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Política e cultura segundo o ponto de vista da esquerda democrática
Democracia Política e novo Reformismo
domingo, 12 de outubro de 200 8
Postado por Gilvan Cavalcanti de Melo às 0 8: 27 Ne nh um co m en tá ri o:
FRASE SELECIONADA “O político em ação é um criador, um suscitador; mas não cria do nada, nem se
move no vazio túrbido dos seus desejos e sonhos. Baseia-se na realidade
fatual. Mas, o que é esta realidade fatual? É talvez algo de estático, ou não é
antes uma relação de forças em continuo movimento e mudança de
equilíbrio?”
(Gramsci – em Prev isão e perspectiva - )
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A derrota por trás da vitória
José de Souza Martins*
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO /ALIÁS
Expansão municipal do PT mostra que quem ganhou não foi o partido da
luta, mas o do clientelismo
Num país em que os grandes partidos têm sua i dentidade anulada por um número excessivo
de pequenos partidos sem perfil ideológico e sem projeto político, os resultados de eleições
como a eleição municipal recente são, no geral, enganadores mesmo quando não sãosurpreendentes. Desde que o clientelismo cedeu lugar ao populismo na política brasileira,
nosso processo político é dominado por grandes eleitores invisíveis, como é o caso da nossa
cultura comunitária, e partidos ocultos, como é o caso das alianças de ocasião.
O Brasil é um país em que o partidário e o propriamente político nem sempre caminham
juntos. Esse desencontro manife stou-se nestas elei ções. Nessa perspectiva, é possível ver n a
expansão municipal do PT não a vitória do partido, mas sua derrota. Nas pequenas
localidades de regiões pobres fracassou o PT da l uta em favor do PT do poder e do
neoclientelismo do Bolsa-Família.
Não é estranho que o petismo venha sendo engoli do pelo luli smo, como não serão estranhos
os efeitos a médio prazo dessa metamorfose que faz de um partido de esquerda um partido
populista. A prática do PT no poder não o confirmou como partido de esquerda e suas
estratégias políticas o mergulham numa cultura de desgaste e perda de identidade. O PT já
não é um partido alternativo, como se propunha o PT dos primeiros tempos, simplesmente
porque não pode ser alternativo a si mesmo.
Além disso, o carisma de Lula, que não é necessariamen te medido pelos 80% de suapopularidade, começa a encontrar seu limi te. O pessoal e di reto envolvimento do presidente
Luiz Inácio nas campanhas eleitorais dos candidatos petistas, em São Paulo e no ABC de seu
domicílio e de sua origem política, não refletiu esse carisma. Não só porque carisma é
intransferível, mas também porque no caso de Lula, excetuadas as regiões remotas do País, é
ele considerado pessoa para se admirar, mas não necessariamente político para se obedecer e
seguir. Lula pode, até mesmo, estar tirando votos dos candidatos de seu partido. Isso,
provavelmente, aconteceu tanto em São Paulo quanto no ABC.
Nesse cenário, a derrota do PT é acachapante. Em São Bernardo, lançou como candidato a
prefeito um ex-ministro apoiado pel o maior cabo el eitoral do país, o presidente da República.
Ali , Lul a e o PT, sem o p retenderem, t ransformaram a el eição municipal num plebi scito para
jul gar o governo da Repúbli ca. Ao não vencerem a el eição n o primeiro turno, perderam mui to
mais que uma eleição municipal. O mesmo vale para São Paulo, em que o PT entrou com o
suposto capital social de uma candidata que é ex-prefeita e ex-ministra e também teve como
cabo eleitoral o próprio Lui z Inácio. A derrota foi imensa, sobretudo porque aqui o maior
eleitor de São Paulo, que é o governador José Serra, não se envolveu diretamente na
Uma contribuição para o di álogo en tre correntes
de opinião política identificadas com as
conquistas do Estado Democrático de Direito e
com obje tivos de reforma social, contra velhas e
novas desigualdades.
Apresentação
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Postado por Gilvan Cavalcanti de Melo às 0 8: 21 Ne nh um co m en tá ri o:
campanha nem do candidato de seu partido nem do candidato da ali ança política em que se
apóia.
