A ludicidade como mediação pedagógica no contexto … · mundo onde a violência cede lugar ao...
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A LUDICIDADE COMO MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA NO CONTEXTO DA
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA ESCOLA MUNICIPAL MARCIONÍLIO
ROSA – IRECÊ/BA
Albaneide Galdino1
Sirleide Galdino
Maria de Fátima Sudré de Andrade Bastos2
Resumo: O presente artigo tem como objetivo apresentar uma pesquisa realizada no período de
estágio na Escola Municipal Marcionílio Rosa, Irecê/BA, na modalidade Educação de Jovens e
Adultos (EJA), 1° segmento, com a perspectiva de entender como a mediação ludo pedagógica
contribui para o desenvolvimento da aprendizagem desse público. O estudo apresentado tem como
técnica de pesquisa o estudo de caso, sendo utilizado o método indutivo, pesquisa participativa e a
abordagem qualitativa. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram as observações,
anotações feitas no diário de bordo do estágio III, e da participação no conselho de classe do I
bimestre da referida escola, leituras de documentos da escola e das propostas curriculares do
município de Irecê e do estado da Bahia para a EJA. Diante do resultado da análise dos dados,
constatamos que a mediação ludo pedagógica contribui significativamente para o desenvolvimento
educacional dos alunos da EJA, pois, através do “brincar”, o aluno desenvolve habilidades
psicomotoras, sócio-afetivas, cognitivas e a concentração. Compreendemos que uma aula
desenvolvida com atividades lúdicas transforma-se num forte instrumento facilitador da
aprendizagem, se utilizado pelo educador de forma organizada, sistematizada e com objetivos
definidos, sempre com a finalidade de oferecer ao educando um espaço atrativo, prazeroso e
necessário ao seu desenvolvimento e à aprendizagem como um todo.
Palavras-Chave: EJA; Mediação Lúdica; Jogo.
INTRODUÇÃO
O principal objetivo deste artigo é mostrar a importância da mediação ludo pedagógica
na EJA, destacando os conceitos, os métodos e as práticas dos educadores no processo de
ensino/aprendizagem dos educandos da EJA na Escola Municipal Marcionílio Rosa,
Irecê/BA, no primeiro segmento, 1ª e 2ª séries. A motivação que nos instigou a fazer esta
pesquisa se deu a partir das observações iniciais que fizemos na referida escola antes de
iniciarmos o estágio obrigatório curricular.
1 Graduandas do 8° semestre de Pedagogia, turma 2009.1 pela Universidade do Estado da Bahia-Departamento
de Ciências e Tecnologias - Campus XVI – Irecê/BA.
2 Orientadora. Especialista em Psicologia Educacional com ênfase em Psicopedagogia Preventiva pela PUC de
Minas Gerais. Professora da Universidade do Estado da Bahia-Departamento de Ciências e Tecnologia - Campus
XVI – Irecê/BA.
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No período de uma semana em que estivemos presentes em sala de aula, percebemos
que a professora regente não trabalhou nenhuma atividade lúdica com a turma. Diante do
exposto, buscamos mais informações, investigamos e constatamos que a escola não tem o
hábito de trabalhar constantemente atividades lúdicas nesse segmento de ensino.
O professor deve ser o principal responsável por fazer a “ponte” entre o conhecimento
educacional que ele tem e o conhecimento de vida que o educando da EJA traz consigo. Essa
ponte, esse canal de troca de conhecimento, pode ser muito bem feita por meio da mediação
lúdica por parte do professor para com seu educando. Através de atividades lúdicas,
ferramenta pedagógica importante que auxilia muito o professor no processo de ensino, o
educador consegue fazer com que seu aluno aprenda de uma forma descontraída. Mediante
suas intervenções, motiva seus educandos a participarem do processo educativo e possibilita
meios para que o próprio educando tenha curiosidade e, por conseguinte, seja construtor do
seu conhecimento.
