A Iluminura Hebraica Portuguesa Do Século XV. Tiago Moita
-
Upload
ppablo-lima -
Category
Documents
-
view
11 -
download
0
description
Transcript of A Iluminura Hebraica Portuguesa Do Século XV. Tiago Moita
-
CADERNOS DE HISTRIA DA ARTE n.1 (2013)
57
A iluminura hebraica portuguesa do sculo XV: estado da questo*
Tiago Moita
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa [email protected]
Resumo O importante captulo da histria da iluminura hebraica produzida em Portugal na segunda metade do sculo XV encontra-se ainda por explorar, no constando qualquer referncia ao mesmo nas Histrias da Arte gerais publicadas em Portugal. Esta situao deve-se, em parte, aos poucos estudos realizados sobre o assunto, mas tambm, s concluses divergentes apontadas pelos especialistas estrangeiros, tanto no que se refere qualidade das iluminuras como no que diz respeito atividade organizada de uma escola judaica de cpia com sede em Lisboa. Neste artigo procuramos rever a literatura atinente a esta matria e identificar, deste modo, as questes mais relevantes, que ainda carecem de resposta.
Abstract The important chapter in the history of Hebrew illuminated manuscripts produced in Portugal in the second half of the fifteenth century is still to be explored, lacking any reference to it in the general Histories of Art published in Portugal. This occurs owing to the scarcity of studies on this matter, but also to the divergent conclusions pointed out by the main foreign specialists, whether regarding the quality of illumination, whether to the activity of an organized Jewish school of manuscripts copy in Lisbon. In this article we seek to review the literature regarding to this matter in order to identify the most relevant questions that still need to be answered.
O estudo da iluminura hebraica em Portugal, com produo particularmente centrada na segunda
metade do sculo XV, pouca ateno tem merecido por parte dos investigadores nacionais.
Significativamente, no consta qualquer referncia a este assunto em nenhuma das Histrias da Arte
publicadas em Portugal.1 Esta desateno e omisso que contrasta, por exemplo, com a opinio de
Immanuel Aboab (1555-1628) que tece encmios rasgados aos trabalhos dos copistas e iluminadores
hebraicos portugueses (Aboab, 1629: 232) podem, eventualmente, ser explicadas, no nosso
entender, por duas razes principais: por um lado, o acervo manuscrito hebraico portugus
remanescente encontra-se, na sua totalidade, em bibliotecas estrangeiras, de difcil e dispendioso
acesso; por outro, os poucos estudos efetuados pelos especialistas estrangeiros apresentam-se muito
contraditrios, existindo duas teorias divergentes sobre o tema, quer quanto qualidade da iluminura
em questo, quer no que se refere possibilidade da sua produo se dever a uma escola de cpia
manuscrita, bem organizada, em Lisboa, no sculo XV. este, sobretudo, o cerne do presente estudo,
que no visa, naturalmente, a resoluo desta problemtica, mas sim, dar conta dos caminhos
desbravados pelos principais especialistas da iluminura hebraica portuguesa do sculo XV, chamando
a ateno para os problemas em aberto, que, ainda hoje, convocam os estudiosos.
* Este texto enquadra-se no mbito do projeto de investigao, financiado pela Fundao para a Cincia e Tecnologia, intitulado Iluminura Hebraica Portuguesa durante o sculo XV (referncia PTDC/EAT-HAT/119488/2010), do qual o autor bolseiro de investigao. 1 A nica exceo deve-se a Horcio Augusto Peixeiro que, em dois artigos de sntese sobre a iluminura em Portugal nos sculos XIV a XVI (Peixeiro, 1999: 287-299; 2007: 145-192), se refere, brevemente, iluminura hebraica portuguesa, assumindo, no entanto, a perspetiva desfavorvel existncia de uma escola de cpia em Lisboa, no decurso do sculo XV.
-
CADERNOS DE HISTRIA DA ARTE n.1 (2013)
58
Sculos XVIII e XIX
Devemos a Antnio Ribeiro dos Santos (1745-1818), primeiro diretor da Real Biblioteca Pblica de
Lisboa, hoje, Biblioteca Nacional de Lisboa, a publicao de um artigo pioneiro em torno dos
manuscritos hebraicos portugueses, independentemente de terem ou no iluminuras (Ribeiro dos
Santos, 1792: 236-312). At recentemente, era o nico estudo sobre este assunto realizado por um
investigador portugus. No obstante o seu carter inicial, Ribeiro dos Santos enuncia importantes
questes, ainda hoje, irresolveis. Neste estudo, o autor identifica, a partir das suas pesquisas nos
catlogos de manuscritos hebraicos de Benjamin Kennicott (1780) e de Giovanni B. De Rossi (1803),2
um conjunto de dez manuscritos hebraicos com origem em Portugal, datados entre os sculos XIV e
XV (Tabela 1), e conclui pela existncia de uma importante Academia ou Escola hebraica de
cpia e iluminura em Lisboa, com atividade que estende entre a fundao do reino e a expulso
definitiva dos judeus (1496-97). Mais do que pelos aspetos artsticos que no so, naturalmente, o
centro da ateno de Ribeiro dos Santos, at porque no conheceu os manuscritos diretamente a
Escola hebraica lisboeta caracterizada, na sua perspetiva, pela excelente qualidade caligrfica dos
seus copistas e pelo rigor do texto massortico. A investigao de Ribeiro dos Santos no deixa de
revelar, no entanto, algumas incoerncias, ao fundar uma escola secular hebraica em Lisboa partindo
apenas de uma dezena de cdices (um, pelo menos, s dele tendo notcia a partir de testemunhos
coevos a Bblia de Jos Abravanel), e ao estender a sua atividade desde a fundao do reino, quando
o maior nmero remanescente procede de finais do sculo XV.
A lista dos manuscritos proposta por Ribeiro dos Santos citada, ainda, por Mendes dos Remdios
(1867-1932), que, desenvolvendo um estudo minucioso sobre a Bblia hebraica guardada na Biblioteca
Geral da Universidade de Coimbra (Cofre 1), identifica-a com aquela outra que Immanuel Aboab
indicava possuir Jos Abravanel, em Veneza, mostrando j, ao tempo, ter sido escrita havia 180 anos
(Remdios, 1903). Ainda segundo o professor de Coimbra, aquele manuscrito bblico procede de
oficina judaica de Lisboa, no sculo XV, propondo o ano de 1429 como data da cpia (Remdios,
1928: 326-337).
