A INFLUÊNCIA DA RESPONSABILIDADE AMBIENTAL …
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MESTRADO
ECONOMIA E GESTÃO DO AMBIENTE
A INFLUÊNCIA DA
RESPONSABILIDADE AMBIENTAL
EMPRESARIAL NA CAPTAÇÃO E
RETENÇÃO DE COLABORADORES
Sofia Mota
M 2019
A INFLUÊNCIA DA RESPONSABILIDADE AMBIENTAL EMPRESARIAL NA CAPTAÇÃO E RETENÇÃO DE COLABORADORES
Sofia Gonçalves Mota
Dissertação
Mestrado em Economia e Gestão do Ambiente
Orientado por
Professor Manuel Emílio Mota de Almeida Delgado Castelo Branco
2019
i
LISTA DE SIGLAS
RAE Responsabilidade Ambiental Empresarial
RSE Responsabilidade Social Empresarial
SE Sustentabilidade Empresarial
ISO International Organization for Standardization
GRI Global Reporting Initiative
SGA Sistema de Gestão Ambiental
EB Employer Branding
ii
RESUMO
Nas últimas décadas são várias as organizações mundiais que alertam para a degradação do
ambiente, provocando na sociedade uma crescente preocupação sobre esta temática e, mais
do que isso, provocando a ação para que este cenário seja revertido.
Uma vez que as organizações, embora essenciais para o crescimento económico, são
também responsáveis pela degradação ambiental, devem procurar adotar comportamentos
ambientalmente responsáveis. O aumento da regulação ambiental, a consciencialização dos
stakeholders de que a proteção ambiental não está em conflito com a maximização do lucro
e, a pressão da sociedade, tornam a responsabilidade ambiental importante para muitas
organizações que procuram melhorar o seu desempenho ambiental. Os colaboradores,
enquanto membros da sociedade, estão também mais conscientes das obrigações das
empresas em relação ao meio ambiente, encarando a responsabilidade ambiental como uma
questão a ser consideradas pelos empregadores.
Assim, o objetivo deste trabalho consiste essencialmente em perceber se a responsabilidade
ambiental empresarial tem influência na captação e retenção de colaboradores, tendo-se
observado uma relação positiva entre a responsabilidade ambiental empresarial e a
atratividade organizacional. A responsabilidade ambiental das empresas oferece aos
colaboradores a sensação de trabalhar em direção a um objetivo comum (proteção
ambiental), desempenhando um papel importante na sociedade, o que por sua vez faz com
que os trabalhadores desenvolvam sentimentos de pertença e compromisso com a
empresa, pois vêem os seus valores alinhados com os da organização – empresas com
preocupações ambientais são vistas como empregadores mais atrativos.
A temática estudada torna-se relevante uma vez que a atualidade é marcada por amplas
discussões sobre a urgência de reverter o desgaste ambiental por todos observado, sendo as
empresas vistas como das principais responsáveis pelo mesmo.
Após revisão da literatura, recorreu-se a uma abordagem quantitativa, através da aplicação
de um questionário online a estudantes universitários, procurando-se perceber a sua posição
sobre a temática analisada.
Palavras-chave: responsabilidade ambiental empresarial; atratividade organizacional;
captação e retenção de colaboradores.
iii
ABSTRACT
In the last decades, several organizations worldwide are warning about the environmental
degradation, increasing society's concerns and willingness to act.
Since organizations, while essential for economic growth, are also responsible for
environmental degradation, they should seek to adopt environmentally responsible
behavior. Increased environmental regulation, the stakeholder awareness that
environmental protection is not in conflict with maximizing corporate profitability and
societal pressure, makes corporate environmental responsibility an important focus for
many organizations, seeking to improve their business. Employees, as members of society,
are also more aware of companies environmental obligations, regarding corporate
environmental responsibility as an issue that employers have to consider.
Thus, the objective of this paper is essentially to understand if corporate environmental
responsibility has an influence on the recruitment and retention of employees, having
observed a positive relationship between corporate environmental responsibility and the
attractiveness of organizations. Corporate environmental responsibility gives employees a
sense of working towards a common goal (environmental protection), playing an important
role in society, which in turn makes workers develop feelings of belonging and
commitment to the company, employess see their values aligned with the organization
values – companies with an environmental concern are seen as more attractive employers.
The theme studied in the present work becomes relevant since the present is marked by
many discussions about the urgency to reverse the environmental degradation observed by
all, being the companies seen as one of the main responsible for this degradation.
In this study, after reviewing the literature, we used a quantitative approach through the
application of an online questionnaire to university students, seeking to understand their
position on the subject under analysis.
Keywords: corporate environmental responsibility; organizational attractiveness;
recruitment and retention of employees.
iv
ÍNDICE DE CONTEÚDOS
Introdução .......................................................................................................................................... 1
Capítulo 1 – A Responsabilidade Ambiental Empresarial .......................................................... 4
1.1.Evolução histórica e conceptual .................................................................................. 4
1.1.1. A responsabilidade social e ambiental empresarial e os stakeholders ........... 16
1.2.Benefícios associados à responsabilidade ambiental empresarial .......................... 17
1.3.Obstáculos associados à responsabilidade ambiental empresarial ........................ 22
1.4.Relação entre responsabilidade ambiental empresarial e desempenho económico-
financeiro ............................................................................................................................ 23
Capítulo 2 – Atratividade Da Responsabilidade Ambiental Empresarial ............................... 26
2.1. O employer branding ....................................................................................................... 26
2.2. Influência da responsabilidade ambiental empresarial na captação e retenção de
colaboradores ..................................................................................................................... 29
2.2.1. Signaling Theory ................................................................................................... 37
2.2.2. Social Identity Theory............................................................................................ 37
2.3. Efeito da responsabilidade ambiental empresarial nos colaboradores ................ 38
Capítulo 3 – Metodologia .............................................................................................................. 40
3.1. Objetivos do estudo .................................................................................................... 40
3.2. Questões de investigação ........................................................................................... 40
3.3. População-alvo e caracterização da amostra ........................................................... 41
3.4. Recolha e tratamento de dados ................................................................................. 42
Capítulo 4 – Apresentação e Interpretação dos Resultados ..................................................... 44
4.1. Caracterização sociodemográfica .............................................................................. 44
4.2. Perceção dos inquiridos em relação à responsabilidade ambiental empresarial. 47
Conclusão ......................................................................................................................................... 56
Referências Bibliográficas .............................................................................................................. 61
Anexos ............................................................................................................................................. 68
v
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1: Idade dos inquiridos ...................................................................................................... 44
Tabela 2: Análise estatística da variável classificação académica .............................................. 46
Tabela 3: Análise estatística da variável importância da RAE .................................................. 51
Tabela 4: Análise estatística (correlação de Spearman).............................................................. 55
vi
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1: Definições de employer brand ..................................................................................... 26
vii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1: Pirâmide da responsabilidade social empresarial ....................................................... 12
Figura 2: Desafios globais que mais preocupam jovens ............................................................ 33
Figura 3: Oferta de emprego fictícia com mensagem ambiental .............................................. 35
Figura 4: Oferta de emprego fictícia sem mensagem ambiental .............................................. 36
Figura 5: Área de formação atual dos inquiridos ........................................................................ 45
Figura 6: Classificação académica atual dos inquiridos ............................................................. 46
Figura 7: Situação atual dos inquiridos ........................................................................................ 47
Figura 8: Satisfação quanto à RAE no atual emprego ............................................................... 48
Figura 9: Fatores mais atrativos numa organização ................................................................... 49
Figura 10: Importância da RAE .................................................................................................... 51
Figura 11: Importância da RAE na escolha de emprego .......................................................... 52
Figura 12: Importância da comunicação da RAE ...................................................................... 52
Figura 13: Motivação no trabalho ................................................................................................. 53
1
INTRODUÇÃO
O planeta enfrenta atualmente um grande desafio, na medida em que não consegue
sustentar o estilo de vida que o Homem tem vindo a adotar. Desta forma, a sociedade está
cada vez mais exposta a alterações negativas no meio ambiente e, consequentemente está
mais predisposta a discutir e debater assuntos relacionados com o desenvolvimento
sustentável, mostrando-se cada vez mais consciente de ser necessária uma mudança no
comportamento do Homem.
A sustentabilidade é frequentemente explicada como a capacidade de satisfazer as
necessidades do presente sem comprometer a capacidade de gerações futuras satisfazerem
as suas próprias necessidades (Brundtland, 1987), sendo que um dos maiores desafios da
sociedade atual passa por adotar comportamentos mais sustentáveis, ocupando o tecido
empresarial um importante papel nesta discussão.
As forças sociais e políticas incentivam as organizações a agir com mais responsabilidade,
sendo que o aumento da procura do consumidor por produtos verdes, a imagem /
reputação das organizações, a pressão das organizações não-governamentais, dos
investidores e dos meios de comunicação social, os códigos de conduta da indústria e os
próprios valores dos acionistas e colaboradores estimulam as empresas a adotar
comportamentos responsáveis (Heslin e Ochoa, 2008). Em relação às questões ambientais
críticas (desflorestação, uso excessivo do plástico, poluição…) existe um consenso
emergente de que as mesmas devem ser tratadas sem demora e que, além de mudanças nas
políticas públicas, as organizações têm uma responsabilidade e um papel fundamental a
desempenhar na identificação e implementação de ações corretivas.
A observação da evolução da relação entre as empresas e a sociedade permite constatar que
existe uma preocupação crescente sobre a forma como os negócios devem ser realizados,
pois cada vez mais se exige às organizações que ofereçam benefícios económicos, sociais e
ambientais à sociedade. Nesse sentido, e com as crescentes evidências do impacto positivo
da responsabilidade ambiental no desempenho dos negócios, as organizações atribuem
cada vez mais importância à adoção de práticas e estratégias de negócio sustentáveis,
procurando promover uma cultura de responsabilidade ambiental, implementando práticas
ecológicas. As empresas estão então sob pressão das diferentes partes interessadas para que
demonstrem que as suas atividades representam mais do que maximizar o lucro dos
acionistas e o bem-estar privado, sendo que um dos grandes desafios das organizações
passa por implementar princípios da responsabilidade ambiental empresarial e concilia-los
2
com as suas estratégias de negócio de forma credível – os atuais e potenciais colaboradores
de uma organização, enquanto membros de uma sociedade consciente dos problemas
ambientais existentes, revelam cada vez mais vontade em trabalhar numa organização,
também ela consciente das suas obrigações em relação ao meio ambiente.
Este estudo torna-se relevante, por abordar uma temática em voga, uma vez que a
atualidade é marcada por diversas discussões sobre a necessidade de reduzir a pegada
ecológica, sendo que as empresas são consideradas das principais responsáveis pela
degradação ambiental. Para além disso, no meio empresarial o capital humano é
considerado cada vez mais uma parte de extrema relevância, quando se trata das
organizações serem bem-sucedidas. Neste estudo procura-se, assim, perceber a ligação
entre as práticas ambientalmente responsáveis de uma organização e os seus recursos
humanos, ou seja, os seus colaboradores e potenciais colaboradores. Desta forma, este
trabalho tem como objetivo perceber se a responsabilidade ambiental empresarial tem
influência na captação e retenção de colaboradores, sendo que se verificou existir uma
relação positiva entre a responsabilidade ambiental empresarial e a atratividade
organizacional e, verificou-se ainda que a responsabilidade ambiental empresarial tem um
papel importante no sentido de aumentar a motivação e compromisso dos trabalhadores.
Assim, sendo que os trabalhadores têm um papel fundamental no sentido auxiliar as
organizações a alcançarem o sucesso (Buzzelli, 1991), as organizações devem conseguir ter
nos seus quadros bons profissionais, sendo para isso importante que trabalhem a sua
reputação enquanto entidade empregadora, de maneira a atraírem funcionários qualificados,
sendo que uma das formas de conseguir uma melhor reputação passa pela adoção de
práticas “verdes”. Verifica-se que, embora no passado os incentivos financeiros fossem o
instrumento tido geralmente como o mais importante, a responsabilidade ambiental
empresarial está a tornar-se cada vez mais um fator importante no que diz respeito à
atratividade do empregador e ao comprometimento dos colaboradores, que estão cada vez
mais consciencializados da importância de cuidar do planeta (Holtbrügge, 2014).
Para elaborar a presente Dissertação realizou-se uma revisão da literatura, recorrendo-se a
bases de dados bibliográficas (como web of science e scopus) e, posteriormente, utilizou-se uma
abordagem quantitativa, através da aplicação de um questionário online a estudantes
universitários, procurando-se perceber a sua posição sobre o tema em estudo, ou seja,
perceber em que medida a responsabilidade ambiental empresarial é um fator importante
na captação e retenção de profissionais.
3
Assim, o presente trabalho inicia-se com uma abordagem ao conceito de responsabilidade
ambiental empresarial e a outros conceitos aos quais a mesma é associada, procurando-se
perceber o que motiva as empresas a implementarem práticas ambientais, quais os
benefícios que dela resultam e as eventuais barreiras colocadas à sua implementação e,
ainda, analisa-se a relação entre a responsabilidade ambiental e o desempenho financeiro de
uma organização. Em seguida, aborda-se o employer branding e a sua ligação à
responsabilidade ambiental. Posteriormente, apresentam-se estudos que examinam a
influência da responsabilidade ambiental empresarial na captação e retenção de
colaboradores e o efeito que a mesma tem na motivação dos trabalhadores. Na fase
seguinte, é explicada a metodologia usada no trabalho de investigação (realizado através da
aplicação de um questionário) e respetivos resultados, terminando-se com as conclusões.
4
CAPÍTULO 1 – A RESPONSABILIDADE AMBIENTAL EMPRESARIAL
Nos últimos anos é possível observar que o ambiente se tem vindo a degradar muito
devido ao comportamento do Homem, sendo que grande parte da degradação ambiental se
deve às atividades económicas das organizações. Desta forma, é fundamental que as
empresas se responsabilizem pelos seus impactes no meio ambiente, até porque a economia
é parte da sociedade, que por sua vez se integra no meio ambiente – o desenvolvimento
sustentável é assim construído sobre três pilares interdependentes: económico, social e
ambiental, sendo que este trabalho se irá focar na esfera ambiental, isto é, na
responsabilidade ambiental empresarial.
1.1. Evolução histórica e conceptual
A pressão social, a legislação em vigor ou a iniciativa própria, levam as empresas a, cada vez
mais, demostrarem vontade em assumir responsabilidade pelos efeitos que produzem a nível
social, económico e ambiental, comprometendo-se a reduzir os impactes negativos que
advém das suas atividades, o que se traduz numa tendência para as empresas agirem de forma
responsável.