A aprendizagem escolar implica uma constante reorganização de experiências e a
mesma ocorrerá significativamente quanto mais os professores forem capazes de aproximar o
pensar do fazer e do sentir através do lúdico, atividade pela qual o ser humano aprende de
modo integral. Isso porque esses sentidos estão presentes no momento em que brinca, interage
com os demais pares. Dessa forma o educando aprende pensando, fazendo e sentindo.
A constituição Federal de 1988 estabelece que "a educação é direito de todos e dever
do estado e da família [...]" e ainda destaca que o ensino fundamental deve ser obrigatório e
gratuito, inclusive com sua oferta garantida para todos os que a ela não tiveram acesso na
idade escolar.
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) parte do princípio de que a constituição de
uma educação básica para jovens e adultos deve ser voltada para a cidadania. Essa construção
de uma educação básica para jovens e adultos não se resolve apenas garantindo a viabilização
de vagas, mas, principalmente, oferecendo-se um ensino de qualidade, mediado por
professores aptos a congregar, em seu trabalho, as inovações nas distintas áreas de
conhecimento e de incorporar as mudanças sociais e a suas consequências na esfera escolar.
Hoje, a EJA é uma modalidade de ensino, componente constitutivo da Educação
Básica, e não mais um subsistema de ensino, com funções reparadora, equalizadora e
qualificadora, obedecendo a princípios de equidade, diferença e proporção. Nesse sentido, a
educação de jovens e adultos torna-se mais que um direito: é a chave que abrirá portas para o
século XXI. É tanto consequência do exercício da cidadania como condição para uma plena
participação na sociedade.
Além do mais, é um poderoso argumento em favor do desenvolvimento ecológico
sustentável, da democracia, da justiça, da igualdade entre os sexos, do desenvolvimento
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socioeconômico e científico, além de um requisito fundamental para a construção de um
mundo onde a violência cede lugar ao diálogo e à cultura de paz baseada na justiça. A
educação básica de jovens e adultos de qualidade exige um compromisso com o trabalho em
equipe, com a inovação pedagógica, sensibilidade com a heterogeneidade, estando voltada ao
diálogo democrático e à convivência plural.
As escolas que possuem o curso de EJA devem oferecer aos educandos a
probabilidade de ampliar as competências necessárias para a aprendizagem dos conteúdos
escolares, bem como a possibilidade de aumentar a consciência em relação à interação com o
mundo, desenvolvendo a capacidade de participação social, no exercício da cidadania. Na
EJA busca-se o acesso à aprendizagem significativa, integrada efetivamente à organização
dos conhecimentos dos alunos e não exclusivamente à informação adquirida por
memorização, pois, atualmente o enfoque é dado na aprendizagem, e não no ensino.
A proposta pedagógica da EJA deve ser pautada pelo dever do Estado de garantir a
Educação Básica às pessoas jovens e adultas, na especificidade do seu tempo humano, ou
seja, considerando as experiências e formas de vida próprias à juventude e à vida adulta. A
EJA deve ser compreendida enquanto processo de formação humana plena que, embora
instalado no contexto escolar, deverá levar em conta as formas de vida, trabalho e
sobrevivência dos jovens e adultos que se colocam como principais destinatários dessa
modalidade de educação.
Consequentemente, a EJA orienta-se pelos ideários da Educação Popular: formação
técnica, política e social. Para Freire (2001, p. 15), o conceito de Educação de Adultos vai se
movendo na direção da Educação Popular, na medida em que a realidade vai fazendo
exigências à sensibilidade e à competência científica dos educadores e educadoras. Para a
garantia do direito dos jovens e adultos à Educação Básica, o currículo deverá ser pautado em
uma pedagogia crítica que considere a educação como dever político, como espaço e tempo
propícios à emancipação dos educandos e à formação da consciência crítico-reflexiva e
autônoma.
Com o intuito de atender ao objetivo deste artigo, os argumentos estão expostos em
três seções. Na primeira, uma abordagem do conceito de mediação e ludicidade; na segunda,
expomos o universo lúdico em sala de aula e sua importância quanto instrumento de ensino-
aprendizagem na EJA; na terceira, são abordadas as ações concretizadas durante o estágio,
baseadas na experiência realizada na Escola Municipal Marcionílio Rosa, Irecê/BA.
