A História Do Amor de Romeu e Julieta

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A História do Amor de Romeu e Julieta/]~~~~~~~~ Imitação Brasileira de Matteo Bandello - ARIANO SUASSUNA Personas dramáticas: Antero Savedra, 1º Coro Quaderna, 2º Coro O Duque Capuleto O Conde Montéquio Romeu, menino Três carrascos Romeu, adulto Mercúcio Músicos, bailarinos e bailarinas Julieta Teobaldo O Padre A Criada Figurantes Verona - a cidade do Recife Mântua - a cidade de Olinda A ação decorre em Verona e Mântua, ou seja, no Recife e em Olinda. Na versão teatral, deve ser instalado um pequeno palco dentro do maior. No menor é que surgirão os bonecos que, conduzidos por atores, repetirão, para Romeu, adulto, a cena que ele viu em criança. Também nele é que acontecerá a noite de núpcias de Romeu e Julieta. Deve haver também, no palco maior, duas cadeiras, nas quais se sentarão Antero Savedra e Quaderna nos momentos em que o Coro emudece e falam os personagens. Quaderna: Vou contar, neste Romance, a história de Romeu. A sua curta existência, e tudo o que padeceu. Foi a história mais tocante que a minha Pena escreveu. É uma história conhecida em quase toda Nação.

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Obra de Ariano Suassuna.

Transcript of A História Do Amor de Romeu e Julieta

A Histria do Amor de Romeu e Julieta/]~~~~~~~~

Imitao Brasileira de Matteo Bandello - ARIANO SUASSUNA

Personas dramticas:

Antero Savedra, 1 CoroQuaderna, 2 CoroO Duque CapuletoO Conde MontquioRomeu, meninoTrs carrascosRomeu, adultoMerccioMsicos, bailarinos e bailarinasJulietaTeobaldoO PadreA CriadaFigurantes

Verona - a cidade do RecifeMntua - a cidade de Olinda

A ao decorre em Verona e Mntua, ou seja, no Recife e em Olinda. Na verso teatral, deve ser instalado um pequeno palco dentro do maior. No menor que surgiro os bonecos que, conduzidos por atores, repetiro, para Romeu, adulto, a cena que ele viu em criana. Tambm nele que acontecer a noite de npcias de Romeu e Julieta. Deve haver tambm, no palco maior, duas cadeiras, nas quais se sentaro Antero Savedra e Quaderna nos momentos em que o Coro emudece e falam os personagens.

Quaderna:Vou contar, neste Romance,a histria de Romeu.A sua curta existncia,e tudo o que padeceu.Foi a histria mais tocanteque a minha Pena escreveu.

uma histria conhecidaem quase toda Nao.No Teatro e no Cinema,tem causado sensao,deixando amargas lembranasno mais brutal corao.

O que sofreu Julieta,quem, como eu, j tem lido,todo o seu padecimentocomo foi acontecido,depois de seis, sete anos,inda no est esquecido.

Verona, antiga cidadeda Provncia italiana,foi bero dos Capuletos,aquela raa tirana,inimiga dos Montquios,famlia honesta e humana.

O Duque de Capuleto,que tinha grande poder,queria, ao Conde Montquio,aniquilar e vencer.Os dois viviam sonhandover um ou o outro morrer.

Ali, tudo era desgosto,intriga e rivalidade.Um dia, corre a notciaque assombrou toda a cidade,notcia que era o comeoda grande fatalidade.

Romeu tinha quatro anosquando veio um peloto,mandado por Capuletopor uma cruel traio.Nesse dia foi Montquiotrancado numa Priso.

Ficou o Conde Montquionaquela Priso sombria.Ali, ele ignoravase era de-noite ou de-dia.Era preso e acorrentado:nem se mexer no podia!

Montquio:Aqui estou acorrentado,sem socorro de ningum.Aqui estou aprisionado,sem saber como e por quem!E, ah meu Deus, minha mulhervem ali, presa tambm!

Que dor no meu coraoao ver minha Esposa amada,trazida por trs Carrascos,um de-lana, dois de-espada!E ela com Romeu nos braos,triste, s e abandonada!

Condessa:Eu te abrao, meu Marido,minhas queixas relatando!V nosso filho Romeuque, inocente, est chorando!

Capuleto:Aqui chegada a horade na Priso ir entrando!

Montquio, agora me pagas,hoje eu hei de me vingar!Um dia, jurei vinganae agora vou te mostraro furor da minha iraa que ponto vai chegar!