O que se agrava com a insistência na retórica de que a candidata do PT é de esquerda e
representa os pobres e o candidato do DEM é de direita e representa os ricos. O que não tem
apoio no patrimônio declarado da candidata petista, de mais de R$ 10 milhões, o dobro do
patrimônio do candidato do DEM. O PT, em São Paulo, tornou-se prisioneiro e vítima de um
periferismo antipolítico. Isso vem desde a administração de Luiza Erundina. Duas prefeitas que
foram prefeitas da periferia e em nenhum momento tiveram clareza sobre a complexidade
política do que vem a ser o urbano, a cidade e a metrópole. O PT revelou que não tem um
projeto de revolução urbana, que transforme profundamente as condições de vida da
população da metrópole. No lado oposto, desde que José Serra assumiu a Prefeitura e desde
que Kassab o substituiu, fica evidente que o PSDB tem um projeto nesse sentido, ainda que
tímido, numa concepção moderna e culta de metrópole.
Enquanto os votos de Kassab predominam no núcleo interior do município, os votos de Marta
se di stribuem num círculo ao redor desse núcleo. Há uma dinâmica nessa espacialidade
eleitoral que se revela no fato de que Kassab ganhou eleitores onde Marta teve maior votação
há quatro anos. E Marta não cresce onde Kassab se firma. O que tem sentido na perspectiva
social-democrática, à qual o DEM aderiu na conjuntura de um pacto político que regeu sua
vitória no primei ro turno.
O grande problema do PSDB, porém, é que o partido não se proponha aberta e
pedagogicamente como partido da social-democracia. Num momento em que o PT já não
tem condições de dizer publicamente que é um partido socialista, essa timidez do PSDB
diminui o impacto que poderia ter na política brasileira. Na mesma linha de raciocínio, eu
diria que o PSDB subestima e m esmo desconhece um dos grandes eleitores da política
brasileira, que é a cultura comunitária de extensa parcela da população votante. O PT se
apoderou desse comunitarismo sem entendê-lo e o interpretou como lealdade cega e
obediente, coisa que ele não é, m enos ainda em face de candidatos ricos que se passam por
pobres. O PSDB aliado com o DEM, no caso de São Paulo, também sem entender exatamente
o que é esse comunitarismo, empenhou-se no entanto, justamente, em governar em nome devalores comunitários, em gestos concretos de amor à cidade, em medidas civili zadas como a
entrega domiciliar, regularmente, de medicamentos para os que dele necessitam, na
continuidade de obras como os CEUs em nome do bem comum, porque governar é continuar o
que é bom e inovar em relação ao que não o é.
No conjunto, os resultados das eleições passaram longe da concepção de que no Brasil de
hoje são elas reguladas pela retórica da l uta de classes e dos antagonismos sociais. Ao
contrário, tanto onde o PT foi vi torioso quanto onde foi derrotado, o el eitorado mostrou-se
conservador no voto e, em casos como o de São Paulo, mostrou-se conciliatoriamente
moderno nas aspirações. Os eleitores recusaram a concepção depreciativa e anticomunitária
de que política é o bate-boca de porta de botequim.
*José de Souza Martins é professor titular de sociologia da Faculdade de Filosofia da USP
e autor, entre outros títulos, de A Aparição do Demônio na Fábrica (Editora 34 )
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Maldição de Kondratieff
Nas Entrelinhas :: Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Quando a política não é suficiente para resolver o
problema e o sistema entra em colapso, a solução é a
lei dos mais fortes, ou seja, a “mão invisível” do
mercado
Não acredito numa derrocada capitalista. Tenho meus motivos. Só houve duas crises gerais do
capitalismo: a Grande Depressão de 1873-1893 e a Grande Depressão de 1929-1941. Na
primeira, coube à Inglaterra liderar a recuperação da economia mundial; na segunda, foi a vez
dos Estados Unidos. Em ambas, a saída resultou da intervenção do Estado. O mundo
capitalista foi criado na dependência de um mercado internacional e sempre dependeu docomércio. Os estados nacionais surgiram dentro dessa lógica e as tensões entre eles, nos
momentos de crise econômica, resultaram em duas guerras mundiais e centenas de conflitos
armados. O pior numa crise como a atual seria a história se repetir dessa forma. De 1834 até
hoje, os Estados Unidos passaram por 35 ciclos econômicos e crises, das quais sempre saíram
mais fortes. Não acredito que ocorra di ferente agora. A União Européia ou a China não
reúnem condições para assumir a liderança.
