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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE HUMANIDADES DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO CURSO DE BIBLIOTECONOMIA Ana Kátia Gomes Marreiro A LITERATURA DE CORDEL COMO MEIO DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO Fortaleza 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE HUMANIDADES

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO

CURSO DE BIBLIOTECONOMIA

Ana Kátia Gomes Marreiro

A LITERATURA DE CORDEL COMO MEIO DE

INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Fortaleza 2008

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ANA KÁTIA GOMES MARREIRO

A LITERATURA DE CORDEL COMO MEIO DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Monografia apresentada ao Curso de Biblioteconomia, Departamento de Ciências da Informação da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Biblioteconomia. Orientação: Prof. Dr. Luiz Tadeu Feitosa.

Fortaleza 2008

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M358l Marreiro, Ana Kátia Gomes. A Literatura de cordel como meio de informação e comunicação /

Ana Kátia Gomes Marreiro. Fortaleza: 2008. 74 f.; il. Color.

Monografia (Graduação em Biblioteconomia) – Departamento de Ciências da Informação / Universidade Federal do Ceará, 2008. Orientador: Prof. Dr. Luiz Tadeu Feitosa.

1. Poesia popular. 2. Literatura de cordel. 3. Informação. 4. Comunicação.

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Monografia intitulada: A LITERATURA DE CORDEL COMO MEIO DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

ANA KÁTIA GOMES MARREIRO

Submetida ao Curso de Biblioteconomia,

Departamento de Ciências da Informação

da Universidade Federal do Ceará, como

requisito parcial para a obtenção do grau de

Bacharel em Biblioteconomia.

Aprovada em: / /

BANCA EXAMINADORA:

__________________________________________

Prof. Dr. Luiz Tadeu Feitosa (Orientador) – UFC

___________________________________________

Profa. Msc. Rute Batista Ponte – UFC

____________________________________________

Profa. Dra. Maria de Fátima Silva Fontenele – UFC

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia aos meus pais,

Luiz e Irene, que são a minha referência

de vida, meus anjos e meus guias. A

quem, tudo devo e tudo dedico. Meus

amados e queridos pais, obrigada por

existirem em minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus, nosso pai, que nos guia e nos abençoa em

todos os momentos e de quem mais nos consola nos momentos difíceis.

Agradeço a minha família, primeiramente aos meus pais, Luiz e Irene, e

também aos meus irmãos, Jorge Luis e Luiz Júnior por seu apoio em momentos de

extremo cansaço e por sua ajuda no que foi possível.

Agradeço aos meus amigos, que me deram força pra continuar nessa

caminhada. A todos que participaram de minha vida acadêmica e fizeram com que

ela fosse mais feliz. Vou citar alguns dos quais participaram de forma bastante

próxima Andréa Ribeiro, Cynthia Guerra, Sandra Simões, Danielle Guedes, Nonato

Ribeiro, Francisco Ramos, Luciane Silva, Jonathas Luiz, entre outros. Agradeço

também a força dos amigos fora do meio acadêmico, como Ismara Leal e Ana

Késsia Farias.

Agradeço também ao Prof. Luiz Tadeu Feitosa, por ter orientado esta

pesquisa e por ter acompanhado o desenvolvimento da mesma, com toda sua

experiência e dedicação.

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“Todo poeta de fato

É grande observador

Seja da rua ou do mato

Seja leigo ou professor

Faz verdadeira pesquisa

Vasto estudo realiza

Buscando essência e teor”

(Josenira Lacerda)

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RESUMO

Relata-se a importância e a abrangência da literatura de cordel nos meios

informacionais e comunicativos, através de exemplos do cotidiano e da cultura.

Apresenta-se o histórico do cordel, da oralidade ao folheto, e deste às mídias

modernas; bem como as características próprias desse tipo de poesia popular.

Descreve-se sua participação nos processos midiáticos e educacionais, que tem

intuito de conquistar mais espaço para sua divulgação e torná-lo mais atrativo ao

público, à medida que incentiva o gosto pela leitura e a apreciação da poesia.

Enfatiza-se a atuação do cordel como divulgador da cultura popular através das

expressões utilizadas, do formato e das características físicas do folheto. Tem-se

como objetivo apresentar as expressões do cordel, com o intuito de desmistificar e

ampliar as possibilidades deste objeto. Além de apresentar as diferentes facetas da

Literatura de cordel, mostrar sua expressão informacional e comunicacional,

esclarecer a riqueza de conhecimentos presentes na poesia popular, e mais

especificamente no cordel. As metodologias utilizadas para o desenvolvimento desta

pesquisa são a exploratória e a bibliográfica. Conclui-se, enfim que a literatura de

cordel é multidisciplinar, pois atua em diversos meios e cumpre um papel de

comunicadora e mediadora da informação.

Palavras-chave: Literatura de cordel. Informação. Comunicação.

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RESUMÉ

On rapporte l’importance et la portée de la Littérature de Cordel dans le milieu

informationnel et comunicatif, à travers des exemples du quotidien et de la culture.

On présente l’historique de ce genre de littérature, dès l’oralité à sa forme imprimé en

feuillette, et de celui-ci aux médias modernes; ainsi que les caractéristiques propres

à ce genre de poésie populaire. On décrit sa participation dans les processus

médiatiques et éducationnels, pour conquérir plus d’espace à sa diffusion et devenir

plus attirant au public, parce que stimule le goût pour la lecture et l’appréciation de la

poésie. On met en relief l’importance du cordel dans la diffusion de la culture

populaire à travers des expressions utilisées, de sa forme et de sa présentation. On

a le but de présenter les expressions du cordel. Notre but est de démystifier et

accroître les possibilités de cet objet. En plus, on a aussi le but de présenter les

différents visages de la Littérature de Cordel, montrer son expression

informationnelle et communicative, dévoiler la richesse des connaissances présentes

dans la poésie populaire, notamment dans le cordel. On a utilisé dans le

développement de cette recherche les méthodologies bibliografique et d’exploitation.

Finalement, on conclut que la Littérature de cordel est multidisciplinaire, parce qu’elle

agit dans des divers milieux, jouant um rôle de communicatrice et mediatrice de

l’information.

Mots-clés: Littérature de Cordel. Information. Communication.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Arte em madeira ................................................................................... 29

Figura 2 – Lampião e Maria Bonita ....................................................................... 30

Figura 3 – A cura do boi ........................................................................................ 30

Figura 4 – Tecnologias da Informação ................................................................... 38

Figura 5 – Cordel sobre educação no trânsito ....................................................... 63

Figura 6 – Cordel sobre educação ambiental ....................................................... 63

Figura 7 – Coleção Baião das Letras ..................................................................... 63

Figura 8 – Ilustração do Projeto Acorda Cordel na sala de aula ............................ 65

Figura 9 – Biblioteca de cordéis ............................................................................. 66

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11 2 PERCURSOS DO CORDEL: DA ORALIDADE À MÍDIA ....... .............................. 14 2.1 Origens do cordel: momentos de uma trajetória . .......................................... 14 2.1.1 Marcas do cordel pelo mundo ......................................................................... 16 2.1.2 O Cordel no Brasil ........................................................................................... 18 2.2 O Cordel através da Oralidade ................. ....................................................... 20 2.3 A poesia popular impressa ......................... ..................................................... 26 2.4 O Cordel ganha espaço na mídia ................ .................................................... 32 2.4.1 O cordel e suas facetas midiáticas................................................................... 33 2.4.2 O cordel como espaço de divulgação e manifestação na grande mídia ......... 34 3. INFORMAÇÃO E COTIDIANO: O FOLHETO PUBLICANDO SOL UÇÕES ....... 36 3.1 Informação: conceitos e processos ............. .................................................. 36 3.2 Comunicação: espaço de desenvolvimento do corde l ................................. 39 3.3 Informação no cotidiano ....................... ........................................................... 40 3.3.1 Trovas e trovadores: marcas de uma expressão informativa e comunicacional ................................................................................................................................... 41 3.3.2 Mitos ............................................................................................................... 41 4 LITERATURA DE CORDEL E SUAS CARACTERÍSTICAS INFOR MACIONAIS ................................................................................................................................... 43 4.1 O folheto de cordel: difusor da cultura popular ............................................ 43 4.2 Cordel transportando informação ............... ................................................... 44 4.3 O folheto presente na comunicação ............. ................................................. 46 4.4 Cordel na educação ............................ ............................................................. 61

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4.4.1 O folheto como incentivador de leitura ........................................................... 63 4.4.2 Projeto “Acorda Cordel” .................................................................................. 64 CONCLUSÃO ......................................... ................................................................. 67 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 69

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1 INTRODUÇÃO

Num mundo cada vez mais deslumbrado com as tecnologias e com os

recursos informacionais e comunicacionais que elas e os artefatos tecnológicos

possibilitam, falar de cordel pode – aos ouvidos de alguns desavisados – parecer

que é de uma peça de um folclore distante que se está falando.

A literatura de cordel como manifestação da cultura popular, surgiu no Brasil

após a chegada dos portugueses a essas terras, trazendo da Europa uma literatura

típica daquele continente. E logo que o cordel chegou ao Brasil sofreu adaptações

até chegar ao formato que possui hoje. Tornou-se, então, um meio de difusão de

informações, ao exercer em épocas passadas, o papel de principal veículo de

comunicação da população.

Não obstante se saber que alguns folcloristas tomam o cordel à luz de sua

expressão mais simples, como sendo apenas uma espécie de “literatura popular”,

impressa em papel barato e estereotipada pelo clichê de que suas produções são

postas à venda dependuradas em cordões, não é absolutamente essa noção que se

deseja aqui.

O cordel apresentado nas reflexões deste trabalho configura-se como uma

expressão informacional e comunicacional presente nos cotidianos nordestinos –

para citar inicialmente apenas este – como uma expressão viva da tradição e da

cultura, que tem por meta mediar as relações das pessoas com os acontecimentos

do mundo. Isso quer dizer que não se contemplará aqui apenas seu formato livresco

ou sua feição poética.

Para dar conta dessas expressões informacionais e comunicativas do cordel,

faz-se necessário como encaminhamento metodológico, mostrar a que campo do

conhecimento o cordel inicialmente se liga. Daí, porque, o presente trabalho terá

como natureza do tema a Literatura de Cordel, berço primordial do mesmo.

Assim, falar do cordel implica elucidar teórica e metodologicamente suas

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interfaces com a Literatura. Para tanto, se realizará uma explanação da relação do

cordel com esta área do conhecimento, enfocando aspectos gerais que vão desde

sua origem até os dias atuais e das suas relações com os meios que o influenciaram

como ferramenta comunicativa.

As revisões de literatura feitas sobre o assunto, não apenas atenderam às

exigências metodológicas para a construção de um trabalho monográfico, como

também serviram para uma melhor compreensão das características do cordel. Ele

possui características típicas do Nordeste, por ser essa a região do país que mais

produz nesse setor, e por ser também onde tudo começou, partindo da tradição

primária, adaptando-se e reinventando-se para um novo público cada vez mais

exigente.

Baseado nos moldes de uma pesquisa onde a metodologia é de natureza

exploratória, cujos resultados jamais podem ser dados a priori, mas contemplados

pelas literaturas que sobre o objeto se debruçam, as reflexões sobre o assunto

mostram o quanto a literatura de cordel se desenvolveu e expandiu por diversas

áreas, trazendo benefícios para todos, tanto para seu público, como para os poetas

cordelistas. Exercendo funções importantes na educação, no acesso ao

conhecimento, na publicidade, na comunicação, como também para a população

brasileira.

Alguns dos objetivos traçados durante a realização da pesquisa que ora se

apresenta, intentaram adentrar o mundo da literatura de cordel, mostrando seu

desempenho e sua riqueza de assuntos. Mas, sem dúvida alguma, a justificativa

desta pesquisa que também é seu objetivo principal, consiste na possibilidade de

demonstrar aqui as capacidades informacionais e comunicativas do cordel.

Por conter uma literatura encantadora, de sabedoria popular, dinâmica, rica

em informação e até mesmo com certo “ar de molecagem”, a literatura de cordel

surge como interessante e versátil meio de comunicação, podendo abranger

diversas mídias de modo informal e atrativo, além de não ser desprezível seu

potencial informacional.

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No decorrer do texto, o leitor descortinará todo o universo explorado

realizadas no desempenho deste trabalho. No segundo capítulo, são apresentadas

as origens do cordel. De seu surgimento na Europa e sua vinda para o Brasil, até

instalar-se e desenvolver-se por aqui, tornando-se um fenômeno midiático e

informacional. Neste capítulo a passagem da oralidade, para o formato impresso

chegando, por fim, à mídia em formato digital, fincando nesta última forma uma nova

faceta do cordel, com características e linguagens reformuladas.

No terceiro capítulo são apresentadas as teorias da informação e da

comunicação, bem como suas definições, para aplicá-las ao cordel, contemplando

assim o que se espera de uma pesquisa exploratória, cujos instrumentos principais

que a subsidiam são dados eminentemente por uma pesquisa bibliográfica.

Portanto, a partir dos resultados dessa pesquisa documental, serão explorados os

conceitos e processos da informação, o desenvolvimento do cordel na comunicação,

e a informação no cotidiano, incluindo breves análises sobre a presença dos mitos

nos cordéis, além de reflexões sobre as trovas e os trovadores.

Enquanto isso, no quarto capítulo, as funções do cordel são analisadas ponto

a ponto, e em cada área distinta. Nas áreas de cultura popular, comunicação e

informação serão apresentadas explanações e comparações levando o cordel a

debater com os assuntos mencionados. Trazendo trechos de folhetos a serem

analisados de acordo com sua especificidade e seu papel exercido.

