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A (RE)DESCOBERTA DA POESIA EM SALA DE AULA:
uma perspectiva além das palavras
Autor: Lucimara Barbieri Sversut de Oliveira1
Orientador: Carlos da Silva2
RESUMO: A leitura e a sensibilidade ultimamente tem competido de forma desleal
com as mídias pois encontra-se nas salas de aula forte resistência por parte dos
alunos em relação as manifestações orais e escritas que explorem sentimentos. O
gênero textual Poesia foi proposto por se tratar de textos curtos, o que torna o ato de
ler mais prazeroso. Nesse contexto este artigo descreve os resultados obtidos, bem
como as dificuldades encontradas no decorrer da implementação do Projeto de
Intervenção Pedagógica, realizado com alunos do primeiro ano do Ensino Médio do
período matutino, do Colégio Estadual Flauzina Dias Viégas E.F.M., na cidade de
Paranavaí, Paraná. O objetivo foi o de despertar o gosto pela leitura de textos
poéticos para uma melhor compreensão do mundo no qual os alunos estão inseridos
bem como a consequente melhora da autoestima, aliada ao uso das novas
tecnologias pautado na concepção teórica da Estética da Recepção, contemplada
nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008), a qual considera
fundamental no processo da leitura, a figura do leitor. Face ao exposto, o trabalho
configurou-se através de leituras e produção de textos poéticos bem como a criação
de um blog coletivo dos alunos.
Palavras-chave: Poesia. Leitura. Estética da Recepção
1 Professora da Rede Pública Estadual / Colégio Estadual Flauzina Dias Viégas E.F.M – Paranavaí –
Paraná
Professora do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE
2 Professor Orientador do PDE e Docente do Curso de Letras da UNESPAR – Campus de Paranavaí
Mestre em Teoria da Literatura e Literatura Comparada pela UNESP
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1 Introdução
A poesia desempenha um importante papel na construção da
personalidade pois desenvolve a sensibilidade, a imaginação, a criatividade, além
das potencialidades linguísticas.
São muitas as tentativas de professores que buscam formar leitores. A
prática docente mostra que os alunos chegam às séries iniciais do Ensino Médio
com um repertório poético restrito, dificultando a sua leitura e compreensão. Faz-se
necessário romper com o preconceito que envolve a dificuldade em se trabalhar com
poemas. Na verdade, os poemas têm sido pouco trabalhados em sala de aula
devido ao contato restrito que alguns professores de Língua Portuguesa têm com o
gênero poético, uma vez que o seu uso se restringe ao caráter estrutural e não às
potencialidades e contribuições para a formação linguística, social e humana. Além
disso, a fragmentação de poemas contidos nos livros didáticos que tratam o gênero
poético como pretexto para levar os alunos a discutirem conteúdos gramaticais,
deixam de lado o valor literário que o texto poético possui. A visão que os alunos do
Ensino Médio possuem do gênero em questão se limita à estrutura do poema e a
uma leitura superficial, não incentivando-os a buscar novos significados que
também possam ser pertinentes ao texto.
Na tentativa de minimizar a distância existente entre a literatura e o
cotidiano dos alunos, pensou-se em utilizar a internet como um instrumento auxiliar
na formação de leitores críticos, uma vez que o mundo virtual é uma realidade
presente no dia-a-dia dos adolescentes.
Por entender que o incentivo à leitura de textos poéticos deve nortear a
prática da leitura que se realiza na escola, propôs-se que o trabalho fosse embasado
na Estética da Recepção, contemplada nas Diretrizes Curriculares de Língua
Portuguesa para os anos finais do Ensino Fundamental e Médio, a qual tem como
um de seus pressupostos, a leitura como fruição, considerando o papel do leitor
fundamental no processo da leitura.
Entretanto, é necessário que o professor se apresente como um mediador
e dinamizador na construção do conhecimento, sabendo em que contexto o aluno
está inserido a fim de ampliar e diversificar as suas possibilidades de leitura.
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Em vista dessas afirmações, este artigo ganha relevância na medida em
que considera importante formar indivíduos que possam exercer o papel de
cidadãos ativos na sociedade em que estão inseridos, com uma atuação crítica e
participativa.
2 Desenvolvimento
2.1 A importância da leitura
O foco do presente artigo é o desenvolvimento da sensibilidade através da
leitura de textos poéticos e a sua consequente reflexão, vivenciando o papel de
leitores e produtores de textos. Assim, o aluno, de mero decodificador de
significados, foi instigado a interagir criativamente com o texto na leitura literária a
fim de compreender efetivamente seus sentidos.