Crise geral
A força propulsora da ati vidade capital ista é o l ucro. Para serem competi tivas, as empresas são
obrigadas a aumentar a produtividade e conseguir menores custos unitários. O crescimento do
capital fixo em relação ao produto (capitalização) é a condição para isso. A contrapartida é a
taxa de lucro decrescente. Isso possibilita lucros maiores para uma empresa ou segmento
tecnológico inovador, mas a taxa média de lucro do sistema declina progressivamente. A
longo prazo, isso diminui a demanda por investimentos e aumenta a capacidade ociosa. Os
governos entram em campo para evitar a recessão, mas chega uma hora que não conseguem
imagem do ex-president...
Gilva n Cava lcanti de Melo
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
Brazil
(5/12/1935, Limoe iro (PE). Na
década de 1950 foi dirigente estudantil e,
posteriormente, dirigente dos servidores federais,
até março de 1964 . Colaborava com os jornais
pecebistas "Folha do Povo" (PE), “A Hora” (PE) e
“Novos Rumos” (Rio). Estudou no Instituto
Superior de Ciências Sociais (Moscou). Com
golpe militar(1964) esteve preso, em Recife, até ju lho de 196 5. F oi dem iti do do serviço púb li co
(Ato Institucional nº1). Transferiu-se para o Rio
de Janeiro, na cland estinidade, até nova prisão
em 1970/1972. Respondeu a vários processos na
Justiça Militar (UNE/UBES, IAPB, PCB, etc.) e foi
condenado a revelia. Esteve exilado no Chile e
em Cuba. Foi anistiado com a promulgação da
Lei de Anistia de 1979, entre os primeiros 326 da
lista, divulgada na imprensa (JB, 31/8/1979). Fez
parte da fundação do PPS, (janeiro de 1992).
Desde então, faz parte da sua direção nacion al.
Nos anos de 1980 participou da Cooperativa
Brasileira de Cine ma e d o Conselho Editorial da
revista Presença. Hoje, é m embro do Conselho
Editorial da revista Política Democrática, da
Fundação Astrojildo Pereira.
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FRASE SELECIONADA
A d errota po r trás da vitó ria
Maldição de Kondratieff
"Circuit breaker" p lanetário
Remoção de obstáculos
Quem apóia quem
Fisiologismo
Circuit breaker x Laissez faire
O QUE PENSA A MÍDIA
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Postado por Gilvan Cavalcanti de Melo às 0 8: 14 Ne nh um co m en tá ri o:
mais. A estagnação vem para destruir os capitais mais fracos, provocar desemprego e arrochar
salários. Decorre da própria forma de acumulação de capital, não pode ser evitada pela
intervenção do Estado, por mais progressista que seja. Quando a política não é suficiente para
resolver o problema e o sistema entra em colapso, a solução é a lei dos mais fortes, ou seja, a
“mão invisível” do mercado. Se isso ocorrer na crise atual, teremos uma nova crise geral. Acho
difícil. Mas vamos supor que isso ocorra: o mundo não vai acabar.
A melhor hipót ese é ou tra: um longo cicl o econ ômico está se fechando. Dois economi stas se
dedicaram ao estudo desse assunto. O pioneiro foi o russo Nikolai Kondratieff, que durante 20
anos analisou indicadores econômicos da França, Inglaterra, Estados Unidos e Alemanha:
preços, juros, salários, comércio, consumo de energia e crescimento demográfico. A cada 50
anos, concluiu, ocorre um ciclo econômico longo, cuja expansão é caracterizada por grandes
investimentos em bens de capital, enquanto a retração decorre da depreciação dos ativos. A
primeira onda teria durado de 1790 a 1844, a segunda de 1851 a 1890 e a terceira de 1896 a1929. Inovações tecnológicas desempenharam papel crucial nesses ciclos.
Novo ciclo
Kondratieff pagou com a vida por suas idéias, que contrariavam as teses de Stálin sobre a
produtividade do trabalho, o planejam ento estatal centralizado e a crise geral do capitalismo.
No Brasil, o único economista a utilizar a teoria dos ciclos longos de investimento de
Kondratieff foi Inácio Rangel, que publicou o ensaio “Dualidade Básica da Economia
Brasileira”em 1957. Na década de 80, em plena crise do petróleo, previu o esgotamento do
modelo de “substituição de importações” e a necessidade de privatizações para resolver a crise
de financiamento do setor público e retomar o crescimento. Estava certo.
