A PROCURA DA VERDADE

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A PROCURA DA VERDADE A EXPERIÊNCIA AGNÓSTICA Dei por mim num monte no Algarve (Monte Mariposa) em Outubro de 2010 para frequentar um retiro espiritual , que supostamente consistia em aprender uma técnica ancestral de meditação (vipassana) durante 10 dias num grande isolamento . E porque não , até Jesus Cristo o fez no deserto ... Há muito que perdi a ingénua aspiração de encontrar a verdade / Deus e a minha procura nos últimos anos tem-se resumido à esfera da meditação como uma técnica que nos pode proporcionar algum conhecimento e paz interior . Mas para perceberem como vim aqui parar tenho que explicar previamente o meu percurso espiritual . Esta minha caminhada ao longo dos anos - já vem dos tempos de infância, porque lembro-me que a uma determinada altura passou- me pela cabeça ser padre e inclusive tive formação católica : andei muitos anos nos escuteiros católicos (Corpo Nacional de Escutas) e tive catecismo por iniciativa própria - levou-me ao contacto com diversas religiões e seitas religiosas tão dispares como, Testemunhas do Jeová, Igreja Maná, AMORC (antiga e mística ordem Rosae Crucis) , Lectorium Rosicrucianum (escola internacional da RosaCruz Aurea) , Igrejas espíritas, Maharaji (Prem Rawat ) , Centros de Ioga e Meditação Transcendental e

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A PROCURA DA

VERDADE

A EXPERIÊNCIA AGNÓSTICA

Dei por mim num monte no Algarve (Monte Mariposa) em

Outubro de 2010 para frequentar um retiro espiritual , que

supostamente consistia em aprender uma técnica ancestral de

meditação (vipassana) durante 10 dias num grande isolamento . E

porque não , até Jesus Cristo o fez no deserto ...

Há muito que perdi a ingénua aspiração de encontrar a verdade /

Deus e a minha procura nos últimos anos tem-se resumido à esfera

da meditação como uma técnica que nos pode proporcionar algum

conhecimento e paz interior . Mas para perceberem como vim aqui

parar tenho que explicar previamente o meu percurso espiritual .

Esta minha caminhada ao longo dos anos - já vem dos tempos de

infância, porque lembro-me que a uma determinada altura passou-

me pela cabeça ser padre e inclusive tive formação católica : andei

muitos anos nos escuteiros católicos (Corpo Nacional de Escutas)

e tive catecismo por iniciativa própria - levou-me ao contacto com

diversas religiões e seitas religiosas tão dispares como,

Testemunhas do Jeová, Igreja Maná, AMORC (antiga e mística

ordem Rosae Crucis) , Lectorium Rosicrucianum (escola

internacional da RosaCruz Aurea) , Igrejas espíritas, Maharaji

(Prem Rawat ) , Centros de Ioga e Meditação Transcendental e

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finalmente a seita de meditação Vipassana. E invariavelmente após

um breve contacto ficava sempre decepcionado com o fanatismo e

mentiras que professavam. E quase todas elas transmitiam a mesma

ideia: são a único via e a restante humanidade está condenada a

viver na ignorância e perdição. Não havia pachorra para tanta

presunção!

Esta minha persistência provavelmente tem raízes genéticas porque

tive um avô paterno que foi padre (apesar de só ter dado uma missa

e o malandro acabou por casar com a minha avó já em terceiras

núpcias) e um convicto espírita que usava a sua esposa que era

médium nessas sessões: a minha avó . Contava o meu pai que ele

conseguia por vezes a materialização dos espíritos, que consiste na

emanação de um fluido branco através do corpo da médium ,

denominado ectoplasma , que toma diversas formas, inclusive a

humana. É neste fenómeno que se baseia a imagem dos fantasmas

como umas figuras etéreas brancas. O meu próprio pai tinha a

capacidade de descobrir se uma pessoa era médium e a colocar em

transe. Soube mais tarde que à boca pequena, chamavam-lhe bruxo

na empresa onde trabalhava .

Obviamente esta minha trilha espiritual levou-me a ler uma

infinidade de livros . E rapidamente passei da literatura meramente

lúdica para a literatura metafísica. Os livros de aventuras de Enid

Blyton , Júlio Verne e principalmente o extraordinário Emilio

Salgari que durante anos me levou a viajar pelas paragens mais

exóticas do planeta em fantásticas aventuras deram inicialmente

lugar ao Lobsang Rampa , Carlos Castaneda, Jacques Bergier e

outros autores esotéricos. Depois procurei nos grandes escritores

ajuda e romances como Fio da navalha, a Ilha e Sidharta ,

ajudaram-me na convicção que se queria a verdade teria que me

inclinar para o místico Oriente (como a maioria das pessoas que

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fazem este percurso) , nomeadamente para religiões como o

Hinduísmo e principalmente o Budismo . E rapidamente cheguei

a conclusão que Deus não existe ! existe é no Universo um tipo

de energia muito especial que anima todos os seres vivos (ideia

panteísta) . Ao fim ao cabo é a vida ! Agora a questão que se punha

era se quando morremos essa energia se dissipa ou se mantém junta

(não perdendo uma certa identidade) porque ela não desaparece

(como lavoisier dizia "na natureza nada se perde tudo se

transforma") e se podemos ter um contacto mais estreito com ela

de forma a conhecer melhor o universo e nós próprios.

Portanto acabei inevitavelmente por chegar à conclusão que o

único caminho espiritual a percorrer resume-se a explorar um

processo de introspecção chamado de meditação que consegue

provocar estados de espírito que proporcionam bem estar físico/

emocional, lucidez, corrigir algumas deficiências de personalidade

(ocupando o papel da nossa imprevisível e cara psicoterapia) e

ganhar algumas habilidades circenses, como dominar a dor e até

privar o organismo de necessidades básicas como comer, dormir e

respirar (obviamente durante algum tempo). Tem-se feito

experiências nos últimos anos, nomeadamente estudado homens

debaixo de uma transe meditativa e recorrendo à imagiologia por

ressonância magnética conseguem verificar que o seu cérebro tem

padrões completamente anormais , para além dos seus sinais vitais

(pulsação e tensão arterial) serem dignos de fenómeno .

Mas mesmo assim ainda persistia uma dúvida pertinente: através

desse controlo da mente consegue-se atingir a tal iluminação que

tanto o oriente apregoa ? A tal iluminação que os budas (homens

santos) pretensiosamente atingiram. Para quem não está

familiarizado com o termo, iluminação é o equivalente de

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santidade no contexto judaico-cristão. A realidade é que se

procurarmos por verdadeiros homens santos simplesmente não os

encontramos. Uma ida à Índia (a Meca espiritual) vai ser

completamente infrutífera como tem sido constatado por muitos ao

longo dos séculos apesar das centenas de pretensos iluminados com

que nos iremos cruzar . Até o imaculado Dalai Lama , talvez a

actual figura pública mais próximo da santidade, tem encoberto o

que se passava naqueles mosteiros budistas ao longo dos tempos :

pedofilia , escravatura infantil e todo o tipo de abusos. E se num

passado recente houve um homem que mais se aproximou dessa

imagem foi Mahatma Gandhi , um homem meditativo , que

professou o principio da não-agressão como um meio de revolução

como o fez Jesus Cristo . Mas curiosamente o inigualável Liev

Tolstói com que ele se correspondia e era um confesso admirador,

também atingiu esse pacifismo sem a bendita meditação ...

