A Ideologia Alema 1

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K, M ARX

F. GELS

A IDE'O LOGIA

ALEMA(I - Feuerbach)

Traducao de

Jose Carlos Bruni c

M arc o A ure lio N og ue ira

Quinta Edi~ao

S B D·F FLCH -U S P

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I ~ I I ~ I I J II35615

EDITORA HUCITEC

Sao Paulo, 1986

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Traduzido do original alernao Die deutsche ldeologie. Krlilk derneuesten deutschen Phllosophie ill tnren Reprasentanten Fueuerbach,B. Baller und Stirner, und des deuischen Sozialismus in seinen yers~

chiedenen Propheten. Dietz Verlag, Berlin, 1973 (Karl Marx-FriedrichEngels Werke, Band 3). D ireitos de traduciio e de edi!;ao reservadospela Editora de Hurnanisrno, Ciencia e Tec nologia "Hucitec" Ltda.,Rna Comendador Eduardo Saccab, 342-344 04602 Sao Paulo, Bra si l.Telefone: (Oil) 61-6319.

tNDICE

ESCLARECIMENTO .

Karl Marx. Teses sabre Feuerbach .

Karl Marx/Friedrich Engels. A IDEOLOGIA

ALEMJI. .Capa e diagramacao das paginas de abertura deClaus P. Be rgner

Revisao, diagramacao e supervisao grafica do texto de

Jose Roberto JunqueiraPretacio

Feuerbach. A oposiciio entre a concepciiomaterialista e a uiealista ( lntroduq{io) ....

A. A Ideologia em Geral, Especialmente a

Alema , .

1. Histcrta .2. Sobre a producao da consciencia .

B. A Base Real da Ideologia .

1. Intercambio e torca produtiva .2. A.relagao do Estadoe do Direito comapropriedade .

3. Formas de propriedade e instrumen-tos de producao naturais e civfl izados

Esta traduo;:ii.ofoi editada origiualmente (pr imeira , segunda e terceiraedi90es) pe la Livraria Edi to ra Ciencias Hurnanas Ltda ., deSa o Paulo.

C. Comunismo. A Prcducso da Propria For-ma de Intercambto 110

ANEXOS

Teses Sobre Feuerbach .... 125

A Ctmstrucdo Heqeliana da

Fenomenologia 129

Esbaqo Para um Traba.lhoSabre a Estado Maderno .. 130

4. Karl Marx. Sabre Feuerbach . . . . . . . . .. 1325. Karl Marx. Do Manuscrito. I - Feuer-

bach 133

6. Friedrich Engels. Feuerbach 135

1. Karl Marx.

2. Karl Marx.

3. Karl Marx.

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Tudo isso teria ocorrido nos dominios do pensa-

mento puro *.

'I'rata-se, certamente, de acontecimento plena de

interesse: 0 processo de deeomposieao do espirito

absoluto =. Desde que se extinguiu a ultima chama

de vida, os varies elementos desse caput mortuum 1

entraram em decornposicao, formando novas cornbi-

nag5es e constitumdo-se em novas substancias, Os

mdustriais da filosofia, que ate entao haviam vivido

da exploracao do espirito absolute, lancaram-se entao

a novas combinaeoes, eada um se dedicava a explo-

rar, com zelo inaudito, a negocio da parte que lhe

coubera par sorte. Mas isto nao poderia se dar sem

concorrencia. Inicialmente, tal concorrencia foi can-

duzida de maneira burguesa e s6lida. Depois, quando

o mercado alemao encontrou-se abarrotado e, apesar

dos estorcos, a mercadoria nao encontrava saida no

mercado mundial, as neg6cios comecaram a se date-

riorar, como e comum na Alemanha, par forca da

producao fabril adulterada, da alteracao da qualida-de, da sotisticacao da materia-prima, da falsificagao

dGS rotulos, das compras simuladas, dos cheques gi-

rando a descoberto e de urn sistema de creditos carente

de toda base real. Essa concorrencta culminou numa

luta encamicada, que hoje nos e apresentada e exal-

tada como uma revolucao nistortco-muncnal e como

a produtora de conquistas e resultados prodigiosos.

~ [Suprimid 0 no rnanuscrito: I0 mundo exterior profane, na IU-

ralmente, nada soube disso, pois esse acontecimento que abalou 0

mundo nao se dessnrolou no fundo seriao no processo de decompo-

s i!r ao d o espirito absolute.