O austríaco J. Schumpeter, professor de Havard, deu continuidade aos estudos de Kondratieff .
Reiterou o papel das inovações tecnológicas na expansão capitali sta e identificou um quarto
ciclo longo. Começou com a petroquímica, o motor elétrico, a radiofonia, a televisão, a
energia nuclear e a aviação comercial. Chegou aos satélites, à microeletrônica, à robótica, à
fibra ótica e outras inovações que hoje fazem parte do nosso cotidiano, como internet. Sem
elas, as bolsas do mundo não enlouqueceriam, não haveria tanta especulação com títulos nomercado futuro. A jogatina financeira em tempo real que está quebrando bancos e
seguradores pelo mundo afora. E o Brasil não sofreria a inesperada desvalorização cambial
não-declarada d a semana passada.
Tanto Kondratieff como Schumpeter foram ridi cularizados por seus “esquematismos”, mas a
teoria dos ciclos longos está se confirmando. Parece uma praga do economista russo.
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Postado por Gilvan Cavalcanti de Melo às 0 8: 04 Ne nh um co m en tá ri o:
"Circuit breaker" planetário
Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
BRASÍLIA - O mundo está em pânico e sem saber o que fazer. Cada um fala uma coisa, e a
idéia que parece mai s sensata partiu justamente do mai s insensato número 2 (só perde para
Bush): o primei ro-ministro da Itáli a, Sil vio Berlusconi, sugeriu que as Bolsas de todo o mundo
fechem não necessariamente para balanço, mas até que surja uma proposta consistente para
enfrentar a maior crise mundial desde o "crash" de 1929.
Um "circuit breaker" pl anetário, estendendo para todas as Bolsas, simultaneamente, o
instrumento acionado para interromper os pregões sempre que as quedas atingem um ponto
insuportável.
A crise está exatamente assim: insuportável.Não é preciso ser um gênio da e conomia, nem de
coisa nenhuma, para saber a esta altura que a crise não é apenas gravíssima, como
imprevisível, fora de controle. Nem para saber que a pior reação é tentar minimizar as suas
dimensões.
No Brasil, o tom dos analistas ainda é de otimismo, inclusive o do economista Gustavo Franco,
presidente do BC no primeiro mandato de FHC. Mas, num canto da página, el es dizem que acrise é financeira e das grandes potências, não chegará ao mundo real e aos emergentes.
No outro canto, vêm as notícias sobre sólidas companhias como a Votorantim, a Sadia e a
Aracruz, que tiveram perdas bil ionárias provenien tes de operações com câmbio. Se isso não
chega ao mundo real, o que pode chegar?Um segundo contraste: nos EUA, Bush e os demais
líderes descabelavam-se com a crise financeira; no Brasil, Lula caprichava no penteado para
tirar fotos com aliados -ou "neo-aliados", como Eduardo Paes, no Rio-, enquanto se preparava
para sumir no mundo.
Lula bateu em 80% de popularidade surfando nos cinco anos mais ensolarados e de maior
crescimento do mundo, mas pega em dose única toda a intensidade das cinco crises
internacionais da era FHC.
FHC não fez o sucessor. Ele fará?
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Remoção de obstáculos
Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Terminado o período de engalfinho nas elei ções municipais, PT e PSDB vão se
unir para investir no projeto de acabar com o instituto da reeleição, em vigor há pouco mais de
10 anos por obra dos tucanos que, ao chegarem à Presidência da República em 1994,
acharam pouco um só mandato, usaram a maioria parlamentar para mudar a Constituição econseguiram governar por oito anos.
Os argumentos da época - mandato muito curto, adaptação às regras de democracias mais
avançadas e oportunidade do cidadão dobrar o tempo de governos bem avaliados - hoje foram
substituídos por um genérico "não deu certo".
Isso, no caso dos tucanos adeptos da tese. O PT apresenta-se muito mais a cavaleiro nessa
parceria marcada para entrar em atividade aos primeiros acordes do ano legislativo de 2009,
porque na ocasião votou contra e agora basta invocar o desejo de restabelecer relações com a
coerência.