Acerca dos principais instrumentos de pesquisa aqui usados, destaque deve

ser dado para a pesquisa bibliográfica. Utilizando materiais impressos, como livros e

artigos de teóricos da área da cultura, educação e comunicação. Um dos teóricos

mais utilizados como base para esse trabalho foi Gilmar de Carvalho, pois este, é

pesquisador da área de cultura popular e cordel. Mas, além deste, também se

destacam as obras de Paul Zumthor, pesquisador da expressão oral. Alguns outros

autores foram utilizados a fim de nortear a pesquisa nos rumos de educação e

informação. Tendo tido também muita importância para o desenvolvimento desta, a

utilização de vários cordéis para análise e pesquisa.

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2 PERCURSOS DO CORDEL: DA ORALIDADE À MÍDIA

2.1 Origens do cordel: momentos de uma trajetória

O cordel é uma forma de expressão que retrata as ações e manifestações de

um povo, narrando suas conquistas e suas mazelas; criando e re-significando os

sentidos de seus cotidianos; construindo processos de significação histórico-

simbólicos advindos das relações gregárias entre os sujeitos. Assim sendo, uma das

características do cordel é sua condição de linguagem. Desde seus primeiros passos

no Brasil, o cordel se apresenta como uma linguagem própria utilizada para contar e

cantar o povo brasileiro.

Por mais que possa parecer um lugar comum e qualquer afirmação nesse

sentido reclama maiores elucidações, o cordel nasce e se difunde nos meios

populares, podendo ser entendido por popular algo que está inserido na tradição.

Aquilo que permanece na cultura ou nos produtos simbólicos que uma geração

transmite para a outra.

Diante de manifestações culturais que surgiram na Europa e, através da

colonização portuguesa, chegaram ao Brasil, o cordel foi tomando formato e estilo

próprios. Desenvolveu-se conforme a cultura brasileira, tendo se enraizado na região

nordeste, onde conquistou muitos seguidores, poetas, e também a população local.

A essência do cordel enfim, chegou-nos através dos mares e aqui fincou raízes

profundas que marcaram a tradição e cultura do Nordeste, como será discutido

adiante.

Atualmente o cordel é admirado por pessoas de todas as classes, tendo

sofrido em tempos passados muitas discriminações pelas classes média e alta que

dele faziam uma idéia deturpada, que se referiam a esta expressão literária como

literatura de baixo calão, por ser originária da classe menos favorecida, do povo em

geral.

Por mais que não se possa aprofundar aqui essas questões, faz-se

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necessário dizer dos laços que o cordel mantém com a oralidade. Segundo Zumthor

(1997), a descoberta do folclore e do que se denominou, “literaturas orais”, foi feita

quando a Literatura se empenhava em procurar sua própria identidade. Ao surgir, a

oralidade entendeu-se a necessidade de uma origem. E juntamente com ela há

outras formas de expressão, como escrita através de letras ou desenhos, gestual,

visual.

A oralidade sofreu várias transformações nos âmbitos de espaço que ocupa,

onde existem atualmente várias outras manifestações. A partir do momento em que

existe a escrita em forma de poesia, a leitura em um dado momento vai surgir e

então a voz estará fazendo sua função de servir como alimentador das memórias

coletivas acerca de assuntos populares.

A poesia de cordel se expressa em versos, o que permite a musicalidade dos

mesmos. A perfeição na sua composição é equilibrar a técnica – regida por normas

de rimas, como a sextilha, a mais utilizada no meio poético, que é composta por

estrofes de seis versos, cada um com sete sílabas, e deve rimar entre si os versos

pares, seguindo também a regra de metrificação, que faz a divisão das sílabas

poéticas, dos sons. Baseando-se nessa regra, são construídos versos e rimas e uma

idéia que tenha representatividade para quem a compõe e para o público que

receberá as mensagens.

O seu formato impresso consiste em pequenos folhetos, medindo estes 16x11

cm mais comumente, de apresentação simples, em papel jornal e sua mão de obra é

predominantemente artesanal. A sua capa é considerada um atrativo a mais,

podendo ser feita a partir da xilogravura (arte de gravar na madeira), em clichê ou

reproduzidas imagens retiradas de cartões postais. São utilizados poucos recursos,

e com números de páginas variáveis pelo múltiplo de oito.

Seus compositores, geralmente, são poetas do meio popular ou rural. Porém,

algumas vezes, os admiradores desta arte invertem o papel com o poeta e, mesmo

podendo ser de áreas diversas, se sentem a vontade à compor poesias, causando

muitas vezes surpresas. Percebe-se que aqueles que tem um contato maior com a

realidade popular, possuem uma vida mais sofrida e têm aptidão para a poesia

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transmitem com mais ênfase e sentimento a mensagem tratada no folheto.

Conhecem com propriedade as estórias dos folhetos que foram inspiradas em seu

cotidiano e segue toda a linha de construção do cordel pela intuição, sem

preocupação maior com regras, por ter o ouvido aguçado para captar e reconhecer

uma poesia.

A denominação do cordel pode variar, como nos afirma Souza (1976), de

acordo com a região, podendo ser chamado “ABC”, “arrecife”, “folheto”, dentre

outras denominações. Mas a denominação “cordel” trazida de Portugal, não era

utilizada no Brasil, segundo Santos (2002), afirmando também existirem as

seguintes denominações de “verso” ou “rumance”. Um dos atrativos nele encontrado

é o preço; como possui uma produção barateada por conta do material utilizado e

dos patrocínios recebidos, seu valor se torna bastante acessível. Enquanto isso, os

pontos de venda são outros atrativos, pois nas cidades nordestinas, principalmente,

são facilmente encontrados em bancas de jornais, livrarias, centros culturais, feiras

populares, praças e festas.

2.1.1 Marcas do Cordel pelo mundo

De acordo com Luyten (1992), o cordel surgiu pela primeira vez no Ocidente

no século XII, e já apareceu como manifestação popular, em linguagem regional, e

que divergia da língua oficial da época usada pela Igreja que era o latim.

A tradição oral de onde o cordel provém, tem origem no cancioneiro medieval.

Podemos entender por literatura popular medieval, um conjunto de formas poéticas,

onde textos formam juntos um contexto significativo no qual se remonta a situação

global, porque manifesta ligação entre letra e voz. Zumthor (1993) afirma que nessa

época a escritura era predominante, e a oralidade era tida por marginalizada,

enfrentou momentos de repressão por ser contrária ao erudito ou escrito. Foi

renegada e ocultada durante um certo tempo, no inconsciente das pessoas. Ao

mesmo tempo, poetas da época medieval, conhecidos como cancioneiros levavam a

voz, juntamente com a arte às pessoas, através de recitais, cantorias, trovas, gestos

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e interpretações teatrais.

Na Espanha e em Portugal, a poesia de cordel ganhou postura literária,

depois de sofrer muitos preconceitos e dificuldades. Em alguns países da Europa os

folhetos eram vendidos em feiras livres e nas ruas, ficando pendurados em cordões

ou sendo recitados em locais públicos. A França destaca-se por sua grande

produção de folhetos, mas, ainda menor que a do Brasil, possui uma literatura

correspondente ao cordel que é chamada de Biblioteca Azul. Os materiais que a

compunham eram brochuras normalmente encapadas em papel (nem sempre azul)

e com um custo de produção de menos de um centavo por exemplar (o preço de

revenda era maior, mas ainda acessível).

Os livros azuis se tornaram progressivamente, entre 1660 e 1780, um

elemento particular da cultura camponesa. Esta, por sua vez, constitui-se de um

acervo que buscava o leitor e isso foi um ponto importante para seu sucesso: as

distâncias entre livro e leitor foram encurtadas pelos mascates que eram como

distribuidores ou vendedores que iam de lugarejo em lugarejo levando mercadorias

para vender, inclusive as publicações.

De acordo com Dourado [200-], as influências do cordel são multidiversas e

vão desde a poesia árabe, mediterrânea, hindu e persa à poética egípcio-hebréia-

greco-latina e afro-indígena. Entretanto, a poesia de cordel recebe a sua influência

maior da Espanha e de Portugal, onde conseguiu ganhar um reconhecimento maior.

Muitos pesquisadores escreveram sobre esta vertente da cultura popular. E

no meio acadêmico ela está sendo cada vez mais estudada e reverenciada.

Pesquisadores como Gilmar de Carvalho, Joseph Luyten e Martine Kunz são alguns

dos principais estudiosos desse ramo. Luyten, foi o maior pesquisador até hoje de

Literatura de cordel no Brasil. Entretanto, Gilmar de Carvalho também merece

destaque, por ter toda sua formação acadêmica voltada para esta área do

conhecimento, a cultura popular através de versos e poesias, buscando

incessantemente difundi-la. Além disso, a literatura popular também é estudada em

outros países por se assemelhar à literatura que lá existe e por oferecer tão grande

demonstração da cultura e dos costumes de um povo.

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As matrizes poéticas do cordel, guardam marcas da oralidade, do

trovadorismo e da performance. A oralidade, bastante estudada por Zumthor (1997),

é ligada ao folclore e à cultura popular. É um processo comunicativo, objeto de

tradição, através do qual as poesias são passadas adiante, sendo elas lidas ou

cantadas. E, expressando essa veia oral os cantadores, repentistas e violeiros se

reúnem em prol de um só desejo: alegrar as pessoas ao som de boas poesias e

cantorias. O Trovadorismo implicou no surgimento dos cantadores, versejadores e

poetas, por suas características. E a performance é o que hoje consiste na

interpretação ao narrar, no ato de versejar sentindo os versos.

2.1.2 O Cordel no Brasil

O cordel, segundo PARDAL (2004), foi trazido para o Brasil com os

colonizadores portugueses, no século XVII e então adaptado à realidade deste país.

Tem como função principal informar, divertir, comunicar e ensinar. Ele reflete as

mudanças na sociedade, nos seus costumes, nas suas relações sociais e na vida

das pessoas.

Sendo alimentado pelas culturas e suas dinâmicas, muitas das quais

constituídas nos cotidianos das pessoas, o cordel tem como inspiração o povo e

suas ações. Assim sendo, ele não só é inspirado pelo que vem dos orbes populares

como é feito com auxílio da população, direta ou indiretamente. A identificação do

cordel com o povo nasce, portanto, das muitas possibilidades de este se ver

retratado naquele.

O cordel é um dos mecanismos tradicionais que auferem às culturas suas

marcas. Assim sendo, ele é um veículo difusor de valores culturais tradicionais. Mas

não de valores arraigados ou perpetuados num modelo equivocado de tradição

fossilizada no tempo. Como a tradição, o cordel se nos apresenta como uma cultura

cíclica, que se renova e se reinventa o tempo todo, como acontece com a própria

população, que tem suas ações sempre atualizadas pelas ações de seu cotidiano.

Nunca como algo definitivo e acabado.

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A propósito disso, o Manifesto sobre aculturação (1953), apud Laraia (1992)

afirma que qualquer sistema cultural está num contínuo processo de modificação e

que o contato, muitas vezes, estimula a mudança mais brusca, geral e rápida do que

as forças internas. Entende-se então que são totalmente aceitáveis a mudança e a

adaptação das pessoas a ambientes e culturas distintas. No âmbito de formação

cultural, as pessoas têm sede de novidades e precisam conhecer o novo, o que

difere de nossa realidade, de nosso mundo. Até porque os costumes e as tradições

nunca estão acabados, vez por outra surgem novos conceitos e costumes são

adotados pelo povo à essa gama de conhecimentos já existentes, conhecidos como

cultura popular.

Voltando à análise do cordel nesse contexto cultural, de acordo com Luyten

(1992), o Brasil é o maior produtor de poesia popular do mundo. Dentro do Brasil, o

maior desenvolvimento dessa poesia foi na região nordeste, onde no século XIX

surgiram as primeiras tipografias exclusivas para impressão de folhetos. Por ser uma

terra fértil de acontecimentos populares, a literatura de cordel rapidamente fez

muitos admiradores, sendo eles leitores ou ouvintes, pois graças aos repentistas,

que cantavam poesia e improvisavam estórias, quem não sabia ler passava a ficar

sabendo o que estava escrito e fazia uso de sua memória para passar essas

estórias adiante.

Segundo o pesquisador Souza (1976), o chamado ‘’auge’’ da literatura de

cordel no Nordeste brasileiro, ocorreu de fato nas décadas de 40 e 50, do século

passado, época em que predominava a política populista de Getúlio Vargas. As

tiragens de folhetos de personalidades famosas batiam recordes.

As duas maiores festas religiosas do Ceará, de Juazeiro do Norte e Canindé,

respectivamente Festa de Padre Cícero e de São Francisco das Chagas

representam, ainda hoje, a maior aglomeração das populações rurais nordestinas,

principalmente dos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte,

Paraíba e Pernambuco. Nessas festas, ate o final da década de 70, era grande o

número de vendedores de folhetos, como também era grande a procura do público

pelo produto.

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Existe atualmente no Sudeste do Brasil a produção de folhetos que conta com

a poesia de nordestinos e paulistas, cariocas, ou mesmo pessoas de outros estados.

Mas, o folheto que lá existe difere do folheto existente no Nordeste brasileiro, pois

seu tamanho é bem maior, o estilo da capa é um pouco diferente e é colorido.

Os cordelistas cearenses Zé Maria de Fortaleza, Arievaldo Viana, Gonçalo

Ferreira, Vidal Santos, Rouxinol do Rinaré e Klévisson Viana realizam uma

campanha pela revitalização do folheto no Nordeste, fazendo o resgate do mesmo

em seu formato tradicional, bem como a reedição da obra de grandes mestres como

Leandro Gomes de Barros, José Bernardo da Silva, João Martins de Athayde, José

Camelo de Melo Resende e José Pacheco. Esse trabalho de revitalização, que já

perdura há seis anos, resultou no lançamento de mais de trezentos títulos,

promovendo uma verdadeira propagação da poesia popular impressa em todo o

Nordeste. Projetos similares vêm sendo desenvolvidos em outros estados por

instituições ligadas a literatura de cordel, como a Editora Coqueiro (Recife-PE) e a

Queima-Bucha (Mossoró-RN). E também a Academia Brasileira de Literatura de

Cordel na região sudeste do Brasil.

