A Biblioteca Perdida - A. M. Dean

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  • Table of Contents

    A BIBLIOTECA PERDIDAPrlogoCAPTULO 1CAPTULO 2CAPTULO 3CAPTULO 4CAPTULO 5CAPTULO 6CAPTULO 7CAPTULO 8CAPTULO 9CAPTULO 10CAPTULO 11CAPTULO 12CAPTULO 13CAPTULO 14CAPTULO 15CAPTULO 16CAPTULO 17CAPTULO 18CAPTULO 19CAPTULO 20CAPTULO 21CAPTULO 22CAPTULO 23CAPTULO 24CAPTULO 25CAPTULO 26CAPTULO 27CAPTULO 28CAPTULO 29CAPTULO 30CAPTULO 31CAPTULO 32CAPTULO 33CAPTULO 34CAPTULO 35CAPTULO 36CAPTULO 37CAPTULO 38CAPTULO 39

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    "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e no mais lutando por dinheiro epoder, ento nossa sociedade poder enfim evoluir a um novo nvel."

  • A BIBLIOTECA PERDIDA

    A. M. DEAN

    Conhecimento poder. . e poder pode matar

    Traduo Lenita Esteves

    Plumo

    2012

    SINOPSE:

    At onde voc iria para proteger um legado, um teatro secular repleto de decepo, morte edestruio?

    Tudo o que a historiadora Emily Wess sempre quis foi viver uma vida de aventuras, como seumentor Arno Holmstrand. Desde criana, a jovem criada na regio rural de Ohio, nos Estados

  • Unidos, desenvolvera uma paixo quase masculina por filmes de aventura, e ele a lembrava deseu heri de infncia: o Indiana Jones dos filmes de Steven Spielberg.

    Emily nem poderia suspeitar que ela prpria se tornaria a protagonista de uma aventura que iriamuito alm de qualquer coisa que jamais imaginou. Ela foi escolhida para desvendar as pistas doque seria a maior descoberta da histria: a localizao da Biblioteca de Alexandria, um dosmaiores tesouros perdidos da Antiguidade, desaparecida h mais de 1.500 anos.

    Atravessando cinco continentes, Emily segue freneticamente a trilha de pistas deixadas porHolmstrand, at perceber que as pessoas prximas esto em perigo e que o assassinato do homemque ela tanto admirava apenas a ponta do iceberg.

  • TERA-FEIRA

    PRLOGO

    MINNESOTA, EUA - 23H15

    A bala que havia perfurado seu pulmo permanecia alojada no trax, mas o velho j no sentia ador causada por ela. Essa dor se transformara em foco, mesmo que sua viso perifrica estivesseperdendo nitidez.

    Aquilo era esperado. Arno Holmstrand sabia que eles viriam. Os eventos da semana anteriortinham deixado pouco espao para dvidas. Estava pronto. Tivera de apressar os preparativos,mas agora estava tudo em ordem. O palco estava montado e ele fizera o necessrio. A nicacoisa que faltava era completar a ltima tarefa e depois rezar para que seus esforos no fossempor gua abaixo.

    Desabou na poltrona de couro cru atrs da mesa. A superfcie de mogno diante dele pareciabrilhar, refletindo e espalhando a luz fraca de um abajur pelo escritrio escuro. Uma belezaestranha num momento daqueles.

    Esticou os braos e pegou o livro que estava aberto sobre o tampo de madeira e, por ummomento, a dor que lhe queimava o peito voltou. Se aquilo era necessrio, servia como umltimo lembrete: no havia sada a no ser terminar com tudo. Concentrou sua ateno, fixou oolhar no volume e separou trs pginas. Com toda a energia que pde reunir, arrancou-as dolivro.

    Os passos que ouviu no corredor lhe fizeram retomar o foco. Arno pegou um isqueiro douradoque ganhara quando fora padrinho de casamento de um aluno anos atrs e o acendeu. Segurandoas pginas arrancadas sobre uma pequena lixeira ao lado de seu p, aproximou a chama dopapel. No momento seguinte, as pginas j estavam queimando. Soltando-as na lixeira, observou-as enquanto se enrugavam e eram consumidas pelas chamas alaranjadas. Recostou-se napoltrona.

