A MEDIDA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL · efeitos da depreciação do capital) ou aquela da renda...

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1 A MEDIDA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PEDRO JORGE RAMOS VIANNA Professor Titular do DTE/UFC. Aposentado De há muito os economistas têm discutido sobre a melhor maneira de medir não só o crescimento econômico, mas o desenvolvimento econômico. Hoje em seu sentido mais amplo, o desenvolvimento sustentável. Em 2005 quando estava diretor do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará - IPECE, apresentei um trabalho intitulado “Bem-Estar Socioeconômico: Conceitos e Medidas” (Vianna, 2005). Nesse trabalho apresento várias críticas aos métodos de medição do desenvolvimento econômico conhecidos até então. Naquele trabalho chamo a atenção para a fragilidade do PIB ou do PIB per capita como instrumento de medição do desenvolvimento socioeconômico. De fato, levantei à época os seguintes pontos: “Somente como um exemplo de mais uma tentativa para a medição da variável em discussão, volto, agora, às tentativas de medida do bem- estar socioeconômico de um povo: o trabalho de John Richard Hicks (HICKS, 1939), que tomou o crescimento do produto nacional como medida de desenvolvimento econômico. Talvez por entender que a medida do produto nacional fosse o parâmetro representativo do suprimento de todas as necessidades básicas da população é que Hicks argumentava, em 1939, que o Produto Nacional era uma boa medida do bem-estar econômico de um país. Na verdade, tomar o PIB como medida de bem-estar pode ser justificado, talvez, até por uma questão de praticidade: o PIB (ou o PNB) é o único parâmetro macroeconômico calculado sistematicamente pela grande maioria dos países desde que o conceito foi descoberto pelos economistas, a partir das contribuições de John Maynard Keynes (KEYNES, 1936).

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A MEDIDA DO DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

PEDRO JORGE RAMOS VIANNA Professor Titular do DTE/UFC. Aposentado

De há muito os economistas têm discutido sobre a melhor maneira de medir não só o crescimento econômico, mas o desenvolvimento econômico. Hoje em seu sentido mais amplo, o desenvolvimento sustentável. Em 2005 quando estava diretor do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará - IPECE, apresentei um trabalho intitulado “Bem-Estar Socioeconômico: Conceitos e Medidas” (Vianna, 2005). Nesse trabalho apresento várias críticas aos métodos de medição do desenvolvimento econômico conhecidos até então. Naquele trabalho chamo a atenção para a fragilidade do PIB ou do PIB per capita como instrumento de medição do desenvolvimento socioeconômico. De fato, levantei à época os seguintes pontos:

“Somente como um exemplo de mais uma tentativa para a medição da variável em discussão, volto, agora, às tentativas de medida do bem-estar socioeconômico de um povo: o trabalho de John Richard Hicks (HICKS, 1939), que tomou o crescimento do produto nacional como medida de desenvolvimento econômico. Talvez por entender que a medida do produto nacional fosse o parâmetro representativo do suprimento de todas as necessidades básicas da população é que Hicks argumentava, em 1939, que o Produto Nacional era uma boa medida do bem-estar econômico de um país. Na verdade, tomar o PIB como medida de bem-estar pode ser justificado, talvez, até por uma questão de praticidade: o PIB (ou o PNB) é o único parâmetro macroeconômico calculado sistematicamente pela grande maioria dos países desde que o conceito foi descoberto pelos economistas, a partir das contribuições de John Maynard Keynes (KEYNES, 1936).

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Como por muito tempo os economistas não descobriram outro

indicador para a medida do bem-estar socioeconômico, aquela variável

ficou como símbolo de prosperidade e de bem-estar de um povo,

simultaneamente.