DESENVOLVIMENTO
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Ao longo da história da educação brasileira, pouco se fez em prol de um ensino de
qualidade para os jovens e adultos. É somente a partir de 1940 que no Brasil se começa a
pensar em uma educação voltada a estas camadas populares, as quais tiveram maior evidência
a partir de 1960. Neste cenário Freire propunha uma concepção de educação libertadora, a
qual almeja, a partir das experiências vividas cotidianamente pelo aluno, a constituição de um
processo emancipador no qual a leitura está intimamente vinculada à transformação social
com a superação da opressão. Neste sentido, ressalta-se a necessidade de respeitar os saberes
dos educandos, suas realidades, pois impor “a eles a nossa compreensão em nome da sua
libertação é aceitar soluções autoritárias como caminhos para liberdade” (FREIRE, 2003, p.
27).
As propostas de Freire visam a uma educação popular, conscientizadora, na qual a
leitura de mundo precede a leitura da palavra. Entretanto, contrariamente a esta perspectiva,
em 1967 foi lançado o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), que se expandiu
para todo o país. Este programa levava o educando a apenas decifrar letras e, muito
precariamente, abordava a leitura e a escrita. De um modo geral, mesmo após a extinção do
Mobral, e com os sucessivos programas governamentais para atender a EJA, percebemos que
ainda são fortes as influências de perspectivas limitadas de educação nesta modalidade de
ensino.
Deste modo, para reverter esse quadro, seria preciso envolver os alunos em um
processo de ensino norteado por práticas que possibilitem a inclusão educacional e social.
Para tanto, os trabalhos educativos com jovens e adultos devem estar alicerçados com práticas
que desenvolvam a permanência do educando na escola, permitindo o seu desenvolvimento
em múltiplas dimensões e fazendo com que o mesmo se prepare para novos desafios que
surgem.
Assim sendo, o lúdico passa a constituir-se em uma possibilidade de um novo olhar
para os jovens e adultos, alunos que não tiveram oportunidades educacionais na idade própria
e retornaram à escola na tentativa de superar o tempo perdido, de modo que possam encontrar
na escola um ambiente prazeroso, descontraído e de satisfação pessoal. É neste contexto que a
escola de jovens e adultos pode tornar-se, para os educandos, um espaço privilegiado de
formação com metodologias divertidas e dinamizadas, desfrutando de momentos prazerosos
e, ao mesmo tempo, construindo um conhecimento escolar agradável.
Diante do exposto, trouxemos o conceito da palavra lúdico que tem sua origem na
palavra "ludus", que quer dizer jogo. A palavra evoluiu, levando em consideração as
pesquisas, de modo que deixou de ser considerado apenas o sentido de jogo. O lúdico faz
parte da atividade humana e caracteriza-se por ser espontâneo, funcional e satisfatório. Na
atividade lúdica, não importa somente o resultado, mas a ação, o movimento. O lúdico,
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embora comumente usado na forma substantivada, tem valor de um adjetivo que indica algo
que possui a natureza do brincar.
A ludicidade em si é um típico divertimento do ser humano, é uma atividade natural
do sujeito que não implica compromissos, planejamento e seriedade, e sim envolve
comportamentos espontâneos e geradores de prazer. A atividade lúdica está diretamente
relacionada com a história de vida. É, antes de qualquer coisa, um estado de espírito e um
saber que progressivamente vai se instalando na conduta do ser, devido ao seu modo de vida.
A ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista
apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o
desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para
um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e
construção do conhecimento. (cf. SANTOS E CRUZ, 1997, P. 12).
Na atividade lúdica, o que importa não é apenas o produto da atividade que dela
resulta, mas a própria ação; o momento vivido possibilita, a quem a vivencia, momentos de
encontro consigo e com o outro, momentos de fantasia e de realidade, de ressignificação e
percepção, momentos de autoconhecimento e conhecimento do outro, de cuidar de si e olhar
para o outro. Segundo Vygotsky (2000, p.135), o sujeito desenvolve-se, essencialmente,
através do brincar, visto que o lúdico possibilita a interação com o mundo externo pela
capacidade de criar, imaginar, fazer planos e apropriar-se de novos conhecimentos.
