A necessidade da confirmação da fé
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A474
Alves, Silvio Dutra
A necessidade da confirmação da fé./ Silvio
Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2016.
68p.; 14,8x21cm
1. Cristianismo. 2. Fé. 3. Vida Cristã. I. Título.
CDD 207
CDD
230.227
Sumário
Confirmado e Vacilante
4
Firmeza 13
O Aprovado
18
O Que é Ser Confirmado em Toda Boa
Obra e Palavra
21
Permanecei Firmes
41
Confirmação e Aprovação
57
Firmeza e Constância
62
Aprovados em Santificação
64
4
Confirmado e Vacilante
Diante de Deus e de sua Palavra, todas as
pessoas, segundo a Bíblia, possuem nomes qualificativos, que podem variar de pior para
melhor, e vice-versa, dependendo do modo em
que são encontradas quanto ao seu caráter e
comportamento.
Veja o caso de Cefas (caniço agitado), a quem Jesus deu o nome de Petros (pedra); indicando a
mudança de um caráter que possuía a fraqueza
do caniço, para um que possuía a firmeza da
pedra.
Daqui em diante, estaremos apresentando o
diálogo entre dois personagens a quem chamamos, respectivamente, de Vacilante e
Confirmado, através do qual poderemos
entender muitas coisas relativas a este assunto:
Vacilante: Você não acha que é uma grande
presunção da sua parte usar este nome de Confirmado?
Confirmado: De modo algum. Afinal já usei o nome de Vacilante, e muitos outros
qualificativos negativos, apesar de estar sujeito,
se possível fora, a perder o meu nome atual e voltar a ter o de Vacilante, caso venha a
apostatar da fé. Este nome recebi e a ele tenho
feito jus porque me encontro agora firmado
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juntamente com a graça na Rocha que é Jesus, e
me comporto segundo a Sua vontade e Palavra,
que cheguei a conhecer a duras provas, ao longo
de minha vida.
Vacilante: Eu continuo achando que é mesmo presunção, porque afinal todo mundo é igual.
Todo mundo erra e acerta. Não há quem não
peque. E como pode alguém dizer que se chama
Confirmado?
Confirmado: Você encontra base bíblica para
isto em várias passagens, como por exemplo em 2 Tes 2.17 e em I Pe 5.10. Afinal não somos nós
que nos confirmamos, especialmente em toda
boa obra e na Palavra, mas é Deus quem faz isto
pelo seu Espírito em nós. Esta confirmação é um hábito quando a graça é mais estável e
aumentada em nós pela ação real de Deus.
Vacilante: Ora, grande vantagem! Eu também conheço a Palavra de Deus. Eu leio a Bíblia
diariamente. Eu frequento os cultos públicos de adoração. E apesar de ter este nome de
Vacilante, eu creio muito em Deus.
Confirmado: A questão prezado Vacilante não tem muito a ver com o quanto conhecemos da
verdade, e se de fato conhecemos a verdade e sua pureza, mas sim, em quanto nós a temos
arraigada ao nosso viver. É daí que decorre
recebermos estes nomes qualificativos. É pelo
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que somos realmente como pessoas em nosso
caráter e comportamento, pela justa avaliação
do Espírito Santo de Deus, e nem tanto pelo que
pensamos que somos.
Vacilante: Mas como isto se aplica na prática ao viver das pessoas? pois como eu já disse antes,
não há quem não erre. Todos somos pecadores.
Confirmado: Sim, isto é verdade, mas há quem ame o erro e o pecado, e quem os deteste.
Enquanto neste mundo, a nossa condição de pureza de coração não é determinada por nossa
perfeição, mas pelo quanto honramos toda a
Palavra de Deus, e buscamos de fato aplicá-la às
nossas vidas, pelo arrependimento e pela oração. É isto que determina a diferença. Daí
decorrem os nomes qualitativos que Deus nos
atribui, como podemos ver nos seguintes pares,
o primeiro, positivo, e o segundo, negativo: crente/descrente;
fiel/infiel;
verdadeiro/falso;
sincero/hipócrita;
confirmado/vacilante;
benigno/maligno;
obediente/desobediente;
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manso/rebelde;
humilde/orgulhoso;
puro/impuro;
moderado/imoderado;
sensato/insensato;
sábio/estulto;
gentil/grosseiro;
generoso/egoísta;
alegre/deprimido;
liberto/escravo; e a lista parece não ter fim.
Vacilante: Ah! Está ainda muito difícil de entender certas coisas. Por exemplo:
independentemente do grau que esta
adjetivação possa ter, de ser pouca, média ou
muita; não há quem se encontre livre de ser achado, ainda que eventualmente, em alguns
destes aspectos negativos considerados. E
então, como é que alguém pode ter a certeza de
que é aceito por Deus e que irá para o céu depois da morte, já que estamos sujeitos a errar em
vários pontos enquanto estivermos neste
mundo?
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Confirmado: Por isso que é muito importante que tenhamos um conhecimento correto do plano da salvação. Se chegamos a ser
confirmados na Rocha, que é Cristo, na Sua
Palavra, dificilmente sofreremos com dores de
consciência, em dúvidas em relação a estas coisas. É certo que erramos em muitas coisas.
Mas como eu já disse, não é aí que reside o
âmago da questão que estamos tratando. O
grande fato é que há pessoas que não permitem um trabalho da graça em suas vidas. Não
querem ser transformadas e santificadas para
terem a semelhança de Cristo. Outras há que
não somente permitem, como querem mais do que tudo que este trabalho seja realizado em
suas vidas. Elas querem a perfeição de santidade
que terão no céu. Elas lutam para alcançarem o
máximo de perfeição que lhes seja possível aqui na Terra. E é portanto, neste esperança de
perfeição pela qual elas lutam, e da qual obtêm
porções consideráveis ainda neste mundo, que
elas podem ter a certeza de que são salvas; porque isto testifica para si mesmas que elas
têm de fato o penhor do Espírito Santo
trabalhando em seus corações, porque sabem,
que de outra forma, não poderiam ser mudadas da maneira que foram.
Vacilante: Mas quem não tiver este conhecimento e convicção de mudança não
será salvo?
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Confirmado: Eu não disse isso. Esta certeza da salvação está disponível para os que se salvam,
porque Deus determinou que assim deveria ser.
Não seríamos salvos na dúvida, na escuridão, na incerteza, mas teríamos a testificação do
Espírito Santo, com o nosso espírito, que
passamos a ser filhos de Deus, por meio da fé em
Jesus.
Se conhecermos o plano de salvação, melhor
ainda. Mas Deus, em sua infinita misericórdia e bondade, salva até mesmo aqueles que cuja
compreensão não lhes permita entender
adequadamente os fundamentos deste plano,
todavia, os salva porque conhece profundamente o coração de cada pessoa, e sabe
quem deseja e se submeterá de fato ao seu
trabalho de santificação de seu espírito, alma e corpo. E assim, dá também a estes a testificação
de seu Espírito de que foram também salvos, por
terem crido em Jesus.
Confirmado: Você sabia Vacilante, que aos olhos de Deus todas as pessoas que não têm a Cristo
estão mortas?
Vacilante: Como pode ser isto? Você quer dizer que quem está comendo, bebendo, andando,
pensando, trabalhando, está morto? Como pode
ser isto?
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Confirmado: Não sou eu que estou inventando tal coisa. É ensinado claramente na Bíblia. Você
nunca leu o que Jesus disse a alguém que queria segui-lo, que deixasse aos mortos o sepultarem
os seus mortos?
Vacilante: Mas a definição mesma de vida não é porventura aquilo que existe e que se
movimenta, cresce, se reproduz?
Confirmado: Sim, no sentido biológico, mas não
no espiritual e divino. Para Deus, estão vivos somente aqueles que o conhecem de fato e que
são transformados pelo seu poder em novas
criaturas. E além disso, diz-se destes que estão
vivos, porque ninguém mais viverá em Sua presença eternamente sem esta condição.
Vacilante: Se é assim, então seria insensato viver neste mundo, por não se ter a Jesus, ainda
que se ocupando de trabalhos úteis, e até
mesmo em procurar ter um bom procedimento na sociedade?
Confirmado: A Bíblia não ensina que é insensato viver desta forma, ao contrário, ela o
recomenda, todavia, todo os nossos melhores
esforços terão sido inúteis, caso a morte física nos alcance, sem que tenhamos sido
justificados de nossos pecados por Cristo, por
não estarmos unidos a ele espiritualmente.
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Vacilante: Mas esta pessoa não procurou fazer o bem? E como pode então ser condenada
eternamente por Deus?
Confirmado: A questão não se refere ao nosso mérito, porque, na verdade, não temos méritos
diante de Deus, ainda quando estamos em
Cristo, porque estávamos mortos em delitos e
pecados quando ele nos deu vida eterna. O que um morto espiritual pode fazer de bom e
agradável para o Deus vivo? Na verdade ele pode
até se agradar do nosso esforço para fazer o que
é bom e correto, como fizera o centurião Cornélio no passado, antes da sua conversão,
mas enquanto não houver a nossa conversão,
ele não pode estar inteiramente agradado de
nós, porque é somente por ela, que podemos nos tornar de fato seus filhos.