Entretanto, quando os economistas começaram a estudar o problema da distribuição de renda como um fenômeno intrinsecamente ligado ao cálculo do bem-estar socioeconômico de um povo, é que se descobriu que o PIB (ou PNB) ou mesmo o PIB (ou PNB) per capita não era um bom indicador para o bem-estar. Isto é, as evidências empíricas acumuladas ao longo do tempo, mostraram que tal parâmetro (PIB ou PNB), se tomado isoladamente, era inadequado como medida de bem-estar socioeconômico da população. Mesmo a renda per capita, segunda variável a ser considerada medida de bem-estar, mostrou-se inadequada como representativa do nível de satisfação socioeconômico de uma comunidade. Isto porque, tanto o PIB quanto a renda per capita nada dizem acerca da distribuição de renda entre os cidadãos. Um país ou nação pode apresentar altos valores para o PIB e para a renda per capita e, no entanto, a grande maioria de sua população viver bem abaixo dos padrões aceitáveis de condições de vida. Mesmo o acentuado e contínuo crescimento da renda nacional não é um adequado indicador da melhoria das condições de vida dos cidadãos devido ao, justamente, problema da distribuição pessoal da renda, fenômeno sobre o qual discutiremos posteriormente, e que foi brilhantemente explicado pelo Prof. Samuelson (SAMUELSON, 1950). Entretanto, como já foi dito, por muito tempo foi o PIB (ou a renda per capita) a variável mais utilizada nas tentativas de se estimar o nível de bem-estar socioeconômico de um povo. Somente em meados da década dos sessentas do século passado é que alguns economistas concentraram suas atenções na busca de melhores indicadores para a medida do bem-estar socioeconômico em termos empíricos. Assim, a partir dos anos setentas daquele século, os primeiros resultados desse esforço vieram a lume na literatura econômica. E o trabalho está terminado? A resposta é não. E será que estará um dia? Muito provavelmente não. Entretanto, as tentativas dos economistas em estabelecer funções de utilidade, bem como funções de bem-estar, principalmente para os indivíduos, continuam a proliferar. Assim, no início da década dos setentas do século passado, uma nova onda de tentativas de se estabelecer funções de bem-estar social para os indivíduos surgiu com grande vigor. Pode-se dizer que o começo desse novo paradigma foi o trabalho de B. van Praag (VAN PRAAG, 1968); seguindo-se-lhe os trabalhos de S. C. Kolm (KOLM, 1969) e de A. B. Atkinson (ATKINSON, 1970), para citar apenas estes.

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É claro que ainda há muito a ser desenvolvido nesta área, mesmo porque em termos quantitativos, as dificuldades são muitas para se medir o nível de satisfação de qualquer indivíduo. De fato, ainda hoje é muito difícil encontrarem-se estatísticas contínuas e fidedignas sobre ingestão de calorias e proteínas, horas gastas em lazer, percentual de renda gasta em vestuário, percentual de renda gasta em lazer etc. Deixando a discussão acadêmica sobre o binômio grau de satisfação-

medida de bem-estar socioeconômico, vou, agora, apresentar as

variáveis que podem ser utilizadas ou como “proxies” dessa medida ou

como componentes de indicadores (alguns deles serão apresentados

no item 5 a seguir) que, pretensamente, mediriam o bem-estar

socioeconômico. Isto é feito no item a seguir.”(Vianna, 2005, págs.

21,22).

Passados quatro anos da exposição daquele meu trabalho, surge o Relatório da Comissão Stiglitz (Stiglitz, Sen e Fitoussi, 2009)

Neste último trabalho, o uso do PIB como medida de desenvolvimento é severamente criticado. De fato, assim se pronunciam os autores sobre o tema:

“Muitas vezes parece existir uma distancia acentuada entre, de um lado, as medidas habituais de grandes variáveis socioeconômicas, como o crescimento, a inflação, o desemprego, etc., e, do outro lado, as percepções amplamente difundidas dessas realidades. As medidas usuais podem, por exemplo, levar ao entendimento de que a inflação é mínima ou o crescimento é mais forte do que sentem os indivíduos; esta distancia e tão significativa e tão generalizada que não pode ser explicada unicamente com base na ilusão monetária ou na psicologia humana. Em certos países, esse fenômeno tem minado a confiança nas estatísticas oficiais (na Franca e na Gra-Bretanha, por exemplo, somente um terço dos cidadãos confia nos dados oficiais, e esses países não são exceções) e tem uma incidência manifesta sobre as modalidades do debate publico sobre o estado da economia e as políticas a serem adotadas.” (Stiglitz, Sen, Fitoussi, 2009, pág. 10).