Com esta minha tendência espiritualista prejudiquei-me algumas

vezes , a principal quando tentei ingressar na policia judiciária.

Depois de passar as varias provas e de já estar num restrito numero

de candidatos (só faltavam as provas médicas) , se bem me lembro

éramos aproximadamente 70 de um universo inicial de mais de

3000 candidatos, chumbei numa entrevista . Numa prova de grupo

imediatamente anterior referi a fé como forma de ultrapassar o

medo : tinha sido sugerido que escolhêssemos 3 vocábulos

relacionados com o medo e que os debatêssemos . Na entrevista

subsequente o psicólogo perguntou-me o que eu queria dizer com

fé porque ele e a colega não tinham percebido . Expliquei-lhe que

não era a fé religiosa, mas o pensamento positivo que permite com

mais facilidade um homem atingir seus objectivos. O tal

pensamento positivo que os self-made-men possuam - todo o

homem de sucesso é optimista por natureza a par de uma grande

ambição - e que a Sofrologia estuda , mas o ignaro psicólogo

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continuou a matraquear-me até ao fim com perguntas do tipo "mas

você acredita na evolução das espécies ?". Estava marcado e à

saída perguntei-lhe ingenuamente se tinha passado : o individuo

respondeu-me que não me podia dizer mas que havia pessoas com

mais perfil que outras ...

A MEDITAÇÃO VIPASSANA

Após este preambulo que julgo necessário voltemos então a seita

denominada de meditação vipassana . O fundador , um tal Sr.

Goenka, criou um estilo de meditação supostamente seguindo os

métodos tradicionais que o próprio Siddhartha Gautama criou e

usou (o fundador do Budismo) e que tinham ficado perdidos no

tempo . Que ingénuo que fui : só este pretensiosismo é bem

revelador que é mais do que provável estarmos na presença de uma

trapaça . Durante a minha curta estadia - ao fim de 4 dias saí

completamente frustrado e revoltado - descobri que isso era um

engodo porque o que ele criou efectivamente foi uma seita religiosa

com métodos brutais para obter um proselitismo fanático. Eu tive

conhecimento da existência desta seita através dum documentário

que passou na televisão que mostrava o sucesso da sua aplicação

numa prisão americana e na posterior pesquisa na internet dei por

mim a fazer uma inscrição num curso de 10 dias, gratuito, em que

promovia o ensino da técnica (http://www.pt.dhamma.org/). Nesse

site explicava um código de conduta durante esse retiro , que

inadvertidamente não reparei na altura, tal a confiança que já sentia

nessa técnica meditativa e que na realidade consistia na colocação

de um aluno num isolamento quase total e sobre um jugo ditatorial

daqueles monitores. Mas ia muito para além disso como vim

infelizmente a constatar...

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Quando chegamos (fui de boleia com mais 3 participantes porque

eles disponibilizavam os contactos de alguns participantes a quem

precisasse de transporte) foi-nos exigido os telemóveis e as chaves

dos carros. Posteriormente pediram-nos também livros, material

para escrever ou qualquer equipamento que possuíssemos. Até o

tabaco era interdito . Ao fim ao cabo ficávamos apenas com a roupa

que levávamos , saco cama e os artigos de higiene pessoal.

Preenchemos um formulário onde descrevíamos dados pessoais

como doenças , formação académica e profissional, experiencias,

uso de drogas, etc. e indicávamos se existia mais alguém no curso

que conhecêssemos (depois percebi a razão desta informação) .

Nesse documento comprometíamo-nos com a nossa assinatura a

permanecer lá durante todo o curso .

O monte Mariposa (http://www.montemariposa.co.uk/) é uma

herdade isolada (para lá chegarmos temos que ir por uma estrada

de terra batida) a poucos quilómetros de Tavira e constituída por

um edifício principal e várias cabanas dispersas pelo campo

adjacente . É um local bonito, sem luxos mas que está bem

conservado e do conhecimento de quem anda neste mundo da

ciências alternativas porque promove lá todo o tipo de cursos,

retiros e actividades deste âmbito. Durante o retiro Vipassana eles

entregam literalmente a quinta à seita : não existe mais ninguém

neste espaço para além dos alunos e dos membros da organização

vipassana .

Serviram-nos uma refeição ligeira ao entardecer e após um breve

discurso proveniente duma cassete áudio colocada numa mísera

aparelhagem Hi-Fi portátil que indicava as regras de conduta ,

levaram-nos até à porta de uma sala , a sala de meditação de grupo

onde iria decorrer o curso .

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Esta sala acolhedora penso que teria aproximadamente 100 m2 e

estava integrada no edifício principal . Era quadrangular e com

soalho em madeira e duas das paredes eram constituídas por

vidraças que possuíam portas de correr . A parede de fundo estava

forrada a xisto e tinha uma pequena abertura que servia tipo

clarabóia . As vidraças estavam hermeticamente tapadas por

papeis de modo a que fosse impossível observar do exterior. Nas

duas portas de acesso havia cortinas : as mulheres entravam a partir

do interior do edifício e os homens a partir do exterior. Mas havia

ainda uma terceira porta por onde os Professores acediam a esta

sala. Defronte desta entrada colocaram vários panos para

encobrirem esta passagem. Hoje ainda não percebo a razão ...

Fomos chamados um a um pelo nome para entrar e nos sentarmos

num local especifico : havia uma almofada azul onde nos

deveríamos sentar de pernas cruzadas. Deveria ser de pernas

cruzadas com a coluna erecta porque em frente estava um palco

com duas pessoas hirtas (um homem e uma mulher que vim a saber

mais tarde ser marido e mulher, ela Portuguesa e ele estrangeiro)

semi iluminadas na penumbra da sala e na postura habitual de

meditação , com os olhos fechados e supostamente num profundo

transe meditativo . Eram os nossos mestres, os nossos salvadores,

os iluminados ... A atribuição de um lugar especifico na sala era de

grande importância como mais tarde vim a constatar porque

serviria para quando houvesse uma ausência, saberem

imediatamente quem seria a pessoa em falta e actuarem. Também

obviamente sabiam assim os nomes das pessoas e quem eram elas

pelas informações que ingenuamente disponibilizássemos no tal

formulário de várias páginas (eu por acaso escrevi o mínimo não

por desconfiança mas por achar irrelevante) . E a ordem também

tinha sido escrupulosamente definida : os alunos antigos, os que já

tinham feito este curso anteriormente (havia quem já fosse na 8 vez

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!) ficavam nas primeiras filas o que percebi mais tarde que este

critério era de extrema importância porque assim eles serviriam de

exemplo para os novos na sua constante postura rígida e submissa

. Depois de todos termos entrado foi ouvido um discurso ,

novamente em cassete , o tal Goenka num inglês macarrónico do

pior que já ouvi até hoje e posteriormente uma tradução em

Brasileiro . Os tais professores pouco falaram durante a minha

permanência . Ela nunca falou e ele limitava-se a colocar as

cassetes áudio por ordem e fingiam estar a meditar , digo fingir

porque abriam os olhos constantemente, para observar os alunos

e censurar alguém com o seu olhar . O olhar dele era

particularmente severo quando detectava alguém com os olhos

abertos , distraído ou numa postura incorrecta. Em último caso

chamavam o servidor responsável pelos homens ou das mulheres

e sussurrado ao ouvido a ordem que seria transmitida por este ao

aluno em questão e curiosamente como se fosse da iniciativa do

servidor : o professor já não olhava para o aluno censurado , como

constatava porque estava constantemente a abrir os olhos para

tentar perceber o que se estava a passar à minha volta. Portanto os

servidores eram os seus ajudantes (cerca de 10/12 pessoas) que os

iriam ajudar na doutrinação e na confecção da comida para um

grupo de aproximadamente 60/70 pessoas de todas as idades,

nacionalidades , extractos sociais e estilos de vida. De facto o

ambiente era de tal maneira heterogéneo que não havia nenhum

"grupo" que tivesse grande predominância . Penso que havia um

maior número de mulheres (ocupavam uma metade da sala devido

à segregação sexual) e que os Portugueses seriam à volta de 60 %

. Predominava a faixa etária entre os 25 e os 40 anos apesar de se

encontrar algumas pessoas na faixa acima dos 60 anos.

