A linha curva da fala fluída técnicas para ultrapassar a gaguez

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Dedico este livro a todos os Corpos.

,É o corpo que nos permite Ser

o que somos,ser de outras formas,experienciar o mundo,

relacionar-nos,dançar,cantar,falar,

abraçar.Porque é no corpo que acontece o Amor.

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“Perante umobstáculo, a linha

mais curta entre doispontos pode ser a

curva”Bertolt Brecht

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Índice

15,Bem Vindo!

25,Breve História da Minha Viagem na Gaguez

33,Lições dos Mestres

35,1.Lições do Mestre do Eu

51,2.Lições do Mestre dos Instintose dos Hábitos

83,3-Lições do Mestre do Corpo

137,4-Lições do Mestre do Sopro

163,5-Lições do Mestre das Palavras

183,6-Lições do Mestre do Pensamento

203,7-Lições do Mestre das Emoções

211,Mensagem Final

215, Índice dos Exercícios

219,Índice das Ideias-Chave

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Bem Vindo!

.

.

.

Desconheço as causas da minha gaguez. Não seiquando comecei a gaguejar. Estes serão mistérios quepossivelmente nunca irei desvendar. Neste livro não tedesvendo as causas nem o segredo do início da gaguez.Não te vou falar de começos, das causas ou dos porquêsda gaguez, porque não sei nada sobre isso.

Mas o início, embora importante, é apenas o início danossa história que poderia começar como todas ashistórias - Era uma vez uma criança que gaguejavae......

Assim a história vai avançando, torna-mo-nos criançasmaiores....... depois adolescentes..... depoisadultos........ e a gaguez neste processo em que vamosmudando teima em ser nossa companheira.

Como era bom que ao crescermos ela tivesse ficado lápara trás, como um dia ficaram a chupeta, osbrinquedos coloridos, os babetes, as fraldas e tantasoutras coisas.

A gaguez não só teima em estar presente na nossavida. Ela é a grande presença. A majestosa presençacuja sombra tantas vezes esconde e anula o que somos.

A gaguez é imponente, molda as nossas relações comos outros, aquilo que deixamos de fazer ou aquilo que

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tivemos que fazer. Obrigou-nos desde cedo aaprender a lidar com a dor de ser diferente, com umalimitação que nos prende e que expõe esta nossaprisão.

Nós que gaguejamos ou gaguejámos somos o quesomos hoje muito devido à forma como falamos. Aforma como falamos tem moldado a nossapersonalidade. Tem determinado as nossas escolhasnas relações amorosas, nas amizades, nos nossostempos livres, nos desportos, nos estudos, nosempregos. Quando se gagueja é muito difícil deixarde ter esta característica presente nas escolhas quefazemos a cada momento das nossas vidas. Naverdade, a maior parte de nós fez e continua a fazer,mais ou menos conscientemente, as escolhas queimplicam uma menor exposição desta característica.

A gaguez aparece assim como uma grande senhoraque vai à nossa frente, que se apresenta por nós, queescolhe por nós, que abre e fecha portas por nós. Enós, por muito grandes que sejamos, sentimo-nossempre bem pequeninos atrás dela.

Mas a gaguez não afeta só quem gagueja. Elatambém enche de culpa os nossos pais, que tantasvezes não querendo mostrar este sentimento mostramum falso sentimento de distância que se esconde pordetrás da ironia ou da negação, como quem não queratribuir-lhe a real importância. Esta sua atitude emvez de nos aliviar ainda faz a gaguez doer-nos mais. Anossa gaguez parece assim paralisar a fala tambémdos que nos rodeiam. Nunca foi fácil lidar com a dor.Não é hoje fácil lidar com a dor. E quando nós nãoconseguimos lidar com ela, como poderemos

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partilhá-la com os outros?Este livro foi escrito principalmente para ti que

ainda gaguejas, mas também será muito útil aosnossos familiares, de forma a que a sua visão dagaguez possa ser alterada e possam lidar de outramaneira com as suas emoções e connosco. Nósquando gaguejamos intensamente ficamos tãoenvolvidos neste processo que não reparamos comoas nossas famílias sofrem também com a nossagaguez. Os nossos pais, por muito insensível que asua atitude nos pareça, sofrem muitas vezes umaculpa silenciada que lhes corroí a alma. Os nossosirmãos, amigos e familiares mais próximos tambémsofrem com a nossa gaguez, partilham a nossa dor ea dor de nada poderem fazer para nos auxiliar. Tantasvezes estamos tão cheios de dor que só pensamos emnós e nos esquecemos que os nossos familiarestambém sofrem. Embora não gaguejem, a gagueztambém lhes tem feito companhia. Falam de formafluída, mas a nossa dor penetra-os tanto que muitasvezes eles que falam não conseguem falarverdadeiramente como se sentem face à nossagaguez. É uma dor escondida que também lhes toldaa alma.

