A Economia Cafeeira e o Vale Do Paraíba

3
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS HISTÓRIA DO BRASIL III PROFESSORA CAROLINA DANTAS ALUNO DIEGO SODRÉ A economia cafeeira e o Vale do Paraíba Neste texto, fiz um resumo da expansão da indústria, urbanização e da economia cafeeira no Brasil, do Império até o fim da Primeira República, sem estarem necessariamente ligadas de modo hierárquico, linear, não-dialético. Também mostrei como se encontram os atuais descendentes dos ricos fazendeiros do Vale do Paraíba, cuja situação contrasta bastante com o passado de prosperidade dessa região. Os trechos citados durante meu texto são do artigo de José Miguel Arias Neto, intitulado Primeira República: economia cafeeira, urbanização e industrialização. Para escrever sobre o estado de pobreza das terras e de seus donos no Vale do Paraíba, analisei o documentário O Vale, de João Moreira Sales. Há quem diga que a industrialização no Brasil só começou com os investimentos provenientes dos cafeeiros. Porém, “desde o séc. XVI se desenvolveram atividades industriais no Brasil”, como “a fabricação do açúcar nos engenhos, a construção naval e algumas manufaturas”. “Em 1840, o café já era o principal produto da pauta de exportações brasileiras”. Com a lei Eusébio de Queiroz, os liberais brasileiros, pela mentalidade “quase fisiocrata” defenderam que os investimentos desviados da compra e venda de escravos devessem ser aplicados “na consolidação da lavoura” [ou seja, substituir a mão-de-obra escrava por trabalhadores com ideologia do trabalho livre, os imigrantes europeus], descartando “qualquer espécie de protecionismo às manufaturas e indústrias. Contudo, “esse capital afluiu para atividades comerciais, manufatureiras, transportes e, até mesmo para a especulação financeira, promovendo um primeiro surto de urbanização e de alargamento do emprego do trabalho livre”. Desta maneira, “a dinamização da economia cafeeira a partir do séc. XIX provocou um movimento mais ou menos geral de modernização do país”, provocado pela exportação de capitais” das potências

description

Muito interessante

Transcript of A Economia Cafeeira e o Vale Do Paraíba

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

DEPARTAMENTO DE HISTRIA

CURSO DE CINCIAS SOCIAIS

HISTRIA DO BRASIL III

PROFESSORA CAROLINA DANTAS

ALUNO DIEGO SODR

A economia cafeeira e o Vale do Paraba

Neste texto, fiz um resumo da expanso da indstria, urbanizao e da economia cafeeira no Brasil, do Imprio at o fim da Primeira Repblica, sem estarem necessariamente ligadas de modo hierrquico, linear, no-dialtico. Tambm mostrei como se encontram os atuais descendentes dos ricos fazendeiros do Vale do Paraba, cuja situao contrasta bastante com o passado de prosperidade dessa regio. Os trechos citados durante meu texto so do artigo de Jos Miguel Arias Neto, intitulado Primeira Repblica: economia cafeeira, urbanizao e industrializao. Para escrever sobre o estado de pobreza das terras e de seus donos no Vale do Paraba, analisei o documentrio O Vale, de Joo Moreira Sales.

H quem diga que a industrializao no Brasil s comeou com os investimentos provenientes dos cafeeiros. Porm, desde o sc. XVI se desenvolveram atividades industriais no Brasil, como a fabricao do acar nos engenhos, a construo naval e algumas manufaturas.

Em 1840, o caf j era o principal produto da pauta de exportaes brasileiras. Com a lei Eusbio de Queiroz, os liberais brasileiros, pela mentalidade quase fisiocrata defenderam que os investimentos desviados da compra e venda de escravos devessem ser aplicados na consolidao da lavoura [ou seja, substituir a mo-de-obra escrava por trabalhadores com ideologia do trabalho livre, os imigrantes europeus], descartando qualquer espcie de protecionismo s manufaturas e indstrias. Contudo, esse capital afluiu para atividades comerciais, manufatureiras, transportes e, at mesmo para a especulao financeira, promovendo um primeiro surto de urbanizao e de alargamento do emprego do trabalho livre.