    O ltimo ato estava completo. Arno juntou as mos, entrelaou os dedos e olhou na direo daporta do escritrio, que se abriu bruscamente. O rosto do homem que o encarava parecia feito deao, sem nenhuma emoo. Alisando com a mo a jaqueta de couro preta que delineava oscontornos de um corpo atltico, examinou rapidamente a sala, olhou a pequena fogueira no cestode papis e apontou uma arma na direo do velho sentado mesa.

    Arno ergueu os olhos, fixando-os diretamente nos do adversrio.

  • Eu estava esperando vocs suas palavras eram calmas, dotadas de um tom tranquilizadorde autoridade. Na entrada do escritrio, o homem com a arma no vacilou. Embora tivessecorrido minutos antes, sua respirao j estava novamente em ritmo cadenciado.

    Arno abandonou a familiaridade fingida da sua voz, que agora assumia um tom estritamenteprofissional.

    Vocs me acharam. Um feito e tanto. Mas termina aqui.

    O homem mais jovem lanou um olhar curioso para Arno e, por um momento, refreou o passo.A autoconfiana do velho no era esperada, no naquele momento. Aquilo era a sua derrota. Noentanto, estava placidamente sentado, numa calma que perturbava.

    O intruso respirou fundo. Depois, sem piscar, deu dois tiros, um logo aps o outro, direto no peitode Arno.

    A sala escureceu. Arno Holmstrand ficou olhando o vulto do intruso ficar mais apagado, virar-see depois se retirar. A escurido tomou conta de tudo.

    Depois, no havia mais nada.

  • 14 MINUTOS DEPOIS, OXFORD, INGLATERRA

    Q UARTA-FEIRA, 5H29

    A torre da antiga igreja assomava sobre a cidade, que l embaixo comeava, como de costume,a se movimentar. Algumas luzes pontilhavam as salas dos colleges em torno da praa e furgesde entrega manobravam na High Street, abastecendo lojas para o prximo dia de trabalho. A luaestava baixa no cu, os primeiros raios de sol ainda ocultos pela noite.

    Precisamente s 5h30, o imenso ponteiro de ferro do relgio atingiu a sua marca. Por trs domostrador de metal, um pequeno pino de madeira, deliberadamente inserido em meio velhaengrenagem, partiu-se em dois. O cordo que estava atado ao pino se soltou e o pacote que elemantinha suspenso no topo da torre comeou sua planejada queda.

    Depois de uma trajetria em queda livre ao longo dos cento e vinte e quatro degraus da escadaem espiral, ao p daquela torre do sculo XIII, o pacote chocou-se contra a espessa fundao depedra. O detonador acoplado extremidade externa do pacote se dobrou com o baque,produzindo sua carga de ignio precisamente direcionada. Antes que o detonador tivesse seincendiado totalmente, o pacote de C4 se rompeu, explodindo com uma fria desenfreada.

    Numa imensa bola de fogo, a antiga igreja ruiu.

  • QUARTA-FEIRA

    CAPTULO 1

    MINESSOTA - 9H05

    O dia que iria mudar a vida da professora Emily Wess comeou de formabastante banal. No havia indcios de tragdia, nenhum sinal de urgncia nomodo como ela tinha comeado a mesma rotina matinal que mantinha todosos dias durante o semestre letivo. Tinha feito sua corrida, dado sua aula,comprado seu caf da manh. Mesmo assim, enquanto o pesado ar de outonoque respirava todas as manhs no campus do Carleton College passava porsuas narinas, sentia que havia algo errado. Alguma coisa, que no sabia definircompletamente, fez arrepiar sua pele quando ia da sala de aula para seugabinete. O dia tinha um aspecto estranho, um jeito incomum que ela noconseguia descrever.

    Bom-dia, pessoal disse ao surgir do corredor central do Leighton Hall,um edifcio de trs andares onde ficava o Departamento de Religio. Dirigiu-separa a porta que conduzia a seu gabinete. Este fazia parte de um grupo desalas dispostas em torno de um pequeno espao comum ao qual se tinhaacesso por uma porta, que, no fosse por isso, no chamaria muito a ateno.Quatro outros professores tinham gabinetes no mesmo espao. Eles, mais umcolega, estavam de p em um dos cantos quando Emily entrou.