Bem mas o suplicio começaria no dia seguinte e consistia numa

meticulosa lavagem ao cérebro que consistia num isolamento total

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, fome, cansaço extremo e tortura física de modo a obter o tal

proselitismo fanático de modo a que no final do curso os

convertidos efectuassem uma oferenda choruda (soube

posteriormente que no último dia eles iriam solicitar donativos),

publicitassem aquela técnica e porque não , voltarem para um novo

curso como muitos faziam . Agora é vital para perceberem esta

atrocidade o que é uma lavagem ao cérebro

LAVAGEM AO CÉREBRO

Ivan Pavlov entre muitas experiências , nomeadamente o reflexo -

condicionado , observou que quando sujeitados a uma tensão

física ou psíquica prolongada, os cães exibiam todos os sintomas

de uma profunda depressão nervosa. E no seu caminho para o

colapso final, os cães tornam-se anormalmente sugestionáveis.

Quando o paciente se encontra perto do limite da sua resistência

cerebral, é fácil fazerem-lhe adoptar novos comportamentos que

ficam radicados para sempre. O animal em que tais formas de

comportamento foram implantados não pode voltar a ser

descondicionado. O que o animal aprendeu sob o seu estado de

tensão, permanecerá como parte integrante do seu ser. Além disso

, constatou-se que , provocando deliberadamente o medo, a cólera

ou a ansiedade, se aumentava sensivelmente a sugestibilidade do

cão. Se estas emoções forem levadas a um alto ponto de

intensidade, durante um tempo suficiente longo, o cérebro põe-se

em "greve". Quando isto acontece , podem instalar-se, com o

maior sucesso, novos padrões de comportamento . Para o

aspirante a ditador estas descobertas contêm importantes

consequências práticas e já foram usadas em campos de

concentração, por regimes ditatoriais e seitas religiosas !

Page 10: A PROCURA DA VERDADE

Aparecem muitas definições de lavagem ao cérebro nas mais

diversas publicações mas invariavelmente referem que é uma

acção psicológica sobre uma pessoa para eliminar os seus

pensamentos e reacções pessoais, através da utilização da coerção

física ou psicológica. Ás vezes são mais detalhadas e explicam

este processo como uma doutrinação cujo objectivo fundamental é

a alteração de atitudes e crenças de uma pessoa, de forma que aceite

como inquestionável um determinado ponto de vista político ou

religioso e que técnicas como o isolamento, a privação de alimentos

ou de sono, a hipnose, a repetição constante e até mesmo a tortura

física podem ser usadas para quebrar a resistência e aumentar a

dependência do sujeito à lavagem cerebral.

Como Fernando Semedo conta no seu prefácio do livro

"Parasitas de Deus" : "um jovem de 17 anos, filho de uma pessoa

amiga, distanciou-se completamente da sociedade para se envolver numa

seita de origem oriental. Mais tarde veio a ter aproximações a outro tipo

de seitas, não apenas alimentado pelo exotismo oriental mas também por

organizações esotéricas e pela Dianética. Isto sensibilizou-me de um modo

particular para a percepção dos diversos graus e fases da metamorfose

que nele se verificou, com a transformação de inteligente e sensível numa

apatia que lhe suscita um estado de dependência e ilusão de tranquilidade

que ele próprio deixou de racionalizar"

Faz-me lembrar um grande amigo meu de adolescência (durante 3

anos andamos sempre juntos) que se deixou envolver nas drogas

duras e acabou numa comunidade para cura de toxicodependentes

que pertencia a uma igreja/seita religiosa qualquer que já não me

lembro o nome . Tempos mais tarde encontrei-o e estava curado

mas a um preço muito alto : qualquer motivo de conversa servia

de pretexto para citações bíblicas e ainda me lembro que dizia

coisas espantosas tais como a existência de mensagens de Satanás

ocultas em trechos de música Rock . E indicava que facilmente

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poderíamos identificá-las : para tal bastava escutar o disco de vinil

a determinadas rotações (para além das 33 rotações por minuto).

Impressionante ! o meu amigo Rui que eu conheci tinha

desaparecido para sempre !

Mas voltando a Fernando Semedo, este jornalista investigou

várias seitas como os Meninos de Deus, Testemunhas de Jeová,

Mormons, Nova Acrópole, Moonismo, Hare Krishna, Dianética e

Cientologia e invariavelmente chegou à conclusão que estes

grupos religiosos usam a lavagem ao cérebro , destroem pessoas,

instrumentalizam as mentalidades e as aspirações. E afirma :

"Executam de preferência em silêncio, planos meticulosos arquitectados e

dirigidos a atingir objectivos que sonegam. É que nas seitas , a condição

humana não tem espaço, apesar de ser esse um dos temas predilectos que

usam na selecção de adeptos"

Regressando à seita de meditação Vipassana, eles atraem os

incautos através do fascínio do exótico e das filosofias orientais

associado à crença que vamos APENAS aprender uma técnica de

meditação (supostamente praticada por Buda e perdida no tempo

...) durante 10 dias e totalmente gratuito. Imbuídos nesse espírito,

progressivamente somos levados numa espiral de fanatismo e

lavagem ao cérebro em que a maioria deixa-se levar placidamente

. Tenho que reconhecer que de facto eles são exímios : em apenas

10 dias vão tentar fazer o que outras seitas levam semanas ou meses

a faze-lo ! Eu consegui safar-me porque já me tinha sido feita uma

lavagem ao cérebro nos Comandos e posteriormente li muito

material que versava esse tema. Mas mesmo assim ainda lá

permaneci 4 dias ...

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Vamos explicar as técnicas por eles utilizada dividida pelos vários

itens de uma lavagem ao cérebro clássica :

ISOLAMENTO

Ficávamos isolados do mundo! não podíamos comunicar com

ninguém no interior e exterior e inclusive tínhamos cordas em todo

o perímetro do edifício (a poucos metros de distancia deste) para

não nos afastarmos . O espaço exterior que nos era permitido usar

era tão diminuto , apesar do tamanho da quinta, que poderíamos o

percorrer em poucos minutos . Tinham-nos sido retirado as chaves

do carro e o telemóvel. Isolamento total porque tal como estava no

seu folhetos e na sua pagina na internet

(http://www.pt.dhamma.org/) os alunos não poderiam comunicar

com ninguém excepto em casos muito pontuais , era como se

estivéssemos sós no mundo, reparem que nem poderíamos

comunicar por olhares ou gestos :

"Todos os praticantes devem respeitar o "Nobre silêncio" desde o início do

curso até à manhã do último dia completo. Nobre silêncio significa silêncio

de corpo, palavra e mente. Não é permitido qualquer tipo de comunicação

entre os praticantes, incluindo gestos, palavras, notas escritas, etc..."