Os profissionais da fala e os professores podemtambém ter algo a ganhar com este livro podendopotencializar os seus conhecimentos e melhorar asua relação com todas as pessoas que gaguejam.

Já é tempo de olharmos para a gaguez com outrosolhos, com outros ouvidos, com outra emoção. Já étempo de nos relacionarmos com a gaguez de outraforma. É tempo de fazermos as pazes com a gaguez.

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Já é tempo de aprendermos com a gaguez. Étempo de contar uma história positiva sobre agaguez.

A linha curva da fala fluída é um livro escrito demim, que já gaguejei muito habitualmente durante25 anos, para ti que ainda gaguejas habitualmente.Como te considero um companheiro nesta viagem,independentemente da tua idade, vou tratar-te portu, porque é assim que se tratam os verdadeiroscompanheiros de viagem.

Gosto de falar da gaguez como uma viagem. Agaguez apenas surge em interação, quando estamoscalados e sozinhos estamos sem ela. Este livro falade duas grandes viagens, a minha viagem da gaguezà fala fluída, que já fiz. E a tua que te desafio afazeres se assim o desejares. Somos nós, as pessoasque gaguejamos juntamente com a gaguez asprincipais personagens destas histórias.

Todos os outros leitores embora espetadores destasviagens não deixarão também de fazer as suasviagens. Como falar da gaguez é falar também decomunicação, mesmo as pessoas que falamhabitualmente de forma fluída podem retirar destelivro informações e práticas que os ajudarão ainda aser melhores comunicadores.

É um livro que se baseia nas minhas experiênciascom a gaguez e nas mais recentes investigações daNeurociência e da Programação Neurolinguística.

Existe uma relação dinâmica entre estas duasesferas. Fiz o meu caminho da gaguez à falaprincipalmente movida pela minha intuição, daí aviagem ter sido tão longa. Mas foi esta viagem que

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suscitou em mim o interesse pelas neurociências. Poroutro lado, as Neurociências e a ProgramaçãoNeurolinguística ajudaram-me a compreender e aidentificar os ingredientes do sucesso do meupercurso... o qual não foi em linha reta.

Poderia neste livro apenas ter optado por contar aminha história. Ou poderia ter desenvolvido um livro100% técnico mas acabei por não seguir nenhumdestes caminhos mais óbvios, e se calhar maisfáceis.

Nós, as pessoas que gaguejamos ou já gaguejámosintensamente estamos habituados a desafios difíceis,por isso encontrei outro caminho para este livro.Optei por abordar estes temas sérios de formasimples, transformando-os em histórias, emexperiências e fazendo de ti uma personagem dessahistória. Em vez de referências a estudos técnicospreferi construir personagens, os 7 Mestres quefalam de forma simples sobre a fala e sobre oselementos envolvidos na fala e que te prepõemexercícios para que possas utilizar e experienciar osdados científicos e as minhas experiências.

Fez-me mais sentido este modelo um pouco maiscriativo, pois o objetivo deste livro não é explicar agaguez. Não é combater ou vencer a gaguez. Sei porexperiência própria que essa é uma Luta inglória. Oobjetivo deste livro é dar-te o caminho para a falafluída, a que inspirada por Bertolt Brecht chamei “alinha curva da fala fluída”. É ajudar-te a fazeres dafala fluída a fala com que abraças a vida.

Assim este livro funciona como uma Escola ondeencontras Mestres sem idade mas com o

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conhecimento milenar que te irão levar, cada umdeles, a um auto-conhecimento de ti e a umatransformação específica que te possibilitaráencontrares e solidificares a tua fala fluída.

Poderás achar estranho um livro que aborda umtema sério e tão técnico estar escrito numalinguagem quase juvenil. Escolhi esta linguagem,pois é com a linguagem das histórias, com asmetáforas, com o simbólico que se fazem asverdadeiras aprendizagens e que é possívelpotencializar a mudança.

A mudança ocorre nos meandros inacessíveis damente, a nossa mente inconsciente. O inconscientenão tem nada de esotérico. O inconsciente estápresente em ti aqui e agora, constituí a somasistémica de todos os modelos de funcionamento doteu corpo, inatos e apreendidos. É também graças àmente inconsciente que o bebé se transforma a partirde um minúsculo embrião. É, do mesmo modo graçasà nossa mente inconsciente que o nosso corpofunciona hoje, que tomamos decisões, queaprendemos. A mudança acontece na nossa menteinconsciente, vou então neste livro sobretudo falarcom a tua mente inconsciente.

De forma a tirares o maior proveito deste livro e achegares mais facilmente à fala fluída é importanteseguires a ordem das histórias e das experiênciascom que cada um dos Mestres te desafia. Asexperiências da primeira lição potencializam asexperiências da segunda lição e assimsucessivamente.