    Ela sorriu, mas o grupinho estava completamente absorto em uma conversameio sussurrada. Depois de um perodo mais longo que o habitual, um oiemergiu em resposta vindo de algum do grupo, mas ningum se voltou paracumpriment-la. Foi nesse momento que tomou conscincia de uma atmosferaestranha que estivera presente durante toda a manh e que at aquelemomento no tinha captado completamente sua ateno. Um silncio esquisitotomava conta dos corredores. Seus colegas entreolhavam-se obliquamente etinham expresses preocupadas.

    Apanhando as chaves dentro da bolsa, Emily parou em frente a um

  • conjunto de escaninhos e esvaziou o contedo do seu, uma braada decorrespondncia: lixo postal que havia deliberadamente deixado acumular porduas semanas. Achava uma chateao fazer aquilo todos os dias.

    Continuava a ouvir as vozes abafadas dos colegas atrs dela. Olhou porsobre os ombros no momento em que encaixava uma chavinha na porta doseu gabinete.

    Um dos zeladores o encontrou esta manh disse uma voz baixa,deliberadamente sussurrada, que Emily pde entreouvir.

    No d pra acreditar - disse outra voz. Tomei caf com ele ontemmesmo.

    Maggie Larson, a professora de tica Crist que fizera a ltima observao,tinha uma expresso sbria no rosto.

    No, pensou Emily consigo quando olhou com mais ateno. Ela pareceperturbada. Sua curiosidade se aguou quando ela percebeu que perturbadatambm no era a palavra certa. No, ela parece amedrontada.

    Emily deixou a chave na posio em que estava na fechadura e virou-separa os colegas. Algo estava absorvendo a ateno deles. Algo que noparecia, ou no soava, bem.

    Me desculpem, no quero parecer mal-educada, mas o que estacontecendo? perguntou, dando um passo na direo deles. Aquela estranhaatmosfera de tenso ia ficando mais densa a cada palavra, mas Emily nosabia de que outra maneira poderia se inserir na conversa deles, j que nosabia de nenhum detalhe, nem mesmo sabia qual era o assunto.

    Os outros, entretanto, no pretendiam mant-la desinformada. Acho que voc ainda no est sabendo respondeu uma colega. Aileen

    Merrin era professora titular da cadeira de Novo Testamento. Ela tambm foramembro da banca que selecionara Emily quando ela se candidatou ao seucargo quase dois anos antes, e Emily, desde essa poca, nutria um carinho porela. Emily esperava que, quando chegasse a poca, ficasse to bem decabelos grisalhos quanto Aileen.

    Com certeza no disse Emily tomando um gole de caf frio de umcopinho descartvel. Feito havia mais de uma hora, tinha ficado ruim debeber, mas o ato de erguer o caf at os lbios ajudava a disfarar oembarao daquele momento com algo um pouco mais normal. Sabendo dequ?

    Voc conhece Arno Holmstrand, da Histria? Claro respondeu Emily. Todos conheciam o professor que era o

    baluarte do Departamento de Histria. Mesmo que Emily no pertencesse aosdois departamentos, o de Histria e o de Religio, ainda assim conheceria oacadmico mais famoso e eminente da faculdade. Ele descobriu algumoutro manuscrito perdido? Ou foi expulso de algum pas do Oriente Mdio porter violado as leis da escavao arqueolgica?

    A seu ver, toda vez que se fazia meno ao nome de Holmstrand, era no

  • contexto de alguma importante descoberta ou aventura acadmica. - Ele nolevou a faculdade falncia com mais uma de suas viagens, n?

    No, ele no fez nada disso disse Aileen, que de repente assumiu umaexpresso de mal-estar.

    Sua voz se transformou em um sussurro: Ele est morto. Morto!? perguntou Emily, forando levemente sua entrada no grupo

    com um empurrozinho, abalada com a notcia. De que vocs estofalando? Quando? Como?

    Ontem noite. Acham que ele foi morto, aqui no campus. Eles no acham, eles tm certeza interps Jim Reynolds, um

    especialista em Reforma Protestante. Foi assassinado. Trs tiros bem nopeito; foi isso que ouvi. Estava mesa do gabinete.

    Trabalho de profissional.A estranha sensao que Emily sentira correndo pela sua pele agora tinha

    sido substituda por verdadeiros arrepios. Um assassinato no campus doCarleton College era algo inaudito. Mas o assassinato de um colega. . O efeitoda notcia combinou choque a uma espcie muito genuna de medo.