H[Suprimido no rnanuscrito: I0 critico, este anunciad or de

casamentos e de fune ra ls na o podia natur a lmsnte e star ausente, e le

que, como residue das grandes guerras de llbertacfio, se [ ... J

1. Literalrnente, "cabeca mona"; termo uiilizado em quimicn

para designar 0 reslduo de destilacao; aqui: re stos, re siduos . (N.

dos T.)

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Mas, para apreciar em seu justo valor essa gri-

taria de nlosotos-comerciantes que, mesmo no intima

do honesto burgues alemao, desperta urn agradavel

sentimento nacional; para dar uma ideia clara da

pequenez, da Ilmttacao lccat ", de todo este movimento

neo-hegeliano e, especialmente, do eontraste tragi-

cornice entre as proezas reais de tais her6ise as ilu-

sees suscitadas em torno delas - e necessario exam i-

nar, ao rnenos uma vez, todo esse espetaculo de urn

ponto de vista situado f-ora da Alemanha **.

A. A ldeologia em Ceral, Especialmente

a Alemii ***

Ate em seus ultimos estorcos, a critica alema nao

abandonou 0 terreno da ftlosona. Longe de examinar

seus pressupostos filas6fieos gerais, todas as suas ques-

t6es brotaram de um sistema fiIos6fieo determinado, 0

sistema hegeliano. Nao apenas em suas respostas, mas[a nas pr6prias questoes, havia uma mistitlcacao. Essa

dependencia de Hegel e a razao pela . qual nenhum

* [Supri rn ido no manuse ri to: 1 (e nac icna l. )

H [Suprirnido no rna 11uscriio: 1 Por isto, antes de entrar na

crf tica especia l dos diversos representantes deste movimento, farernos

a lgumas cons ide racoes gera is. Estas cons ide racces se rao suficientes

para caracter izar 0 pontO de vista de nossa cririca, na rnedida em

que isto seja necessario para a com preensao e fundarnentacfio das

c ri tica s individua ls subseqi lentes , Contrapornos e stas cons ide racces a

Feuerbach em especia l porque este e 0 unico que fez ao r ne no s a lg ur n

progresso e cujos escritos podem ser examinados de bonne [oi [de boa

ee l Ta is cons ideracoes e sc la rece rj io rne lhor os pressupos tos ideolo-

gicos cornuns a tcdos eles,

*H [Suprimido no manuscritc] 1 A ideo/agio em geral, es-

pecialmente a lilosoito alemii.

Conhecernos apena s uma tinica ciencia, a ciencia da historia. A

historia pede ser exarni nada sob dois aspectos: historia d a nat ureza

e hisroria dos hornens. Os dois a spectos , con tudo , nao sao sepa rave is ;

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uesses novas criticos tentou uma critica de conjuntodo sistema hegeltano, emcora cada urn deles afirmeter ultrapassado HegeL Suas polemicas contra Hegele entre eles a isto se hmltam: cada qual isola urn

aspecto do sistema hsgeliano, dmgindo-o, ao mesmotempo, contra a sistema inteiro e contra as aspectos

isolados pelos outros, lnicialmente, tomam-se cate-gorias hegelianas pur as , tsentas de falsificagao, taiscomo as de substancia e autoconsclencia, depots,

profanam-se as categorias com names mats munda-nos, tais como as de Genera, 0 trnico, a Homem etc.

Toda a critic a filos6fica alema de Strauss a Stir-ner Itmrta-se a eritica das representacfies religiosas ".

Partia~se da religlao real e da verdadeira teologla,Aquila que se entendia por consciencia religtosa, par

representacao religiosa, fol posteriormente determi-nado de dtterentes formas. 0 progresso consistia emsubsumir tambem a esfcra das representacfies reli-

giosas ou teo16gicas as rspresentacoes metafisicas, po -Iiticas, juridlcas, marais e outras, consideradas pre-dommantes: do mesmo modo, proclamava-se a cons-ciencta politica, juridica ou moral como conscienciareligiose au teologica, e a homem politico, [uridlco aumoral e, em ultima instancla, "0 Homem", comoreligioso. 0 dominie da religiao foi pressuposto. E,

enquanto existirern homens, a hist6ria da natureza e a histcria doshomens se condicionarao reciprocamente. A histeria xla natureza, a

chamada clsncia natural, nao nos interessa aqui; 'mas teremos que

exarninar a historla dos homens, pois quase toda a ideologia se reduz

-ou a uma concepcao distorcida desta hist6ria, ou a urna abstracao

cornpleta dela, A propria Ideologia nao e senao urn dos aspectos

desta histor!a,

" ' [Snprimido no manuscrlto: 1 que entrou em cena com a pre-

tensiio de ser a redentora absoluta do mundo, aquela que a redimiria

_d e to do 0 mal. A religiso foi c on si de ra da e t ra ta da p er rn an en te me nt e

como uma inimiga mortal, como a causa ultima de todas as re,Ja~oes

repugnantes a estes filosofos.