Há um outro elemento importante para que a

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proposta apresentada neste livro se concretize, aatitude com que lês o livro:

-Lê este livro como se nada soubesses sobre agaguez, para além da tua própria experiência.Esquece os estudos científicos e tudo o que jáouviste sobre a gaguez. Procura compreender asmensagens do livro através da realização dosexercícios e das tuas próprias experiências da fala nopresente.

-Lê este livro e realiza os exercícios com o foco nafala fluída, como se agora fosses uma criança bempequenina que começa a dizer as primeiras palavras.

– Pratica e torna a praticar os exercícios. Só sealcançam resultados com o exercício do corpo. Seapenas leres o livro, não vais obter os resultados quepretendes. Apenas a união da compreensãointelectual e da concretização dos exercíciosfomentará a mudança. Sem prática não se obtémresultados. Já viste alguém aprender a andar debicicleta lendo um livro sobre como andar debicicleta?

*Antes de te aventurares na viagem da linha curva,

gostaria que colocasses a ti próprio as seguintesquestões:

-Especificamente quais foram os teus ganhos coma gaguez, em casa, na família, entre os amigos, naescola, no emprego, na sociedade...?

-Especificamente quais são hoje os teus ganhoscom a gaguez, em casa, na família, entre os amigos,

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na escola, no emprego, na sociedade...?

-Especificamente quais foram as tuas perdas coma gaguez, em casa, na família, entre os amigos, naescola, no emprego, na sociedade...?

-Especificamente quais são hoje as tuas perdascom a gaguez, em casa, na família, entre os amigos,na escola, no emprego, na sociedade...?

- Especificamente quais são hoje os teus ganhosem falar de forma fluída em casa, na família, entreos amigos, na escola, no emprego, na sociedade...?

-Especificamente quais são hoje as tuas perdas emfalar de forma fluída, em casa, na família, entre osamigos, na escola, no emprego, na sociedade...?

-É realmente importante para ti hoje falar de formafluída? Especificamente em que sentido?

-Tens a vontade para iniciares a viagem agoramesmo ?

Estas questões ajudam-te a saber se realmentetodo o teu Eu está disponível para deixar a fala gaga.A gaguez fez-te companhia ao longo de todos estesanos. Foi com ela que te relacionaste contigo mesmo,com os outros, com os desafios, com os medos, comos teus sucessos e fracassos. Não é portanto fácilabandonar algo que esteve tão presente na nossa

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vida. Apesar de tudo a sua presença insistente dá-nos conforto. Nunca foi fácil abandonaraquilo que nos dá conforto e segurança.

É por isso que estas questões são importantes. Éimportante sentires que chegou realmente omomento e estás preparado para te relacionares coma vida de outra forma. Quando sentires avança. Estesentimento, este desejo, esta segurança sãodeterminantes para que possas usufruir maisplenamente deste livro.

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Breve História da Minha Viagem

na Gaguez...

Não me recordo desde que idade comecei a gaguejar.Aliás, na minha família ninguém me consegue precisaresse momento. Lembro-me que o primeiro gozo sobre aminha fala foi por volta dos seis - sete anos quando euperguntava ao Francelino, um miúdo mais velho do queeu, que também gaguejava:

Oh fran-ce-ce-ce-l-l-li-n-n-n-nopo-po-por-que-que-que

que-que t-t-tu-tuga-ga-ga-gue-j-j-jas?

Não me recordo precisamente do momento em que fizesta pergunta mas sim das inúmeras vezes em que aspessoas que me rodeavam repetiam esta expressão parade seguida se divertirem imenso a rir..... e eu também

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me ria...... Ainda hoje quando referimos esteepisódio, todos sorrimos. Felizmente era um risoinocente, sem preconceito, pelo menos foi assim queeu penso tê-lo sentido.

Este episódio anedótico ilustra a minhacuriosidade inicial, que possivelmente é a dequalquer pessoa que gagueja, a curiosidade doporquê? Porquê é que eu gaguejo? Porquê? Porque éque umas pessoas gaguejam e outras não?

Parece que temos sempre a esperança quedescobrindo o porquê, encontraremos a saída dagaguez ou o consolo de nos livrarmos de uma culpaque inconscientemente nos massacra o espírito..

As pessoas costumavam dizer-me que a minhagaguez se devia a um susto a que eu tinha sidosujeita em pequena.... esta explicação tão correntedeve ter a ver com o ar assustado que qualquerpessoa a gaguejar faz... e com o facto de quando aspessoas ficam assustadas terem tambémdificuldades em falar. Assim, a pessoa quehabitualmente gagueja parece ser alguém que seassustou e nunca mais saiu desse “estado de susto”.

Por volta da minha adolescência, continuando eucom o Porquê, numa ânsia de resolver a minhagaguez, deram-me outra explicação, para que eudeixasse de me inquietar - “algumas pessoasnasceram coxas, tu nasceste gaga, é assim a vida, sótens que aprender a viver com isso. Não há nenhumproblema, apenas és diferente.”