Ests a, prisioneiro,pra mim no tens cotao.Vou decidir tua sorte,tenha ou no tenha razo!A vida de tua Esposaest aqui, na minha mo!

Tua querida Mulhervai morrer, para teu mal!Talvez ela nem mereaeste golpe to fatal.Vai morrer em tua vista,cravada por meu Punhal!

Montquio:Eu te digo, Capuleto:tu roubaste o meu direito!Prendeste-me traio,s um Duque sem conceito!Mata-me a mim! Que ela viva,e eu morrerei satisfeito!

Capuleto:Montquio, eu vou mat-la,no adianta chorar!Te odeio profundamente,mas vivo vou te deixar,para que a morte delatu sempre possas lembrar.

Condessa:Ah, meu Deus, que sina triste!Me sinto desfalecida!Olho aqui para meu filho,por ele choro, sentida,pois vejo que no me restanem meia hora de vida!

Capuleto cochicha ao ouvido de um dos carrascos, o qual arranca Romeu dos braos da me.

Capuleto:A teus pedidos, Montquio,meu sangue no atendeu!J ordenei ao Carrasco,que logo me obedeceu!Dos braos de sua Mefoi arrancado Romeu!

O Pai dele est a,infeliz e acorrentado!Tu, Mulher, vem para c,aqui, pr'este outro lado,que pra teu Marido vercomo, em ti, serei vingado!

Eu j tirei meu Punhal,que cintura carregava.J cravo no peito dela-era o que sempre jurava!-e o Punhal j vai rangindo,enquanto o sangue golfava!

Condessa:Senhor Duque Capuleto,seu corao perverso!Tenha d do meu filhinho,que ainda dorme de-bero!

Capuleto:No! Vou calcar o Punhalpara entrar at o tero!

Condessa:Com a dor da punhaladameu corpo se estremeceu!Adeus, meu querido Esposo,cuida do nosso Romeu!Diz a Romeu que a Me dele,sendo inocente, morreu!

Os msicos repetem a primeira frase do "Romance de Minervina".

Capuleto:J est morta a Condessa,prostrada na Laje fria!Vou arrancar o Punhal,onde o sangue j esfria.E mostro ao Marido delaque foi como eu garantia!

Ento, querido Montquio,j conheces quem sou eu?Guarda o Punhal para ti:agora o Punhal teu!Quando teu filho crescer,d de presente a Romeu!

O corpo, aqui, da Condessa,no o deixo sepultar!Vocs, Carrascos, o levempela rua, a se arrastar!Depois, coloquem num sacoe joguem dentro do Mar!

Os msicos repetem a primeira frase do "Romance de Minervina".

Quaderna:A, tendo praticadotamanha barbaridade,Capuleto foi pra casa.Quando chegou cidade,deu ordem pra que Montquiofosse posto em liberdade.

Montquio, desesperado,saiu daquela Priso,dando uma mo para o filho,com o Punhal na outra mo.Foi chorar a sua sorte,sozinho, na solido.

-Dezesseis anos passaram!-

Romeu via sempre o Paimuito triste, a suspirar.O filho, no seu segredono podia penetrar.Como o Pai nunca se abria,Romeu no quis perguntar.

Quando o conde achou que o filhoera capaz de razo,e, pr'a vingana, podiatomar uma deciso,chamou-o secretamente,fez-lhe a comunicao.

Com os msicos tocando a primeira estrofe do "Romance de Minervina", abre-se a cortina do palco menor. O ator que faz Montquio retira-se com Romeu para junto de Antero Savedra e Quaderna, e os quatro passam a formar uma espcie de pequeno pblico para a representao dos bonecos. A critrio do encenador, a cena que se segue pode ser muda, caso em que os bonecos atuaro ao som da msica, que continua.

Montquio-boneco:Aqui estou acorrentado,sem socorro de ningum.Aqui estou aprisionado,sem saber como e por quem!E, ah meu Deus, minha Mulhervem ali, presa tambm!

Que dor no meu coraoao ver minha Esposa amada,trazida por trs Carrascos,um de-lana, dois de-espada!Ela com Romeu nos braos,triste, s e abandonada!

Condessa-boneca:Eu te abrao, meu Marido,minhas queixas relatando!V nosso filho Romeuque, inocente, est chorando!

Capuleto-boneco:Aqui chegada a horade na Priso ir entrando!

Montquio, agora me pagas,hoje eu hei de me vingar!Um dia, jurei vingana,e agora vou te mostraro furor da minha iraa que ponto vai chegar!

