e institucionais; força detrabalho e aposentadoria (Palloni e Peláez,2003).

O Projeto Sabe coletou informações deidosos de sete países da América Latina edo Caribe: Argentina, Barbados, Brasil,Chile, Cuba, México e Uruguai. No Brasil, aárea de investigação circunscreveu-se aomunicípio de São Paulo e foram realizadasentrevistas com 2.143 idosos, entre janeirode 2000 e março de 2001, por meio de pes-quisa domiciliar, não incluindo indivíduosinstitucionalizados (Lebrão e Duarte, 2003).

Para estimar a associação entre morarsozinho e as variáveis demográficas,socioeconômicas e de saúde, foi realizadauma análise de regressão logística bináriamúltipla.

A variável dependente é “morar sozinho”e as independentes foram classificadas emtrês grupos: demográfico (sexo, idade, estadoconjugal, ter filho(a) vivo(a)); saúde (autoper-cepção da saúde, capacidade funcional edoenças crônicas); socioeconômico (educa-ção e renda, a principal variável indepen-dente que se deseja analisar).

Da amostra de 2.143 indivíduos, foramexcluídos os casados (1.121) e os que nãoresponderam às perguntas sobre estadoconjugal (1) e autopercepção de saúde (2),sendo a amostra considerada neste estudode 1.019 idosos. A exclusão dos idososcasados justifica-se pelo fato de que esses,na quase totalidade dos casos, não estãoexpostos ao risco de morar sozinho. A in-clusão, portanto, poderia alterar os resul-tados que seriam influenciados pela sim-ples existência de um cônjuge.

Como destacado anteriormente, foramconsiderados idosos os indivíduos de idadeigual ou superior a 60 anos, agrupadossegundo duas faixas etárias – 60 a 74 anose 75 anos e mais – e três categorias refe-entes ao estado conjugal: solteiros, viúvose separados ou divorciados.

A variável ter filho(a) vivo(a) foi cons-truída com base nas informações das

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pessoas do domicílio e nos filhos que moramem outra residência. Ela foi dicotomizadaem “sim” e “não”, sendo que, em casoafirmativo, estão incluídos os filhos quemoram dentro ou fora do domicílio.

A autopercepção da saúde foi dicoto-mizada em boa, pela combinação dascategorias excelente, muito boa e boa, eruim, pela associação das categoriasregular e ruim. Para avaliar a capacidadefuncional, foram empregadas informaçõesdas atividades de vida diária (AVD): atra-vessar um quarto caminhando; alimentar-se; deitar e levantar da cama; usar o vasosanitário; vestir e despir-se; tomar banho.O idoso foi classificado como livre de inca-pacidade funcional, caso não relatassedificuldade para realizar qualquer AVD, ecom incapacidade funcional, se apresen-tasse dificuldade em pelo menos uma dasatividades cotidianas. Quanto às doençascrônicas, os idosos foram classificados emrelação ao número total dessas em três cate-gorias: nenhuma, uma e duas ou mais. Asdoenças crônicas consideradas foram:hipertensão, artrite/reumatismo, doençacardiovascular, diabetes, asma/bronquite/enfisema, embolia/acidente vascular cere-bral e câncer.

Em relação à educação, as variáveisestudadas correspondem a: sem instrução,um a quatro anos de estudo e cinco anos emais de estudo. Para construir a renda men-sal do idoso, foram utilizadas informaçõesde rendimento do trabalho, aposentadoriaou pensão, ajuda de familiares, aluguel ouaplicações bancárias, ajuda do bem-estar-social e rendimentos de outras fontes.

A renda total foi dividida pelo valor dosalário mínimo vigente em abril de 2000(R$151,00), sendo posteriormente estabe-lecidos três grupos de renda: menor queum salário mínimo, um a três salários míni-mos e três salários mínimos ou mais.