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aos pOUCOS, declarou-se que toda relacao dominanteera uma relacao religiosa e se a converteu em culto,

culto do direito, eulto do Estado etc. Por toda parte,tratava-se apenas de dogmas e da crenca em dogmas.o mundo viu-se canonizado numa escala cada vezmais ampla ate que 0 veneravel Sao Max 1 podecanoniza-lo en bloc 2 e liquida-lo de uma vez portodas.

Os velhos hegelianos haviam compreendido tudo,desde que tudo -fora reduzido a uma categoria daloglca hegeliana. as [ovens hegelianos criiicauamtudo, introduzindo sorrateiramente representacoes re-ligtosas par baixo de tudo ou proclamando tudo comoalgo teolcgico. Jovens e velhos hegelianos concorda-yam na crenca no dominic da religiao, dos concertose do universal no mundo existents. A unica diferencaera que uns combatiam como usurpacao 0 dominioque os outros aclamavam como legitimo.

Desde que os [ovens hegelianos consideravam asrepresentacoes, os pensamentos, os concertos - emuma palavra, as produtos da conseiencia par eles tor-nada aut6noma - como os verdadeiros grilhoes doshomens (exatamente da mesma maneira que os ve -lhos hegelianos neles viam as autsnticos lagos da so-ci€dade humana), e evidente que os [ovens hegelianostern que lutar apenas contra essas tlusoes da cons-cisncia ~'. Uma vez que, segundo suas fantasias, asrelacoes humanas, toda a sua atividade, seus grilhoes

* [Suprim ido no manuscrito:J e que uma rnodificacflo da cons-

c i en c ia d o rn i na n te e 0 obierivo que se esforcam par atingir,

1, Sao Max 6 a alcunha dada a Max Stirner (pseudonirno de

Johann C aspar Schm idt, 1806-1856), fil6sofo neo-hegeliano alernao

e urn dos idaclogos do individualismo burgues e do anarquismo.

Autor do livre Der Einzige und sein Eigenthum (0 Ontca e sua

propriedode) .. (N. des T.)

2. Em frances no original: em bloco. (N. dos T.)

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e seus limites sao produtos de sua consciencta osjovens hegelianos, consequentemente, prop6em' aos

nomens este postulado moral: trocar sua conscrenciaatual pela consciencta humana, critica ou egoista, re-movendo com isso seus limites. Exigir, assim, a trans-formacao da consciencta vern a ser 0 mesmo que in-

terpretar diferentemente 0 existente, isto e, reeonhe-ce-lo mediante outra interpretacao.: A despeito desuas frases que supostamente "abalam 0 mundo", asideologos da escola neo-hegeliana sao as maiores

ccnservadores, Os rnais jovens dentre eles descobri-ram a expressao exata para qualifiear sua atividadequando afirmam que lutam unicamente contra "jra-

seoioqias". Esquecem apenas que opoem a estas fra-seologias nada mais do que fraseologias e que, aocombaterem as fraseologias deste mundo, nao com-batem de forma alguma 0 mundo real existente. Osunicos resultados aos quais p6de conduzir essa cri tica

filos6fiea Icrarn alguns esclarecimentcs historico-reli-giosos - e assim mesmo de urn ponto de vista par-.cial - sabre 0 cristianismo; tedas as outras atlrmacoes

SI3 :0 apenas novas maneiras de embelezar suas preten-soes de haver proporeionado descobertas de alcancehistorico-mundial gracas a estes esclarecimentos in-significan tes.

A nenhum destes fi16sofos ocorreu perguntar qual

era a conexao entre a tilosofia alema e a reaUdadealema, a conexao entre a sua critlca e a seu pr6priomeio material.

Os pressupostos de que partimos nao sao arbitra-rlos, nem dogmas. Sao pressupostos reais de que naose pode fazer abstracao a nao ser na lmaginacao.Sao., os individuos reais, sua a~ao e suas condig6esmateriais de vida, tanto aquelas pot eles ja encontra-das, como as produzidas par sua pr6pria aC;ao.Estes

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pressupostos Sao, pais, verificaveis par via puraroenteempirica,o primeiro pressuposto de toda historia humana

e naturalmente a existeneia de individuos hurnanosvlvos=, 0 primetro fato a constatar e , pais, a organi-

zaC;ao corporal destes individuos e, por meio disto,sua relacao dada com 0 resto da natureza. Nao pode-

mos, evidentemente, fazer aqui urn estudo da consti-tuir;ao fisiea dos homens, nem das condicoes naturalsja encontradas pelos hnmensc-; geo16gicas, orc-hlcro-

graficas, climattcas e outras** .. Toda historiografladeve partir destes fundamentos naturais e de suamodificaeao no curso dahistoria pela acao dos homens,