A explicação para a falta de confiança da população nas estatísticas oficiais, as quais são inadequadas para medir o grau de desenvolvimento sustentável ou do nível de bem-estar dessa mesma população, é explicado pelos autores da seguinte maneira:

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“Essa distância entre a mensuração estatística das realidades socioeconômicas e a percepção dessas mesmas realidades pelos cidadãos pode ser explicada de varias maneiras: – E possível que os conceitos estatísticos sejam apropriados, mas que o processo de mensuração seja imperfeito. – Existe, além disso, um debate sobre a escolha dos conceitos pertinentes e o uso apropriado dos diferentes conceitos. – Na presença de mudanças de grande amplitude em matéria de desigualdade (e em geral na distribuição de renda), o produto interno bruto (PIB) ou qualquer outro agregado calculado per capita pode não fornecer uma avaliação apropriada da situação na qual a maior parte das pessoas se encontra. Se as desigualdades se aprofundam em relação ao crescimento médio do PIB per capita, muitas pessoas podem se encontrar em situação pior, apesar da renda media ter aumentado. – E possível que as estatísticas habitualmente utilizadas não expliquem certos fenômenos que tem um impacto cada vez maior sobre o bem-estar dos cidadãos. Se, por exemplo, os engarrafamentos do transito podem fazer crescer o PIB em razão do aumento do consumo de gasolina, e evidente que eles não tem o mesmo efeito sobre a qualidade de vida. Alem disso, se os cidadãos estão preocupados com a qualidade do ar e a poluição do ar aumentar, as medidas estatísticas que o ignorarem fornecerão uma avaliação inadequada da1 evolução do bem-estar das populações. E possível, igualmente, que a tendência a medir mudanças progressivas não seja capaz de considerar os riscos de deterioração súbita do meio ambiente, como no caso da mudança climática. – Finalmente, a maneira pela qual as estatísticas são tornadas públicas ou utilizadas pode dar uma visão distorcida das tendências econômicas. Assim, coloca-se geralmente a ênfase no PIB, quando noções como aquela de produto nacional líquido (que leva em conta os efeitos da depreciação do capital) ou aquela da renda real das famílias (centrada sobre os rendimentos efetivos das famílias dentro da economia) podem ser mais pertinentes. Ora, pode haver entre esses valores diferenças acentuadas. O PIB na e, portanto, errôneo em si, mas utilizado de forma errônea. Temos, assim, necessidade de compreender melhor o uso apropriado de cada instrumento de mensuração. 6. Na verdade, a adequação dos instrumentos atuais de mensuração do desempenho econômico, principalmente daqueles que se baseiam unicamente no PIB, tem sido problemática há muito tempo. Essas preocupações são ainda mais acentuadas no que diz respeito a pertinência desses dados enquanto ferramentas de medida do bem-estar da sociedade. O fato de privilegiarem o aumento do número de bens de consumo inertes (medido, por exemplo, pelo PNB ou pelo PIB, que foram objeto de um numero considerável de estudos do progresso econômico) só poderia, em ultima analise, se justificar — se e que pode — pelo que esses bens trazem a vida dos seres humanos, sobre

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a qual eles podem influir direta ou indiretamente. Por outro lado, estabeleceu-se de longa data que o PIB era uma ferramenta inadequada para avaliar o bem-estar ao longo do tempo, em particular em suas dimensões econômica, ambiental e social, aspectos que são frequentemente designados pelo termo sustentabilidade.” (Stiglitz, Sen, Fitoussi, 2009, págs. 10-11)

Portanto, o que temos na realidade no que diz respeito à mensuração do desenvolvimento sustentável deixa muito a desejar. E qual é a sugestão da Comissão Stiglitz para sanar este problema? Na verdade, as sugestões são várias. São doze as recomendações da Comissão. No Quadro 1, a seguir são listadas essas recomendações. No meu trabalho antes referido, apresento uma relação das variáveis que deveriam fazer parte de qualquer indicador destinado a medir o bem-estar da população. No Quadro 2, a seguir reproduzo tal Quadro.