Leandro Gomes de Barros foi, de acordo com Luyten (1992), um dos maiores

poetas a publicar seus versos no Brasil e é até hoje o autor mais conhecido no

campo da poesia popular, tendo sido mencionado por Carlos Drummond de Andrade

como “rei da poesia do sertão e do Brasil em estado puro”; José Bernardo da Silva,

era um romeiro que chegou à cidade de Juazeiro do Norte atraído pela fé e lá

estabeleceu-se, tornando-se, posteriormente, um dos mais importantes editores de

folhetos; a princípio, fazia impressões em locais cedidos e de forma improvisada, até

conseguir montar sua própria tipografia tendo comprado o direito das publicações

de João Martins de Athayde, José Camelo de Melo Resende e José Pacheco.

2.2 O cordel através da oralidade

“A linguagem humana é um produto da cultura, mas não existiria cultura se o

homem não tivesse a possibilidade de desenvolver um sistema articulado de

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comunicação oral.” Nesse trecho, Laraia (1992) afirma que a linguagem resulta da

cultura, e a cultura não existe sem a linguagem. Portanto, afirma que a linguagem é

uma peça primordial no processo comunicativo e, consequentemente, na cultura. A

cultura popular é difundida de muitas formas, pela linguagem gestual, escrita, visual,

entre outras. Porém, a mais abrangente de todas ainda é a oral.

Segundo Zumthor (1997), a palavra constitui a manifestação principal, mas

não é a única, nem talvez a mais vital. Através da oralidade atinge-se pessoas que

não têm acesso à leitura. Enfim, uma gama infinitamente maior de pessoas.

Entende-se por oralidade um enunciado com um ou com vários discursos que

ultrapassam o valor do diálogo entre pessoas. E que revelam a necessidade do

homem de externar sentimentos através da palavra.

A voz surge como resposta a uma necessidade vital do homem de

comunicação mais próxima e por meio de sons. Ainda seguindo o pensamento de

Zumthor (1997), o folclore foi uma das formas de difusão da oralidade, desde a sua

descoberta no século XIX, pois histórias eram contadas e poesias eram criadas e

cantadas, sendo posteriormente utilizadas até como músicas. Essas manifestações

tinham como principal público a classe popular.

Neste final de século XX, nossa oralidade não possui mais o mesmo regime

dos nossos antepassados. Viviam eles no grande silêncio milenar, em que a voz

ressoava como sobre uma matéria: o mundo visível em sua volta repetia-lhes o eco.

“Estamos submersos em ruídos que não podemos colher, e a nossa voz tem

dificuldades em conquistar seu espaço acústico; mas basta-nos um equipamento ao

alcance de todos os bolsos, para recuperá-la e transportá-la em uma valise.”

(Zumthor, 1997)

A sociedade atual, com todo o desenvolvimento tecnológico a que tem

acesso, está se acostumando com todas as tecnologias e desaprendendo a lidar uns

com os outros. O contato com o outro é de extrema importância e hoje é cada vez

mais difícil às pessoas se ouvirem, pois o excesso de sons e de ruídos é, por vezes,

ensurdecedor. E é disso que nos fala Zumthor (1997). As pessoas não ouvem mais

umas as outras por culpa delas mesmas, por essa necessidade de praticidade da

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vida moderna, que em alguns momentos ajuda e em outros, atrapalha a vida das

pessoas.

Os discursos anônimos da tradição oral caracterizam-se por uma transmissão descontrolada, boca a boca, ao longo da qual a forma do testemunho pode se perder e o conteúdo variar. Às vezes, estas mudanças dependem da necessidade de criar um ambiente, da fantasia do transmissor ou de seu desejo de interessar uma audiência distinta; outras perseguem um objetivo estético-ético-didático, mas sempre desempenham uma função na comunidade em que se originam e sobrevivem. (REYZÁBAL, 1999, p.264)

A comunicação se dá, entre outras formas, através da oralidade e a partir dela

são percebidos costumes e culturas, como gírias, expressões, formas de tratamento

que variam de acordo com alguns fatores. Enfim, ela é uma grande fonte de

informação. O teatro popular, que consiste na contação de estórias em locais

públicos, teve sua origem em autos medievais, tinha grande participação do público

e era composto por estórias críticas e irreverentes.

A literatura popular, de acordo com Luyten (1992) se reporta a tudo o que é

criado pelo povo. Ela é a representação da forma escrita de manifestações

tipicamente orais, como poesia e prosa.

No século XII, originou-se no Ocidente a literatura popular, sendo esta uma

literatura que retrata o povo, e difere da cultura erudita, por sua origem e suas

características, pois apesar de possuir regras como qualquer outra, precisa retratar

sentimentos e defender pensamentos da população. Era difundida através de

peregrinações onde as pessoas contavam estórias umas para as outras, em alguns

casos eram encontros de poetas nômades que contavam novidades e cantavam

poemas de aventuras e valentias. Em países como a Índia, ainda hoje são muito

comuns cantadores oficiais de estórias.

Uma das manifestações culturais mais fortes é a poesia, por sua

dinamicidade e força de expressão. E ela oferece uma constante mudança,

revitalização e atualização de seus temas que expressam de forma bastante ampla

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sentimentos, costumes e crenças. E na poesia popular, a oralidade também é uma

grande aliada, pois antes de ser impressa só existia de forma falada. Mas,

pertencentes à literatura popular podemos citar ainda os contos, mitos, anedotas,

que se apresentam em forma de prosa.

A poesia pode ser classificada em fixa e móvel, sendo a fixa composta por

poemas e versos decorados e passados a diante e, a móvel é formada por poesias

que são criadas no momento, são improvisações de poetas, mais conhecidas como

repente. O repente geralmente é acompanhado por uma viola, onde são cantadas as

mágoas e as alegrias da vida, o passado e o presente.

O folheto possui um importante papel de criticar a sociedade e suas mazelas

de forma bastante irreverente e externando a opinião do povo. Kunz (2001) afirma

que “... ainda que exprima de modo espontâneo uma crítica social sem palavras de

ordem que coalizem, o poeta oferece ao seu público, através de seus versos, uma

forma de revanche poética.” Folhetos noticiosos, por exemplo são bastante utilizados

para aludir a fatos reais e, algumas vezes para criticá-los, podendo fazê-lo mais

discretamente ou de forma bastante exposta.

O povo não possui muitos meios de expressar suas desilusões e

desaprovações diante de questões como política, desigualdade social, fome, entre

outros. Deste modo, ele enxerga no folheto uma forma de extravasar idéias e vê-las

impressas e difundidas pelos folhetos. Assim, sente-se conforto de saber que o seu

pensamento é compartilhado por outras pessoas.

Nessa arte podem ser citados muitos poetas, mas um dos mais conhecidos

no Brasil e até em outras partes do mundo é Patativa do Assaré, grande gênio

cearense na arte de escrever poesia e também na de versejar. Ele soube como

ninguém retratar o seu povo, suas origens e sua cultura fazendo uso de artifícios

puros e simples, mas bastante cativantes, o que o tornou o grande ícone que é

atualmente e fez com que suas obras fossem estudadas até na França, apesar de

no Brasil não serem tão valorizadas como deveriam. A seguir, é mostrada uma

estrofe de um cordel sobre Patativa do Assaré e que foi escrito por Lucarocas.

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... esse poeta do povo

um defensor do agreste

Quando faz um verso novo

Traz o canto do Nordeste

Que tem o cheiro da roça

a pobreza da palhoça

E a fome tão tirana,

Mas sua voz é ativa

Qual cantar da patativa

Lá na Serra de Santana...(Lucarocas, 2002, p.3)

A forma como é escrito, com rimas e musicalidade tornam o cordel mais

apropriado para ser narrado ou cantado. Dentre as formas de versejar, a mais

comum é a sextilha, mas também existem o martelo agalopado, o quadrão, o

mourão e muitas outras.

Antigamente, o trovador de cordel vivia exclusivamente de seus livros, ele ia ter contatos com o público, ele ia pra feiras, cantava. Eu por exemplo transmitia a minha mensagem lendo os meus folhetos, fazia graça, assumia o papel do personagem no folheto, se chorasse, eu chorava; se gritasse, eu gritava. Tinha outros que cantavam. Hoje, o mercado não é como era. Hoje, nós vendemos, mas sem ler, sem cantar os nossos folhetos. Rodolfo Cavalcante (1980 apud KUNZ, 2001)

Na citação acima percebe-se um comentário feito por Rodolfo Cavalcante, a

respeito das mudanças do público com relação ao cordel. O poeta popular, em

alguns casos, tinha como único meio de sustento seus folhetos, e então saía

peregrinando pelas feiras e festas populares, aonde montava sua banca ou somente

colocava seus folhetos expostos sobre uma mala e começava a cantoria, versejando

o que estava ali escrito em forma de canção. Mas, muitos desses poetas hoje,

sentem a diferença de não ter tanto contato com o seu público, e percebem que vem

diminuindo o número de admiradores e leitores dos folhetos convencionais,

enquanto um novo público vem surgindo há algum tempo. E além de terem

precisado aderir a temas urbanos, passaram a mesclar temas fantasiosos com

temas urbanos, mostra Oliveira (2004).

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O cantador ou o repentista tem em suas vozes autoridades diante do público

e o que eles falam é visto como verdade, principalmente em cidades pequenas. Ele

ocupa o papel de comunicador, informador, mediador de informações, divulgador da

cultura popular, apresentador em programas de cantorias, e também de vendedor

pois com sua mensagem consegue envolver o público facilmente.

Os violeiros, porém, são mais hábeis e pródigos, na expressividade de sua

arte, do que os “historiadores”, pois sabem dizer o seu pensamento e os sentimentos

com mais graça, ritmo, conteúdo e forma, afirmam Amâncio e W. Pereira (2004). O

cantador é um poeta popular que canta poesia com a intenção de atingir o povo, a

massa. Esta arte constitui em cantar de forma improvisada, versos que saem de

suas almas. É a tradicional cantoria de viola. Costumeiramente acontece uma

disputa entre dois cantadores, chamada de peleja, na qual, através de versos e

assuntos improvisados testam suas habilidades na improvisação de formas orais de

poesia. Algumas vezes com assuntos indicados pelo público. O primeiro canta um

verso que seja, ao mesmo tempo uma armadilha para deixar o outro sem resposta.

Então o segundo, sem fugir do assunto, tem que responder à altura, e assim por

diante até que um não tenha resposta para o verso anterior, o que muitas vezes não

acontece. Em algumas ocasiões, nas respostas, surgem coisas surpreendentes e

inesquecíveis, que revelam a imaginação e a agilidade mental desses poetas

rústicos, afirma Benevides (1980).

Amâncio e W. Pereira descrevem o cantador como “algo magnífico, sua

espontaneidade é instintiva, natural como as fontes ou as brisas errantes que

despertam as matas e caatingas nas antemanhãs”. O poeta popular nasceu com o

dom de versejar, de criar, de improvisar e de tocar o outro no fundo de suas almas.

Consiste em algo divino. Pois, liga os homens de maneira improvisada, simples, mas

de sentimentos profundos.

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2.3 A poesia popular impressa

A princípio, houve a invenção da imprensa, o que revolucionou o mundo

literário, por tornar mais acessíveis obras diversas. De acordo com Merklin (1988),

em meados do século XV, Johannes Gensfleisch zum Gutenberg, alemão,

desenvolveu um sistema de prensas móveis de metal. Ele gravava cada sinal (letra,

acento ou pontuação), sobre um buril de metal bastante duro que pressionava sobre

um metal macio, obtendo assim a matriz em que eram fundidos os tipos ou

caracteres em uma liga de chumbo, antimônio e estanho. Para imprimir no papel,

Gutenberg construiu uma prensa manual de madeira, com parafuso sem fim,

semelhante às utilizadas na fabricação do vinho.

Os tipos eram colocados na máquina, manualmente, um a um na hora da

composição do texto. Para garantir um melhor aproveitamento da tinta, o papel era

molhado antes de ser impresso. E a esse acontecimento se denominou ‘revolução

da imprensa’, que tornou a produção bem mais rápida e as obras literárias tiveram

seu custo bastante reduzido, o que incentivou o aumento do número de leitores. A

partir de então, a arte da impressão se espalhou rapidamente por toda a Europa. E,

baseados no tipo móvel criado por Gutenberg, foram adaptados e criados vários

outros até se chegar às máquinas de alta tecnologia dos dias atuais.

No processo de impressão gráfica são utilizadas atualmente em todo o

mundo, inclusive no Brasil, máquinas de grande porte para impressões com maior

rapidez, precisão, qualidade e em maior quantidade. Esse grande desenvolvimento

da imprensa, tornou a impressão uma novidade disponível e acessível a uma gama

de pessoas muito maior.

Dentre os vários tipos de informação gerados a partir da imprensa, podemos

citar a poesia popular. O cordel é esta poesia de forma impressa. Após a invenção

da imprensa os jornais, folhetos, folhetins passaram a exercer mais influência sobre

as pessoas que tinham um poder aquisitivo relevante. A partir do surgimento de

tipografias exclusivas na produção de folhetos de cordel, estes se tornaram mais

populares e ganharam o formato atual.

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O século XX foi o apogeu das impressões de literatura popular, tendo sido

impulsionado pelo desenvolvimento da imprensa. Um grande passo para a

passagem do oral para o escrito em solo cearense, de acordo com Carvalho (1994),

se deu na emancipação política de Juazeiro do Norte, pois as poesias eram lidas e

cantadas, e então as pessoas queriam levar aquela poesia junto de si, de forma

material, por esse motivo os folhetos passaram a existir e sua popularidade cresceu

bruscamente.