A busca pela informação tem sido um processo contínuo, marcado
visivelmente pelo uso intensivo das novas tecnologias. Assim, ao se abordar a
formação do leitor admite-se que a leitura possui uma função social, uma vez que o
ato de ler não pode representar apenas a decodificação de palavras mas sim, uma
interação das pessoas com o mundo e delas entre si. Ler é uma das competências
mais importantes a serem trabalhadas com o aluno. Não basta identificar palavras,
mas fazê-las ter sentido, compreendendo-as, interpretando-as.
Refletindo sobre a condição cultural dos indivíduos, SILVA ( 1991, p. 79-80)
afirma que “Ser leitor é compreender situações para a formação cultural do
indivíduo, ou seja, é a condição para a verdadeira ação cultural que deve ser
implementada nas escolas” , atividade esta que pode contribuir para a formação do
aluno crítico e atuante em seu meio sóciocultural.
Posto que a leitura é sempre produção de significados, considera-se
relevante a afirmação feita por SILVA, (1993, p.6), quando afirma que:
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A leitura é um processo de criação e descoberta, dirigido ou guiado pelos
olhos perspicazes do escritor. De fato, por trabalhar duplamente a
linguagem e os aspectos de vida social, entrelaçando-os na imaginação, o
escritor faz ver, ilumina, conduz o seu leitor às esferas mais amplas e
profundas de percepção. Nesses termos, a boa leitura é aquela que, depois
de terminada, gera conhecimentos, propõe atitudes e analisa valores,
aguçando, adensando, refinando os modos de perceber e sentir a vida por
parte do leitor.
Contrapondo-se à afirmação de leitura exposta acima, o que se vê hoje
nas escolas brasileiras é a leitura e o estudo de textos nas aulas de Língua
Portuguesa fazendo parte de uma sequência rotineira de atividades repetitivas:
leitura, interpretação, exercícios gramaticais e produção de textos. Em sua maioria,
são exercícios mecânicos e monótonos, tendo somente o livro didático como
instrumento. Esta atividade não oportuniza ao aluno a análise do que é essencial,
não lhe possibilita associações, aberturas a diálogos entre autor e leitor tampouco
permite ao aluno experimentar com o texto uma vivência pessoal, pois vive sufocado
pelos novos saberes que invadem os sentidos, pensamentos e até mesmo os
sentimentos se considerar o arsenal tecnológico à disposição das pessoas num
tempo dominado pelas inovações e revolução da ciência e da tecnologia.
No mundo do conhecimento, numa sociedade caracterizada pelo acúmulo
de informações, tornou-se fundamental a capacidade de ler e interpretar textos em
múltiplas linguagens, a fim de facilitar o acesso às informações e estabelecer
relações entre aquelas que já estão apropriadas nos indivíduos. Atualmente, a
leitura e o domínio da linguagem são considerados instrumentos de apropriação de
conhecimentos no sentido de oferecer aos alunos as condições necessárias para
exercer a sua cidadania na sociedade. Embora a informática seja a mola propulsora
da atual geração, a leitura e a escrita ainda são a base da história da humanidade.
Para RANGEL (1990, s/p) “ler é uma prática básica, essencial para aprender. Nada
substitui a leitura, mesmo numa época de proliferação dos recursos audiovisuais e
da informática”. E quando se entende a leitura como um ato libertador, maior será o
percentual de leitores capazes de estabelecer com ela uma relação de atitude
crítica.
Oportunizar situações de ensino que envolvam o processo de aquisição da
leitura como objeto social do conhecimento é uma necessidade de todo leitor,
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principalmente dos alunos enquanto indivíduos em processo de formação, de forma
que a curiosidade pela mensagem contida nos textos possa estimulá-los a descobrir
o mundo por trás das letras.
Considerando, assim, a função do professor enquanto estimulador da
leitura MALUF, (2010, p.30), afirma:
O educador comprometido com a sua missão deve abrir aos seus alunos
um leque de possibilidades, considerando-lhes as diferenças, preferências e
dons. Estamos lidando com seres completos formados de carne, nervos,
ossos, emoções, um ser holístico do qual não se pode perder uma parte e
privilegiar outras.