"Os meditantes devem manter-se dentro do local onde se dá o curso

durante os dez dias. Poderão sair apenas com o consentimento do

professor. A comunicação com o exterior, incluindo cartas, telefonemas e

visitas, não é autorizada antes do fim do curso. Telemóveis, bips e outros

aparelhos electrónicos devem ser entregues aos organizadores. Em caso de

emergência, um amigo ou parente poderá contactar a organização."

"Mantem-se uma completa segregação dos sexos durante o curso. Os

parceiros, casados ou não, não devem ter qualquer contacto durante todo

o curso. O mesmo aplica-se aos amigos ou membros da mesma família."

Page 13: A PROCURA DA VERDADE

Quem nos observasse de longe com uns binóculos ficaria

estupefacto porque não perceberia o nosso comportamento :

homens (as mulheres tinham outro espaço para frequentar) que nos

breves intervalos das ininterruptas e massacrantes sessões de

meditação deambulavam no exterior num total silêncio e

abstracção - o nobre silêncio . Ninguém interagia, inclusive os

servidores estavam sempre atentos se havia algum descuido, mas

também não era preciso porque todos nós entravamos naquele jogo

pensando que o isolamento era necessário para se conseguir a

plenitude da técnica administrada. Posso-vos dizer que quando saí

e quis desmascarar aquela prática miserável às pessoas da minha

camarata (eram 2 quartos com 12 alunos) não me ligaram e nem

tão pouco se dignaram olhar-me, talvez pensando que saía por falta

de identificação com aquela prática ou mesmo fraqueza por não

aguentar aquele duro regime . O único que comunicou comigo foi

Hermínio , das poucas pessoas com quem tinha comunicado no dia

da chegada e que me tinha confessado que no passado tinha estado

envolvido com os Hare Krishna em Lisboa... E só comunicou

comigo porque fui me despedir dele e alertá-lo para o que se estava

a passar . Acabou por me responder laconicamente "que aquilo até

lhe estava a fazer bem" . Ele nessa manhã, uns momentos antes ,

tinha desmaiado na sala de meditação : caiu da cadeira batendo com

a rosto no chão o que lhe provocou dois grandes hematomas na

testa ... Era o único homem que estava numa cadeira, um luxo

extraordinário naquele ambiente . Havia duas a três mulheres em

cadeiras na sala . No entanto havia mais três que estavam

encostados à parede . Um deles um tipo baixo, típico portuense, até

tinha um fato de treino que dizia "invicta", sempre de chinelos de

quarto , cabelo muito bem penteado e um ar radiante a partir do

momento que o deixaram encostar-se à parede . Havia no grupo

uma mulher em avançado estado de gravidez.

Page 14: A PROCURA DA VERDADE

Lembro-me que havia um estrangeiro que parecia um autentico

robot. Deveria já ter feito aquele curso várias vezes porque estava

na fila da frente e a sua postura muita erecta e a sua abstracção total

do ambiente era impressionante. Tinha constantemente o seu olhar

ou no chão ou no vazio e era como se estivesse efectivamente só !

Eu sempre olhei para as pessoas a tentar identificar reacções, apesar

de não comunicar minimamente - após o contacto visual virava o

meu olhar - mas havia também outros alunos que o faziam (raros)

.

PRIVAÇÃO DE ALIMENTOS

O alimento era constituído por um pequeno almoço às 4h30 da

manhã . O almoço servido às 11h00 e só voltaríamos a comer mais

qualquer coisa por volta das 17h00 : apenas um chá acompanhado

por 1 ou 2 peças de fruta . A comida que era rigorosamente

vegetariana, apanágio destas seitas de índole oriental , estava

colocada numa mesa, onde nós em silencio total nos servíamos em

self service. Portanto não jantávamos, e essa informação não estava

indicada no site , informando erroneamente que esta limitação era

só para os mais antigos :

"Existem três preceitos adicionais que os praticantes mais antigos (aqueles

que já tenham participado num curso de nove ou dez dias de S.N. Goenka

ou um dos seus professores-assistentes) devem cumprir:

Abster-se de entretimentos sensoriais e uso de adornos.

Abster-se de usar camas altas ou luxuosas.

Abster-se de comer depois do meio-dia.

Page 15: A PROCURA DA VERDADE

Estávamos sem comer desde as 11h até as 4h30 da manhã do outro

dia , excluindo o frugal lanche : mais de 17 horas de jejum !

SONO

Como podem constatar na pagina na internet

(http://www.pt.dhamma.org/) o dia começava às 4h00 e terminava

às 22h00 . Seriam 6 horas diárias de sono na melhor das hipóteses

mas a realidade era outra . Seriam 6 horas se a a meditação final

acaba-se às 21h30, o que tenho as minhas mais sérias duvidas , mas

não tinha relógio para o confirmar ... Mas ainda havia outra

situação : eu, como muitos outros aproveitava o período depois das

22h00 para tomar banho e ainda bastaria alguma insónia para este

período de descanso ser dramaticamente curto.

A noite anterior à minha saída passei-a em claro , sem dormir um

único segundo. Não sei se foi pelos nervos de ter descoberto o que

se passava ali e na conjectura do que haveria de fazer para

incriminar estes fanáticos (não seria fácil porque não existiriam

vitimas confessas) se haveria outra razão : o meu colega da cama

ao lado (o tal portuense) passou a noite a acender a lanterna para

ver as horas no seu relógio (cheguei a perguntar-lhe a horas sem

sucesso) e o Hermínio que estava um pouco mais longe ouvi-o por

várias vezes suspirar e mexer-se na cama numa óbvia insónia . Será

que colocaram alguma coisa na comida ? é só uma suposição mas

não me admiro ...

DESGASTE FISICO

Page 16: A PROCURA DA VERDADE

Só por si o pouco alimento vegetariano e as poucas horas de

descanso levariam a um desgaste físico iminente. Se a isto

associarmos uma carga horária diária simplesmente esmagadora o

cansaço extremo irá instalar-se em poucos dias . Verifiquem com

os vossos próprios olhos em http://www.pt.dhamma.org/ :