Ests a, prisioneiro,pra mim no tens cotao.Vou decidir tua sorte,tenha ou no tenha razo!A vida de tua Esposaest aqui, na minha mo!

Tua querida Mulhervai morrer, para teu mal!Talvez ela nem mereaeste golpe to fatal.Vai morrer em tua vista,cravada por meu Punhal!

Montquio-boneco:Eu te digo, Capuleto:tu roubaste o meu direito!Prendeste-me traio,s um Duque sem conceito!Mata-me a mim! Que ela viva,e eu morrerei satisfeito!

Capuleto-boneco:Montquio, eu vou mat-la,no adianta chorar!Te odeio profundamente,mas vivo vou te deixar,para que a morte delatu sempre possas lembrar.

Condessa-boneca:Ah, meu Deus, que sina triste!Me sinto desfalecida:Olho aqui para meu filho,por ele choro, sentida,pois vejo que no me restanem meia hora de vida.

Aqui, os bonecos repetem a cena de Capuleto cochichando ao ouvido de um dos carrascos.

Capuleto-boneco:A teus pedidos, Montquio,meu sangue no atendeu!J ordenei ao Carrasco,que logo me obedeceu!Dos braos de sua Mefoi arrancado Romeu!

O Pai dele est a,infeliz e acorrentado!Tu, Mulher, vem para c,aqui, pr'este outro lado,que pra teu Marido vercomo, em ti, serei vingado!

Eu j tirei meu Punhal,que cintura carregava.J cravo no peito dela-era o que sempre jurava!-e o Punhal j vai rangindo,enquanto o sangue golfava!

Condessa-boneca:Senhor Duque Capuleto,seu corao perverso!Tenha d do meu filhinho,que ainda dorme de-bero!

Capuleto-boneco:No! Vou calcar o Punhalpara entrar at o tero!

Condessa-boneca:Com a dor da punhalada,meu corpo se estremeceu!Adeus, meu querido Esposo,cuida do nosso Romeu!Diz a Romeu que a Me dele,sendo inocente, morreu!

Os msicos repetem a primeira frase do "Romance de Minervina".

Capuleto-boneco:J est morta a Condessa,prostrada na Laje fria!Vou arrancar o Punhal,onde o sangue j esfria.E mostro ao Marido delaque foi como eu garantia!

Ento, querido Montquio,j conheces quem sou eu?Guarda o Punhal para ti:agora o Punhal teu!Quando teu filho crescer,d, de-presente, a Romeu!

O corpo, aqui, da Condessa,no o deixo sepultar!Vocs, Carrascos, o levempela rua a se arrastar!Depois, coloquem num sacoe joguem dentro do Mar!

Os msicos tocam a primeira frase e a primeira estrofe do "Romance de Minervina". Fecha-se a cortina do palco menor e Montquio-ator continua a narrao para o Romeu-ator.

Montquio:Romeu, foi este o Punhalque a tua Me matou!Faz hoje dezesseis anosque tua Me expirou,morta por este Punhalque o prprio Duque cravou!

Ouve, meu filho, o que digo,presta-me toda ateno!O Duque de Capuletotem a nossa maldio,pois tua Me, minha Esposa,matou sem ter compaixo!O Duque de Capuleto,por meio de covardia,mandou prender-me traio,pois eu de nada sabia!Brutalmente me trancounuma cruel Enxovia!

Depois, matou tua Me,fez esta barbaridade!S ento foi para casa,e, ao chegar cidade,deu ordem para que eu fossecolocado em liberdade.

Meu filho, foi quase mortoque eu sa da Priso!Uma mo eu dava a ti,com o Punhal na outra mo!Vim sofrer a dura sorte,aqui nesta solido!

Hoje inda choro, Romeu,a nossa infelicidade!Tenho te dado instruos por fora de vontade!Desde aquele dia vivofora da sociedade!

Isto que te digo agoraguardei na minha lembrana.Passaram dezesseis anos,eras ainda criana!Meu filho, o tempo chegado:exijo nossa vingana!

preciso que tu vinguesa tua Me malfadada!Meu filho, toma o Punhal:ela tem de ser vingada!

Parte, Romeu, sem demora!Sai da sombra! Parte, vai!Mata o Duque! S assima minha dor se retrai!Mata o duque! o que te pedeo corao de teu Pai!

Romeu:Eu recebo este Punhalque o meu sangue derramou!Beijando a Cruz de seu cabo,juro o que meu Pai jurou!Mato o Duque com o Punhalque a minha Me me roubou!