Entretanto, Aracati foi a primeira cidade no Ceará, a produzir jornal em 1831 e

possuir três gráficas (entre 1860 e 1869), enquanto a edição de folhetos no Ceará

passou a existir primeiramente em Juazeiro do Norte, que a partir da chegada de

Padre Cícero Romão Batista, em 1872, passou a ser a mais populosa, significativa e

importante cidade do interior cearense. Essa supremacia de Juazeiro fez com que os

folhetos produzidos nesta cidade fossem mais divulgados e vistos por um público

bem diversificado. E por esse motivo os folhetos eram consumidos por pessoas de

toda parte do Nordeste. Entre eles estava o romeiro José Bernardo da Silva, que

passou a ser um dos mais importantes editores de folhetos.

Surgiram várias tipografias, de acordo com Carvalho (1994), sendo que a

maioria delas era de caráter familiar, e com a morte de seus donos o acervo da

mesma era vendido à outra tipografia. Entre elas podem ser citadas, a “Tipografia

Minerva”, em Fortaleza, no ano de 1892, a primeira gráfica a imprimir folhetos, tendo

ela posteriormente seus direitos de publicação adquiridos por Olegário Pereira Neto,

que já possuía uma folhetaria em Juazeiro do Norte chamada “Santa Lúcia do

Norte”, e depois de sua morte em 1946, este acervo foi passado para o nome de

José Bernardo da Silva; a “Luzeiro do Norte”, de João José da Silva, em Recife; a

“Tipografia São Francisco”, de José Bernardo da Silva, em Juazeiro do Norte, entre

outras.

A “Tipografia São Francisco” foi a mais expressiva gráfica de folhetos

existente no Ceará, segundo Carvalho (1994), e surgiu de maneira bem simples e

improvisada na Diocese do Crato e na Tipografia Cariri. Mas, com a aquisição de

uma máquina a pedal, o negócio se aprimorou e José Bernardo comprou vários itens

para que a tipografia ficasse mais equipada. Toda a sua família trabalhava na

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Editora em caráter artesanal. Era muito popular na cidade e no ramo da poesia.

Houve muitos incentivos à produção dos poetas em suas terras para que as

divulgassem. Porém, a “São Francisco”, teve um rumo tumultuado após a morte de

seu proprietário, José Bernardo da Silva, em 1972. Sua família tentou dirigir a gráfica

mas, com o tempo chegou a conclusão que seria melhor vendê-la, pois estavam

sendo feitas mudanças sem base no seu mercado consumidor. Depois disso,

passou-se então a posse para a Secretaria de Cultura do Estado do Ceará e teve

seu nome modificado para “Lira Nordestina”. Ao comprá-la, a SECULT doou à

Academia Brasileira de Cordel (ABLC), que no Ceará seria administrada pelo Centro

Cultural dos Cordelistas do Nordeste (CECORDEL). A sede da "Lira" era na região

do Cariri, interior do Ceará e, em 1988, a URCA que tem sede na cidade assume a

responsabilidade da "Lira" levando-a para seu Campus. Hoje ela só imprime folhetos

de terceiros e da própria URCA.

Percebe-se que, várias tipografias surgiam e logo fechavam suas portas, por

falta de estrutura, ou por questões de saúde do proprietário, como a Folhetaria São

Joaquim, em Guarabira (PB), que mudou seu nome para Graças Fátima e por

questões familiares vendeu seu acervo a Manoel Caboclo. Podendo ser percebida a

dificuldade em gerenciar e entender o negócio.

Leandro Gomes de Barros, foi um dos primeiros poetas a publicar seus

versos no Brasil e é até hoje o poeta mais conhecido da literatura popular brasileira.

De acordo com Carvalho (1994), ao morrer em 1918, Barros teve toda sua obra

adquirida por João Martins de Athayde, tendo este feito uma substituição do nome

de Barros pelo seu, na reedição de alguns folhetos. João Martins tinha sua própria

editora, mas após um problema de saúde vendeu tudo para José Bernardo da Silva,

com Escritura de Compra e Venda registrada em Cartório. As tipografias e editoras

especializadas na produção de folhetos são verdadeiras "fábricas de tesouros", pois

apesar de em alguns casos a produção não ser feita em larga escala, são feitas com

muito capricho.

Abordaremos uma outra questão dos folhetos, o seu interior, a sua essência,

veremos um pouco sobre as formas de seus versos. Por exemplo, a sextilha é a

forma que se faz presente em mais de 80% dos folhetos, como foi falado

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anteriormente. Além dela temos também a setilha, a gemedeira, o mourão de sete

pés, o mote, o martelo agalopado, entre outros. Como acontece com a sextilha,

nessas outras formas são utilizadas regras de versificação que designam quantos

versos terá na estrofe, quantas sílabas no verso e os pares de estrofes que vão

rimar entre si.

Na forma impressa, um grande atrativo é a capa do folheto que geralmente é

composta por gravuras que produzem as matrizes das xilogravuras, arte de gravar

em madeira. Pode-se ver abaixo uma figura da arte desenhada na madeira, para

depois ser transferida para o papel.

Figura 1 - Arte em madeira

Fonte: Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC)

Acredita-se que a origem da xilogravura seja chinesa, sendo conhecida desde

o século VI. No Ocidente, ela já se afirma durante a Idade Média através das

iluminuras e confecções de baralhos. Mas até então, a xilogravura era apenas

técnica de reprodução de cópias. Só mais tarde é que ela começa a ser valorizada

como manifestação artística em si. Poderemos visualizar abaixo dois exemplos de

xilogravuras que são “Lampião e Maria Bonita” e “A cura do boi”.

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Figura 2 - Lampião e Maria Bonita Figura 3 - A cura do boi

Fonte: Site da UFPe Fonte: www.arara.fr

Xilogravuras

Ao lado da literatura de cordel, essas xilogravuras refletiam ideais, anseios e

sonhos do homem nordestino. Segundo Carvalho (2005), elas passam a mensagem

da poesia juntamente com o texto, apesar de seu impacto ser às vezes o fator

decisivo de vendas, antes de se ler o texto. Afinal ela acaba se configurando como

uma espécie de propaganda do cordel. Alguns de seus principais profissionais são

Abraão Batista (Juazeiro); Dila (Caruaru); Ciro Fernandes (Rio de Janeiro); José

Costa Leite (Condado); Marcelo Alves Soares (São Paulo); Minelvino Francisco Silva

(Itabuna); Severino Gonçalves de Oliveira (Recife).

A partir do surgimento das tipografias, apareceram juntamente os

autores/editores, tendo este grupo como maior personalidade e mais atuante nome,

Leandro Gomes de Barros. Autores-editores eram aqueles poetas que criavam e

produziam seus folhetos e de outros. Às vezes acontecia de um folheto ser feito e o

autor não fazer questão de que seu nome fosse indicado na autoria, então ele perdia

sua autoridade em detrimento do editor-proprietário. Entretanto, aconteciam

também, casos em que os editores omitiam por conta própria o nome do autor e

destinavam a si mesmos a autoria dos folhetos.

Após a Revolução Industrial, a concorrência com o cordel aumentou, pois

surgiram o rádio, depois a televisão, os jornais, as novelas, as revistas, e as pessoas

estavam com as informações mais disponíveis à medida que era tudo bem mais

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cômodo. Então, aconteceu uma multiplicação de temas, a fim de manter o público

dos folhetos. Os temas variavam de casamentos a aniversários, anedotas a lendas,

notícias, entre outros. Mas, o folheto noticioso é o que faz mais sucesso ainda hoje,

e é um dos meios mais utilizados na divulgação de notícias da atualidade. A seguir

Kunz (2001) faz um comentário acerca dessa modalidade de folheto:

Os objetivos desse novo tipo de folhetos são vários. Eles podem cumprir uma função pedagógica pela vulgarização de conhecimentos técnicos, pretender difundir os direitos do cidadão ou propor novas idéias, lançar-se a campanhas propagandistas a serviço de homens políticos, ou em prol de comercialização de produtos.

São usados em vários meios como veremos adiante, sendo eles motivados

pela educação, pela publicidade, como suporte e veículo de informação, como

divulgador de história, entre outros. Contempla várias áreas e ainda transporta e

transmite uma cultura local, portanto é um veículo que tem todos os elementos

necessários para que a comunicação aconteça plenamente.

As manifestações populares impressas foram adaptando-se à modernidade

por questão de sobrevivência. Sua confecção hoje é de melhor qualidade, utiliza

recursos mais avançados, os temas são bem mais diversificados e atuais de forma

que possam atrair um público maior e mais satisfeito.

O cordel, para sobreviver, absorveu esses recursos tecnológicos para se manter vivo e adequado aos padrões e exigências do público atual. Hoje, o cordel é uma produção híbrida, que mistura vários elementos do passado e do presente. (FROTA, 2004, p.13)

O folheto foi obrigado a se adaptar à atualidade e as tecnologias como meio

de sobrevivência, verdadeiramente, pois precisou se modernizar, sem deixar de lado

suas características principais, como poesia, verso, melodia, sentimento, mas se

inserindo em novos meios para que não perdesse seu público e pudesse também

atingir um público ainda maior.

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Os cordéis em Fortaleza existem atualmente em locais especializados na

venda de cordel, como a banca do Centro Cultural de Cordelistas do Nordeste,

CECORDEL que fica no Largo dos Correios e a Editora Tupynanquim, na Praça do

Ferreira. Além de alguns folheteiros que divulgam folhetos em eventos, bancas e

feiras abertas ao público.

2.4 O cordel ganha espaço na mídia

Os poetas populares descobriram seu papel social, como porta-voz e autor de

um texto que reflita os desejos, as aflições e os medos do povo, afirma Carvalho

(1994). A informação vem sofrendo, nas últimas décadas, um crescimento

desenfreado e a sua grande utilização implicou no surgimento da tecnologia. E esta

vem constantemente sofrendo avanços, resultados das necessidades do homem

aliadas à pesquisa e a informação. Com o avanço tecnológico, alguns autores

pessimistas diziam que os suportes informacionais impressos tenderiam a

desaparecer em pouco tempo e a realidade vêm mostrando o contrário. A mídia tem

o seu espaço consolidado, mas acredita-se que os livros e todos os materiais

impressos não irão desaparecer por conta disso. A mídia e a imprensa podem

conviver de maneira salutar, pois ambas têm limitações e uma complementa a outra.

O cordel vem conquistando espaço nas ramificações da mídia, no rádio, na

televisão e na internet. Aliás, ele possui características midiáticas que serão

analisadas no último capítulo deste trabalho. Dentre essas características podemos

já adiantar a sua intenção e predisposição para a informação; o modo como o cordel

transforma fatos em notícias; o modo como as divulga; a mesma tendência midiática

à espetacularização; sua inclinação a emitir juízos de valor e opiniões, absorvendo o

potencial opinativo da mídia, bem como o modo atual com que a mídia faz suas

ancoragens de notícias, mensagens e informações etc. Uma outra característica

midiática do cordel é o modo como ele pauta nosso dia-a-dia e agenda informações.

Ou seja, para muitos o cordel faz parte verdadeiramente de suas vidas e de forma

bastante presente. Ele cumpre a missão que vários outros veículos informacionais

têm, sem deixar a desejar. Voltaremos a isso no último capítulo.

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Essa trajetória midiática do cordel começou quando alguns cantadores e

repentistas conseguiram espaço em programas de rádio, apresentado cantorias e

recitando poesias, geralmente em cidades de interior nordestino, difundindo a

oralidade do cordel. Isso se dá em proporções muito maiores, pois as ondas do rádio

vão muito mais longe e alcançam um número de lares cada vez maior.

2.4.1 O cordel e suas facetas midiáticas

O cordel é uma manifestação da cultura popular que procura abranger

diversos assuntos, de diversas áreas, desde que sejam ricos e importantes.

Assuntos polêmicos podem causar reações diversificadas na população, como

aborda Kunz (2001), ao se reportar ao caso de folhetos relatando o milagre de Padre

Cícero, que sofreram censura, não tendo isto impedido que alguns poetas se

arriscassem a escrever sobre Padre Cícero e sua grande importância para o povo

nordestino.

Além de ter um poder fascinante sobre as pessoas, a cantoria as aproxima de

sua terra, como se as deixasse mais próximos da própria essência. E as deixa

saudosas, talvez de uma época que não viveram ou de um lugar que não

conheceram, e as fazem querer bem mais da vida e de forma bem mais singela,

como simplesmente ouvir uma bela poesia cantada ou recitada. E são essas

características responsáveis por sua sobrevivência mesmo nos grandes centros.

A partir da 2ª metade do século XX, passam a ser produzidos folhetos sob

encomenda, sendo que grande parte destes era de cunho comercial. O folheto

noticioso faz uso de acontecimentos atuais, para retratar de forma mais irreverente

casos marcantes. E também para noticiar como um bom veículo de informação

deve fazer. Então, acabam tornando mais fácil o entendimento de certos assuntos

que são veiculados, por vezes, de maneira um pouco complicada principalmente

para quem não tem muito "conhecimento". Assuntos como morte de alguma pessoa

famosa ou acontecimento marcante, como a vitória de algum candidato à eleição,

assuntos esportivos entre tantos outros. Um exemplo disto é o folheto Brasil

plastificado , de Hélvia Callou, que através do projeto “Viva o cordel” da FUNCESP

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(PB) foi publicado juntamente com vários outros folhetos. Este projeto surgiu com o

intuito de editar obras de poetas veteranos e novatos. Então alguns folhetos prontos

foram aproveitados e outros foram feitos especialmente para serem divulgados no

momento atual.

O cordel informa, pois trata de assuntos diversos, explicando-os e podendo

atingir um público totalmente amplo a partir desse método. Ele divulga, comentando

novidades, sejam elas materiais ou não, entre os quatro cantos do folheto,

despertando o interesse naqueles que ainda não conhecem o produto. E noticia,

através de seus folhetos noticiosos, torna a informação mais próxima e mais fácil de

se assimilar.