Ressalta-se que é preciso respeitar os níveis de compreensão dos alunos da EJA,
valorizando a sua realidade para que se efetive o processo de ensino/aprendizagem. Isto deve
ser feito sem imposição, pois ninguém sabe tudo. Cada um tem intrínseco o seu conhecimento
pautado em suas convicções e experiências vividas. Assim sendo, o trabalho com a
ludicidade, para além da recreação, deve envolver a sensibilidade e a descoberta de um novo
sentido para a leitura e a escrita, vislumbrando o desenvolvimento pleno da capacidade do
sujeito.
Diante deste exposto, evidencia-se a importância do professor como mediador do
conhecimento, intermediário dessas duas realidades que envolvem o conhecimento de mundo
que o educando traz consigo e o conhecimento educacional que o sujeito está desvendando
com o auxílio do professor. Destacamos aqui o conceito de mediação. A palavra mediação,
antes de derivar de um termo do latim medium, medius, mediador teria aparecido na
enciclopédia francesa em 1694. Tal aparecimento é identificado nos arredores do século XIII,
para designar a intervenção humana entre duas partes.
A mediação baseia-se na arte da linguagem para permitir a criação ou recriação da
relação. Implica a intervenção de um terceiro interveniente neutro, imparcial e independente –
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o mediador –, que desempenha uma função de intermediário nas relações e operacionaliza a
qualidade da relação e da comunicação.
Existem, contudo, concepções e aplicações muito diversas da mediação que decorrem
da simples intervenção pedagógica na transmissão de saberes, até a aplicação em todos os
domínios de dificuldade e de bloqueios relacionais. A mediação permite o confronto das
diferenças através de uma terceira parte facilitadora.
A expressão “mediação pedagógica” se refere, em geral, ao relacionamento professor-
aluno na busca da aprendizagem como processo de construção de conhecimento, a partir da
reflexão crítica das experiências e do processo de trabalho. O conceito de mediação
pedagógica surgiu no contexto da pedagogia progressista, caracterizada por uma nova relação
professor-aluno e pela formação de cidadãos participativos e preocupados com a
transformação e o aperfeiçoamento da sociedade.
Até a década de 70, o sistema educacional brasileiro seguia uma abordagem de ensino
conhecida como “pedagogia tecnicista”, na qual cabia ao aluno assimilar passivamente os
conteúdos transmitidos pelo professor. Segundo Marcos Masetto, no livro Mediação
pedagógica e o uso da tecnologia, a mediação pedagógica significa a atitude e o
comportamento do professor que se coloca como um facilitador, incentivador ou motivador da
aprendizagem, que ativamente colabora para que o aprendiz chegue aos seus objetivos.
Em se tratando do desenvolvimento humano, cabe ressaltar o papel da mediação neste
processo, a qual é um elemento necessário para a delimitação e expansão do sujeito como
pessoa. Todas as relações com membros da família e com o ambiente social em que se vive
podem fornecer modelos de aprendizagens significativas para os sujeitos. De acordo com
Vygotsky, o desenvolvimento humano depende da interação que ocorre entre as pessoas e da
relação com os objetos culturais, uma vez que, com a presença do outro – neste caso, o
professor mediador –, dar-se-á a evolução das formas de pensar do educando, ao mesmo
tempo em que este estará se constituindo como sujeito responsável pela sua própria
aprendizagem.
Percebe-se, então, que o professor tem papel fundamental neste processo, sendo um
mediador, um observador, um intérprete das manifestações do sujeito, identificando as
implicações do processo de construção do conhecimento. A relação professor-aluno, sendo
também de natureza conflitante, oferece riquíssimas possibilidades de crescimento, exercendo
uma importante influência na aquisição da escrita e da leitura do educando da EJA. “A
mediação didática, por assim dizer, consiste em estabelecer as condições ideais à ativação do
processo de aprendizagem” (MAHEU, 2001, p. 69). Em Masetto (2000, p. 145) encontramos
indicativos importantes para esta questão: “dialogar permanentemente [...]; apresentar
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perguntas orientadoras; orientar nas carências e dificuldades técnicas ou de conhecimento
quando o aprendiz não consegue encaminhá-las sozinho; desencadear e incentivar reflexões”.