Montquio:Recebo teu juramentocom muita satisfao,pois vais cumprir a vinganaque te dei como misso!

Romeu:Sim, eu juro a meu bom Paique vingo a sua Paixo!

Quaderna:No outro dia, Romeu,com um amigo dedicado,viajou para Veronae o castelo do Ducado.Dizia para o amigoque o Pai seria vingado.

Este amigo, de quem falo,e que ia com Romeu,junto a ele se criara,junto com ele cresceu.Eram como dois irmos:Merccio era o nome seu.

No dia em que os dois chegaraml nas terras do Ducado,o aniversrio da filhado Duque era celebrado.O Castelo estava em festa,ricamente embandeirado.

Romeu saltou do cavaloe combinou com o amigo.Entraram l, disfarados,naquele Castelo antigo,pois ambos eram valentes,no fugiam do perigo.

Os que estavam na festa,tinham ido mascarados.Assim fizeram os dois:entraram fantasiados,ambos de Castelo adentro,em capotes, embuados.

Dentro, tudo era alegria,muitos rapazes danavam.Algumas moas, sentadas,com seus noivos conversavam.Tocavam alguns dos Msicos,outros, alegres, cantavam.

Os atores e bailarinos danam ao som de "Bernal Francs", que pode ser tocado com a msica do "Romance da Bela Infanta", pois ela permite variao de ritmo.

Romance de Bernal Francs:- Quem bate na minha porta?Quem bate? Quem est a? Dom Bernaldo Francs,sua porta mande abrir!

- No descer da minha Cama,eu rompi o meu Frandil.No descer da minha Escada,me caiu o meu Chapim.No abrir da minha Porta,apagou-se o meu Candil.Eu te pego pela mo,te levo no meu Jardim,te fao Cama de rosas,travesseiro de Jasmim.Te lavo em gua-de-cheiro,te deito em cima de mim.

- Deixem que volte de novo,com minha Capa a cair.Quero ver se a minha Damainda se lembra de mim!

- Tua Dama, Cavaleiro,est morta, que eu j vi.Os sinais que ela levavavou dizer agora aqui.Os sinos que lhe tocarampor minha mo os tangi.O Caixo em que a enterraramera de ouro e marfim.

Palavras no eram ditas,morre Bernal, no Jardim.Esta foi a sua histria,foi este o seu triste fim.

Quaderna:A filha de Capuleto,a formosa Julieta,danava com um rapazque vestia roupa preta.Tinha ao seio, por enfeite,um cacho de violetas.

Romeu:Meu Deus, estou encantadocom toda aquela beleza!Aquela Moa pareceuma Fada, uma Princesa!Merccio, quem aquela?Quem aquela lindeza?

Merccio: filha de Capuleto!O leque que ela traziacaiu de sua bela mo,quando, h pouco, se movia!

Romeu:Eu vou l! Vou apanh-lo! (Entregando o leque:)

O leque lhe pertencia?

Julieta:Sim, o leque me pertence!Muito obrigada, Senhor!Em paga da gentilezaqueira aceitar esta flor:receba esta Violetaem troca do seu favor!

Romeu:Eu beijo esta doce Florde perfume delicado!Vou guard-la junto ao peito,com todo amor e cuidado,como se fosse uma Jiaque aqui eu tivesse achado.

Eu no penso mais na juraque fiz a meu velho Pai!Pois o Amor gua puraque em nossas almas cai,e o desejo de vinganana sede do Amor se esvai!

Deixe a dana, Julieta,finja que vai passear.Guardo comigo um segredoque a voc vou revelar.V l para a outra Sala:me espere, que chego l!

Julieta:Sinto que empalideci,que estou da cor de um Jasmim!Para a outra Sala, no: melhor l no Jardim!L tu podes me dizero que desejas de mim!

H pouco, quando falavas,o meu peito estremecia!Como te chamas?

Romeu:Romeu!

Julieta:Pois, Romeu, no sei se viasque vieste me salvarda tristeza em que eu vivia!Que que tens pra me dizer?

Romeu:Escuta, linda Criana!Eu vim tomar de teu Paia mais dura das vinganas.Mas o Punhal com que eu vinhadeponho ante as tuas tranas!

Diante de tal beleza,sinto meu peito chagado!Por teus olhos verde-azuis,eu fiquei enfeitiado.Eu estou louco de amor!Estou cego, apaixonado!