Thrse Metzger, por sinal, critica a referida lista, afirmando como no-portugueses a maioria dos
manuscritos, e redu-la apenas a cinco: a Bblia de 1346, escrita na Guarda (n 1 da lista do autor), e as
quatro cpias bblicas, executadas em Lisboa, entre 1469 e 1496 (os manuscritos 3, 4, 5 e 9 da lista de
Ribeiro dos Santos). A autora conclui, a partir destes dados, pela insustentabilidade da proposta de
uma escola com atividade contnua pelo largo perodo de tempo mencionado. No que se refere Bblia
de Coimbra, Metzger sublinha a proximidade com os manuscritos espanhis (e no com os
portugueses) e afirma as semelhanas da sua decorao massortica com a de outra Bblia sefardita
(Paris, Bibliothque Nationale de Paris: Ms. Hbreu 1314-1315), no datada nem localizada
(Metzger, 1972: 89-116). O estudo da Bblia de Coimbra permanece por realizar parecendo-nos
essencial para esclarecer o seu verdadeiro lugar no contexto da iluminura hebraica medieval.
Sculo XX
Os estudos de Ribeiro dos Santos e de Mendes dos Remdios permanecero isolados at finais da
dcada de 60 do sculo XX, quando a investigao em torno dos manuscritos hebraicos, motivada
pela constituio do Hebrew Palaeography Project (HPP), em 1965, alcana um elevado
2 De Rossi concluiu o seu catlogo em forma manuscrita em 1803, pelo que Ribeiro dos Santos ter tido acesso s informaes sobre os manuscritos portugueses, decorrendo, ainda, talvez, os trabalhos daquele autor.
-
CADERNOS DE HISTRIA DA ARTE n.1 (2013)
59
desenvolvimento, suscitando o interesse de jovens estudiosos pelas matrias em questo.3 Os estudos
ento efetuados permitiram reconhecer, pelas afinidades dos processos de produo dos manuscritos,
pela escrita e pelos elementos artsticos, um conjunto de reas geo-culturais distintas (oriental,
sefardita, asquenaze e italiana) e de diversas escolas no seu interior.
, sem dvida, neste contexto que se devem entender os primeiros (e mais significativos) estudos em
torno dos manuscritos hebraicos portugueses e do vivo debate que geraram. Com efeito, Bezalel
Narkiss, num trabalho em que identifica e caracteriza as principais escolas de iluminura hebraica, ao
abordar a produo sefardita destaca que the most important school in the Iberian Peninsula at the end of
the 15th century was the Portuguese (Narkiss, 1969: 22), com centro de produo em Lisboa. O autor
destaca do grupo portugus (sem oferecer, no entanto, uma lista), pela excelncia da sua decorao,
cinco manuscritos: a Mishneh Torah de Maimnides (Londres, British Library: Harley 5698-5699), a
Bblia de Lisboa (Londres, British Library: Or. 2626-2628), um siddur (Paris, Bibliothque Nationale
de France: Ms. Hbreu 592), a Bblia da Hispanic Society of America (Ms. B. 241) e a Bblia da
Bibliothque Nationale de France (Ms. Hbreu 15).
As Bblias iluminadas ocupam a maior percentagem das cpias portuguesas, contudo, ao contrrio do
que se observa na tradio sefardita, aquelas, na sua maioria, surgem incompletas, ou seja, delas no
constando a totalidade dos livros cannicos, em analogia com o que se verifica na tradio asquenaze.
A iluminura destes manuscritos caracteriza-se pela sua funo eminentemente decorativa (e no
ilustrativa) e funcional em relao ao texto. Por esta razo, frequente introduzirem-se as palavras
iniciais dos livros bblicos em ouro, no interior de grandes painis filigranados; a ornamentao das
margens centra-se em motivos vegetalistas e florais bastante variados, habitados por animais, como
pssaros de espcies diferentes, lees e drages. Narkiss ressalta, ainda, o valor da Bblia de Lisboa na
qual reconhece uma mpar centralidade na medida em que nela se verifica a totalidade do programa
decorativo da escola, posio que ser seguida pela generalidade dos autores que se lhe seguiram. Em
rigor, o autor, neste estudo, introduziu os principais temas e as questes fundamentais que outros
investigadores, nomeadamente, Gabrille Sed-Rajna e Thrse Metzger, procuraram responder
desenvolvendo importantes estudos de conjunto em torno dos manuscritos portugueses.
Gabrille Sed-Rajna surge, efetivamente, como a autora da primeira monografia atinente aos
manuscritos hebraicos portugueses do sculo XV concluindo pela elevada qualidade da sua iluminura
cuja responsabilidade atribui a uma escola de cpia e iluminura hebraica, organizada em Lisboa e
ativa no perodo referido (Sed-Rajna, 1970). Pouco mais tarde, coube a Thrse Metzger a reviso
deste tema, defendendo uma proposta diametralmente oposta, ou seja, a inexistncia de uma escola e
a pobreza da decorao destes manuscritos (Metzger, 1977). O trabalho de Metzger realizado em
duro confronto com as concluses de Sed-Rajna, revelador de uma certa animosidade entre as
respetivas autoras, que lamentavelmente se transpe para os prprios manuscritos na hora da sua
avaliao. As teses destas autoras que, pela sua centralidade, passamos a explicitar com demorada
anlise , ainda que absolutamente antagnicas, apresentam argumentos aparentemente vlidos e
consistentes, surgindo, por isso, como duas hipteses possveis de leitura da mesma problemtica,
cabendo a este estudo, somente, apresentar as concluses e levantar algumas das questes que ainda
permanecem em aberto.
3 A responsabilidade do projeto coube Israel Academy of Sciences and Humanities (em colaborao com a Jewish National Library e a University Library of Jerusalm) com a cooperao do Institut de Recherche et dHistoire des Textes (Centre National de la Recherche Scientifique, Paris).
-
CADERNOS DE HISTRIA DA ARTE n.1 (2013)
60
Na sua investigao, Sed-Rajna localiza e analisa todos os cdices hebraicos executados em Lisboa no
sculo XV, ampliando significativamente o nmero de manuscritos at ento identificados. Partindo
de treze manuscritos com clofon identificando Lisboa como local da cpia, a autora identifica
idntico nmero, sem clofon, mas revelando caractersticas codicolgicas e artsticas semelhantes, e
conclui, por via comparativa, por uma homogeneidade estilstica e iconogrfica que evidencia a
pertena daqueles ltimos ao grupo portugus (Tabela 2). Este nmero ser posteriormente
alargado por Thrse Metzger com o reconhecimento de mais trs manuscritos, sem clofon, mas
considerados prximos, pela decorao, dos manuscritos portugueses (Tabela 3).
De acordo com Sed-Rajna, a coerncia codicolgica e estilstica dos manuscritos hebraicos
portugueses, a sua excelente qualidade caligrfica, a especfica ordenao do cnone bblico marcada
pela insero harmoniosa de elementos das duas tradies, asquenaze e sefardita , a sistemtica
incorporao nos cdices bblicos de tratados massorticos ou gramaticais, os colofes com a
recorrente frmula final A Redeno est Prxima seguida da citao de Jos 1,8, a
micrografia com formas geomtricas e a decorao pintada com influncias mudjares e italianas,
comprova a homogeneidade e perfeita identidade destes manuscritos no amplo concerto sefardita.