    Ele foi perseguido no corredor - acrescentou Aileen. Encontraramsangue do lado de fora do gabinete dele. Eu no vi por dentro.

    A voz dela fraquejou. Ela olhou para Emily. Voc no notou a presena da polcia no campus?Emily estava entorpecida com a notcia. Ela tinha visto viaturas da polcia

    quando estacionava seu carro antes da aula da manh, mas no tinha dadomuita ateno ao fato. A polcia no era uma presena totalmente incomumem um campus universitrio.

    Eu. . eu no tinha idia do motivo respondeu, e depois de uma pausaindagou: Por que Arno?

    Ela no conseguia imaginar mais nada que pudesse perguntar. No essa a questo que me preocupa.A voz dessa vez, tmida e amedrontada, vinha da colega de Emily,

    historiadora das religies, Emma Ericksen. E qual a questo? perguntou Emily. A questo que me preocupa , se um de nossos colegas foi atacado e

    morto bem aqui no campus, quem ser o prximo?

  • CAPTULO 2

    WASHINGTON, D.C., 9H06

    Do lado de fora da sala de reunies nmero 26H, D. Burton Gifford entregou sua maleta aum servial e lanou-lhe um olhar que deixava claro que no queria ver ningum aps a reuniodeles naquela manh. Ficando de lado enquanto os outros homens saam da sala e se afastavampelo corredor em direo sada, ignorou os vrios avisos de Proibido Fumar, tirou um PallMall sem filtro de uma cigarreira no bolso da camisa e o acendeu. Trabalhara, por dois anos,como conselheiro no comit de poltica externa do presidente, desde que o grande homemassumira o cargo. Era um leal apoiador do trabalho do presidente no Oriente Mdio, mesmo queo chefe da nao no concordasse com suas idias de uma poltica mais agressiva, maisnegociadora, no trabalho de reconstruo ps-guerra naquela regio. Tornara-se um dos maisinfluentes conselheiros do chefe de estado, definindo polticas e tambm assegurando que opresidente sempre soubesse diferenciar os amigos dos inimigos. A experincia de Gifford era emnegcios, e os negcios no eram nada mais que um mundo de redes.

    Gostava de pensar que o presidente estava conectado, ou no conectado, em virtude de suasabedoria e influncia. E ele no estava totalmente errado. Era o homem que tinha os contatos; opresidente era apenas a voz moral que escolhia as ligaes corretas.

    Sem ser visto, s sombras, um homem chamado Cole aguardava em p, imvel. Seu rostoexibia uma expresso de dio pelo imponente e arrogante comerciante de poder, que seencaixava perfeitamente no esteretipo do sujeito rico, dominador e influente. Inchado tantofisicamente quanto em seu ego, Gifford ignorava tudo o que no considerava relevante para seusprprios desgnios.

    Esse era um defeito pelo qual ele iria pagar hoje.No corredor vazio, Gifford puxou uma longa tragada, com o cigarro pendurado em seus

    lbios enquanto usava as mos para alinhar o palet. Tirando vantagem dessa distrao etambm daquele posicionamento vulnervel, Cole escolheu esse momento para sair do escritrioe avanar no corredor.

    Num nico e suave movimento, agarrou o corpulento homem pelos pulsos e o forou a entrarde novo na sala de reunies.

    Que diabos est fazendo? Gifford perguntou, espantado, o cigarro caindo de sua boca. Fique quieto e as coisas sero mais fceis respondeu Cole. Manteve Gifford numa

    chave de brao com sua mo esquerda enquanto fechava a porta atrs de si com a direita.

  • Agora sente-se a disse ele, empurrando Gifford para uma das recm-desocupadaspoltronas de couro ao redor da longa mesa de reunies.

    Gifford estava indignado. Aquele homem insubordinado no apenas o havia tratado combrutalidade, mas tambm torcido seu pulso. Enfurecido, trouxe as mos at o peito e as esfregou,tentando aliviar a dor. j estava resmungando quando comeou a virar sua cadeira na direo dohomem que o atacara.