Teu Pai matou minha Me,quando eu era menino.Jurei vingar essa morte,porm decreta o Destinoque tudo seja esquecido,ante teu rosto divino!

Serei perjuro! Jamaisa meu Pai eu voltarei!A teus ps, divina imagem,o teu Escravo serei!Juro que junto de tiviverei e morrerei!

Pois bem, Julieta: agoraeu quero este Amor selar!Quero em tua linda bocaum beijo depositar!

Julieta:O que isto? Sem pudor,eu j me deixo beijar?

Romeu:Existe, s, um remdiopra aliviar o pudor: repetirmos o beijo,agora com mais calor!

Julieta:Meu Deus, eu me sinto tonta!Foi a dana ou o Amor?

Romeu:Julieta, quem esteque sai ali, de um recanto,pior que um Tigre feroz,cheio de raiva e de espanto?

Julieta: o Marqus Teobaldo,meu primo! Te odeia tanto!

Teobaldo:Romeu, que fazes aqui?Responde-me, miservel!Que vieste procurar?Teu sangue sangue execrvel!Sai daqui, seno a morte teu fim inevitvel!

Julieta, vai tambm,seno sers arrastada!

Julieta:No, Romeu, no lhe respondas!Meu primo, guarda a Espada!

Teobaldo:No desobedecers minha ordem, j dada!

Romeu:Teobaldo, Teobaldo!No toques nem sua mo!Se tu deres mais um passo,cairs morto no cho!Pois minha Espada certeiracortar teu Corao!

Os dois lutam.

Julieta:Meu Deus! Romeu e Teobaldocruzam j suas Espadas!J sinto que vou cairsobre o solo desmaiada!

Cai, Romeu mata Teobaldo. Julieta recobra os sentidos.

Meu Deus, o que se passou?A luta est terminada!

Teobaldo j caiu,por um golpe traspassado!O pano de sua roupaj est de sangue molhado!E Romeu, de p, contemplao seu ferro ensanguentado!

J l chega, do Castelo,o pessoal que danava!

Capuleto:O que foi que houve aqui?Quem foi que tais gritos dava?O qu? Teobaldo morto?Meu sobrinho que eu amava?

Prendam j este assassinoe levem para a Priso!Vai ser condenado morte,sem demora e sem perdo!Quem derramou o meu sangueno merece compaixo!

Os msicos tocam "A Rosa Roseira".

Quaderna:Fazia, j, sete diasque Romeu fora detido,quando, uma noite, ele ouviuna Priso grande rudo,e apareceu Julieta,envolta em branco vestido.

Julieta:Romeu, Romeu de minh'alma,quanto sofri tua ausncia!Debalde pedi, por ti,a meu Pai sua clemncia!Eu vim te tirar daqui,desta cruel penitncia!

Falei com um velho Padre,a quem contei, lealmente,que tinha por ti, Romeu,uma paixo louca, ardente!O Padre me prometeucasar-nos secretamente!

Vem! Eu subornei os guardas:No h ningum nos seguindo!J soou a meia-noite,os meus Pais esto dormindo!No tenhas medo da Noite,pois o Luar est lindo!

Romeu:Meu Deus, que felicidade! a minha noiva-amante!

Julieta:Vamos l para a Capela,chegamos l num instante:L, o Padre nos espera,com o Coroinha-ajudante!

Enquanto os dois se casam, na presena do padre, os msicos tocam "Bernal Francs", a msica da festa.

Quaderna:Assim, Romeu, na Capela,com Julieta casou!Debaixo dos ps de Cristofoi que ele se ajoelhoue, diante de Deus, por ela,amor eterno jurou!

O Padre:Romeu, vou dar-lhe um conselho melhor voc partir.Voc deve ir para Mntua,l, um tempo, residir.Prometa sua Mulherir dela se despedir.

Ela sai, vai esper-lo,fiel, em sua janela.Voc, daqui a momentos,vai l, para estar com ela.Suba o muro do Casteloe v para o quarto dela.

Julieta:Romeu, vou em tua frente,para no Castelo esperar-te.Por enquanto, aqui tu ficas,para o Padre aconselhar-te,pois o Padre nosso amigo:o que pretende salvar-te!

Sai.

O Padre:Muito bem, Romeu, meu filho!Voc agiu bem, Romeu!Mas agora necessriocuidar do futuro seu.Voc no diga a ningumque quem os casou fui eu!

Hoje mesmo, antes que o Soltenha chegado a sair,voc deve ir para Mntua:Julieta fica aqui.Se o ambiente melhorar,eu mandarei prevenir.