Pode~se distinguir as homens dos animais pelaconsetencia, pela religHio au por tudo que' se queira.Mas eles proprios comegam a se dif'erenciar dos ani-_mais tao logo comegam a produzir seus meios de vida,passo este que e condicionado par sua organizacaocorporal. Produzindo seus rnelos de vida, as homens

produzem, indiretamente, sua pr6pria vida material.o modo pelo qual as homens produzem seus metes

de vida depende, antes de tude, da natureza dos meiosde vida ja encontrados e que tern de reproduzir. Naose deve considerar tal mode de produ~ao- de urn unicoponte de vista, a saber: a reprodueao da existenclafisica dos individuos, Trata-se, multo mats, de umadeterminada forma de atividade dos individuos, deter-minada forma de manifestar sua vida, determinadomodo de vida dos mesmos, Tal como as individuosmanifestam sua vida, assim sao eles .. 0 que eles sao

+ [Suprimido no manuscrito: J 0 primeiro a to histdrico destesindividuos, pelo qual se distingnern dos animais, nao 6 0 fato de

pensar, mas 0 de produz ir seus meios de vida .

. .. . [Suprimido no manuscrito: 1 Estas re lacdes condicionam nao

apenas a organizacao origina ria, na tu ra l, dos homens - sspec ia lmen-

te suas diferencas raclais - como tambern seu desenvolvimeolo ou

nao-desenvolvimento u lterior a te os dias de ho je ,

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coincide, portanto, com sua producao, tanto com a queproduzem, como com 0 modo como produzem. 0 queos indivfduos sao, portanto, depende das condicoesmateriais de sua producao.

Essa producao aparece inicialmente com 0 au-

mento da populacdo. Ela propria pressup6e urn inter-

cambia (Verkehr)1 des individuos uns com os outros.A forma desse intercambio e , par sua vez, condiciona-da pela producao." As relacoes entre umas nacfies e outras dependem

do estado de desenvolvimento em que se encontracada uma delas no que concerne as torcas produti-vas, a divlsao do trabalho e ao Intercambio interno.Tal principio e em geral reconhecido. Entretanto,nao apenas a relacao de uma nacao com outras, mastambem toda a estrutura interna desta mesma na-gao, dependem do grau de desenvolvimento de suaproducao e de seu intercambio interno e externo. 0quanta as torcas produtivas de uma nacao estao de-senvolvldas e mostrado da maneira mats clara pelograu de desenvolvimento atingido pel a divisao do

1. Em A ldeolog ia Alemi i, 0 termo "Verkehr" e empregado

num sentido bas tante a rnplo, englobando 0 i nt ercambio mater ia l" e

espiritu al d e individuos isolado s, d e grupos sociais e de paises in tei-

ros. Marx e Engels mostrarn que 0 intercambio des homens entre

si no processo de p roducao e a base de todas as outras farmas de

intercamb io, Os termos "Verkehrsform'' (forma de intercambio) ,

"Verkehrsweise" (modo de intercambio ) e "Verkehrsverhiiltnisse"

(r elacoes au cond icces de intercambio) , que aparecern em A Ideo/a-

gia Alemii, sao empregados po r Marx e Engels para exp rirnir 0 con-

ceito de "relacoes de produeao" , que apenas mais tar de ser ia empre-

gada pelos autores, Literalmente, "Verkehr" s ignifica trfmsito,

c irculacao, movimento , in te rcarnbio , comercio, Na car ta a Annenkov(28 de dezer nbro de 1846) , escrita em frances, Marx traduz "Verkehr"

por "comercio"; acrescentando que emprega 0 terrno "no seu senti-

do rnais geral". (Cf. Car/as Fiiasoitcas e outros escritos, Sao Paulo,

Gri ja lbo, 1977, p, 15). (N. des T.: na presente traducao, 0 terrno

foi traduzido geralrn ente par "intercdmbio", Em algumas pas sagens ,

onde 0 sen tido era ev identemen te rnais restrito, po r "comercio".)

trabalho. Na medida em que nao se trata de simplesextensao quantitativa de forgas produtivas ja conhe-cidas (arroteamento de terras, por exernplo) 1 cadanova for~a produtiva tern como consequencia urn novodesenvolvimenta da divisao do trabalho.