Mas esta explicação não fez qualquer sentido paramim. Como ninguém me conseguia garantir omomento a partir do qual eu tinha começado a

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gaguejar, eu tinha uma leve esperança de que játinha havido um momento na minha vida em que euteria falado sem gaguejar e se assim era poderianovamente falar sem gaguejar. Para além do mais,eu adorava falar e em criança até queria serprofessora de línguas.

Assim, até aos 15 anos abordei a gaguez em linhareta. Andei focada no porquê. Porque é que eugaguejava? e não sei se por nunca ter encontradouma explicação, a gaguez continuava presente.Talvez até aumentando, colada pelos sentimentos defrustração, medo e vergonha que ia somando nainteração social.

Aos 15 anos tive o meu primeiro emprego e com oprimeiro dinheiro que ganhei fui a uma consulta deterapia da fala. Esta experiência foi excelente poisaprendi a fazer alguns exercícios de respiração e devoz que me ajudaram a diminuir um pouco a gaguez.

No entanto, penso que o mais importante foi amudança de foco na forma de abordagem da gaguez,que passou do Porquê para o Como. Como possofazer para aprender a falar novamente? E esta foi apergunta determinante para que eu começasse afalar sem gaguejar. De facto, a partir desse momentoa gaguez começou a diminuir progressivamente. Foi ocomeço da entrada na minha viagem na linha curvada fala fluída.

Este clic do Como já tinha uma pequena semente -aos 10 ou 11 anos, depois de muita insistênciaminha, a minha mãe tinha-me então levado a umaconsulta de psiquiatria. O psiquiatra disse-me naaltura que os gagos a cantar e a falar línguas

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estrangeiras não gaguejavam. Lembro-me de terficado entusiasmadíssima, a magia da gaguez tinhaaumentado.

Na faculdade tive a sorte de ter tido um professor“gago” que falava sem gaguejar. Chamava-se Torres.O professor Torres, ao sentir as minhas enormesdificuldades em falar e à angustia que eu sentia faceàs dificuldades em transmitir o meu pensamento econhecimentos, partilhou comigo a sua experiência.Era gago, apenas falava sem gaguejar porque tinhaaprendido a falar, tinha encontrado outra voz. Estaexperiência foi fantástica, tinha à minha frente aprova, um exemplo de que uma pessoa quegaguejava poderia falar sem gaguejar. Fiquei muitoentusiasmada e aumentei a minha dedicação ematingir esse objetivo. Nunca tinha sido tão metódicaaté aí, assim como a progressão também não teveigual.

Tenho recordado muito o professor Torres à medidaque vou escrevendo este livro. Sem ele, sem o seuexemplo, possivelmente ainda estaria hoje a lidarcom a gaguez em linha reta, a lutar com ela, a tentarvencê-la. Hoje escrevo este livro porque senti aimportância do exemplo do professor Torres, estou-lhe eternamente grata.. Espero que o meu exemplopossa também fazer a diferença na tua fala. Sei oquanto é importante falar de forma fluída.

Agora ao contar esta história compreendi porquecriei os Mestres. Eles fazem-me lembrar o meuprofessor, um homem já com alguma idade, na casados 60, alto e atlético, muito bonito, sempre bemcuidado e com uma voz calma e profunda dos sábios.

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O nosso inconsciente prega-nos sempre partidas.Aos vinte e três anos quando comecei a dar aulas

ainda gaguejava um pouco. E aí aproveitei a minhagaguez e a minha pronúncia algarvia como forma dehumor. Os meus alunos e eu rimo-mo-nos bastantegraças a esta conjugação de características vocais.Foi uma excelente "terapia da fala".

Por volta dos 25-26 anos já falava sem gaguejar, jáninguém me considerava gaga. Perdi um rótulo e osúltimos resquícios de uma identidade que metentaram colar, ainda que só com uma frágil fita-cola.

Mas apenas perdi o rótulo, sei que contínuo com acapacidade de gaguejar. Quando estou mais cansadaou com mais ansiedade volta a sensação na gargantae na língua e tenho que fazer um esforço para falarsem gaguejar - controlo a postura corporal, arespiração, escolho as palavras, falo de formapausada... foco-me no objetivo da comunicação, naspessoas que me ouvem. Ou seja, falo de formaconsciente estando atenta ao mínimo pormenor quesei ter um papel determinante na forma como a vozsai.

Embora, como possivelmente todas as pessoas quegaguejam, tivesse sido motivo de gozo e de bullying,nunca me revoltei por gaguejar. Felizmente o desafioe sobretudo o mistério que envolvia a gaguez foisempre muito maior do que tudo isto.

Tinha sobretudo uma grande curiosidade pelaforma como falava, por não conseguir falar, por sabera palavra que queria dizer mas aquela palavra umasvezes saía e outras vezes não e ainda por outras vezes

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saía cantada com muitas repetições. Era misterioso,era mágico. Era um mistério que sentia que um diairia desvendar.