Patrono assumido de qualquer uma das emendas que tramitam no Congresso propondo a
revogação do direito à di sputa por um segundo mandato consecutivo para presidentes,
governadores e prefeitos, o governador de São Paulo, José Serra, tem o apoio explícito do
presidente da Câmara, o peti sta Arlindo Chinaglia e, segundo consta, o aval implícito do
presidente Luiz Inácio da Si lva.
Lula não aborda o assunto publicamente, mas, de acordo com o governador de São Paulo, osdois já conversaram três ou quatro vezes sobre o assunto e chegaram a um entendimento
comum de que a reeleição alimenta o uso da máquina administrativa, faz do governante um
permanente candidato e desequilibra fortemente as disputas em favor do postulante à
reeleição.
De fato, os números confirmam o crescimento do índice de reeleitos. Levantamento feito pela
Confederação Nacional dos Municípios mostra que, em 2000 e 2004, 58% dos prefeitos foram
reconduzidos aos cargos e agora o porcentual subiu para 66%.
Em tese, essa constatação serviria para consolidar o instituto da reeleição, entre outros motivos
porque prefeitos e governadores não emprestariam seus apoios à mudança da Constituição
para a volta do mandato único, mas de cinco anos.
Como há pesquisas indicando que a maioria (80%) da população apóia a chance de reeleger
um governante e as lideranças políticas "de ponta" oficialmente haviam recuado da posição
de acabar com a reeleição quando começou a circular a versão de que o presidente Lula
tentaria um terceiro mandato, a história parecia enterrada.
O único que continuou defendendo a proposta foi José Serra, alegando a condição de
contrário histórico, inclusive quando da aprovação para favorecer Fernando Henrique Cardoso.
Mas, nem bem terminou o primeiro turno da eleição municipal uma semana atrás, ficou
patente que não falava sozinho. Do lado do PSDB o senador Álvaro Dias já se animou a
levantar a bandeira e o presidente da Câmara declarou-se também favorável, acrescentando
que a maioria das emendas em tramitação na Casa trata do fim da reeleição.
A idéi a é escolher uma e da r prosseguimento ao debate.
Sobre as chances de prosperar é difícil fazer um prognóstico, porque não há consenso nos
partidos e, além disso, existe no meio a realidade: como derrubar algo que favorece quem está
no poder e, ainda por cima, conta com apoio popular?
Só existe uma maneira: os que almejam ou detêm o poder maior se engajarem na causa.
E o que os levaria a enfrentar uma batalha tão dura para desfazer o feito há tão pouco tempo,
se poderiam investir na melhoria no lugar de apostar no fim do instrumento? Por que nãoobrigar o governante a sair do cargo na campanha ou reduzir a tolerância com o uso da
máquina numa boa ali ança com a Justiça Eleitoral?
Porque fala mais alto o i nteresse imediato daqueles que precisam produzir uma alternância de
resultados. Em português mais claro: fazer andar mais depressa a fila de espera de
pretendentes ao Palácio do Pl analto.
Só nos lugares mais visíveis há três, não por coincidência todos do PSDB e do PT: José Serra,
Aécio Neves e Luiz Ináci o da Si lva. Mantida a regra atual, o rodízio l evaria 24 ano s.
Alterada a norma para o mandato único de ci nco anos, a rodada completa se faz em 15. Isso
sem contar os imprevistos surgidos no percurso.
Trata-se, portanto, de criar um atalho, remover obstáculos para mais gente conseguir com mais
rapidez acesso à rampa do Planalto, enquanto dispõem de patrimônio político para tal.
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Lula, por exemplo. Uma coisa será a tentativa de volta cinco anos após deixar o poder; outra
diferente, oito anos e o risco do surgimento de novas lideranças depois.
Claro que os porta-estandartes da bandeira repudiam interpretações desse jaez. Preferem a
tese da melhoria i nstitucional para o País, pois, da mesma forma como entrou no cenário em
vistoso embrulho de avanço "republicano", a reeleição é vestida para sair em figurino de
dourada pílula.
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Postado por Gilvan Cavalcanti de Melo às 0 7: 50 Ne nh um co m en tá ri o:
Quem apóia quemMarcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
DEU NO ESTADO DE MINAS
Quando mui tos candidatos se dizem apoiados pelas mesmas pessoas, os eleitores se
confundem e ficam com o sentimento de que, no sistema político, tudo se mistura, tudo é a
mesma coi sa, reforçando a idéia de que partidos e alinhamentos nada querem di zer -->Nem
bem recomeçou a campanha eleitoral, um dos assuntos que mais centralizaram as atenções no
primeiro turno voltou a ocupar o discurso dos candidatos e o interesse da imprensa. Em muitas
cidades onde o segundo turno está em andamento, ele chega a ser o eixo principal das
discussões.