    Vou lhe dizer, meu jovem, no sou um homem que simplesmente aceita esse tipo de. .Ele interrompeu o resmungo no momento em que a poltrona completou o crculo e seus olhos

    pousaram nas mos de Cole. Calmamente dando as ltimas voltas no silenciador para prend-lo asua 357 SIG Glock 32, Cole respondeu sem nem erguer os olhos.

    Sei exatamente quem , sr. Gifford. Estou aqui justamente por ser quem o senhor .A ira condescendente de Gifford desapareceu, sendo totalmente substituda por um terror

    desesperado.Ele no tirava os olhos da arma. O que. . o que voc quer? Este momento respondeu Cole, encaixando o silenciador em sua posio travada e

    soltando a trava de segurana do gatilho da Glock. Este momento tudo o que eu quero. No estou entendendo - disse rpido um Gifford horrorizado, instintivamente se encostando

    na poltrona como se esperasse encontrar algum refgio contra a ameaa diante dele. O quevoc quer de mim?

    s isso respondeu Cole. no quero nada. Isto no um interrogatrio nem umseqestro.

    O que ento?Cole finalmente ergueu os olhos e os fixou nos olhos grandes e aterrorizados de D. Burton

    Gifford. o fim. Eu. . no estou entendendo. No respondeu Cole acho que no est mesmo.A conversa foi interrompida pelas trs balas que ele disparou contra o corao de Gifford,

    seu ombro direito facilmente absorvendo o familiar estampido da pequena arma e a longa salaecoando muito suavemente os suaves rudos abafados pelo silenciador.

    Gifford olhou embasbacado para a tnue fumaa que subia do cano da arma que h poucodescarregara a munio em seu trax. O sangue comeou a escorrer de seu corao, vazandotambm das feridas em seu peito e costas; Gifford desabou na cadeira.

    Cole ficou observando o homem dar seu ltimo suspiro, enquanto seu corpo se curvava para afrente, mergulhado na escurido.

  • CAPTULO 3

    9H20

    Algum sabe quem atirou nele?

    O ritmo hesitante das palavras de Emily revelava seu mal-estar. Ainda no podia imaginar porque algum poderia querer matar Arno Holmstrand. Sem dvida, o homem era a figura pblicamais famosa da universidade, mas tambm era velho, do ponto de vista de Emily - j tinha seussetenta e tantos anos. Essencialmente um homem calado, embora excntrico. Emily no oconhecia bem. Haviam se encontrado algumas vezes, e Arno fizera ocasionalmente estranhoscomentrios sobre a pesquisa de Emily (considerava-se uma espcie de direito adquirido que osvelhos professores colocassem objees ao trabalho de seus colegas mais novos). Mas orelacionamento nunca passara disso. Eram colegas, no amigos.

    Isso, entretanto, no suavizava em nada o choque. Uma morte no campus, ainda mais umassassinato, no era notcia comum. E Emily sentia um certo apego a Holmstrand, mesmo quefosse mais por sua admirao pela reputao profissional dele do que por alguma interaopessoal.

    Ningum sabe de nada - respondeu Jim Reynolds. Os investigadores esto no prdio deleagora.

    Toda a ala est bloqueada. Vai ser assim o dia todo.

    Num impulso, Emily tomou outro gole de seu caf, mas, dessa vez, o gesto de trazer o copinhoat a boca pareceu forado e bvio, quase desrespeitoso, como se fosse uma ao normaldemais para ser realizada ante uma notcia daquele porte.

    No acredito que isso tenha acontecido disse Maggie Larson, cuja voz ainda denunciavaseu medo. Se algum estava atrs dele. .

    Ela no terminou a frase. A afirmao apenas insinuada servia para todos: com um colegaassassinado, todos se sentiam em perigo.

    Um longo silncio dominou o grupo, e s foi desfeito quando a campainha da escola soou. Oprximo perodo de aulas daquele dia estava prestes a comear; eles trocaram olharespreocupados enquanto saam em direo a suas salas e obrigaes. A medida que os colegas sepreparavam para sair, Emily sentiu um incmodo remorso. Era aceitvel simplesmente irembora, cuidar da prpria vida como sempre, depois de uma conversa sobre um colegaassassinado? Sem dvida, alguma coisa precisava ser dita, pelo menos algo para reconhecer acomoo daquele momento.

  • Eu, bem. . sinto muito por Arno.