2.4.2 O cordel com espaço de divulgação e manifestação na grande mídia

Os anúncios também fazem parte dos programas de cantoria e repente, pois

com o dom de envolver e conquistar as pessoas os anunciantes estariam com

certeza fazendo um bom negócio. Em programas de televisão como Ceará Caboclo

(da TV Ceará - Canal 5), Nordeste Caboclo (da TV Diário - Canal 22) e Ao som da

Viola (também transmitido pela TV Diário), que são apresentados por poetas, são

valorizados os aspectos de cantorias, repentes e da cultura popular. Algumas

revistas e jornais abordam, vez por outra, matérias relacionadas ao cordel e sua

utilização como incentivo à leitura e valorização da cultura, entre suas várias outras

facetas.

A regionalidade passou a existir na publicidade cearense para fazer com que

esta região fosse mais valorizada. Para caracterizar uma cultura local se faz

necessário usar expressões características, citações de tipos populares até se

chegar à criação de oportunidades e negócios, recriação folclórica e fugir ao lugar-

comum. Carvalho (2005) nos diz que os cordéis têm sido cada vez mais usados para

fins comerciais, como divulgação, ou propagandas políticas. E isso foi uma

estratégia de marketing, pois, ao usar o folheto como meio de divulgação, se fazia

uma boa exposição do produto em todas as classes, e se mantinha uma maior

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proximidade principalmente com o povo nordestino.

A publicidade passou a fazer esse trabalho na divulgação de grandes

empresas, a fim de se aproximar do povo simples. Uma linguagem própria das

regiões passou a ser incrementada, o que para uns era bom, pois divulgava a

cultura, e linguagem local, para outros era ruim, pois estereotipava um povo.

Poetas ou, às vezes pessoas que não são do ramo, escrevem sob

encomenda poesias envolvendo produtos e marcas e a quarta-capa do folheto é

aproveitada para divulgação destes, idéia essa que há algum tempo já vinha sendo

utilizada para colaborar nos custos dos folhetos, mesmo os que não são de cunho

comercial.

E finalmente, o cordel chegou à internet. Segundo Gadzekpo (2004), o cordel

brasileiro ganhou seu primeiro site na 2º metade da década de 1990, como home-

page de José Honório da Silva. O site é composto por cordéis de sua autoria,

pesquisas na área, sites interessantes, xilogravuras, recanto da viola e livro de

visitas. No mesmo, são apresentados estudos sobre Leandro Gomes de Barros e

Pinto de Monteiro, da autoria de Pedro Nunes Filho que se utiliza de depoimentos de

Luís da Câmara Cascudo, João Martins de Athaíde, Severino Nunes de Farias e

Carlos Drummond de Andrade, para dar ênfase a seu discurso.

Gadzekpo (2004) apud Franklin Machado: "...nas décadas recentes com

xerox e offset, o cordel sobreviveu naquilo que lhe compete concretizar qualquer

tema que um poeta projete." O cordel na internet é mais uma de suas facetas e

formas de exibição, mas não perdeu as origens populares da oralidade do folheto da

literatura de cordel. É apenas mais uma forma de disseminação, mas que não

substitui as anteriores, em forma de cantorias e folhetos.

Enfim, fica claro que o computador é apenas mais um recurso, talvez o último

na linha de métodos da comunicação humana. O importante papel da informática é a

facilidade, economia, rapidez de produção e divulgação. Mas ainda não abrange a

todos e nem se sobrepõe aos meios supramencionados.

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3 INFORMAÇÃO E COTIDIANO: O FOLHETO PUBLICANDO SOL UÇÕES

Falou-se até aqui das ações e manifestações do cordel entre nós e de suas

relações com a cultura popular e, mais precisamente, com a cultura do Nordeste

brasileiro. A fim de ampliar suas ações de cunho informacional para, no último

capítulo, demonstrarmos suas características midiáticas, abordaremos aqui alguns

conceitos de informação e processos informacionais.

Essas abordagens objetivam enfocar o cordel não como uma mera ‘fonte de

informação’, posto que gostaríamos de realçar suas formas de expressão e

comunicação mais do que sua forma física, como comum e equivocadamente muitos

fazem, mas como uma expressão de caráter informacional e mediador entre as

informações veiculadas e suas respectivas demandas.

Assim, portanto, interessa a este capítulo elucidar alguns conceitos de

informação a fim de aplicar-lhes sobre as ações informacionais dos cordéis nas

variadas formas de mediação que eles estabelecem entre as informações e

mensagens que veiculam e as necessidades destas para a vida das pessoas. Esses

esclarecimentos preliminares elucidarão de modo mais preciso as facetas

informacionais e midiáticas do cordel no contexto das comunicações. O cordel vem

sendo apresentado neste trabalho não apenas como uma fonte física e material de

informação, mas como uma expressão comunicativa e informacional que guarda

semelhanças muito próximas com a mídia em geral.

3.1 Informação: conceitos e processos

Informação consiste no conhecimento inscrito (registrado), em forma escrita

(impressa ou digital), oral ou audiovisual, em um suporte (Le Coadic, 2004). Com

base nesta afirmação, percebe-se que não importa o suporte no qual a informação

esteja armazenada, mas a partir do momento que forma algum sentido e tem um

sentido real passa a ser encarada como uma informação. Para Escarpit (1990, apud

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Le Coadic, 2004), a informação é produto, uma substância, uma matéria. “É um

termo muito abrangente utilizado para fazer referência a todo e qualquer tipo de

dado. Informação é o termo que designa o conteúdo daquilo que permutamos com o

mundo exterior ao ajustar-nos a ele, e que faz com que nosso ajustamento seja nele

percebido. Viver de fato é viver com informação”. Wiener (apud Mc Garry, 1999).

O objetivo maior da informação é a apreensão de sentidos, que possa levar à

construção do conhecimento. Como foi visto nos demais documentos, a informação

é formada por dados, que juntos fazem com que a mesma tenha algum sentido e

exerça sobre quem a recebe possibilidades reais de aquisição de conhecimentos

com os quais possamos intervir no curso de nossas vidas.

Duas vertentes são importantes para o futuro da informação, que são a

importância da linguagem e a acessibilidade à informação. Ou seja, é preciso que a

comunicação exista de forma correta a partir da linguagem, seja ela verbal ou escrita

para melhoria na troca de informações. Além disso, a acessibilidade da informação,

gerada pelas novas tecnologias, tornou mais prática a vida das pessoas referente a

pesquisas diversas, onde independente da distância física poderá se acessar, como

por exemplo, a Internet.

A informação deve ser ordenada, estruturada ou contida de alguma forma,

para que possa ser utilizada quando necessário. Ela tem uma relação profunda com

a comunicação. A comunicação é dependente da informação, pois toda

comunicação consiste na transmissão de uma informação entre partes; se nenhuma

informação é transmitida não há comunicação.

Entretanto, um novo tipo de conhecimento que gera informação e vêm sendo

desenvolvido é o tecnológico que envolve as novas mídias, suportes e formatos de

apresentação dessas informações. Fernandes e outros (2005) fazem um apanhado

sobre a questão tecnológica, onde afirma que a informação é a responsável por

todos os avanços e desenvolturas ocorridas nos últimos tempos.

De acordo com os mesmos, observamos que:

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O desenvolvimento tecnológico chega a um ritmo muito intenso. A informação passa a ter muita importância para o homem. A velocidade com que novas informações são geradas cria a necessidade ao homem de permanente atualização. Grande ênfase é dada à comunicação, um volume maior de informação é transmitido a distâncias cada vez maiores em tempos progressivamente menores. O acesso a determinadas informações possibilita às pessoas vantagens de ação antes inexistentes. O homem passa a ser encarado como um processador e um agregado de informações.

O homem através da informação e da tecnologia supera cada vez mais os

limites antes existentes, a ponto de, hoje ser um grande curioso, que ao ponto que

deseja descobrir, aprender e comprovar mais, ele descobre que mais e mais coisas

tem a se conhecer.

É crescente a necessidade atual de estar informado, de se capacitar quanto

ao conhecimento adquirido, termo muito utilizado atualmente para definir a tentativa

do homem de acompanhar os avanços e as constantes mudanças em meio à

explosão informacional existente no mundo de hoje.

O processo informacional compõe um ciclo, formado por produção,

distribuição e consumo. A produção consiste no ato de compor as informações,

formulá-las; consequentemente, a fase de distribuição é composta por distribuir

essas informações produzidas a fim de que fiquem disponíveis para consultas; e o

consumo, como a própria palavra já diz, é o ato de pesquisar, entrar em contato,

acessar essas informações.

Fig. 4 – Tecnologias da informação

Fonte: Jornal Eletrônico – eJournal USA

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Fernandes (2005) define informação como sendo uma abstração informal,

que representa algo significativo para cada pessoa de forma diferente.

Novas formas de acesso à informação precisam ser implementadas, nos

locais já existentes de transmissão das mesmas, como bibliotecas, museus, centros

culturais, entre outros, segundo Fernandes (2005). A fórmula de expor as

informações e esperar que o público venha à procura está ultrapassada e mais do

que provada que não resulta em nada de concreto, então cabe aos responsáveis por

tais instituições de desenvolvimento de pesquisa, informação e cultura abrir novos

espaços, divulgá-los e desenvolver atrativos adequados a cada público.

Aliás, foi esse o papel desempenhado pelo cordel nos orbes sertanejos e

quando de suas primeiras incursões no imaginário do Nordeste, como visto no

capítulo anterior. O cordel se apresentou como esse veículo de transmissão de

informação. Não necessariamente apenas na sua forma física impressa, mas,

também, na sua forma oralizada. Nesse tocante, é bom informar que o cordel

sempre se antecipou às suas demandas. É nesse contexto em que muitos o

analisam como uma espécie de oráculo ou de mídia que agenda pautas

informacionais que se antecipam às necessidades, indo onde as recepções estão.

3.2 Comunicação: espaço de desenvolvimento do cord el

Seguindo a mesma dinâmica dos processos informacionais, o cordel também

se insere com muita força nos processos comunicativos. A comunicação é o

processo intermediário que permite a troca de informações entre as pessoas, disse

Escarpit (1990, apud Le Coadic). É um ato, um processo, um mecanismo.

Com a linguagem oral, a comunicação sofre duas limitações, que são a falta

de permanência da informação em determinado local e a falta de alcance. Pois, não

se sabe quando, nem onde poderão ser consultadas tais informações. Então foram

criados os desenhos e a escrita para registrar essas formas de entendimento.

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Sem a comunicação, cada pessoa seria um mundo fechado em si mesmo. Pela comunicação as pessoas compartilham experiências, idéias e sentimentos. Ao se relacionarem como seres interdependentes, influenciam-se mutuamente e juntas, modificam a realidade onde estão inseridas. (Bordenave, 1982, p.36)

O princípio da comunicação, segundo Bordenave (1982), é desconhecido pelo

homem, pois há quem acredite que começou a partir da imitação dos sons da

natureza e há quem acredite que foi através de grunhidos, gemidos, expressão.

Mas, mesmo na incerteza de como começou, o que é sabido é que o homem

sempre encontrou forma de expressar-se e conseguir comunicar-se com seus

companheiros.

O processo de comunicação, não deixa claro, onde começa e onde termina,

pois é algo bastante variável, onde não há fórmula.

Os meios de comunicação têm como objetivo principal uma sociedade

participativa, igualitária e solidária, onde as pessoas realizem plenamente seu

potencial humano, afirma Bordenave (1982).

A comunicação aliada à informação faz com que o processo comunicativo

ocorra de forma eficaz. Ela está presente no nosso cotidiano, em tudo o que

fazemos usamos a comunicação, no contato com as pessoas, e em atividades como

assistir televisão, jogos de futebol, festas, shows, feiras. Na verdade, ela

simplesmente é o canal por onde, o conhecimento por nós adquirido, passa até nos

atingir. A nossa cultura resulta de todo o processo comunicativo que ocorre a nossa

volta, nossos costumes, crenças, valores, são formados com base nas experiências

e nas comunicações que vivemos e presenciamos.

3.3 Informação no cotidiano

Não há cotidiano sem diálogos nem interlocuções; não se sustenta um

cotidiano sem as trocas simbólicas que caracterizam os processos comunicativos

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que acabam sendo o ‘cimento social’ das relações humanas. Assim é que não

podemos mostrar as dimensões informativas e comunicativas do cordel se não

atrelarmos suas capacidades informacionais e comunicativas às ações gregárias dos

cotidianos. Isto posto, convém mostrar de que forma o cordel se insere nos

cotidianos a fim de promover e provocar trocas informacionais e comunicacionais.

Para tanto, realçaremos rapidamente os papéis das trovas e dos trovadores e

também dos mitos nessa tarefa.

3.3.1 Trovas e trovadores: marcas de uma expressão informativa e comunicacional

Trova é uma composição lírica ligeira e mais ou menos popular, onde a rima é

obrigatória. São criadas em formato de estórias poéticas para serem contadas ao

público.

Enquanto os trovadores são todos aqueles que fazem trovas, também

conhecidas como poetas. Eles, além de as recitarem em público, as compõem. Uma

tentativa de manter o público popular foi a de se publicar composições de

trovadores, onde é dado destaque à produção poética e de jornais e revistas

alternativas que cultuam as tradições populares.

Segundo Zumthor (1997), o poeta subentende vários papéis, podendo ser

compositor ou apenas narrador do folheto. Existem vários tipos de intérpretes,

fazendo, cada um deles sua parte cabida nesta atividade. Pode ser um profissional

livre, que vive de sua arte; pode pertencer a um grupo estável, com influências e

possuidor de privilégios. Enfim, sendo a poesia um lazer ou uma forma de sustento

por parte desses poetas trovadores em troca de sua arte, ela desmistifica um

narrador típico e concede espaço para que outros tipos de trovadores surjam para

que a idéia seja perpetuada.

3.3.2 Mitos

Ao entrarmos neste mundo fantasioso dos mitos, veremos o quanto o cordel

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traz essa característica de ressaltar estórias imaginárias e crendices populares

presentes na cultura de um povo. “São manifestações primordiais de uma

determinada concepção do Mundo, o mito é para quem o vive como forma da

realidade e para o mundo inteligível que dele nasce, uma totalidade indefinível”,

disse Crippa (1975).