Uma demonstração de que cada vez mais empresas dão importância às consequências das
suas ações, é o facto de 9.913 empresas, de 161 países diferentes, fazerem parte do “United
Nations Global Compact”, uma iniciativa proposta pela Organização das Nações Unidas
para encorajar as empresas a adotar políticas de responsabilidade social e ambiental –
abaixo é possível observar os dez princípios da “United Nations Global Compact”, que as
empresas devem seguir:
Direitos humanos
Princípio 1: apoiar e respeitar a proteção dos direitos humanos proclamados
internacionalmente;
Princípio 2: certificar-se de que não são cúmplices de violações dos direitos
humanos.
Trabalho
Princípio 3: defender a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do
direito à negociação coletiva;
Princípio 4: eliminação de todas as formas de trabalho forçado e obrigatório;
5
Princípio 5: abolição efetiva do trabalho infantil;
Princípio 6: eliminação da discriminação em relação ao emprego e ocupação.
Meio Ambiente
Princípio 7: apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais;
Princípio 8: adotar iniciativas que promovam uma maior responsabilidade
ambiental;
Princípio 9: incentivar o desenvolvimento e a difusão de tecnologias
ambientalmente amigáveis.
Anticorrupção
Princípio 10: trabalhar contra a corrupção em todas as suas formas, incluindo
extorsão e suborno.
Um estudo pedido pela Comissão Europeia (2011) teve como um dos objetivos analisar o
que motiva a mudança do comportamento ambiental das empresas e verificou que a
legislação, a pressão das principais partes interessadas e os sinais do mercado, levam as
empresas a procurar melhorar constantemente o seu desempenho ambiental. Assim, o
estudo conclui que os fatores (internos e externos) que motivam uma mudança nas
organizações, no sentido de adotar comportamentos ambientalmente responsáveis são os
seguintes:
Fatores Internos:
Benefícios financeiros;
Cultura empresarial, história, normas e aprendizagem;
Liderança e comprometimento de alto nível;
Ética individual;
Atitude dos funcionários;
Risco operacional;
Status da empresa.
Fatores Externos:
Regulamentação / legislação;
Imagem empresarial, reputação e risco associado;
6
Meios de comunicação social, organizações não-governamentais, sociedade em
geral;
Concorrentes;
Clientes, investidores;
Fornecedores e parceiros comerciais;
Seguradoras e outras instituições financeiras.
Assim, torna-se relevante analisar a forma como as empresas olham para a responsabilidade
ambiental (RAE). Quando se aborda o conceito de RAE, verifica-se que é difícil encontrar
na literatura uma definição que lhe seja atribuída, uma vez que inicialmente os autores não
lhe deram grande destaque e, posteriormente, quando o começaram a fazer, optaram por
maioritariamente associar a RAE a outros conceitos (como a responsabilidade social
empresarial ou a sustentabilidade empresarial) – a classificação das questões ambientais é
vista por vezes como um subconjunto de questões sociais e, outras vezes, como o terceiro
elemento da sustentabilidade – os investigadores propõem então diferentes terminologias
com orientação verde.
Na maioria da literatura existente, a responsabilidade ambiental empresarial está vinculada à
responsabilidade social empresarial, portanto quando falamos da evolução do conceito da
RAE torna-se necessário perceber também em que momento surgiu a responsabilidade
social empresarial (RSE). Desta forma, a ideia de entregar à sociedade uma fração dos
proveitos das organizações de forma voluntária teve início no final do século XIX com os
filantropos, sendo que só mais tarde, nos anos 50, aparece a primeira tentativa de definir a
RSE, com Howard Bowen. Para este autor a responsabilidade social era uma obrigação dos
homens de negócios, que deveriam tomar decisões de acordo com os valores da sociedade
(Bowen, 1953). Esta temática ganhou então atenção em 1953 com o livro “Social
Responsabilities of the Businessman” de Howard Bowen, transformando-se num campo
de estudo – a RSE começou assim a tornar-se um fator a ter em consideração quando se
abordava o desenvolvimento e crescimento das organizações.
Apesar dos inúmeros esforços para obter uma definição clara e imparcial de
Responsabilidade Social Empresarial, ainda existe alguma confusão em relação à definição
de RSE, emboras as definições existentes sejam em grande parte congruentes. Isto é, apesar
de existirem muitas definições disponíveis de RSE, as mesmas referem-se de forma geral a
cinco dimensões: social, ambiental, económica, stakeholders, filantropia/voluntariado
(Dahlsrud, 2008). Para Marrewijk (2003) o termo “responsabilidade social” é muitas vezes
interpretado de forma limitada por ser somente visto como aplicável a questões de bem-
7
estar social, quando o objetivo é incluir todas as dimensões do impacto, relações e
responsabilidades das empresas para com a sociedade como um todo – por este motivo o
conceito foi até colocado em causa por Andriof e McIntosh (2001), que preferiam o termo
“responsabilidade societária”.
A RSE é então um conceito amplamente discutido, havendo autores que consideram que a
responsabilidade social das empresas é aumentar os seus lucros (Friedman, 1962), ou seja, o
acionista procura a maximização do lucro e considera que as atividades socialmente
responsáveis não pertencem ao domínio das organizações, sendo uma tarefa dos governos;
por outro lado, há autores que defendem a abordagem das partes interessadas (stakeholder
approach), que indica que as organizações não são apenas responsáveis perante os acionistas,
mas devem procurar equilibrar a multiplicidade de interesses dos stakeholders que podem
afetar ou são afetados pela realização dos objetivos de uma organização (Freeman, 1984).
Assim, as definições de RSE enquadram-se em duas linhas gerais de pensamento: uma que
argumenta que os negócios são obrigados apenas a maximizar lucros dentro dos limites da
lei e restrições éticas mínimas (Friedman, 1970) e outra que sugere uma gama mais ampla
de obrigações em relação à sociedade (Carroll, 1979).
A adoção da RSE pode então distinguida ser distinguida através de duas perspetivas:
normative (normativo), quando há uma motivação e desejo de fazer o bem; e business
(negócio), quando se concentra na noção de interesse próprio. O caso normativo sugere
que uma empresa se deve comportar de forma socialmente responsável, porque é
moralmente correto fazê-lo. O caso de negócios relaciona-se com a forma como as
empresas vêem a possibilidade de promover o seu sucesso económico ao ter em atenção a
RSE. Apesar de existir uma diferença entre as duas perspetivas, os motivos que levam uma
organização a envolver-se em atividades de RSE pode refletir uma mistura das duas (Smith,
2003).
Segundo Godfrey e Hatch (2007) a literatura sobre RSE pode ser dividida em dois ramos -
orientação ética / moral; orientação para os negócios. A primeira abordagem (perspetiva
ética) sugere que a RSE é um ato de reciprocidade entre a empresa e seus stakeholders, sendo
que RSE depende da maneira como as partes interessadas percebem um problema e a
necessidade de resolvê-lo. A segunda abordagem (perspetiva económica) sugere uma
relação positiva entre práticas de RSE e o desempenho financeiro, devendo a RSE ser
compatível com o objetivo de maximização do lucro.
8
Para Marrewijk (2003) a RSE consiste no conjunto de atividades empresariais voluntárias,
que demonstram a inclusão de ações sociais e preocupações ambientais nas atividades de
uma organização.
A conceção dominante atual da RSE é de que as organizações integram voluntariamente
preocupações / ações sociais e ambientais nas suas atividades e interações com os
stakeholders. A RSE relaciona-se com questões morais e éticas que dizem respeito ao
comportamento empresarial e à tomada de decisões por parte das organizações, no âmbito
de questões como a gestão de recursos humanos, a proteção ambiental, saúde e segurança
no trabalho, relação com as partes interessadas (comunidades locais, fornecedores, etc.),
entre outras (Branco e Rodrigues, 2006).
No contexto da RSE, importa referir a ISO1 26000, uma norma internacional de orientação
sobre responsabilidade social, que identificou sete áreas principais de responsabilidade
social, sendo crucial que as organizações as examinem, de maneira a garantir que são
socialmente responsáveis (ISO, 2017):
Direitos humanos: uma organização tem como responsabilidade social a defesa dos
direitos humanos, garantindo que os direitos dos funcionários sejam protegidos, a
diversidade seja respeitada e todas as formas de discriminação sejam eliminadas em
conformidade com a Lei Internacional dos Direitos Humanos.
Emprego e práticas de trabalho: criação de empregos, pagamento de salários,
remuneração e benefícios pelo trabalho realizado estão entre as responsabilidades
sociais e económicas de uma organização.
O meio ambiente: o ambiente experimenta o impacto das atividades realizadas pelas
organizações. Assim, os desafios ambientais incluem a escassez dos recursos
naturais, a poluição, as mudanças climáticas, o colapso de ecossistemas, entre
outros. As organizações socialmente responsáveis devem assumir responsabilidade
por quaisquer problemas ambientais que possam ser causados pelas suas decisões e
atividades.
Práticas operacionais justas: uma organização socialmente responsável deve
promover práticas comerciais justas e anticorrupção no seu relacionamento com a
sociedade, outros negócios, fornecedores, clientes e outras partes interessadas da
sociedade. Portanto, as organizações devem defender os princípios de valor ético,
responsabilidade e transparência nas suas relações com as partes interessadas (como
1 A ISO (International Organization for Standardization) é uma organização internacional independente e não-governamental, que tem como principal objetivo aprovar normas internacionais.
9
a sociedade). As empresas devem, ainda, defender a equidade e integridade em
todas as suas relações, de forma a garantir uma concorrência justa e o respeito pelos
direitos de propriedade.
Direitos do consumidor: as organizações têm uma responsabilidade para com os
consumidores e clientes – essas responsabilidades não incluem apenas o
fornecimento de bens e serviços de qualidade, mas também o fornecimento de
informações justas, transparentes e precisas aos consumidores, a manutenção de
princípios de práticas justas de marketing e a proteção da saúde e segurança dos
consumidores.
Desenvolvimento da comunidade: espera-se que as organizações contribuam
significativamente para as comunidades onde exercem as suas atividades,
garantindo emprego e uma sociedade saudável que melhore a qualidade de vida da
população.
Governação: está relacionada com a forma como uma organização deve agir e
implementar a sustentabilidade em relação aos outros assuntos centrais. Uma
organização que visa alcançar a sustentabilidade deve implementar processos
efetivos de tomada de decisão que influenciarão positivamente as outras áreas
centrais da responsabilidade social.
Além da RSE, a sustentabilidade empresarial (SE) é um conceito também associado à RAE
(e à RSE). As definições de sustentabilidade derivam da definição de desenvolvimento
sustentável apresentada no Relatório Brundtland (1987), que refere que o desenvolvimento
sustentável é a capacidade de satisfazer as necessidades do presente, sem comprometer a
capacidade de gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades. A
sustentabilidade visa garantir o sucesso dos negócios a longo prazo, contribuindo para o
desenvolvimento económico e social, num ambiente saudável.
Para Elkington (1994) o desenvolvimento sustentável exige que as organizações atuem nas
esferas económica, ambiental e social, de uma maneira percebida como positiva pelas
partes interessadas, sendo os resultados medidos pelo triple bottom line (resultados de uma
organização em termos sociais, ambientais e económicos).
Segundo Comissão Europeia a RSE consiste em ações das empresas que vão além das suas
obrigações legais para com a sociedade e o ambiente – a RSE consiste na responsabilidade
das empresas pelo impacto que têm na sociedade, sendo que para cumprir plenamente a
responsabilidade social que lhes incumbe, as empresas devem adotar processos com o
intuito de integrar as preocupações de índole social, ambiental e ética, o respeito pelos
10
direitos humanos e as preocupações dos consumidores nas respetivas atividades e
estratégias, em estreita colaboração com as partes interessadas (Comissão Europeia, 2011).
Em relação à SE, existem duas formas de a analisar – uma abordagem usa o termo
sustentabilidade ecológica para identificar a SE, dando ênfase à dimensão ambiental dos
negócios (Shrivastava, 1995b), enquanto outros autores optam por uma definição num
sentido mais amplo, identificando a SE como uma construção tridimensional que engloba a
dimensão ambiental, económica e social (Bansal, 2005). Como tal, por um lado, há autores
que identificam a sustentabilidade enquanto a dimensão de responsabilidade ambiental dos
negócios, usando frequentemente o termo sustentabilidade ecológica. Por outro lado, há
autores que consideram a sustentabilidade a partir de uma perspetiva tripla (dimensões da
responsabilidade económica, equidade social e integridade ambiental).
Dyllick e Hockerts (2002) transpõem o conceito de desenvolvimento sustentável para o
nível empresarial, explicando a sustentabilidade empresarial como a forma das empresas
satisfazerem as necessidades presentes dos stakeholders, sem comprometer a capacidade de
satisfazerem as necessidades dos futuros stakeholders.
Segundo Branco e Rodrigues (2006) a sustentabilidade empresarial é frequentemente
associada à abordagem de triple bottom line, na qual o desempenho empresarial se associa à
viabilidade económica das empresas, minimização de impactes ambientais negativos e ações
em conformidade com as expectativas sociais, ou seja, são três os pilares da
sustentabilidade empresarial: sustentabilidade económica, sustentabilidade ambiental e
sustentabilidade social.
Devido às preocupações ambientais e sociais compartilhadas, a RSE e a SE têm vindo a
convergir, embora de forma geral, na RSE as questões ambientais sejam consideradas um
subconjunto de dimensões mais amplas do desempenho social; enquanto na SE a dimensão
social se tornou uma parte cada vez mais importante do paradigma da sustentabilidade.
Assim, para Keijzers (2002) os conceitos de RSE e SE, embora tenham seguido caminhos
separados no passado (a RSE relacionava-se com questões puramente sociais, como os
direitos humanos, enquanto a SE se referia apenas a aspetos relacionados com o meio
ambiente), recentemente convergiram. Assim, a SE e a RSE referem-se às atividades
voluntárias das empresas, que demonstram a inclusão de preocupações sociais e ambientais
nas operações de negócios e nas interações com as partes interessadas. A SE partilha a
mesma visão da RSE, pretendendo equilibrar a responsabilidade económica, social e
ambiental, pois só a partir da satisfação destas três esferas o desenvolvimento pode ser
sustentável.
11
Desta forma, a RSE e a SE consistem em atividades voluntárias das empresas, que
procuram mostrar a inclusão de preocupações sociais e ambientais nas operações de
negócios e nas interações com os stakeholders, sendo que a literatura utiliza a RSE e a SE
para se referir a questões de gestão social e ambiental.
Os dois conceitos têm um objetivo comum abrangente que passa por garantir que as
organizações vão além do objetivo singular da pura maximização do lucro,
independentemente de definirem questões ambientais como um subconjunto de questões
sociais ou como o terceiro elemento da sustentabilidade – atualmente a RSE e a SE são
frequentemente usadas em conjunto e, às vezes, de forma intercambiável, para se referirem
à necessidade das organizações se tornarem socialmente e ambientalmente responsáveis.