Trata-se do velho tema dos apoios, de quem está do l ado de quem na elei ção. Quando havia
muitos candidatos em disputa, cada um insistia nas ligações que tinha com os políticos de
prestigio na cidade, como modo de atrair a atenção do elei tor. Todos os principais candidatos
a prefeito e muitos a vereador fizeram isso Brasil afora.
Os apoios mais cobiçados eram os de Lula e do governador do estado, salvo, é claro, dos
impopulares. Para ter o direito de se proclamar “o candidato” de um ou outro, houve brigas que
chegaram aos tribunais. Como raramente a questão veio a ser decidida neles, o que vimos
foram dois, três, quatro candidatos dizendo, ao mesmo tempo, que eram eles os apoiados por
um, outro ou ambos.
O segundo turno costuma resolver esse problema. Ao l ongo da eleição, acontece uma
progressiva depuração das várias candidaturas com que começa o processo, culminando nos
dois nomes que melhor expressam os lados principais da vida política local. Esquerda vs.
direita, mudança vs. continuidade, polaridades como essas se expressam nitidamente nas duas
candidatu ras restantes.
É bom que seja assim. Quando muitos candidatos se dizem apoiados pelas mesmas pessoas,
os eleitores se confundem e ficam com o sentimento de que, no sistema político, tudo se
mistura, tudo é a mesma coisa, reforçando a idéia de que partidos e alinhamentos nada
querem dizer.
Nestas eleições, existem lugares onde as coisas são cl aras. São Paulo é o melhor exemplo,com os dois lados tradicionais da pol ítica da ci dade tendo, cada um, apenas um candidato ou
candidata para representá-lo. É o que ocorre também em São Luís e algumas cidades médias,
onde Lula e o governador do estado estão claramente com alguém, sendo que, às vezes, os
dois apóiam o mesmo candidato, às vezes candidatos diferentes. Sobre isso, o eleitor não faz
confusão.
Há lugares em que não há diferenças nas ligações e nos apoios nacionais dos candidatos,
como em Salvador. João Henrique e Walter Pinheiro pertencem a partidos que estão na base
do governo federal e integram grupos políticos que se representam no ministério de Lula. No
plano estadual, porém, cada um tem seu lado. Lá, ninguém quer deixar os eleitores em
dúvida.
O caso mais extraordinário destas eleições acontece em Belo Horizonte. Desde o começo, Lula
deixou subentendido que apoiava Márcio Lacerda ou, pelo menos, que via com bons olhos
sua candidatura. Aliás, foi com alguma atuação sua que a Executiva Nacional do PT acabou
assimil ando a ali ança de Aécio e Pimentel em torno de Lacerda. Não podia, no entanto,
ultrapassar esse ponto, pois candidatos de vários outros partidos que integram seu governo
estavam na disputa. Todos podiam usar seu nome e se dizer próximos a ele sem querer confundir os eleitores, pois ele não tinha se manifestado em favor de nenhum. Lacerda e
Leonardo Quintão fizeram isso l egitimamente.
Mas e quanto ao apoio de Aécio Neves? O governador disse com todas as letras que apóia
Márcio Lacerda e que o vê como o mais qualificado para ser o prefeito da cidade. Isso,
normalmente, deveria bastar para esclarecer a questão.
Para Quintão, no entanto, é como se uma manifestação dessas não tivesse qualquer
significado. Na sua propaganda eleitoral, nas declarações à imprensa durante o primeiro e
agora no segundo turno, ele parece que não ouve ou não entende o governador. Toda vez
que pode, afirma contar com o apoio de Aécio.
Parece que Quintão quer que os eleitores de Belo Horizonte se esqueçam de que há dois
lados na eleição e que o dele não é o de Aécio.
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Fisiologismo
Merval Pereira
DEU EM O GLOBO
NOVA YORK. A supremacia do PMDB no quadro partidário
brasilei ro, e a consolidação da força política governista no
Nordeste, onde a decadência do antigo PFL deu lugar aocrescimento de PT, PSB e PDT, que duplicaram o número
de municípios sob seus comandos na região - tendências
confirmadas no primeiro turno das eleições municipais -,
seriam sinais de que o fisiologismo estaria predominando
no atual quadro políti co brasilei ro?
