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A CULTURA CAFEEIRA E OS EFEITOS DO CLIMA NA DINÂMICA DA PAISAGEM NO
MUNICÍPIO DE CORUMBATAÍ DO SUL
Keli Aparecida Oliveira, (IC), UNESPAR/FECILCAM, [email protected] Andréia Favini, UNESPAR/FECILCAM, [email protected]
Nair Glória Massoquim, (OR),UNESPAR/FECILCAM, [email protected]
INTRODUÇÃO
A cultura cafeeira foi de fundamental importância para a economia nacional e, paranaense e
apesar da erradicação ocorrida na década de 1970, de certa forma para alguns municípios ainda tem
significativa importância na econômica e na configuração na paisagem. Para Moro (1991), a cultura
cafeeira dominou a morfologia da paisagem da região durante muito tempo e o café foi o carro chefe
da economia nacional, tendo sido o produto de maior repercussão no Brasil, durante mais de um
século, e no Estado do Paraná, por mais de três décadas.
Contudo, os cafeicultores têm que se adaptar aos fatores limitantes tanto no campo econômico,
quanto climáticos. Entre os municípios que ainda mantém o cultivo do café como fonte econômica de
produção agrícola está o município de Corumbataí do Sul, localizado na porção leste da Mesorregião
Geográfica Centro-Ocidental Paranaense e tem como fonte de economia a cultura do café.
Geograficamente, o município se localiza na linha de limite das geadas ao Sul do Paralelo de 24. A
partir desse limite o risco para o cultivo do café é maior, ao contrário da região norte do Paraná, onde
segundo MORO, (1991, p. 43) “desde o início de sua ocupação, a cultura do café instalou-se, na
maioria dos estabelecimentos rurais, tornando-se uma monocultura comercial, voltada para o mercado
externo”.
O clima, não só do município, mas da mesorregião geográfica “merece destaque enquanto
fator de influência no ecossistema e mediador na dinâmica da paisagem” (MASSOQUIM, 2010). O
clima do município caracteriza-se como subtropical chuvoso com verões quente e úmido, sem estação
seca definida (porém, com estiagem de outono ou inverno. Os invernos se caracterizam entre ameno e
frio, com geadas esporádicas e por vez rigorosas (em até 4ºC abaixo de 0ºC). “A média térmica mensal
nos meses mais quentes é superior a 22°C e nos meses mais frios, inferior a 18°C” (KOPPEN, 1936,
apud AYOADE, 1986, p. 233, 234). Para Maack (2002), o clima é classificado como Subtropical
Úmido, com área de transição para Tropical ao Norte, ambos influenciados pelas Massas de Ar Polar e
Tropical Atlântica, com raras exceções, no outono, a região sofre influência da massa Tropical
Continental (Chaco/Pantanal). As tendências de concentração das chuvas são para os meses de verão,
o que “proporcionaria” uma distribuição equilibrada da fitogeografia e da produção agrícola regional.
Quanto ao tipo é classificado como Cfa transição para o Cfb no limite com Campo Mourão.
O objetivo nessa pesquisa é estudar a influência do clima na paisagem cafeeira e a importância
econômica do café como alternativa de renda para os pequenos produtores rurais do município de
Corumbataí do Sul.
A cultura do café faz parte da morfologia da paisagem e da economia do município, mas está
susceptível a influência de fenômenos climáticos, especialmente da variável temperatura. O clima é
um fator que está presente em todas as unidades produtivas e atua de forma tanto positiva quanto
negativa, especialmente com as variáveis meteorológicas, temperaturas e precipitação. As baixas
temperaturas ocorrem em razão da localização do município, situado numa aérea de transição
climática, nas bordas do Planalto interiorano do Alto Médio Piquirí, em que predomina corredores de
ventos que entram de regiões mais elevadas e de áreas de vales do planalto de Guarapuava.
A média térmica anual do município é de aproximadamente 23ºC. [...] “contudo, a máxima em
alguns anos ultrapassa a 37°C e a mínima já registrou até 5ºC negativos na relva, no ano de 2000”
(MASSOQUIM, 2010). A precipitação anual total fica em torno de 1.500 a 1.550 mm o que em anos
de distribuição pluviométrica normais propicia um bom desempenho agrícola.