Segundo Presley e Blum, (2018) a RSE e a sustentabilidade são conceitos relacionados. Para
Montiel (2008) não existe uma distinção clara entre a RSE e a sustentabilidade empresarial,
sendo que estes dois conceitos se fundem. Para Montiel (2008) os estudos sobre RSE e
sustentabilidade estão a convergir, devido a preocupações ambientais, económicas e sociais
compartilhadas.
Segundo Babiak e Trendafilova (2011) nos últimos anos, o meio ambiente tem sido um dos
fatores de maior interesse em termos de atitude do mercado em relação à RSE.
Assim, em relação à RAE, através da revisão da literatura é possível verificar que
inicialmente foi dada pouca atenção à dimensão ambiental. Carroll (1991), por exemplo,
não inclui sequer a dimensão ambiental nas definições iniciais de RSE, conforme é possível
analisar na figura 1.
12
Figura 1: Pirâmide da responsabilidade social empresarial
Fonte: Carroll, A. B. (1991). The Pyramid of Corporate Social Responsibility: Toward the Moral Management
of Organizational Stakeholders. Business Horizons, 34 (4), 39-48.
Contudo, a partir do século XXI as questões ambientais começaram a ser amplamente
debatidas, devido a fenómenos como a diminuição da qualidade da água, contaminação dos
solos, poluição do ar, escassez de recursos naturais, procura por parte dos consumidores de
produtos “verdes”, entre outros, repercutindo-se no papel que as empresas têm nestas
questões. Com a consciencialização da sociedade das alterações adversas que se têm
verificado no ambiente, vieram também as reivindicações das comunidades em relação ao
impacte ambiental negativo que as empresas têm no meio, sendo exigido mudanças às
mesmas, no sentido de encontrar um equilíbrio entre as necessidades das organizações e as
necessidades do meio ambiente, pois ambos se afetam mutuamente.
A responsabilidade ambiental passou a ser uma parte mais importante da responsabilidade
social empresarial, uma vez que a sociedade começou a estar mais atenta a questões como o
aquecimento global, desflorestação, extinção de espécies, entre outras, sendo o aumento
das indústrias apontado como uma das razões para a existência destes problemas
13
ambientais – as empresas são responsáveis por grande parte do consumo de energia
primária e emissões de dióxido de carbono em todo o mundo.
Assim, a pressão exercida pela população para que houvesse uma mudança no paradigma,
de forma a haver maior atenção à forma como se resolvem problemas ambientais, levou
também os governos a criarem legislação ambiental, sendo as empresas, enquanto agentes
poluidores, muitas vezes alvo dessa regulação e responsabilização por possíveis danos que
possam causar ao ambiente. No contexto da evolução internacional, a RAE começou a
tornar-se um elemento cada vez mais importante nas agendas políticas.
Desta forma, embora as organizações sejam essenciais para o crescimento económico, são
também responsáveis pela degradação ambiental, tornando-se necessário que o crescimento
económico seja sustentável e responsável – o meio ambiente torna-se um pilar de extrema
relevância na RSE.
A RAE é, portanto, maioritariamente reconhecida como uma parte adicional da RSE. A
responsabilidade ambiental empresarial passou a ser incorporada nas definições de RSE
por diversos autores, verificando-se que nem sempre existe uma distinção clara entre
responsabilidade social empresarial e responsabilidade ambiental empresarial. Montiel
(2008) analisou o Global Reporting Initiative (GRI) e verificou que a sobreposição destes dois
conceitos se torna ainda mais evidente, pois das 112 empresas norte-americanas inscritas
no GRI, encontrou todo o tipo de terminologias usadas para se referirem aos relatórios
sociais e ambientais das empresas. As empresas têm usado títulos variados como “Relatório
de Cidadania Global”, “Relatório de Responsabilidade Empresarial”, “Relatório de
Sustentabilidade Ambiental”, “Relatório de Sustentabilidade” e “Relatório de
Responsabilidade Ambiental e Social” para se referir ao documento anual que resume suas
iniciativas sociais e ambientais da organização.
Para os Heslin e Ochoa (2008) a RSE pode subdividir-se em:
Sustentabilidade ambiental, que envolve o uso de informações científicas para
reduzir a pegada ambiental das operações e produtos de uma organização.
Sustentabilidade humana, que envolve a criação de um ambiente de trabalho
equitativo, de desenvolvimento e saudável para os funcionários, além de agregar
valor às partes interessadas, incluindo fornecedores, clientes e outros membros da
comunidade.
Para Mascarenhas e Costa (2011), a responsabilidade social e ambiental pressupõe a
construção social de um conceito amplo e multidimensional que engloba outros conceitos
14
como cidadania empresarial, desenvolvimento sustentável, crescimento sustentável,
sustentabilidade, filantropia empresarial, ética empresarial, marketing social e ativismo social
empresarial. Desta forma, os autores classificam a responsabilidade social e ambiental como
um processo contínuo, progressivo e voluntário que congrega, por um lado, a competência
da empresa em cooperar e interagir com a comunidade sobre questões sociais e ambientais,
levando em consideração os seus valores e atitudes para atingir os seus objetivos e, por outro
lado, envolve processos de regulação como as normas, a gestão dos stakeholders, a ética
empresarial, o marketing social e os rótulos sociais e ecológicos, como processos de execução
de obrigações ambientais legais.
A responsabilidade ambiental empresarial vem então evidenciar até que ponto uma
organização está disposta a fazer ajustes, de forma a tornar-se numa empresa
ambientalmente mais responsável, evitando a degradação ambiental, a sobre-exploração, a
poluição, entre outros. Assim, surge um grande desafio para as organizações, que exige
informação, conhecimento e empenho: adotar práticas e métodos ambientalmente
responsáveis, garantindo lucro. No centro da RAE está a ideia de minimizar o impacto de
todas as partes envolvidas, reduzindo o desperdício de todos os processos.
A responsabilidade ambiental empresarial diz sobretudo respeito à inclusão voluntária das
preocupações ambientais na estratégia de negócio – divulgação dos impactes ambientais
resultantes da atividade das organizações, implementação de sistemas de gestão ambiental,
Certificação em conformidade com as normas internacionais (ISO 14001) e europeias
(EMAS).
A RAE pressupõe a capacidade de resposta das empresas às expectativas e necessidades da
sociedade, tratando-se de uma inclusão voluntária das preocupações ambientais por parte
das organizações nas suas operações e interações com os stakeholders.
Com a crescente importância da responsabilidade ambiental no seio das empresas, torna-se
também fundamental medir o desempenho ambiental empresarial.
Segundo Chena, Hud e Yub (2018) a medição do desempenho ambiental é um processo
sistemático, que tem como objetivo avaliar o desempenho ambiental empresarial.
Devido à crescente pressão dos stakeholders para que as empresas mudem o seu
comportamento e divulguem informação acerca do seu contributo ambiental, são cada vez
mais as organizações que, através dos seus websites ou através de relatórios não financeiros
(como relatórios de sustentabilidade), comunicam ao público quais as suas preocupações e
contribuições ambientais. Contudo, nem sempre é fácil perceber se a informação
15
disseminada pelas empresas é verdadeira e qual a sua verdadeira intenção, sendo os
indicadores de medição de desempenho ambiental fundamenais.
Assim, uma vez que é difícil entender a verdadeira intenção das empresas que referem
adotar comportamentos de proteção ambiental, torna-se crucial o uso de indicadores de
medição de desempenho ambiental.
A Global Reporting Initiative (GRI) é uma organização internacional independente, pioneira
nos relatórios de sustentabilidade, que procura ajudar empresas e governos a entender e
comunicar o seu impacto em questões críticas de sustentabilidade, como mudanças
climáticas, direitos humanos e bem-estar social, o que permite uma ação real para criar
benefícios sociais, ambientais e económicos para todos, sendo que os padrões (standards)
dos relatórios de sustentabilidade da GRI são desenvolvidos com a contribuição de várias
partes interessadas. Os standards da GRI representam as melhores práticas globais para
relatar publicamente uma série de impactos económicos, ambientais e sociais, sendo que os
relatórios de sustentabilidade baseados nestes padrões fornecem informações sobre as
contribuições positivas ou negativas de uma organização para o desenvolvimento
sustentável.
Segundo o “KPMG2 Survey of Corporate Responsibility Reporting 2017”, 93% das 250
maiores empresas do mundo abordam seu desempenho em sustentabilidade através de
relatórios de sustentabilidade.
Assim, diversas variáveis podem ser usadas para identificar e avaliar a responsabilidade
ambiental de uma organização: programas de redução de poluição, forma de conservação
dos recursos naturais, envolvimento voluntário em ações do foro ambiental, práticas de
design ecológico, redução de resíduos e emissões resultantes da atividade empresarial.
Segundo Babiak e Trendafilova (2011) as empresas dão cada vez mais importância ao seu
impacto no meio ambiente, procurando adotar práticas de gestão que reduzam esse
impacto negativo que resulta das suas atividades.
Neste contexto importa também referir, que com a crescente importância atribuída à RAE
no contexto empresarial surgiu a necessidade da padronização das atividades em gestão
ambiental. Assim, a ISO concebeu as normas internacionais na área ambiental –
Certificação ISO 14001 – modelos específicos relacionados com a adoção de sistemas de
gestão ambiental, gestão de resíduos, auditorias, monitorização, avaliação do desempenho
ambiental, entre outros. Segundo a Norma ISO 14001 o ambiente consiste na envolvente
2 A KPMG opera como uma rede global de firmas membro independentes, oferecendo serviços de audit, tax e advisory, trabalhando em estreita colaboração com os clientes, ajudando-os a mitigar os riscos e a aproveitar as oportunidades.
16
na qual uma organização atua incluindo o solo, ar, água, fauna, flora, recursos naturais e os
seres humanos e as suas inter-relações e, o Sistema de Gestão Ambiental (SGA) consiste na
parte do sistema de gestão de uma organização usada para implementar e desenvolver a sua
política ambiental e gerir os seus aspetos ambientais, sendo que um SGA tem como
objetivos a promoção da proteção ambiental e a prevenção da poluição, em equilíbrio com
as necessidades socioeconómicas (apcer3, 2015). Assim, com a crescente preocupação da
sociedade com o ambiente, rapidamente as empresas se aperceberam que a implementação
de sistemas de gestão ambiental (com o objetivo de analisar e monitorizar processos,
prevenindo problemas ambientais), de acordo com as normas ISO e, consequente
certificação, poderiam representar uma vantagem competitiva.
1.1.1. A responsabilidade social e ambiental empresarial e os stakeholders
Os diferentes stakeholders têm uma grande influência na adoção de práticas responsáveis por
parte das empresas pois, através da pressão constante que exercem, levam as mesmas a
aumentarem o seu envolvimento na responsabilidade social e ambiental.
Freeman e McVea (1984) consideraram os stakeholders qualquer grupo ou indivíduo que
pode afetar ou é afetado pela realização dos objetivos da organização – as partes
interessadas são grupos vitais para a sobrevivência e para o sucesso de uma empresa.
As partes interessadas podem influenciar as empresas de várias maneiras e em várias
extensões. A literatura distingue as partes interessadas em primárias e secundárias
(Clarkson, 1995), sendo as primárias aquelas sem as quais as empresas não sobrevivem (por
exemplo, acionistas, funcionários, clientes e fornecedores) e as secundárias aquelas que
afetam ou são afetadas pela empresa, mas não estão envolvidas em transações com a
organização nem são essenciais à sua sobrevivência (por exemplo, comunicação social).
Freeman (1984) apresentou a stakeholders theory (teoria das partes interessadas), onde
afirmou que os gestores devem satisfazer uma variedade de stakeholders (trabalhadores,
clientes, fornecedores, comunidade, organizações não-governamentais, etc.), pois estes
podem influenciar os resultados da empresa, não sendo suficiente que os gestores se
concentrem exclusivamente nas necessidades dos acionistas ou dos proprietários das
organizações. A teoria das partes interessadas refere que pode ser benéfico para uma
empresa envolver-se em determinadas atividades de RSE.
3 A apcer presta serviços de certificação, educação e formação, auditoria e inspeção, energia e agrofood.
17
Sem, Bhattacharya e Korschun (2006) realizaram uma pesquisa que se baseia na visão das
partes interessadas em relação à RSE, isto é, como reagem os stakeholders às ações de RSE,
tendo tido como população-alvo estudantes universitários, não apenas enquanto
consumidores, mas também como funcionários e potenciais investidores. Os autores
concluíram que os indivíduos que estavam cientes das iniciativas de RSE da empresa em
estudo tiveram associações mais positivas com a mesma, apresentaram maior identificação
organizacional e indicaram uma intenção maior de comprar produtos, procurar emprego e
investir na empresa, do que os entrevistados que desconheciam as iniciativas de RSE da
organização em estudo.
Chan, Man e Welford (2008) e Kassinis e Vafeas (2006) consideraram o ambiente a
preocupação mais importante para as partes interessadas nos esforços de RSE de uma
empresa.
Welford, Chan e Man e (2008) realizaram um estudo que envolveu várias empresas e
respetivos stakeholders, tendo obtido um total de 491 respostas. O estudo analisou quinze
áreas de responsabilidade social empresarial diferentes, sendo que os entrevistados
consideraram que as mais importantes eram o meio ambiente, a saúde e a segurança. Com
este estudo fica patente a importância das organizações iniciarem um diálogo com as partes
interessadas, de forma a avaliar as visões e aspirações das mesmas.
Liu, Liu, Shishime, Bi e Fujitsuka (2010) argumentam que os funcionários podem
promover a capacidade de uma empresa implementar estratégias “verdes”. Ambec e Lonei
(2008) encontraram evidências em estudos previamente realizados, de que as empresas
tentam incorporar a RAE de forma a satisfazer os seus funcionários, sendo a pressão
destes, determinante na forma como uma empresa se compromete com questões
ambientais.
1.2. Benefícios associados à responsabilidade ambiental empresarial
Para Porter (1986), desenvolver uma estratégia competitiva é determinar a forma como
uma organização vai competir e quais os seus objetivos e as suas políticas. Para desenvolver
uma estratégia competitiva é preciso relacionar a organização com a sua indústria, para
conhecer a concorrência e identificar as características estruturais que possibilitam a
formulação de estratégias para a obtenção de vantagem competitiva. Para o autor, a escolha
de uma estratégia competitiva baseia-se em dois aspetos importantes: atratividade da
indústria em termos de rentabilidade e posição competitiva da empresa na indústria.
18
Portanto, a estratégia competitiva deve responder ao meio ambiente da empresa, bem
como tentar moldar esse meio a seu favor. O autor refere que o papel das empresas não é
resolver todos os problemas sociais e ambientais, nem arcar com os custos de o fazer.
