A Modernidade Segundo Alain Touraine

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SOCIEDADE PROGRAMADA: A MODERNIDADE SOB A PERSPECTIVA DE ALAIN TOURAINE PROGRAMMED SOCIETY: MODERNITY IN THE PERSPECTIVE OF ALAIN TOURAINE Rubia de Araujo Ramos, Marco Aurélio Nogueira – Campus de Araraquara – Faculdade de Ciências e Letras/ FCLar – Ciências Sociais – [email protected] - PIBIC/ CNPq. Palavras Chaves: modernidade; sociedade programada; Sujeito. Keywords: modernity; programmed society; Subject. 1. INTRODUÇÃO Durante o processo histórico da modernidade, dispositivos de estruturação e organização social representaram avanço e progresso para a sociedade moderna que desde seu início se organiza para obter maior desenvolvimento científico e tecnológico. A crença em componentes de organização social, típicos da vida moderna como democratização, burocratização, industrialização, crescimento de mercado e tecnologia, durante todo o processo de modernização foram sinônimos de avanço e progresso. A união entre essas organizações sociais passou a ser estabelecida pela luta comum contra o modo de vida tradicional e seus valores. É verdade que o desenvolvimento da modernidade gerou acumulo de produções tanto no campo tecnológico como no campo cultural. Na atualidade a sociedade se encontra esgotada de materiais, e em certa medida, perdida diante da riqueza de inovações e produções. É desta situação vivida que surgem novos problemas para as ciências humanas, com excesso de informação e de abundancia em materiais que, no entanto não trouxeram a plena felicidade e organização social. Convivemos com a desvalorização da força de trabalho, o excesso de produtividade e miséria, com o terror da exclusão social e dos impactos ambientais; situações que geram insegurança e desconforto. Cheia de contradições, a modernidade trouxe para a humanidade novas situações sociais, novas formas de organização, problemáticas e também uma diversidade de identidades que surgem como respostas ao ritmo da vida moderna, rápida e dinâmica. Hoje, diante da insatisfação e do descontentamento da população, a modernidade estaria se dirigindo para uma sociedade programada e o Sujeito torna-se um novo objeto de estudo para a sociologia. Deste recente e complexo panorama muitos sociólogos vêm observando e iniciando discussões e análises das características nunca vividas antes pela sociedade global. Para analisar a modernidade, Alain Touraine tem como princípio de análise a predominância do pensamento ocidental iluminista em uma de suas peculiaridades, que é a desvalorização de todas as formas de subjetividade e crenças religiosas, processo esse que culmina na secularização, em suma, na depreciação de qualquer explicação da vida social e da natureza que não fosse de comprovação científica, convertendo-se a razão no único critério de organização da vida pessoal e coletiva (TOURAINE 1994). Alain Touraine é sem duvida um dos principais intelectuais que se debruça sobre este tema, e muito vem contribuindo com suas análises para a sociologia e a política contemporâneas. Seus estudos buscam compreender o processo histórico-social nas diferentes etapas da modernidade, e os conceitos fruto dessa pesquisa são uma importante porta de entrada para a compreensão do mundo atual e o desligamento de soluções para seus problemas. Esta pesquisa busca construir um estudo sobre o pensamento sociológico e político de Alain Touraine, que em sua fase recente procura compreender a vida social na chamada sociedade programada, que carrega em si uma tensão entre os limites da racionalização e da subjetivação. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E OBJETIVOS. 2.1 Fundamentação Teórica. Segundo Alain Touraine na sociedade pós-industrial, nomeada por ele de sociedade programada, a produção material e cultural é constante, as preocupações do cotidiano agora se voltam para os fins e as utilidades.Vive-se hoje em uma fase particular da modernidade, na qual prepondera a dependência tecnológica e tudo parece já estar projetado. A produção de bens materiais cede seu espaço central para a produção de bens simbólicos e culturais. Com a diversidade de identidades as demandas sócio-culturais são cada vez mais numerosas, e as preocupações do indivíduo moderno passam a se relacionar com a impressão de um projeto incompleto da modernidade. As transformações que a afetam não significam rupturas, mas reiteram e complicam a modernidade como um todo. A novidade está no surgimento de um novo perfil dos atores sociais, chamados de Sujeito, que se insere nas relações sociais para transforma-las sem necessariamente se identificar com um grupo ou qualquer coletividade e, não necessariamente romper com o sistema, 10064