Nelly Novaes Coelho, (2000, p .15), completando o pensamento exposto
acima, reafirma :
A Literatura tem uma tarefa fundamental a cumprir nesta sociedade em
transformação: a de servir como agente e formação, seja no espontâneo
convívio leitor/livro, seja no diálogo leitor/texto estimulado pela escola. É ao
livro, à palavra escrita, que atribuímos a maior responsabilidade na
formação da consciência de mundo das crianças e dos jovens. O impulso
para “ler”, para observar e compreender o espaço em que vive (sic) os
seres e as coisas com que convive, é condição básica do ser humano.
Toma-se como conceito de leitura o ato de co-produção do texto, uma vez
que este não deve ser considerado como algo acabado. O texto apresenta espaços
que serão preenchidos de acordo com as condições culturais e afetivas,
conhecimento de mundo, crenças e valores que o leitor carrega consigo,
provenientes das diferentes realidades sociais utilizadas em situações funcionais. O
texto será considerado, assim um estímulo, tornando-se mais agradável. Nas
palavras de Umberto Eco (2002, p. 9): “o texto é uma máquina preguiçosa que
precisa do leitor para funcionar”.
Entendendo que a literatura possui um caráter polissêmico e dinâmico, a
presença da mesma em sala de aula é de extrema importância, uma vez que é
através dela que o aluno vivencia a linguagem nas suas mais variadas nuances e
tem a possibilidade de compreender o mundo através das infinitas vozes que o texto
deixa aflorar. O texto é visto como um lugar onde os participantes da interação
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dialógica se constroem e são construídos. Todo texto é, assim, articulação de
discursos, vozes que se materializam, inclusive na concepção do poema.
Nesse campo da leitura da literatura, o poema, por suas características
próprias que permitem o desenvolvimento da imaginação, que transforma
sentimentos em palavras, será o foco principal que norteará este artigo.
O poema, enquanto gênero literário permite, através da sua linguagem
polissêmica, o desenvolvimento da imaginação e do sendo crítico, além da
expressão oral e escrita.
Consubstansiando a afirmação sobre leitura de poemas, Nelly Novaes
Coelho ( 2000, p.222) afirma que a linguagem poética destaca-se como um dos
mais adequados instrumentos didáticos.
2.2 O texto poético e a Estética da Recepção
Conscientes de que a poesia é um dos gêneros literários mais distantes da
sala de aula, é preciso descobrir novas formas de aproximar os jovens do gênero
poético. E essa forma de aproximação deve ser feita através de um planejamento
para evitar as afirmações de que os poemas são de difíceis interpretações e
entendimento.
Com relação ao mencionado acerca da leitura de textos poéticos, PINHEIRO
(2002, p.23) afirma que “a leitura do texto poético tem peculiaridades e carece,
portanto, de mais cuidados do que um texto em prosa”.
Tecendo considerações sobre o poema e a linguagem enquanto extensão
dos indivíduos, AVERBUCK (1998, p. 69), considera que:
O poema forma um universo de linguagens, reinventando a cada vez as
suas regras. O professor precisa reservar alguns momentos para trabalhar
esse gênero literário em sua sala de aula. A poesia permite o
desenvolvimento da criatividade, da expressão e da compreensão da
linguagem como representação da experiência humana.
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Utilizar-se de textos poéticos em sala de aula não é somente trabalhar
com a memorização ou o estudo da metrificação, as rimas expressas no texto, ou
ainda, estudar as escolas literárias, mas dizer, ouvir, ler e produzir textos poéticos,
procurando surpreender neles um sentido além das próprias palavras.