Contudo, as organizações devem olhar para a sua agenda social de forma proativa e
estratégica, contribuído para as questões sociais de maneira a agregar o máximo valor. Para
o autor, a RSE deve ser então incorporada de maneira estratégica, fazendo contribuições
sociais e ambientais de forma a que também as empresas tenham benefícios tangíveis.
Porter e Kramer (2006) analisam a integração da RSE na estratégia empresarial, enquanto
vantagem competitiva, afirmando que as atitudes de responsabilidade social devem ser
reativas às exigências legais e sociais, e inclusive filantrópicas. Os autores defendem quatro
fatores que determinam a aplicação da RSE:
Obrigação moral: obter sucesso comercial de forma a promover os valores éticos,
procurando variação nos valores pessoais dos gestores e demais partes envolvidas;
Sustentabilidade: satisfazer as necessidades do presente sem comprometer que
futuras gerações satisfaçam as suas próprias necessidades, dando ênfase à esfera
ambiental onde as melhorias podem consequentemente levar à produção de
benefícios económicos;
Licença para operar: gerar boa vontade para obter a adesão de governos e outras
partes interessadas – cumprimento da lei, licenças e alvarás necessários;
Reputação: fortalecer a imagem e a marca perante clientes, investidores e
funcionários, oferecendo uma vantagem competitiva sustentada. As organizações
que têm iniciativas de RSE estarão, perante o público, melhor posicionadas face à
concorrência.
Burke e Logsdon (1996) procuraram analisar de que forma a RSE pode criar benefícios
estratégicos para as organizações, desenvolvendo um modelo que identifica quais as
melhores formas de avaliar, quando e de que maneira, as atividades de RSE atendem
conjuntamente aos interesses económicos e sociais de uma organização, tendo identificado
cinco dimensões da estratégia empresarial, que são essenciais para o sucesso da empresa e
úteis para relacionar políticas, programas e processos de RSE à criação de valor. Ao avaliar
as prováveis contribuições das atividades de RSE para a criação de valor, as cinco
dimensões da RSE estratégica são:
Centralidade (proximidade à missão e objetivos);
Especificidade (capacidade de capturar benefícios);
19
Proatividade (planeamento antecipando das tendências sociais emergentes);
Voluntariado (tomada de decisões voluntárias);
Visibilidade (observação da atividade empresarial pelas partes interessadas).
Para Heslin e Ochoa (2008) são cinco os principais fatores da prosperidade dos negócios
que podem ser afetados positivamente por iniciativas de RSE:
Crescimento da participação de mercado: consumidores respondem positivamente
aos esforços das empresas em RSE – empresas aumentam vendas;
Aprendizagem organizacional: programas estratégicos de RSE oferecem
oportunidades para as organizações aprenderem com os projetos nos quais
investem e usarem esse conhecimento para desenvolver as principais competências
da organização, melhorando simultaneamente as condições sociais ou ambientais –
o conhecimento obtido com os esforços na RSE pode fluir de volta para a
organização e impulsionar novas inovações em toda a empresa;
Colaboradores empenhados e comprometidos: a RSE influencia a forma como os
funcionários se sentem em relação às organizações e como agem na execução do
seu trabalho. Colaboradores com maior potencial sentem-se mais atraídos a
trabalhar em organizações socialmente responsáveis, sendo que muitas vezes estão
dispostos a receber menos remuneração para trabalhar numa empresa socialmente
responsável.
Stakeholders externos: para as partes interessadas externas, os programas de RSE
constituem uma medida de confiança nas organizações, podendo as práticas de
RSE solidificar um relacionamento positivo entre uma organização e seus
stakeholders, sendo que o envolvimento destes pode ajudar a garantir o sucesso de
um projeto.
Financiamento e relação com investidores: o desempenho da RSE atrai a atenção
de analistas financeiros e investidores, havendo uma tendência crescente para os
investidores direcionarem o seu dinheiro para organizações socialmente
responsáveis. Por exemplo, a Goldman Sachs avalia cuidadosamente o impacte
ambiental previsível das suas decisões de empréstimo nos países em
desenvolvimento, sendo que em 2005 estabeleceu a sua estrutura de política
ambiental, que articulava a sua crença na importância de um ambiente saudável e o
seu compromisso em tratar questões ambientais críticas – a organização procura
20
contribuir para um futuro de baixo carbono ao investir na expansão de tecnologias
de energia limpa.
Segundo Mcwilliams e Siegel (2001) a RSE pode ser uma ferramenta útil ao marketing,
bastando olhar para alguns exemplos como a Ben & Jerry's para o comprovar. Esta
empresa de gelados utiliza a RSE na sua estratégia de diferenciação, procurando distinguir o
seu produto ao criar sabores únicos, usando ingredientes de alta qualidade, apoiando a
comunidade local e promovendo a diversidade no local de trabalho. Assim, a RSE acaba
por criar a imagem / reputação de que uma empresa é confiável e honesta, sendo que os
consumidores por norma assumem que o produto / serviço de uma empresa confiável e
honesta serão de maior qualidade.
Whelan e Fink (2016) apresentam vários benefícios decorrentes da adoção de um negócio
sustentável: criação de vantagem competitiva através das partes interessadas, melhor a
gestão do risco, promoção da inovação, melhor desempenho financeiro, maior lealdade dos
consumidores e maior atração e compromisso dos colaboradores. Segundo os autores, os
benefícios da sustentabilidade empresarial superam os custos, sendo que em todos os
setores os esforços de sustentabilidade incorporados resultam claramente num impacte
positivo do desempenho dos negócios.
A Unilever (2017) realizou um estudo, onde entrevistou 20.000 indivíduos de cinco países,
que revelou que atualmente um terço dos consumidores no momento de compra escolhe
as marcas com base no seu impacte social e ambiental.
Uma vez que atualmente os stakeholders exigem às empresas mais do que crescimento e
lucro, a integração de iniciativas de responsabilidade ambiental nos negócios torna-se um
dos grandes desafios enfrentados pelas organizações, tornando-se relevante avaliar quais os
benefícios associados à sua aplicação.
Para Brown, Treviño e Harrison (2005) a gestão estratégica consiste no processo de criação
de estratégias que visem atingir os objetivos de uma organização, satisfazendo as partes
interessadas e obtendo vantagem competitiva, através da análise do ambiente interno e
externo. Assim, torna-se relevante perceber que benefícios traz a RAE e, em que medida
pode representar uma vantagem competitiva.
Vários estudos apontam no sentido de cada vez mais os consumidores preferirem marcas
ambientalmente responsáveis. A Tetra Pak (2017) elaborou um estudo em Portugal, tendo
concluído que para 74% dos portugueses, o facto de uma embalagem não ser “amiga do
ambiente” é um motivo para não comprar ou comprar menos determinado produto e, 55%
dos portugueses considera ser importante a certificação ambiental.
21
Para Maxwell, Rothenberg, Briscoe e Marcus (1997) as empresas devem adotar estratégias
ambientais empresariais positivas e ativas, de forma a gerar vantagens competitivas, como
redução de custos, melhoria da qualidade, aperfeiçoamento da imagem empresarial e
desenvolvimento de novos mercados, considerando que as relações com as partes
interessadas melhoram, assim como há um aumento do lucro das empresas. Os autores
analisaram as estratégias ambientais e os esquemas de implementação de três empresas em
diferentes setores (Volvo, Polaroid e Procter & Gamble) e, verificaram que estas empresas
ao adotarem uma abordagem proativa em relação ao meio ambiente, utilizando estratégias
ambientais bem formuladas, obtiveram várias vantagens comerciais.
Bansal e Roth (2017) elaboraram um estudo qualitativo para perceberem quais as
motivações e fatores contextuais que induzem as organizações a adotar comportamentos
ambientalmente responsáveis, recolhendo dados de 53 empresas (do Reino Unido e Japão)
e, concluíram que existem essencialmente três fatores que motivam o comportamento
ecológico das organizações: competitividade, legitimidade e responsabilidade ecológica.
Chen (2008) argumenta que o investimento e o desenvolvimento de competências
ambientais são úteis para as empresas, na medida em que ajudam a melhorar
essencialmente dois aspetos: inovação e imagem.
Porter e Linde (1995) indicaram que muitas empresas desenvolvem uma vantagem
competitiva ao ser ecológicas e ao adotar medidas proativas para desenvolver soluções
inovadoras para tratarem resíduos perigosos e problemas de poluição.
Através da análise da literatura, investigação e experiência empresarial é aceite que a RAE
pode ser uma vantagem para as empresas do ponto de vista estratégico, se for bem
implementada. A RAE está a ser associada à vantagem competitiva sustentável, o que é
altamente benéfico, especialmente em mercados onde o crescimento rápido foi substituído
por melhoria e confiabilidade contínuas. Com a crescente crise global do impacto humano
no meio ambiente, a RAE tem vindo a tornar-se crucial na vantagem competitiva de uma
empresa, fornecendo uma imagem positiva da mesma perante todos. As empresas que
apoiam ativamente a RAE são muitas vezes vistas como mais confiáveis e, portanto, com
produtos / serviços de maior qualidade. De acrescentar, que quando se analisam os
benefícios da RAE, verifica-se que na maioria da literatura a mesma é constantemente
vinculada à RSE.
22
1.3. Obstáculos associados à responsabilidade ambiental empresarial
O estudo pedido pela Comissão Europeia (2011) identifica os fatores que constituem
barreiras à adoção de comportamentos ambientalmente responsáveis nas empresas: falta de
financiamento, falta de informação, falta de compromisso da gestão de topo, entre outros.
Para Lin e Long (2018) muitas vezes não é claro se pode haver um benefício económico
derivado da RAE, uma vez que os custos adicionais envolvidos com a consciencialização
ambiental podem, muitas vezes, elevar os preços dos produtos e serviços, não ficando claro
para as empresas porque devem adotar comportamentos ambientalmente responsáveis.
A principal barreira à adoção da RAE é então o facto dos ganhos económicos geralmente
não serem claros. Embora uma empresa que adote comportamentos ambientalmente
responsáveis seja capaz de posicionar-se de forma a atrair mais clientes (consumidor cada
vez mais consciente dos problemas ambientais que afetam o planeta, procura consumir
produtos e serviços de empresas ambientalmente responsáveis) e, seja capaz de diminuir os
gastos das suas atividades, devido a uma redução de custos (reduções significativas de
custos podem resultar da melhoria da eficiência operacional, através de uma melhor gestão
dos recursos naturais como a água e a energia, além de reduzir o desperdício), os gestores
muitas vezes acreditam que os custos de implementação de comportamentos
ambientalmente responsáveis superarão os benefícios.
Contudo, alguns estudos e exemplos apontam no sentido oposto – a RAE pode ser uma
vantagem para as empresas do ponto de vista financeiro. Uma organização que serve de
exemplo ao abordar esta temática é a Tesla, que faz parte de pelo menos nove empresas em
todo o mundo, que geram mil milhões de dólares ou mais em receita anual, de produtos ou
serviços, que são social e / ou ambientalmente responsáveis – estas empresas tornam a
sustentabilidade lucrativa, sendo que o seu sucesso representa uma mudança, ou seja, a
sustentabilidade e o lucro não estão mais em desacordo, pelo contrário, em vez de
prejudicar o lucro, a sustentabilidade pode impulsioná-lo. A Tesla atualmente procura
construir não só veículos totalmente elétricos, mas produtos de armazenamento e geração
de energia limpa – além da componente ambiental as ações implementadas pela
organização são também associadas a uma melhor qualidade do produto. Para esta empresa
é tão importante mostrar ao público as ações que toma em prol do ambiente, que no seu
website apresenta em tempo real o valor total de CO2 que deixou de ser emitido por veículos
da Tesla.
23
Quando se aborda a questão das empresas mostrarem ao público as ações que adotam em
prol do ambiente torna-se relevante abordar um tema importante neste âmbito –
greenwashing. O greenwashing é utilizado pelas empresas para disseminar informações
incompletas ou falsas no sentido de adquirir uma imagem pública ambientalmente
responsável. Para Ramus e Montiel (2005) as empresas ao procurarem influenciar
positivamente a perceção do público em relação ao compromisso da organização com a
proteção ambiental, acabam muitas vezes por fazer declarações falsas em relação às suas
práticas ambientais. Uma vez que é difícil muitas vezes analisar a veracidade da
comunicação feita pelas organizações, as mesmas podem estar a comprometer-se em
aplicar determinadas políticas ambientais sem uma real intenção de o fazer. Para não
incorrerem no rico de praticar greenwashing as empresas devem mostrar evidências que
provem que a adoção da RAE é uma realidade e não uma mentira. É importante ter em
mente que a RAE pode criar vantagem competitiva se for utilizada de forma adequada
pelas organizações, sendo que a prova da existência de um compromisso ambiental não
advém da publicação da declaração de política ambiental de uma empresa, mas de ações
reais.
1.4. Relação entre responsabilidade ambiental empresarial e desempenho
económico-financeiro
A Unilever, empresa de bens de consumo, é um exemplo de uma organização sustentável
que vê as suas marcas mais sustentáveis cresceram 46% mais rápido do que as restantes e, a
proporcionarem 70% de seu crescimento. A empresa planeia aumentar a sua receita nos
próximos anos, reduzindo o impacte ambiental dos seus produtos – a empresa estabeleceu
um Plano de Sustentabilidade com vista a reduzir a pegada ambiental, ao mesmo tempo
que aumenta o impacto social positivo. O plano tem três grandes metas a alcançar
(melhorar a saúde e o bem-estar de mais de mil milhões de pessoas; reduzir o impacte
ambiental para metade; melhorar as condições de vida de milhões de pessoas) que
abrangem o desempenho social, ambiental e económico ao longo da cadeia de valor
(Unilever, 2018).
Através da análise da reação do mercado de ações ao anúncio da lista das “100 Melhores
Empresas para Trabalhar” (100 Best Companies to Work For), da revista Fortune, entre 1998 a
2003, Ahmed e Nanda Schnusenberg (2010) investigaram a relação entre o grau de
responsabilidade social de uma empresa e o seu desempenho, tendo encontrado uma
24
relação positiva, pois no ano seguinte à publicação, as empresas da amostra com uma
classificação favorável, tiveram vendas e margem de lucro brutas mais altas, o que indica
que a inclusão na lista é vista como positiva pelo mercado de ações. No geral, os resultados
indicam que as empresas que exibem um alto grau de responsabilidade social em relação a
seus funcionários são recompensadas positivamente pelos participantes do mercado de
ações. Assim, embora ações socialmente responsáveis possam impor custos às empresas, os
benefícios podem ser maiores do que os custos se as empresas conseguirem aumentar a
motivação e produtividade dos seus colaboradores.
Mcwilliams e Siegel (2001) procuram responder à seguinte questão: “Quanto deve
exatamente uma empresa gastar na RSE?”, uma vez que estudos anteriormente realizados
apresentam diferentes perspetivas quanto ao impacte da RSE no lucro das empresas.