São estórias sobre o surgimento e o desenvolvimento das coisas, sejam os

homens, o planeta, os animais e tudo o mais. O material do mito é o material da

nossa vida, do nosso corpo do nosso ambiente; e uma mitologia viva, vital, lida com

tudo isso nos termos que se mostram mais adequados à natureza do conhecimento

da, época. Mas não se fundamentam em algo científico e sim em lendas, estórias

fantasiosas, crenças de uma cultura. É uma narrativa feita em público, na autoridade

e confiabilidade da pessoa do narrador.

Cada lugar, cidade, estado, país, tem seus mitos e tem também suas lendas,

nas quais se inspiram para contar mais estórias. É algo característico de um povo e

de uma cultura, tido por verdade incontestável diante desse povo.

O mito é considerado como uma história sagrada, e portanto uma história verdadeira, porque se refere sempre a realidades. O mito cosmogónico é verdadeiro porque a existência do mundo está aí para o provar, o mito da origem da morte é também verdadeiro porque a mortalidade do homem prova-o...e pelo fato de o mito relatar as gestas dos seres sobrenaturais e manifestações dos seus poderes sagrados, ele torna-se o modelo exemplar de todas as atividades humanas significativas. Vítor Fragoso (s.d., apud ELIADE, 1994).

Tem a característica de compreender necessidades religiosas, aspirações

morais, pressões e imperativos de ordem social. Como também o faz o folheto de

cordel ao representar o povo diante de suas necessidades e preenchendo lacunas

referentes a crenças, causos e estórias mirabolantes.

Fazendo assim o cordel, o papel de atuar como mediador de mitos e causos

para a população. Levantando uma questão e atuando a favor da mesma,

incentivando e alimentando de idéias e folhetos, esse povo que tanto se interessa e

gosta desse assunto.

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4 LITERATURA DE CORDEL E SUAS CARACTERÍSTICAS INFOR MACIONAIS

4.1 O folheto de cordel: difusor da cultura popular

A cultura popular tem sido negligenciada e o espaço que antes ocupava na

vida das pessoas tem sido reduzido, excetuando-se alguns casos de famílias mais

antigas e que fazem questão de manter a tradição. Pessoas que vivem da arte e

para ela, vêem na poesia popular uma forma bastante rica de manter vivas culturas,

tradições, mitos e rituais de um povo.

A exemplo de pessoas que lutam para manter viva uma cultura mostraremos

o caso de Francisco Sérgio de Magalhães, de Itapajé. Ele concedeu no decorrer do

ano de 2006, uma entrevista a ROCHA, do Jornal Diário do Nordeste na qual se

pôde conhecer melhor seu trabalho. O contador de histórias Francisco, é

coordenador da Associação de Artistas Pajé-Arte, e representou o Ceará,

juntamente com outros artistas populares, no II Encontro Sul-Americano de Culturas

Populares, em Brasília, no ano de 2006. Sua habilidade é de encenar a oralidade da

literatura em folhetos e outras manifestações de literatura popular. Faz uso de vários

objetos, de uma forma bastante lúdica junto com um grupo com o qual trabalha, para

levar essas estórias às escolas e às ruas de sua cidade onde existem poucos

leitores e muitos ouvintes.

Em trechos de sua entrevista a ROCHA (2006), Francisco diz que o

compromisso da Associação é com a transformação social de crianças e adultos,

através dos elementos da arte. São usados bonecos gigantes, aulas de percussão,

contação de estórias e encenação de rua.

Essa é a nossa contribuição aos poetas da literatura de cordel; montamos clássicos de versos rimados, e é lindo porque o cordel sempre permite gracejos diferentes; além disso, a Secretaria de Cultura da cidade e o povo, a cada dia têm mais simpatia pelo nosso trabalho. Francisco Magalhães (2006, apud ROCHA, 2006)

Comenta Francisco, que se orgulha do trabalho que faz em sua cidade e que

conta com apoio de muitos para desenvolvê-lo.

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Seguindo o caminho trilhado por Francisco Sérgio, existem vários outros

cidadãos com um enorme desejo de ajudar ao próximo, fazendo isso através da

revitalização da cultura local.

4.2 Cordel transportando informação

Informação consiste na arte de informar, de disseminar, de expor ao coletivo

um conjunto de dados, idéias e acontecimentos. Dessa forma pode ser resumida a

informação e de modo que tudo isso faz parte dela, podemos perceber que

atualmente, muitas são as formas e muitos também, são os veículos que a

movimentam entre emissor e receptor. Dentre os vários veículos existentes, desde

os mais tradicionais aos mais modernos, encontra-se o folheto de cordel. Ele possui

essa missão, além de outras já citadas. Entretanto, há uma cobrança e

responsabilidade maior, pois torna as pessoas mais atualizadas e informadas de

maneira bem mais simples e irreverente. Enfim, traduz para uma linguagem popular

temas diversos.

O cordel, nesse caso pode ser informativo ou noticioso. O informativo tem o

caráter de atualização e conhecimento, trata de assuntos científicos, da atualidade e

pode ser formado por dicionários, históricos de lugares ou de personalidades. O

folheto de Josenira Lacerda, chamado “Linguajar cearense” é um exemplo de

cordel informativo, abarca o tema do linguajar cearense, como pode ser visto abaixo.

Neste cordel-dicionário

Eu pretendo registrar

O rico vocabulário

Da criação popular

No Ceará garimpei

Juntei tudo, compilei

Ao leitor quero ofertar

Se alguém é desligado

É chamado de bocó

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Broco, lerdo e abestado

Azuado ou brocoió

Arigó e Zé Mané

Sonso, atruado, bile

Pomba lesa e zuruó

(LACERDA, 2001, p.2)

Nos versos acima percebemos claramente a vertente informacional presente

no folheto. No trecho “juntei tudo, compilei ao leitor quero ofertar” é feita uma

referência à necessidade do autor em divulgar essas informações e compartilhá-las

com o público leitor. E relativo ao assunto, traz traços marcantes da linguagem

cearense, mostra e exemplifica alguns termos com vários outros nomes. Essa

característica informativa do cordel remonta aos seus primórdios, quando eram

usadas para anunciar fatos e transmitir informações de todo gênero, coisas, aliás,

que os trovadores medievais faziam com o mesmo intuito. Isso mostra que o que

hoje conhecemos como cordel e tem suas características contemporâneas como

fenômeno midiático – como vimos construindo neste trabalho – já carregava essa

característica informativa consigo, desde os primórdios.

Outro exemplo de folheto que transmite informação é o noticioso, que

consiste em retratar fatos do cotidiano, da atualidade, fatos reais, como noticiado

nos jornais. Atualmente, estes folhetos são produzidos quase que instantaneamente

após a divulgação da notícia. Assim como na grande mídia, o cordel transforma fatos

em notícias, dando a eles outros ingredientes narrativos, ilustrando com detalhes,

por vezes espetacularizando, etc.

Um exemplo desse tipo de folheto é “A triste partida do Rei do baião” , de

Guaipuan Vieira, que é demonstrado a seguir:

As rádios noticiavam

Morreu o rei do Baião

O mestre Luiz Gonzaga

O popular Gonzagão

Deixando muita saudade

Pra esta grande nação.

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No sertão também se ouvia

Acauã executar

Lento toque de silêncio

E outras aves a chorar

E a mãe deusa da natura

Do seu trono a soluçar

(VIEIRA, 2004, p.1)

O folheto acima citado cumpriu sua função de noticiar um acontecimento. A

morte de um cantor popular muito querido pelo povo nordestino. Os versos noticiam

a morte, comentam a dor da população pela perda, e fazem uso de hipérbole para

indicar o quão doloroso é para todos essa perda inclusive para a natureza. Em “as

rádios noticiavam morreu o Rei do baião” é vista a presença de outro meio de

divulgação de notícia: o rádio. São meios distintos seguindo paralelamente com o

mesmo intuito. Nesse tocante, cordel e rádio compõem um cenário onde as notícias

são construídas e difundidas. Essa predisposição para transformar as ações dos

cotidianos em notícia é uma marca midiática do cordel. Nesse tocante, ele deixa de

ser um mero instrumento material – o folheto – ou uma mera fonte de informação

física para adquirir status de meio de comunicação, adquirindo e – por vezes

absorvendo – características midiáticas contemporâneas.

E esses folhetos noticiosos são os mais procurados e de maior sucesso entre

o público, pois estão acompanhando a realidade passo a passo, na medida que ela

vai acontecendo e geralmente, como é típico nos folhetos fazendo gracejos.

4.3 O folheto presente na comunicação

“A literatura de cordel não subsiste por si, mas concomitantemente com

outros sistemas comunicativos.” Luyten (1984, apud FROTA, 2004).

O folheto vem ganhando cada vez mais espaço na publicidade e na mídia,

como já foi falado anteriormente. Os folhetos publicitários são elaborados a todo o

momento por encomenda.

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Analisaremos agora cordéis diversos de acordo com os aspectos a seguir:

a) intenção e predisposição para a informação; b) o modo como o cordel transforma

fatos em notícias; c) o modo como o cordel divulga essas notícias; d) a tendência

midiática do cordel à espetacularização, como ele exagera os fatos; e) o potencial

opinativo do cordel, que o faz parecer com os editoriais dos jornais; f) ancoragens de

notícias, mensagens e informações; g) como o cordel pauta nosso dia-a-dia:

pegando coisas das datas comemorativas e fazendo cordéis; h) como o cordel

agenda informações.

a) Intenção e predisposição para a informação: nesse tipo de folheto está

presente a preocupação em informar os fatos, e passar com fidelidade

adiante os conhecimentos.

Podemos perceber essa característica nos versos de Audifax Rios (2000),

Bode Ioiô: vida e morte .

Bem danado foi o bode

Apelidado de Ioiô

Fez o que deve e não pode

E vestiu até maiô

Que aconteceu prumode

Ver se senhora ou senhô

[...]

A razão do apelido

Deste bode aqui citado

Era por ter percorrido

Fortaleza lado a lado

Sem mostrar tenha sofrido

Ou ter ficado cansado

(RIOS, 2000, p.1-2)

Na primeira estrofe citada vemos a descrição do personagem título do folheto,

seu nome, traços de sua personalidade, como no trecho em que é dito, “fez o que

deve e não pode”, quer dizer que ele fez de tudo um pouco, até o que não se

imaginava ser feito por um bode. E tudo para apresentar aos leitores um

personagem muito ilustre que Fortaleza teve no início do século passado.

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Portanto, vê-se aí uma das marcas da mídia contemporânea. O fenômeno

informacional parece ditar os modos de interferência da mídia nos cotidianos. Do

mesmo modo, o cordel sempre está atento às coisas a fim de obter delas

informações que se julgue necessárias para as pessoas.

Em Os Mestres da Literatura de Cordel , de Antônio Américo de

Medeiros(s.d), também podem ser vistos versos que demonstram a intenção de

informar.

Nosso cordel começou

Com Silvino Pirauá

E Leandro Gomes de Barros.

Como na história está

De vitória pro Recife

Começou tudo por lá.

Pirauá filho de Patos

E Leandro de Pombal

Todos dois paraibanos

Deixaram a terra natal.

Foram para o Pernambuco

Pararam na capital.

(MEDEIROS, s.d., p.1)

Esse folheto de Medeiros relata o surgimento de grandes mestres da literatura

popular e essas estrofes mostram mais particularmente o início da vida dos poetas

Leandro Gomes de Barros e Silvino Pirauá, tratando da exploração desse assunto

que deve ser mais conhecido.

b) O modo como o cordel transforma fatos em notícias. Ao transformar tudo o

que acontece – e que merece tal destaque – em notícia, o cordel mostra que

também tem aquilo que muitos pensam só pertencer à mídia contemporânea:

pautar o nosso cotidiano de informações noticiosas, antecipando-se às

demandas e, às vezes, aos próprios fatos. Ao colocar juntos, fatos banais que

podem gerar uma reviravolta, o cordel acaba por construir realidades, uma

vez que noticiado, a coisa passa a existir como notícia. Em O esperado

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encontro de Coxinha com Seu Lunga , de Rouxinol do Rinaré (2005), é feita

toda uma preparação para adentrar no mundo do humor cearense. Veremos

um pouco no trecho a seguir:

Mais um cordel de gracejo

Assim, pretendo narrar:

O encontro do Coxinha

(Do famoso Iran Delmar)

Com o seu Lunga afobado

Um personagem afamado,

Já bastante popular.

Lunga é sempre muito exato,

Fala com sinceridade

Coxinha é dissimulado,

Fingindo grande amizade,

Pior do que mau vizinha

O danado do Coxinha

É o rei da falsidade!

(RINARÉ, 2005, p.1-2)

Esses dois personagens são bastante famosos na cultura popular cearense.

Seu Lunga ficou famoso ”um personagem afamado, já bastante popular” (RINARÉ,

2005, p.1) através de causos e estórias que aconteceram e foram repassadas de

umas pessoas para outras até chegarem a uma proporção grandiosa. Coxinha é um

personagem de um humorista cearense, que participa de um programa de televisão,

um verdadeiro gozador cearense. O primeiro muito impaciente e sincero, e o

segundo muito falso e dissimulado. O encontro dessas duas figuras que na verdade

nunca aconteceu, posto que o primeiro é real e o outro é uma personagem – com

certeza viraria um marco, e justificaria uma grande notícia. Essa predisposição para

o espetáculo também é uma das características midiáticas da contemporaneidade e

o cordel sempre assumiu esse papel. Com esses dois trechos se percebe o que está

por vir na disputa de Seu Lunga e Coxinha.

Temos ainda nessa categoria de folhetos noticiosos, o cordel O cachorro dos

mortos , de Leandro Gomes de Barros (2000). É uma estória de um cachorro que

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tinha um vínculo muito próximo com seu dono.

Calar, um cachorro velho

Que Floriano criou,

Viu Floriano sair

Depressa o acompanhou,

Floriano quis voltá-lo

Porém Calar não voltou.