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SOCIEDADE PROGRAMADA: A MODERNIDADE SOB A PERSPECTIVA DE ALAIN TOURAINE

PROGRAMMED SOCIETY: MODERNITY IN THE PERSPECTIVE OF ALAIN

TOURAINE

Rubia de Araujo Ramos, Marco Aurélio Nogueira – Campus de Araraquara – Faculdade de Ciências e Letras/ FCLar – Ciências Sociais – [email protected] - PIBIC/ CNPq.

Palavras Chaves: modernidade; sociedade programada; Sujeito. Keywords: modernity; programmed society; Subject. 1. INTRODUÇÃO Durante o processo histórico da modernidade, dispositivos de estruturação e organização social representaram avanço e progresso para a sociedade moderna que desde seu início se organiza para obter maior desenvolvimento científico e tecnológico. A crença em componentes de organização social, típicos da vida moderna como democratização, burocratização, industrialização, crescimento de mercado e tecnologia, durante todo o processo de modernização foram sinônimos de avanço e progresso. A união entre essas organizações sociais passou a ser estabelecida pela luta comum contra o modo de vida tradicional e seus valores. É verdade que o desenvolvimento da modernidade gerou acumulo de produções tanto no campo tecnológico como no campo cultural. Na atualidade a sociedade se encontra esgotada de materiais, e em certa medida, perdida diante da riqueza de inovações e produções. É desta situação vivida que surgem novos problemas para as ciências humanas, com excesso de informação e de abundancia em materiais que, no entanto não trouxeram a plena felicidade e organização social. Convivemos com a desvalorização da força de trabalho, o excesso de produtividade e miséria, com o terror da exclusão social e dos impactos ambientais; situações que geram insegurança e desconforto. Cheia de contradições, a modernidade trouxe para a humanidade novas situações sociais, novas formas de organização, problemáticas e também uma diversidade de identidades que surgem como respostas ao ritmo da vida moderna, rápida e dinâmica. Hoje, diante da insatisfação e do descontentamento da população, a modernidade estaria se dirigindo para uma sociedade programada e o Sujeito torna-se um novo objeto de estudo para a sociologia. Deste recente e complexo panorama muitos sociólogos vêm observando e iniciando discussões e análises das características nunca vividas antes pela sociedade global. Para analisar a modernidade, Alain Touraine tem como princípio de análise a predominância do pensamento ocidental iluminista em uma de suas peculiaridades, que é a desvalorização de todas as formas de subjetividade e crenças religiosas, processo esse que culmina na secularização, em suma, na depreciação de qualquer explicação da vida social e da natureza que não fosse de comprovação científica, convertendo-se a razão no único critério de organização da vida pessoal e coletiva (TOURAINE 1994). Alain Touraine é sem duvida um dos principais intelectuais que se debruça sobre este tema, e muito vem contribuindo com suas análises para a sociologia e a política contemporâneas. Seus estudos buscam compreender o processo histórico-social nas diferentes etapas da modernidade, e os conceitos fruto dessa pesquisa são uma importante porta de entrada para a compreensão do mundo atual e o desligamento de soluções para seus problemas. Esta pesquisa busca construir um estudo sobre o pensamento sociológico e político de Alain Touraine, que em sua fase recente procura compreender a vida social na chamada sociedade programada, que carrega em si uma tensão entre os limites da racionalização e da subjetivação. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E OBJETIVOS. 2.1 Fundamentação Teórica. Segundo Alain Touraine na sociedade pós-industrial, nomeada por ele de sociedade programada, a produção material e cultural é constante, as preocupações do cotidiano agora se voltam para os fins e as utilidades.Vive-se hoje em uma fase particular da modernidade, na qual prepondera a dependência tecnológica e tudo parece já estar projetado. A produção de bens materiais cede seu espaço central para a produção de bens simbólicos e culturais. Com a diversidade de identidades as demandas sócio-culturais são cada vez mais numerosas, e as preocupações do indivíduo moderno passam a se relacionar com a impressão de um projeto incompleto da modernidade. As transformações que a afetam não significam rupturas, mas reiteram e complicam a modernidade como um todo. A novidade está no surgimento de um novo perfil dos atores sociais, chamados de Sujeito, que se insere nas relações sociais para transforma-las sem necessariamente se identificar com um grupo ou qualquer coletividade e, não necessariamente romper com o sistema,