Para garantir o maior número possívelde casos em cada categoria e possibilitarinferências robustas, foram feitos algunsajustes ao se construírem as variáveis edu-cação, renda, doenças crônicas e capaci-dade funcional. Em relação à primeira, osidosos que não informaram o número deanos de estudo foram incluídos no grupo

sem instrução, tendo como pressuposto queesses não estudaram. Para construir arenda mensal do idoso, aqueles que nãosabiam ou não indicaram a renda emdeterminada categoria de rendimento foramclassificados como renda zero naquela ca-tegoria analisada. As doenças crônicas e acapacidade funcional foram estimadas combase nas respostas afirmativas de estarciente da doença investigada ou relatar difi-culdade para realizar a AVD, respecti-vamente.

Como os idosos com mais de 75 anosforam sobreamostrados (LEBRÃO; DUARTE,2003), expandiu-se a amostra para que osdados pudessem refletir a realidade dapopulação do município de São Paulo emtermos quantitativos. Assim, foram utilizadosos pesos existentes na própria base dedados.

As análises dos dados foram realizadasutilizando o pacote estatístico SPSS, versão13. Conforme já ressaltado, para estimar aassociação entre morar sozinho e cada va-riável demográfica, de saúde e socioeco-nômica, foi realizada uma análise de re-gressão logística binária múltipla. Os resul-tados dos modelos foram apresentadoscomo razões de chance (odds ratio), quemedem a força da associação entre umdeterminado fator e a variável dependente.A razão de chance inferior a um significaque a variável atua reduzindo o risco demorar sozinho. Por sua vez, quando a razãode chance é superior a um, a variável estáatuando como um fator de risco para morarsozinho. Foram considerados significativosos resultados em um nível de significânciade 5%.

Tendo em vista o foco deste trabalho,que é a relação entre renda e o tipo dearranjo domiciliar dos idosos, optou-se porconstruir dois modelos, sendo que, no pri-meiro, apenas a variável renda foi incluídae, no segundo, foram consideradas, alémda renda, as demais variáveis selecio-nadas. O objetivo foi observar se renda semantinha como uma variável significa-tivamente preditora (ou associada) dosarranjos domiciliares que incluem idosos,mesmo após a inclusão de outras variáveisno modelo.

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Resultados

Inicialmente, faz-se uma análise descri-tiva da amostra, segundo algumas caracte-rísticas demográficas, socioeconômicas ede saúde. Em seguida, são apresentadosos resultados dos modelos oriundos da aná-lise com base na regressão logística.

Descrição da amostra

De acordo com os dados analisados,dos 1.019 idosos não-casados que com-põem a amostra, 30,3% viviam sozinhos. ATabela 1 apresenta a distribuição relativa

das características demográficas, socioeco-nômicas e de saúde dos idosos paulistanosselecionados para a amostra, segundo oarranjo domiciliar.

A análise das características socioe-conômicas mostra que os idosos que viviamsozinhos apresentavam melhores níveis derenda e escolaridade. Por exemplo, entreos que moravam sós, 41,8% tinham rendasuperior a três salários mínimos, contraapenas 28,9% dos que residiam acom-panhados.

Apesar das diferenças entre a magni-tude dos percentuais, os idosos que mo-ravam sozinhos e acompanhados se

TABELA 1Distribuição dos idosos não-casados, por arranjo domiciliar, segundo características demográficas, socioeconômicas

e de saúdeMunicípio de São Paulo – 2000

Fonte: Saúde, Bem-estar e Envelhecimento na América Latina e Caribe – Sabe, 2000 (PELAEZ et al., 2003).

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distribuíam de forma semelhante em re-lação às características demográficas. Aamostra selecionada era composta, pre-dominantemente, por idosos de 60 a 74anos (68,4%), do sexo feminino (80,1%) eviúvos (68,7%). Ademais, apenas 12,5% dosidosos que moravam com outras pessoasnão tinham filhos vivos, ao passo que entreos que viviam sós esse percentual chegoua 22,5%.

Quanto às características de saúde,nota-se que uma maior proporção de idososque viviam sozinhos percebeu sua saúde

como boa, diferentemente dos que residiamacompanhados. Além disso, considerandoa incapacidade funcional e o número dedoenças crônicas, aqueles que viviam comoutras pessoas apresentaram piores con-dições de saúde.

Determinantes de morar sozinho para osidosos paulistanos

A interpretação substantiva, neste estu-do, está apresentada em razões de chances(odds ratio) (Tabela 2).