A drvisao do trabalho no interior de uma nacaoleva, inicialmente, a separaeao entre 0 trabalho in-dustrial e comercial, de urn lado, e 0 trabalho agri-

cola, de outro, e, com isso, a separacao da cidade e do

campo e a oposicao de seus interesses. Seu desenvol-vimento ulterior leva a separacao entre 0 trabalhocomercial e 0 trabalho industrial. Ao mesmo tempo,atraves da divisao do trabalho dentro destes diferen-tes ramos, desenvolvem-se diferentes subdtvtsoes entreos individuos que cooperam em determinados tra-balhos. A posigao de tats subdivisoes particulares umasem relacao a outras e condicionada pelo modo peloqual se exerce 0 trabalho agricola, industrial e comer-cia1 (patriarcalismo, escravidao, estamentos e clas-ses). Estas mesmas condicfies mostram-se ao se desen-

volver a intercambio entre as dUerentes nag6es.

As diversas fases de desenvolvimento da divisaodo trabalho representam outras tantas formas dife-rentes da propriedade: au, em outras palavras, cadanova fase da divisao do trabalho determina igualmenteas relacoes dos individuos entre sl, no que se refereao material, ao instrumento e ao produto do trabalho.

A primeira forma de propriedade e a propriedadetribal (Stammeigentum)1. Ela corresponde a fase nao

1. 0 terrno "Stamm" (aqu i tr aduzido per " tr ibe") tinha grandeimportancia nas obras hist6ricas escritas nos an os 40 do seculo pas-

sado. Era empregado para definir uma cornunidade de pessoas des-

cenden tes de urn ancestr al comurn , incluindo os moderno s conceito s

de "gens" e "tribo ", 0 primeir o investigador a defin ir e a diferenciar

estes concertos fai Lewis Henry Morgan (1818-1881), na obra

Ancie/lt Society, or Researches in the lilies of Human Progress from

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Savagery through Barbarism /0 Civilization (A Sociedade Primitive,

ou Pesquisas sobre 0 progresso humano da Setv ageria d CiviliZafilo

a traves da Barbdrie) (Londres, 1877 ). Este notavel etn6gr afo e h is-

tor iador nor te -a rner icano most rou pela pri rnei ra vez 0 s ignificado da

gens como micleo do sistema comunal primitive e,. par esse. meio,

estabeleceu os f undarnen tcs cien tlf icos para a hist6na da sociedadepr imitiva er n seu con jun to . Engels u tilizou as conclu sdes gerais das

descobertas de Morgan e realizou uma abr angen te analise do s concei-

tos de "gens" e "tribe" em A Origem da Familia, da Propriedade

Privada e do Es tado (1884). (N. do, T.: a obra de Engels foi tradu-

zida para. 0 po rtugues por Leand ro Kender e publicada pela Civ iliza-

s : a o Brasi leira, R1, 1975).

a propriedade privada coletiva dos cidadaos ativos que,em face dos escravos, sao obrigados a permanecer nes-te modo de associacao surgido naturalmente. Eis parquetoda a estrutura social baseada nesta propriedadecoletiva, e com ela a poder do povo no mesmo grau,decaem na medida em que se desenvolve a proprie-dade privada imovel. A divtsao do trabalho ja e mais

desenvalvida. Encontramos ja a opcsicao entre a ci-dade e 0 campo, e mais tarde a oposieao entre asEstados que representam 0 interesse das cidades eas que representam os interesses do campo; e encon-tramos no interior das pr6prias cidades a oposicaoentre a comercio maritimo e a industria. As relacoesde classe entre cidadaos e escravos estao agora com-pletamente desenvolvidas",

o tate da conquista parece eontradizer toda estaeoncepcao da hist6ria. Ate agora, considerou-se a vio-lencta, a guerra, 0 saque, a latroeinio etc., como atorca propulsora da historia, Aqui, temos de nos li-

mitar necessariamente aos aspectos principais, razaopela qual tomaremos 0 exernplo mais notavel - adestruicao de uma velha civilizacao por urn povobarbaro e, com tsto, a formacao desde a principia deuma nova estrutura da sociedade. (Roma e as bar-bares, 0 Ieudalismo e as Gallas, 0 Imperio Romano doOriente eos turoos.) Por parte do povo barbaro con-quistador, a guerra continua sendo, como ja assina-lamas anteriormente, uma forma regular de inter-cambio, explorada tanto mais zelosamente quantamais 0 incremento da populacao, dentro do toscomodo de producao tradicional (0 unico possivel para

desenvoIvida da producao, em que urn povo se alimentada caca e da pesca, da criacao de gada ou, no maximo,da agricultura. Neste Ultimo caso, a propriedade tri-bal pressup6e grande quantidade de terras incultas.Nesta fase, a divisao do trabalho esta atnda poueo

desenvolvida e se Iirnita a uma maier extensao dadivisao natural no seio da familia. A estrutura social

limita-se, portanto, a uma extensao da familia: aschefes patriarcais da tribe, abaixo deles ~s_membrosda tribo e nnalmente os escravos. A escravidao latentena familia desenvolve-se paulatinamente com o cr~s-cimento da populacao e das necessidades, e tambemcom a extensao do intercambioexterno, tanto da

guerra como da troca.