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QUADRO 1 AS RECOMENDAÇÕES DA COMISSÃO STIGLITZ

Recomen dações

RECOMENDAÇÕES

1 Na esfera da avaliação do bem-estar material, referir-se preferencialmente à renda e ao consumo do que

à produção.

2 Colocar a ênfase na perspectiva das famílias.

3 Levar em consideração o patrimônio juntamente com a renda e o consumo.

4 Atribuir maior importância à distribuição da renda, do consumo e das riquezas.

5 Estender os indicadores de renda para as atividades não comerciais.

6 A qualidade de vida depende das condições objetivas em que se encontram as pessoas e de suas

“capacidades dinâmicas”. Seria conveniente melhorar as mensurações numéricas da saúde, da

educação, das atividades pessoais e das condições ambientais. Além disso, deverá ser feito um esforço

particular na concepção e na aplicação de ferramentas sólidas e confiáveis de mensuração das

relações sociais, da participação na vida política e da insegurança, conjunto de elementos que pode se

constituir em um bom prognóstico da satisfação que as pessoas extraem de suas vidas.

7 Os indicadores de qualidade de vida deverão, em todas as dimensões que abrangem, fornecer uma

avaliação exaustiva e global das desigualdades

8 Deverão ser concebidas enquetes para avaliar as ligações entre os diferentes aspectos da qualidade de

vida de cada um, e as informações obtidas deverão ser utilizadas por ocasião da definição de políticas

em diferentes áreas

9 Os institutos de estatísticas deveriam fornecer as informações necessárias para agregar as diferentes

dimensões da qualidade de vida, permitindo, assim, a construção de diferentes índices.

10 As medidas do bem-estar, tanto objetivo quanto subjetivo, fornecem informações essenciais sobre a

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qualidade de vida. Os institutos de estatística deveriam integrar às suas enquetes perguntas que

visassem a conhecer a avaliação que cada um faz de sua vida, de suas experiências e prioridades.

11 A avaliação da sustentabilidade necessita de um conjunto de indicadores bem definido. Como traço

distintivo, os componentes deste painel deverão poder ser interpretados como variações de certos

“stocks” subjacentes. Um índice monetário de sustentabilidade tem seu lugar em tal painel; todavia, no

estado atual dos conhecimentos, ele deveria mirar principalmente, nos aspectos econômicos da

sustentabilidade.

12 Os aspectos ambientais da sustentabilidade merecem um acompanhamento em separado que se baseie

em uma bateria de indicadores físicos selecionados com cuidado. É necessário, em particular, que um

deles indique claramente em que medida nós nos estamos aproximando de níveis perigosos de

danos ao meio ambiente (em razão, por exemplo, da mudança climática ou do esgotamento dos recursos

da pesca).

Fonte - Stiglitz, Sen e Fitoussi, 2009, págs. 18-26

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QUADRO 2 AS VARIÁVEIS PARA A MEDIDA DO BEM-ESTAR

CONJUNTOS VARIÁVEIS

PRIMEIRO QUE REPRESENTAM RENDA OU PRODUTO

Renda Interna ou Produto Interno

Renda Per Capita

Valor da Transformação Industrial

Produtos ou Rendas Setoriais

Remuneração Média da PEA ou Massa Salarial/PIB

Formação Bruta de Capital Físico – FBKF

SEGUNDO QUE INDICAM AS DISPONIBILIDADES DE SERVIÇOSOS BÁSICOSOS PARA A POPULAÇÃO

Número de Leitos Hospitalares por 1.000 Habs.

Número de Médicos por 1.000 Habs.

Número de Enfermeiros por 1.000 Habs.