4:00 Despertar

4:30-

6:30

Meditar na Sala de Meditação ou

no seu quarto

6:30-

8:00 Pequeno-almoço

8:00-

9:00

MEDITAÇÃO DE GRUPO NA SALA

DE MEDITAÇÃO

9:00-

11:00

Meditar na Sala de Meditação ou

no seu quarto, segundo conselho

do professor

11:00-

12:00 Almoço

12:00-

13:00

Descanso, e entrevistas com o

professor

13:00-

14:30

Meditar na Sala de Meditação ou

no seu quarto

14:30-

15:30

MEDITAÇÃO DE GRUPO NA SALA

DE MEDITAÇÃO

15:30-

17:00

Meditar na Sala de Meditação ou

no seu quarto, segundo conselho

do professor

17:00-

18:00 Lanche e descanso

18:00-

19:00

MEDITAÇÃO DE GRUPO NA SALA

DE MEDITAÇÃO

Page 17: A PROCURA DA VERDADE

19:00-

20:15

Palestra do professor na sala de

Meditação

20:15-

21:00

MEDITAÇÃO DE GRUPO NA SALA

DE MEDITAÇÃO

21:00-

21:30 Período de perguntas na sala

21:30 Recolher e apagar luzes

Desde as 4h00 da manhã até às 22h00 não parávamos tirando a 1,5

hora do pequeno almoço , mais as 2 horas para o almoço e 1 hora

para o lanche . Perfaz 4,5 horas mas se subtrairmos pelo menos 1,5

horas que levávamos no refeitório durante essas refeições

(estávamos numa fila até chegar a nossa vez de servirmo-nos e

ainda tínhamos que lavar a nossa louça) , sobram-nos 3 horas de

descanso. Somando os curtos intervalos de 5/10 minutos entre

actividades (actividades é um eufemismo porque era

exclusivamente uma actividade : mantermos sentados no chão em

posição de meditação com os olhos fechados concentrando-nos

num objectivo, como por exemplo sentir a respiração a passar nas

nossas narinas) estes não perfaziam de certeza 2 horas diárias .

Ficamos das 18 horas diárias com um descanso de 5 horas o que dá

quase 14 horas de actividade diária contrário ao que eles

informavam :

"O dia começa às 4 horas da manhã com um gongo para despertar e

continua até às 21 horas. São cerca de 10 horas de meditação ao longo do

dia, com intervalos e períodos de descanso regulares"

E que actividade era essa ?

Page 18: A PROCURA DA VERDADE

O primeiro dia foi exclusivamente concentrarmo-nos na respiração

na zona do nariz . O segundo dia para detectarmos um ponto na

zona do nariz onde a respiração tocava . O terceiro dia tínhamos

que tentar sentir uma sensação qualquer nesse ponto que seria entre

o lábio superior e as narinas. Existem outros tipos de meditação ,

como deixar circular os pensamentos livremente, concentrarmo-

nos num tema , tentarmos construir na mente uma imagem

pormenorizada de uma divindade, mas ali o tipo de concentração

era só um : concentramo-nos em supostas sensações corporais que

tentávamos esforçadamente descobrir .

No terceiro dia comecei a desconfiar daquelas meditações porque

não sentia rigorosamente nada , apesar de andar a meditar de manhã

à noite , e verifiquei que com os outros não era muito diferente : a

uma determinada altura o Professor chamou-nos lá a frente (em

grupos de 4 pessoas) e perguntava um a um , sussurrando, se

tínhamos tido alguma sensação . As sensações sentidas pelos meus

colegas , ao contrário de mim que informei que não sentia

rigorosamente nada , eram as mais banais possíveis : sentiram

calor, ou uma comichão ou coisa que valha . Como devem calcular

tudo isto se passava num ambiente de grande silencio e solenidade.

O quarto dia falavam em sentir sensações pelo corpo todo , isto é,

concentrávamo-nos em diversas zonas do corpo e tentaríamos

sentir sensações nesses locais. Finalmente já diziam que a dor

servia como sensação ou mesmo o roçar da roupa no corpo !

Elucidativo ...

Há que também que perceber que a actividade "Meditação no seu

quarto" não era praticado por quase ninguém ! eu era dos muito

poucos que depois do despertar e antes do almoço aproveitava esse

Page 19: A PROCURA DA VERDADE

período para ir para o quarto meditar numa posição mais

confortável : com as costas encostadas à cabeceira da cama . No

entanto os servidores passavam nos quartos para verificar se os

alunos estavam a meditar ou se estavam a descansar ou dormir.

A pouco a pouco eles foram aumentando o grau de dificuldade

relativamente ao tempo de imobilização no chão e acabou por ser

mera tortura ! no dia em que saí tinham colocado uma nota no nosso

refeitório que informava que para além do programa normal cada

aluno tinha que permanecer 3 horas por dia em total imobilidade

no chão e com as costas direitas. Também tinham afixado uma

folha a tranquilizar os alunos explicando que o que faziam não era

tortura mas algo necessário à evolução . Curioso terem colocado na

manhã posterior à noite em que confrontei o Professor

relativamente a essa questão ...

Ao fim de poucas horas no primeiro dia apercebi-me que estar

sentado no chão com as pernas cruzadas era um verdadeiro suplicio

e julguei que isso se devia a minha falta de prática de meditação

nessa posição (com as técnicas de Maharaji a posição do corpo é

irrelevante) e que isso me iria distrair do objectivo que era a

concentração em algo proposto.

Fiquei preocupado e fui falar com o Professor no tal período

permitido (das 12h às 13h) e para tal tive que escrever o meu nome

numa lista que estava afixada no refeitório masculino que continha

os nomes de quem tinha duvidas a esclarecer.

Nesse dia depois de chamaram-me (chamavam à ordem) o Mário

indicou-me uma almofada azul no chão para me sentar que presumi

de pernas cruzadas em frente aos Professores que estavam no tal

palanque , também eles sentados em posição de meditação. Mário

era o servidor responsável pelos homens e parecia-se muito com o

Page 20: A PROCURA DA VERDADE

nosso Jorge Palma , tinha os pés à Charles Chaplin e era de um

servilismo abjecto. Lembro-me de quando o vi a primeira vez ,

quando cheguei ao Monte Mariposa, de comentar que ele tinha um

ar de lunático. Parecia sempre que não tinha dormido e era ele que

o Professor usava para transmitir as suas ordens e se tivéssemos

algum problema seria a ele que comunicaríamos.

Olhando de baixo para cima , numa óbvia posição de submissão,

expliquei a minha preocupação : não tinha tido grandes progressos,

aliás eram quase nulos, e imaginava que a razão estava na

dificuldade em concentrar-me porque ficava absorto no mau estar

provocado pela posição de sentado em que passava o dia. Ele

tranquilizou-me dizendo que isso era normal e com o tempo as

dores passavam.

Voltei no segundo dia , poucos tiravam duvidas, porque a lista

continha poucos nomes, um dois ou três no máximo. Preocupado

porque não tinha sentido grande coisa novamente - a respiração a

passar tinha que tocar num ponto determinado - e ele uma vez mais

tranquilizou-me : se eu sentia pelo menos o ar que corre nas narinas

? se o sentia bastava ! mas quem não sente ?! dois dias para sentir

apenas o ar a passar pelas narinas ...

Neste segundo dia comecei a verificar que o mal estar era

generalizado pois muitas pessoas mexiam-se constantemente e nos

rostos estava estampado o sofrimento. Continuava paulatinamente

a abrir os olhos para analisar o ambiente em meu redor . Na altura

fiquei tranquilizado e até contente : afinal não era o único .

A uma determinada altura senti-me vitorioso : os Professores

saíram (saiam todos os dias aquela hora , na surra ,

presumivelmente para descansarem do massacre daquelas 3 horas

Page 21: A PROCURA DA VERDADE

seguidas) e deixavam todo o grupo em meditação até à hora do

lanche. Havia a possibilidade de levantar e sair (nesse dia

comprovei-o na sequencia deste exercício) mas quase todos

queriam mostrar que conseguiam permanecer naquela posição o

máximo de tempo possível e seguir o exemplo dos servidores que

ocupavam o espaço contíguo ao palanque. E contendo o mal estar

que se apoderava do corpo, que abrangia os rins, as costas e as

nádegas , deixei-me estar até que um a um começaram a ceder e a

sair.