A segunda forma de propriedade e a pr-~pri.edadecamunal e estatal que se en contra na Antiguldade,que provem, sobretudo, da reuniao de muitas trib?spara forrnar uma cidade, par co~t;ato au por conquis-

ta e na Qual subsiste a escravidao. AD lado da pro-prledade comunal, desenvolve-se ja a proprredade mo-vel e, mais tarde, tambem a im6vel, mas como umaforma anormal subordinada a propriedade comunal,Os cidadaos possuem 0 poder sobre seus escravos tra-balhadores apenas em sua coletividade, e ja estao po:isso llgados a forma de propriedade comunal, Esta e

* [Sup rirn ido no manuscrito:] Entre o s plebeus roman os encon-

tramos, inicialmente, pequenos proprietaries de terra e, depois, os

cornecos de urn p roletariado, que, en tretanto , n ao S~ desenvolve em

virtude de sua posi!;lio in iermed iar ia entr e o s cidadaos possuido res e

os escravos,

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este povo}, engendra a necessidade de novos meiosde producao, Na Italla, ao contrario, em virtude ~aconcentracao da propriedade terri torial (causada naoapenas pela compra em massa e pelo endividamento,como tambem pela heranca, desde que, em conse-quencia cia grande ticenciosidade e da escass~z d~ ca-samentos, as velhas linhagens iam-se extmgumdo

pouco a pouco e seus bens ficavam reunidos em pou-cas maos) e da transtormacao das terras em pastos(provocada nao apenas pelas causas econornicas n?r-mais vigentes ainda na atualidade, como tambempela tmportacao de cereais roubados e arrancadoscomo tributes e pela conseqtiente escassez de consu-.midores para os cereals italianos) , quase des~pareceu

a populacao livre; os proprios escravos m~rn~m comtrsquencla e tinham que ser sempre substituidos pornovas. A escravidao continuava sendo a base de todaa prcducao. Os plebeus, que ocupavam uma posicaoIntermediaria entre os livres e os escravos, nunca

forarn mais do que uma especie de lumpemproletaria-do. Com eteito, Roma nunca foi mais do que uma ci-dade e mantinha com as provincias uma relacao quaseexcl~sivamente politica, a qual, como e natural, _P8diaquebrar-se au alterar-se novamente pOI'acontecimen-

tos politicos.

Com 0 desenvolvimento da propriedade privada,comecam a surglr pela primeira vez as mesmas rela-<;6esque encontraremos, so que em escala mais ampla,na propriedade privada moderna; de urn lado, a c~n-centracao da propriedade privada, que comecou multocedo em Roma, como 0 atesta a lei agraria de

Licinius 1, e progrediu rapidamente a partir das guer-ras civis e, sobretudo, sob 05_ imperadores; de outre

J _ Lei ag raria de Liciniu s e Sex tius, tribunes do povo romano ,

decretada em 367 AC como resultado da luta desencadsada palos

plebeus contra os patricios , De aco rdo com ela, cada cidadao romano

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lado, em correlacac com estes fatos, a transrormacaodos pequenos camponeses plebeus em urn proleta-riado, cuja situacao intermediaria entre as cidadaospossuidores e os escravos nao levou a nenhum desen-volvimento autonomo,

A terceira forma e a propriedade feudal ou esta-

mentali.

Enquanto a Antiguidade partia da cidadee de seu pequeno territ6rio, a Idade Media partia docampo. A populacao existente, dispersa e dissemi-nada por uma vasta superflcie a que os conquistadoresnao trouxeram grande incremento, condicionou essamudanca de ponto de partida. Ao contra rio da Greciae de Roma, 0 desenvolvimento feudal inicia-se, pols,em terrene muito mais .extenso, preparado pelas con-quistas romanas e pela expansao da agricultura eesta, desde 0 comeco, com elas relacionado. Os ultimosseculos do Imperio Romano em declinio e as pr6priasconquistas dos barbaros destruiram grande quanti-

dade de rorcas produttvas; a agricultura declinara,a industria estava em decadencia pela falta de mer-cados, 0 comercio adormecera ou fora violentamente

intertompido, a populacao, tanto a rural como a ur-bana, dimimiira. Essas condicdes preexistentes e 0

modo de organizacao da conquista por elas condicio-nado fizeram com que se desenvolvesse, sob a influen-

nao podia pos suir mai s do que 500 jei ras (aproximadamente 309 acres )

de terra comum Cage r publicus).