Talvez este invólucro de magia que envolvia aminha gaguez tivesse sido o responsável por terconseguido aprender a falar sem gaguejar e me tenhapossibilitado tantas e tão diferentes aprendizagens.

Hoje estou mesmo muito agradecida à gaguez, poiso saldo da sua presença na minha vida foi deveraspositivo. O facto de ter sido gozada e ridicularizadadesenvolveu em mim é certo sentimentos de medo evergonha que têm dado algum trabalho a abandonar,mas também me ajudou a aceitar, a relacionar e atirar partido de todas as diferenças, físicas, culturais,de competências etc, etc... que vou encontrando nomeu dia-a-dia..

Ajudou-me a ser bastante criativa e flexível, asentir que se daquela forma não conseguiacomunicar, então teria que encontrar outras ou entãoos meus desejos não seriam satisfeitos. Ajudou-metambém a lidar com a crítica, com o medo e com avergonha. Ajudou-me a questionar as pessoas, assituações, a procurar o que está para lá das atitudes,das evidências, das emoções.

E em última análise, ajudou-me a compreenderque na vida nem sempre os objetivos se cumprempelo modo mais fácil, em linha reta, por vezes asolução está numa linha curva, fora do modelopadrão que criou o obstáculo.

Gosto mesmo muito de continuar a sentir no meucorpo a minha experiência dos longos anos em quegaguejei, gosto de sentir esse marcador somático que

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ainda hoje tenho. Ele continua a ajudar-me a prestaratenção às situações do dia a dia e aodistanciamento necessário para aproveitar asdificuldades que me vão surgindo diariamente.Ajuda-me a ser tolerante, a apreciar as diferenças.Ajuda-me a aceitar e a respeitar a dor, a tristeza, omedo, a ira, a vergonha, a culpa, a mágoa, asdivergências de vontades, os conflitos, que às vezesatravessa a minha vida e a dos outros. Ajuda-me aolhar para a Realidade de forma mais complexa eprofunda, com um objetivo da compreensão em vezdo julgamento. Continua sobretudo a ser umexcelente sensor que é ativado quando não estou acuidar de mim.

Hoje quando penso na minha gaguez sorrio. Estou-lhe eternamente grata. A minha vida teria sidocertamente mais difícil e menos entusiasmante se eununca tivesse gaguejado intensamente.

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Liçõesdos

Mestres

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1Lições

do Mestredo Eu

,

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Olá bem-vindo à minha companhia, sou o Mestre doEu. Sou o Grande Mestre. Quem sou Eu? Onde estou? -Estou contigo desde que nasceste. És tu que me fazes,sou Eu que faço de ti quem tu És. Sou os teus desejos,as tuas ambições, as viagens que ainda queres fazer,aquele que tu queres Ser.

Tenho em mim todo o teu passado, o teu presente eum campo enorme ainda a ser preenchido por ti assim oqueiras. Sou o Mestre de todas as potencialidades. Setivesse forma assumiria a natureza do espelho.

Tenho sido o Mestre que até hoje te tem observado aacreditares na tua gaguez e a vive-la intensamente, poisassim o tens escolhido. Nestes anos tenho procuradofalar contigo, tenho-te dito que tens potencialidade parafalares de tantas outras formas. Quando me ouves o teucoração fica mais quente, o sorriso anima o teu rosto, oteu peito abre-se à vida. Mas depressa me tens

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esquecido, tens preferido continuar encerrado eseguro na tua definição de EU.

Cresceste e agora começas a sentir as repetiçõesdos dias, as limitações da fala, o espaço pequeno doteu Eu como o criaste. Hoje sentes que queres fazeroutras escolhas, porque o onde estás já não tesatisfaz. Se a tua escolha hoje é a de falares deforma fluente, eu posso ajudar-te, porque a minhanatureza é essa, é desenhar os Eus que animam osespaços no tempo e para além do tempo.

Vamos então começar a viagem. Despe-te das tuasroupas, as roupas têm histórias e prendem-te. Quero-te nu, quero-te livre para que possas voar como ospássaros. Agora fecha os olhos, vou levar-te para ocimo da montanha, de onde podemos observar omundo e de onde te poderás observar a ti próprio nastuas histórias.

Agora aqui no cimo da montanha olha para baixo eobserva as pessoas a falar. Olha com atenção poisconsegues ver as pessoas agora, assim como emtodas as situações das suas vidas. Olha com atenção.Olha para os que estão mais perto, mas olha tambémpara o longe, para os que estão nos inícios dashistórias, noutros lugares mais longínquos

Daqui de cima podes conhecer todos os Eus detodos os tempos. Como podes ver nesta tua buscatodos os seres humanos conhecem a gaguez. Unsestão a senti-la agora, outros já a sentiram na pele,nem que tivesse sido por breves momentos.