Alguns voltavam depois, mas era um erro : facilmente claudicavam

novamente. Acabei por ficar com meia dúzia de homens na sala -

os outros tinham desistido . E curiosamente até os mais antigos

tinham cedido . Até o fanático robot . Tínhamos estado 4 horas

nisto e ainda faltava todo o período após o lanche .

Comecei entretanto, como muitos outros, a descobrir manhas : era

preferível manter uma posição estoicamente e só mudar ao fim de

uma hora para outra posição. Através da observação percebi que

havia mais duas posições que podia alternar : com as pernas

encolhidas e encostadas ao peito e uma outra com as pernas

dobradas para trás.

Descobri igualmente que se colocasse varias almofadas de modo a

ficar mais alto isso diminuiria consideravelmente o desconforto. Os

alunos antigos , os que estavam nas linhas da frente, usavam

estoicamente apenas uma almofada e só isso conferia-lhes um

respeito adicional.

Entretanto começaram a aparecer pessoas sentadas em cadeiras e

outras com as costas encostadas à parede do fundo e mais tarde

soube que só em ultimo caso (depois de muitos queixumes ) é que

eles cediam e permitiam isso. E de facto era uma pequena minoria.

Page 22: A PROCURA DA VERDADE

Do grupo de 60 , 70 pessoas havia no quarto dia umas 8 nestas

condições.

E aí despertei e comecei a perceber da incoerência : se a dor que

nos consumia durante todo o dia naquelas posições era necessário

à aprendizagem daquela técnica (julgava eu para tentar perceber

aquilo) e se havia pessoas sentadas confortavelmente esse

propósito estava completamente ausente para elas !

E elas invariavelmente mostravam um ar patético de felicidade por

aquela graça e não estavam minimamente preocupadas pelo facto

de o mau estar ter sido amenizado o que revelava irrefutavelmente

que não lhes tinham transmitido que a dor era necessária aquele

propósito.

Era uma contradição que pelos vistos passava despercebida aquele

pessoal . E no quarto dia revelou-se em toda a dimensão o que eles

efectivamente pretendiam : infligir o máximo de sofrimento para

conjuntamente com o cansaço provocar o colapso anímico

necessário à lavagem cerebral !

Depois de esgotados por um dia todo nestas posições excruciantes

, já à noite e no pretexto da introdução de uma nova técnica de

meditação pediam a imobilidade total , com olhos fechados e

coluna erecta durante 2 horas ! no final a cassete áudio explicava

que a posição erecta (o que dificultava exponencialmente o

exercício) era necessário e que mais para a frente explicariam a

razão. Havia gemidos surdos na sala e a minha rebeldia fez me abrir

os olhos varias vezes e verifiquei que obviamente alguns já tinham

mudado de posição para amenizar aquele sofrimento, como os 2

alunos que estavam a minha frente.

Após aquele suplicio deram-nos um intervalo curto (uns 5 minutos

) e chamaram-nos novamente para a sala. Agora a menina brasileira

Page 23: A PROCURA DA VERDADE

da cassete pedia para ficarmos em total imobilidade uma vez mais

durante 1 hora , mas a posição era facultativa . Fez-se me luz : afinal

a coluna erecta era só para aumentar o sofrimento , porque agora ,

inexplicavelmente não era necessário . Lembrei-me

automaticamente de uma prova duríssima de "prisioneiros de

guerra" que é feita nos Comandos : colocam uma pessoa em

posições desconfortáveis e com a cabeça tapada somos obrigados

a permanecer nessa posições durante horas . Esta era uma das

provas mais duras dos Comandos e era rigorosamente o que eles

estavam a fazer .

Obviamente neste momento marimbei-me para a meditação e

mudei de posição varias vezes. Mas mesmo assim foi muito

doloroso. Estivemos sentados no chão praticamente o dia todo em

posições totalmente desconfortáveis. Quando terminou a sessão de

tortura as pessoas levantavam-se com muita dificuldade e com um

ar de grande sofrimento . Deram-nos mais um curto intervalo e

regressaríamos para o discurso da praxe : a cassete durante mais de

uma hora (não sei o tempo porque como já disse não tinha relógio)

a falar mal de outras religiões e a explicar que a doutrina que

professavam era o único caminho.

A dissertação era muito básica e saltavam de um assunto para outro

sem aparente nexo, os estrangeiros passavam para outra sala onde

ouviriam em inglês pela boca do próprio Goenka e os outros

ouviriam a respectiva tradução em brasileiro. Escusado será dizer

que era horrível ficar sentado no chão , apesar de já não ser imóvel,

aquela hora da noite : estávamos todos estoirados e aquilo era um

suplicio ! E uma vez mais fez-me lembrar o que os Comandos

faziam : quando já estávamos extremamente cansados levavam nos

ao cinema de Santa Margarida para vermos filmes de guerra.

Lembro me do suplicio : não tínhamos posição nas cadeiras

desconfortáveis de madeira se alguém conseguia adormecer (um

Page 24: A PROCURA DA VERDADE

verdadeiro milagre naquelas condições ) logo apareci alguém para

dar um valente carolo na cabeça da vitima .

Cá fora no exterior, depois da sessão do discurso, um aluno (nessa

noite descobri que se chamava Rogério) passou-se e quebrando o

"nobre silêncio" foi ter com o Mário e na presença de outros alunos

exclamava : "vocês estão a abusar ! eu tenho uma hérnia discal e

já não me aguento ". Tinha reparado que durante o tal discurso

habitual ele não aguentava mais o mal estar e estendeu as pernas ,

sendo logo corrigido pelo Mário a pedido do Professor. Ele estava

duas filas à minha frente e já tinha reparado nestes dias que ele era

um dos poucos que ainda olhava para os colegas e principalmente

sorria - portanto ainda não estava formatado . O meu lado

subversivo aproveitou logo a oportunidade para me aproximar e

tentar de alguma forma criar mais confusão de forma a

desestabilizar aquela treta. Mas o esperto Mário com o dedo na

boca mandava-lo falar baixo para os outros não o ouvirem e quando

me aproximei fui logo escorraçado mas ainda tive tempo de mandar

uma piada ao Rogério (mais um a quebrar o "nobre silencio") :

"parecia que estavas na praia !" Foi instantâneo , desatamos às

gargalhadas e eu tive que fugir até onde podia, isto é, até onde as

cordas nos deixavam , e no limite daquela prisão, naquela noite,

irrompi às gargalhadas como à muito não dava. Que prazer ! Foi

muito difícil parar. Aquela solenidade toda associada à treta que

eles nos queriam impingir também tinha um lado muito cómico e

lembro-me que já tinha regressado à sala de meditação e foi uma

dificuldade tremenda não irromper novamente às gargalhadas.

Penso que foi um momento muito critico para aquela organização

quando demos aquelas risadas estridentes mesmo em cima e em

frente da porta (ainda aberta) para a sala de meditação onde ainda

estava muita gente e os ilustres Professores e servidores : não há

nada mais perturbador e subversivo que o riso !