Esta situao permite concluir, na perspetiva da autora, pela existncia de uma florescente escola de
iluminura hebraica, com atividade em Lisboa, entre 1472 e 1496 (ou seja, entre a cpia da Mishneh
Torah, no primeiro ano mencionado, e a expulso definitiva dos judeus s ordens de D. Manuel I), que
fundamenta, ainda, com mais trs indcios que interessa referir: 1) a aparente precoce existncia das
tipografias hebraicas portuguesas, no conjunto europeu, testemunha o alto dinamismo literrio dos
judeus de Lisboa e a presena de um interessante pblico consumidor de livros na capital; 2) ao
analisar as cercaduras dos primeiros incunbulos hebraicos, a autora conclui que se encontram en
continuit directe avec les traditions calligraphiques et ornementales de la production manuscrite
immdiatement antrieure ou mme contemporaine (Sed-Rajna, 1970: 12), comprovando-se, assim, na sua
tica, a estreita colaborao entre os copistas e os tipgrafos hebraicos portugueses na transposio
do repertrio ornamental manuscrito para os primeiros livros impressos; 3) Sed-Rajna chama lia,
por fim, o conhecido receiturio portugus, escrito em caracteres hebraicos, O livro de como se fazem as
cores das tintas para iluminar (Parma, Biblioteca Palatina: Ms. Parma 1959) nico texto medieval
deste teor produzido em Portugal , como sinal quer do especial interesse dos judeus portugueses
pela arte de aluminar, quer do funcionamento de um relevante centro especializado de cpia e
iluminura que por aquele se guiava.
Na viso de Thrse Metzger que importa agora analisar , pelo contrrio, os manuscritos
portugueses caracterizam-se por uma impar heterogeneidade e independncia entre si, verificada,
particularmente, nos seus aspetos codicolgicos (desigualdades na qualidade do pergaminho e
divergncias quanto composio das pginas, aos sistemas de ordenao dos cadernos, etc.) e na
discrepante organizao e disposio do cnone bblico. No que diz respeito aos aspetos paleogrficos
destes manuscritos, em nada se distinguem da escrita dos copistas espanhis coevos, apresentando,
conforme sublinha a autora, uma escrita tipicamente sefardita, comum a toda a Pennsula Ibrica. ,
porm, a anlise da iluminura dos manuscritos portugueses que permite concluir por uma dominante
influncia dos modelos espanhis (no obstante Metzger reconhecer, tambm, o importante peso da
iluminura flamenga e italiana em algumas das cercaduras decorativas), apresentando, no entanto,
uma qualidade bastante inferior em relao queles. Esta situao de dependncia e aparente
inferioridade dos manuscritos portugueses perante os espanhis explicada pela crescente presena
de correligionrios castelhanos em Lisboa, no ltimo quartel do sculo XV (em princpio, em virtude
dos remanescentes, o perodo de maior intensidade da cpia manuscrita hebraica em Portugal), que
-
CADERNOS DE HISTRIA DA ARTE n.1 (2013)
61
aqui se refugiam perante o clima de insegurana e instabilidade que experimentam nos reinos dos
Monarcas Catlicos, particularmente depois do estabelecimento da Inquisio, em 1480, que veio
culminar na sua expulso definitiva em 1492.4 A precria situao social e econmica resultante deste
complexo contexto explica, segundo a historiadora, o carter mais pobre e desinteressante da
iluminura hebraica portuguesa no conjunto peninsular. Em causa fica a existncia de uma organizada
escola judaica em Lisboa, dedicada com especial veemncia e labor decorao e cpia de textos
hebraicos.
Aos indcios propostos por Sed-Rajna em favor da tese mencionada, Metzger contra-argumenta com
quatro proposies, em simetria aproximada, advogando outra perspetiva dos mesmos factos: 1)
quando comparada com a restante Europa, a tipografia hebraica portuguesa revela um tardio
funcionamento, pois os prelos hebraicos em Espanha e Itlia so-lhe anteriores; 2) nenhum indcio
permite inferir uma efetiva relao entre copistas e tipgrafos hebraicos quando se confrontam as
iluminuras e as gravuras dos incunbulos produzidos, que, no caso, por exemplo, de Eliezer Toledano
responsvel pelos primeiros prelos de Lisboa procedem diretamente da Espanha; 3) assiste-se,
assim, na comunidade judaica de Lisboa, no a uma profcua atividade literria e a um consumo
sistemtico de livros, mas, precisamente, o seu contrrio, como se depreende do facto das primcias da
arte tipogrfica portuguesa procederem de Faro, da oficina de Samuel Gacon, e no de Lisboa, em
cujos prelos se publicam, preferencialmente, textos e comentrios bblicos e no obras novas; 4)
finalmente, ao fundar a composio original do mencionado O livro de como se fazem as cores das tintas
para iluminar, no em Portugal, mas em Espanha, na segunda metade do sculo XV, Metzger
assegura que jamais pu tre la disposition des enlumineurs juifs de Lisbonne (Metzger, 1977: 6),
apresentando-se, por isso, como um documento marginal no contexto da produo de iluminura
hebraica naquela cidade.
Permanecem em aberto, neste sentido, duas relevantes questes, alm das que se referem existncia
da escola de Lisboa e apreciao da sua produo artstica: por um lado, importa ainda avaliar se
entre os manuscritos e os incunbulos hebraicos portugueses possvel estabelecer relaes, quer
quanto s tipologias dos seus caracteres (que Sed-Rajna afirma semelhantes), quer no que se refere ao
programa ornamental; por outro, o significado de O livro de como se fazem as cores das tintas para
iluminar no contexto da iluminura hebraica em Portugal poder ser melhor aclarado a partir do
confronto que permanece por realizar entre os dados revelados pela anlise qumica ao tipo de
pigmentos usados na iluminao dos manuscritos hebraicos e aqueles cuja confeo descrita no
receiturio.
Na dcada de oitenta, os estudos em torno dos manuscritos hebraicos portugueses prosseguem s
mos de conhecidos autores Bezalel Narkiss e Gabrille Sed-Rajna , apondo, cada um, novos
argumentos favorveis escola de Lisboa, que vem a ser reforada, ainda, com originais contributos
de Leila Avrin, quer analisando algumas das originais encadernaes de cinco manuscritos e de um
incunbulo hebraicos de Portugal, quer identificando dois novos manuscritos iluminados como
pertencentes a Portugal, at ento desconhecidos.
4 Esta teoria que se tornou clssica na historiografia portuguesa foi recentemente contestada por Franois Soyer (Soyer, 2007). Para o autor, Portugal apresenta-se, sobretudo, como um destino de passagem e no de fixao para os judeus castelhanos, quer no reinado de D. Joo II, quer no de D. Manuel I, aumentando, certo, a populao judaica de Portugal com a chegada dos castelhanos, mas no em nveis que permitam uma sua influncia considervel junto dos judeus portugueses ou conduzam a um fenmeno de desestabilizao social capaz de tornar as perseguies de 1497 inevitveis.