Segundo os autores não há relacionamento entre o investimento em RSE e o desempenho
financeiro de uma empresa, enquanto para Waddock & Graves (1997) (como citado por
Mcwilliams e Siegel, 2001) existe uma relação positiva e, por outro lado, para Wright &
Ferris (1997) (como citado por Mcwilliams e Siegel, 2001) existe uma relação negativa. O
artigo desenvolveu então a “Theoretical Perspectives on CSR” para dar resposta à questão
acima referida. Através da lei da oferta e da procura os autores descobriram que há um
nível de investimento em RSE que maximiza o lucro e ao mesmo tempo satisfaz a procura
das partes interessadas por RSE – esse nível de investimento pode ser determinado através
de uma análise de custo-benefício que os gestores das empresas podem utilizar para tomar
decisões em relação ao investimento em RSE. O modelo desenvolvido pelos autores indica,
ainda, que apesar das empresas que investem em RSE terem mais custos do que as
empresas que não investem, as primeiras terão a mesma taxa de lucro. Para calcular o
impacte da RSE nos lucros gerados, os autores apresentam um exemplo: supondo que
existem duas empresas que produzem bens semelhantes (empresas A e B), mas que a
empresa A acrescenta uma característica social ao seu produto/serviço. Através da teoria
desenvolvida, assumindo-se que cada empresa faz escolhas ótimas, ou seja, as duas
empresas produzem a um nível de produção que maximiza o lucro, verifica-se que, em
equilíbrio, ambas serão igualmente lucrativas, pois a empresa A embora tenha custos mais
elevados terá também receitas maiores; por outro lado, a empresa B terá custos mais
baixos, mas também receitas menores. Em suma, para os autores, em equilíbrio, não existe
relacionamento entre o investimento em RSE e o lucro das empresas – a empresa escolhe o
nível do atributo de RSE que maximiza o desempenho da empresa, tendo em consideração
a procura por esse atributo e o custo de o fornecer e, tendo por base que os gestores
25
procuram maximizar o lucro dos acionistas. Assim, o nível ideal de RSE pode ser
determinado pela análise de custo-benefício, ou seja, para maximizar o lucro, a empresa
deve oferecer precisamente o nível de RSE para o qual o aumento da receita (resultante do
aumento da procura) é igual ao custo mais alto (de usar recursos para fornecer RSE).
Cochran e Wood (1984) analisaram vários estudos que procuravam perceber qual a relação
entre RSE e desempenho financeiro, sendo que 9 deles encontraram alguma relação
positiva entre RSE e desempenho financeiro, 3 não encontraram ligação entre as variáveis e
1 encontrou uma relação negativa entre as duas variáveis.
Quando nos focamos na esfera ambiental, ou seja, na RAE e respetiva influência no
desempenho económico, estudos já realizados parecem mostrar um melhor desempenho
financeiro resultante do desenvolvimento do desempenho ambiental (Klassen e
McLaughlin, 1996).
Wahba (2008) explorou o efeito moderador do desempenho financeiro na relação entre
responsabilidade ambiental empresarial e investidores institucionais e concluiu que a
responsabilidade ambiental teve um efeito positivo e significativo na propriedade
institucional.
Fouts e Russo (2017) analisaram a relação entre o desempenho ambiental e o desempenho
económico de 243 empresas finlandesas durante 2 anos, segundo uma visão baseada em
recursos, e concluíram que o desempenho ambiental e o desempenho económico estão
positivamente vinculados. Os resultados indicam que "vale a pena ser verde", sendo que
essa relação se fortalece com o crescimento da indústria.
A RAE pode assim ter um papel de extrema importância no desempenho financeiro de
uma organização, se aplicada de forma correta.
26
CAPÍTULO 2 – ATRATIVIDADE DA RESPONSABILIDADE AMBIENTAL
EMPRESARIAL
Assim, sendo a força de trabalho essencial para as organizações conseguirem ser bem-
sucedidas, as organizações devem procurar ir de encontro ao que atrai os colaboradores, o
que os faz ficar e o que os motiva a ter um melhor desempenho. Assim, um dos aspetos
que contribui para que uma organização seja mais atrativa enquanto entidade empregadora
é o seu papel na defesa e proteção do meio ambiente.
2.1. O employer branding
O conceito de employer branding (EB) foi introduzido no século XX nas obras de Ambler e
Barrow (1996, p. 187), que o descreveram como o pacote de benefícios funcionais,
económicos e psicológicos fornecidos pelo empregador.
No quadro 1 são apresentadas algumas definições de employer brand.
Quadro 1: Definições de employer brand
Referência Definição
Chartered Institute of Personnel and
Development (2006)
Conjunto de atributos que tornam uma
organização distinta e atraente para as
pessoas, que sentirão afinidade com a
mesma e, em consequência, terão um
melhor desempenho no âmbito das suas
funções.
Society for Human Resource Management
(2008)
Imagem da organização como um ótimo
local para trabalhar na mente dos
funcionários atuais e das principais partes
interessadas do mercado externo
(candidatos, clientes e outras partes
interessadas importantes).
Rosethorn (2009) Motivo pelo qual os colaboradores optam
por ingressar e permanecer numa
organização.
27
Mosley (2009) Soma das principais qualidades que os
funcionários atuais e potenciais identificam
na organização empregadora: económica
(remuneração e benefícios), funcional
(aprendizagem de novas competências e
capacidades) ou psicológica (identificação
com os valores da empresa).
Fonte: Baseado em Figurska, I. & Matuska, E. (2013). Employer branding as a human resources management
strategy. Human Resources Management & Ergonomics, 7 (2), 35-51.
O employer branding pode ser interno ou externo, dependo de a quem se dirige. O EB interno
é dirigido principalmente aos atuais funcionários, enquanto EB externo é dirigido a
profissionais ativos, estudantes e outras partes interessadas.
Figurska e Matuska (2013) analisaram questões associadas à marca do empregador (employer
branding) no contexto de gestão estratégica dos recursos humanos. Assim, uma vez que
qualquer organização que esteja no mercado competitivo não é apenas avaliada pelos seus
podutos / serviços, mas avaliada como um todo, torna-se relevante que cuide da sua
imagem / reputação. A sua imagem não é só importante para stakeholders como clientes ou
fornecedores, mas também para trabalhadores e potenciais trabalhadores – a imagem é
importante para uma organização enquanto entidade empregadora. Neste sentido, se a
imagem de uma empresa é positiva, isto significa que a mesma é vista como um local
atrativo para trabalhar, permitindo ainda que a organização consiga captar funcionários
mais talentosos, o que por sua vez aumenta a produtividade no trabalho e a inovação de
produtos, o que leva consequentemente a um aumento da competitividade da organização.
O employer branding é um mecanismo de captação e retenção de talento de uma organização,
sendo determinado por fatores como: atratividade do setor, reputação da empresa,
qualidade dos produtos e serviços, localização, ambiente de trabalho, remuneração,
condições económicas, benefícios dos funcionários, pessoas e cultura, equilíbrio entre vida
profissional e social, responsabilidade social e ambiental, entre outros. Portanto, uma das
formas de conseguir captar e reter talentos no mercado de trabalho é através do employer
branding.
O principal objetivo do EB é transmitir a imagem de uma organização que se preocupa
com os interesses e necessidades de seus colaboradores, investir no desenvolvimento
profissional e responder às tendências emergentes no mercado de trabalho.
28
O employer branding está a tornar-se cada vez mais importante e as organizações já se
aperceberam que o seu sucesso pode depender da capacidade de captar e reter funcionários
com as qualificações desejadas. Nesse sentido as empresas têm cada vez mais preocupações
em comunicar de forma eficaz os seus valores, transmitir a imagem de um bom local de
trabalho e cultivar nos colaboradores um sentimento de orgulho por pertencerem à
organização. Para uma organização conseguir captar e reter talentos deve tratar o employer
branding como parte central de sua estratégia de gestão de recursos humanos e como parte
importante de sua estratégia geral de negócios.
Os benefícios do fortalecimento do employer branding passam então pela melhoria na
captação, retenção e compromisso dos atuais e potenciais colaboradores.
Após um estudo realizado em Portugal pela Randstad4 foi concluído o seguinte:
As empresas com uma imagem positiva recebem o dobro dos currículos das
empresas com uma imagem negativa, além de que gastam menos dinheiro com
funcionários;
50% dos candidatos dizem que não trabalhariam para uma empresa com má
reputação - mesmo que envolvesse um aumento salarial;
92% dos portugueses verificam a reputação do potencial empregador, sendo o
canal preferido para verificação da reputação o próprio website da organização.
Assim, ara Carlini, Grace, France e Iacono (2019) as empresas incorporam cada vez mais a
responsabilidade social empresarial no employer branding, de forma a melhorar a atratividade
da organização e o envolvimento dos atuais e potencias funcionários com a mesma.
Uma vez que as decisões de escolha de emprego estão também relacionadas à imagem ou
reputação de uma organização, e que as perceções dos colaboradores e dos candidatos a
emprego sobre a reputação do empregador estão fortemente relacionados com a
informação disponível sobre a organização, o employer branding torna-se numa ferramenta
útil para diferenciar uma organização dos seus concorrentes entre os atuais e os potenciais
colaboradores, ao ajudá-los a conhecer os valores da empresa. À medida que as
organizações disponibilizam mais informações sobre a sua postura socialmente e
ambientalmente responsável, terão mais pessoas interessadas em trabalhar na organização,
obtendo uma vantagem competitiva no que diz respeito ao recrutamento. A construção do
employer branding permite reforçar os valores e práticas de sustentabilidade no interior da
organização, isto é, no local de trabalho (através de manuais de funcionários, por exemplo)
4 A Randstad procura aproximar a oferta e a procura, desenvolvendo novas soluções de recursos humanos.
29
e no exterior da organização (refletindo os valores da organização através da seção de
“carreiras / recrutamento” do website da empresa, por exemplo) – esta atenção à
comunicação serve como uma forma de atrair e reter colaboradores. Implementar
iniciativas de responsabilidade ambiental no employer branding, apresentando as organizações
como ambientalmente ativas dá um sinal positivo a futuros colaboradores e estabelece uma
conexão positiva com os atuais.
2.2. Influência da responsabilidade ambiental empresarial na captação e retenção
de colaboradores
Atrair e reter colaboradores, sobretudo melhores talentos, pode gerar uma vantagem
competitiva para organizações. Neste sentido, as empresas estão cada vez mais
concentradas em fazer com que os atuais e potenciais trabalhadores se identifiquem com a
organização, procurando perceber como podem aumentar a sua atratividade.
Vários estudos corroboram que a responsabilidade social e ambiental é uma ferramenta
cada vez mais importante quando se aborda a questão da captação e retenção de
colaboradores. Desta forma, importa verificar algumas das conclusões retiradas pelo estudo
da CONE Communications5 (2016), em relação à geração milénio (segundo o estudo, a
maior geração da força de trabalho):
64% dos millennials consideram os compromissos sociais e ambientais de uma
empresa ao decidir onde trabalhar;
83% seria mais leal a uma empresa que os ajudasse a contribuir para questões
sociais e ambientais;
88% dizem sentir que seu trabalho é mais gratificante quando lhes são oferecidas
oportunidades de causar um impacto positivo na sociedade e no ambiente.
Para Gomes e Neves (2011) os candidatos avaliam uma vaga de emprego com base nas
características do trabalho e nos atributos organizacionais, o que determinará a perceção da
atratividade organizacional junto dos candidatos e resultará na intenção dos mesmos se
candidatarem a uma vaga de emprego.
Assim, os candidatos a determinado emprego e os atuais colaboradores de uma empresa
avaliam a atratividade de uma organização com base em diferentes parâmetros – salário,
oportunidades de crescimento na carreira, estabilidade e segurança, entre outros – sendo
5 A Cone Communications é uma agência americana de relações públicas e marketing.
30
que um dos fatores que pode levar as organizações a captar e reter colaboradores é o seu
desempenho social e ambiental.
Magbool, Amran, Nejati e Jayaraman (2016) investigaram se as organizações podem
aproveitar as suas práticas de negócios sustentáveis para atrair talentos valiosos e obter
vantagens competitivas sobre seus concorrentes, tendo sido concluído que os indivíduos
que participaram no estudo preferiram organizações com práticas de negócios sustentáveis
– os candidatos a emprego têm uma maior intenção de aceitar uma oferta de emprego
oriunda de organizações com práticas comerciais mais sustentáveis.
Para Presley, Presley e Blum (2018) examinaram se as práticas de sustentabilidade de uma
empresa afetam as perceções dos candidatos a um emprego no que diz respeito à
atratividade da organização enquanto potencial empregadora (o estudo analisou, através de
entrevistas, a atitude em relação à sustentabilidade, de 259 estudantes universitários
americanos prestes a entrarem no mercado de trabalho) – os resultados indicaram que a
sustentabilidade influenciava a atratividade de uma empresa junto dos potenciais
candidatos.
Epstein e Roy (2001) afirmam que a sustentabilidade desempenhará um papel cada vez
mais importante no recrutamento de novos funcionários.
Turban e Greening (1997) estudaram o impacto que o desempenho social empresarial pode
ter na atratividade organizacional e concluíram que desempenho social empresarial estava
positivamente relacionado com a atratividade organizacional. Para os autores as empresas
que recebem classificações mais altas no que diz respeito ao desempenho social empresarial
são vistas como tendo melhor reputação e como tendo maior capacidade para atrair
funcionários de qualidade. Estes autores basearam as suas investigações na teoria da
sinalização (signaling theory) e na teoria da identidade social (social identity theory) para estudar
os efeitos da RSE na atratividade das empresas enquanto entidades empregadoras. A
signaling theory sugere que as políticas sociais das empresas podem servir como sinais das
condições de trabalho praticadas, além de dar uma indicação sobre os valores da
organização. A social identity theory indica que as pessoas se colocam em categorias sociais,
que por sua vez influenciam os seus autoconceitos.
Greening e Turban (1997) concluíram que o desempenho social empresarial está
positivamente relacionado com reputação da organização e a atratividade de uma
organização enquanto empregadora, sendo que o desempenho social empresarial pode
conceder uma vantagem competitiva à organização no que diz respeito à atração de
candidatos. O desempenho social empresarial fornece um sinal sobre as condições de
31
trabalho na organização, denotando certos valores e normas organizacionais – as pessoas
sentem-se atraídas por organizações que consideram ter valores significantes. Desta forma,
o desempenho social empresarial sinaliza certos valores da organização o que influencia as
perceções dos candidatos sobre as condições de trabalho na empresa e, consequentemente,
a atratividade da organização enquanto entidade empregadora.