ASPECTOS GEO-HISTÓRICOS DA PAISAGEM CAFEEIRA NO MUNICÍPIO DE
CORUMBATAÍ DO SUL
Conforme se comentou o município apresenta uma linha de transição, a principiar pelo clima,
seguido da geologia, relevo e solos o que limita o uso da terra com certos tipos de cultivares.
Considerada uma das áreas mais íngremes, da mesorregião geográfica, caracteriza-se por vales
profundos, em U nas porções sudoeste nordeste e por vertentes convexas e convexo-côncavas, por
vezes retilíneas, com rupturas sinclizadas dos topos para a alta vertente (MASSOQUIM, 2010, p. 260).
O clima desta região é considerado de transição do tipo Cfa (Köppen, 1918/1936) para Cfb, nas
regiões mais elevadas ou subtropicais (Maack, 2002). Do ponto de vista das precipitações frontais,
caracteriza-se pela ação das massas subtropicais e polares (STRALER, 1965).
Por ter em seu conjunto (entorno sudeste) grande proporção de área deprimida e linhas receptoras de ar frio, permite o fácil deslocamento das frentes polares no inverno, responsáveis por 3 a 5 geadas anuais, que afetam as culturas tropicais, especialmente o milho safrinha, o café e o maracujá de áreas mais deprimidas (MASSOQUIM, 2010, p. 261).
A partir da mecanização no período denominado de cientifico tecnológico (modernização
agrícola) foram implantas outras culturas, neste período também houve intensa migração do homem
do campo, mas apesar da migração o município não perdeu a característica de economia rural de
produtores de café, cultura que atualmente conta com 2.780 hectares de área plantada. A área com
cultura cafeeira é considerada a de maior proporção da mesorregião, o que lhe concede uma rica
diversificação na paisagem agrícola e melhor aproveitamento no tipo de uso da terra. “Esse
aproveitamento se faz com o consorciamento dos produtos associados ao café, como o maracujá e o
arroz, que ocupam ao mesmo tempo a mesma área de produção” (MASSOQUIM, 2010, p. 262).
Mesmo sendo o café um produto comercial, nota-se a baixa renda familiar interferindo na
qualidade de vida de muitos produtores levada ao fato desses produtores não produzir um efetivo de
sobrevivência com culturas de subsistência. A baixa renda comprova-se pelo índice de IDH (índice de
desenvolvimento humano), como o caso do município possuir um dos mais baixos da Mesorregião,
ocasionando impactos sócio-econômicos e indiretamente ambientais. “Esses impactos são regidos por
uma série de fatores, mas, atinge mais profundamente a região, o fato dela ser essencialmente agrícola
e estar sujeita aos azares climáticos” (MASSOQUIM, 2010, p. 263).
A limitação de implantação de algumas culturas agrícolas alternativas, sobre a influência dos
condicionantes geoecológicos, dentre eles geomorfologia e o clima tem contribuído com o índice de
pobreza.
As pequenas propriedades rurais foram praticamente desaparecendo a partir da década de
1970, com a implantação das novas tecnologias no campo, isso restringiu o poder aquisitivo dos
pequenos produtores, muitos deles ainda se mantiveram no campo embora permanecendo à margem
da economia. Neste contexto será abordado sobre os pequenos produtores de café no Município de
Corumbataí do Sul – PR, que apesar da falta de apoio de políticas públicas e de técnicas, ainda
conseguem se manter dentro da economia cafeeira.
Elegeu-se a categoria de pequena propriedade, para essa discussão por considerar que a
maioria é habitada por pequenos produtores que são a classe menos favorecida pelas políticas públicas
no favorecimento e auxílio via projetos de desenvolvimento para a pequena propriedade. Um estudo
que venha de certa forma auxiliar essa categoria menos favorecida é de suma importância para o
desenvolvimento local e para a qualidade de vida da família. Dentre os aspectos
sociais, o que se reveste de grande importância é a distribuição de renda que vem da cultura do café,
pois a mesma dá emprego não só ao chefe da família, mas também às crianças, jovens, mulheres e
idosos, aumentando o poder aquisitivo da população local, consequentemente melhorando suas
condições de vida. Segundo Barazzetti (1997, p.62) “O café possibilita um emprego direto a cada 3 ha
de cafeeiros, garantindo a permanência estável da atividade agrícola. Se a cafeicultura for praticada
com o apoio de tecnologia adequada pode-se alcançar uma série de vantagens como a fixação do
homem à terra; melhoria da infra estrutura regional; pavimentação das estradas; implantação de
energia elétrica e industrialização dos produtos locais.