Domicílios Servidos com Água Tratada

Domicílios Servidos com Esgoto Sanitário

Domicílios com Coleta Adequada de Lixo nas Áreas Urbanas

Domicílios Servidos com Energia Elétrica

Domicílios Servidos com Telefonia

Número de Professores por 1.000 Alunos

TERCEIRO QUE INDICAM O ESFORÇO DO GOVERNO EM PROVER A A POPULAÇÃO COM MELHORES CONDIÇÕES DE VIDA

Gastos do Setor Público com Educação

Gastos do Setor Público com Saúde

Gastos do Setor Público com Saneamento Básico

Gastos do Setor Público com Segurança Pública

QUARTO VARIÁVEIS SOCIOECONÔMICAS

Expectativa de Vida

Taxa de Mortalidade Infantil

Taxa de Escolaridade

Taxa de Analfabetismo (População com 15 Anos ou Mais)

Número de Alunos por Professor da Rede Pública

Número de Alunos por Sala de Aula

Gastos da População com Lazer

Ingestão de Proteínas

Ingestão de Calorias

Crescimento Populacional

Crescimento da População Economicamente Ativa (PEA)

Densidade Demográfica

Densidade Econômica

Densidade Agropecuária

Densidade Industrial

Grau de Industrialização

Grau de Urbanização

Nível de Pobreza Absoluta

Fonte; Elaboração Própria do Autor.

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É claro que dificilmente pode-se trabalhar com todas essas variáveis. Entretanto, algumas delas são indispensáveis para que se tenha uma medição razoavelmente boa do bem-estar social, do desenvolvimento sustentável. Mas comparando as relações apresentadas no Quadro 2 com as Proposições da Comissão Stiglitz (Quadro 1), verificamos que muitas delas são bem diferentes. No Relatório da Comissão Stiglitz há algumas sugestões que não podem ser medidas. Pelo menos com os instrumentos estatísticos hoje utilizados. Comparando as duas proposições gerais (Quadro 1 e Quadro 2), podemos obter o que se segue:

a) Referente à Proposição 1, não há nas minhas variáveis algo que se refira ao consumo. Mas quanto á Renda, é sugerido o uso da renda per capita e da remuneração média da pea ou da massa salarial, o que, talvez, possa ser aceito pela Comissão Stiglitz;

b) Quanto à Proposição 2, não atentei para esta possibilidade; c) No que diz respeito à Proposição 3, vejo um grande problema

para cálculo de algum indicador, tendo em vista que a Comissão sugere o uso de um estoque com o uso de fluxos;

d) Na Proposição 4 da Comissão, sua aplicação também não visualizada por mim, envolve problema sério de se medir disparidades, seja de renda, seja regional, seja locacional etc.;

e) A Proposição 5 da Comissão diz respeito às atividades que não são quantificáveis nas Contas Nacionais, como o serviço das donas de casa, ou dos agricultores de subsistência. A medida de tal indicador envolve, fora de qualquer dúvida, o uso de juízo de valor;

f) Todo o segundo conjunto das variáveis listadas no Quadro 2 são pertinentes no que diz respeito à Proposição 6 da Comissão Stiglitz;

g) As Proposições 7 e 8 são inéditas e muito importantes. Mas infelizmente a Comissão não oferece sugestões de como conseguir as estatísticas para a sua medição;

h) A Proposição 9 é apenas uma recomendação operacional; i) O mesmo se pode dizer da Proposição 10;

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j) As Proposições 11 e 12 são muito gerais, embora muito importantes. O problema todo é a definição e a mensuração dos “indicadores” a serem usados.

Em resumo, temos as seguintes conclusões:

a) Há um consenso entre os estudiosos do desenvolvimento socioeconômico de que o PIB ou o PIB per capita não refletem a real situação da população pesquisada;

b) O bem-estar e a felicidade da população são agora, os alvos de pesquisas e de mensuração de indicadores, para os economistas.

Entendo que qualquer indicador que se queira construir, embute sempre algum juízo de valor. De qualquer forma sou de opinião que qualquer indicador a ser utilizado deve utilizar o máximo possível das variáveis listadas no Quadro 2. Entretanto, vale lembrar o que escrevi no trabalho sobre bem-estar social (Vianna, 2005)

“É claro que não devemos agrupar em um único índice todas as

variáveis listadas no Quadro 2 porque muitas delas apresentam

alta correlação entre si e algumas não permitem a

ortogonalização do conjunto. É possível, ainda, que para muitos

países o terceiro conjunto não seja importante. Assim, talvez

nosso conjunto de variáveis básicas (e independentes),

importantes para o cálculo de um índice universal de bem-estar

deva envolver somente cinco ou seis variáveis daquelas listadas.”