Vacilante: Mas, me dê um exemplo prático, um único que seja, do motivo por que não podemos
agradar a Deus quando não o conhecemos por
meio de Cristo.
Confirmado: Está bem! Há muitos exemplos práticos, mas vou lhe dar somente um que pode
fechar este nosso assunto. Não se trata de um
argumento, mas de um fato: quem pode
perseverar na tribulação, regozijando-se com paciência em suas aflições, dando glórias a Deus
e sendo-lhe grato por tudo, não permitindo em
nada que o seu amor por Ele diminua por causa
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destas tribulações, ao contrário, que este amor
aumente, senão somente aquele que tem o
Espírito Santo habitando nele? E sabemos, pelo testemunho das Escrituras que somente
aqueles que são convertidos a Cristo, têm o
Espírito Santo habitando neles, Rom 8.9.
13
Firmeza "Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e
constantes, sempre abundantes na obra do
Senhor.", 1 Coríntios 15.58. Firmeza é um
princípio essencial no caráter cristão. Não pode haver sucesso nem prosperidade na vida cristã,
quando este princípio está faltando.
O salmista disse: "Meu coração está firme,
confiando no Senhor." Isto é a verdadeira
firmeza. Isto é apegar-se a Deus, deixar as
tempestades rugirem quanto possam. Isto é
descansar e permanecer em Jesus, embora as provações da vida possam ser as mais severas
possíveis. Isto é uma firme, líquida e
determinada decisão de guardar as doutrinas da
Bíblia. Isto é descansar confiantemente nas promessas das Escrituras Sagradas. Assim como
um homem se deita com confiança para
descansar em sua cama, assim um cristão, em
sua firmeza, descansa confiantemente, descansa sem medo, sobre a imutável Palavra
de Deus.
Através de Jesus Cristo, os cristãos são feitos participantes da natureza divina. Eles recebem a
marca do caráter divino em suas almas. Entre os diferentes princípios do caráter de Deus é
encontrada a firmeza. Quando Deus livrou
Daniel dos leões, o rei Dario disse: "Eu faço um
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decreto que, em todo o domínio do meu reino os homens tremam e temam perante o Deus de
Daniel. Porque ele é o Deus vivo, e permanece
para sempre" Dn 6.26. Como a fortaleza cristã é
nobre, viril, e agradável a Deus, por isso a falta de firmeza é ignóbil, não viril e altamente
desagradável a Deus.
Alguns (que podem ser muitos) são conduzidos por seus sentimentos. Nós, como filhos de Deus,
devemos ser guiados pelo Espírito de Deus, mas nem todos compreendem totalmente o que se
entende por "ser guiado pelo Espírito." Eu
prefiro ser liderado por um senso de dever do
que por meus sentimentos. Eu não entendo que, a fim de ser conduzido pelo Espírito, precisamos
sempre ter uma forte impressão interior ou a
voz quase inaudível falando conosco. O Espírito
de Deus tem iluminado a Palavra e iluminado a sua mente para saber o que é seu dever cristão,
daí quando você vai para a frente e cumpre seus
deveres fielmente, você está realmente sendo
conduzido pelo Espírito. Você sabe que é o seu dever ajudar os pobres, apoiar os fracos,
consolar os tristes, participar de serviços de
culto de adoração, testemunhar de Jesus,
estudar as Escrituras, orar e diligentemente seguir toda boa obra.
Às vezes você pode sentir uma forte impulsão para orar, mas você não precisa ter esse
sentimento sempre, a fim de que seja o dever de
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orar. É seu dever orar, porque muitas vezes você
não se sentirá compelido a fazê-lo quando tem
fortes impressões interiores. Você não precisa
esperar por tais impressões antes de agir, porque o conhecimento de seu dever o torna
responsável.
Não pode ter verdadeira firmeza aquele que é influenciado por suas emoções ou impressões.
O homem que é firme, inabalável na Palavra, vai para a frente para cumprir seus deveres
conhecidos, não importa o que possam ser seus
sentimentos. Quaisquer que sejam as suas
impressões para fazer uma determinada coisa, se não for consistente com a Palavra e com o
Espírito, e seu conhecimento do que é reto, você
persistentemente se recusará a obedecer.
O verdadeiro princípio da firmeza que permanece na vontade de Deus e nas doutrinas de Cristo foi ensinado por Barnabé à igreja em
Antioquia. Houve alguma controvérsias na
igreja sobre a circuncisão, e perseguições
pesadas a partir dos de fora, e muitos foram movidos da verdadeira fé. Barnabé exortava que,
com firme propósito de coração se apegassem
ao Senhor. A firmeza é um objetivo fixado no
coração para se apegar a Deus, para atender estreita e prontamente a cada dever cristão. É
uma decisão, um propósito inabalável e
imutável do coração para obedecer
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implicitamente os ensinamentos do Salvador, independentemente dos sentimentos.
Você vai descobrir que, se você observar todos os deveres cristãos, muitas vezes você vai ter
que ir contra os seus sentimentos. Quantas
vezes o inimigo de sua alma, se puder, lançará sentimentos de indiferença sobre você a
respeito da oração. Essa é a hora de mostrar a
sua coragem e firmeza cristã. É fraqueza e
preguiça negligenciar a oração simplesmente porque não nos sentimos inclinados a orar.
Ceder a sentimentos indiferentes é incentivá-
los, e eles vão crescer mais e mais fortes, de
modo que se sentirá menos e menos inclinado a orar. Quanto mais oramos, mais plenos na
oração nos sentimos, de igual modo, a recíproca
é verdadeira. Quando tivermos nos rendido aos
sentimentos de indiferença por algum tempo e tristemente negligenciado a oração, temos uma
luta difícil para chegar até a luz gloriosa, vitória
e doçura. Mas você tem que sair, para onde as
bênçãos caem, você deve chegar onde você tem o gosto doce do amor e as bênçãos gratificantes
da presença de Deus. Você deve ser corajoso,
viril e decidido. A maneira de desfrutar o servir
a Deus e fazer o nosso dever cristão com plenitude é sempre fazer o nosso dever e,
especialmente, naqueles momentos em que
fazê-lo parece ser o menos agradável.
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Resista firmemente a Satanás e a todo sentimento de indiferença, e faça o seu dever a
qualquer custo. Lembre-se, não é aquele que sente que deve fazer o bem e não o faz, mas
"aquele que sabe que deve fazer o bem e não o
faz, nisso está pecando." (Tg 4.17)
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O Aprovado “Bem-aventurado o homem que suporta a
provação, porque, aprovado, receberá a coroa da
vida, a qual (Deus) prometeu aos que o amam.”
Bem-aventurado – Makários, no grego – feliz,
bendito.
Suporta – upomenei, no grego, que significa suportar, perseverar – verbo na 3ª pessoa do
singular do presente do indicativo ativo, da mesma raiz do substantivo upomoné -
perseverança, paciência, constância.
Provação – do grego peirasmóv – tentação, provação, substantivo masculino, objeto direto.
Aprovado – do adjetivo grego dókimos – digno, aprovado. Há portanto indicação de qualidade,
qualificação, e não de ação verbal no particípio. Seria melhor traduzido: “o aprovado”, em vez de
“tendo sido aprovado”. O sentido é o do metal
que foi provado pelo fogo e passou no teste,
revelando a sua boa qualidade.
Receberá – do verbo grego lémpsetai, 3ª pessoa do singular do futuro do indicativo médio do
verbo lambánw, significando receberá para si,
tomará para si, achará para si.
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Prometeu – do verbo grego epangélomai – 3ª pessoa do singular do aoristo indicativo médio –
se prometeu, no sentido de se comprometeu a
fazer. Deus prometeu a Si mesmo para fazer a alguém. Como no caso de Deus ter jurado por si
mesmo quando nos fez a promessa da Nova
Aliança em Jesus Cristo. Deve ser entendido
então, como o cumprimento de uma promessa feita no caráter irrevogável da referida aliança.
Receberemos a coroa não por causa dos nossos méritos, mas porque Deus prometeu a todos
aqueles que o amam.
O amor é a maior indicação da nossa filiação e obediência a Deus. E este amor é demonstrado por guardarmos a Sua Palavra em todas as
circunstâncias.
O aprovado no texto é aquele que tendo suas afeições e escolhas reveladas pelas provações,
direcionou toda a sua força, mente e afetos para fazer a vontade de Deus, por amor a Ele.
Assim como Moisés, eles valorizam mais o deserto com Deus do que todos os tesouros do
Egito.
Suas esperanças não estão focadas em nada deste mundo, mas somente no Senhor.
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Eles buscam por mais graça em Cristo para poderem discernir todas as coisas à luz da Sua
Palavra.
Eles renunciam a toda forma de mal, e até mesmo ao que for bom e aprovado, se isto não for a vontade de Deus para eles.
Sabem que as correções divinas visam à mortificação do pecado, e por isso se submetem
de bom grado sob a Sua potente mão.
Sofrem com a paciência que recebem do Espírito Santo nas batalhas que têm que empreender em favor do evangelho e do avanço
do reino de Cristo na Terra.