1. Marx e Engels atenuaram mais tarde esta descricao, este

esquema da evolucao das estruturas da propriedade, ao notarem que

ela era valida apenas para a Europa Ocidental, assinalando a

existencia de urn modo de producao asiatico. Cf. Marx e Engels,Canas sobre "EI Capital", Barce lona , Ed. Laia, 1974; Sobre el modo

de produccion asiatica, Barcelona, Ed . Martinez Roca, 1969; e Marx,

Fundamentos de La critica de Ia Economia Politica (Orundrisse J,

Madrid, Alberto Corazon, 1972. (N. des T.: Deste ultimo livro,

urn ext ra to foi traduz ido para 0 por tugues por Joao Maia: Formaciies

Economicas Pre-Capitaiistas, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1975.)

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cia da organizagao mili tar germanica, a propriedadefeudal. C6mo a propriedade tribal e a comunal, estatambem repousa numa comunidade em face da qualnao sao mais os escravos - como no sistema antigo_ mas os pequenos camponeses servos da gleba, queconstituem a classe diretamente produtora .:T a o logoo feudalismo se desenvolve completamente, aparece a

oposicao entre as cidades. A estrutura hierarquica daposse da terra e a vassalagem armada a ela conectadadavam a nobreza 0 poder sobre as servos. Essa estru-tura feudal, como toda a antiga propriedade comunal,era uma associagao contra a classe produtora domi-

nada; 0 que vartava era a forma de associagao. : arelacao com os produtores diretos, ja que as eondlcoes

de producao haviam mudado.

A essa estru tura feudal da "posseda terra corres-pondia, nas cuiades, a propriedade corporativa, aorganizacao feudal dos oficios. Aqui, a propriedadeconsistia, principal mente, no trabalho de eada mdi-

video. A necessiuade de associacao contra a nobrezarapace associada, a necessidade de locals de trocacomuns numa epoca em que 0 industrial era ao mesmotempo comerciante, a concorrencia crescente dosservos que fugiam em massa para as cidades prospe-

ras, a estrutura feudal de todo 0 pais - deram origema s corporacoes; os pequenos capitals economizadospouco a pouco pelos artesaos isolados e 0 numero es-tavel destes numa populacao crescente desenvolverama condigao de oficial e de aprendiz, engendrando nascidades uma hierarquia semelhante a do campo.

Assim, a propriedade principal durante a epocafeudal consistia, de u r n lado, na propriedade territo-rial a qual estava ligado 0 trabalho dos servos e, deDutro, no trabalho proprio com pequeno capital do-minando 0 trabalho dos 'oficiais, A estrutura de cadauma dessas duas formas era condicionada pelas con-

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dig6es limitadas da prcducao, pelo escasso e toscocultivo da terra e pela industria de tipo artesanal, Noapogeu do feudalismo, houve pequena divisao do tra-

balho. Cada pais trazia em si a oposicao entre a cidadee 0 campo; a estrutura estamental estava profunda-mente estabelecida, mas fora a separacao em princi-pes, nobreza, clero e campesinato, no campo, e em

mestres, oficiais e aprendizes, e logo tambem a plebede trabalhadores assalariados ocasionais, nas cidades,nao se encontra nenhuma outra divisao importante.Na agricultura, a divisao do trabalho tornava-se maisdificil pelo cultivo parcelado, ao lade do qual surgiua industria domestica dos pr6prios camponeses; naindustria, 0 trabalho era dividido dentro de cada ofi-

cio e multo pouco dividido entre as diferentes oficios.A divisao entre 0 comercio e a industria existia ja nascidades antigas, mas nao se desenvolveu senao tardia-mente nas cidades novas, ao se estabelecerem rela-

r;oesmutuas entre as cidades.