Passava ali Floriano

A fera logo o enfrentou,

Disparou o bacamate,

Sem vida em terra o lançou,

Calar partiu ao sicário,

O assassino o amarrou.

(BARROS, 2000, p.5)

Este é um dos folhetos do grande poeta Leandro Gomes de Barros, por esse

motivo ele é histórico e possui bastante representatividade. Além da estória de

companheirismo entre cão e dono, em que um arrisca sua vida pelo outro. Trata de

um fato que foi marcante para a região, para a sua família e para os leitores, e

nesses versos percebe-se o relato de um dia em que estava ao lado do filho de seu

dono. Tem uma estória marcante e que ganhou um teor de notícia.

c) O modo como o cordel divulga essas notícias. A forma irreverente, cômica e

única de transmitir essas notícias ao público é característica marcante do

cordel.

Entre os cordéis que podem exemplificar esse caso, citaremos O sol vaiado

na praça, de Audifax Rios (2002). Onde é relatado um fato acontecido na capital

cearense e que a muitos espantou, já que a história conta que, por se tratar de algo

ligado à Natureza (o Sol), a vaia seria vista como falta de respeito e a outros o fato

muito agradou, por ser associado à molecagem e algazarra que o episódio causou.

A história conta um caso que se passa no “coração” de Fortaleza, a Praça do

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Ferreira, em que num certo dia em que o tempo estava “bonito pra chover”, de

repente surgiu o sol e irradiou luz na cidade e o povo, espantado e assustado, teve a

inusitada idéia de vaiá-lo.

Lá pras dez horas do dia

A Praça super lotada

Da coluna se ouvia

Carrilhão em badalada

Um raio forte riscou

Todo o céu alumiou

Naquela hora marcada

[....]

O povo então achou

O sol meio arrogante

E como não é de engolir

Empáfia semelhante

Ensaiou uma vaia breve

Que qual uma bola de neve

Foi ficando galopante

(RIOS, 2002, p.16)

A notícia é transmitida de forma engraçada – da mesma forma que as

pessoas agiram ao vaiar o sol na Praça do Ferreira, neste dia – e construída através

de muitos recursos cômicos e hiberbólicos. Ao narrar um fato bastante inusitado

como esse, que já traz aspectos cômicos no próprio fato, o que o cordel faz é

exacerbar e apresentar de modo mais engraçado, ainda que o mesmo cordel não

perca seu teor informacional e noticioso, já que o fato realmente aconteceu e foi

noticiado à época. No trecho “o povo então achou o sol meio arrogante”, deixa-se

clara a idéia de torná-lo mais cômico do que ele consegue ser sozinho, e norteia o

leitor na realidade desse povo, que não gosta de levar desaforo pra casa e responde

à altura, mesmo que seja com vaias.

Outro cordel que podemos usar é Carta de um jumento a Jô Soares , de

Arievaldo Viana e Klévisson Viana (2002). Nesse caso um jumento se revolta com

uma notícia transmitida por Jô Soares em seu programa televisivo. A notícia dada foi

que em Quixadá, interior cearense, o jumento está sendo vendido pela quantia de

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R$ 1,00 (Hum Real). E a partir disso ele passa, de modo “sobrenatural”, a falar, e

com a ajuda de Raquel de Queiroz, ilustre escritora cearense envia uma resposta a

Jô Soares, informando o quão valoroso é um jumento.

Creio que o Jô Soares

Não disse aquilo por mal

Que em Quixadá, o jerico

Só está valendo Um Real

Quando o jumento assistiu

Grande desgosto sentiu

Por ser um pobre animal

[...]

Nobre jornalista Jô

Nestas linhas mal traçadas

Confesso que seu programa

Sempre rende gargalhadas

Porém me sinto ofendido

E lhe peço comovido

Defenda meus camaradas .

(VIANA, 2002, p.2,4.)

Mais uma vez, encontramos estórias fantásticas que resultaram num mote

(assunto inspirador) perfeito para cordéis. Um animal que com poderes

sobrenaturais, consegue reivindicar uma causa e pessoas que o auxiliam a fazê-lo.

No trecho “quando o jumento assistiu grande desgosto sentiu” é enfatizado o

sentimento do animal. Mas, outro detalhe percebido é o poder de fazer da TV como

mídia, uma fonte de inspiração para outras mídias. Eis aqui mais uma das

características midiáticas: as redes e sistemas de informação que acabam se

estabelecendo entre os tipos de mídia, quando um rádio se apropria da notícia nas

páginas de um jornal para difundir pelas ondas do rádio ou quando uma tevê se

reporta à artistas de outras, etc. Nesse tocante, a linguagem midiática acaba

mostrando-se metalingüística, como o foi o cordel acima citado ao se reportar sobre

uma notícia televisiva, interferindo nela também.

d) A tendência midiática do cordel à espetacularização, como ele exagera os

fatos. Trata de assuntos polêmicos ou cotidianos e os explora e manipula de

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tal forma que convence o público.

O folheto O poder que a bunda tem , de Mestre Azulão (2002) faz essa

espetacularização com maestria. Veremos nos seguintes versos:

Mulher batida sem bunda

É a maior negação

Busto pequeno, magrela

Não tem a mínima atração

Mulher que tem bunda cheia

Ainda que seja feia

A bunda chama atenção

[...]

Todo tipo de piadas

Cai na bunda da mulher

Um diz, que coisa gostosa

É desta que o papai quer

Outro diz, é boa à bessa

Quem tem uma bunda dessa

Só é pobre se quiser.

(AZULÃO, 2002, p.4,7)

Diante das colocações desse folheto é percebido um machismo exacerbado e

uma desvalorização da mulher. Tendo a mulher ganhado essa imagem, devido às

dançarinas que se apresentam seminuas nas bandas musicais, por conta das

celebridades cultuando a beleza e por ser confirmado através da mídia a preferência

nacional no corpo de uma mulher, que seria a bunda.

No folheto A dança do Clodoaldo , de Jair Moraes (2006) é feita uma sátira

sobre o caso de um jogador cearense que assinou contrato com dois times ao

mesmo tempo.

Andei lendo comentários

Relativo ao que passou

O assunto Clodoaldo

Foi mais um que emplacou

Quem não gosta de dizer

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Sua estrela já brilhou

[...]

Enquanto o ano acabava

O Fortaleza dormia

Clodoaldo muito vivo

Outro contrato assumia

Foi por debaixo dos panos

Pra muitos foi covardia

(MORAES, 2006, p.3)

Nessas estrofes vemos o seguinte: um acontecimento que foi notícia muito

falada por todos os cantos de Fortaleza, tomou forma de poesia. E esta ao contar os

fatos, ilustra a história e também expõe mais a situação, que já estava mais do que

exposta.

e) O potencial opinativo do cordel, que o faz parecer como os editoriais dos

jornais. Este é o momento em que os cordelistas expõem seus pensamentos,

criticam, elogiam ou emitem juízos de valor.

Primeiramente, analisamos o folheto Valentino, o covardão (ou a história

do pittboy) , de Gadelha do Cordel (2005), que critica os “pitboys”, termo utilizado

para definir jovens de classe média ou alta, exibicionistas e violentos, que gostam de

brigas mesmo que não tenha motivo para que haja uma.

Filhinho da zona sul

Pittboy, o marombado

Passeia sempre posista

Num lindo carro importado

Não esconde ser “playboy”

Muito mais: é Pittboy

Com ar de mau encarado

[...]

Amigos do Pittboy

Ajudaram o linchamento,

Houve muita correria

Ba fá fá e movimento

Neste instante, semi-morto

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O corpo do moço torto

Foi jogado ao calçamento.

(CORDEL, 2005, p.1,3)

É uma crítica social, um papel muito nobre desempenhado pelo cordelista,

pois utiliza seu espaço e sua influência para defender causa que considera

insustentável e, com isso espera – e talvez consiga – que a população concorde e,

muito provavelmente aprove a opinião do cordel. A crítica utiliza termos para

designá-lo e para criticá-lo, pois temas como esse, que tratam de violência são de

interesse geral. Dessa forma, o cordel assume aquilo que a mídia faz, que é emitir

juízo de valor sobre os fatos, assumindo sua função social de informar e transformar

a sociedade.

Agora o folheto a ser utilizado será A mulher de antigamente e a mulher de

hoje em dia , de Manoel Monteiro (s.d). Como o próprio título já diz fala das

mudanças ocorridas no comportamento da mulher no decorrer dos anos.

A mulher hoje é igual

A um homem destemido

Lavar prato e lavar pano

Acha que é tempo perdido

Mas se vê uma barata

Grita chamando o marido

[...]

Naquele tempo a mulher

Era um ser quase divino.

Vivia para o marido

E para fazer menino.

Mulher não falava grosso

Homem não falava fino!

(MONTEIRO, s.d., p.3,5)

Este folheto remete ao espaço social ocupado pela mulher antigamente, e

que com o passar do tempo e a luta pela igualdade foram sendo modificados pouco

a pouco, tornando hoje a diferença entre a mulher de antigamente e a mulher de

hoje enorme. O autor mostra um juízo de valor em “a mulher de hoje é igual a um

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homem destemido”, pois afirma ser a mulher valente e o tempo todo a compara ao

homem, pois antes aquela que era o sexo frágil, hoje é independente e opiniosa.

Mas, no fim do folheto afirma ser tudo uma comédia e que as mulheres são

indispensáveis à vida dos homens.

f) Ancoragens de notícias, mensagens e informações. Ou seja, o modo como

traduz as informações e as mensagens para suas demandas, onde ele emite

opiniões, suscita criticas e direciona pontos de vistas.

Em A diferença do pobre para o rico , de Jesus Rodrigues Sindeaux (2000),

percebe-se que as mensagens e informações nele contidas estão ancoradas nos

fatos e nos pontos de vista do autor, ensejando que seus interlocutores (as

recepções) atentem para as questões presentes nos fatos ou nas situações

apresentadas.

O rico vive estribado

Com o dinheiro na poupança

O pobre só na miséria

Perde toda a esperança

Falta dinheiro no bolso

E o pão para as crianças

(SINDEAUX, 2000, p.2)

Na estrofe citada é visivelmente claro o teor de uma crítica social, apontando

para as diferenças e sugerindo que elas não deveriam existir, apesar de serem a

tônica das desigualdades e o teor principal do poema. Assim, as mensagens e as

informações presentes na estória são ancoradas por uma inclinação do autor a

criticar tais diferenças. “O rico vive estribado” e “o pobre vive na miséria” são trechos

utilizados para enfatizar a diferença e o descaso com tal situação, ele faz do folheto

um filtro para fazer seus pensamentos e suas mensagens chegarem a todos.

O folheto Greve do voto , do Movimento Crítica Radical tendo recebido a

colaboração de Rouxinol do Rinaré (200-), é todo específico e especialmente

inspirado em um tipo de acontecimento que mobiliza o país, que são as eleições.

Esse folheto foi elaborado por um movimento chamado A morte do Capitalismo com

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a colaboração de Rouxinol do Rinaré, a fim de se falar de eleições e de seu

resultado na vida da população.

O fim de Dona Política

Que do Estado era espoleta

Foi mesmo um deus nos acuda

Foi “guerra” de picareta

Pobre da Dona Política

Que já vinha bem raquítica

Pou! Bateu a caçoleta

[...]

É que a tal democracia

Farsa representativa

Nascida na Grécia antiga

Virou comédia lasciva

Na tal pós-modernidade

É templo da impunidade

E da corrupção massiva...

(CRÍTICA RADICAL, 200-, p.3,5)

Diante desses versos percebemos a defesa de um ponto de vista e a tentativa

de persuasão aos leitores. São visões críticas e realistas, fundamentadas em teorias

e ideais, como é visto no trecho “é templo da impunidade e da corrupção massiva”.

Apresenta-se a visão deste grupo desacreditada em política ou qualquer tipo de

governo e que divulga as irregularidades e erros cometidos por vários políticos.

g) Como o cordel pauta o nosso dia-a-dia, usando como temas assuntos do

cotidiano e de eventos ou datas comemorativas.

O primeiro exemplo a ser citado é Se um livro é importante imagine uma

biblioteca , de Otávio Menezes (2005). É um folheto que foi criado para uma

campanha de doação de livros de uma biblioteca na cidade de Fortaleza. Percebe-

se que – como a mídia – também o cordel é convocado à participação e ao

engajamento de causas. E isso acontece pelo grau de alcance que o cordel tem

junto à população e pela credibilidade que adquiriu.

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Digo em forma de “repente”

A verdade com clareza

Aquele que tem à mesa

Um livro tem um presente

Quem o abre diariamente

Lendo o impresso nos papéis

Ganha sempre nota dez

E eu digo ainda mais:

O leitor que é contumaz

Tem o mundo a seus pés.

[...]

Biblioteca é o lugar

Onde tudo está presente

Ali a pessoa sente

Que tudo pode encontrar

O que se imaginar

O assunto, a questão

O tema de predileção

Não está na hemeroteca

Você tem na Biblioteca

Bem ao alcance da mão.

(MENEZES, 2005, p.1,7)

Esse folheto foi criado com o intuito de convencer os usuários da biblioteca de

sua importância e de como eles poderiam ajudá-la a se desenvolver mais. São feitos

elogios ao livro, à biblioteca e colocados em pauta inclusive os benefícios da leitura,

baseados no pressuposto de que, quem ler “tem o mundo a seus pés”. É um folheto

de ocasião, mas que serve pra qualquer época e além de tudo tem grande papel

social. Do ponto de vista da análise que vimos desenvolvendo neste trabalho, temos

a inclinação do cordel a não só pautar nossas vidas com as mensagens e

informações que produz, mas a se engajar nas ações ditadas pelos cotidianos.

O folheto Canto a Fortaleza de Assumpção , de Audifax Rios (2002),

remonta um pouco do espaço urbano da cidade de Fortaleza. Este folheto foi

elaborado em comemoração do aniversário da cidade de 276 anos.