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O Que é Ser Confirmado em Toda Boa
Obra e Palavra "vos confirmem em toda boa obra e palavra" (2
Tes 2.17)
A sã doutrina é aqui designada por "toda boa
palavra” e a santidade da vida por “toda boa
obra".
A confirmação na fé e santidade é uma bênção necessária, e deve ser sinceramente buscada
em Deus.
1. O que é esta confirmação?
2. Quanto é necessária?
3. Por que deve ser buscada em Deus?
I. O que é esta confirmação?
Resposta: Confirmação na graça que temos recebido. Agora essa confirmação deve ser distinguida:
1. Em relação ao poder com o qual estamos assistidos; há confirmação habitual, e
confirmação real.
[1] A confirmação habitual é quando os hábitos da graça são mais estáveis e aumentados: 1
22
Pedro 5.10, "Ora, o Deus de toda a graça, que em
Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de
terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, confirmar, fortificar e
fundamentar.”
Deus lhes chamou eficazmente e lhes converteu, e ele começou o fortalecimento da
graça que haviam recebido. Agora, portanto, estamos confirmados, quando a fé, o amor e a
esperança são aumentados em nós, pois estes
são os princípios de todas as operações
espirituais, e quando eles têm obtido boa força em nós, um cristão está mais confirmado.
A fé é necessária, pois estamos em pé pela fé: Rom 11.20, “Por causa da incredulidade foram
quebrados, e tu estás em pé pela fé." Nós não
apenas vivemos por ela, mas estamos de pé por ela, e somos mantidos por ela: 1 Pedro 1.5: “Que
são mantidos pelo poder de Deus mediante a fé
para a salvação." Aquele que é forte, é o que é
forte na fé, como Abraão, que creu no evangelho.
O aumento e a estabilidade do amor são também necessários. O amor é forte. Somos informados
em Cant 8.6,7, “Que o amor é forte como a
morte, as muitas águas não podem apagá-lo: se um homem lhe desse todos os bens de sua casa,
seria de todo desprezado." Não será subornado
ou saciado. Nosso desviar-se vem de se perder a
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nossa complacência ou o desejo de Deus: há
uma aversão ao pecado e de zelo contra ele,
enquanto nós temos um senso de nossas obrigações para com Deus, e uma estima ao
valor de sua graça em Cristo, então nós
continuamos na agradável obediência a ele, e no
direcionamento de nossas ações para a sua glória.
A esperança é também necessária para o confirmação da alma, com a promessa da vida
eterna, pois esta é a âncora segura e firme da
alma: Heb 6.19, "a qual temos como âncora da alma, segura e firme". Se a esperança for forte e
viva, as coisas atuais não nos moverão muito.
[2] A Confirmação Real, quando esses hábitos, estão fortalecidos e aumentados pela influência
real de Deus. Como Deus faz para confirmar por esses princípios habituais, pelas operações reais
de seu Espírito, pois caso contrário nem a
estabilidade de nossas resoluções nem dos
hábitos da graça irão nos manter.
Não estabilidade de resoluções – Sl 73.2,
“Quanto a mim, os meus pés quase que se desviaram, os meus passos quase
escorregaram.”
Não hábito – Apo 3.2, “Sê vigilante e consolida o resto que estava para morrer, porque não tenho
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achado íntegras as tuas obras na presença do
meu Deus.”
Isto é verdade, Deus comumente opera mais fortemente com as graças mais fortes, porque seus corações estão mais preparados, mas às
vezes os cristãos fracos passaram por grandes
tentações quando os fortes falharam: Apo 3.8,
“que tens pouca força, guardaste a minha palavra, e não negaste o meu nome." Às vezes, o
cristão forte tropeça e cai quando o fraco
permanece de pé. Deus pode em um instante
confirmar uma pessoa fraca em alguma tentação particular, por sua assistência livre,
mas normalmente concorre com a graça mais
forte. Assim, no que diz respeito ao poder com o
qual somos assistidos.
2. Com relação à estabilidade na doutrina da fé e prática da piedade.
[1] Na doutrina da fé. É uma grande vantagem na vida espiritual ter bom senso. Alguns homens
nunca estão bem firmados na verdade e na
natureza e motivos da religião que eles professam, e, em seguida, são sempre deixados
numa incerteza errante, porque não são
resolutos de modo evidente; como os homens
normalmente não param no local para o qual eles foram movidos por uma tempestade, ou
pela correnteza das marés: 1 Tes 5.21, "provai
todas as coisas, retende o que é bom."
25
Certamente a religião no geral deve ser tomada
por escolha e não por acaso, não porque não
conhecemos outra, mas porque sabemos que não há melhor: como Jer 6.16 “Ponde-vos nos
caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas
antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele." E o mesmo é verdade quanto às opiniões
particulares e controvérsias sobre religião, até
que tenhamos ιδιον στηριγμα, “vossa própria
firmeza", 2 Pedro 3.17.
Quando estamos de pé com a firmeza dos
outros, quando nós professamos a verdade apenas por causa da companhia deles, quando a
corrente é quebrada, todos nós caímos aos
pedaços.
Enquanto clamamos por constância, não devemos acalentar preconceito teimoso, que fecha a porta sobre a verdade. No entanto, para
evitar a opinião superficial, antes de as pessoas
religiosas professarem alguma coisa, sua
garantia precisa estar muito clara, tanto para o bem do mundo e o seu próprio, para que não
criem problemas desnecessários, e depois
mudem de ideia, e escandalizem outros, e a sua
própria causa: ἀνὴρ δίψυχος, Tiago 1.8 - "o homem de coração dobre é inconstante em todos os seus
caminhos."
E nós temos necessidade de ter o cuidado de estar certos, porque cada erro tem uma
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influência sobre o coração e a prática: sobre o
coração, pois enfraquece a fé e o amor; e a
prática: algumas opiniões não têm maldade em
si, mas a profissão delas pode dividir a igreja, e nos fazer, por causa de contendas, inimigos do
crescimento e progresso do reino de Cristo.
Agora, se desejamos ser confirmados na verdade, temos que ver o que influencia cada
verdade relativa à nova natureza, ou como isto opera em direção a Deus pela fé, para
acompanhar nosso respeito a ele, ou aos
homens, por amor.
Um homem não deixará ir facilmente a verdade com a qual está acostumado a transformá-la em
prática, e o modo de viver como ele crê. Mais uma vez, precisamos ser confirmados na
presente verdade; isto não é zelo para lutar com
os fantasmas e erros antigos, mas para participar de Deus em nossa própria época.
[2] Em toda boa obra, ou em santidade de vida. Aqui se necessita de maior confirmação, para
que possamos nos manter em nossa jornada
para o céu.
Isto fica doente, quando a mente está contaminada, mas é pior quando o coração está alienado de Deus, e geralmente é a perversa
inclinação da vontade que macula a mente.
Portanto, a grande confirmação deve ser
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estabelecida num curso de piedade: 1 Tes 3.13, “que os vosso corações sejam confirmados
irrepreensíveis em santidade diante de nosso
Deus e Pai, até a vinda de nosso Senhor Jesus
Cristo, com todos os seus santos." Agora, esta confirmação é muito difícil.
Primeiro, por causa da contrariedade dos princípios que residem dentro de nós: Gál 5.17,
“Porque a carne luta contra o Espírito, e o
Espírito contra a carne, e estes são contrários um ao outro, para que não façais o que quereis."
A guarnição não está livre de perigo porque tem
um inimigo dentro do quartel. O amor do
mundo e da carne estavam no coração antes do amor de Deus e da santidade, e este não é
totalmente erradicado. Sim, isto é natural para
nós, ao passo que a graça é uma planta plantada
em nós, contrária à natureza; e à terra que produz as ervas daninhas e cardos de sua
própria vontade, mas as flores e boas ervas com
muito preparo e cultivo, se houver negligência,
as ervas daninhas em breve crescerão demais.
Em segundo lugar, porque é mais difícil continuar na conversão do que nos
convertermos pela primeira vez. Em nossa
primeira conversão somos mais passivos; é
Deus que nos converte, colhendo-nos a si mesmo, e nos planta em Cristo, mas na
perseverança e cumprindo nosso dever,
estamos mais ativos, é o nosso trabalho, apesar
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de fazemos isso pela graça de Deus. Uma criança
no ventre da mãe é alimentada pela alimentação
da mãe, mas depois ela deve mamar e buscar seu próprio alimento, e quanto mais
envelhecer, estará mais entregue a si mesma no
que tange ao cuidado com a sua vida. Agora,
aquilo que é o nosso trabalho, é mais difícil. É verdade que Deus, concluirá a boa obra que
começou em nós, mas, a aperfeiçoará, não sem
o nosso cuidado, Fp 1.6, daí se dizer
“desenvolvei... com temor e tremor”.