TABELA 2Parâmetros estimados e razões de chances (odds ratio) dos modelos logísticos binários para morar sozinho dos

idosos não-casados, segundo características demográficas, socioeconômicas e de saúdeMunicípio de São Paulo – 2000

Fonte: Saúde, Bem-estar e Envelhecimento na América Latina e Caribe – Sabe, 2000 (PELAEZ et al., 2003).(1) Significância estatística: p<0,05.

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No Modelo 1, incluíram-se as variáveisindicadoras de renda como independentesisoladamente. Observou-se a associaçãoentre renda e morar sozinho, de forma signi-ficativa, sendo que essa altera a chance deviver sozinho. Considerando a faixa inferiora um salário mínimo como categoria de refe-rência, observa-se que, entre idosos comrenda de 1 a 3 salários mínimos, a chancede viver sozinho é 23% maior do que paraos mais pobres, e, no caso daqueles comtrês salários mínimos e mais, corresponde a2,1 vezes a chance dos primeiros. Assim,entre os idosos residentes no município deSão Paulo, em 2000, nota-se que aquelescom renda inferior a um salário mínimo apre-sentam chances de morarem sozinhos bas-tante reduzidas, em comparação às demaisfaixas de renda.

Ao controlar por educação e pelas va-riáveis demográficas e de saúde (Modelo 2),o efeito da renda na condição de morarsozinho aumenta um pouco, principalmentena categoria de renda intermediária, comrenda permanecendo significativamenteassociada às chances de morar sozinho. Deacordo com os resultados encontrados nosdois modelos, as chances de o idoso morarsozinho crescem à medida que aumenta arenda.

Os resultados do Modelo 2 mostramque, assim como observado para renda, aschances de morar sozinho entre os idososnão-casados crescem ao elevar o nível deescolaridade. Ter 75 anos e mais aumentaem 57% a chance de morar sozinho, em com-paração aos idosos mais jovens. As mulhe-res apresentam uma chance 15% menor deviverem sozinhas do que a dos homens.Considerando a categoria viúvo como refe-rência, verifica-se que, para os separados eos solteiros, são menores as chances demorar sozinho. Para os idosos que não têmfilhos, as chances de morarem sozinhos sãosuperiores em aproximadamente 60%.Apresentar duas e mais doenças crônicas,autopercepção de saúde ruim e incapaci-dade funcional diminui a chance de o idosopaulistano viver só, em relação aos que apre-sentam nenhuma doença crônica, autoper-cepção de saúde boa e são livres de inca-pacidade funcional, respectivamente.

Discussão e considerações finais

Apesar de atualmente o número dedomicílios unipessoais não ser expressivoem relação aos demais arranjos domici-liares de idosos, cresce, ao longo dos anos,o número de idosos brasileiros morandosozinhos. De acordo com o IBGE (2003), aproporção de famílias unipessoais no Brasilaumentou de 7,3%, em 1992, para 8,6%,em 1999, e 9,2%, em 2001. No que diz res-peito especificamente aos idosos morandosozinhos, o percentual passou de 10,4%para 12,6%, entre 1999 e 2001. Algunsfatores que reforçam essa tendência são aredução do número de filhos, o aumento dedivórcios, as mudanças de estilo de vida, oindividualismo, a melhoria nas condiçõesde saúde da população idosa e a maiorlongevidade.

Diante do crescimento do número deidosos que vivem sós, este estudo tevecomo objetivo principal analisar a asso-ciação entre renda e morar sozinho, paraidosos do município de São Paulo, em2000. Observou-se que, mesmo apóscontrolar por determinantes demográficos(sexo, idade, estado conjugal, ter filho(a)vivo(a)), socioeconômicos (educação) e desaúde (número de doenças crônicas, auto-percepção de saúde e capacidade funcio-nal), a chance de morar sozinho continuouelevada para as categorias de rendimentode 1 a 3 salários mínimos e três ou maissalários mínimos em relação àquela demenos de um salário mínimo.