Duzentos e setenta e seis

Janeiros são completados

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Neste treze de abril

Com gosto comemorados

Fortaleza está em festa

Uma alegria que atesta

Os bons momentos passados

[...]

A ti, Fortaleza, eu louvo

Com bairrismo exagerado

Ufano e envaidecido

Menino apaixonado

De tuas praias eu sou

De tua gente eu vou

Ser eterno enamorado

(RIOS, 2002, p.3,6)

São colocados nestes versos sentimentos bons com relação à cidade,

além da empolgação com o seu aniversário, como vemos em “com gosto

comemorados”. No folheto, além de tudo há uma declaração de amor à

cidade com suas belezas e suas dores, como pode ser visto no trecho

“menino apaixonado de tuas praias eu sou”.

g) Como o cordel agenda informações, geralmente se pautando pelo noticiário

da mídia ou dos acontecimentos diários que ele pauta nas suas produções de

cordel. O cordel também se pauta nas informações atualizadas a fim de criar

uma espécie de agendamento de informações que julga importantes para o

desenvolvimento das pessoas.

Como exemplo, podemos mostrar a postura do cordelista e advogado Dr.

Valdecy Alves, que elaborou um folheto com um tema bastante atual e que têm sido

assunto nos jornais e nas rodas de conversas, A Lei Maria da Penha em cordel

(2007). Este folheto discute um tema polêmico e o divulga também através da

literatura. Veremos algumas estrofes:

Criada em dois mil e seis

No dia sete de agosto

A Lei Maria da Penha

Veio ocupar o seu posto

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Fim à violência doméstica

Às relações novo rosto

Objetivando proibir

A violência familiar

Conforme a Constituição

Impõe estando a ditar

Também violência doméstica

Na busca de erradicar

(ALVES, 2007, p.2)

Através desses versos, o autor mostra o que é essa lei e para que foi criada.

Esmiúça o assunto por ser ele próprio do meio jurídico e entender bastante do

assunto. Então esse folheto pauta o cotidiano, traduzindo um momento e uma

questão atual para os seus versos, ao mesmo tempo em que difunde uma lei que

precisa entrar nos imaginários das pessoas como sendo de vital importância para a

convivência harmoniosa entre os gêneros feminino e masculino e para as relações

sociais como um todo.

Outro folheto que faz o mesmo é Artimanhas do fenômeno Chico Pezão: o

maior craque do mundo , de Francisco Melquíades Araújo (2006). Esta figura a qual

o titulo se refere é um personagem criado por um humorista cearense. E que virou

atração por suas respostas e comentários altamente desconexos, pois ele é um

tanto quanto “ignorante”. É dos personagens do programa de televisão Nas Garras

da Patrulha, exibido pela TV Diário (emissora de televisão cearense).

Ele é fundador do time

Molambo Futebol Clube

Craque de pequeno porte

Mas não há quem lhe derrube

Gosta de dar entrevista

Só não quer que lhe perturbe.

Um repórter perguntou

A Chico Pezão: - “Caucaia”,

Tu vai jogar desse jeito

Vestido de mini-saia

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Com essas pernas tão finas

Igual um siri da praia?

[...]

É que nosso adversário,

É um time lá da praia

E, e, e, seus jogadores,

Todos são da mesma laia

Eles gostam de dar bola

Pra quem usa mini-saia.

(ARAÚJO, 2006, p.2-4)

Chico Pezão é também conhecido como “Caucaia” e integra o time Molambo

Futebol Clube. Há uma identificação do público nordestino, principalmente do

cearense ao se utilizar personagem tão típico da região. E além disso o programa

que ele integra faz parte do dia-a-dia das pessoas e delineia um tipo de vida, marca

nossa história e nosso cotidiano trazendo muitas vezes assuntos atuais para se

discutir.

Enfim através de todas essas características expostas percebe-se a

comunicação sempre presente nos folhetos. Através de marcas, expressões e

linguagens utilizadas e exploradas acima.

4.4 Cordel na educação

A educação é um processo de repasse de conhecimentos, orientação sobre

regras, normas e ensinamentos estabelecidos por uma instituição de ensino, pela

família, ou também pelo círculo de convívio. Nas séries iniciais da escola acontece o

primeiro contato com esse novo mundo, onde se aprende a conviver em sociedade,

fazer atividades em grupo e a linguagem se desenvolve mais com novos termos

adquiridos.

Reyzábal (1999), nos diz que “Educação é um processo de adequação ao

meio natural, cultural e social. Alimenta-se de atividades de assimilação,

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acomodação e transformação, pois o indivíduo reúne informações do seu meio para

oferecer uma resposta ativa.”

Através da educação são moldados vários aspectos do ser humano, e isso se

dá através do contato e da convivência, a ponto que são adquiridos costumes e

linguagens próprias de determinados meios.

Nesse momento a linguagem e a comunicação surgem como mediadoras das

pessoas com o mundo, fazendo-as interagirem através de códigos, símbolos e

sinais. Podendo estes serem variáveis de acordo com a cultura. Dentre os códigos,

temos a oralidade, forma de expressão mais utilizada e mais dinâmica do que a

escrita. Através da qual acontecem contatos, descobertas, diálogos, trocas,

ensinamentos, enfim uma série de eventos sociais do dia-a-dia das pessoas.

Um dos âmbitos onde se pode utilizar a oralidade é a educação, transmitindo

informações, proporcionando às pessoas a percepção correta de sua língua para

que saibam então debater assuntos diversos. O incentivo à leitura é uma questão

bastante trabalhada por professores, educadores e profissionais da área

educacional. A leitura, por ser algo novo para estudantes das séries iniciais, precisa

se fazer presente no meio de estudos e de vivência dos alunos, para que nesse

período de adaptação à novidade possa nascer o gosto pela leitura.

Desenvolver atividades com o cordel na escola é interessante por ser uma

leitura gostosa, por sua riqueza poética como os recursos da rima, ritmo e

musicalidade, que facilitam a memorização. Além de ser uma literatura acessível e

de fácil compreensão, ela facilmente cativa um público numeroso e variado.

Dentro da poesia popular, segundo OLIVEIRA (2004), existe um gênero que

se chama poesia matuta, onde os versos são escritos da forma como são falados

pelo matuto, erroneamente de acordo com as normas da gramática, e mostrando

sua suposta ingenuidade. Essa poesia é essencial para alunos de séries iniciais, que

estão aprendendo a ler e escrever, pois, passam a conhecer essa linguagem desde

cedo, adaptando-se a ela. Para que não corram o risco de copiar o erro adiante. Por

ser um inspirador para as crianças, com as poesias, as rimas, e por estar escrito

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elas podem acreditar que aquilo está correto, o que vai de encontro com a crença

imposta pela sociedade desde cedo que o que está registrado de forma escrita ou

impressa é a verdade absoluta.

Fig. 5 - Cordel sobre educação no trânsito Fig. 6 - Cordel sobre educação ambiental

Fonte: Site da Secretaria Municipal de Fonte: Site da Agência Estadual de Transportes do Rio de Janeiro Meio Ambiente e Recursos Hídricos

de Pernambuco

4.4.1 O folheto como incentivador de leitura

Fig. 7 - Coleção Baião das Letras

Fonte: Site da Editora Tupynanquim

A Secretaria de Educação do Estado do Ceará (SEDUC) vem distribuindo

desde o final do ano de 2006, vários folhetos e pequenos livretos de cordéis, que

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64

foram adaptados para quadrinhos ou simplesmente ilustrados, aos professores da

rede estadual de ensino, para que estes sejam trabalhados em sala de aula, pois

todo cordel traz uma lição e esta pode ser debatida em sala de aula com os alunos.

De acordo com uma matéria feita por Denise Pellegrini (2006), na Revista

Nova Escola, estudar cordel aprimora a escrita ao permitir a percepção da diferença

entre a língua escrita e a falada, aproxima os alunos da cultura popular e incentiva o

gosto pela leitura. Nela foi mostrada a força de vontade e o empenho de uma

professora em cativar seus alunos e passar um pouco da cultura popular retratada

nos folhetos.

A professora Francisca das Chagas Menezes Sousa, personagem da matéria

feita por PELLEGRINI, fez um mutirão na localidade de Cágado, distrito de São

Gonçalo do Amarante (CE), recolhendo doações de folhetos que os moradores

tinham, a fim de trabalhá-los na Escola Municipal João Pinto Magalhães, com alunos

de 8º série o projeto “Cordel: rimas que encantam”, com o qual conquistou o prêmio

Victor Civita de Educadora do Ano -2006.

O cordel foi escolhido por retratar uma linguagem muito próxima daquelas

crianças, que vivem em meio a estórias e cantorias de avós e pais. Os alunos de

Francisca das Chagas, durante essa pesquisa desenvolveram muitos aspectos e

talvez o mais importante tenha sido a diferenciação da linguagem falada e da

escrita, com isso eles passaram a ter mais interesse pela leitura, pois tinham um

melhor entendimento da língua e das regras.

4.4.2 Projeto Acorda Cordel

A importância de estudar o cordel em sala de aula vêm sendo enfatizada em

projeto ousado e inovador, que tem como título “Acorda Cordel na sala de aula”,

coordenado pelo poeta popular, radialista, ilustrador e publicitário cearense

Arievaldo Viana, nascido aos 18 de setembro de 1967, na cidade de Quixeramobim,

interior do Ceará, terra que também viu nascer o beato Antônio Conselheiro.

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A proposta tenta romper com os paradigmas da educação formal, segundo o

que foi dito no Diário do Nordeste de 20.03.06. A idéia é que ao aprenderem a ler as

crianças tenham nas bibliotecas das escolas, folhetos para que comecem a ler

outras coisas e se familiarizem com o mundo da leitura e da escrita.

Fig. 8 - Ilustração do Projeto Acorda Cordel na sala de aula

Fonte: Site da ABLC

O projeto está fazendo sucesso em muitos lugares do Brasil. Ceará, Rio

Grande do Norte, Tocantins, Paraná, Paraíba, Minas Gerais e São Paulo já

conhecem e aplaudem essa idéia, diz Arievaldo Viana, o criador do projeto Acorda

Cordel na Sala de Aula.

O Projeto Acorda Cordel na Sala de Aula propõe a revitalização do gênero e a

sua utilização como ferramenta paradidática na alfabetização de crianças, jovens e

adultos, a partir do lançamento de uma caixa de folhetos, contendo 15 obras de

diferentes autores, acompanhadas de um livro (manual) intitulado “LITERATURA DE

CORDEL NAS ESCOLAS” (da autoria de Arievaldo Viana, Zé Maria de Fortaleza e

Rouxinol do Rinaré), contendo um Curso Prático de Literatura de Cordel e dicas para

os educadores, acerca da utilização dos folhetos na sala de aula. Essa caixa será

distribuída e trabalhada nas escolas de vários municípios do Nordeste, onde os

poetas selecionados têm sua área de atuação. O projeto será amplamente divulgado

nas escolas através de aulas, oficinas, palestras, simpósios e estudos a partir da

linguagem e informações diversas contidas nos folhetos.

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Além de estimular o hábito da leitura, estudantes de qualquer faixa etária

terão contato com a legítima cultura popular nordestina. As experiências obtidas em

cidades como Campina Grande-PB e Canindé-CE nos autorizam a afirmar que a

receptividade entre os alunos é excelente, sobretudo em atividades como leitura em

grupo e até mesmo a elaboração de novos folhetos entre os próprios estudantes.

O Projeto compreende ainda a publicação da obra “LITERATURA DE

CORDEL NA SALA DE AULA”, da autoria de José Maria do Nascimento, Rouxinol

do Rinaré e Arievaldo Viana, um manual com cerca de 100 páginas, que será uma

ferramenta de grande utilidade para os professores que desejam trabalhar com o

CORDEL na sala de aula.

Fig. 9 - Biblioteca de cordéis

Fonte: Site Cordelon

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5 CONCLUSÃO

Este trabalho buscou explicitar a efetividade da literatura de cordel nos meios

de informação e comunicação, como representante da cultura popular. Esta como foi

visto, tem sido âncora para o seu desenvolvimento. Pudemos perceber ainda, que o

folheto de cordel tem trazido grandes contribuições para as culturas e para seus

povos.

A partir dos resultados obtidos nas pesquisas bibliográficas, foi possível expor

algumas contribuições sobre o tema abordado. Pude perceber que a literatura de

cordel tem um bom desempenho ao transitar por outras áreas e consegue se

manifestar de diversas formas, partindo de conhecimentos e expressões de um povo

à transposição do dia-a-dia para as páginas dos folhetos. Conseguindo surpreender

ainda como publicitário, agente facilitador da leitura e comunicador. Vimos que ele

continuou com seu estilo e sua intenção de representar idéias do povo.

Percebeu-se ainda que o folheto saiu do ambiente oral e se revelou na forma

impressa, fazendo parte de todo um contexto histórico, onde tinha mais valor o que

estava registrado de forma escrita. À medida que a comunicação oral fosse

reduzida, tendo se perdurado por muitos e muitos anos.

O cordel vem passando pelo rádio, pela televisão e pela internet, fazendo

uma troca de informações onde colhe tudo que for preciso para si e para que sua

experiência seja melhor ilustrada e passa a diante nesses meios os seus

conhecimentos, fazendo um mixto de um representante da tradição com um

resultado da modernidade.

Nesse trabalho, verificou-se que o folheto não está como muitos pensam,

destinado ao fracasso. Pois, mesmo com o surgimento de outros meios, e de toda a

tecnologia se desenvolvendo e se superando a todo o momento, o folheto tem seus

seguidores e sua importância.

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Apesar de existir em outros meios e em outros formatos, o folheto assim como

o livro tem seu espaço atualmente e acredito, continuarão tendo futuramente. De

maneira que um meio complemente o outro e não o substitua.

Por fim, é importante saber que a literatura de cordel, ao atuar como meio de

informação e comunicação, cumpre de forma única um papel bastante relevante.

Levando informação, comunicação, cultura, lições de aprendizagem, e conhecimento

ao público leitor.

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