Quando estamos prontos e preparados para as boas obras, Deus o espera de nós para que
possamos andar nelas. Deus nos confirma na
palavra, mas isto está em toda boa obra. Além
disso, na conversão, fazemos aliança com Deus, mas pela perseverança podemos manter nossa
aliança com ele. Agora é mais fácil concordar
com as condições do que cumpri-las; as
cerimônias, num primeiro momento da celebração do casamento, não são tão difíceis
quanto o exercício das funções da aliança do
casamento propriamente dito. É mais fácil
construir um castelo num tempo de paz do que mantê-lo num tempo de guerra. Pedro mais
facilmente consentiu em vir a Cristo sobre a
água, mas quando ele começou a experimentá-
lo, seus pés estavam prontos para afundar, Mat 14.29,30. Quando os ventos e as ondas são contra
nós, ai!, quão rapidamente falhamos! Portanto,
uma boa primavera não é sempre garantia de
29
uma colheita proveitosa, nem de abundância de flores na floricultura. Estamos vivendo com
sinceridade seguindo a Cristo em determinada
época, mas quando nos deparamos com
dificuldades imprevistas, ficamos desfalecidos e desencorajados.
3. Com respeito ao assunto em que isto está assentado, o qual é a alma com as suas
faculdades. A força do corpo é conhecida por
experiência e não por descrição, mas a força da alma deve ser determinada por sua constituição
para o bem e o mal. As faculdades da alma são o
entendimento, a vontade e os afetos ou
emoções.
[1] A mente (ou entendimento) é confirmada quando temos uma clara, correta e plena
apreensão da verdade do evangelho; isto é
chamado de conhecimento; a certeza, e a
saudável apreensão disso é chamado de fé, ou assentimento intelectual, ou "a plena certeza do
entendimento" Col 2.2, quando há um devido
conhecimento do que Deus tem revelado, com
uma correta persuasão da verdade disto, operada em nós pelo Espírito Santo.
Agora, nós conhecemos certamente essas
coisas, e quanto mais poderosamente elas
afetem o coração, somos mais confirmados. Aquele que tem pouco conhecimento e pouca
certeza é chamado fraco na fé: Rom 14.1,e
aqueles que têm uma compreensão mais clara
30
são chamados fortes, como se vê em Rom 15.1:
"Nós que somos fortes, devemos suportar as
fraquezas dos fracos," significando aqui forte no conhecimento. Assim também pela certeza de
persuasão, se diz em Rom 4.20, Abraão foi "forte
na fé, dando glória a Deus," quando em todos as
suas aflições as suportou com confiança na palavra e na promessa de Deus. Bem, então, a
mente é confirmada quando temos um bom
estoque de conhecimento, e cremos
firmemente no que conhecemos de Deus, de Cristo e da salvação eterna.
[2] Falemos agora sobre a vontade, que é outra faculdade da alma. Agora, a confirmação da
vontade é conhecida quando ela está
completamente firme e resoluta para Deus e contra o pecado. Para Deus: como em Atos 11. 23
– Barnabé - “Tendo ele chegado e, vendo a graça
de Deus, alegrou-se e exortava a todos a que,
com firmeza de coração, permanecessem no Senhor.” A vontade, primeiro escolhe, depois se
apega a seus princípios, e isso com propósito
completo, quando a vontade está tão fixada no
conhecimento e na fé do evangelho que ela resolve respeitar a sua escolha: Sl 27.4, "Uma
coisa pedi ao Senhor, o que eu vou buscar.”.
Quando a resolução espiritual coloca a força e
autoridade de um princípio na alma, e nada pode quebrá-lo: 1 Pedro 4.1 “armai-vos também
vós do mesmo pensamento." Assim como Cristo
perseverou constantemente no trabalho de
31
mediação, assim também você no trabalho de obediência, não obstante as suas dificuldades.
Tenha esta poderosa vontade, que se opõe às
tentações, e aos maiores impedimentos no
caminho para o céu, de modo que você preferiria tirar vantagem da oposição do que
ficar desanimado por ela, quando o que é
sensual ou carnal exerce pouca força sobre
você, e você pode desprezar as mais agradáveisiscas do pecado.
[3] As afeições ou emoções da alma, nos excitam e nos estimulam a fazer o que a mente está
convencida e a vontade deliberada quanto às
funções necessárias do evangelho, tendo em vista a felicidade eterna. Nós nunca
funcionamos melhor do que quando
trabalhamos com a força de alguma afeição
eminente, quando o coração está dilatado: Sl 119.32, “eu vou percorrer o caminho dos teus
mandamentos, se tu alegrares o meu coração."
Amor ou esperança. O amor nos enche de alegria, vencendo a nossa indolência e lentidão
natural nos caminhos de Deus: Sl 40.8, "Agrada-me fazer a tua vontade, meu Deus, sim, o teu
amor está dentro do meu coração," 1 João 5.3,
“pois este é o amor de Deus, que guardemos os
seus mandamentos, e os seus mandamentos não são penosos”, Sl 112.1, "Bem-aventurado o
homem que teme ao Senhor, que tem grande
prazer nos seus mandamentos."
32
A esperança nos dá testemunho em desprezo às concupiscências e terrores dos sentidos: Heb
3.6, “a qual casa somos nós, se guardarmos firme, até ao fim, a ousadia e a exultação da
esperança.”, de modo que servimos a Deus com
vigor e entusiasmo. Quando nossos afetos são
amortecidos, a graça cai e definha, se você perder o seu sabor, sua prática irá definhar
também, e o serviço de Deus não será tão
uniforme. É uma grande parte da nossa
confirmação manter o vigor e fervor de nossas afeições.
4. Com relação aos usos para os quais a confirmação serve, quanto aos deveres,
sofrimentos, conflitos.
[1] Fazer a vontade de Deus, ou realizarmos nossas obras com prazer, alegria e constância, porque toda força é para realizar um trabalho:
Ef 3.16, “para que, segundo a riqueza da sua
glória, vos conceda que sejais fortalecidos com
poder, mediante o seu Espírito no homem interior;”. Para que possamos fazer o nosso
trabalho com prontidão de espírito torna-se
necessária a fé em Cristo e o amor a Deus. Isso é
muitas vezes mencionado nas escrituras: Fp 2.13, “Porque Deus é o que opera em vós tanto o
querer como o realizar, segundo a sua boa
vontade".
33
A omissão frequente de boas obras, ou o exercício raro da graça, produz
necessariamente uma decadência, como o
ferrugem na chave que raramente é usada na
fechadura, assim, perdemos a vida e o conforto da religião, e finalmente a lançamos fora como
algo desnecessário e inútil.
[2] A confirmação é necessária para suportarmos as aflições, e passarmos por todas
as condições com honra para Deus e segurança para nós mesmos: Fp 4.13, “posso fazer todas as
coisas através de Cristo, que me fortalece”; - são
as palavras do apóstolo que estava confirmado
na palavra e nas boas obras. Col 1.11, "sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força
da sua glória, em toda a perseverança e
longanimidade; com alegria,”. O grande uso da
confirmação é para nos fortalecer contra todos os males e inconvenientes da vida presente,
para que possamos cumprir nossa jornada para
o céu no caminho justo e estreito, e não por
sermos grandemente movidos por tudo o que nos suceda em nossa caminhada.
[3] A confirmação é necessária para os conflitos com as tentações do diabo, do mundo e da carne.
O diabo procura trabalhar em cima de nossas
afeições e inclinações, e a carne nos inclina para satisfazê-las. Como, então, o cristão pode vencê-
las? Sendo confirmado por Deus: Ef 6.10,
"Finalmente, fortalecei-vos no Senhor e na força
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do seu poder." Um cristão está aqui embaixo
num estado militar, mas, de nós mesmos, somos
como canas agitadas por qualquer vento, temos necessidade de confirmação no que diz respeito
à nossa própria fraqueza, e à força de nossos
inimigos. Devemos ser confirmados contra tudo
o que o diabo solicita; contra o mundo, com o seu argumento silencioso pelo qual ele nos
solicita a nos afastarmos de Deus e do céu;
contra a carne, o princípio de rebelião que está
na nossa velha natureza terrena. Bem, então, esta confirmação é para que a graça nos capacite
a realizar as funções da religião (nossa fé cristã)
com constância, frequência e prazer, para
cumprirmos todos os inconvenientes da religião com paciência e fortaleza, e para
sermos mais surdos e resolutos contra todas as
sugestões do diabo, ou as maquinações da
carne, provocadas pelo mundo.
5. Para evitar os escândalos e os atalhos: 1 Coríntios 15. 58, “Sejam firmes e constantes,
sempre abundantes na obra do Senhor”, e Ef
3.17, “para que sejais arraigados e alicerçados
em amor", e Col 1.23: "Se permanecerdes na fé, fundados e firmes, não vos deixando apartar da
esperança do evangelho." Se não olharmos para
o grau da nossa confirmação, a nossa fraqueza e
instabilidade crescerão em nós e teremos uma mente inquieta: Ef 4.14, “levados ao redor por
todo vento de doutrina". Eles nunca foram bem
fundamentados na verdade, e, portanto, pela
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sua própria fraqueza e em razão da astúcia e diligência dos sedutores, são atraídos para o
erro.