Quanto aos demais fatores analisados,verificou-se que idade igual ou superior a75 anos e ausência de filhos aumentam orisco de morar sozinho. Além disso, apesarde serem maioria entre os idosos não-casados que vivem sozinhos, os resultadosapontam menores chances entre as mu-lheres de morarem sozinhas. Quanto ao es-tado conjugal, entre os viúvos, as probabi-lidades de viverem sozinhos são maiores,em relação às demais categorias.

Pode-se observar que, entre aquelesque têm pelo menos um filho vivo, de qual-quer sexo, mesmo que esse more fora decasa, as chances de morar sozinho dimi-nuem. No entanto, é importante destacar

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que, apesar da literatura indicar que sãoeles os principais provedores de ajuda, nãoexiste qualquer garantia de que sua exis-tência implique que o apoio ou mesmo con-vivência na mesma residência irá ocorrer.Sabe-se que, com a queda da fecundidade,com conseqüente redução no número defilhos, o cenário será bastante diferente dovivido pelos idosos do município de SãoPaulo em 2000, ou seja, pode-se esperarque as chances de os idosos viveremsozinhos tendam a aumentar. Adicional-mente, a redução da mortalidade nasidades mais avançadas pode provocar umcrescimento no número de idosos vivendosozinhos, uma vez que, para os mais velhos,as chances de morar só são maiores.

Segundo Grundy (2001), as evidênciasempíricas têm demonstrado que os idososque vivem sozinhos tendem a relatar me-lhores condições de saúde, exceto paraalgumas morbidades psiquiátricas em ho-mens. Da mesma forma, o presente estudodemonstrou que melhores condições desaúde tendem a aumentar as chances de oidoso morar só. Em relação à autoper-cepção de saúde e capacidade funcional,as condições desfavoráveis diminuem achance de morar sozinho. É importante sa-lientar que, no caso da capacidade fun-cional, utilizou-se como medida a dificul-dade de realizar as atividades da vida co-tidiana e não a necessidade de ajuda paradesempenhá-las. Acredita-se que o uso damedida de dependência como indicador decapacidade funcional pode alterar os re-sultados, uma vez que, para os depen-dentes de ajuda, a possibilidade de viversem outra pessoa seria pouco provável.Quanto ao número de doenças crônicas,para aqueles que relataram duas ou mais,as chances de morarem sozinhos são 31%menores do que para os que não mencio-naram nenhuma, resultado que era espe-rado, uma vez que a presença de doençacrônica interfere diretamente na saúde doindivíduo. No entanto, como ponderaSilvestre (2002), a presença de uma ou maisenfermidades crônicas não significa que oidoso não possa conservar sua autonomiae realizar suas atividades de maneiraindependente. Segundo o autor, a maioria

dos idosos brasileiros é capaz de se auto-determinar e organizar-se sem a neces-sidade de ajuda, mesmo sendo portadoresdessas doenças. De qualquer forma, éimportante considerar que se trata deautodeclaração ou morbidade referida, eque não há informação sobre a gravidadeda doença.

Entre os idosos com elevados níveisde renda e educação, as chances de vive-rem sozinhos são maiores. Assim, conformediscutido na revisão de literatura do pre-sente estudo, há uma tendência de va-lorização da privacidade e de escolha porindependência por parte dos idosos deníveis socioeconômicos superiores. Alémdisso, pessoas de classes socioeconômicasmais elevadas podem ter maior facilidadeem exercer sua escolha, seja na compra debens de consumo que facilitem o seu dia-a-dia, seja no acesso ao cuidado com a saú-de. Como coloca Alves (2004), os estudostêm demonstrado que a baixa renda dosidosos atua negativamente no compor-tamento saudável, no ambiente domiciliar,no acesso aos serviços e aos cuidados desaúde, mesmo se esses são disponibili-zados adequadamente e, finalmente, nosrecursos materiais.