Infelizmente, a leitura de poemas na escola tem aprisionado o autor e o
leitor. Vale destacar o que Verbena Maria Rocha Cordeiro ( 2004, p.95-102) afirma a
respeito:
Aparentemente, é a voz do escritor que impera, na medida em que o leitor
se orienta exclusivamente pelo que o texto porta. Esta tem sido ainda a
prática em muitas escolas. Isto significa dizer que os silêncios e os vazios
deixados nos textos para serem preenchidos pelo autor não são
potencializados, frustrando de alguma forma a intenção do autor de
provocar o leitor a interagir com seu texto. Mais uma dica; o texto literário é
feito de indeterminações e vazios. Aí reside a sua riqueza, na medida em
que deixa brechas para a entrada do leitor em cena
Durante as leituras das Diretrizes Curriculares do Ensino Médio sobre o
assunto, observou-se um breve relato acerca do ensino da Leitura, onde o
documento em questão afirma que:
Nos anos 70 o ensino da Literatura restringia-se ao então segundo grau,
com abordagens estruturalistas e/ou historiográficas do texto literário. Na
análise do texto poético, por exemplo, adotava-se o método francês, isto é,
propunha-se a análise do texto conforme as estruturas formais: rimas,
estrofes, escansão de versos, ritmo, etc. Cabia ao professor a condução da
análise literária, e aos alunos, a condição de meros ouvintes. A
historiografia literária, que ainda hoje resiste em algumas salas de aula,
direciona e limita a leitura dos alunos. Em muitos casos são interpretações
dos professores e/ou dos livros didáticos, desconsiderando o papel ativo do
aluno no processo de leitura e, em outros, os textos são levados para a sala
de aula como pretexto para se ensinar gramática. ( DCE, p.45)
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As formas mecanicistas em que apenas se destacam os aspectos superficiais
do texto poético com perguntas tais como: “o que o poeta quis dizer”? ou “qual a
mensagem do texto”? faz com que o aluno não assuma a posição de leitor
participativo, não há receptividade, o prazer que o texto literário poderia despertar,
se perde.
Frente a esse quadro de desinteresse no tocante à leitura de textos
poéticos, mudanças significativas ocorreram com o percurso histórico da disciplina
de Língua Portuguesa na Educação Básica brasileira e as reflexões acerca do
ensino da Língua e da Literatura.
A partir dessas afirmações pode-se dizer que a situação crítica do ensino da
literatura nas escolas tem sido alvo de pesquisas, debates, seminários e verificou-se
que é no domínio da leitura que reside sua maior deficiência. Dentre os métodos
citados por Bordini e Aguiar (1993), o Método Recepcional é citado nas Diretrizes
como encaminhamento metodológico para o trabalho com a Literatura, onde o leitor é
visto como sujeito ativo no processo de leitura e será levado a efetuar leituras
compreensivas e críticas, será receptivo a novos textos, transformará seus próprios
horizontes de expectativas, de acordo com seus conhecimentos prévios, vendo-se
como agente do processo de leitura e aprendizagem, num constante enriquecimento
cultural. Ainda de acordo com Aguiar e Bordini (1993, p.84-85) “o processo de
recepção se completa quando o leitor, tendo comparado a obra emancipatória
ou conformadora com a tradição e os elementos de sua cultura e seu tempo, a
inclui ou não como componente de seu horizonte de expectativas”.
A partir dos conceitos e definições relatados até então, encontrou-se na
teoria da Estética da Recepção que tem Hans Robert Jauss como o seu maior
representante, um método em que se apoia o presente artigo. Numa época em que
novos currículos e propostas para a educação superior surgiam e os métodos de
ensino da história da literatura eram questionados por serem tradicionais e
desinteressantes, Jauss polemizou com as concepções vigentes de história da
literatura ao propor uma nova forma de ensino com outros caminhos possíveis.
A Estética da Recepção apresenta-se como uma teoria em que a
investigação muda de foco: do texto enquanto estrutura imutável, ele passa para o
leitor, marginalizado, porém não menos importante. Esse método proporciona
momentos de debate e reflexões sobre as obras lidas. É essencial que se mostre ao
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aluno que nem sempre determinada leitura é o que ele espera ( ruptura do horizonte
de expectativas), suas afirmações podem ser reavaliadas e seus conhecimentos
aprofundados, fazendo com que se distancie do senso comum em que se encontrava
e tenha seu horizonte de expectativas ampliado, possibilitando, assim, reflexões e
tomadas de consciência das mudanças ocorridas social e historicamente.
Com base nas ideias de Jauss, o leitor é considerado a partir de sua
existência histórica. Durante suas leituras, ele, o leitor, concretiza suas ideias e
atribui significados à obra literária a partir de suas experiências individuais e das
influências culturais, sociais e históricas.
De acordo com Regina Zilberman (1989), o que Jauss propôs é ainda hoje
relevante nas salas de aula, pois ao colocar o leitor como centro da atenção e a
questionar a obra no tempo em que ela situa o texto, altera o comportamento do
leitor, atingindo a escola como um todo, ampliando suas perspectivas e alargando
horizontes num processo constante de enriquecimento cultural e social.
As Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para os Anos Finais e
Ensino Médio, (2008, p. 40), assim entendem o trabalho com a literatura embasado
na Estética da Recepção:
Ao iniciar o trabalho com a literatura, o professor precisa tomar
conhecimento da realidade sóciocultural dos educandos e, então,
inicialmente, apresentar - lhes textos que atendam a esse universo.