O estudo sobre a cultura do café também tem sua importância histórica, a de uma economia
consolidada, que teve muita repercussão nem escala nacional. Analisar a cultura do café em
consonância com as condições climáticas e a sustentabilidade do pequeno produtor rural é de
fundamental importância para a economia e a paisagem ambiental, haja vista ser essa uma cultura,
permanente que causa menor impacto no solo e ao meio ambiente, em relação as temporárias, contudo
há que se considerar que também é sujeita a outras interferências, que não o clima, em sua
produtividade.
MATERIAIS E MÉTODOS
Para o desenvolvimento da pesquisa faz-se uso de uma abordagem analítico teórico e de
conhecimento e dados empírico, dentro do método sistêmico com a análise integrada da paisagem. Na
abordagem teórica o referencial será elaborado a partir das leituras de várias literaturas conceituais de
clima, paisagem, agricultura e uso da terra. Dentre os autores, que abordam a temática discutir-se-á:
Ayoade (1986), Ab Sáber, 2003; Corrêa, 1998; Bertrand, 1972 e 2007; Maack, 1968, Moro, 1990;
Graziano da Silva, 1982, 1996, 2003; Oliveira, 1998, 2002; Monteiro, 1976, 2001, 2002; Mendonça,
2001; Sant’ Anna Neto, 2004; Moro, 1998; Massoquim, 2010 e Passos, 1998 e 2004. Para a influência
do clima a abordagem será numa análise comportamental relacionando a agricultura regional. Quanto
ao estudo de campo (in loco), faz-se uso de levantamento e análise de dados quantitativos e
qualitativos a partir da coleta dos últimos dez anos em banco de dados de produção agrícola em órgãos
públicos como: IPARDES, SEAB/DERAL (Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Paraná e
Departamento de Economia Rural) informações de assistência técnica ao pequeno produtor agrícola
através do IAP (Instituto Ambiental do Paraná), EMATER, associações e prefeitura municipal. Outros
materiais serão informados a partir de mapas meteorológicos 1010”A”, dos BMs (Boletins
Meteorológicos), com coleta de dados de precipitação e temperatura de dez anos (2000 a 2010) nas
estações: ECPCM (Estação Climatológica Principal de Campo Mourão) em convênio com o INMET
(Instituto Nacional de Meteorologia) e SIMEPAR (Sistema Meteorológico Paranaense), bem como
dado de coleta secundária efetivada por postos da COAMO (Cooperativa Agrícola de Campo
Mourão). Para da pesquisa, ainda foram utilizados dados informais por meio de entrevista e colhidos
depoimentos de agricultores da região, visando entender melhor a diversificação e ocupação do espaço
agrícola com a cultura cafeeira.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A cafeicultura enquanto produção agrícola econômico perdeu espaço em razão das condições
climáticas e de melhoramento genético, dando lugar a um novo modelo econômico no setor
agropecuário. Contudo, conforme se comentou anteriormente, alguns municípios ainda mantiveram
parte de sua economia no cultivo do café, no caso do Município de Corumbataí do Sul - PR, neste o
café ainda é o produto de maior importância para a economia do município e principalmente geração
de renda ao pequeno produtor, (FIGURA 1). Notamos que essa cultura se dá pela a aptidão agrícola
dos trabalhadores rurais, hábitos e costumes de cultivar a terra como os seus antecessores fizeram em
outras regiões do Brasil. (MASSOQUIM, 2010). Outro condicionante é o relevo este propicia a
produção de culturas permanentes, menos suscetível à erosão, especialmente a cultura do café.