Em matéria de prática, se nós consentirmos com os nossos primeiros declínios, o mal irá
crescer e prevalecerá sobre nós, quando o nosso julgamento condescende mais com pecado do
que antes, e a vontade se opõe a ele com menor
resolução, ou com maior fraqueza e indiferença,
ou quando a oposição mais nos desencoraja. Não; deve haver uma vitória resoluta sobre as
tentações que lhe pervertem; e isto nos ajudará
neste propósito: Heb 12.3 “Considerai, pois,
atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para
que não vos fatigueis, desmaiando em vossa
alma.”. Quando nosso primeiro amor se for,
nossas primeiras obras em grande medida cessarão: Apo 2.4,5, 'No entanto, tenho contra ti,
que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te,
portanto, de onde caíste, e arrepende-te, e faz as
tuas primeiras obras.” Bem, então, o grau deve ser lembrado; porque um homem pode ser
firme no principal, e ainda ser um pouco movido
e abalado, mas um cristão não deve apenas ser
firme, mas inabalável, caso contrário seremos muito incertos em nosso posicionamento.
Como a Providência é a continuação da criação, de igual modo a confirmação na graça é a
continuação da nova criação. A mesma graça
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que nos coloca no estado da nova criação, é a que
nos confirma.
Mesmo em estado de graça, somos como um copo sem fundo, quebrado, e, portanto, somente Deus é capaz de nos fazer ficar de pé, e
perseverar nesta graça que recebemos: 2
Coríntios 1.21, “Mas aquele que nos confirma
convosco em Cristo e nos ungiu é Deus,” Depois que estivermos em Cristo, a nossa estabilidade
estará somente em Deus.
2. Devemos considerar a indisposição de nossa natureza, tanto para toda boa obra quanto para
toda boa palavra.
(1) Para toda boa palavra. As verdades do evangelho são sobrenaturais. Agora, as coisas
que são plantadas em nós contra a natureza
dificilmente podem subsistir e serem mantidas.
O evangelho depende de revelação, por isso há tantas heresias contra o evangelho, mas
nenhuma contra a lei. Portanto, como o
conhecimento das verdades do evangelho
dependem de uma revelação divina, devem ser aplicadas em nossos corações por um poder
divino, e por um poder divino que as preserve
ali. A fé é um dom de Deus: Ef 2.8 , "Porque pela
graça sois salvos, mediante a fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus;", tanto quanto ao seu
início, quanto para a sua preservação e
aumento.
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(2) Para toda boa obra. Não há somente lentidão
e atraso de coração para os deveres do evangelho, mas um pouco da velha inimizade e
aversão da natureza terrena que ainda
remanesce em nós. Nossos corações não são apenas inconstante e instáveis, mas muito
rebeldes: Jer 14.10, "Assim diz o Senhor a este
povo: Pois que tanto gostam de andar errantes”,
Sl 95.10: "É um povo que erra de coração." Moisés havia ido mais cedo para o lado de Deus no
monte, mas os israelitas, depois de seu pacto
solene, caíram na idolatria. Antes de que a lei
fosse escrita, eles a quebraram.
Agora, temos que ter um princípio guerreando
dentro de nós como devemos ter, a menos que Deus nos confirme?
III. Por que deve ser buscado de Deus?
1. Somente ele é capaz de nos confirmar: Rom 14.25, "Ora, àquele que é poderoso para vos
confirmar segundo o meu evangelho e a
pregação de Jesus Cristo,". Deus é capaz de derrotar o poder dos inimigos, e de preservar os
seus filhos em meio às tentações. Então, Judas
24, "Ora, àquele que é poderoso para vos guardar
de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória,”. Os
santos acham nisto um alívio para os seus
pensamentos contra a oposição terrível e
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poderosa do mundo, eles não têm nenhuma
razão para duvidar do amor de seu Pai.
2. Deus não nos abandou, quando demos as costas para ele e estávamos prontos para abandoná-lo, mas nos guardou de perigos e
riscos, sim, ele chamou a sua graça, e nos
confirmou até agora. Por que teríamos que
duvidar de sua graça para o futuro? 2 Coríntios 1.10 : "Quem nos livrou de tão horrível morte, e
livrará; em quem nós confiamos que ele ainda
nos livrará," 2 Tim 4.17,18: "Não obstante, o
Senhor esteve ao meu lado e me fortaleceu, para que por mim a pregação fosse totalmente
conhecida, e que todos os gentios a ouvissem, e
fui libertado da boca do leão. E o Senhor me
livrará de toda má obra, e me levará salvo para o seu reino celestial, ao qual seja glória para todo
o sempre. Amém ".
3. Ele fez promessas de sustentação e preservação: Sl 73.23, “Todavia estou de
contínuo contigo; tu me sustentaste pela minha mão direita." Ainda que caia, não ficará
prostrado, porque Deus o sustém com a sua
mão. Se Deus tem prometido preservar essa
graça que ele tem uma vez nos dado, não deveríamos orar para a sua continuação com
maior encorajamento?
Aplicação. Isto deve nos pressionar em todos os momentos para olharmos para Deus em busca
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de confirmação, e especialmente em duas ocasiões:
1. Quando começamos a declinar, e a ficar mais omissos e indiferentes na prática da piedade. Se
a graça está em você, você deve buscar
fortalecê-la. Quando você fica mais ousado na prática do pecado, e mais estranho para Deus e
Jesus Cristo, e tem pouco conversado com ele
no Espírito, oh! é hora de instar com seriedade
com Deus, para que ele lhe restaure. Embora você tenha desviado a sua força, você tem
tratado com um Deus misericordioso; vá até ele
para ajuda: Sl 17.5, "Os meus passos se afizeram
às tuas veredas, os meus pés não resvalaram.” Você tem perdido os socorros mais abundantes
da graça, mas peço-lhe que não a abandone
completamente. Você deve confessar o pecado,
mas Deus deve remediar o mal: Sl 119.133: "Ordena os meus passos na tua palavra, e não
deixe qualquer iniquidade ter domínio sobre
mim." Senhor, estou apto a ser levado por
seduções mundanas; meu gosto espiritual está destemperado com vaidades carnais, mas: “não
deixe a iniquidade ter domínio sobre mim."
2. Devemos também buscar a Deus em tempos incertos, quando estamos cheios de temores, e
achamos que nunca conseguiremos nos manter no caminho da santidade. Deus, que nos guarda
em tempos de paz, vai nos guardar
em momentos de dificuldade: Sl 16.8 “Tenho
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posto o Senhor continuamente diante de mim,
porque ele está à minha mão direita, não serei
abalado."
Tradução e adaptação elaboradas pelo Pr Silvio Dutra, de citações extraídas do comentário de autoria de Thomas Manton, sobre o verso 17 do
segundo capítulo da epístola de 2
Tessalonicenses.
41
Permanecei Firmes
"não vos deixando afastar da esperança do Evangelho." (Colossenses 1.23)
Muitas almas têm uma grande luta para
alcançar a esperança do Evangelho. Não é sem uma luta corpo a corpo que muitos corações se
prendem a Cristo e à vida eterna. A consciência
muitas vezes cria um escudo de cavalaria ao
redor do Monte Calvário e, assim, impede o pecador condenado de se aproximar de seu
Salvador. Dúvidas e temores, o Regimento do
mal, conduzem de volta aqueles que estão vindo
e preocupam quem de bom grado se esconderia na Rocha Eterna. Satanás convoca todos os seus
exércitos para empurrar os homens de volta da
Cruz para que não possam vir a Cristo e viver.
Mas, irmãos e irmãs, a batalha não termina quando, por uma corrida desesperada, um homem vem a Cristo. Muitas vezes isto assume
uma nova forma - o inimigo tenta agora arrastar
o temeroso de seu refúgio e expulsá-lo de sua
fortaleza! É difícil chegar à esperança do Evangelho, e quanto é difícil manter-se de modo
a não ser movido para longe dele. Se Satanás
gasta grande poder para nos manter afastados
da esperança, ele usa a mesma força se aplicando para nos arrastar para longe dela - e
igual astúcia no esforço que faz para nos seduzir
com isso. Por este motivo, o apóstolo nos diz
42
para que não permitamos ser afastados da
esperança do Evangelho. A exortação é
necessária na presença de um perigo iminente. Não pense que no momento em que você crê em
Cristo, que o conflito acabou, porque você vai
ficar muito desapontado! Porque é então que a
batalha se renova em cada polegada da estrada que está cheia de inimigos.
Entre aqui e o céu você sempre terá que lutar, e muitas vezes a luta mais severa será num
momento em que você está menos preparado
para ela. Pode haver ocasiões tranquilas em sua jornada e você pode, por um tempo, ser como
seu Salvador no deserto, de quem se diz: "Então,
o diabo se afastou dele, e anjos vieram e o
serviram." Mas você talvez não possa dizer: "Minha montanha permanece firme, eu nunca
serei abalado", porque o bom tempo pode não
durar mais do que um único dia! Não cresça
seguro, ou carnalmente presunçoso. Há apenas um pequeno intervalo entre uma batalha e
outra neste mundo. Há uma série de
escaramuças, mesmo quando ela não assume a
forma de uma batalha campal. Aquele que ganhará o céu deve lutar por ele! "O Reino dos
Céus sofre violência e os violentos o tomam pela
força."