Contudo, para que haja uma ruptura desse horizonte de expectativas, é
importante que o professor trabalhe com obras que se distanciem das
experiências de leitura dos alunos a fim de que haja ampliação desse
universo e, consequentemente, o entendimento do evento estético.
Para Bordini e Aguiar (1993), na sala de aula o método recepcional de
ensino fundamenta-se na atitude participativa do aluno em contato com diferentes
tipos de textos, sendo receptivo a novos textos bem como a outras leituras,
questionando-as em relação a seu próprio horizonte cultural, e transformando os
próprios horizontes de expectativas, assim como os do professor, da escola, da
comunidade familiar e social.
Finalmente, acredita-se que o trabalho com o texto poético deva partir do
prazer que o aluno possa ter em trabalhar com o mesmo, atendendo às
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necessidades dos adolescentes no que diz respeito à construção de sua formação.
Segundo Quaglia ( 2000, p. 20):
[...] A poesia, assim como os demais gêneros literários, também
é responsável pelo processo de humanização integral do homem,
por suprir sua necessidade de ficção e fantasia e por mostrar-se
fundamental para o desenvolvimento psíquico e emocional dos jovens,
devendo, por isso, ter seu lugar nas aulas de leituras [... ]
A proposta, assim entendida, tem no método da Estética da Recepção, o
direcionamento possível para o trabalho com o texto literário, por entender que os
alunos têm um horizonte limitado de leitura, que pode ampliar-se continuamente com
diferentes tipos de leituras. Faz-se pertinente aqui entender e conceituar o método da
Estética da Recepção e sua implicação na leitura de obras literárias, em especial, no
gênero poético, visto que o método recepcional de ensino funda-se na atitude
participativa do aluno em contato com os diferentes textos.
O professor parte do horizonte de expectativas da turma, verificando os
interesses literários determinados por suas vivências anteriores. Em seguida, o
professor provoca situações que propiciem o questionamento desse horizonte,
levando à ruptura do horizonte de expectativas e seu consequente alargamento.
Ainda de acordo com Bordini e Aguiar (1993), o método recepcional de
ensino enfatiza a comparação entre o familiar e o novo, entre o próximo e o distante
no tempo e no espaço. Além disso, o processo do trabalho apoia-se no debate
constante, em todas as formas, seja oral e escrito, consigo mesmo e com os colegas,
com o professor e com os membros da comunidade escolar.
Assim, as autoras sugerem cinco etapas a serem desenvolvidas, as quais
permitem ao aluno um caminho seguro para a compreensão e reflexão sobre o texto
poético, de forma a garantir uma interação efetiva entre leitor e texto literário.
1) Determinação do horizonte de expectativas – momento em que o
professor verificará os interesses dos alunos a fim de prever estratégias de ruptura e
transformação do mesmo;
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2) Atendimento do horizonte de expectativas – etapa em que proporcionará
aos alunos experiências com textos literários que satisfaçam suas necessidades
quanto ao objeto escolhido;
3) Ruptura do horizonte de expectativas – momento em que serão
introduzidos textos e atividades de leitura que abalem as certezas dos alunos;
4) Questionamento do horizonte de expectativas – fase em que serão
comparados os dois momentos anteriores, verificando que conhecimentos ou
vivências pessoais proporcionaram a eles facilidade de entendimento do texto e/ou
abriram-lhes caminhos para o conhecimento do novo;
5) Ampliação do horizonte de expectativas – última etapa em que os alunos
tomarão consciência das alterações e aquisições, obtidas através da experiência com
o texto poético. Conscientes de suas novas habilidades com a literatura, partem para
a busca de novos textos que atendam às suas expectativas. O final dessa etapa é o
início de uma nova aplicação do método, sempre permitindo aos alunos uma postura
mais consciente com relação à literatura e à vida.
2.3 Algumas considerações sobre o Projeto de Intervenção Pedagógica
A implementação do projeto de intervenção pedagógica foi realizada por
meio de uma oficina de poemas aos alunos do primeiro ano do Ensino Médio, do
Colégio Estadual Flauzina Dias Viégas, tendo como embasamento as cinco etapas
do método recepcional.