É certo que como podes ver há uns que aconhecem melhor do que outros. Conhecem-na tãobem, utilizam-na tantas vezes, sofrem tanto com ela

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que decidiram ser a gaguez chamando-se de gagos.Repara como as pessoas que agora gaguejam commais frequência se sentem gagos, têm uma vozinterior que lhes diz - “Eu sou gago.”. Quando sedizem “Eu sou Gago!”, são a gaguez em forma deEu, estão acorrentados na sua expressão, na sualiberdade.

Agora observa as pessoas que se dizem gagas afalar. Repara como também dizem palavras de formafluída. Agora olha para ti e para toda a tua vida.Repara quantas frases ao longo da tua vida dissestede forma fluída, quantas palavras? Conseguescontar?.... Já te perdeste na contagem... Certamentemais de um milhão. Sim, disseste ao longo da tuavida mais de um milhão de palavras sem gaguejar. Ofacto de afirmares que és gago tem apagado da tuaconsciência estes dados e tem-te ajudado a reforçarum comportamento - a gaguez, que não queres.

Será que existe alguém quealguma vez nunca tenha

gaguejado? Descobre alguém que não

conheça a experiência dagaguez?

Repara agora como é impossível desenvolver umanova competência que vá contra a identidade de EU,que não se suporte na noção de EU. Nota como

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todos os que se consideram gagos permanecemgagos, como não conseguem falar sem gaguejar poisfalar sem gaguejar vai contra a sua natureza de sergago.

Repara como tudo o que se opõe àidentidade não acontece. Observa bem comotodos os comportamentos fluem enquadrados numanoção de Eu.

As nossas Crenças

são a porta da mudança

Como podes ver, quando o ser humano se assumecomo sendo gago, gordo, mau aluno a matemáticaou outra coisa qualquer, está a fechar as portas aoutras formas de ser, ao desenvolvimento dediferentes competências.

Quando tenta outros comportamentos para ter umnovo desempenho é sempre uma tentativa ténue,encurralada. Está condenado a falhar pois está a ircontra aquilo que inconscientemente considera ser asua natureza. Todas as ações que empreende sãouma defesa e consolidação dessa convicçãoinconsciente tornando a mudança impossível.

Se alguém se afirma como gago, como pode falarsem gaguejar? Ao afirmar-se gordo, como pode

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emagrecer? Ao afirmar-se mau aluno a matemática,como poderá tirar uma nota positiva ou umexcelente? Ao afirmar que não consegue correr, comopoderá correr a maratona? Ao afirmar-se comodesajeitado, como poderá conduzir um carro? Reparabem como as pessoas materializam aquilo que nosegredo do seu pensamento pensam que são..

Já deste conta de como as possibilidades vocaisdo ser humano são enormes? Ouve agora adiversidade de sons que animam a Terra. Reparacomo o bebé quando nasce apenas emite umapequena variedade de sons. Repara nos adultos,repara como a variedade dos sons que emitemaumentou. No entanto, continuam apenas a emitiruma pequena variedade de sons. Observa e ouvecomo há tantas potencialidades a nível da voz quenão estão a ser exploradas.

As pessoasmaterializam aquilo

que no segredodo seu pensamento

pensam que são

Basta prestares atenção e ouvires a variedade demúsicas, de cantares, de línguas, de dialetos paracompreenderes o que quero dizer. O que cada serhumano fala está sempre muito aquém daspossibilidades daquilo que todos os seres humanos

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possuem.Eu sei que ainda estás aqui comigo há muito

pouco tempo. Que ainda sentes o peso da identidadede ser gago consolidado pelo desespero de não teresconseguido deixar de gaguejar.

A gaguez é majestosa. Quando surge domina.Limita. Impõe-se. É senhora da personalidade, quese cola ao corpo, à alma e parece não existir formade a descolar.

O teu destinoé tudo o que está escrito

a seguir à palavra EU

Eu sei que ao despires-te como te pedi, nãoconseguiste despir a gaguez. Veio contigo escondidaem forma de crença - Eu sou gago. Olha para baixo enota como todas as pessoas que ainda gaguejam têmem comum esta crença. Uns afirmam-na a seteventos e outros transportam-na bem escondidadentro de um coração magoado.

Eu compreendo a tua dor, eu tenho-teacompanhado, eu tenho assistido à forma como tetens esforçado, como te esforças todos os dias. Aquestão é que ao longo destes anos tens-te esforçadosempre da mesma maneira.

Não terá chegado o momento de dizeres basta a

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essa forma como tens tentado falar fluentemente etentares outros métodos? São esses outros métodosque eu gostaria de partilhar hoje contigo. São essesoutros métodos que os Mestres vão partilhar contigoneste livro.

Controlar a gaguez, tal como a agressividade ou afala monocórdica é uma batalha perdida. A suanatureza é serem incontroláveis.

Cada tentativa de controlar a gaguez irrita, limitae consolida a falsa identidade -“eu sou gago”.Controlar a gaguez é como olhares ao espelho equereres ver uma árvore em vez de veres a tuaimagem refletida no espelho.