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uma figura importante para a reorganização social, não significando um fenômeno negativo da modernidade, mas a continuidade do processo de produção do bem social. O período atual da modernidade exige mais reflexão, maior defesa das liberdades individuais, da coletividade e dos governos democráticos, um quadro que corresponde à sociedade programada que permite mais espaço para a subjetivação e a combina com a racionalização. 2.2 Objetivos • Analisar as posições de Alain Touraine a respeito da sociedade pós-industrial e seus conceitos de Sujeito e Sociedade

Programada. • Organizar o raciocínio dos processos de desenvolvimento da modernidade, a transformação de bens materiais da

sociedade industrial para bens culturais da sociedade pós-industrial. • Produzir estudo descritivo/analítico que sirva para compreender as transformações recentes do capitalismo. • Esclarecer as condições que definem a existência do Sujeito no cenário da sociedade pós-industrial. • Verificar de que forma a modernidade está sendo reconstruída com o nascimento do Sujeito, ator da vida. 3. MATERIAIS E METODOLOGIA 3.1 Materiais Os materiais utilizados nesta pesquisa são todos bibliográficos: • livros do acervo da Universidade Estadual Paulista ‘Julio de Mesquita Filho’ (UNESP); periódicos, jornais, , artigos

de revistas, e artigos digitais na Internet. 3.2 Metodologia Esta pesquisa tem como principal método a descrição e a análise sistemática de textos. Neste particular, segue, em outro registro, as orientações de Alain Touraine, que considera ser a análise um meio necessário para se obter o melhor entendimento sobre o Sujeito, os movimentos sociais, a radicalização e, portanto a vida social moderna. Com a seleção de uma bibliografia referente ao tema, a organização, a descrição e a análise de conceitos, pretendemos obter trocas de idéias entre eles de modo a que se tome forma de diálogo e discussão sobre a pós-modernidade, para que se alcance conexões causais de sentido. Resumidamente esta metodologia consiste na leitura e revisão de publicações. Na descrição os conceitos serão sistematizados com colaboração de fundamentação empírica em que as conexões causais de sentido são fundamentais para que esses conceitos aqui descritos tenham validade para esta pesquisa. Na análise buscamos enfatizar temas de ligações que existem ao Sujeito e aos novos movimentos sociais e culturais, o que é importante para se definir e entender a complexidade que é o mundo da vida moderna, ou seja, a busca das conexões causais de sentido a partir das relações que existem entre os conceitos que explicam o ambiente do ator social, o Sujeito. E com isso, verificar a condição de existência desse Sujeito. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Como previsto, alguns conceitos de Alain Touraine procuram dar conta do conhecimento sobre a sociedade moderna, em especial a sociedade programada – uma fase particular do processo de modernização – de características próprias da contemporaneidade como a alta produção tecnológica e cultural. Pelas observações e descrições da vida social pós-moderna com sua riqueza de identidades, já é de consenso que o Estado sozinho não é suficiente para organizar e garantir o bem estar de toda a população, é certo que desta constatação surgem novos atores sociais, indivíduos que respondem as condições da modernidade com maior reflexividade, questionamentos e dúvidas, principalmente sobre assuntos sociais e teorias científicas que aparentam ser insuficientes para explicar a complexa sociedade contemporânea. No anseio por novas perspectivas com que superar o desencantamento do mundo (Weber), Touraine fez a seguinte afirmação: “Não vivemos inteiramente em uma situação pós-moderna, de dissociação completa entre sistema e ator, mas pelo menos em uma sociedade pós-industrial, programada, definida pela importância central das industrias culturais – saúde, educação, informação – onde um conflito central e social opõe os aparelhos de produção cultural à defesa do sujeito pessoal” (TOURAINE,1994,P.247-268) Das transformações sofridas ao longo do processo de modernização surge um novo quadro de distintos problemas de interesse público – desigualdade social, insegurança econômica, impactos ambientais, tensões multiculturais -, que desafiam as instituições políticas e pressionam em favor de estratégias de subjetivação, projetando o Sujeito para o centro do palco social. As condições histórico-sociais é o que nos indica a emergência do ator social individualizado, o Sujeito, que se opõe à lógica do mercado, mas não abre mão do consumismo e nem das tecnologias de informação e comunicação. A perspectiva de que a modernidade possuiu fases, diferentes períodos – alta, média e baixa modernidade - com suas respectivas particularidades, ajuda a que se ingresse nas estruturas da sociedade atual como uma espécie de arqueologia, de busca da constituição da modernidade em que vivemos, e poder facilitar uma consideração crítica abrangente, que privilegie