As atividades tiveram início a partir da exposição do projeto e do material
didático à Direção da escola, à Equipe Pedagógica e professores durante a Semana
Pedagógica, realizada em julho de 2011. As atividades com os alunos foram
aplicadas no segundo semestre de 2011, quando deu-se o retorno da Professora
PDE para a sala de aula. O critério de seleção dos alunos foi o de interesse pelo
tema proposto e a disponibilidade dos mesmos em comparecerem no período de
contraturno. Para o sucesso da implementação, foi necessário encontrar horários
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apropriados, uma vez que muitos alunos trabalham no período vespertino. Encontrar
um horário que se adequasse a todos foi a grande dificuldade do início. Muitos
alunos disseram que gostariam de participar, mas que não tinham tempo livre. Houve
também que adequar os horários com a disponibilidade do laboratório de informática
visto que outras turmas também o utilizam para pesquisas. A falta de um espaço
apropriado dificultou o início do projeto, pois não havia salas disponíveis.
A quantidade de alunos foi limitada a vinte participantes em função de espaço
disponível no laboratório de informática, onde foram realizadas várias atividades
relacionadas ao projeto. Superadas as primeiras dificuldades, passou-se para a
primeira etapa, iniciando pela determinação dos horizontes de expectativas.
Para dar início às atividades, foi realizada uma sondagem para diagnosticar
quais eram os horizontes de expectativas, ou seja, a verificação do que já sabiam a
respeito de poesias, se gostavam de ler, quais livros de que lembravam e quais as
suas expectativas acerca do projeto.
Realizada essa primeira abordagem, deu-se início à aplicação de um
questionário, optando por questões subjetivas para que o aluno pudesse ter uma
maior liberdade para expor suas opiniões e preferências, enquanto leitor. As
respostas dadas aos questionamentos formulados na primeira etapa levaram à
constatação de que os alunos gostam sim, de poesia, contrariando a concepção de
muitos professores que afirmam não se preocupar com esse gênero por desinteresse
dos alunos.
Grande parte da turma vê a poesia como textos que falam de amor, mas
também reconhece que há outros temas relacionados ao preconceito, sofrimento,
perdas, assuntos da vida cotidiana, além de servir como um instrumento de denúncia
social. Todos afirmaram que preferem textos mais curtos e com um vocabulário mais
acessível e próximo ao deles. A maioria dos alunos se lembram de livros lidos.
Quase todos os alunos disseram que leem textos literários apenas na escola, nas
aulas de Português. Poucos leem em casa, embora vão à biblioteca escolar ao
menos uma vez por semana para “olhar” os livros. Uma minoria leva livros para casa.
Questionados em relação à leitura, em outras disciplinas, todos afirmaram que
somente alguns professores a promovem e, quando o fazem, é de uma forma bem
superficial.
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Embora concordando que leem pouco, todos disseram que acham a leitura
importante para melhorar o desempenho escolar. A maioria disse que não lê mais por
falta de tempo, pois dentro da realidade em que vivem precisam trabalhar no período
oposto ao que estudam. Apenas alguns alunos não viram diferença entre ler na
escola ou para a escola.
Quando questionados se a leitura pode proporcionar prazer, a maioria afirmou
que depende muito do que se lê. Se são obrigados a fazê-la para “ganhar” nota,
torna-se uma obrigação rejeitada por todos.
Somente dois alunos (numa turma de 20) disseram que os pais gostam de ler
ou que já os viram lendo um livro. Dezoito alunos afirmaram nunca terem visto os
pais lendo livros, revistas ou qualquer outro material escrito.
Analisando as respostas dadas pelos alunos, conclui-se que a escola pouco
promove a leitura por prazer em sala de aula, embora eles se mostrem predispostos
a ler. O ato de ler, para os adolescentes, está relacionado às emoções, ao prazer que
a leitura proporciona, principalmente em textos com que eles se identificam nessa
fase da adolescência. Mais do que uma busca por conhecimentos, o aluno procura
na leitura situações que vivenciam.
Na segunda etapa, denominada atendimento dos horizontes de expectativas,
partiu-se da ideia que os alunos tinham de poesia, procurando num primeiro
momento, atender a seus anseios de forma lúdica, numa linguagem clara e bem
contemporânea, tomando como primeiros textos a serem trabalhados, as músicas de
uma banda atual. Lembrando aqui que há uma temática escolhida para o trabalho,
escolheu-se o tema “Adolescência”, como busca de autoconhecimento e exploração
da sensibilidade. O trabalho com a música, nesse primeiro momento, foi voltado para
que os alunos ouvissem, cantassem, acessassem e visualizassem o vídeo das
músicas no youtube e, então, oralmente, fossem explorados alguns pontos
importantes para que os alunos se identificassem enquanto sujeitos participantes das
situações vivenciadas nas músicas.