-
CADERNOS DE HISTRIA DA ARTE n.1 (2013)
62
Bezalel Narkiss publica, em colaborao com Aliza Cohen-Mushlin e Anat Tcherikover, um catlogo
dedicado aos manuscritos hebraicos, espanhis e portugueses, iluminados, que se encontram
guardados nas Ilhas Britnicas (Narkiss, Cohen-Mushlin e Tcherikover, 1982).5 O momento mais
singular deste estudo situa-se no captulo dedicado anlise de catorze manuscritos do final do sculo
XV, provenientes de distintas zonas da Pennsula Ibrica (La Corua, Crdova) e Norte de frica,
nos quais se reconhecem evidentes afinidades estilsticas com os manuscritos portugueses, sendo a
sua decorao designada, pelos autores, como hispano-portuguesa. Para Narkiss e suas
colaboradoras, a qualidade superior da iluminura hebraica portuguesa coloca aquele grupo na
dependncia dos manuscritos portugueses, e no o inverso.
A designao de iluminura hispano-portuguesa para este conjunto de manuscritos ser recusada,
porm, por Katrin Kogman-Appel, no seu estudo sobre as Bblias hebraicas medievais da Pennsula
Ibrica (Kogman-Appel, 2004), que contrape hiptese contrria, fundada em razes de ordem
cronolgica e estilstica: por um lado, notria a distncia temporal de produo dos dois grupos,
sendo os cdices datados do grupo hispano-portugus provenientes da dcada de 70 do sculo XV e
os manuscritos portugueses de finais da mesma centria; por outro, no reconhecendo a presena de
elementos italianos na iluminura daquele grupo situao que se verifica, igualmente, na iluminura
hebraica castelhana , ressalta a sua distncia em relao iluminura hebraica portuguesa onde a
influncia italiana constante. Kogman-Appel sugere, por isso, que o grupo de Narkiss encontra os
seus modelos na iluminura castelhana, e no na portuguesa, revelando-se imprpria, e mesmo
incorreta, a terminologia hispano-portuguesa para o definir.
Gabrille Sed-Rajna, ao editar, em facsmile, o primeiro dos trs volumes da Bblia de Lisboa no qual
considera definir-se, integralmente, e pela primeira vez, o programa decorativo da escola de Lisboa
aborda, com novos argumentos, a problemtica em torno da escola (Sed-Rajna, 1988). No estudo
introdutrio edio, aos argumentos j conhecidos, a autora acrescenta que o constante programa
iconogrfico e as profundas semelhanas estilsticas entre os manuscritos comprovam a sua feitura,
no do copista para seu prprio consumo como era apangio na produo do cdice hebraico mas
numa escola, estavelmente organizada, com mtodos idnticos e utenslios comuns, maneira dos
scriptoria cristos.
A hiptese da escola de Lisboa encontra novo argumento favorvel em dois estudos publicados no
mesmo ano por Leila Avrin que analisam as encadernaes de alguns manuscritos e de um
incunbulo hebraicos de Portugal, caracterizadas por uma original forma de caixa (Avrin, 1989a,
1989b). Segundo a autora, este tipo de encadernao surge, particularmente, nos manuscritos
hebraicos portugueses, desconhecendo-se a sua prtica em outros cdices hebraicos, cristos ou
rabes, entre os sculos XIII e XVI. Por esta razo, Avrin considera que a encadernao em caixa da
Bblia Kennicott I (Oxford, Bodleian Library: Kenniccot I) um dos mais interessantes manuscritos
bblicos sefarditas, com cpia realizada em La Corua, no ano de 1476 poder ter ocorrido na
oficina hebraica de Lisboa, hiptese, no entanto, que j recusara Bezalel Narkiss e Aliza Cohen-
Mushlin detetando este mesmo tipo de encadernao num manuscrito bblico copiado em Toledo em
1481 (Narkiss e Cohen-Mushlin, 1985).
O facto de esta tipologia se encontrar tambm num incunbulo hebraico de Lisboa abre a suposio
da continuidade desta tcnica entre os manuscritos e os incunbulos, s possvel atravs de uma
5 Devemos notar que esta obra essencial para o estudo dos manuscritos hebraicos portugueses guardados nas bibliotecas das Ilhas Britnicas foi recenseada, em Portugal, por Manuel Augusto Rodrigues (Rodrigues, 1983: 75-78).
-
CADERNOS DE HISTRIA DA ARTE n.1 (2013)
63
colaborao entre os encadernadores. A Leila Avrin se deve ainda a identificao de mais dois
manuscritos hebraicos iluminados de Portugal: os Aforismos Mdicos de Hipcrates (Nova Iorque,
Jewish Theological Seminary of America: Ms. Mic. 8241) e um siddur (Jerusalm, Ben-Zvi Institute:
Ms. 2048), ao qual dedica um estudo mais demorado (Avrin, 1998).
Sculo XXI
No conjunto dos manuscritos hebraicos portugueses destaca-se, tambm, um pequeno ncleo
aljamiado, ou seja, escrito em lngua portuguesa com caracteres do alfabeto hebraico. O seu estudo
esteve, particularmente, no centro das atenes de Devon L. Strolovitch, que lhes dedicou a sua
dissertao de doutoramento (Strolovitch, 2005). Ao analisar o processo empreendido pelos escritores
hebraicos de Portugal para produzir estes textos, Strolovitch conclui que o sistema de escrita que
neles se observa, mais do que uma simples transcrio fontica, deve ser entendido como uma
original adaptao da escrita hebraica ao portugus medieval. Esta adaptao, na sua perspetiva, no
surgindo de uma assentada, apresenta-se como o resultado de um processo lento de maturao das
comunidades hebraicas e revela, de forma irrefutvel, a perfeita integrao dos judeus na comunidade
lingustica portuguesa. Gerold Hilty e Colette Sirat defendem, porm, posio contrria, ao
considerarem que, apesar de na sua comunicao diria os judeus se servirem do
portugus,lutilisation des caracteres hbraques peut mme tre interprte comme une sorte
dautomarginalisation, car les textes en caracteres hbraques taient illisibles pour les chrtiens (Hilty e Sirat,
2006: 104). Desta posio nos afastamos radicalmente, pois, como atesta Strolovitch, o corpus judeo-
portugus, representando uma hebraicizao do portugus, significa, no uma autoexcluso, mas
sobretudo, uma convivncia da lngua e da escrita no seio das comunidades judaicas de Portugal.