(Vianna, 2005 , pág.24).

Apenas como provocação reproduzo no Anexo 1, os conjuntos de

variáveis utilizadas por algumas instituições e/ou pesquisadores.

Como se pode ver cada pesquisador ou cada instituição busca

encontrar um indicador que dê uma real ideia da situação

socioeconômica das populações estudadas.

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BIBLIOGRAFIA VIANNA, P.J.R.; “Bem-Estar Socioeconômico: Conceitos e Medidas”. IPECE. Fortaleza, 2005. HICKS, JOHN R.; “Foundations of Welfare Economics”. Em

Economic Journal, vol. 49 ,1939.

KEYNES, J.M.; The General Theory of Employment, Interest and

Money. Harcourt, Brace & World, Inc. New York, 1936.

PRAAG, B. M. S van.; Individual welfare functions and economic

behavior. North Holland. Amsterdam, 1968

SAMUELSON, P. A.; “Evaluation of real national income”. Em

Oxford Economic Papers, N. S. , vol. 2 , p. 1-29, 1950.

STIGLITZ, J. E.; SEN, A.; FITOUSSI, J.P.; Relatório da Comissão sobre a Mensuração do Desempenho Econômico e Progresso Social. Federação das Indústrias do Estado do Paraná-FIEPR. Curitiba, 2012.

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ANEXO 1

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Indicadores e Variáveis utilizadas pela Fundação João Pinheiro para calcular o Índice de Condição de Vida.

QUADRO 3

INDICADORES E VARIÁVEIS COMPONENTES DO ICV

ÍNDICES DE CONDIÇÕES

DE VIDA

INDICADORES BÁSICOS

ICV – EDUCAÇÃO Taxa de analfabetismo

Número médio de anos de estudo

Porcentagem da população com idade 25 anos com menos de quatro anos de estudo

Porcentagem da população com idade 25 anos com menos de oito anos de estudo

Porcentagem da população com mais de 11 anos de estudo

ICV – HABITAÇÃO Porcentagem da população que vive em domicílios com densidade média de duas pessoas por dormitório

Porcentagem da população urbana que vive em domicílios com abastecimento adequado de água

Porcentagem da população urbana que vive em domicílios com instalações adequadas de esgoto

ICV – INFÂNCIA Porcentagem de crianças (10 < x < 14) que trabalham

Porcentagem de crianças (7 < x < 14) que não freqüentam a escola

Defasagem escolar média (10 < x < 14)

Porcentagem de crianças (10 < x < 14) com mais de um ano de defasagem escolar

ICV - LONGEVIDADE Esperança de vida ao nascer

Taxa de mortalidade infantil

ICV – RENDA Renda familiar per capita média

Grau de desigualdade da distribuição de renda

Porcentagem de pessoas com renda insuficiente (PO = 0,5 SM por membro da família)

Insuficiência média de renda (P1)

Grau de desigualdade na população com renda insuficiente (P2)

Fonte; Extraído de Vianna, 2005.

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Indicadores e Variáveis utilizadas por Márcio Pochman e Ricardo Amorim para calcular o Índice de Exclusão Social.

QUADRO 4 COMPONENTES DO ÍNDICE DE EXCLUSÃO SOCIAL

COMPONENETES

VARIÁVEIS PESO

Padrão de Vida Digno Pobreza 17,0%

Emprego Formal 17,0%

Desigualdade 17,0%

Conhecimento Anos de Estudo 5,7%

Alfabetização 11,3%

Risco Juvenil Concentração de Jovens 17,0%

Violência 15,0%

Fonte; Extraído de Vianna, 2005.r

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Indicadores e Variáveis utilizadas por Roberto Cavalcanti de Albuquerque para calcular o Índice de Nível de Vida.