O cientista político Fernando Lattman Weltman, da Fundação Getuli o Vargas, tem uma visão
bastante pragmática sobre o PMDB, que a ele parece "menos um caso de falta de identidade
ou programa do que uma combinação muito específica de vantagens e desvantagens
competitivas derivadas, ao mesmo tempo, de sua grande e relativamente sólida capilaridade
em todo o território nacional, de par com a falta compreensível de lideranças nacionais
incontestes na legenda".
Para Weltman, de tanto ser uma espécie de condomínio de grupos políticos locais, sem uma
figura nacional que o unificasse, "o PM DB parece que aprendeu a extrair o m áximo benefício
de não poder fazer o presidente, mas ser necessário a qualquer um que por lá chegue. Como
se costuma dizer: aprendeu a fazer limonada de seus limões".
Com sarcasmo, ele diz que, "se isso é ser fisiológico, então sou forçado a reconhecer que, além
de válido, isso pode ser politicamente muito interessante".
Fernando Lattman Weltman diz que o fisiologismo é um tema "muito controverso e pouco
claro". Deixando de lado a corrupção, que pode estar ligada ao fisiologismo, mas é tipifi cada
como ilegal, Weltman procura uma definição de fisiologismo na política: É buscar o poder
pragmaticamente? É não possuir i dentidade ideol ógica e/ou programática?
Para ele, "dependendo do m odo como conceituamos o "fisiologismo", o PT, o PM DB e outros
partidos se ajustam ou não à qualificação". Tanto o PT quanto o DEM e o PSDB se encaixam
perfeitamente na definição de serem partidos que buscam o poder pragmaticamente, mas não
na de falta de identidade ideológica.
Weltman diz que não parece claro que haja "uma oposição necessária entre pragmatismo e
eficiência na competição eleitoral - coisas que talvez possam ser associadas a fisiologismo -,
de um lado, e consistência ideológica e programática, de outro".
Ele lembra que, como já propuseram outros teóricos, "a ideologia de um partido pode ser muito i mportante justamente por diferenciar um partido ou candidato em relação a seus
concorrentes em especial, quando não há grandes divergências sobre questões de fundo e os
partidos se dirigem para o centro, ou em busca do eleitor-médio, majoritário".
Assim, diz ele, a mudança permanente de identi dade "é perfeitamente natural no nosso
quadro partidário - e alhures -, em especial para partidos com vocação de poder". Isto se daria
por força, ao menos, de dois fatores "de grande plasticidade":
a) As características proporcionais e altamente competitivas do nosso sistema partidário - que
facilitam o surgimento, o colapso e a mudança de status das siglas partidárias;
b) O dinamismo da nossa estrutura social, essa sim, em mutação permanente e acelerada em
momentos de crescimento econômico, migrações internas e abertura para a globalização.
O sociólogo Hamilton Garcia, do Centro de Ciência do Homem da Universidade Estadual do
Norte Fluminense, acha que o novo perfil popular da classe média, "despolitizado e
consumista, sem sombra de dúvida embala o PT na direção do populismo, além de amputar
espaços sociais de seus oponentes à esquerda (PSOL) e à direita (PSDB), cujas inscriçõespopulares têm as marcas, respectivamente, do vanguardismo e do elitismo".
Paulo Roberto Figueiredo, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, por sua vez, crê
que os dados do primeiro turno reforçam sua tese de que "há um descolamento entre o
"lulismo" e o "petismo", dada a postura personalista de Lula, que talvez impeça uma maior
institucionalização do petismo como força partidária ideológica, independentemente do
carisma do presidente".
Ele ressalta que muitas pesquisas apontam queda da identificação partidária do PT. Para ele,
a nova classe média que nasceu nos últimos anos no país, fruto da distribuição de renda
através de programas sociais e aumentos reais do salário, "talvez seja muito mais "lulista" que
petista - o que é um problema grave para o partido, dado que ele perdeu parte de suas
tradicionais bases nas grandes cidades", l embrando que o PT não governa hoje nenhum
estado do Sul-Sudeste, que outrora foi sua principal base.
O dilema do PT seria, na visão de Figueiredo, recuperar parte das bases mais ideológicas hoje
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