43
I. Em primeiro lugar, vejamos em que consiste esta esperança da qual não devemos nos afastar.
Primeiro, é a esperança da plena salvação - a esperança de que, na medida em que você creu
em Jesus Cristo, você está livre de toda
condenação, no momento presente e deve estar livre de toda condenação, no futuro, a par de
todos os seus pecados. E que, além disso, Aquele
que tira a condenação do pecado também
destrói o seu poder sobre você. Você tem essa esperança - que tendo sido feito para amar a
justiça, deve estar habilitado a andar em
obediência e "para aperfeiçoar a santidade no
temor do Senhor."
Sua esperança é que um dia será apresentado santo, sem culpa e irrepreensível à vista do
grande Pai. Você deve, um dia, ser apresentado
"sem mancha nem ruga, nem coisa
semelhante," limpo de toda a culpa e purificado de toda a tendência ao pecado e à corrupção - e
feito criatura perfeita de Deus, quando pela
primeira vez isto vem de Suas mãos. Oh, esta é
uma bendita esperança! "Aquele que tem esta esperança purifica-se a si mesmo assim como
Cristo é puro." Esperamos que seremos
semelhantes a Cristo, e que a glória da Sua
santidade deve ser a nossa glória e veremos seu rosto e seu nome estará em nossas frontes e
seremos irrepreensíveis diante do trono de
Deus.
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Agora, nunca desista disso!
Nunca permita que uma partícula disto seja diminuída. Deus significa tudo o que Ele tem
dito.
A primeira parte disto – agarre-se a isto, que o Senhor Jesus Cristo o limpou de toda a culpa e
pena do pecado, de modo que não resta um pontinho sequer para acusar ou condenar você.
Segure isto, além disso, que, uma vez que Ele lhe
limpou, você não precisa se lavar novamente
nesta fonte cheia do sangue de Cristo, pois "Aquele que está lavado não necessita lavar
senão seus pés." E que esta lavagem deve ser
dada pelas mãos condescendentes de Cristo. A
água será uma segunda cura daquilo que o sangue já tem purificado e removido. A lavagem
do sangue removeu toda a culpa e impede
qualquer possibilidade de que o pecado venha a
ter domínio sobre você. A remissão completa e a plena justificação são provas de que, pela dura
pena de morte do Seu Senhor, você não está
mais debaixo da Lei, mas debaixo da graça.
A minha alma se alegra no perdão perfeito! Eu não vou tirar um único grânulo disto, de modo a permitir que a menor carga possa ser contra
nós! Estamos completos em Cristo! Aquele que
crê é justificado de todas as coisas.
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“Aqui está o perdão por transgressões passadas, não importa quão negras elas sejam! E, oh,
minha alma, veja com admiração – porque há
também perdão para os pecados
vindouros!" Agora, cada tendência pecaminosa em sua natureza deve ser totalmente destruída.
Não deve permanecer em você nenhuma raiz de
amargura, nenhuma cicatriz do mal, nenhuma
pegada de iniquidade!
Em conexão com isso, há a esperança da perseverança final. Confesso que para mim é
uma das doutrinas mais atraentes da Palavra de
Deus, que "o justo prosseguirá no seu caminho,
e aquele que tem as mãos limpas será mais forte e mais forte. "Porque estou plenamente certo de
que Aquele que começou a boa obra em vocês,
há de completá-la até o dia de Cristo Jesus." "Dou
às minhas ovelhas a vida eterna, e nunca haverão de perecer, e ninguém as arrebatará
das minhas mãos." "Aquele que crê nEle não é
condenado." "Aquele que vive e crê em mim,
jamais morrerá." Há muitas garantias para esse efeito e, se alguma coisa definida é ensinada nas
Escrituras, estou confiante de que este é um dos
mais claros de tais ensinamentos!
Nós temos uma esperança além desta, pois acreditamos que vamos experimentar a Ressurreição. Os nossos corpos ressuscitarão. A
Graça de Deus protege os corpos, assim como as
almas dos santos. Cristo não comprou a metade
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de um homem, mas toda a trindade de nossa
humanidade é Sua herança redimida - espírito, alma e corpo habitarão para sempre com Ele,
pois Ele redimiu nossa humanidade indivisível!
Nunca desista dessa esperança, também, em relação a si mesmos ou seus amigos. Não deixe
nada abalar a sua confiança na ressurreição! Nenhum outro fato histórico é tão bem atestado
como a ressurreição de Cristo, que é a pedra
angular da nossa confiança.
Muitas vezes, e frequentemente, quando estou extremamente envolvido com as tentações
diabólicas e insinuações quanto à esperança eterna da minha alma e do corpo, eu voo para
isto - Jesus Cristo que ressuscitou da morte. Ele
veio de volta para nos dizer que existe um outro mundo, e que não apenas nossas almas, mas
nossos corpos herdarão uma condição muito
mais abençoada do que a presente! Segure-se
nesta esperança do Evangelho, e nunca permita que ela se vá.
"O Senhor ressuscitou! Ele vive!
O primogênito de entre os mortos,
A ele, o Pai dá
Para ser a Cabeça da criação.
Acima de tudo para sempre reinante,
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Da morte Ele possui as chaves;
E o inferno - Seu poder restringiu -
Obedeça aos Seus alto decretos.
Voa agora a sombra da escuridão
O vale da morte para mim;
Os terrores que invadiram
São perdidos, ó Cristo, em Ti!
O túmulo, não mais aterroriza,
Me convida ao repouso;
Adormecido em Jesus,
Para ressuscitar assim como Jesus ressuscitou. "
Então lembre-se, você tem a esperança do
Segundo Advento. Se Jesus vier antes de você morrer, você vai se encontrar com Ele – terá o
prazer de conhecer e acolher o Filho de Deus
sobre a Terra! Você será transformado de modo
que esteja apto para herdar as glórias incorruptíveis dos céus.
E, ainda, nós temos esta esperança, que quando passarmos por tudo o que se refere ao tempo e
estivermos na eternidade, não restará
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nenhum temor ou receio, porque haveremos de
estar "para sempre com o Senhor.
II. Mas agora, em segundo lugar, Conjuro-vos, amados, diante de Deus, para que não se afastem da esperança do Evangelho como do
fundamento desta esperança. E qual é o
fundamento dessa esperança? Em primeiro
lugar, a rica, livre, soberana Graça de Deus, porque Ele disse: "Terei misericórdia de quem
me aprouver ter misericórdia, e terei
compaixão de quem eu quiser ter compaixão." O
Senhor reivindica para si a prerrogativa da misericórdia e, como ele pode exercê-la sem a
violação de sua justiça através do sacrifício
expiatório de Cristo, nos alegramos e nos
regozijarmos no fato de que os homens não são salvos por causa de qualquer disposição natural
de bondade, ou por causa de tudo o que têm
feito, ou que sempre farão!
Se Ele salvou o ladrão da cruz - se Ele salvou o
adúltero - se Ele salvou mesmo o assassino, por que Ele não me salvaria? Ele pode, se Ele quiser,
e Ele é extremamente gracioso, infinito em
compaixão e não tem prazer na morte de
qualquer pessoa, mas deseja que todos venham a se arrepender! É na misericórdia de nosso
Deus, que todas as nossas esperanças começam.
O fundamento de nossa salvação é, em segundo lugar, o mérito de Cristo – o que Cristo é, o que
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Cristo fez - o que Cristo sofreu. Este é o fundamento sobre o qual Deus salva os filhos
dos homens.
Foi somente a Cristo que Deus propôs para propiciação pelos pecados, e não somente pelos
nossos, mas pelos pecados de todo o mundo, temos então, algo sólido no qual podemos
descansar!
Outro fundamento da nossa esperança é este - que Deus nos prometeu solenemente que "todo
aquele que crê em Cristo não perecerá, mas terá a vida eterna." Se, então, nós realmente cremos
em Jesus Cristo e descansamos nEle, não
podemos perecer, pois Deus não pode
contradizer a Si mesmo! Assim está escrito – ouça e aceite isto - "Aquele que crer e for
batizado será salvo." "Aquele que crê tem a vida
eterna," e não se afastou dessa esperança do
Evangelho, que Deus, que não pode mentir, colocou diante de nós,
“Subsistirá para sempre com certeza!
Sob a sombra de suas asas
Seus santos repousam seguros.”
Outro fundamento da nossa esperança é a imutabilidade de Deus. Deus não muda e,
portanto, os filhos de Jacó, não são consumidos.
A imutabilidade de Cristo também confirma a
50
nossa esperança, pois Ele é "o mesmo ontem, e
hoje, e eternamente." O poder imutável de Seu
sangue é uma torre forte para a nossa fé.
Se Deus é imutável, então aqueles que creem nEle têm uma esperança imutável – esteja certo de que você nunca será lançado fora! E, uma vez
mais, a nossa esperança do Evangelho está
fundamentada na infalibilidade das Escrituras.
III. Agora vamos considerar como poderemos ser afastados da esperança do evangelho, a
menos que a graça nos seja dada para nos impedir.