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a dimensão do Sujeito para compreender os diferentes movimentos de massa e de contestação do poder, sejam eles de inspiração mais material (lutas sindicais) ou mais culturais (manifestações feministas, homossexuais, estudantis ). 5. CONCLUSÕES A pesquisa ainda está em andamento, mas o que já concluímos é que mediante a existência de Sujeitos individuais e coletivos que respeitam e reconhecem a diversidade de valores, culturas e interesses, o melhor regime de governo para a atuação desses indivíduos reflexivos é a democracia, que para este tema o estudo crítico da sociologia contemporânea – vista aqui sobretudo mediante a obra de um de seus grandes intelectuais – é uma importante porta de entrada para a compreensão do mundo atual e o desligamento de soluções para seus problemas. Na sociedade programada o conhecimento se torna a principal força econômica produtiva e o vinculo social é concebido por redes de comunicação, onde os bens materiais perdem espaço para os bens culturais do conhecimento (TOURAINE,1994), onde o empenho é mais direcionado para as finalidades e utilidades das produções culturais como a educação, os cuidados médicos, ambientais e as informações de massa. A contemporaneidade é marcada por desconstruções e novas construções, novos costumes, conflitos, modos de produção e consumo que transformam os interesses e interferem nas relações sociais, culturais e políticas. É o ambiente social de atuação do Sujeito, uma dominante cultural independente das relações de classe e que ultrapassa a dicotomia burguesia /proletariado – permitindo um novo paradigma. 6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAUMAN,Z. Vida Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007. BECK,Ulrich; GIDDENS, Anthony; LASH, Scott. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo: UNESP, 1997. ELIAS, N. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994. GIDDENS, Anthony. As Conseqüências da Modernidade.São Paulo: Ed.UNESP, 1991. TOURAINE, Alain. Critica da Modernidade. Petrópolis: Ed. Vozes, 1994. TOURAINE, Alain. Podemos Viver Juntos? Iguais e Diferentes. Petrópolis: Ed. Vozes, 2003. TOURAINE, Alain. Igualdade e Diversidade: O Sujeito Democrático. Petrópolis: Ed. Vozes, 2006. TOURAINE, Alain. Um novo Paradigma. Para compreender o mundo de hoje. Petrópolis: Ed. Vozes, 2007. WEBER, Max. Economia e Sociedade: Fundamentos da Sociedade compreensiva. Brasília: Editora Universidade, 1991.

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