Mediação pedagógica, para o autor, compreende a atitude e o comportamento docente
enquanto um facilitador, incentivador ou motivador da aprendizagem, colocando-se como
uma ponte não estática entre o aprendiz e sua aprendizagem. Percebemos, na concepção de
Masetto, a relação com a própria etimologia do termo mediação. Como vimos anteriormente,
mediar é aproximar as partes, é servir como intermediário ao indicar o papel do professor na
disposição de atuar como ponte. Entendemos que o professor estará aproximando o aluno ao
conhecimento, ou seja, atuando como intermediário ao conhecimento, enfim, colaborando no
processo de consolidação das aprendizagens do aluno.
ATIVIDADE LÚDICA: SUA IMPORTÂNCIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS
A Educação de Jovens e Adultos visa a uma educação multicultural que desenvolva o
conhecimento e a integração na diversidade cultural, pautada na compreensão mútua e
inclusiva. Por isso, o educador deve conhecer a realidade de seu educando, considerando essa
realidade para promover a motivação necessária à aprendizagem, abordando técnicas e
metodologias eficientes para esse tipo de modalidade.
A escola assume responsabilidades com a formação dos educandos e, diante das
transições, transformações de valores e avanços tecnológicos, necessitam de propostas
eficientes e recursos consistentes para construir um ensino comprometido e com sucesso.
Fazer uso de metodologias que facilitem a aprendizagem e despertem o interesse é tarefa do
professor, pois muitas vezes as propostas trazidas para a sala de aula são desinteressantes e
não causam motivação para a aprendizagem.
Desta forma é importante redimensionar, através das atividades lúdicas, os conteúdos
a serem trabalhados na EJA, modificando atitudes e comportamentos, facilitando a
aprendizagem e tornando-a significativa. Paralelamente a essa utilização, existem duas
questões preponderantes:
Primeiramente, a utilização de atividades lúdicas com novas metodologias de ensino
com perspectiva de um novo olhar para o currículo da EJA. Isso será necessário para efetivar
a construção do conhecimento, junto à vivência, e a capacidade criadora dos alunos.
Em segundo lugar, deve-se verificar que a educação de hoje precisa acompanhar as
inovações e aproveitar a ludicidade em benefício de todos, garantindo a integração na
sociedade com agentes mais críticos e criativos. Só assim o aluno terá mais facilidade de
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expressar sua afetividade, suas emoções e até mesmo integrar-se ao grupo de forma
consciente e crítica.
Em referência ao exposto, Santa Marli Pires dos Santos diz que:
A ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e
não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do
aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal,
social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para
um estado interior fértil, facilita os processos de socialização,
comunicação, expressão e construção do conhecimento (SANTOS,
1997, p 12).
Nesta perspectiva, é preciso romper com o ensino tradicional que discrimina, exclui e
trata com inferioridade e incapacidade. Os jovens e adultos que fazem parte da nossa
sociedade precisam apenas ser reconhecidos e valorizados como indivíduos com cultura e
personalidade.
Entretanto, ao pensar sobre a utilização do lúdico na EJA, é preciso considerar que
esta modalidade possui suas especificidades, as quais devem ser respeitadas. Não podemos
mais ver a EJA como uma extensão do ensino regular ou como atividades meramente
recreativas que não são usadas para implementar novas práticas nem, sobretudo, para criar um
ambiente de integração entre professores e alunos.
O lúdico não pode nem deve ser usado simplesmente para passar o tempo, como se
não tivesse nenhum valor pedagógico. Ao contrário, essas atividades devem envolver os
alunos para o trabalho coletivo. É através das atividades lúdicas, como jogo e brincadeiras,
que o adulto poderá indagar, transformar e expressar suas vontades.