Os mais recentes estudos em torno do assunto que nos ocupa devem-se, em especial, a investigadores
nacionais essencialmente focados na anlise do receiturio O livro de como se fazem as cores das tintas
para iluminar , testemunho de um despertar da conscincia para a importncia singular da iluminura
hebraica no captulo da histria da arte tardo-medieval em Portugal. O interesse por este receiturio
prende-se, pois, com o facto de se apresentar como o nico texto medieval portugus que se ocupa
dos materiais e das tcnicas utilizadas na iluminura, e um dos de primeira ordem no contexto da
histria da arte judaica.
Destacamos, neste particular, o estudo de Dbora Matos, apresentado como dissertao de mestrado,
que analisa, no apenas aquele texto tcnico, mas o inteiro volume onde se encontra, o Ms. Parma
1959 (Matos, 2011). Focando-se nos aspetos codicolgicos, paleogrficos e histrico-artsticos deste
manuscrito, a autora conclui que este , na sua maioria, obra de um mesmo escriba (Abraham ibn
Hayyim), com cpia em Loul, em 1462, a partir de um trabalho de compilao de material annimo,
prvio e disperso, esforo que considera poder ser, possivelmente, justificado no contexto de uma
intensa produo de iluminura entre os judeus portugueses naquela centria. Neste mesmo estudo,
Matos amplia significativamente a lista de manuscritos hebraicos atribudos a Portugal, identificando
cerca de cinquenta e oito volumes, dispersos por vrias bibliotecas estrangeiras, razo pela qual nem
todos se encontrem perfeitamente confirmados (Tabela 4). A investigao de Dbora Matos e o
reconhecimento de um nmero considervel de manuscritos hebraicos portugueses levanta, mais uma
vez, a questo da possvel atividade de um centro organizado de cpia e iluminura em Lisboa, na
segunda metade do sculo XV, que s um renovado olhar sobre aqueles manuscritos permitir
aclarar.
-
CADERNOS DE HISTRIA DA ARTE n.1 (2013)
64
Bibliografia
ABOAB, Immanuel Nomologias o Discursos Legales, compostos por el virtuoso Haham Rabi Immanuel Aboab de buena memoria, estampados a costa, y despeza de sus herederos, en el ao de la creacin. [Amesterdo]: 5389 [1629].
AFONSO, Lus Urbano (ed.) The Materials of the Image. As Matrias da Imagem. Lisboa: Ctedra de Estudos Sefarditas Alberto Benveniste da Universidade de Lisboa, 2011.
AFONSO, Lus Urbano, CRUZ, Antnio Joo, MATOS, Dbora O livro de como se fazem as cores or a medieval Portuguese text on the colours for illumination: a review. In CORDOBA, R. (ed.). Craft Treatises and Handbooks. The Dissemination of Technical Knowledge in the Middle Ages. Turnhout: Brepols Publishers [no prelo].
AMZALAK, Moses Bensabat A Tipografia Hebraica em Portugal no Sculo XV. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1922.
ANSELMO, Artur Origens da Imprensa em Portugal, Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1981.
AVRIN, Leila The Sephardi Box Binding. In SCHIDORSKY, Dov (ed.). Scripta Hierosolymitana. Library, Archives and Information Studies, v. XXIX. Jerusalm: Magnes Press, 1989a, pp. 27-43.
__________ The Box Binding in the Klau Library Hebrew Union College. In Studies in Bibliography and Booklore. 17 (1989b), pp. 26-35.
__________ The Ben-Zvi Institute Siddur. In Studies in Bibliography and Booklore. 20 (1998), pp. 25-42.
BEIT-ARI, Malachi A propos des manuscrits hbreux de Lisbonne. In Revue des tude Juives. 130 (1971), pp. 311-315.
DE ROSSI, Giovanni Bernardo MSS. Codices Hebraici Biblioth. I. B. De-Rossi accurate ab eodem descripti et illustrate. Parma: 1803.
GUTMANN, Joseph Hebrew Manuscript Painting. New York: G. Braziller, 1978.
HILTY, Gerold. SIRAT, Colette Le Judo-Portugais Une langue marginalise? In MENDES MARILLIA (ed.). De Marginales y Silencios. Homenaje a Martin Lienhard. Madrid: 2006, pp. 96-116.
KENNICOTT, Benjamin Dissertatio Generalis in Vetus Testamentum Hebraicum. Oxford: 1780.
KOGMAN-APELL, Katrin Jewish Book Art between Islam and Christianity. The Decoration of Hebrew Bibles in Medieval Spain. Leiden: Brill, 2004.
LEVEEN, Jacob The Hebrew Bible in Art. Londres: Oxford University Press, 1944.
MATOS, Dbora The Ms. Parma 1959 in the context of portuguese hebrew illumination. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2011. (Tese de mestrado).
METZGER, Thrse Les Manuscrits Hbreux copis et dcors Lisbonne dans les dernires dcennies du XVe sicle. Paris: Fundao Calouste Gulbenkian, 1977.
__________ La masora ornementale et le dcor calligraphique dans les manuscrits hbreux espagnoles au moyen age. In La palographie hbraique medieval (Colloques internationaux du CNRS, n. 547). Paris: 1974, pp. 87-116.
NARKISS, Bezalel Hebrew Illuminated Manuscripts. Jerusalm: Encyclopedia Judaica, 1969.
NARKISS, Bezalel, COHEN-MUSHLIN, Aliza, TCHERIKOVER, Anat Hebrew Illuminated Manuscripts in the British Isles. The Spanish and Portuguese Manuscripts. Jerusalem: Israel Academy of Sciences and Humanities London: British Academy, 1982.
NARKISS, Bezalel, COHEN-MUSHLIN, Aliza The Kennicott Bible. An Introduction. Londres: Facsimile Editions, 1985.
PEIXEIRO, Horcio A iluminura portuguesa dos sculos XIV a XV. In YARZA, Joaqun (ed.). La miniatura medieval en la Pennsula Ibrica. Murcia: Nausca, 2007, pp. 145-192.
__________ A iluminura portuguesa nos sculos XIV e XV. In MIRANDA, Maria Adelaide (ed.). A Iluminura em Portugal. Identidades e Influncias (do sc. X ao XVI). Lisboa: Biblioteca Nacional, 1999, pp. 289-299.
REMDIOS, Mendes dos Os Judeus em Portugal. II. Coimbra: F. Frana Amado, 1928.
__________ Uma Bblia hebraica da Bibliotheca da Universidade de Coimbra. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1903.
RIBEIRO DOS SANTOS, Antnio Memrias da Litteratura Sagrada dos Judeos Portuguezes desde os primeiros tempos da Monarquia at os fins do Sculo XV. In Memrias da Litteratura Portugueza publicadas pela Academia das Sciencias de Lisboa, II. Lisboa: Academia das Sciencias de Lisboa, 1792, pp. 236-312.
RODRIGUES, Manuel Augusto Hebrew Illuminated Manuscripts in the British Isles. The Spanish and Portuguese Manuscripts. Mundo da Arte, 16 (Dezembro de 1983), pp. 75-78.