Na sua ausncia, eu prometopor Julieta velar.O dio de Capuletoprocurarei abrandar.Se conseguir, a notcialogo mando lhe levar.

Romeu:Beijo-lhe a mo, meu bom Padre,mas minh'alma est ferida!Vou procurar Julieta,vou procurar minha vida!Sei que me arrisco, mas voucelebrar a despedida!

Quaderna:Ao chegar l no CasteloRomeu achou sua amada.Julieta o esperava,

na varanda debruada.Romeu parecia tera alma toda exaltada!

Julieta:Quem bate na minha Porta?Quem bate? Quem est a?Romeu:Ah, minha amada, Romeu!sua Porta venha abrir!

Abre-se a cortina do palco menor, onde se v uma cama. Fala Julieta, enquanto se encaminha para l, com Romeu.

Julieta:No deitar da minha Cama,se rompeu o meu Frandil.No descer da minha Escada,me caiu o meu Chapim.Eu te pego pela mo,tu entras no meu Jardim.Te fao Cama de rosas,travesseiro de Jasmim.Te lavo em gua-de-cheiro,te deito em cima de mim.

Os dois entram e fecham a cortina.Quaderna:O que se passou ali-digo ao pblico-auditor- impossvel descrever,tal foi a cena-de-amor!Imagine quem j tenhavivido um igual ardor.

Mas, pra falar do que houve,uso um verso conhecido,que no da minha lavra,pois caiu num outro ouvido.Ele d plida idiado que ali foi sucedido.

Novamente a critrio do encenador, a cena seguinte pode ser representada pelo ator que faz Romeu ou por dois bonecos que representem o casal. Romeu (ou o casal de bonecos) aparece por cima do travesso que sustm a cortina.

Romeu:"Eu tirei minha Gravata,ela tirou o Vestido.Eu, o cinto, com Revlver,ela seus quatro Corpinhos.As anguas engomadassoavam nos meus ouvidoscomo um tecido de sedapor vinte facas rompido.Eu toquei seus belos peitosque estavam adormecidos,e eles se ergueram, de sbito,como ramos de jacinto.Naquela noite eu passeipelo melhor dos caminhos,montado em Potrinha branca,mas sem Sela e sem estribos.Suas coxas me escapavam,como Peixes surpreendidos,metade cheias de fogo,metade cheias de frio".

Julieta:"Ele tirou a Gravata,eu tirei o meu Vestido.Ele, o cinto, com Revlver,e eu, meus quatro Corpinhos.As anguas engomadassoavam nos meus ouvidoscomo um tecido de sedapor vinte facas rompido.Ele tocou nos meus Seios,que estavam adormecidos,e eles se ergueram de sbito,como ramos de jacinto.Naquela noite, corripelo melhor dos caminhos,montada por um Ginete,mas sem Sela e sem estribos.Minhas coxas lhe escapavam,como Peixes surpreendidos,metade cheias de fogo,metade cheias de frio".

Quaderna:Ento, que imagine o pblicoesta cena de noivado.O tempo em que estiveramaqueles dois abraados.Quantos beijos, quantos toques,quantos xtases trocados!

O Dia j vinha entrandopela brecha da Alvorada.Eles, coitados, pensavamque inda era a Madrugada,e Romeu, feliz, beijavao corpo de sua Amada.

Quando, porm, conheceramque o dia estava a chegar,Romeu disse a Julieta:

Romeu:Eu inda estava a sonhar!Adeus! Nesta hora triste,eu parto, vou te deixar!

Vamos viver separados,pois o Destino assim quis.Eu peo a Deus que te faa,no mundo, muito feliz.Eu partirei para o exlio:cumpro uma Sorte infeliz!

Se algum dia tu souberesque eu, longe de ti, morri,murmura a Deus uma precepor quem tanto amou a ti.Derrama por mim teu pranto,que eu, por ti, muito sofri.

Quanto a mim, tambm te juroque, se morreres primeiro,sobre o teu leito de morteeu virei, triste romeiro,dar, abraado contigo,meu suspiro derradeiro.

Eu estou sentindo um tristepressentimento de Morte.Minh'alma, como uma Nauque est perdida e sem norte,vagueia num Mar imenso,entregue a terrvel sorte.

Como vai ser triste e duroo tempo que vou passarlonge de ti, Julieta,da bno do teu olhar!Adeus, enfim: vou seguir!Adeus: eu vou te deixar!