Ainda atendendo ao horizonte de expectativas, foram trabalhados os poemas
“Aviso”, “Identidade” e “O Jovem Frank”, todos de Carlos Queiroz Telles, além do
poema “Autorretrato”, de Mário Quintana.
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As atividades dessa etapa tiveram por objetivo envolver os alunos de forma
prazerosa na leitura dos poemas. Esse foi um objetivo constante durante todo o
projeto: o de despertar nos alunos o gosto pela leitura desse gênero.
Nota-se aqui a adequação do método recepcional, uma vez que ao partir da
realidade do aluno, a aprendizagem da leitura vai sendo superada passo a passo e,
conforme o leitor se torna apto para tal, a leitura flui naturalmente. Os alunos sempre
se mostraram receptivos às atividades propostas, tendo desempenhado a maioria
delas com bons resultados. Foram feitas várias leituras dramatizadas e pesquisas no
laboratório de informática sobre os autores dos poemas estudados.
Acerca do poema “Aviso”, após a leitura oral, foram feitos questionamentos
também orais, onde todos participaram e expuseram suas ideias e opiniões de forma
clara. Produziram um pequeno poema onde deveriam definir o que é ser
adolescente, de forma livre (com estrofes ou sem, com rimas ou não).
Posteriormente, estes poemas foram ilustrados e colocados no mural da escola.
Pôde-se observar o desenvolvimento do tema pelos alunos, como evocam os
sentimentos e o modo como os expressam, seus medos, suas dúvidas, e constatou-
se que muitos encontram na leitura desse gênero uma forma de aliviar as suas
tensões.
Com os poemas “Identidade” e “O Jovem Frank” trabalhou-se a leitura oral,
dramatizada, e foram feitos questionamentos também orais. Como previsto, os
alunos também participaram bastante e não tiveram dificuldades em responder às
questões propostas. Fizeram ilustrações de como se viam diante de um espelho
num momento lúdico. Houve aqui a valorização do “eu”, da autoestima, através de
conversas informais entre alunos e professora. Foram visualizadas mensagens de
autoestima do youtube com desenhos animados.
Após a leitura dramatizada do poema “Autorretrato” e os questionamentos
orais, os alunos fizeram o seu autorretrato (escrito e visual).
Na etapa seguinte, de ruptura com os horizontes de expectativas, mantendo o
tema escolhido, optou-se pela ruptura do cotidiano, dos textos com uma linguagem
simples e fácil, passando a uma linguagem mais elaborada, vista de uma maneira
mais complexa. Escolheu-se trabalhar com o filme Sociedade dos Poetas Mortos
e, depois, com o poema “O menino que carregava água na peneira”, de Manoel de
Barros.
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Após assistirem ao filme, a Professora PDE solicitou aos alunos que fizessem
comentários acerca do mesmo: a cena de que mais gostaram ou que mais
emocionou, personagem mais marcante, o que mais chamou a atenção, alguma
passagem que não entenderam. Depois de algumas explicações e informações
julgadas relevantes, os alunos foram encaminhados à sala de informática para que
buscassem mais informações a respeito do filme assistido. Uma vez na sala de
informática, os alunos leram comentários a respeito do filme, assistiram a trailers,
leram resenhas. Adquiriram mais informações e internalizaram as que já tinham. Foi
um trabalho com bastante participação e muita troca de informações
Para o poema “O Menino que carregava água na peneira” iniciou-se com a
apresentação do livro aos alunos e a audição e a visualização da declamação do
poema no youtube. Após, foram distribuídas cópias do poema aos alunos e feitas
várias leituras do mesmo. Notou-se aqui uma demora maior na compreensão do
texto visto se tratar de um poema mais subjetivo, onde o aluno requer uma maior
capacidade de interpretação.