Greening e Turban (2000) referem que um bom desempenho social empresarial serve
como uma forma de atrair candidatos a um emprego, pois os candidatos têm mais
probabilidade de procurar emprego em empresas socialmente responsáveis do que em
empresas com baixa reputação de desempenho social. Para os autores torna-se então
fundamental que as organizações adotem práticas de RSE, uma vez irá atrair mais (e
melhores) profissionais, o que se traduz numa vantagem competitiva para as empresas.
Albinger e Freeman (2000) analisaram também a relação entre o desempenho social
empresarial e a atratividade do empregador, tendo verificado que quando os indivíduos
tinham grandes probabilidades de conseguir um emprego, o desempenho social importava.
Porém, quando tinham menos opções, o desempenho social empresarial não tinha impacto
na atratividade organizacional – este estudo concentrou-se na população que procurava
emprego. Os autores investigaram em que medida a RSE era uma vantagem na atração de
recursos humanos, tendo em conta a quantidade de propostas de emprego detidas pelas
pessoas que procuravam trabalho e, conclui que a RSE está positivamente relacionada com
a atratividade do empregador para candidatos que tenham várias alternativas no que diz
respeito a ofertas de trabalho, mas não está relacionado quando as pessoas estão na posição
oposta. Os autores verificaram que, a relação entre a RSE de uma organização e as
perceções dos candidatos a uma oferta de emprego era positiva, a atratividade da empresa
enquanto entidade empregadora aumentava à medida que as opções de escolha de emprego
também aumentavam. Quando as pessoas que procuram trabalho têm menos opções, por
terem menos habilitações por exemplo (existe uma necessidade urgente de trabalho), na
maioria das vezes não consideram a RSE. A relação entre a RSE de uma organização e a
sua atratividade enquanto empregador será moderada pelo número de opções de emprego
da população que procura emprego. Para os autores a RSE tem a capacidade de atrair
funcionários para a organização, gerando uma vantagem competitiva em recursos
humanos, sendo que os colaboradores mais desejáveis são aqueles cujas preferências de
trabalho têm maior probabilidade de ser influenciadas pela RSE de um potencial
empregador. Portanto, o desempenho social empresarial está positivamente relacionado
32
com a atratividade do empregador para candidatos a emprego com altos níveis de escolha,
mas não relacionado quando se trata de candidatos com poucas opções de emprego.
Backhaus, Stone e Heiner (2002) concluíram, após questionarem 287 estudantes, que os
candidatos a um emprego consideram o desempenho social empresarial importante no que
diz respeito à avaliação das organizações e classificam a dimensão ambiental como uma das
que tem maior impacto na atratividade da organização.
Jones, Willness e Madey (2014) testaram e descobriram, tanto em estudos experimentais
como em campo, que o desempenho social empresarial conectado à comunidade e às
práticas pró-ambientais resultava numa maior atratividade da organização, mediada pelo
orgulho antecipado de pertencer a uma organização com valores considerados importantes
pela sociedade e pelas expectativas de como a organização trata os seus funcionários.
Cohen, Cavazotte, Costa e Ferreira (2017) investigaram se a responsabilidade
socioambiental de uma organização é um fator de atração e retenção para jovens
profissionais, através de dois estudos. O primeiro estudo, um ensaio entre estudantes do
ensino superior, investiga se tais práticas influenciam a atração exercida pela empresa
enquanto potencial empregador, considerando diferenças nas condições salariais e de
desenvolvimento profissional. O segundo estudo, através de questionário, investiga qual o
impacto da responsabilidade socioambiental de uma empresa na rotatividade voluntária
entre os estagiários. Os resultados sugerem que a responsabilidade socioambiental é um
elemento importante tanto na atratividade exercida pelas empresas ao recrutar jovens
profissionais como na retenção de estagiários.
As atividades e iniciativas ecológicas de uma organização constituem um aspeto importante
da responsabilidade social das empresas. Nesse sentido, embora a forma como as empresas
encaram o meio ambiente seja uma dimensão usada para medir o desempenho das
organizações no que diz respeito à RSE, não é a única. Desta forma, importa esclarecer
qual é a influência da RAE por si só, ou seja, se o desempenho ambiental de uma
organização poderá influenciar a captação e retenção de profissionais, sendo que é possível
verificar que, pelo menos os mais jovens atribuem grande importância à RAE, conforme se
pode verificar através do relatório da Deloitte6 (2019), baseado nas respostas de 16.425
jovens (13.416 da geração milénio7 de 42 países e 3.009 da geração Z8 de 10 países). Este
relatório corrobora que a responsabilidade ambiental é uma ferramenta cada vez mais
importante quando se aborda a questão da captação e retenção de colaboradores, pois ao
6 A Deloitte é uma empresa de serviços de auditoria, consultoria, assessoria financeira, entre outros. 7 O estudo inclui millennials nascidos entre 1983 e 1994. 8 O estudo incluiu jovens da Geração Z nascidos 1995 e 2002.
33
questionar os entrevistados, sobre qual o desafio global enfrentado pela sociedade que mais
os preocupa (entre 20 desafios globais), concluiu que o desafio mais preocupante para os
inquiridos são as mudanças climáticas / a proteção do meio ambiente / desastres naturais,
conforme é possível verificar na figura 2.
Figura 2: Desafios globais que mais preocupam jovens
Fonte: Deloitte (2019). The Deloitte Global Millennial Survey 2019.
Holtbrügge (2014) afirma que, embora no passado os incentivos financeiros tenham sido o
instrumento mais importante, a responsabilidade ambiental empresarial está a tornar-se
cada vez mais relevante e determinante na atratividade e no comprometimento dos
funcionários de uma empresa. O autor realizou um estudo empírico com base na teoria da
sinalização, onde participaram 215 empresas (da China, Alemanha, Índia e EUA) e
concluiu que a estratégia e cultura ecológicas, tecnologia e produtos ecológicos,
recrutamento e avaliação ecológicos e comunicação ecológica influenciam positivamente a
reputação de uma empresa enquanto empregadora e, por sua vez, o comprometimento dos
funcionários. Assim, sendo a reputação ambiental de uma empresa a perceção dos seus
valores e atividades ambientais pelas partes interessadas, a imagem / reputação do
empregador torna-se relevante não apenas para atrair, mas também para reter funcionários.
Aiman-Smith e Bauer (1996) concluíram que as empresas com uma abordagem positiva em
relação ao ambiente natural são vistas como empregadores mais atraentes do que as
empresas sem essa atitude. Uma vez que as questões ecológicas se tornaram uma
preocupação crescente para as empresas, este estudo experimental examinou o efeito de
uma postura pró-ambiental nos esforços de recrutamento de uma empresa fictícia. Os
34
resultados apoiaram a ideia de que uma postura proativa da empresa em relação ao meio
ambiente está positivamente relacionada à atratividade percebida da empresa, às intenções
de procura de emprego nessa empresa e à aceitação de uma oferta de emprego.
Para Judge e Bretz (1992) as perceções dos candidatos sobre os valores de uma organização
podem ser influenciadas pela preocupação da organização com o meio ambiente.
Baker, Behrend e Thompson (2009) procuraram saber se uma mensagem empresarial pró-
ambiental, que aparecia numa empresa fictícia de recrutamento, influenciava a atitude dos
candidatos no que diz respeito à intenção de se candidatarem a um emprego. O estudo
concluiu que uma mensagem ambiental, publicada num website de recrutamento, aumentou
as intenções de candidatura ao emprego, ou seja, uma mensagem ambiental no website de
uma empresa de recrutamento aumentou a perceção de prestígio organizacional junto dos
candidatos, o que por sua vez aumentou a intenção dos candidatos em concorrerem ao
emprego (dos 183 participantes alguns viam a página do website que continha uma
mensagem de apoio ambiental da organização, outros viam uma página do website sem
qualquer mensagem ambiental). Na figura 3 é possível ver a página onde constava a oferta
de emprego com a mensagem ambiental e na figura 4 a oferta de emprego sem a mensagem
ambiental.
35
Figura 3: Oferta de emprego fictícia com mensagem ambiental
Fonte: Behrend, T. S., Baker, B. A. & Thompson, L. F. (2009). Effects of Pro-Environmental Recruiting
Messages: The Role of Organizational Reputation. Journal of Business and Psychology, 24 (3), 341-350.
36
Figura 4: Oferta de emprego fictícia sem mensagem ambiental
Fonte: Behrend, T. S., Baker, B. A. & Thompson, L. F. (2009). Effects of Pro-Environmental Recruiting
Messages: The Role of Organizational Reputation. Journal of Business and Psychology, 24 (3), 341-350.
37
2.2.1. Signaling Theory
A signaling theory (teoria da sinalização) foi descrita pela primeira vez por Michael Spence
(1973) e refere-se à tomada de uma decisão na qual existe assimetria de informação entre
duas partes ou onde uma parte deve tomar uma decisão sem informações perfeitas. Spence
(1973) examinou o processo de contratação como um processo onde os empregadores e
potenciais empregados enviam e interpretam sinais para melhorar suas decisões, reduzindo
a assimetria de informação.
Para Backhaus, Stone e Heiner (2002) a signaling theory indica que, na ausência de
informações perfeitas sobre uma empresa, os indivíduos usam várias pistas ou sinais dados
pela mesma para tirar conclusões sobre suas intenções ou ações. Existe assim uma
interação entre duas partes – um "sinalizador" (signaler) e um " recetor " (receiver) que trocam
informações – ou seja, o “sinalizador” comunica com o “recetor”, que por sua vez avalia a
informação, tomando posteriormente uma decisão.
No âmbito deste trabalho, o “sinalizador” seria a organização que procura atrair
colaboradores e o “recetor” seriam os potenciais colaboradores, enquanto a informação
referir-se-ia às práticas de responsabilidade ambiental da empresa. A signaling theory sugere
que os indivíduos usam várias pistas, deixadas pela empresa, para tirar conclusões sobre as
intenções ou ações da organização – no processo de escolha, os potenciais funcionários
usam todas as informações disponíveis para tomar uma decisão, sendo que a
responsabilidade ambiental podem fornecer os dados que um candidato a emprego precisa
para avaliar o empregador.
Desta forma, as políticas ambientais das empresas podem servir como sinais das condições
de trabalho praticadas, além de dar uma indicação sobre os valores da organização.
A signaling theory tem sido usada como base teórica para a investigação sobre a atratividade
da empresa, para potenciais funcionários, principalmente no que diz respeito à
responsabilidade social e ambiental das empresas.
2.2.2. Social Identity Theory
A social identity theory (teoria da identidade social) indica que as pessoas se colocam em
categorias sociais, que por sua vez influenciam seus autoconceitos. Ou seja, esta teoria da
sugere que as pessoas se classificam em categorias sociais com base em vários fatores,
38
como a organização onde trabalham, sendo que a participação nessas categorias sociais,
influencia o autoconceito de um indivíduo.
A social identity theory refere que, em parte, os indivíduos concebem o seu autoconceito por
pertencerem a determinados grupos sociais (Tajfel, 1982). Assim, o sucesso e a reputação
dos grupos de pertença contribuem para o autoconceito de cada um, sendo que o
empregador constitui uma fonte importante de autoconceito (Underwood, Bond e Baer,
2001). Desta forma, esta teoria fornece outra base de suporte para argumentar que a
responsabilidade ambiental empresarial será importante para os potenciais candidatos a um
emprego, pois estes procuram selecionar um ambiente de emprego que contribua
positivamente para o seu autoaperfeiçoamento. Os candidatos a emprego têm melhores
autoimagens quando trabalham para empresas ambientalmente responsáveis.
2.3. Efeito da responsabilidade ambiental empresarial nos colaboradores
Assim, se no passado os trabalhadores eram vistos apenas como um instrumento,
atualmente as organizações precisam de ser mais proativas na gestão que fazem dos
colaboradores, para que os mesmos estejam satisfeitos no seu local de trabalho e motivados
para as suas tarefas. Os colaboradores comprometidos com a organização estão altamente
motivados para contribuir com o seu tempo e a sua energia, de forma a ajudar a empresa a
atingir os seus objetivos.
Collier e Esteban (2007) demonstram que a identificação organizacional e o
comprometimento dos funcionários é influenciado pelo facto dos funcionários se
identificarem com os valores da organização.
Eamets, Tamm e Mõtsmees (2010), com base numa pesquisa que envolveu 3.637
funcionários na Estônia, Letônia e Lituânia, concluíram que a RSE afeta o bem-estar dos
funcionários – estes sentem-se mais satisfeitos quando a RSE está incorporada na estratégia
da empresa. As avaliações dos funcionários sobre vários aspetos do seu trabalho são
notavelmente mais elevadas em empresas que são percebidas como mais envolvidas em
atividades de RSE.
Para Brammer, Millington e Rayton (2007) as atividades de RSE estão positivamente
relacionadas com o comprometimento dos funcionários, havendo um efeito direto da
perceção da RSE com o compromisso efetivo dos funcionários. Portanto, as ações de
responsabilidade social empresarial são essenciais para a satisfação dos trabalhadores no seu
emprego.
39
Ali e Zafar (2016) referem que a participação em atividades de responsabilidade social
empresarial tem um impacto positivo no comprometimento dos funcionários, sendo assim
uma mais-valia para as organizações implementarem práticas de RSE, até porque
colaboradores comprometidos ajudam as empresas a alcançarem o sucesso.
Kim, Kim, Lee e Lee (2010) afirmam que as iniciativas de RSE aumentam a identificação
empregado-empresa, o que, por sua vez, influencia o compromisso dos funcionários para
com a organização, sendo que o desempenho da RSE pode ser uma maneira eficaz das
empresas manterem um relacionamento positivo com seus funcionários.
As práticas de sustentabilidade podem ter impactos positivos, ao conduzir a um aumento
da lealdade e a melhorias no desempenho organizacional dos funcionários. Uma pesquisa
da Sirota Survey Intelligence (2007) verificou que os funcionários que estão satisfeitos com
as atividades sociais e ambientais dos seus empregadores têm sentimentos mais positivos
para com a empresa, do que aqueles que trabalham para empresas menos responsáveis.
Em relação à RAE propriamente dita, Bosco, Emanuele e Harvey (2010) concluíram que as
empresas que adotaram práticas ecológicas melhoraram o relacionamento com os
funcionários e que os seus funcionários, especialmente aqueles interessados em questões
ambientais, são mais propensos a recomendar a sua empresa a outros.
Assim, uma vez que a RAE é cada vez mais exigida pelos funcionários, muitas empresas
procuram melhorar sua reputação ambiental e simultaneamente criar uma maior ligação
emocional com os seus colaboradores. Neste sentido, uma organização ambientalmente
responsável pode favorecer o compromisso e empenho dos funcionários por meio de
orgulho e identificação.
40
Capítulo 3 – METODOLOGIA
O propósito que desencadeia a necessidade / vontade de criar e desenvolver conhecimento
tem influência na forma como uma investigação é planeada (Patton, 2002, p. 213), portanto
o que define a metodologia de investigação adotada num trabalho é o objetivo do mesmo.