Tem sido esta falsa crença de que a gaguez sepode controlar que tem gerado tantos conflitos, tantador. Esta é a abordagem em linha reta e o únicoresultado alcançável é o reforço da gaguez.

Este não é o caminho. A natureza da gaguez é serincontrolável, tal como a chuva, o vento, tal como oInverno vir a seguir ao Outono, e o Verão a seguir àPrimavera, tal como o Sol nascer todos os dias.

Por isso vamos começar por substituir a crença“Eu sou gago” por “há pessoas que escolhem falargaguejando”. Deves estar a pensar: “Eu não escolhinada gaguejar, como poderia ter feito tal escolha?”

Enquanto sentires que a gaguez não foi umaescolha tua ficas preso a ela. Só as pessoas que asentem como uma escolha é que puderam deixá-la eencontraram uma outra forma de expressão. Ou seja,fizeram outra escolha. Metaforicamente, escolherama linha curva da fala fluída.

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A gaguez não se combate,não se controla.

Aceita-se!Tal como aceitamos

que o Solnasce todos os dias

Com esta afirmação que parece ir contra a tuanatureza estás a cortar essas amarras, essa irritaçãoe a abrir as portas a outras formas de expressãoverbal. Sim, és tu que escolhes a forma como falas.A gaguez não faz parte da tua natureza, é algo quetu escolhes. Hoje podes escolher outra forma defalar. Não te zangues comigo. Ouve-me. Vou explicarmelhor o que te quero dizer.

O teu objetivo é aprender a falar de outras formas,para não ser necessário utilizar as formas deexpressão que não controlas e que te limitam na tuaexpressão, como pessoa e no usufruto daspossibilidades que te circundam.

Sendo eu o Mestre do Eu, sei a importância daspalavras, das definições que fazes de ti próprio, àsvezes só para ti próprio. Sei que é a partir dasdefinições do Eu que começa a mudança. Tem sidosempre assim, desde o início da Humanidade, comopodes observar olhando para baixo, para o presente,para o passado.

Quando as pessoas afirmam eu sou..... estão afocar somente uma parte das suas capacidades e

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competências. É como se estivessem a apagar todasas outras capacidades que já desenvolveram e aimpedir-se de continuarem a desenvolvê-las.

Vamos fazer uma breve experiência. Olha à tuavolta e repara em três objetos castanhos. Já está?Agora olha para mim, e diz-me quantos objetosverdes viste? Ou amarelos? Ou azuis?.. Oupretos?...Quantos?

Nenhum, não é? Como estavas à procura dosobjetos castanhos apenas repararaste nesses, o restofoi como se não existisse. Isto é exatamente o queacontece quando dizes que és gago. Apenas reparasnas vezes em que gaguejaste, nas frases ou naspalavras em que disseste a gaguejar.

Uma pessoa com deficiência visual nuncaconsegue ver, apresenta um padrão contínuohomogéneo. Tal como uma pessoa que não fala,também nunca consegue dizer uma palavra. Ou umapessoa que não ouve, também nunca ouve.

Uma pessoa que gagueja é quase imprevisível,pois no meio da gaguez, diz sempre palavras deforma fluída. Uma pessoa que gagueja não gaguejasempre com a mesma intensidade em diversoscontextos, com diferentes pessoas.

“Mas isto não é bem assim” - ainda estás apensar. Então vamos fazer mais uma experiência.Pensa na cara de uma moeda que usas comfrequência. Agora sem olhar para ela desenha a caradessa moeda.

Compara o teu desenho da moeda com a moeda. Odesenho que fizeste da moeda está igual à moeda?

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Omitiste alguns elementos,? Quantos elementosacrescentaste? E quantos deturpaste? Pensa comofoi a experiência de desenhar essa moeda que jáviste milhares de vezes.

Se a tua perceção da moeda está tão afastada daRealidade, embora já tivesses visto essa moedatantas vezes, o que te garante que a perceção de tipróprio esteja correta?

O ser humano só vê aquilo que lhe interessa. Aoolhar para a moeda repara que é redonda (para saberque é uma moeda, as moedas são redondas) e reparano número da moeda (que a identifica e separa dasoutras moedas). Quando olha para si próprio reparanas vezes em que gagueja, nomeadamente aquelasvezes em que sofreu bastante por ter gaguejado.

Tu não és gago. Gaguejas umas vezes com muitafrequência, outras vezes com menos e às vezes nãogaguejas. Gaguejas mais nuns contextos,possivelmente quando estás a ser avaliado e menosnoutros contextos.

Dizer “eu sou gago”, é um falso posicionamentoda gaguez que te limita a perceção e te encurrala nodesenvolvimento das tuas competências quepretendes desenvolver ao nível da dicção.