Para a descrição do relevo usou-se o mapa 2 de Colavite (2010), e para análise das classes de
declividade a metodologia de Ross (2009) representadas por classes de declividade: Muito forte (300 a
100%), forte (20 a 30%), media (12 a 20%) fraca (6 a 12%) e muito fraca (0 a 6%). Na análise do
mapa, a categoria de muito forte de 30 a 100%, de declividade e encontrada nas extremidades a leste,
sul/sudoeste e noroeste do município em pequenas manchas, totalizando 6% da área de estudo. A
classe de forte declividade, nas dimensões de 20 a 30%, encontra-se em praticamente todo o
município, mas em manchas ainda menores do que a anterior, excluindo apenas o extremo Oeste e
parcialmente a nordeste do município e totaliza 21% da área do município. A classe de média
declividade nas dimensões de 12 a 20% é encontrada em 33% da área do município, também é
significativa, representando 26% da área, aparecem entremeada às demais classes com maior
frequência a norte/nordeste. A classe de declividade de 0 a 6% aparece com 14% da área do
município, a centro-oeste e sudoeste do município.
Observou-se que a declividade não foi um fator de restrição ao cultivo do café. Porém a
preocupação é com as adversidades climáticas, especialmente as variáveis, temperatura do ar e
precipitação pluviométrica. Quanto às variáveis climáticas Ayoade (1986, p. 262) enfatiza:
“Todos os cultivos possuem limites térmicos mínimos, ótimo e máximo para cada um de seus estágios de crescimento. Os cultivos tropicais, como o cacau e as tâmaras, exigem altas temperaturas o ano inteiro. Muitos cultivos, como o café, banana e cana-de-açúcar, são muitos sensíveis às geadas”. (AYOADE, 1986, p. 262)
Mapa 2 - Classes de Declividade
Fonte: GERA - Informativo de Corumbatai do Sul. Org. Ana Paula Colavite, 2011.
Outros fatores que interferem no desenvolvimento e produtividade cafeeira são as doenças.
Segundo Marcos Ramos (2013) produtor de café do município de Corumbataí do Sul do Sítio Dois
Irmãos, as doenças mais conhecidas que segundo ele acabam com o desenvolvimento dos frutos é a
praga mineira, a broca e a ferrugem que são os maiores causadores da quebra na produção. Segundo
dados da EMBRAPA as infestações do Bicho mineiro (Praga Mineira) manifestam-se quando a lagarta
penetra na folha e aloja-se entre as duas epidermes, começando a alimentar-se e a formar minas, daí o
nome bicho-mineiro.
O aparecimento do bicho-mineiro está condicionada a diversos fatores, entre eles destacam-se
as condições climáticas, sendo que as chuvas em abundância e até a alta umidade relativa do ar
influenciam de forma negativa ao desenvolvimento desta praga e até de outras, ao contrário da
temperatura, que exerce uma grande influência positiva principalmente na fase de colheita e de
maturação do café.
Já a Broca-do-café conhecida por danificar os frutos do café ocorre por influência do clima,
colheita, sombreamento e outros fatores. Segundo dados obtidos da EMBRAPA, a perfuração dos
frutos geralmente é feita por uma lagarta, a partir da região da cicatriz floral ou coroa do fruto a fêmea
adulta fecunda e abre uma galeria, transformando-a numa câmara, onde fará sua postura. Com o
surgimento das larvas, 4 a 10 dias após a postura, inicia-se o processo de destruição parcial ou total da
semente pela ação da própria larva e/ou fungos que penetraram na galeria, causando apodrecimento da
mesma. Após a fecundação das fêmeas nos frutos, estas os abandonam e vão atacar novos frutos e
continuar os seus ciclos reprodutivos, fatores que desmotivam alguns agricultores.
No Quadro 1 está representando uma série de dados de 30 anos, dos índices de precipitação e
temperaturas do ar, quanto á temperatura os índices foram mais graves nas décadas de 1990 a 2000.
Analisando os dados enfatizamos os anos de 1991, 1995 e 2000 como anos com temperaturas
negativas, e consecutivas geadas que prejudicou a cultura cafeeira, foi exatamente a partir desse
período que o município passou a investir mais nas culturas frutíferas. Quanto aos índices
pluviométricos podemos observar os meses de inverno como os mais críticos, não se detectaram
problemas no desenvolvimento de culturas com relação aos índices pluviométricos, por ocorrer em
meses de maturação e colheita de algumas culturas os danos são menores.
Quadro 1. Base de Dados de Elementos Meteorológicos da Serie de 1980 a 2009
FONTE: Dados da ECPCM/IAPAR, COAMO, 2009. Org. MASSOQUIM 2010
Muitos agricultores adaptaram melhorias para se manter no campo, no caso do café algumas
condições edáficas contribuíram na melhoria, por meio do plano de manejo, este já implantado no
município a mais de uma década com o café adensado (foto 1 e 2). “O adensamento no plantio
possibilita uma maior produtividade devido ao elevado número de cafeeiros por área, ou seja, com
uma alta densidade de plantas, normalmente entre 5.000 e 10.000 pés/há, chega até mais de 20 mil”
(BARAZETTI, 1997, p.61).