Na etapa seguinte, foi proposto aos alunos um questionamento sobre seus
horizontes de expectativas, o que foi realizado oralmente após o trabalho com as
músicas, os poemas e o filme. Neste momento, os alunos questionaram o material
didático trabalhado através de um debate e exposições orais, opinaram acerca dos
textos trabalhados e verificaram quais exigiram um grau maior de reflexão. O que
eles esperavam ao iniciar o trabalho com cada texto se concretizou? A construção
poética e o uso da linguagem se apresentam da mesma forma em todos os
poemas? O conhecimento e a experiência que tinham ajudaram na compreensão
dos textos vistos? Embora o tema fosse o mesmo em todos os textos, como foi
trabalhado em cada um? As questões propostas permitiram algumas reflexões
Nesse momento, os alunos tiveram acesso ao questionário que haviam respondido,
e puderam verificar se houve algum progresso quanto ao tema estudado
Durante a aplicação da última etapa, a de ampliação dos horizontes de
expectativas, optou-se por utilizar as ferramentas tecnológicas como um instrumento
a mais para desenvolver no adolescente o gosto pela leitura. Foi propiciado aos
alunos, idas ao Laboratório de Informática, com o propósito de conhecer e analisar
poemas de outros autores, que não os estudados durante a implementação do
projeto. Aliando a tecnologia à literatura, sugeriu-se a construção de um blog coletivo
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onde os alunos pudessem expressar seus sentimentos e contar como foi a
experiência de participar de um projeto que incentivava a ler poesias, o que foi
prontamente aceito. Após a construção do blog, os alunos passaram a acessá-lo
quase que diariamente para postar comentários, opiniões, poemas escritos por eles
ou poemas que leram e gostaram falando de seu cotidiano, suas descobertas,
dando dicas de sites, músicas preferidas e até blogs educativos. Notou-se uma
procura maior por assuntos voltados para a literatura e cinema, autores
mencionados nos livros didáticos e música brasileira.
Vale salientar que, durante a implementação do Projeto houve uma interação
entre professores de diferentes localidades proporcionado pelo GTR (Grupo de
Trabalho em Rede), que é um grupo on-line, criado pela Secretaria Estadual de
Educação do Paraná (SEED), formado por professores da Rede Estadual de Ensino
para acompanhar o trabalho desenvolvido pelo Professor PDE, contribuindo com
sugestões, experiências vivenciadas e como um estímulo para cada ação realizada.
As contribuições dadas pelos professores que realizaram algumas das
atividades propostas, ou que sugeriram formas de trabalho quando questionados
pela professora tutora, foi de grande valia para o enriquecimento do projeto que só
veio a acrescentar o trabalho desenvolvido enriquecendo as aulas. Esta contribuição
oferecida por professores de diferentes regiões do Estado, os quais enfrentam
problemas semelhantes para desenvolver o gosto pela leitura, significou um
enriquecimento ao projeto, pois a busca de novos métodos de ensino da leitura
parece ser a preocupação constante dos que trabalham com a língua materna.
3 CONCLUSÃO
A proposta pedagógica que tinha como propósito oportunizar aos educandos
um momento lúdico, tendo em vista o exercício da imaginação e, ao mesmo tempo,
mostrar uma maior liberdade para construir seu conhecimento de forma crítica
enquanto ser participativo de uma sociedade em transformação, foi amplamente
atingida. Para tanto, levou-se a poesia para o universo próprio do educando, do qual
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fazem parte a tecnologia, o ambiente virtual, considerando a realidade da presença
das mídias no universo escolar e na sociedade.
Para atender a esse fim, os poemas estudados sob a Estética da Recepção e
pautados nas Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa possibilitaram que a
leitura passasse a ter uma finalidade real por ser um método dinâmico,
oportunizando ao aluno exercitar sua liberdade de expor suas ideias, pelo fato de
que o desenvolvimento cognitivo aconteceu passo a passo.
Os resultados mostraram que os objetivos da proposta foram atingidos, pois
as atividades desenvolvidas propiciaram ao aluno uma leitura reflexiva acerca do
que lê e também passou a socializar suas produções através de um blog coletivo,
tornando-se usuário da língua escrita em situações reais de comunicação.
Diante das observações efetuadas em sala de aula e do conhecimento
adquirido pelos alunos, é possível concluir, portanto, que a ação educativa foi
consolidada, que o trabalho realizado foi relevante e correspondeu às expectativas
propostas, lembrando que a poesia vai muito além das palavras, vai muito além de
cumprir seu papel enquanto formadora de leitores, pois trata de sentimentos e temas
que norteiam o cotidiano do aluno e do adolescente de forma muito peculiar. Assim
sendo, despertar o gosto pelo gênero poético não se esgota em um único projeto,
apenas marca o início de um trabalho efetivo, organizado e prazeroso, culminando
no desenvolvimento eficaz dos educandos.
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