Page 25: A PROCURA DA VERDADE

No final do dia existe sempre a possibilidade de interpelar os

professores (como está no horário) e eu estava com a esperança que

o Rogério o fizesse para me meter no barulho e desmascara-los à

frente de todos . Que vontade que eu tinha ! Mas ele não o fez

porque hesitou o que foi suficiente para a oportunidade ter-se

gorado : uma vez mais as pessoas após a pergunta do Professor "se

havia questões..." começaram imediatamente a levantarem-se sem

tão pouco deixar o Professor terminar a frase para irem finalmente

dormir. A razão das perguntas serem no final era obviamente para

elas nunca serem colocadas em grupo . Era preferível serem feitas

sem ser na presença dos outros durante o dia às 13h00. Mas

curiosamente reparei que enquanto as pessoas saiam da sala, desta

vez aproximaram-se pessoas dos professores e o Rogério também

o fez. Aquilo tudo estava a ferver dentro de mim e também dirigi-

me para lhe colocar as questões que fervilhavam na mente nas

ultimas horas . Depois de atender o Rogério e mais um individuo

sentei me na tal posição subserviente (lembro me que estava

nervoso) e disse-lhe que estava confuso porque não percebia para

que servia a dor no meio daquilo tudo . Eu já começava a desconfiar

do verdadeiro propósito mas no fundo ainda havia uma réstia de

esperança que ele me desse uma resposta satisfatória. Mas o

individuo deve ter sido apanhado de surpresa porque deu-me uma

resposta estúpida : "dor era uma sensação como outra qualquer" .

E eu respondi : " uma sensação qualquer !? passamos o dia todo

em sofrimento ... não estou a perceber ... e mais : se existe algum

fundamento para isso não percebo como estão pessoas sentadas

em cadeiras ou encostadas à parede quando neste caso o

sofrimento é quase ausente". Quem me conhece sabe que sou

agressivo e falo muito alto e ainda havia pessoas atrás de mim para

colocarem questões . Tinha havido momentos antes as inesperadas

gargalhadas e agora estava alguém a confrontá-los publicamente .

Page 26: A PROCURA DA VERDADE

O tipo contrapôs e disse que quem estava nessa situação (cadeiras

e encostados à parede) também sofria o mesmo. Azar o dele porque

eu estou habituado a passar o dia todo sentado com as pernas

cruzadas e com as costas encostadas ao sofá com o meu portátil ao

colo e portanto retorqui que isso não correspondia a verdade. Por

fim o Professor já muito incomodado e ela (uma figurinha pequena

muito morena , inicialmente até pensei que fosse indiana) a mexer-

se nervosamente , atendendo à minha obstinação (continuava a

dizer que não percebia !) acabou por me despachar dizendo para

amanha ao meio dia vir ter com ele .

SUGESTÃO

A cassete que eles estavam sistematicamente a meter desde a

madrugada até ao deitar tinha o corolário e a sua materialização às

19h00.

"Todas as noites, às 19 horas, há uma palestra em vídeo do professor, S.N.

Goenka, que fornece um contexto para os meditadores compreenderem as

suas experiências do dia"

Esta palestra não era dada pelo Professor em sala mas mais uma

vez por uma cassete áudio. Só neste momento era efectuada a

separação entre os Portugueses e os estrangeiros que passavam para

outra sala onde ouviam o interminável discurso doutrinário na

língua original . Era um suplicio ! esperávamos que aquela

lengalenga terminasse rapidamente e mexíamo-nos e remexíamo-

nos no chão já sem posição de estar .

Page 27: A PROCURA DA VERDADE

Até ao quarto dia qualquer pessoa ministraria aquele curso porque

bastaria estar sentado em posição de meditação e ir passando as

cassetes áudio em momentos apropriados . E como já referi , apesar

de nos panfletos eles não discriminarem outras religiões,

"Os benefícios produzidos pela meditação Vipassana têm sido

experimentados por pessoas das mais diversas crenças religiosas, sem

terem tido qualquer conflito com a fé que professam"

"O caminho todo (Dhamma) é um remédio universal para problemas

universais e não tem nada que ver com qualquer religião organizada ou

sectarismo. Por isso, pode ser praticado livremente por todos em qualquer

lugar ou em qualquer momento, sem criar conflitos entre raças, castas ou

religiões, provando ser igualmente benéfico para todos e cada um"

a palestra consistia em enaltecer aquela doutrina oriental em

detrimento de outras religiões que desprezavam descaradamente

chegando mesmo a chamar idiotas às pessoas que as seguiam .

Sugeriam uma filosofia de vida e explicavam detalhadamente o que

deveríamos fazer e ser na vida de uma forma quase infantil . Aqui,

logo no segundo dia comecei a desconfiar que afinal não vínhamos

para aprender um método de meditação, mas sim tínhamos caído

no seio de uma seita religiosa. O timing desta palestra , ao final do

dia , não era ao acaso : já com sono e extremamente cansados é um

momento propicio para sugestionar um cérebro.

SAÍDA

Na última noite não dormi nada a pensar no que se tinha passado .

Já imaginava aqueles tipos a darem drogas nos dias seguintes

Page 28: A PROCURA DA VERDADE

porque seria a única forma plausível para as pessoas saírem dali

satisfeitas porque ao fim de 4 dias não se tinha passado nada, bem

pelo contrário, e a Guida (que tinha ido de boleia comigo) tinha

dito que aquilo ao fim de uns dias era espectacular ... a verdade é

que bastaria uma quantidade mínima de um alucinógeneo qualquer

para aquele pessoal que estava a ficar altamente sugestionável

começar a sentir todo a panóplia de sensações e endeusarem

aqueles Professores semi-iluminados que tanto os queriam levar à

iluminação ...

Após o despertar das 4h00 foram todos meditar para a sala de

meditação apesar de haver a possibilidade de o fazerem no quarto

numa posição muito mais confortável e eu uma vez mais fiquei no

quarto e aproveitei para procurar pelo Rogério . Encontrei-o ainda

deitado e estava muito chateado : dizia que tinha uma hérnia e que

não se conseguia levantar . Expliquei lhe que eles estavam a fazer

meticulosamente uma lavagem ao cérebro e tudo não passava de

uma estratégia para nos meterem uma cassete no cérebro. Apesar

de muito revoltado via-se que não acreditava na minha teoria .

Depois de termos falado durante mais de meia hora à beira da sua

cama e sempre com a preocupação que aparece-se alguém

(estávamos às escuras e tínhamos apenas a luz da minha lanterna

acesa) decidimos o seguinte : ele , se não lhe dessem uma cadeira

nessa manhã ia-se embora ou fugia se não o deixassem. O

Professor na noite anterior no tal episodio que referi tinha-lhe

negado diplomaticamente uma cadeira e ele sabia que já tinha sido

recusado a outros (não me lembro de como ele o soube ) . Eu disse-

lhe que estava a pensar ir embora no entanto uma decisão já tinha

tomada : como não tinha dormido nada , iria tomar o pequeno

almoço e depois dormir e logo decidiria se me iria embora ou não.

Page 29: A PROCURA DA VERDADE

Teria que pedir essa autorização também. Foi o que fizemos os 2

quando encontramos o Mário na sua vistoria matinal às camaratas

para ver se estávamos a dormir ou a meditar ! explicamos as nossas

exigências (eu exagerei dizendo que estava com enxaquecas e com

uma infecção urinaria, isso era verdade porque passei a noite toda

a deslocar-me à casa de banho) e ele pedindo constantemente para

falarmos baixo disse que ia falar com o Professor.