Podemos ser movidos da esperança do Evangelho das seguintes maneiras. Às vezes, por
um conceito de nós mesmos. Você pode sair do
fundamento de confiança na Graça Livre por pensar: "Agora eu sou alguém. Não tenho orado
na reunião de oração? Não têm meus amigos
dito que eles foram edificados com isso? Não
tenho eu pregado um sermão maravilhoso? Não sou eu generoso? Já não tenho dado grandes
somas à Igreja e aos pobres? Não sou alguém?"
Ah, você e o diabo, juntos, podem fazer um grande alarido sobre isso e não tenho dúvida de
que tudo o que ele lhe diz, você vai sugar muito avidamente, porque nós gostamos de ser
elogiados e, embora o elogio venha do próprio
Satanás, é bem-vindo pela nossa carne
51
orgulhosa! Bem, quando nós começamos a
pensar que somos alguém, somos movidos a nos
afastarmos da esperança do Evangelho. Jesus
Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores.
Alguém diz: "Mas eu não sou um pecador". Ah, então Ele não veio para salvá-lo! Você diz: "Eu era
um pecador, mas eu cresci tão perfeito que eu já
não peco"? Você pensa assim? Então você está
removido da esperança que pertence àqueles que confessam e lamentam seus pecados! Você
deixa de ser cristão logo que você mesmo coloca
o seu nome fora da lista dos pecadores que são
salvos pela graça do Salvador! Você é um pecador, e Cristo morreu para salvá-lo, mas não
se afaste da esperança do Evangelho por uma
noção vã de que você não peca mais! Cristo não
veio para curar todos, mas somente aqueles que estão doentes.
Não se afaste, por outro lado, da esperança do evangelho, por causa de desânimo. Satanás não
se importa de que maneira você sairá da Rocha
- se por saltar para cima ou para baixo: é tudo a mesma coisa para ele, desde que você deixe a
Rocha da sua salvação. Muitos há que sobem em
um balão de vaidade, enquanto outros estão
prontos para caírem nas falésias do desânimo e desespero. Mas não permita ser afastado da
esperança do Evangelho, quer de uma forma ou
de outra! O mínimo pecado deveria fazê-lo
52
humilde, mas o maior pecado não deve fazer com que você se desespere.
Você pode ser afastado da esperança do Evangelho, também, por falso ensino. Se, por
exemplo, você não acredita que Cristo seja "Luz
da luz, Deus de verdadeiro Deus", você tem se afastado da nossa esperança, que depende da
Sua divindade. Se você acha que o pastor pode
salvá-lo, você está afastado do único Sacerdote
diante do qual todos os outros sacerdotes devem deixar seus incensários morrerem na
escuridão! Somente Jesus Cristo pode salvá-lo!
Se você ouvir qualquer ensino que coloque as
suas obras no lugar de Cristo, você está bebendo em erro e será removido da esperança da sua
vocação, que é a Livre Graça, recebida pela fé,
que está em Cristo Jesus nosso Senhor.
Você pode ser retirado da esperança da sua vocação com a esperança de viver pelos sentimentos. Ah, existem muitos cristãos que
ficam tentados dessa maneira! Sentem-se tão
felizes e essa é a razão pela qual eles acreditam
que eles são salvos. Essa não é a razão pela qual eu acredito que eu estou salvo. Estou salvo,
porque eu confio em Cristo - e se eu fosse tão
miserável como a própria miséria, eu deveria
ser tão verdadeiramente salvo como se eu fosse tão feliz quanto o próprio céu! É a fé que faz isso,
e não se sentindo! A fé é preciosa, o sentimento
é inconstante. O verdadeiro sentimento segue a
53
fé e, como tal, é valioso, mas a fé é a raiz e a vida
da árvore, não os ramos e folhas, que pode ser
tirados, e ainda a árvore sobreviverá.
Alguns têm sentimentos muito alegres. Eles nadam em transes e delírios e ainda assim estão
todos errados. Descanse em Cristo, se para você
é dia brilhante ou noite escura, embora Ele lhe
mate, confie nEle!
Muitos estão se afastando da esperança de seu
chamado por um deslumbramento intelectual.
Finalmente, não seja afastado da esperança do evangelho por causa de perseguição, ou por
zombarias. A perseguição de nossos dias é uma
coisa pequena em comparação com a que
nossos antepassados sofreram.
III. Em último lugar, vejamos: por que não podemos ser afastados da esperança do
Evangelho? O que aconteceria se fôssemos?
Bem, em primeiro lugar, não vamos ser
afastados da esperança do nosso chamado, pois não há nada melhor para tomar o seu lugar! Um
homem não pensaria em ir para a Austrália, se
soubesse que os salários são menores do que
aqui, o custo de vida maior e se as pessoas fossem mais pobres. "Não", ele diria: "Não vou
saltar da frigideira para o fogo. Hei de ficar onde
estou, ao invés de ir mais longe e ficar pior."
54
Nós não vemos como podemos melhorar a nós mesmos. Jonathan Edwards, em um de seus tratados, fala um pouco nesse sentido: "Se um
homem pode provar que esta forma de
Evangelho é falsa e um mero sonho, a melhor
coisa que ele pode fazer é sentar e chorar porque penso que ele teria refutado a mais brilhante
esperança que jamais brilhou sobre os olhos dos
homens." E isso é assim. Ter esta gloriosa
esperança que, crendo em Cristo, somos salvos, é uma bênção e uma alegria que nada pode ser
comparado a ela!
Onde estão os campos que podem seduzir as ovelhas de Cristo? Onde está o pastor que pode
competir com ele? Onde está a luz que é mais brilhante que este dom eterno? Oh, você nos
tenta com seus chocalhos, como crianças, mas,
tendo se tornado homens, nós os desprezamos!
O que você tem a oferecer de verdade, de esperança, de conforto, de alegria, igual ao que
nós possuímos? Vamos, cada um, cantar a nossa
resposta ao tentador:
“Apenas Tu, Soberano do meu coração,
Meu refúgio, meu poderoso amigo,
E pode a minha alma se afastar de Ti,
Em quem, sozinho, minhas esperanças repousam?
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Deixem as alegrias sedutoras da Terra conspirarem,
Enquanto você estiver perto, em vão elas chamarão!
Um único sorriso de felicidade Seu,
Meu querido Senhor, supera a todas elas!
Seu nome, os meus poderes íntimos adoram,
Você é minha vida, minha alegria, o meu
protetor.
Afastar-se de ti? Isto é morte – mais que isto.”
Lembre-se, também, que, se estivermos afastados da esperança do nosso chamado, logo
estaremos em cativeiro. Um homem pode ser
tão alegre como uma cotovia, se ele crê em
Cristo para a salvação. Mas deixe-o se afastar disto, e em pouco tempo, ele será tão sem graça
quanto uma coruja! O que é que pode nos dar
alegria à parte de Cristo? Não estamos presos
em cadeias de dúvida, quando deixamos o caminho da graça soberana através da fé em
Cristo? Se estamos afastados da esperança de
nosso chamado, não podemos crescer. Uma
árvore que é frequentemente movida geralmente morre! E o mesmo sucede com o
homem que começa no espírito e espera ser
aperfeiçoados pela carne. Um homem que
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começa em Graça Livre e, em seguida, começa
a confiar em suas próprias obras. Um homem
que começa por confiar em Cristo e, em seguida, põe a sua confiança num sacerdote,
esperando encontrar a salvação nisto - nunca
pode crescer na graça!
Segure rápido, com todo o seu poder, reta e solenemente a grande e antiga fé, pois se não o fizer, ao rejeitar esse caminho da salvação, você
rejeita a si mesmo! Por que Cristo morreria, se
pudéssemos ser salvos de alguma outra forma?
Por que Ele derramaria o Seu sangue se houvesse um meio mais barato para ganhar os
céus?
Que você mantenha a fé, de modo que Deus possa abençoá-lo e enriquecê-lo. Que com um
coração simples você caminhe ao longo da estrada que conduz ao céu pela justiça do Filho
de Deus, que o Senhor esteja com você e lhe
conforte. Mas se voltar, ai de vós! A maldição
cairá sobre você, naquele dia de vergonha e culpa! O Senhor lhe guarde, para que possa
manter a fé. Amém.
Tradução, adaptação e redução do sermão de nº 1688 de Charles Haddon Spurgeon, elaboradas
pelo Pr Silvio Dutra.
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Confirmação e Aprovação
Assim como é firme e segura a Nova Aliança
(Atos 13.32-34; Hb 6.17-19); que Deus fez com os
crentes em Jesus Cristo, então estes devem ser também confirmados e aprovados segundo o
caráter da citada aliança.
A Antiga Aliança que fora estabelecida com a mediação de Moisés era de caráter passageiro, e
estava destinada a desaparecer ao ser
substituída pela Nova, que foi instituída com a mediação de nosso Senhor Jesus Cristo, para
durar para sempre.
Um judeu que era considerado aliançado na Antiga Aliança - pois esta abrangia todos os
israelitas – poderia perder a condição de aliançado por sua infidelidade ou
incredulidade, mas isto não pode ocorrer com
um crente aliançado com Cristo na Nova
Aliança, porque os que estão nesta Nova Aliança, firmada com base no sangue de Jesus,
estarão aliançados com Deus para sempre.