MÊS Média Máxima Absoluta
Mínima Absoluta
Ano Total Máxima
24h Ano
Dias de Chuva
JAN 24,4 37,8 10,2 2006 205,9 88,5 1984/005 13 FEV 24,2 38,0 10,4 1980 153,0 77,6 1993 11 MAR 23,4 38,0 6,4 2005 118,6 83,0 1989 9 ABR 22,2 34,8 2,0 2005 136,6 114,4 1995/006 7 MAI 18,4 33,2 0,0 1998 155,0 87,0 1983 8 JUN 16,8 30,4 -2,0 1991 104,0 68,0 1994 7 JUL 17,0 31,4 -5,2 2000 84,7 89,4 1990 7 AGO 18,4 34,8 -2,0 1995 88,0 62,0 1990/008 6 SET 20,0 38,0 0,0 2003 130,0 95,5 1983 9 OUT 23,2 38,0 6,4 2007 178,7 76,6 1993 10 NOV 23,2 38,6 8,6 1985 166,0 116,8 1987/007 9 DEZ 24,2 39,0 11,0 1985 150,0 83,0 1981 10 ANO 21,3 36,0 3,78 12 1.657,0 87,6 106
Foto 1 Café Semiadensado Foto 2 - Secagem em Sombrite
Fonte: MASSOQUIM, 2012, 2013
Os pequenos produtores tem investido mais nesse produto após o novo sistema e sentem-se
satisfeitos quanto ao retorno do capital investido, por ser um cultivo anual e permanente, considerado
um sistema ideal para implantação em pequenas propriedades. A conservação da cafeicultura e sua
(re)implantação com o café adensado trazem pontos positivos, como os recursos vindos da receita do
ICMS do café. De acordo com os produtores, esta prática agrícola ao nível de propriedade amplia as
fontes de renda permitindo uma condição de comercialização mais adequada. O café, assim como
outros produtos não perecíveis podem ser armazenados por meses ou até mesmo anos, e vendidos nas
épocas de preço favoráveis.
Este sistema de plantio possibilita ao proprietário uma maior margem durante a venda de sua
produção, contribuindo para ultrapassar as oscilações da política econômica. Contudo, nos anos de
adversidades climáticas a produção fica prejudicada, para os agricultores que não possuem estoque só
resta á subsistência das produções que podem ser implantados entre os cafezais, no cultivo tradicional.
Em razão dos problemas enfrentados pelos produtores, com as doenças dos cafeeiros, a
alteração nos custos de produção (com insumos), a falta de mão-de-obra, acaba não compensando,
neste sentido muitos agricultores do município estão deixando de cultivar o café, arrancado os
cafeeiros e cultivando outros produtos, dentre eles os florestamentos e as frutíferas.
Essa paisagem já pode ser observada em algumas propriedades do município de Corumbataí,
em que com a erradicação dos pés de cafés os agricultores já vêm plantando eucaliptos, frutíferas,
especialmente o maracujá e as pastagem,
Podemos enfatizar um período diferente daquele em que é abordado por Martins (1990) sobre
a época das grandes senzalas e dos escravos, em que a produção do café tomava grande parte do
território nacional diferente do que vem ocorrendo na atualidade.
“Assim, a economia cafeeira deslanchou apoiada no tripé: mão-de-obra farta, grandes extensões de terras, demanda dos mercados externo. E de fato ao iniciar o cultivo do café a, mão-de-obra era fácil e abundante [...]”. (MARTINS, 1990, p.10)
De acordo com a citação, dá para se fazer uma comparação com relação à atualidade, pois
diferentemente de como era antes, pois a mão-de-obra está escassa e os territórios ocupados por
cafezais continuam diminuindo. Com a modernidade e a revolução tecnológica que ocorreu nos
últimos anos, muitos produtores vêm mecanizando o modo de colheita e até de produção. Por isso,
para eles compensa mais plantar cultivares alternativos. Portanto percebe-se também que além dos
fatores climáticos a mão de obra escassa também se tornou um problema para o produtor rural.