Quando estava na fila silenciosa para o pequeno almoço apareceu

novamente o Mario pedindo para o acompanhar : depois de

afastarmo-nos do refeitório disse-me delicadamente que o

Professor deixava descansar-me mas tinha que ir às sessões de

meditação de grupo . O quê ? então não podia ir-me deitar ? disse-

lhe que não aceitava essa imposição e que já decidia o que fazer.

Fui tomar o pequeno almoço e depois regressei ao quarto e

impulsivamente arrumei as minhas coisas . Fui ter com o Rogério

ao outro quarto (estavam todos deitados a descansar) e comuniquei-

lhe alto e a bom som de modo a que os outros ouvissem a minha

decisão , acrescentando que estávamos a ser vitimas de uma

lavagem ao cérebro . Ele informou que ficava porque em principio

lhe davam uma cadeira ... despedimo-nos e escusado será dizer que

os outros não me ligaram peva.

Estava preparado a se não me deixassem sair (tinham o meu

smartphone) partir para a violência e começar ao pontapé àquela

porcaria toda ! O meu desvario estava ampliado pelo facto de não

ter dormido . Apesar de serem muitos aparentemente não me

pareciam tipos violentos . Fui ter com o Mário já com o saco feito

e expliquei lhe que me ia embora. Ele não se mostrou surpreso e

disse que estava bem , mas que primeiro tinha que ir falar com o

Professor . Veio dez minutos depois e acompanhou-me até à sala

Page 30: A PROCURA DA VERDADE

de meditação onde o Professor estava sozinho à minha espera e

quando me aproximei apontou-me a almofada no chão para me

sentar . Disse-lhe bruscamente e agressivamente que não me

sentava mais aos pés dele ! o Mário fez menção de se aproximar de

mim, mas ele exclamou : "tudo bem Mário ! saí e deixa-nos a sós

" . Depois do Mário ter saído da sala disse : "Então se quer assim

eu falo de baixo para cima. O que se passa ? ". Ele continuou

sentado e eu fiquei de pé - a posição de submissão tinha-se

invertido - e expliquei-lhe irritadamente que sabia o que eles

estavam a fazer ali , lavagem ao cérebro, e que a mim não a fariam

de certeza ! Desmascarei detalhadamente todos aqueles métodos.

Eu estava nervoso e furioso , agravado por não ter dormido nada

nessa noite e o meu blusão de cabedal e as minhas botarras

Salomon devem ter transmitido uma sensação de ameaça porque o

tipo ficou nervoso apesar da sua expressão facial não transparecer

nervosismo mas as palavras traiam-no porque já saiam

entarameladas. Não me tentou demover a sair, percebeu que se não

saísse iria arranjar problemas no grupo como já o tinha feito na

noite anterior com as gargalhadas e quando o questionei ao final do

dia, e apenas disse que eu estava enganado mas como estava

resoluto na decisão que me deixava sair ... Fui tão estúpido, não lhe

dei resposta aquela de me deixar sair ... no fim pediu-me para não

ficar perto da sala de meditação para os outros não me verem. E

respondi-lhe para ficar descansado que ninguém me viria porque

ia-me embora .

Um servidor muito simpático , o Pedro, que ia até Tavira às

compras deu-me boleia de modo a apanhar o autocarro para Lisboa

e na conversa que tivemos durante o caminho e já na estação na

cidade , explicou-me que a Vipassana (eles pronunciavam vipá

xana) tinha-o livrado das drogas . Então percebi que estes métodos

brutais poderiam até ser úteis à sociedade para casos drásticos

Page 31: A PROCURA DA VERDADE

como toxicodependentes e criminosos (daí o tal documentário que

vi numa prisão americana) porque conseguem alterar os

comportamentos destrutivos destes indivíduos transformando-os

em pessoas amorfas.

CONCLUSÃO

Toda a minha experiencia religiosa infelizmente leva-me a concluir

que a falsidade e hipocrisia que existe nas religiões ocidentais

repete-se inexoravelmente nas orientais. É tudo a mesma porcaria

como o célebre documentário "zeitgeist" que circula na Internet

tenta demonstrar (apesar de provavelmente possuir alguma falta de

verdade , exagero e até sensacionalismo). A religião

inequivocamente funciona como o ópio do povo porque vai

transforma-lo para uma maior docilidade e apatia .

Existem casos paradigmáticos , como o mundialmente famoso

escritor Paulo Coelho que tanta gente aprecia e tantos livros vende

. Na realidade ele usa o mundo esotérico apenas para vender . Ele

não acredita em nada daquilo e é tão fácil percebe-lo . Por exemplo

no celebérrimo romance "O Alquimista" , que já vendeu milhões

de cópias em todo o mundo , o protagonista decide partir em uma

busca do "auto-conhecimento" e no final a conclusão a que chega

é tão estúpida que fiquei incrédulo como aquele livro teve tanto

sucesso. De facto o livro prendeu-me até ao fim (ele mistura o

mundo esotérico numa fluidez de escrita que nos envolve

magistralmente) mas não passa de um grande impostor.

Lembro-me também de outro campeão de vendas o controverso

Osho, talvez dos poucos homens que descreveram o fenómeno

Page 32: A PROCURA DA VERDADE

"iluminação", e vemos que não passa de um homem de grande

lucidez , que admiro muito , mas que está a milhas de distancia da

santidade.

Também pratiquei yoga numa colectividade (casa do povo de

Corroios) durante aproximadamente seis meses e com um total

insucesso. Lembro-me que às vezes alguns dos alunos mais antigos

incrivelmente adormeciam (ouvíamos ressonar ruidosamente)

durante a chamada meditação transcendental . Meditação

transcendental é quando o instrutor nos guia e sugestiona durante

esse processo introspectivo através de um discurso premeditado

sempre acompanhado de musica angelical . Do tipo : " agora

imagine-se que está em paz e num jardim cheio de pássaros a

chilrear e lindas flores ... "

Uns anos mais tarde , numa sessão igualmente de meditação

transcendental , que pagávamos , o instrutor no final perguntava a

cada um o que tínhamos vivenciado e havia descrições

mirabolantes dignas das fabulas de La Fontaine . Eu , minha

namorada e filha não tínhamos sentido rigorosamente nada ! Eu

penso que a explicação para esta dicotomia é que a imaginação de

algumas pessoas é tão pródiga que cria sonhos e sensações que são

interditas às pessoas mais terra à terra. E é devido a este factor que

estas práticas ainda atraem pessoas porque ao fim ao cabo a

utilidade prática é equivalente a uma oração na sua sugestão do

nosso subconsciente. Não existe mais nada para além disto .

Mais tarde obtive uma gravação áudio de meditação

transcendental que dispensava a presença do instrutor e

frequentemente praticava. E acabei de descobrir se adormece-se

Page 33: A PROCURA DA VERDADE

levemente durante a sessão e acorda-se antes do fim da gravação

ficava bem disposto fruto da sugestão positiva .

Tenho contactado ao longo do tempo com pessoas ligadas ao

mundo religioso/esotérico e todas são normalíssimas e que não se

distinguem das demais apesar das suas praticas e rituais religiosos

. Paradoxalmente muitas vezes são pessoas extremamente

egocêntricas e infelizes . Parece que procuram na religião o consolo

que a vida e o seu carácter não lhes dá. Será que eu também o fiz ?

THE END