Outra questão a considerar é a concepção de formação humana contínua, segundo a
qual todos os educadores e educandos são eternos aprendizes, trocando e inovando suas
experiências e aumentando a perspectiva de permanência desses alunos na escola. Assim a
escola deve constituir-se em um espaço de troca de experiências onde a ludicidade auxilia o
professor na sua prática e conduz o educando a ser independente, crítico e ativo na construção
da sua própria aprendizagem.
Com o intuito de atender ao objetivo deste artigo, realizou-se um estudo de caso e
coleta de dados através de observações, anotações feitas no diário de bordo do estágio III,
leituras de alguns documentos, como, por exemplo, o Regimento Interno da Escola, propostas
educacionais para a Educação de Jovens e Adultos do Município de Irecê e do Estado da
Bahia, anotações da participação no conselho de classe no 1° semestre e dos planejamentos de
aula, entrevistas não-diretivas com os profissionais envolvidos no processo de
ensino/aprendizagem dos educandos, da Escola Municipal Marcionílio Rosa, na cidade de
Irecê/Ba e conversas significativas com a professora regente da sala de aula do 1° segmento,
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com a finalidade de recolher o máximo de informações possíveis sobre o objeto estudado. A
abordagem dos dados foi feita a partir de uma pesquisa qualitativa, de caráter participante.
Sobre isso, segundo o autor Antônio Joaquim Severino:
A pesquisa participante é aquela em que o pesquisador, para realizar a
observação dos fenômenos, compartilha a vivência dos sujeitos
pesquisados, participando, de forma sistemática e permanente, ao
longo do tempo da pesquisa, das suas atividades. O pesquisador
coloca-se numa postura de identificação com os pesquisados. Passa a
interagir com eles em todas as situações acompanhando todas as ações
praticadas pelos sujeitos. Observando as manifestações dos sujeitos e
as situações vividas, vai registrando descritivamente todos os
elementos observados bem como as análises e considerações que fizer
ao longo dessa participação. (SEVERINO, 2007, p.120)
Desse modo, essa pesquisa deseja entender detalhadamente como as mediações
lúdicas contribuem para o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos da EJA. No entanto,
na referida pesquisa de cunho exploratório, os pesquisadores procuraram desconsiderar as
crenças, os valores presentes nos atos e pensamentos sobre o objeto estudado.
O método utilizado foi o indutivo, pois parte de questões particulares, até chegar a
conclusões generalizadas. Partindo do princípio de que a produção do conhecimento acontece
na relação mútua de troca entre o pesquisador e o pesquisando – pois ambos possuem
sabedoria que os completam –, dessa forma fica claro que o objeto de pesquisa não está dado
a priori, mas é construído nessa relação de troca entre os pares envolvidos.
EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS NO ESTÁGIO
Destacamos aqui o relato da experiência vivenciada no período de estágio, nas Séries
Iniciais do Ensino Fundamental I, disciplina obrigatória que faz parte da grade curricular da
Universidade do Estado da Bahia - UNEB, supervisionado pelas professoras Daniela Lopes e
Lormina Barreto, especificamente na EJA, na Escola Municipal Marcionílio Rosa, localizada
na Praça Marcionílio Rosa S/N, no Bairro Boa Vista - Irecê/ BA, o qual foi o ponto de partida
para a definição dessa pesquisa. A mesma se deu entre os dias 09 a 27 de julho de 2012.
Esse período foi de grande relevância, pois proporcionou um entendimento maior
sobre o processo de ensino/aprendizagem e desenvolvimento do educando da EJA. Focamos
especificamente a compreensão de como as mediações lúdicas contribuem para que esse
processo aconteça. Por meio de diálogos com a professora regente das observações feitas e
das anotações no diário de bordo, podemos constatar que a mediação ludo pedagógica
acontece de forma “tímida” na EJA.