Adeus, Verona, onde deixomeu Sonho, minha iluso!Adeus casas, ruas, praas,e aves de arribao.Adeus, Julieta! Eu parto,mas fica o meu corao!

Quaderna:Beijaram-se os dois amantes,se abraaram docemente.Juraram que haveriamde se amar eternamente.E afinal se separaram,chorando o Amor inocente.

Logo aps Romeu deixavaa nobre e bela Morada.Julieta, soluando,na Varanda debruada,ficou at que Romeuse sumiu no p da Estrada.

Daquele dia em diante,Julieta no mais sorriu.Sonhando pelo Jardim,nunca mais ningum a viu.Do castelo de seu pai,pra canto nenhum saiu.

Todos ficaram pasmados,perante aquela tristeza.Pensavam que era doenasua profunda frieza.S imagem de Romeu que se mantinha presa.

Um dia, seu pai chamou-aat a sua presena:

Capuleto:Minha filha, escute aqui:eu quero que te convenasde que vou dar-te um remdiopra esta tua doena!

Ontem, veio o Conde Priste pedir em casamento.Por ser um moo de bem,dei-lhe o meu consentimento.Vou te apresentar a ele,dentro de poucos momentos.

Julieta:Pai, no faa esta desgraa!Eu no quero me casar!Eternamente solteira,quero meus dias findar!Somente a voc, meu Pai que na vida hei-de amar!

Capuleto:No, minha filha, ouve bem:tu deves ter um Marido!J dei meu consentimentoe o voto ser cumprido!J tenho o Conde por genro,e um genro muito querido!

Se no cumpres o mandadoque agora te fao a ti,podes dizer para o mundo:"Para meu Pai, eu morri"!Pois nunca mais deitareiminha bno sobre ti!

Julieta:Pacincia! Como Pai,o senhor faz o que quer!Mas eu, desse Conde Pris,nunca serei a Mulher!Desculpe, querido Pai:no posso lhe obedecer!

Quaderna:Capuleto, furioso,de raiva cerrou os dentes.Chegou a empurrar ao choa pobre filha inocente.E, todo cheio de clera,saiu de l bruscamente.

Julieta, em desespero,sua Criada chamou.

Julieta:V me procurar o Padreque o meu Confessor.Diga-lhe que, sem demora,venha aqui onde eu estou!

Quaderna:Alguns momentos depois,quando o Padre ali chegou,Julieta, para ele,os seus desgostos contou.A cena que o Pai fizera,tambm toda relatou.

Acabada a narrao,o Padre pega a falar:

Padre:Ah, filha, voc no devedeixar-se desesperar!Acho que tenho um remdioque tudo pode evitar!

Precisa muita coragempara o que vou lhe propor.Mas voc no tenha medo:confie em Nosso Senhor!Escute ento o que eu digo,pois meu plano vou lhe expor.

Eu tenho, h muito, comigo,um frasco de dormideira.Se voc tom-la, ficamorta uma semana inteira.Com ela, que vou salv-la! assim, desta maneira:

Voc bebe a dormideira,e vo pensar que morreu.Seu Pai faz o seu enterro:quem vai celebrar, sou eu!Acabada a cerimnia,mando avisar a Romeu.

Ele vem, leva seu corpopra Mntua, terra do exlio.Talvez, depois, o seu Paio receba como filho.Se assim for, vocs doisvo viver o seu idlio!

Quaderna:Julieta aceitou tudoo que o Padre propusera. noite, toma o narcticocomo o Confessor dissera.E, com pouco, no Castelo,sua Me se desespera.

O Pai, tambm muito triste,ordenou o Funeral.Como aquele nunca houveneste Mundo-terreal:Julieta teve enterrocomo no houve outro igual.

O Povo seguiu o Carro,pra sepultar na cidade.Eram mais de mil tocheiros,dando, a ela, a claridade!Capuleto, arrependido,chorava na soledade!

-Foi a que aconteceua maior fatalidade!-

Antes que o padre mandasseo aviso pra Romeu,Merccio, em Mntua, lhe disse:

Merccio:Ah, meu amigo Romeu!Dou-lhe a notcia sofrendo,pois Julieta morreu!Vim te buscar para a veres,linda, no tmulo seu!

Quaderna:Romeu ficou como loucocom a notcia que foi dada!Comprou ento um Veneno,cingiu ao cinto a Espadae partiu com o projetode morrer junto da Amada.Selou depressa o Cavalo,e, como um raio, partiu,em galope cego e doido,como ningum nunca viu.E, a caminho de Verona,num momento se sumiu!