-
CADERNOS DE HISTRIA DA ARTE n.1 (2013)
65
SED-RAJNA, Gabrille Lisbon Bible 1482. Facsmile: British Library Or. 2626. Tel-Aviv: Nahar-Miska London: British Library, 1988.
__________ Manuscrits Hbreux de Lisbonne. Un atelier de copistes et denlumineurs au XVe sicle. Paris: Centre Nacional de Recherche Scientifique, 1970.
__________ Le Pautier De Bry. In Revue des tudes Juives. 124 (1965), pp. 375-387.
SOYER, Franois The Persecution of the Jews and Muslims of Portugal. King Manuel I and the End of Religious Tolerance (1496-7). Leiden: Brill, 1997.
STROLOVITCH, Devon Old Portuguese in Hebrew Script: convention, contact and convivncia. Ithaca: Faculty of the Graduate School of Cornell University, 2005. (Tese de doutoramento).
TAHAN, Ilana Hebrew Manuscripts. The Power of Script and Image. Londres: The British Library, 2007.
THE HISPANIC SOCIETY OF AMERICA Facsimiles from an Illuminated Hebrew Bible of the Fifteenth Century in the Library of The Hispanic Society of America. New York: The Hispanic Society of America Fundao Calouste Gulbenkian, Facsimile Series, n 2, 1993.
-
CADERNOS DE HISTRIA DA ARTE n.1 (2013)
66
Tabela 1 Manuscritos identificados por Antnio Ribeiro dos Santos (1792) Nr
Data
MS Contedo Origem Escriba
Comitente
Material Cidade; Bibl. Ident.
1
1346
Parma, Bibl. Rossi
75
Bblia
Guarda
perg
2
1410
Berna, Bibl. Pblica
Hagigrafos
Lisboa Samuel ben Yom Tov
perg
3 1469 Parma, Bibl.
Rossi
Pentateuco com Haftarot e Megillot
Lisboa
Samuel de Medina
perg
4 1470 Parma, Bibl.
Rossi
Profetas Posteriores
Lisboa Jason ben
Jos perg
5 1473 Parma,
Real Bibl.
Pentateuco e Haftarot
Lisboa Samuel de
Medina perg
6 1480 Pentateuco com
Haftarot e Megillot
Lisboa Moiss ben
Jacob Samuel
Abravanel perg
7 1495 Florena, Bibl.
Carmelitas de S. Paulo
1085 Pentateuco e Hagigrafos
vora Isaac ben
Isaas perg
8 1495 Roma Saltrio Lisboa
9 Sculo
XV Bblia Lisboa
10 Coleo de
Lindano Saltrio
-
CADERNOS DE HISTRIA DA ARTE n.1 (2013)
67
Tabela 2 Manuscritos identificados por Gabrille Sed-Rajna (1970)
Nr Data MS
Contedo Origem Escriba Comitente fls Mat Cidade; Bibl. Ident.
1 1472 Londres, British
Museum
Harley MS. 5698-5699
Mishneh Torah de Maimnides
Lisboa Salomon Ibn
Alzuq
Joseph ben David ben
Salomon Ibn Yahya
736 perg
2 1482 Londres, British
Museum
Or. MS. 2626-2628
Bblia Lisboa Samuel ben Samuel Ibn
Musa
Joseph ben Jehuda Alhakim
643 perg
3 1484 Paris, BnF MS. hbreu
592 Siddur Lisboa
Eleazar ben Moshe Gagosh
Isaac ben Yeshaya HaCohen
443 perg
4 1469 Parma, Bibl.
Palatina MS. Parma
2764
Pentateucocom Haftarot e
Megillot Lisboa
Samuel de Medina
Jacob Cohen ben Jonah
Cohen 309 perg
5 1473 Parma, Bibl.
Palatina MS. Parma
677 Pentateuco e
Haftarot Lisboa
Samuel de Medina
Gedalya ben Joseph Walid
304 perg
6 1475 Cincinnati,
Hebrew Union College
MS. 2 Pentateuco
com Haftarot e Megillot
Lisboa Samuel ben Samuel Ibn
Musa 296 perg
7 1490 Oxford, Balliol
College MS. 382 Bblia Lisboa
Samuel de Medina
Jehuda ben Gedalya Inb
Yahya 444 perg
8 1496 Roma,
Sinagoga Central
MS. 18 Pentateuco
com Haftarot e Megillot
Lisboa Abraham ben
Elyahu Roman 304 perg
9 1469 Parma, Bibl.
Palatina MS. Parma
2698 Profetas Lisboa
Sasson ben Joseph Job
Isaac ben Jehuda Tibuba
176 perg
10 1495 Vaticano, BAV Cod. Ebr.
473 Saltrio Lisboa Isaac Sarfati Moseh ben Isaac 134 perg
11 1484 Paris, BnF MS. hbreu
222
Comentrio ao Pentateuco de
Moseh Nahaman
Lisboa Joseph Sarfati
ben Sasson Sarfati
Jehuda Eli 305 papel
12 1487 Londres, British
Museum
OR. MS. 1045
Sefer Mikhol de David Qimhi
Lisboa Samuel Adrotil
Joseph Ibn Yahya
120 perg
13 1487 Oxford, Bodl.
Lib. MS.
Marshall 12
Comentrio tica a
Nicmaco por Joseph ben Shemtob
Lisboa Elezar ben
Moseh Gagosh
333 papel e perg
14 Fim
sc. XV Paris, BnF
MS. hbreu 15
Bblia [Lisboa] - Florena
525 perg
15 Fim
sc. XV
Jerusalm, Bibliot.
Schocken MS. 12827 Hagigrafos [Lisboa] 68 perg
16 Fim
sc. XV
NI, Hispanic Society of America
MS. B. 241 Bblia [Espanha-Portugal]
588 perg
17 Fim sc.
XV
Londres, British
Museum
Add. MS. 27167
Pentateuco, com Megillot e
Haftarot [Lisboa] 464 perg
18 Fim
sc. XV
Londres, British
Museum
Add. MS. 15283
Pentateuco com Haftarot e
Megillot [Lisboa] 265 perg
19 Fim sc.
XV Oxford, Bodl.
Lib. MS. Bodl. Or. 414
Bblia [Espanha
ou Portugal]
645
Perg
-
CADERNOS DE HISTRIA DA ARTE n.1 (2013)
68
20 Fim
sc. XV Vaticano, BAV
Cod. Ebr. 463
Saltrio [Lisboa] 218 perg
21 Fim
sc. XV
Jerusalm, Bibliot.
Universitria
MS. Heb. 8 844
Siddur [Lisboa] 392 perg
22 Fim
sc. XV Oxford, Bod.
Lib. MS. Bodl. Or. 614
Pentateuco [Espanha
ou Portugal]
253 perg
23 Fim
sc. XV NI, Coleo J.