QUADRO 5 COMPONENTES E VARIÁVEIS DO INV

COMPONENTES

INDICADORES/VARIÁVEIS Ii

EDUCAÇÃO GRAU MÉDIO DE ESCOLARIDADE, I1

TAXA DE ALFABETIZAÇÃO DAS PESSOAS COM 15 ANOS E MAIS, I2

RENDA RENDIMENTO MÉDIO MENSAL DAS PESSOAS COM 10 ANOS OU MAIS, I3

RELAÇÃO 1 MENOS COEFICIENTE DE GINI, I4

PERCENTAGEM DAS PESSOAS COM RENDIMENTO MÉDIO MENSAL ACIMA DE UM SALÁRIO MÍNIMO, I5

HABITAÇÃO PERCENTUAL DE DOMICÍLIOS COM ABASTECIMENTO D’ÁGUA, I6

PERCENTUAL DOS DOMICÍLIOS COM ENERGIA ELÉTRICA, I7

PERCENTUAL DOS DOPMICÍULIOS COM FILTRO, I8

PERCENTUAL DOS DOMICÍLIOS COM GELADEIRA, I9

INFORMAÇÃO E LAZER

PERCENTUAL DOS DOMICÍLIOS COM TELEVISÃO, I10

Fonte; Extraído de Vianna, 2005.

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Indicadores e Variáveis utilizadas pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará – IPCE para calcular o Índice de Desenvolvimento Social

QUADRO 6

AS VARIÁVEIS DO IDS-R E DO IDS-O

IDS-R

IDS-O

EDUCAÇÃO EDUCAÇÃO

Taxa de escolarização no ensino fundamental

Proporção de professores do ensino fundamental com grau de formação superior

Taxa de escolarização no ensino médio Proporção de professores do ensino médio com grau de formação superior

Taxa de aprovação na 4ª série Relação de bibliotecas, salas de leitura e laboratórios de informática por escola pública

Relação de equipamentos de informática por escola pública

SAÚDE SAÚDE

Taxa de mortalidade infantil Proporção de gestantes assistidas no 1º trimestre de gravidez

Taxa de internação por AVC Proporção de crianças menores de 2 anos acompanhadas

Proporção da população coberta pelo Programa de Saúde da Família (PSF)

CONDIÇÕES DE MORADIA CONDIÇÕES DE MORADIA

Proporção de moradores de domicílios urbanos com abastecimento de água

Taxa de cobertura de abastecimento de água urbano

Proporção de moradores de domicílios urbanos com esgotamento sanitário

Taxa de cobertura de esgotamento sanitário urbano

EMPREGO E RENDA EMPREGO E RENDA

Consumo residencial médio de energia elétrica

Relação de matrículas no ensino médio pela matrícula total

Índice de qualidade do emprego formal Profissionais de saúde por mil habitantes

Tamanho médio dos estabelecimentos Relação da malha rodoviária pavimentada pela área do município

DESENVOLVIMENTO RURAL DESENVOLVIMENTO RURAL

Valor bruto da produção agropecuária por estabelecimento rural

Valor médio do crédito rural

Proporção do consumo de energia elétrica no meio rural

Produtores assistidos por estabelecimento

Fonte; Extraído de Vianna, 2005.

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Indicadores e Variáveis utilizadas pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará – IPCE para calcular o Índice de Performance Social

QUADRO 7 DIMENSÕES E VARIÁVEIS DO IPS

DIMENSÕES

VARIAÇÃO PERCENTUAL DE

EDUCAÇÃO Taxa de escolarização no ensino fundamental

Taxa de escolarização no ensino médio

Taxa de aprovação na 4ª série

SAÚDE Taxa de mortalidade infantil

Taxa de internação por AVC

CONDIÇÕES DE MORADIA Proporção de moradores de domicílios urbanos com abastecimento de água adequada

Proporção de moradores de domicílios urbanos com esgotamento sanitário

EMPREGO E RENDA Consumo residencial médio de energia elétrica

Índice de qualidade do emprego formal

Tamanho médio dos estabelecimentos

DESENVOLVIMENTO RURAL Valor bruto da produção agropecuária por estabelecimento rural

Consumo de energia elétrica no meio rural

Fonte; Extraído de Vianna, 2005.