Assim, após revisão da literatura torna-se importante passar ao desenvolvimento do
trabalho empírico. Desta forma, neste capítulo procura-se descrever de forma detalhada a
metodologia utilizada na elaboração da presente Dissertação.
3.1. Objetivos do estudo
Com a degradação ambiental, torna-se imperativo encontrar uma forma adequada de
manter o equilíbrio entre o desenvolvimento económico e a capacidade de suporte do
ambiente natural, até porque o ambiente é necessário para o bem-estar do Homem, sendo
essencial para a sua sobrevivência. De facto, tal como é possível observar, encontrar o
equilíbrio entre o crescimento económico e a qualidade ambiental tem sido, ao longo do
tempo, um desafio para as organizações – embora as empresas tragam prosperidade e
gerem riqueza, têm provocado também degradação ambiental. Assim, existe a urgência de
encontrar respostas éticas que levem à sustentabilidade ambiental. É, neste sentido, que a
sociedade tem exercido cada vez uma maior pressão sobre o tecido empresarial para que
seja ambientalmente responsável, exigindo ações. E, uma vez que qualquer atual ou
potencial colaborador de uma organização, faz parte da sociedade, torna-se relevante
perceber se o facto de uma organização ser ambientalmente responsável têm influência na
escolha de um emprego.
Portanto, o objetivo deste estudo consiste em analisar a influência que a responsabilidade
ambiental empresarial tem na atratividade de uma organização, no que diz respeito à
captação e retenção de colaboradores.
3.2. Questões de investigação
Cada vez mais os indivíduos procuram encontrar um emprego que ofereça mais do que um
bom salário e outros benefícios financeiros, tentando encontrar um local de trabalho onde
desenvolva sentimentos de pertença e onde os valores organizacionais se alinhem com os
seus valores pessoais, de forma a contribuir de alguma forma para um bem social e / ou
41
ambiental maior. Deste modo, sendo o foco principal do presente estudo perceber se a
responsabilidade ambiental empresarial influencia a captação e retenção de colaboradores
por uma organização, foram formuladas as seguintes questões de investigação:
A responsabilidade ambiental empresarial tem impacto positivo na captação de
colaboradores?
A responsabilidade ambiental empresarial tem impacto positivo na retenção de
colaboradores?
A responsabilidade ambiental empresarial aumenta a motivação e o compromisso
dos colaboradores em relação à organização?
Alunos com maior grau académico valorizam mais a RAE?
A RAE é mais valorizada face a outras fatores de atração de uma organização?
Assim, procura-se perceber se a responsabilidade ambiental empresarial influencia a
atratividade de uma organização (para atuais e potenciais colaboradores) e se aumenta a
motivação e compromisso dos atuais colaboradores. Pra além disso, procura-se também
perceber se os alunos com mais habilitações literárias valorizam mais a RAE e, ainda, qual a
importância da RAE, quando comparada a outros potenciais fatores de atratividade de uma
organização.
3.3. População-alvo e caracterização da amostra
Este estudo pretende analisar a influência que a responsabilidade ambiental empresarial tem
na captação e retenção de colaboradores, portanto, de forma geral fazem parte da
população-alvo os indivíduos adultos não reformados (indivíduos que estejam empregados
numa organização ou que pretendam entrar no mercado de trabalho), ou seja, a população
ativa, sendo que a amostra do estudo é constituída por estudantes do ensino superior.
Neste caso, estamos perante uma amostra por conveniência, pois os dados foram
recolhidos junto de membros da população que estavam convenientemente disponíveis
para participar no estudo (questionários partilhados através de via eletrónica e redes
sociais).
42
3.4. Recolha e tratamento de dados
De forma a responder às questões formuladas, foi realizado um estudo quantitativo, através
da elaboração de um questionário online (em anexo) para recolha de dados – os dados
recolhidos são primários e trata-se de uma fonte de informação indireta.
De forma geral, os questionários tem como propósito colocar uma série de questões a uma
amostra idealmente representativa da população em estudo, sobre os mais variados temas,
tendo essencialmente como vantagens o facto de permitirem estudar uma grande
quantidade e diversidade de dados, o baixo custo na obtenção de respostas e a rápida
recolha de informações.
Assim, o questionário foi criado no Google Forms para que o acesso ao mesmo fosse simples
e rápido, sendo possível visualizar no início do mesmo uma explicação sobre o objetivo do
estudo e o seu âmbito.
Antes da divulgação do questionário, o mesmo foi testado por 6 indivíduos de forma a
encontrar eventuais lapsos e para clarificação de questões.
De acrescentar que, antes dos inquiridos passarem a responder ao questionário
propriamente dito, tinham de dar a sua autorização para participar no estudo, embora todas
as respostas fossem anónimas e de cariz confidencial. Após confirmação seguia-se um total
de 16 questões.
O questionário era constituído por respostas fechadas – perguntas dicotómicas, escolha-
múltipla e escala de Likert (escala de 1 a 5) – e respostas abertas. O questionário estava
dividido em três partes – a primeira para recolha de dados demográficos, a segunda com
questões que tinham por objetivo medir essencialmente a sensibilidade dos inquiridos em
relação à responsabilidade ambiental empresarial e, uma terceira parte que tinha como
objetivo que os inquiridos escolhessem entre duas ofertas de emprego (de um lado uma
empresa ambientalmente responsável e do outro lado uma empresa ambientalmente
irresponsável, sendo que a empresa ambientalmente irresponsável oferecia um salário
superior).
O questionário esteve disponível para preenchimento entre o dia 20 de junho e o dia 31 de
julho, seguindo-se depois um período de análise onde numa primeira fase se verificou se
existia alguma resposta inválida ou algum questionário com respostas em branco.
Após recolha dos dados, os mesmos foram tratados através da utilização das ferramentas
Excel e software IBM SPSS (Statistical Package for the Social Sciences STATISTC) – o Google
43
Forms possibilita a migração dos dados para um ficheiro Excel, que foi posteriormente
carregado no SPSS, de forma a proceder-se à análise de dados.
44
CAPÍTULO 4 – APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
Neste capítulo proceder-se-á à explicação de como foi feita a análise dos dados recolhidos,
verificando-se a pertinência das questões levantadas. Este capítulo tem como objetivo
descrever e analisar as respostas obtidas na investigação empírica, através dos
questionários.
4.1. Caracterização sociodemográfica
A amostra deste estudo é composta por 52 indivíduos (N = 52) – embora 53 indivíduos
tenham respondido ao questionário, 1 foi excluído por não ser estudante do ensino
superior, mas do 12º ano. Do total da amostra, 32 indivíduos são do sexo feminino
(61,50%) e 20 indivíduos são do sexo masculino (38,50%).
Os inquiridos têm idades compreendidas entre os 18 e os 57 anos, sendo que a maioria se
encontra na faixa etária dos 21 aos 26 anos (51,9%), conforme tabela 1.
Tabela 1: Idade dos inquiridos
Idade Inquiridos Percentagem (%)
18 3 5,77
19 9 17,31
20 1 1,92
21 1 1,92
22 3 5,77
23 6 11,54
24 12 23,08
25 4 7,69
26 1 1,92
27 1 1,92
28 1 1,92
29 1 1,92
30 2 3,86
31 1 1,92
34 1 1,92
45
37 2 3,86
39 1 1,92
55 1 1,92
57 1 1,92
Fonte: autoria própria.
Dos inquiridos, 43,3% nunca teve um trabalho remunerado (part-time, full-time, estágio...),
enquanto os restantes 56,7% já tiveram.
O local de residência da maioria dos inquiridos é o distrito do Porto (75%), havendo
inquiridos dos distritos de Viana do Castelo (1,9%), Viseu (1,9%), Braga (5,8%), Aveiro
(7,7%), Guarda (1,9%) e Madeira (1,9%) e, ainda, inquiridos do Brasil (3,9%).
Entre os inquiridos, 48,1% estão a frequentar licenciatura, 50% estão a frequentar mestrado
e, 1,9% está a frequentar mestrado integrado.
Em relação à área de formação atual, distribui-se conforme a figura 5.
Figura 5: Área de formação atual dos inquiridos
Fonte: autoria própria.
Em relação à formação académica foi também questionada a classificação académica atual
de cada um dos inquiridos (entre 0 a 20 valores), arredondada às unidades, tendo-se obtido
a informação que consta na figura 6.
27%
4%
11%
4%17%
17%
6%
6%8%
Economia, Gestão e Contabilidade Humanidades, Secretariado e Tradução
Educação Física, Desporto e Artes do Espetáculo Outra
Ciências Saúde
Tecnologias Arquitectura, Artes Plásticas e Design
Ciências da Educação e Formação de Professores
46
Figura 6: Classificação académica atual dos inquiridos
Fonte: autoria própria.
Em relação à classificação académica dos alunos, uma variável quantitativa (classificada
como escala no SPSS), esta era a única pergunta do questionário entregue aos alunos, que
não era de caráter obrigatório, tendo-se verificado que responderam à questão 42 alunos, a
classificação mínima são 12 valores, a máxima 18 valores e a média é de 15 valores,
conforme é possível analisar na tabela 2.
Tabela 2: Análise estatística da variável classificação académica
Fonte: autoria própria, através do SPSS.
Em relação à situação atual dos inquiridos, a mesma divide-se de acordo com a figura 7.
7%
14%
16%
14%
35%
12%2%
12 Valores 13 Valores 14 Valores 15 Valores 16 Valores 17 Valores 18 Valores
47
Figura 7: Situação atual dos inquiridos
Fonte: autoria própria.
4.2. Perceção dos inquiridos em relação à responsabilidade ambiental empresarial
Neste ponto será estudada a perceção dos inquiridos em relação à responsabilidade
ambiental empresarial, sendo que para tal se analisaram as respostas dadas pelos mesmos
ao questionário.
Em relação aos inquiridos que, além de estudar, estavam simultaneamente a trabalhar (a
tempo parcial ou a tempo inteiro), foi-lhes pedido que classificassem de 1 a 5 o seu grau de
satisfação com a organização onde estavam a trabalhar, relativamente às práticas de defesa
/ sensibilização ambiental, sendo que a maioria dos inquiridos (45,5%) classificou com um
3 (nem satisfeito nem insatisfeito), conforme figura 8.
58%
13%
29%
Estudante Trabalhador-estudante (part-time) Trabalhador-estudante (full-time)
48
Figura 8: Satisfação quanto à RAE no atual emprego
Fonte: autoria própria.
Em seguida foi pedido aos inquiridos que escolhesse entre 19 fatores, os 5 fatores que
consideravam tornar uma organização mais atrativa, tendo-se obtido resultados conforme
figura 9.
0
2
4
6
8
10
12
TotalmenteInsatisfeito
Insatisfeito Nem satisfeito neminsatisfeito
Satisfeito TotalmenteSatisfeito
Nº de inquiridos
49
Figura 9: Fatores mais atrativos numa organização
Fonte: Autoria própria.
167
11
4
14
15
12
6
10
13
2718
4
25
13
4
8
31
22
Área / Setor em que organização atua
Elevada notoriedade / Organização líder no setor em que opera
Reputação da organização a nível ético (diversidade e igualdade de oportunidades...)
Empregador reconhecido pela exigência no recrutamento (contratar os melhores profissionais)
Qualidade dos produtos / serviços da organização
Localização da organização
Boas instalações
Investimento em tecnologia e inovação
Organização que adopte práticas ambientalmente responsáveis
Identificar-se com valores da organização
Bom salário e outros incentivos financeiros
Outros incentivos (horário laboral flexível, seguro de saúde, carro da empresa...)
Programas de formação
Oportunidades de progressão na carreira
Segurança e estabilidade
Oportunidade de carreira internacional
Organização que o permita executar tarefas com as quais se identifica
Bom ambiente de trabalho (boas relações entre colegas e chefias)
Equilíbrio entre vida profissional e pessoal
50
Assim, verifica-se que os cinco fatores mais escolhidos foram os seguintes:
Bom ambiente de trabalho (boas relações entre colegas e chefias) – escolhido 31
vezes;
Bom salário e outros incentivos financeiros – escolhido 27 vezes;
Oportunidades de progressão na carreira – escolhido 25 vezes;
Equilíbrio entre vida profissional e pessoal – escolhido 22 vezes;
Outros incentivos (horário laboral flexível, seguro de saúde, carro da empresa...) –
escolhido 18 vezes.
Por outro lado, os cinco fatores menos escolhidos foram os seguintes:
Oportunidade de carreira internacional – escolhido 4 vezes;
Empregador reconhecido pela exigência no recrutamento (contratar os melhores
profissionais) – escolhido 4 vezes;
Programas de formação – escolhido 4 vezes;
Investimento em tecnologia e inovação – escolhido 6 vezes;
Elevada notoriedade / Organização líder no setor em que opera – escolhido 7
vezes.
Quanto ao fator “organização que adote práticas ambientalmente responsáveis”, foi
considerado por 10 inquiridos como um dos cinco fatores que tornam uma organização
mais atrativa, ocupando a posição 14º por ordem crescente dos mais escolhidos.
Embora o facto de uma organização adotar práticas ambientalmente responsáveis não estar
entre um dos cinco fatores mais escolhidos, no que diz respeito a tornar uma organização
mais atrativa para os inquiridos, quando se solicita aos mesmos que classifiquem a
importância das organizações implementarem práticas ambientalmente responsáveis, a
maioria (57,7%), atribui a classificação máxima (5 = muito importante), conforme figura
10.
Quanto à importância atribuída à RAE, trata-se de uma variável qualitativa ordinal,
seguindo-se na tabela 3 a distribuição de frequências, que permite verificar que nenhum
aluno atribuiu a classificação 1 ou 2 à questão.
51
Figura 10: Importância da RAE
Fonte: autoria própria.
Tabela 3: Análise estatística da variável importância da RAE
Fonte: autoria própria, através do SPSS.
Questionamos ainda os inquiridos qual o grau de importância que atribuíam a iniciativas de
proteção ambiental adotadas por uma organização quando procuravam emprego, sendo
que a maioria considerava importante ou muito importante, conforme figura 11. A maioria
dos inquiridos considerava, ainda, que o facto de uma organização revelar e afirmar
publicamente que adota comportamentos ambientalmente responsáveis, faria com que
atraísse mais candidatos a eventuais ofertas de emprego, conforme figura 12.
0
1
2
3
4
5
6
Nada importante Pouco importante Indiferente Importante Muito importante
Nº de inquiridos
52
Figura 11: Importância da RAE na escolha de emprego
Fonte: autoria própria.
Figura 12: Importância da comunicação da RAE
Fonte: autoria própria.