Michael Saltrio de
Bry Saltrio
[Espanha ou
Portugal] 196 perg
-
CADERNOS DE HISTRIA DA ARTE n.1 (2013)
69
Tabela 3 Manuscritos identificados por Thrse Metzger (1977)
Nr Data MS
Contedo Origem Escriba Comitente fls Mat Cidade; Bibl. Ident.
1 1472 Londres, British
Museum Harley MS. 5698-5699
Mishneh Torah de Maimnides
Lisboa Salomon
Ibn Alzuq
Joseph ben David ben
Salomon Ibn Yahya
736 perg
2 1482 Londres, British
Museum Or. MS.
2626-2628 Bblia Lisboa
Samuel ben
Samuel Ibn Musa
Joseph ben Jehuda
Alhakim 643 perg
3 1484 Paris, BnF MS. hbreu
592 Siddur Lisboa
Eleazar ben Moshe
Gagosh
Isaac ben Yeshaya HaCohen
443 perg
4 1469 Parma, Bibl.
Palatina MS. Parma
2764
Pentateucocom Haftarot e Megillot
Lisboa Samuel de
Medina
Jacob Cohen ben Jonah
Cohen 309 perg
5 1473 Parma, Bibl.
Palatina MS. Parma
677 Pentateuco e
Haftarot Lisboa
Samuel de Medina
Gedalya ben Joseph Walid
304 perg
6 1475 Cincinnati,
Hebrew Union College
MS. 2 Pentateuco com
Haftarot e Megillot
Lisboa
Samuel ben
Samuel Ibn Musa
296 perg
7 1490 Oxford, Balliol
College MS. 382 Bblia Lisboa
Samuel de Medina
Jehuda ben Gedalya Inb
Yahya 444 perg
8 1496 Roma, Sinagoga
Central MS. 18
Pentateuco com Haftarot e Megillot
Lisboa Abraham ben
Elyahu Roman
304 perg
9 1469 Parma, Bibl.
Palatina MS. Parma
2698 Profetas Lisboa
Sasson ben Joseph Job
Isaac ben Jehuda Tibuba
176 perg
10 1495 Vaticano, BAV Cod. Ebr.
473 Saltrio Lisboa
Isaac Sarfati
Moseh ben Isaac
134 perg
11 1484 Paris, BnF MS. hbreu
222
Comentrio ao Pentateuco de
Moseh Nahaman
Lisboa
Joseph Sarfati ben
Sasson Sarfati
Jehuda Eli 305 papel
12 1487 Londres, British
Museum OR. MS.
1045 Sefer Mikhol de David Qimhi
Lisboa Samuel Adrotil
Joseph Ibn Yahya
120 perg
13 1487 Oxford, Bodl.
Lib. MS. Marshall
12
Comentrio tica a Nicmaco por Joseph ben
Shemtob
Lisboa Elezar
ben Moseh Gagosh
333 papel e perg
14 Fim
sc. XV Paris, BnF
MS. hbreu 15
Bblia [Lisboa] - Florena
525 perg
15 Fim
sc. XV
Jerusalm, Bibliot. Schocken
MS. 12827 Hagigrafos [Lisboa] 68 perg
16 Fim
sc. XV
NI, The Hispanic Society of America
MS. B. 241 Bblia [Espanha-Portugal]
588 perg
17 Fim sc.
XV Londres, British
Museum Add. MS.
27167
Pentateuco, com Megillot e Haftarot
[Lisboa] 464 perg
18 Fim
sc. XV Londres, British
Museum Add. MS.
15283
Pentateuco, com Haftarot e Megillot
[Lisboa] 265 perg
19 Fim sc.
XV Oxford, Bodl.
Lib. MS. Bodl. Or. 414
Bblia [Espanha
ou Portugal]
645 perg
-
CADERNOS DE HISTRIA DA ARTE n.1 (2013)
70
20 Fim
sc. XV Vaticano, BAV
Cod. Ebr. 463
Saltrio [Lisboa] 218 perg
21 Fim
sc. XV
Jerusalm, Bibliot.
Universitria
MS. Heb. 8 844
Siddur [Lisboa] 392 perg
22 Fim
sc. XV Oxford, Bod. Lib.
MS. Bodl. Or. 614
Pentateuco [Espanha
ou Portugal]
253 perg
23 Fim
sc. XV NI, Coleo J.
Michael Saltrio de
Bry Saltrio
[Espanha ou
Portugal] 196 perg
24 1485 Oxford, Bod. Lib. Ms. Can. Or.
108 Siddur [Lisboa] 318 perg
25 1480-1490
Parma, Bibl. Palatina
MS. Parma 2951
Pentateuco (frag.)
[Lisboa] 53 perg
26 1462-1480
Copenhaga, Bibl. Real
Cod. Hebr. III-IV
Bblia [Lisboa] perg
-
CADERNOS DE HISTRIA DA ARTE n.1 (2013)
71
Tabela 4 Manuscritos identificados por Dbora Matos (2011)
Nr Data MS
Contedo Origem Escriba Comitente fls Mat Cidade; Bib. Ident
1 1278 Oxford, Bod.
Lib. Can. Or. 67 Gramtica Lisboa
Yitzhak Yosef Zarco
234 perg
2 1284-85 Munich,
Muenchen Bayerische Sta.
Heb. 142 Gramtica Seia
Natan ben Avraham b.
Yosef Alalongo(?)
202 perg
3 1346 Parma, Bibl.
Palatina Parma 2705
Comentrio bblico
Guarda
Yosef bem Yizhak ben
Yosef Delouiah/Dalv
iah
Isaac haLevi b. Yosef ibn
Turiel 263 perg
4 1374 S. Petersburgo,
Or. Institute C 21 Cincias
Santiago do Cacm (?)
Sar Shalom ben Moshe
Shalom Melion 151
perg e papel
5 1390 NI, JTS Rab. 1512 Halakhah e
midrash Setbal (?) 167 papel
6 1398 Paris, BnF Hebr. 215 Filosofia e
Cabala Torres Vedras
Yosef ben Gedaliah Franco
Para si prprio
271 perg
7 1401-1450
Coimbra, Bibl. Univ.
135 Bblia Abravanel (?) perg
8 1409 Berna,
Bugerbibliothek
343 Bblia Lisboa
Samuel ben Yom Tov
Alzaig
Moiss 46 perg
9 1411 Oxford, Bod.
Lib. Laud. Or.
310 Cincias
Yosef ben Gedaliah Franco
251 papel
10 1391-1415
Oxford, Bod. Lib.
Bodl. Or. 5 Liturgia Lisboa (?) Samuel ben Yom Tov
Alzaig
Yitzhak Nehemia(s)
85 perg
11
1423-1488
Parma, Bibl. Palatina
Parma 1959 Compilao Loul Abraham ibn
Hayyim Para si prprio
211 papel
12 1451-1500
Vaticano, BAV Cod. Vat. Ebr. 372
Cincias Yosef Catilan Para si prprio
92 papel
13 1462-1480
Copenhaga, Royal Library
Cod. Hebr. III-IV. Vol. II = Hebr.