Quando, l no Cemitrio,pelo Porto j entrara,encontrou Pris que ialevar Rosas que comprarapara perfumar o corpoda Bela que o desprezara.

Pris gritou a Romeu:

Pris:Que vens tu fazer aqui?No sabes que Capuletotem grande dio por ti?Retira-te, se no querestambm ficar morto a!

Romeu:A resposta que te dou tirar a minha Espadae descarregar, em ti,tal golpe de cutilada,que te decepe a cabea,na primeira navalhada!

Lutam. Romeu mata Pris.

Quaderna:Matou, guardou a Espada,e correu para onde estavao belo corpo daquelaa quem mais que tudo amava,e que, naquele momento,como morta ali se achava.

Romeu (bebendo o veneno):Este Veneno quem salva,de sua morte, a Romeu!Nada me resta no mundo,pois Julieta morreu!No outro vivo, no Reinoa que ela se acolheu!

Meu Amor, vou encontrar-te:eu no me deixo abater!J faz efeito o Veneno,eu j comeo a morrer!J esto cegos meus olhos!Mas, vendo-te, volto a ver!

Morre.

Quaderna:Nesse instante, Julietade seu sono despertou,e, ento, muito espantada,Romeu ali avistou.Estava, porm, j morto,e ela se desesperou.

Julieta:Romeu! Ah, que dor terrvel!Romeu! Estou como louca!Com todo este sacrifcionossa sorte ser to pouca?No possvel! Romeu,d um beijo em minha boca!

Acorda, Romeu, acorda!Faz-me, um que seja, um carinho!Vamos ns dois, descuidados,seguir o nosso caminho,e, longe daqui, bem longe,fazer, pra ns, outro ninho!

Quaderna:Ficou assim, muito tempo,chamando por seu Esposo.Afinal, viu que ele forapara o lugar do repouso,l, onde um outro sentidotm Amor, e sonho, e gozo.

Tirou, ento, de Romeu,o seu Punhal afiado.Enterrou no coraoaquele ferro aguado,e caiu, morta, por cimado corpo do seu Amado.

A, algumas pessoasque foram ao Cemitrioficaram muito espantadascom todo aquele mistrio:morto o casal, morto Pris,na entrada do Presbitrio.

Depois, soube-se de tudo,porque o Padre contou.Capuleto, muito triste,um Tmulo preparou,e os Amantes, abraados,dentro dele sepultou.

Somente depois da mortefoi que puderam se unir,tendo, os dois jovens corpos,j deixado de existir,e nada mais, neste mundo,lhes sendo dado fruir!

Os msicos tocam o "Romance de Minervina. Antero Savedra pronuncia a Segunda-Cadncia-de-Moralidade. Encerrada esta, Quaderna retoma a palavra:

Quaderna:Quem ouviu este Romancee sabe o que se escreveu,sabe a Condessa Montquioem que condies morreu.Tambm conhece a fraquezaque seu filho cometeu.

Romeu, que era valente-diz a sua biografia-,soube, dita por seu Pai,a dor que este sofria.Romeu jurou de ving-lo,no mesmo ou no outro dia.Mas logo deixa a promessano fundo de uma gaveta.Bastou ver, num belo seio,um cacho de violetas.Mesmo inimiga do Pai,amou logo a Julieta.

Nas condies em que estava,no tinha nenhum rodeio:era vingar-se de tudo,fingindo como um passeio.No tinha que perguntarse o rosto era belo ou feio.

Mas ele no fez assim:quando entrou naquela Sala,viu Julieta danando,fez tudo pra conquist-la.Inda ela sendo uma Deusa,ele deveria odi-la!

Romeu foi falso a seu Pai,vem da o seu castigo.Faltou-lhe tenacidade:no percebeu o perigode se casar com a filhade seu pior inimigo!

Foi este o maior motivode sua infelicidade.Romeu traiu a famlia,faltou-lhe com a lealdade.Onde existe um dio antigono pode haver amizade.

Os Amantes de Veronativeram fim desgraado,embora tenham morridoum com a outra abraado.Julieta apunhalou-se,Romeu foi-se, envenenado.

-De modo que o espetculo acaba com a ltima estrofe do folheto sertanejo que lhe deu origem:-

Antero Savedra e Quaderna:Quem odeia a traiotem que dizer como eu:como o rapaz no vingou-sede tudo o que o Pai sofreu,eu escrevi, mas no gosto,da histria de Romeu.