Um estudo desenvolvido nos EstadosUnidos, por Krause e Borawisk-Clark(1995), citado por Rosa (2004), encontrouque, quanto menores a renda e o níveleducacional dos idosos, menor será seucontato com amigos e familiares, menosapoio eles provêem para os outros e menossatisfeitos estão com o apoio recebido.Nesse caso, os idosos de classe socioeco-nômica mais elevada aderem mais àsnormas de reciprocidade, o que facilitariauma manutenção de equilíbrio nas trocassociais. No caso do Brasil, não se podeinferir que este tipo de comportamentoocorra ou não. Entretanto, deve-se consi-derar que, para que uma pessoa vivasozinha, as relações de troca ou mesmo osuporte são essenciais. O que pode ocorrer,muitas vezes, de acordo com Montes deOca (2001), é que, apesar de o apoio sernecessário, as condições do próprio idoso,sua família, a organização doméstica, onúmero de filhos, sua situação econômica,

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nível de renda, entre outros podem incidirde formas distintas para que a ajuda nãoapareça.

Caldas (2003) coloca que, apesar de oidoso brasileiro nos estratos mais pobrescontribuir com sua renda para o sustentoda família, nem sempre ele recebe o res-paldo de que necessita, tanto por insufi-ciência de recursos quanto pelas dificul-dades da família no cuidado, assim comopor necessidades materiais, emocionais oude informação. Dessa forma, participar dasrelações de troca com seus familiares, sejacom dinheiro ou no cuidado dos netos, nãodá garantia ao idoso de que a família terárecursos para apoiá-lo.

Entendendo que viver sozinho pode seruma escolha do idoso, de um modo geral,nota-se que uma saúde física comprometidae níveis baixos de renda e educação dimi-nuem a chance de o indivíduo exercer essaopção. Assim, ao pensar na preferência pormorar sozinho, pode-se supor que o idoso,para exercer seu direito de escolha, teriaque possuir melhores condições de saúde,renda e educação.

De acordo com Grundy (2001), paraque o idoso exerça sua preferência por viversozinho, são necessárias boas condiçõesde saúde e um bom sistema de suporte.Sabe-se que a educação proporciona aoindivíduo melhores oportunidades e, porconseqüência, maior acesso a serviços desaúde, informação e cuidado. Assim, osinvestimentos em educação são formas depromover saúde da população e devem seralvo constante de políticas públicas.

A influência da renda na “opção” pormorar sozinho se mantém mesmo quandooutras variáveis sociodemográficas e decondições de saúde são incluídas nomodelo. Neste caso, a chance de o idosomorar sozinho aumenta à medida que hátambém elevação no seu nível de renda,medido em termos de salário mínimo. Emprincípio, poder-se-ia questionar até queponto este seria um resultado “lógico”, umavez que os grupos de maior renda tendema ter não apenas condições econômicasmais compatíveis com os custos envolvidosna sustentação de uma unidade domiciliarúnica, mas também uma família menos

numerosa, o que reduziria a chance dedividir a moradia com algum filho.

É certo que se trata de um resultadoesperado, em face da relação negativa entrerenda e fecundidade, que constitui forte pre-ditora do tamanho da família, e entre rendae condições econômicas de manter um do-micílio único. Mesmo a inclusão de variáveissociodemográficas e de condições desaúde não torna o efeito da renda sobre acondição de o idoso morar sozinho menossignificativo, havendo inclusive um modestoaumento no tamanho do efeito para as duascategorias de renda.

Por outro lado, é também importanteressaltar que não há informação sobre ascondições materiais dos domicílios ocu-pados pelos idosos que moram sozinhos, oque constituiria um forte indicador dascondições socioambientais às quais elesestão expostos. Isto posto, alarga-se aavenida por onde passa a carência depolíticas públicas direcionadas a garantiraos idosos condições adequadas de sobre-vivência, especialmente considerando-seque as futuras gerações de idosos no Brasilcontarão com proporções crescentes depessoas que, durante as fases anterioresdo ciclo de vida, estiveram expostas a con-dições adversas de subsistência. A univer-salização dos serviços de saúde, ainda queprecários, e a melhoria na tecnologia decombate às doenças crônicas, mesmoconsiderando que seu acesso é menor parasegmentos de população mais vulneráveisdo ponto de vista socioeconômico, sãofatores que apontam na direção da ne-cessidade de políticas específicas para osegmento de população idosa, incluindoaquelas que possibilitem maior assistênciasocial aos idosos que moram sozinhos ecarecem de condições adequadas desubsistência.