IV; fols. 221v-222r
Bblia San Felices
[de los Galegos]
Isaac Franco perg (?)
14 1465-1492
NI, JTS
Micr. 8235; Jerusalem
Rab. Sasson Coll. 59
Liturgia [Portugal] 225 perg
15 1465-1492
Cambridge, Univ. Lib.
Add. 541 Liturgia [Espanha] perg
16 1467 Haverford
Coll. Hav. 10 Bblia Elvas
Samuel Alfaroni (?)
Moshe ben Avraham
Caldas 2 perg
17 1469 Parma, Bib.
Palatina MS. Parma
2674 Bblia Lisboa
Samuel de Medina
Jacob Cohen ben Johan
Cohen 309 perg
18 1469 Parma, Bib.
Palatina MS. Parma
2698 Bblia Lisboa
Sasson ben Joseph ibn Job
Isaac ben Jehuda Tibuba
176 perg
19 1470 Oxford, Bod.
Lib. Can. Or. 42 Bblia Moura
Samuel b. Avraham
Altires
Yitzhak ben Gabbay
perg
-
CADERNOS DE HISTRIA DA ARTE n.1 (2013)
72
20 1472 Londres, British
Museum
Harley 5698-5699
Bblia Lisboa Salomon Ibn
Alzuq
Yoseph ben David ben
Gedaliah ibn Yahia
737 perg
21 1473 Parma, Bib.
Palatina MS. Parma
677 Bblia Lisboa
Samuel de Medina
Gedalya ben Joseph Walid
304 perg
22 1473 Rssia,
Moscovo Guenzburg
926 Compilao Lisboa
Ezra ben Shlomo
Moshe ben Avraham Hayyun
176 papel
23 1475 NI, JTS 3167 Literatura e
poesia Lisboa
Yoseph ben Moshe Hayyun
11 papel
24 1475 Cincinatti,
HUC 2 Bblia Lisboa
Samuel b. Samuel ibn
Musa
Moshe ben Raphael
239 perg
25 1475-1492
Oxford, Bod. Lib.
Bodl. Or. 614 Bblia [Espanha] perg
26 1475-1492
NI, J. Michael Coll.
Saltrio de Bry
Saltrio [Espanha] perg
27 1476 Parma, Bib.
Palatina MS. Parma
1712 Bblia Lisboa
Samuel b. Samuel ibn
Musa 272 perg
28 1478 Jerusalm, NLI Hebr. 8
4013 Cincias Leiria 229 perg
29 1480 Paris, BnF Hbr. 15 Bblia [Lisboa] perg
30 1480-1485
NI, HSA B 241 Bblia [Espanha-Portugal]
perg.
31 1480-1485
Londres, British Lib.
Add. 27167 Bblia [Lisboa] perg
32 1480-1485
Londres, British Lib.
Add. 15283 Bblia [Lisboa] perg
33 1480-1485
Oxford, Bod. Lib.
Bodl. Or. 414 Bblia
[cop. Espanha ?;
dec. Lisboa]
perg
34 1480-1485
Vaticano, BAV Cod. Vat. Ebr. 463
Bblia [Lisboa] perg
35 1480-1485
Jerusalm, NLI Heb. 8 844 Liturgia [Lisboa] perg
36 1480-1485
NI, JTS ENA 1991
L 80 Bblia [Lisboa] perg
37 1480-1490
Jerusalm, Schocken Inst.
12827 Bblia [Lisboa] perg
38 1480-1490
Parma, Bibl. Palatina
MS Parma 2951
Bblia 53 perg
39 1481 Cambridge UL Add. 503 Halkhah e midrash
Faro Efraim Karo 389 papel
40 1482 Londres, British
Museum
Or. 2626-2628
Bblia Lisboa Samuel bem Samuel ibn
Musa
Joseph ben Jehuda
Alhakim 643 perg
41 1484 Paris, BnF Hbr. 592 Liturgia Lisboa Eleazar ben
Moshe Gagosh
Isaac ben Yeshaya HaCohen
443 perg
42 1484 Paris, BnF Hbr. 222 Comentrio
Bblico Lisboa
Yoseph ben Sasson Sarfati
Yehuda ben Moshe Eli
305 papel
43 1484-1485
Oxford, Bod. Lib.
Can. Or. 108 Liturgia Lisboa 300 perg
44 1484-96
Jerusalm, Ben-Zvi Institute
Ms. 2048 Liturgia perg
-
CADERNOS DE HISTRIA DA ARTE n.1 (2013)
73
45 1487 Londres, British
Museum Or. 1045 Gramtica Lisboa Samuel Adrotil
Yoseph ibn Yahya
120 perg
46 1487 Oxford, Bod.
Lib. Marshall Or.
12 Filosofia e
cabala Lisboa
Eleazar ben Moshe Gagosh
232 papel
47 1489 Paris, BnF Hbr. 420 Halakhah e
Midrash Faro
Menshe(?)/ Moshe ben Benyamin
Yakov ibn Nehemias
418 papel
48 1489 Londres,
British Libr. Or. 6363
Halakhah e Midrash
Lisboa Samuel Adrotil Nacim ben
Yoseph Vivas
71 perg e papel
49 1489 Florena, Bibl. Laurenziana
Plut. 88.27 Cincias,
Filosofia e Cabala
Lisboa Nacim ben
Yoseph vivas
para si prprio
3 perg e papel
50 1490 Oxford, Balliol
College 382 Bblia Lisboa
Samuel de Medina
Yehuda ben Gedalya ibn
Yahya
442 perg
51 1491-1494
Zurich, Braginsky (Coleo Privada)
243 Bblia Ocana
(Espanha) e vora
Yitzhak ben Yishay ben
Sasson
Abraham ben Yaakov ben
Tsadok perg
52 1494 Aberdeen, UL 23 Bblia Yitzhak ben
David Balansi
Joseph ben Jaakov Alvileia
53 1495 Vaticano, BAV Cod. Vat. 473 Bblia Lisboa Moshe ben
Yitzhak Isaac Sarfati
(?) perg
54 1496 Florena, Bibl. Laurenziana
Gadd. 158 Cincias Porto Yosef ben Avraham Clomiti
para si prprio
242 papel
55 1496 Rssia,
Moscovo, RSL Guenzburg
662 Bblia Lisboa (?)
Samuel ben Samuel ibn
Musa
Avraham ibn Dicomin/Ric
omin (?)
56 1496 Roma,
Comunidade Israelita
18 Bblia Lisboa Abraham
bem Elyahu Roman
perg
57 NI, JTS Micr. 8241 Cincias
58 Jerusalm,
Schocken Inst. MS. 24350 Bblia