Um exemplo dado pelo agricultor Marcos é a de que “os filhos dos donos das terras quando
pegam idade vão para as cidades grandes para morar, estudar e trabalhar e assim deixando os pais no
sitio”. Automaticamente as famílias são obrigadas a vender a propriedade e até ir morar na cidade, não
havendo recursos para se manter no sitio.
Concomitante a esta situação precária, ressalta-se as adversidades climáticas, neste ano de
2013, o inverno trouxe consigo geadas que acabaram com a produção do café na região e não apenas
desse tipo de cultivo, outros produtos como o maracujá sofreram com as fortes geadas que atingiram o
final do mês de julho em todo o Paraná, como os outros municípios vários agricultores do município
de Corumbataí Sul, e eles tiveram prejuízos grandes que só serão sentidos no próximo ano. Sendo
assim, o clima acaba se tornando um fator determinante para que os agricultores deixem de ter o café
como o produto principal de geração de renda para a família, tendo em vista que a cidade de
Corumbataí do Sul já foi um dos maiores produtores de café do estado do Paraná, e hoje devido a
acontecimentos como esse vem perdendo lugar e deixando com que outras frutíferas se tornem um
produto de geração de renda. Possivelmente com esses sérios prejuízos nas lavouras, o número de
pequenos agricultores que cultivam o café diminuirá e no futuro pode ser que o cultivo do café seja
totalmente erradicado. Cafeicultores do município estimam perdas na lavoura com as geadas de 80 a
90% e a produção de maracujá atingiu cerca de 60% da produção, sendo assim os prejuízos são
enormes, infelizmente muitos agricultores não possuem seguro agrícola tornando a situação mais
difícil, pois assim eles não possuem nem um meio de pagar as suas dívidas, sabendo que os insumos
agrícolas estão com os preços elevados, á muitos anos não se via uma geada rigorosa, como essa.
No quadro 2 apresenta-se alguns tipos de cultivos produzido no município de Corumbataí do
Sul, fazendo-se uma comparação ao café.
Quadro 2 – Produtos Agrícolas Cultivados no Município de Corumbataí do Sul
Fonte: IBGE/IPARDES, 2010
Observamos que a agricultura em Corumbataí do sul se desenvolve nos moldes da produção
mista, a estrutura fundiária é em número maior constituída de pequenas propriedades. Conforme já se
enfatizou, aspectos da paisagem como o relevo, é um fator marcante é pode ser considerado de
restrição ao uso da terra, especialmente para as culturas mecanizadas que exige áreas mais planas.
Paisagens dessa natureza só são encontradas nos limites dos Municípios de Corumbataí do Sul com o
município de Campo Mourão, a que já referenciamos como porção lesta da área de estudo.
A partir dos dados do quadro 2 percebe-se que o preço da saca do café não é favorável para
o pequeno produtor em comparação a valorização nos principais cultivos. Outro fator que caracteriza
quebra da produtividade, segundo o produtor Marcos Ramos é que um ano o pé do café carrega e o
outro não, nos anos em que há muita produtividade o preço cai, isso acaba levando o produtor a fazer
estocagem do café para esperar que o preço do café melhore.
No município cultiva-se 3 variedades de café, Catuaí (amarelo), Vermelho e o Mundo Novo, o
rendimento das mesmas depende dos cuidados o modo como se faz a secagem do café também
influência no sabor e não tendo os cuidados essências desde a colheita até a secagem pode haver
prejuízos generalizados.
No mosaico 1, apresenta-se uma paisagem típica da cultura do café, desde a forma de
conservarão, consorciado com outros produtos, à maturação do café e o processo de secagem no
tradicional terreiro.
Produtos Área colhida (há)
Produção Tonelada
Rendimento médio/ kg/ Hectare
Valor (R$ 1.000)
Abacate 4 120 28.000 74 Banana 5 75 15.000 24 Café (coco) 2.010 2.666 1.328 11.816 Caqui 10 15 1.500 15 Figo 2 10 5.000 30 Laranja 52 1.092 21.000 437 Maracujá 150 2.000 13.333 3.200 Melancia 2 50 25.000 21 Uva 10 70 7.000 131
Mosaico 1 – Paisagem do Café tradicional consorciado com o cultivo de milho Foto: Favine, 2012
Quadro 3 – Café em Grãos Produção e Rendimento Médio
Fonte: IBGE (2012)
Como já foi discutido anteriormente sabemos que a produção de café no município de
Corumbataí do Sul é uma das principais fontes para a contribuição da renda familiar dos agricultores.