Em Cristo o crente é de fato uma nova criatura, que é designada por Deus a ser firme como o é o
seu próprio Salvador e Senhor. Paulo diz em Rom 5.2 que o crente está firme na graça, e isto
significa que dela jamais poderá ser apartado,
nem mesmo por sua própria vontade.
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Deus o colocou em Cristo para ali permanecer para sempre, logo, importa que se veja na vida
do crente esta firmeza para a qual ele foi destinado.
Todavia, vemos o mesmo apóstolo Paulo (Gál 5.1; Fp 4.1), como o apóstolo Pedro (I Pe 5.12)
exortando os crentes a permanecerem firmes
na fé, sem que isto signifique que a condição deles em Cristo seja incerta, insegura, abalável.
Ao contrário, é por ser firme e segura, tanto a
sua chamada quanto a sua união com o Senhor,
que eles são incentivados a permanecerem na condição em que devem sempre ser achados, a
saber, firmes na fé, nunca duvidando da sua
filiação a Deus e sua aceitação por Ele. Daí a
necessidade do trabalho da confirmação da nossa fé, depois que nos convertemos a Cristo.
Precisamos receber o carimbo espiritual de Confirmado e Aprovado depois de passarmos
pelos vários testes e provações da fé, aos quais
seremos submetidos pela providência divina. Nisto se evidencia a eficácia real que há no
trabalho de crescimento espiritual que é
operado em nós pelo Espírito Santo.
Deus é glorificado por revelar aos anjos e aos homens o Seu grande poder restaurador, e toda a Sua paciência, amor e misericórdia, em
conduzir pecadores a serem transformados em
verdadeiros santos.
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Somos, portanto confirmados na fé para a glória de Deus, e também para sermos úteis em Sua
obra de expandir Seu reino na Terra.
Diz-se firmeza de fé, porque necessitamos estar
convictos desta estabilidade e firmeza da obra do Senhor em nossas vidas. Ela não falhará. Ela
não deve e não pode falhar. Será concluída
perfeitamente dando Deus cumprimento ao Seu
desígnio e poder.
“tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até o dia
de Cristo Jesus,” (Filipenses 1.6).
Conscientes disso em espírito, jamais titubearemos na fé, por temer que venhamos a
falhar em nossa perseverança em seguir e servir ao Senhor.
Nem o pecado, o diabo e o mundo podem nos separar do amor de Deus que está em Cristo
Jesus. Nem mesmo a morte pode fazê-lo.
A vida que temos recebido pela fé é eterna, e como tal deve durar para sempre. Não é vida
para alguma temporada ou que possa ser interrompida.
Foi com esta confiança que os apóstolos cumpriram seu ministério, e com igual
confiança devemos cumprir o nosso. Em nada
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duvidando, porque o Deus que fez a promessa de nos firmar para sempre em Cristo é fiel.
Vemos, portanto que é um imperativo do propósito eterno de Deus que sejamos
confirmados na nova vida celestial e divina que
recebemos pela fé em Jesus Cristo. Foi para isto
que Ele nos predestinou, chamou e justificou, a saber, para que sejamos achados em perfeição
gloriosa no porvir. E Ele certamente o fará pelo
Seu próprio poder.
Você pode ler os versículos bíblicos contendo destacadas as seguintes palavras do texto original:
1 – bebaioo (grego) – confirmar, estabelecer;
2 – bebaios (grego) – estável, firme;
3 – bebaiosis (grego) – confirmação, estabelecimento;
4 – steko (grego) – firme;
5 – sterizo (grego) – firmado, estabelecido, fortalecido;
6 – dokimos (grego) – aprovado, aceito;
7 – histemi (grego) – firme, estabelecido; relativas ao assunto, acessando o
seguinte link:
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Firmeza e Constância
"Responderam Sadraque, Mesaque e Abede-Nego... fica sabendo, ó rei, que não serviremos a
teus deuses..." (Dn. 3:16, 18)
A narrativa da varonilidade e do livramento
maravilhoso destes três jovens santos, ou
melhor, destes três heróis, tem o propósito de
suscitar na mente dos cristãos a firmeza e a
constância necessárias para defender a verdade diante da tirania e até mesmo das garras da
morte.
Que principalmente os jovens cristãos aprendam com este exemplo, tanto nas
questões de fé quanto nas de probidade nos negócios, a jamais sacrificar sua consciência.
Percam tudo sem jamais perder a integridade e, quando tudo o mais se for, continuem
mantendo a consciência pura, como a joia mais
extraordinária que pode adornar o peito de um
mortal.
Não sejam guiados pelo brilho ilusório da política, mas pela estrela polar da autoridade
divina. Sigam o que é certo seja qual for a
circunstância.
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Quando não virem nenhum benefício imediato, andem por fé e não por vista. Glorifiquem a
Deus, confiando nEle, quando se tratar de perda
por causa das suas convicções.
Vejam se Ele não se tornará seu devedor! Vejam se Ele não prova, mesmo nesta vida, que "de fato, grande fonte de lucro é a piedade com o
contentamento" e que, para aqueles que
"buscam em primeiro lugar o seu reino e a sua
justiça, todas estas coisas lhes serão acrescentadas".
Se acontecer de, na providência de Deus, vocês se tornarem perdedores devido à sua
consciência, irão descobrir que, se o Senhor não
lhes devolver em prata de prosperidade terrena, Ele irá cumprir Sua promessa em ouro de
regozijo espiritual.
Lembrem-se de que a vida de um homem não consiste na abundância de suas posses.
Revestir-se de um espírito sincero, ter um coração inculpável e possuir a graça e o favor de
Deus são riquezas maiores do que as minas de Ofir poderiam produzir, ou que o comércio de
Tiro poderia obter.
"Melhor é um prato de hortaliças onde há amor do que o boi cevado e, com ele, o ódio."
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Aprovados em Santificação
Era de tal ordem a resistência de alguns cristãos
coríntios que Paulo disse, no 13º capítulo da 2ª
epístola que lhes escreveu, que se valeria do
testemunho de duas ou três pessoas, conforme a norma da disciplina evangélica, que
confirmariam o modo desordenado de vida dos
que deveriam ser confrontados quando ele
fosse ter com eles, e que desta vez, não lhes perdoaria, e seriam submetidos à disciplina da
aliança que tinham com o Senhor.
Eles estavam lhe tentando a demonstrar que Cristo falava realmente por seu intermédio,
apesar de terem visto a forma poderosa como Ele havia operado entre eles através do seu
ministério.
O próprio Cristo foi crucificado por meio de sofrimentos suportados pacientemente em
fraqueza, no entanto vive agora pelo poder de Deus.
De igual modo os seus ministros, ainda que fracos, vivem manifestando por toda parte o
poder de Deus, o qual opera nos seus ouvintes.
Todo cristão deve portanto fazer um auto exame diário, e colocarem à prova não os outros, mas a
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si mesmos, para verem se têm permanecido na
fé.
Os que são de Cristo têm a habitação de Cristo. Caso contrário, é porque já estão condenados.
No entanto, os cristãos verdadeiros não são reprovados para condenação eterna (v. 6).
Mas nenhum cristão deve se gloriar simplesmente nesta verdade, mas fazer valer e
manter a vocação para a qual foi chamado por
Deus de praticar o bem segundo Cristo, e não
viver mais na prática do mal.
Porque se existe uma aprovação por Deus que é
incondicional, por pura graça, relativa à nossa filiação e aceitação, no entanto, há uma outra
aprovação quanto ao nosso modo de viver, que
deve ser segundo a verdade e a justiça.
Viver portanto no pecado é viver de modo
reprovado quanto à santificação, ainda que não sejamos reprovados quanto à nossa justificação,
porque esta não foi dependente de nossas boas
obras, senão dos méritos exclusivos de Cristo,
da fé e da pura graça, sem o concurso das nossas obras (v. 7).
Então nenhum cristão terá o seu comportamento aprovado por Deus caso não
esteja andando na verdade, porque não se pode
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ir contra a verdade quando se é de Cristo, senão
viver pela verdade.
Paulo não se importava portanto com o que dizia respeito à sua fraqueza humana, ao contrário, se
regozijava nisto, porque era por meio dela que
se manifestava a graça e o poder do Senhor, que
fortalecia os cristãos coríntios, e que lhes aperfeiçoava.
O intuito de tantas admoestações, exortações e repreensões tinham em vista conduzir os
coríntios ao retorno à santificação de suas vidas,
de modo que o apóstolo não necessitasse usar
de rigor quando estivesse com eles, porque afinal, o poder que os ministros receberam de
Cristo visa à edificação e não à destruição do Seu
rebanho.
Deste modo, Paulo se despediu dos coríntios
com palavras de incentivo, de consolação, de votos que vivessem na alegria do Senhor,
aperfeiçoando-se nEle, e sendo de um mesmo
parecer, também vivessem em paz; porque
fazendo assim o Deus de amor e de paz seria com eles.
E finalmente, enviou-lhes saudações de todos os santos, e que se saudassem mutuamente com
ósculo santo.