A gaguez e a fala fluída não são uma questão deidentidade. São comportamentos baseados emcapacidades que se desenvolvem. Não definemaquilo que tu és, mas sim aquilo que tu fazes, comotu fazes. Mais especificamente a tua voz tem a vercom a dinâmica da forma como utilizas o corpo, arespiração e as as palavra. Quando falo em fazer

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estou a falar de hábitos. Hábitos tãoprofundamente enraizados em ti que os considerasnaturais, daí tu os teres baralhado com a tuaidentidade. Mas a voz está longe de ser natural.

É como comer de faca e garfo. Também não énatural. Garanto-te, para um Bosquímano, para umChinês, para um Nuer, para um Bijagó, para umTuaregue, para um Ocidental da idade média, atépara Platão, Aristóteles, Sócrates, Euraclito, St.Agostinho, Jesus, Buda, Maomé..... e tantosoutros....... comer com faca e garfo não era nadanatural.

E para ti é tão natural que quando preparas amesa de refeições os colocas sem questionar, pois énatural os talheres fazerem parte da tua refeição.

Aquilo a que chamas natural não é nada mais do

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que um gesto, uma ação ou uma competência quefazes sem pensar como a estás a executar ou nosmicro-gestos necessários à sua execução ou mesmonaquilo que se impõe e não consegues controlar,como a gaguez e as fobias.

O que chamas natural é apenas um hábito quedesenvolveste sem teres consciência do processo dedesenvolvimento desse mesmo hábito. É um padrãoneurológico, que compreende estímulo-emoção/Estado de Corpo-comportamento-consciência.

A fala fluídapara um Gago,

é comocomer com pauzinhos

para um Ocidental

A gaguez é um hábito, tal como andar é umhábito. Falar de forma fluída é um hábito. É por issoque é mais fácil as crianças deixarem de gaguejar doque os adultos. Os hábitos da gaguez estão menosenraizados. As ligações neuronais subjacentes a essehábito ainda são muito ténues.

Para que possas desenvolver uma fala fluída oprimeiro passo é substituíres a afirmação “eu sougago” por uma afirmação que te abra as portas àmudança, à aprendizagem.

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Se quiseres utilizar uma frase libertadora quecaraterize a forma em que maioritariamente te tensexpressado até hoje poderás afirmar: “Euhabitualmente gaguejo”. Excelente, habitualmentenão é sempre! “Habitualmente gaguejo” tambémcontém em si um potencial de aprendizagem -“como posso fazer para falar de forma fluída?”

Permanece atento à relação da frequência comque habitualmente gaguejas. Se ela for inferior àsvezes em que falas de forma fluente, em vez dehabitualmente poderás afirmar “esporadicamente”ou “pontualmente gaguejo”.

Também poderás acrescentar o contexto em queocorre a fala gaga -”Eu pontualmente gaguejoquando falo em público.” ou “Eu habitualmentegaguejo quando estou cansado”

Melhor ainda seria: “Eu pontualmente gaguejoquando estou nervoso por falar em público.” Estafrase têm dentro de si um controle maior do teucomportamento. Se estiveres relaxado, já falarás deforma fluída.

Outra frase poderá ser -”Eu habitualmente gaguejoquando estou cansado e me esqueço de prestaratenção à respiração.” Esta frase também já contémem si o controle do teu comportamento. Se estiveresatento à tua respiração quando estiveres cansado asprobabilidades de gaguejar serão bem menores. Aquia forma como falas começa a surgir como umaconsequência das tuas escolhas. Começas a dar osprimeiros passos no domínio da tua fala.

Agora que remeteste a gaguez para o campo doshábitos, vais então desvendar o mistério do

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desenvolvimento dos hábitos e qual a tuaresponsabilidade na sua construção.

EuHabitualmente

(esporadicamente / pontualmente)gaguejo

Compreenderes este processo é tambémdeterminante para que mais facilmente possasmonitorizar os exercícios que os Mestres te vãoconvidar a fazer.

Estás preparado para descobrir os mistérios dosHábitos? Vamos então descer um pouco até ao rioque passa aqui próximo, onde poderemos encontrar oMestre dos Instintos e dos Hábitos.

Com ele continuarás a tua viagem da fala quehabitualmente gagueja para a fala fluída. Agora aopartires já não levas a gaguez no teu Eu, ela estáapenas no teu bolso. E vais ver como afinal elapoderá voar da tua vida......

Mas, espera. Tenho aqui este chapéu para teoferecer.

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Um chapéu?”, questionas-te com o sorriso curiosonos lábios.

Sim um chapéu.. O chapéu serve para te protegeres do sol, do vento

e da imprevisível chuva que possa ocorrer durante atua viagem. Em simultâneo simboliza a tuaidentidade.

Gostaria que o usasses durante a tua viagem. Elesimboliza o teu novo Eu, um Eu que se sente seguroe livre em simultâneo...

Um Eu imbuído da capacidade de usufruir detodas as tuas potencialidades, das potencialidadesque te circundam e que está preparado para asadversidades.

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