O Quadro 3, tem como intuito demonstrar dados consistentes da produção do café nos últimos dez
anos. Na análise dos dados do Quadro 3, percebemos que a quantidade produzida por tonelada teve
maior aumento no ano de 2010 se apresentando em destaque em vista dos últimos anos, especialmente
se comparado ao ano de 2005 em que a produtividade do café em grão apresentou uma queda
vertiginosa em razão da geada. No ano 2000 a quantidade produzida era de 2.066, sendo o valor de
produção em R$ 11.015, mas no ano de 2011 e 2012 teve um aumento significativo com relação aos
anos anteriores 12.830 R$. Percebe-se que a produção de café no ano de 2005 esteve com o pior valor
tendo 1.978 R$, que provavelmente deixou os produtores de café desanimados. A área plantada por
Café em grão Ano Produção/p Tonelada
Valor da produção/R$
Área plantada/Hectares
Área colhida/ Hectares
Rendimento médio/ kg/ Hectare
Café em grão 2004 1.494 4.377 2.150 2.150 694 Café em grão 2005 565 1.978 2.100 2.100 269 Café em grão 2006 1.491 4.846 2.100 2.100 710 Café em grão 2007 1.558 5.983 1.827 1.827 852 Café em grão 2008 1.932 7.052 2.100 2.100 920 Café em grão 2009 1.218 3.776 2.100 2.100 580 Café em grão 2010 2.666 11.815 2.010 2.010 1.326 Café em grão 2011 1.718 12.830 1.547 1.547 1.110 Café em grão 2012 1.718 12.830 1.547 1.547 1.718
hectare nos últimos 9 anos não teve muito aumento. Nos anos de 2005, 2006, 2008, 2009, a área
plantada foi de 2.100, sendo que no ano de 2011 a área caiu para 1.547.
A área colhida por hectare conforme demonstra o gráfico teve como destaque nos quatro anos
consecutivos a mesma quantidade colhida, sendo nos anos de 2005, 2006, 2008, 2009 e no ano de
2004 com 2.150, nos anos de 2007 e 2011 foram os anos com menor produtividade apresentando
2.827 e 1.547.
Para o rendimento médio kg/ha, teve como destaque o ano de 2011 com 1.110, sendo o ano de
2005 considerado como o de pior rendimento com 269, nos anos seguintes os valores de rendimento
estão acima de 500. No ano de 2012 não houve variações nos dados se comparado ao ano de 2011.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cafeicultura que já esteve na pauta de primeiro produto nacional durante várias décadas, no
decorrer do tempo a mais de meio século vem perdendo espaço no território brasileiro. Fato que no
Paraná vem ocorrendo em razão de eventos climática, esses eventos tem sido registrado com maior
vigor em períodos entre 10 a 12 anos, neste sentido podemos enfatizar a ocorrência de geados do ano
2000 e de 2013, em que as geadas prejudicaram severamente os cafezais paranaense. Os agricultores
do município de Corumbataí do Sul ficaram em alerta com os prejuízos, pois a cultura cafeeira ainda é
um dos principais produtos dentre as culturas agrícolas, de fundamental importância para a
sustentabilidade do pequeno produtor rural no campo, para a economia local e para a paisagem
ambiental.
Analisar a cultura do café em consonância com as condições climáticas a sustentabilidade do
pequeno produtor rural foi de fundamental importância para a economia e a paisagem ambiental, haja
vista ser essa uma cultura permanente, e causar menor dano ao meio ambiente.
Em razão dos prejuízos trazidos pelo clima, em específico as geadas, muitos agricultores
saíram prejudicados sem ter condições de arcar com as despesas, e que certamente necessitaram do
apoio dos governos municipais e estaduais, para recuperarem suas lavouras de café. Neste sentido, há
necessidade de implementação de políticas públicas para o desenvolvimento de projetos de
sensibilização e mitigação que viabilize a permanência do pequeno produtor rural no campo,
contribuindo para o desenvolvimento da economia local e regional.
REFERÊNCIAS
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