Deixando de lado a questão das pre-ferências e pensando que morar sozinhopode ser, na realidade, uma questão denecessidade ou até mesmo de abandono,é preciso pensar as políticas de apoio a estapopulação, principalmente para os idososde classes socioeconômicas inferiores.Assim, como destaca Ferreira (2001), osdomicílios unipessoais de idosos de baixa

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renda, normalmente, abrigam pessoas comidades mais avançadas que não têm,muitas vezes, ajuda de familiares ou a rendanecessária para se manterem. Além disso,como ressalta o autor, muitos dessesdomicílios são formados por idosas viúvasou separadas que, muitas vezes, nãodispõem das rendas de aposentadoria e,portanto, devem ser alvos, mais específicos,das políticas públicas assistenciais.

É importante considerar que as con-dições de vida do idoso são um acumuladode experiências passadas, dos cuidadoscom a saúde, das condições de moradia,educação, alimentação e higiene, dasoportunidades perdidas ou aproveitadas.Assim, se as políticas, por um lado, devemzelar pela qualidade de vida dos idososatuais, garantindo que eles vivam os anosque lhes restam com dignidade e possam

exercer suas preferências, por outro, devemse preocupar com seus filhos e netos,garantindo que eles tenham condições dedar suporte aos idosos nos momentosnecessários e para que, quando chegaremà velhice, apresentem boas condições desaúde e possam preservar sua autonomia.

Seja por opção ou por necessidade,idosos vivendo sozinhos podem se tornarcada vez mais comuns na sociedade bra-sileira e cabe a essa, juntamente com oEstado e a família, dar o suporte necessáriopara que este tipo de arranjo domiciliar nãose torne um risco para a saúde e a qualidadede vida dessas pessoas. Finalmente, paraque esses objetivos sejam alcançados, énecessário considerar os diferenciais de-mográficos, socioeconômicos e de saúdena abordagem da população idosa que vivesozinha.

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Resumen

La relación entre renta y vivir solo para ancianos paulistas, 2000

A pesar de que el número de domicilios unipersonales no sea indicativo en relación con losdemás bienes domiciliarios de los ancianos, a lo largo de los años, crece la cantidad deancianos brasileños viviendo solos. Este trabajo tiene como objetivo principal analizar larelación entre los ingresos y el vivir solo de los ancianos paulistas, en 2000, utilizando la basede datos del Proyecto Sabe (Salud Bienestar y Envejecimiento en América Latina y el Caribe).Dado que vivir solo sufre la influencia de determinantes demográficos, socioeconómicos y desalud, estas variables también son consideradas en este estudio. De esta forma, fue realizadoun análisis de regresión logística binaria múltiple, siendo construidos dos modelos: el primerosólo con la variable renta como independiente y el segundo incluyendo todas las demás. Losresultados indicaron de forma significativa, una asociación entre renta y vivir solo. Al controlarpor educación y por las variables demográficas y de salud, el efecto de la renta permaneciósignificativamente asociado a las posibilidades de vivir solo. De acuerdo con los resultadosencontrados en los dos modelos, las probabilidades de que el anciano viva solo, crecen amedida que aumenta la renta.

Palabras-clave: Ancianos. Domicilios unipersonales. Renta.

Abstract

The relationship between income and living alone for the elderly in the City of São Paulo,Brazil, 2000

The number of people living alone in São Paulo is not high compared to other livingarrangements, but the number of elderly people living alone has been increasing over theyears. The present study discusses the relationship between income and living alone amongthe elderly in the City of São Paulo, 2000, using the SABE database. Since living alone isinfluenced by demographic, socioeconomic and health-related aspects, these variables werealso considered in this study, and a binary logistic regression was used. Two models werebuilt. Model 1 included only income as a predictor; model 2 included other variables andincome as predictors. The results show a significant association between income and livingalone. Even after controlling for other explanatory variables, income remained significant.

Keywords: Elderly. People living alone. Income.

Recebido para publicação em 31/10/2007.Aceito para publicação em 31/05/2007.