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Acompanhou-nos no estágio, diariamente em sala de aula, a professora regente da
turma 1ª e 2ª séries iniciais da EJA, a professora Maria da Conceição Souza Cana Verde. A
intervenção foi feita no período noturno, durante três semanas entre os dias 09 a 27 de julho
de 2012. Conforme combinado com as professoras de estágio Daniela Lopes e Lormina
Barreto, a professora regente da turma Maria da Conceição e a coordenadora da EJA da
referida escola Deise Pimentel, fizemos um estágio de cooparticipação, no qual trabalhamos
conjuntamente com a escola o projeto Mulher na década de 50 e 60, tema gerador que a
mesma está desenvolvendo neste semestre com todos os educandos dos 1° e 2° segmentos.
Construímos um projeto paralelo com o sub tema Mudança de Hábito, a partir do
qual buscamos levar os alunos a discutir, refletir, questionar sobre o papel da mulher na
sociedade, a forma como ela foi e continua sendo tratada historicamente, bem como a
importância de inseri-la como sujeito da história. Procuraremos evidenciar sua trajetória e
função em diferentes tempos na sociedade, descrevendo a família, a educação, o trabalho e as
transformações que foram necessárias para que a sociedade começasse a tratá-la sob um novo
olhar.
No primeiro dia de estágio, apresentamos para a turma o projeto Mudança de Hábito,
por meio de slides via data-show. Em seguida, discutimos com os alunos sobre a Mulher das
décadas 50 e 60 e quais mudanças ocorreram na sociedade, desde aquela época até os dias
atuais, fatos que consolidaram a “emancipação” feminina. Percebemos que os alunos foram
bastante participativos e interagiram bem conosco.
Constatamos no decorrer das aulas, que os alunos, em sua maioria, desenvolvem
razoavelmente bem a escrita, no entanto, apresentam dificuldade na leitura. A maioria dos
alunos conhece bem as letras alfabéticas, mas ainda não consegue formar palavras. Eles estão
em processo de alfabetização. Com isso, pensamos em fazer uma intervenção pedagógica na
qual a mediação ludo pedagógica prevalecesse para quebrar um pouco a rotina daquela
mediação “tradicionalista” que percebemos durante o período de observação do estágio.
Para nos auxiliar na construção do conhecimento escolar dos alunos, dinamizamos as
aulas com execução de alguns vídeos curtos, leitura de diferentes textos informativos, leitura
de imagens, construção de painéis, dinâmicas em grupo e músicas que retratam o papel da
mulher na sociedade, de forma a favorecer a aprendizagem dos educandos. Pensar educação
não existe sem pensar na sala de aula. Para isso, é preciso que esse espaço seja bem adequado
às necessidades dos alunos.
Buscamos trabalhar textos fáceis que ajudassem os educandos a terem uma melhor
compreensão textual, como, por exemplo, o poema Das pedras, de Cora Coralina. A partir do
poema da referida autora, algumas atividades diferenciadas foram feitas com os educandos e
conseguimos trabalhar conteúdos de português, matemática, sociedade e natureza. Esse foi
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apenas um exemplo de vários outros textos de diferentes autores em que socializamos e
trabalhamos com os alunos em sala de aula.
No decorrer das aulas, trabalhamos temas relevantes e bastante presente no cotidiano
dos alunos da EJA, como, por exemplo, a escassez de água no Território de Irecê, o
crescimento da violência e suas causas no Brasil e na cidade de Irecê. Discutimos muito sobre
a mulher na sociedade, na política, na cultura, na educação, na família, enfim, em todo o seu
contexto sócio-histórico, especialmente no do nordeste, onde nos encontramos. Abordamos
situações problemas de matemática envolvendo o dia a dia deles, entre outras atividades que
consideramos significativas para a aprendizagem desses alunos.
Durante o estágio, percebemos que os educandos da EJA, atendidos na Escola
Marcionílio Rosa, são pessoas bastante esforçadas que, apesar de um longo dia de trabalho,
ainda conseguem encontrar motivação para ir à escola, motivação essa que não está no espaço
escolar ou no professor, mas na vontade de aprender, de poder ler e escrever que cada um
tem. São alunos bastante interessados e com uma imensa vontade de conhecer a palavra, o
mundo letrado, pois conhecimento de vida eles tem de sobra. Sabendo das dificuldades
encontradas pelos alunos para estarem todos os dias em sala de aula, é preciso que sejam
consideradas e respeitadas as suas limitações.