Em seguida, pediu-se que os inquiridos classificassem a seguinte afirmação, quanto ao seu
grau de concordância: “um colaborador sente-se mais motivado no desempenho das suas
tarefas, se trabalhar numa organização que tenha implementado um plano de proteção
0
5
10
15
20
25
30
Nada importante Pouco importante Indiferente Importante Muito importante
Nº de inquiridos
0
5
10
15
20
25
30
Discordo totalmente Discordo Nem concordo nemdiscordo
Concordo Concordototalmente
Nº de inquiridos
53
ambiental”, sendo que a maioria dos inquiridos revelou concordar ou concordar totalmente
com a afirmação, conforme figura 13.
Figura 13: Motivação no trabalho
Fonte: autoria própria.
Já perto do fim do questionário, pediu-se que ordenassem de 1 (menor prioridade) a 5
(maior prioridade) os objetivos que pretendem alcançar na sua carreira profissional a longo
prazo, tendo-se verificado o seguinte:
Objetivo mais vezes eleito com o nº 5: obter segurança financeira;
Objetivo menos vezes eleito com o nº 5: trabalhar em organização ambientalmente
responsável;
Objetivo mais vezes eleito com o nº 4: trabalhar em organização ambientalmente
responsável;
Objetivo menos vezes eleito com o nº 4: ter carreira de prestígio;
Objetivo mais vezes eleito com o nº 3: sentir paixão pelo trabalho desempenhado;
Objetivo menos vezes eleito com o nº 3: trabalhar em organização ambientalmente
responsável;
Objetivo mais vezes eleito com o nº 2: alcançar o equilíbrio entre vida pessoal e
profissional;
0
5
10
15
20
25
Discordototalmente
Discordo Nem concordonem discordo
Concordo Concordototalmente
Nº de inquiridos
54
Objetivo menos vezes eleito com o nº 2: trabalhar em organização ambientalmente
responsável e sentir paixão pelo trabalho desempenhado;
Objetivo mais vezes eleito com o nº 1: trabalhar em organização que defenda
causas ambientais;
Objetivo menos vezes eleito com o nº 1: obter segurança financeira e alcançar o
equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Por último foram apresentadas duas organizações, que apenas diferiam entre dois aspetos:
salário e responsabilidade ambiental. Ou seja, de um lado estava a empresa A
(ambientalmente responsável e com um salário de € 1.000) e, dou outro lado, a empresa B
(ambientalmente irresponsável e com um salário de € 1.200). Foi pedido aos inquiridos que
escolhessem a empresa na qual preferiam trabalhar, sendo que 37 (ou seja, 71%)
escolheram a empresa A e 15 (ou seja, 29%), escolheram a empresa B. Portanto, embora os
inquiridos tenham revelado considerar a RAE importante para uma organização tornando-
a mais atrativa, este não é um fator tão determinante na escolha de um emprego quando
comparado ao salário.
Por fim, analisou-se se existia correlação entre a varável “habilitações literárias” e a variável
“importância atribuída à RAE” (ambas variáveis qualitativas ordinais). Para isso recorreu-se
ao coeficiente de correlação de Spearman (indicador que permite medir a intensidade e o
sentido da relação existente entre duas variáveis qualitativas ordinais), que é utilizado
quando não se deseja utilizar nenhuma suposição de normalidade ou da presença de
qualquer outra distribuição.
Quanto mais próximo de 1 ou -1 estiver o coeficiente RS, mais intensa é a relação entre as
duas variáveis ordinais e, quanto mais próximo estiver de zero, menos intensa é a relação.
O sinal do coeficiente RS (positivo ou negativo) indica o sentido da relação (positiva ou
negativa).
Através da tabela 4 verifica-se que o coeficiente de Spearman = 0,338, ou seja existe uma
correlação positiva entre as duas variáveis. Portanto, alunos com maior grau académico
atribuem maior importância à RAE, embora não se trate de uma relação muito intensa,
pois o valor não está muito próximo de 1, isto poderá dever-se ao facto dos alunos embora
de graus diferentes (licenciatura, mestrado e mestrado integrado) estejam todos no ensino
superior.
55
Através da tabela 4 é ainda possível verificar que o valor de sig = 0,014 < 0,05.
Considerado que se sig > 0,05 se aceita Ho, sendo:
H0: As variáveis são independentes
H1: As variáveis são dependentes
Assim, rejeita-se H0, o que significa que as variáveis são dependentes.
Tabela 4: Análise estatística (correlação de Spearman)
Fonte: autoria própria, através do SPSS.
Em suma, em relação às questões de investigação pode concluir-se que a responsabilidade
ambiental empresarial tem impacto positivo na captação e retenção de atuais e potenciais
colaboradores, aumentado a motivação dos atuais funcionários. Para além disso, alunos
com maior grau académico valorizam mais a RAE. Contudo, este fator de atratividade
quando comparado com outros como salário e equilíbrio entre vida profissional e pessoal,
por exemplo, não é tão significativo, sendo que a maioria dos inquiridos deste estudo
revelou preferir trabalhar numa organização ambientalmente irresponsável se tivessem um
salário 20% mais elevado do que aquele que receberiam se trabalhassem numa empresa
ambientalmente responsável.
56
CONCLUSÃO
Este estudo começa por abordar o conceito de responsabilidade ambiental empresarial e
outros conceitos aos quais a RAE é associada, tendo-se verificado ser difícil distingui-los
muitas das vezes. Quando se aborda o conceito de responsabilidade ambiental empresarial,
verifica-se que que há uma divergência de opiniões pois alguns autores classificam as
questões ambientais como o terceiro elemento da sustentabilidade, enquanto outros
classificam como um subconjunto de questões sociais. Neste sentido, embora ao longo
deste trabalho se tenha procurado focar o pilar ambiental, por vezes tornou-se difícil
dissociar da esfera social. De qualquer das formas, a responsabilidade ambiental empresarial
diz sobretudo respeito à inclusão voluntária das preocupações ambientais na estratégia de
negócio das organizações, sendo atualmente considerada uma questão muito relevante nos
negócios.
O tema em estudo neste trabalho torna-se particularmente importante numa altura em que
as questões ambientais são amplamente discutidas e, as empresas são vistas como das
principais responsáveis por grande parte da degradação e poluição ambiental observada em
todo o planeta. O que por sua vez faz com que tenham um papel crucial a desempenhar na
proteção ambiental, principalmente no que diz respeito à redução do consumo de recursos
naturais, à maximização do uso eficiente dos recursos, à redução do desperdício e ao
aumento da reutilização e da reciclagem. Embora o principal objetivo das empresas seja o
lucro, estas devem procurar alcança-lo, integrando objetivos ambientais na sua estratégia,
até porque as suas atitudes se refletem no futuro da humanidade e, consequentemente no
futuro da própria organização. As empresas exercem então um papel essencial na garantia
da preservação do meio ambiente, sendo que as práticas ambientais das organizações visam
assegurar não só a preservação ambiental, mas também condições para o crescimento
organizacional – a obtenção de lucro deve deixar de ser vista como objetivo singular das
empresas.
Assim, o aumento da regulação ambiental, a pressão de organizações não-governamentais e
a pressão da sociedade, que está cada vez mais consciente da necessidade urgente de adotar
medidas que combatam a degradação ambiental, começaram a impulsionar as organizações
a adotar comportamentos mais responsáveis relativamente ao ambiente – estas tiveram de
adaptar-se às novas exigências do mercado e começaram a assumir responsabilidade pelos
efeitos adversos que produzem a nível ambiental, comprometendo-se a reduzir os impactos
negativos que advém das suas atividades. Desta forma, empresas que adotam estratégias
57
ambientais empresariais positivas e ativas, acabam por ser conduzidas a diversos benefícios
– fortalecem imagem e reputação, são vistas como mais legítimas e confiáveis, tornam-se
mais inovadoras, têm um melhor desempenho financeiro, estabelecem melhores relações
com as partes interessadas, conquistam maior lealdade dos consumidores e, entre outros,
tornam-se mais atrativas enquanto entidades empregadoras – estas organizações ganham
uma vantagem competitiva (Maxwell et al., 1997). O reconhecimento da necessidade de
RAE mostra, por sua vez, o reconhecimento por parte das organizações de que os negócios
e a sociedade precisam um do outro para que ambos prosperem.
Uma vez que as organizações e os seus trabalhadores são mutuamente dependentes, é
importante que as organizações procurem delinear estratégias para se tornarem mais
atrativas para os mesmos. Este estudo centra-se, então, na influência que a responsabilidade
ambiental empresarial tem na captação e retenção de colaboradores, procurando-se
perceber, ainda, a influência da RAE na motivação dos trabalhadores.
Os funcionários, enquanto parte da sociedade, estão mais conscientes das obrigações das
empresas em relação ao meio ambiente, o que significa que eles olham para a
responsabilidade ambiental empresarial como uma questão a ser consideradas pelos
empregadores. Desta forma, e visto que as pessoas, cada vez mais, preferem trabalhar
numa empresa que ofereça mais do que um “bom salário”, a RAE contribui para a
atratividade de uma organização uma vez que contribui para a boa imagem de uma
empresa, fazendo com que seja vista como mais legítima e confiável; faz com que os
trabalhadores se sintam parte de um objetivo maior (ter um trabalho que tenha significado
– fonte de orgulho); e, faz com que as pessoas sintam que os valores da organização estão
em concordância com os seus, sendo que muitas delas tomam decisões em relação ao seu
emprego com base nos seus próprios valores pessoais, isto é, procuram trabalhar em
organizações cujos valores estejam alinhados com os seus. A RAE oferece aos funcionários
a sensação de trabalhar em direção a um objetivo maior e a possibilidade de desempenhar
um papel importante na sociedade. Para Bauer e Aiman-Smith (1996) as empresas com
uma abordagem positiva em relação ao ambiente natural são vistas como empregadores
mais atrativos.
De acrescentar, que quando os colaboradores vêem os seus valores refletidos nas
organizações onde trabalham estão mais motivados para desempenhar as suas tarefas e
sentem-se mais comprometidos com a empresa para a qual trabalham. Collier e Esteban
(2007) demonstram que o comprometimento dos colaboradores é influenciado pelo facto
dos funcionários se identificarem com os valores da organização e, segundo Harvey et al.
58
(2010) as empresas que adotaram práticas ecológicas melhoraram o relacionamento com os
funcionários. A atitude das organizações face ao ambiente influencia a forma como os
funcionários se sentem em relação às mesmas e como agem na execução do seu trabalho –
o facto das organizações adotarem comportamentos ambientalmente positivos, aumentará
a motivação dos trabalhadores (trabalhadores conscientes de que a organização para a qual
trabalham procura fazer a diferença, tornam-se mais esforçados e persistentes, tendo um
melhor desempenho), o que por sua vez levará a um aumento na produtividade e eficiência.
Isto porque as atitudes e os comportamentos dos funcionários serão afetados pela cultura
organizacional e pelas suas políticas e, ainda, pelo facto de se sentirem bem num local de
trabalho que tem valores com os quais se identificam. Desta forma, as empresas que
adotam práticas ambientalmente responsáveis serão recompensadas com maior lealdade e
produtividade (menos absentismo e menos rotatividade de trabalhadores) e, terão ainda
uma melhor imagem perante a sociedade, pois os colaboradores funcionam muitas vezes
como embaixadores de uma organização, influenciando a perceção que outras partes
interessadas têm da mesma.
Uma vez que o sucesso de uma organização depende em grande parte da sua força de
trabalho, as empresas estão cada vez mais conscientes da necessidade de atrair os melhores
profissionais e mantê-los motivados. Nesse sentido, atratividade da empresa atrai
candidatos mais qualificados, permitindo maior seletividade na contratação de
trabalhadores - criar atratividade organizacional é considerado crucial para captar e reter
com sucesso funcionários altamente qualificados e, sendo a atração de talentos uma fonte
importante de competitividade das empresas, as estratégias de RAE podem ser uma forma
eficaz de o conseguir. Assim, como os melhores profissionais pretendem trabalhar em
empresas que se preocupam em impulsionar mudanças positivas no mundo, para atrair
com sucesso esses trabalhadores qualificados, as organizações devem trabalhar para
estabelecer programas de responsabilidade ambiental – a RAE torna-se num fator crítico de
sucesso.
Para além disso, quando se trata da importante questão de como inspirar e motivar as
gerações mais jovens, as organizações que adotam práticas ambientalmente responsáveis
colocam-se numa melhor posição para captar e reter funcionários, pois estes indivíduos
tem como aspiração fazer a diferença no mundo, procurando contribuir para um futuro
melhor. Desta forma, as organizações devem procurar que a sua missão vá de encontro
àquilo que estes jovens esperam.
59
Atualmente verifica-se que a maioria das empresas já se apercebeu que práticas ambientais
responsáveis atraem colaboradores, estabelecendo uma ligação emocional positiva com os
mesmos. Desta forma, as organizações procuram divulgar os seus valores e políticas, de
forma a ir de encontro ao que o mercado de trabalho procura (organizações esforçam-se
para serem reconhecidas como ambientalmente responsáveis).
Em suma, as conclusões deste estudo, face ao seu objetivo, vão de encontro ao que é
referido noutros estudos analisados ao longo deste trabalho, que indicam existir uma
relação positiva entre a responsabilidade ambiental empresarial e atratividade de uma
organização para os colaboradores (RAE influencia positivamente a captação e retenção de
colaboradores), que se sentem mais comprometidos e motivados em trabalhar para uma
empresa que demonstre empenhar-se em ser mais “verde”. Para além disso, os alunos com
maior grau académico, ou seja, mais formação valorizam mais a RAE. Contudo, os
resultados obtidos no estudo empírico, em oposição à maioria da literatura analisada neste
trabalho, demonstram que a RAE não é um fator tão atrativo quando comparado
especialmente a um melhor salário.
Por fim, os principais problemas do estudo prendem-se com a pequena amostra, seria
interessante ter uma amostra maior e mais diversificada no que diz respeito às habilitações
literárias dos indivíduos para verificar se, nesse caso, a relação entre as habilitações literárias
e a importância atribuída à RAE seria mais intensa, uma vez que neste estudo verificou-se
não existir uma relação com grande grau de intensidade entre as duas variáveis, o que
poderá dever-se ao facto dos alunos embora de graus académicos diferentes estarem todos
a frequentar o ensino superior.
Desta forma, numa investigação futura seria interessante investigar esta temática num leque
mais alargado de pessoas, não apenas estudantes universitários, para perceber se
continuaria a existir uma relação positiva entre a RAE e a atratividade de uma empresa, ao
questionar indivíduos em diferentes fases da vida e com diferentes níveis de escolaridade.
Além disso, seria interessante investigar os níveis de motivação dos colaboradores em
contexto real de trabalho, comparando empresas que adotam práticas ambientais, em
oposição a empresas que não o fazem.
61
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(pergunta para os inquiridos que atualmente são apenas estudantes)
(pergunta para os inquiridos que atualmente são trabalhores-estudantes)