A reuniao de grandes territorios em reinos feu-'.dais era uma necessidade, tanto para a nobreza rural,

como para as cidades. Par conseguinte, a organizacaoda classe dominante, da nobreza, tinha em todas aspartes um monarca a frente.

o tate, portanto, e 0 seguinte: individuos deter-minados * , que como produtores atuam de urn modotambem determinado, estabelecem entre S1 relacfiessociais e politicas determirradas. E preciso que, emcada caso particular, a observacao empirica ** colo-que necessariamente em relevo - empiricamente esem qualquer especulacao au mlstincacao - a cone-

xao entre a estrutura social e politica e a producao,

" [Suprimido no manuscrito:] em determinadas relacdes de

producao

*" [Suprimido no manuscrito.] que se atern simplesmente aos

fates reais

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dos por urn determinado desenvolvimento de suasforeas produtivase pelo intercambio que a ele corres-

ponde ate chegar as suas Iormacoes mais amplas, Aeonscrencia -jamais pode ser outra coisa do que 0 serconsciente,e 0 ser dos homens e 0 seu processo devida real. Ese, em toda tdeologia, os homens e suasrelacdes aparecem invertidos como numa camara

escura, tal tenomeno decorre de seu processo historicode vida, do mesmo modo por que a inversao des

objetos na retina decorre de seu processo de vida dire-tamente fisico.

A estrutura social eo Estado nascem constantementedo processo de vida de individuos determinados, masdestes mdividuos nao como podem aparecer na ima-

ginagao propria ou alheia, mas tale como reolsnenie8a,0, isto e, tal e como atuam e produzem material-mente e, portanto, tal e como desenvolvem suas ativi-dades sob determinados limites, pressupostos e

condiefies materiais, independentes de sua vontade * '.

A producao de tdeias, de representacoes, da COllS-

clencia, esta, de mtcio, diretamente entrelacada coma atividade material e com 0 intercamblo materialdos homens, como a linguagem da vida real. 0 re-

presenter, a pensar, 0 intercamblo espiritual dos no-mens, aparecem aqui como emanacao direta de seucomportamento material. 0 mesmo ocorre com aproducao espiritual, tal como aparece na linguagemda politica, das leis, da moral, da religiao, da metafi-sica etc. de urn povo, Os homens saO os produtores desuas representacoes, de suas idetas etc. "". mas ashornens reais e ativos, tal como se acham candiciona-.

Totalmente ao contrario do que ocorre na filaso-fia alema, q~e desce do ceu a terra, aqui se ascendsda te~ra ao ceu. Ou, em outras palavras: nao se partedaquilo que os homens dizem, Imaginam au repre-sentam, e tampouco dos .homens pensados, imagina-des e representados para, a partir dai, chegar aoshomens em carne e ossa; parte-se dos homens real-mente ativos e, a partir de seu processo de vida real

expce-se tamhern 0 desenvolvlmento dos reflexes ide;16gicos e dos €Cosdesse processo de vida. E mesmo asformacoes nebulosas no cerebra dos homens sao subli ,macoes necessarlas do seu processo de vida material,empiricamente constatavel e ligado a pressupostosmateriais. A moral, a religiao, a metafisica e qualqueroutra ideologia, assim como as formas de consclenciaque a elas correspondem, perdem toda a aparencia deautonomia. Nao tern historia, nem desenvolvimento;mas os hornens, ao desenvolverem sua producao ma-terial e seu Intercambio material, transformam tam-

bern, com esta sua realidade, seu pensar e OS produtos

de seu pensar. Nao e a consciencla aue determina avida, mas a vida que determina a -consciencia. Naprtmelra maneira de considerar as coisas, parte-sada consclencla como do proprio Indtviduo vivo; nasegunda, que e a que corresponds a vida real, parte-

* [Suprimido no manuscrito: J As repre sentacoes que estes ind i-

vlduos elaboram sao representacoes a respeito de sua relacao com. a

natureza , ou sobre suas mutuas rela<;5es, ou a respeito de sua propria

na tureza . E evidente que, em todos e stes cases, e stas representacce s

sao a expressaoconsciente - real ou ilusoria - de suas verdadeiras

relacoes e atividades, de sua produ<;ao, de. seu intercambio, de sua

organiza cao politica e social, A suposicao oposta e apenas possivel

quando se pressupoe fora -do espirito de individuos reais material-

mente condicionados, urn outro espir ito a parte. Se a expressao cons-

c iente das re lacoes rea is des te s ind ividuos e ilusoria, se em suas re-

pre sentacoes poem a rea lidade de cabeca pa ra ba ixo , iSIO e conseqiien-cia de seu modo de atividade material limitado e das suas relacees

socia ls I irnitadas que dar resultararn.

*' " [Suprirnido no rnanuscrito: J e, com efeito, os homens sao

condicionados pelo modo de producao de sua vida material, por sell

intercarnbio material e seu uesenvclvirneruo ulterior na estrutura

socia l e politica.

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