A especificidade da EJA exige que busquemos analisar e propor práticas educativas
condizentes com a realidade socialmente excludente em que vivemos. Repensar a educação de
adultos apresenta-se como um desafio para todos aqueles que se propõem à construção de
uma educação emancipadora, que considere o ser humano em todas as suas dimensões. Neste
processo, as mediações lúdicas representam um caminho favorável para implementarmos uma
pedagogia mais humana, fraterna e libertadora.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatamos, no decorrer desta pesquisa, que a EJA parte do princípio de que a
constituição de uma educação básica para jovens e adultos deve ser voltada para a cidadania.
Essa construção de uma educação básica para jovens e adultos não se resolve apenas
garantindo a viabilização de vagas, mas, principalmente, oferecendo-se um ensino de
qualidade, com professores aptos a congregar, em seu trabalho, as inovações nas distintas
áreas de conhecimento e de incorporar as mudanças sociais e a suas consequências na esfera
escolar.
Assim sendo, o lúdico passa a constituir-se como uma possibilidade de um novo olhar
para os jovens e adultos, na qual esses alunos que não tiveram oportunidades educacionais na
idade própria e retornaram à escola na tentativa de superar o tempo perdido possam encontrar,
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na escola, um ambiente prazeroso, descontraído e de satisfação pessoal. É neste contexto que
a escola de jovens e adultos pode tornar-se, para os educandos, um espaço privilegiado de
formação com metodologias divertidas e dinamizadas, desfrutando de momentos prazerosos
e, ao mesmo tempo, construindo um conhecimento escolar agradável.
No entanto, o que presenciamos foi a presença de uma educação tradicionalista na qual
prevaleceu o sistema “bancário”, em que o professor deposita conhecimento e aluno recebe as
informações – copia-se no quadro, o aluno cópia no caderno –, o que no processo de
alfabetização é necessário, mas não com tanta intensidade como vimos. É preciso pensar em
novas práticas pedagógicas para tornar o processo de aprendizagem mais atrativo para os
alunos.
A partir desse pensamento, focamos na mediação lúdica como ferramenta primordial
para tornar esse processo mais dinâmico e divertido, pois, por meio de atividades lúdicas, o
professor promove a autoestima e favorece o desenvolvimento educacional de seus
educandos, assim como o desenvolvimento da linguagem, pois alguns alunos têm dificuldades
de comunicar-se e, através dos jogos e brincadeiras, as idéias fluem com naturalidade e há
uma maior interação entre eles
Assim, é possível compreender o outro, amar e sentir-se aceito pelos colegas,
respeitando e compartilhando seus anseios, suas dúvidas e desejos. Para Freire, “a alegria
necessária à atividade educativa é a esperança. A esperança de que professor e alunos juntos
podem aprender, ensinar, inquietar-nos, produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos”
(1996, p. 80).
Percebemos que, de um modo geral, os alunos têm boa receptividade às atividades
lúdicas utilizadas no processo de ensino e aprendizagem, porém alguns apresentam críticas
acerca desse tipo de atividades nas quais estão envolvidos trabalhos de recorte, pintura,
colagem, dinâmicas em grupos, jogos e brincadeiras. Em sala de aula, alguns alunos dizem
que tais atividades “são infantis”, que não é coisa para eles que são adultos, mas, com o
desenvolver das aulas, acabam participando com os demais colegas.
Assim, constatamos que o desafio não está somente na introdução do lúdico na EJA,
mas, acima de tudo, em compreender as especificidades que esta modalidade exige. Deste
modo, é evidente a necessidade de construirmos uma política educacional permanente para
jovens e adultos. Somente assim, poderemos efetivamente construir uma educação plena e
que possibilite uma formação emancipadora para todos.
REFERÊNCIAS
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