Desta maneira, a dinamizao da economia cafeeira a partir do sc. XIX provocou um movimento mais ou menos geral de modernizao do pas, provocado pela exportao de capitais das potncias imperialistas para regies menos desenvolvidas. Exemplos de investimentos de capitalistas no Brasil foram os emprstimos, implantao de ferrovias, modernizao de portos, melhoramentos urbanos, e na forma de bens de capital, usados na indstria para criar valor nos produtos.

No incio do sculo XX, o desenvolvimento industrial continuou sendo beneficiado pela expanso da economia cafeeira: o crescimento da rea de plantio geralmente era precedido ou, em algumas regies como por exemplo o norte do Paran , seguido pela construo da ferrovia, que propiciava o escoamento da produo para os portos (). Ao mesmo tempo, fundavam-se novos ncleos urbanos, ampliavam-se as necessidades de consumo e crescia a demanda do abastecimento.

A indstria brasileira, que surgira como grande indstria de bens de consumo, segundo Srgio Silva, voltada para um mercado interno em boa fase de crescimento, foi desenvolvida pela fuso de capitais de cafeeiros com os da burguesia comercial. Esta fuso, porm, no determinou uma linearidade de interesses e um alinhamento poltico automtico. Um exemplo disso foram os constantes embates entre cafeicultores, comerciantes e industriais em torno das tarifas alfandegrias.

Assim, definitivamente, o que se mostra que a modernizao do pas, que comeou nas trs ltimas dcadas do Imprio, no pode ser confundida com a industrializao de So Paulo. Apesar de estar centralizada na regio cafeeira, a despeito da concentrao de capitais ter sido mais elevada e acelerada naquele estado, o processo de modernizao autoritria ocorreu em todo o territrio nacional ().

Mas, e o Vale do Paraba? Onde entra no texto?

Pois bem, o Vale do Paraba era uma das regies mais ricas do pas. Seus nobres fazendeiros importavam diversos utenslios da Europa, de preferncia da Frana, e tinham terras cobertas de cafezais antes uma floresta diversa e bela que iam alm do horizonte. O trabalho era escravo e a prosperidade imperava; at que o solo deixou de ser to rico em nutrientes.

Percebendo o esgotamento do solo, predatoriamente explorado, investimentos passaram a ser feitos nas frteis terras roxas do Oeste paulista, abandonando o Vale e seus cafeicultores.

Mesmo com a valorizao do caf, os fazendeiros tentaram substituir o plantio de caf por outros, sem sucesso. De qualquer jeito, o solo do Vale j estava morto, devido s condies predatrias de plantio. Tentou-se a pecuria, mas nem o pasto serviu para alimentar o gado, pois era pobre. Hoje, s se v o Vale pelado, com diversas voorocas e alguns bois e vacas.

Muitos previram o que aconteceu com o Vale, mas ningum ligou. E deu no que deu.

O que mais estarrece ver a condio daqueles que hoje carregam o sangue daqueles nobres. As geraes seguintes no conseguiram lidar com o empobrecimento geolgico e econmico e entraram em recesso, tendo que vender ovos de porta em porta para completar a renda. Desabafos dos descendentes como S o que restou nesse lugar fui eu... eu e Deus...; e mais ningum e eu no sei o que fazer! mostram o estado de decadncia de suas famlias e da regio.

Para finalizar, relaciono a decadncia do Vale do Paraba e a ascenso do Oeste paulista com o aumento da produo de caf e de indstrias, ou seja, houve o deslocamento do centro dinmico da cafeicultura para um lugar de terras mais frteis. Por isto, So Paulo se tornou a locomotiva do pas e o restante dos estados so vages vazios sendo puxados. Vale lembrar mais uma vez que esta viso simplista, pois a indstria se desenvolveu em todos os cantos do pas, com maior destaque para o Sudeste.