    Foi tudo o que conseguiu dizer. Ficou surpresa com a intensidade da perda que sentia. A reaoemocional que estava experimentando seria mais justificada em relao morte de um amigoprximo, o que Arno Holmstrand nunca tinha sido.

    Aileen lhe deu um sorriso amigvel e saiu. Emily, tentando superar o choque, voltou para o seugabinete, destrancou a sala e entrou no pequeno ambiente. Era incrvel como rapidamente o focode um dia mudava, como um fato trgico podia abalar as pessoas. At o momento em que ficarasabendo da morte de Arno, estivera concentrada em algo completamente diferente, em imagensde um encontro que teria com o homem que amava. A ltima quarta-feira antes de um feriadoprolongado de Ao de Graas significava apenas uma nica aula, a primeira da manh. Orestante do dia, se tudo corresse como havia planejado, seria dedicado aos preparativos de umaviagem muito esperada, de Minneapolis a Chicago, de um feriado com seu noivo, Michael. Eleshaviam se conhecido quatro anos antes, no mesmo feriado de Ao de Graas. Ele, um inglsestudando em sua terra natal; ela, uma vida estudante de mestrado fazendo pesquisa no exterior,tentando comunicar a importncia da grande tradio norte-americana para os antigoscolonizadores, e esse dia para eles se tornou especial.

    Mas aquele devaneio feliz tinha sido interrompido bruscamente. O corao de Emily agoraestava disparado, sua adrenalina subindo, desde que soubera da notcia.

    Mesmo assim, tentou conter o mal-estar e ligou o computador sobre sua mesa. O trabalho do diano podia ser totalmente abandonado, independentemente do choque. Abrindo o brao, Emilydeixou a correspondncia que recolhera no escaninho cair sobre a mesa.

    Com a mente ainda envolvida em pensamentos de assassinato e perda, no notou, a princpio, umpequeno envelope cor de creme que estava entre dois folhetos de cores berrantes. Seus olhos nocaptaram a caligrafia estranha e elegante do sobrescrito, nem a ausncia de selos ou carimbos,muito menos a falta de indicaes de um remetente. O envelope passou despercebido do seucampo de viso e se misturou com todo o resto.

  • CAPTULO 4

    9H30

    Dois pequenos orifcios perfuravam o couro da velha poltrona, marca dos tiros fatais que tinhamtirado a vida de Arno Holmstrand. Os tiros foram dados bem no meio do tronco, com pouco maisde dois centmetros de distncia entre si. Sinais que denunciavam o trabalho de um profissional.Agora, com o corpo removido, o detetive podia retraar a trajetria das balas a partir dos doisburacos deixados no estofamento da poltrona. O assassino tinha parado na entrada do gabinete;ele no tinha mais que 1,70m de altura. A vtima estava sentada, de cara para seu algoz.

    O detetive Al Johnson observava os tcnicos que vasculhavam a cena do crime. Uma fina pina,manuseada com habilidade pelas mos enluvadas de um homem que obviamente j tinha feitoaquilo antes, extraram uma bala de um dos orifcios da poltrona. Talvez um 38, Al considerou,embora no estivesse em hiptese alguma preparado para insistir no palpite. Esse era o terrenodos tcnicos em balstica. Para ele, bastava saber que se tratava de um revlver, que aquilo erasem dvida um assassinato, e que claramente fora perpetrado por um profissional.

    Coisas que ele j vira antes.

    O corpo fora levado para o necrotrio mais cedo naquele mesmo dia. Trs ferimentos bala nototal. O

    do lado direito viera primeiro, provavelmente quando a vtima ainda estava fora do gabinete.Johnson perscrutou o rastro de sangue que se estendia at o interior da sala. O mdico legistasuspeitava que o primeiro ferimento j teria sido fatal, mas a vtima tinha sobrevivido temposuficiente para passar pela porta aos tropeos o detetive ergueu-se do cho tentandoreconstituir os passos hipotticos passar pela porta aos tropeos e chegar at a mesa. Para qu?Havia um telefone sobre a mesa, mas nenhum sinal de que fora usado, e o 911 no receberachamada alguma at a manh seguinte, quando um zelador chegou cena do crime.

    Outro perito pulverizava o batente da porta em busca de impresses digitais. Um terceiro fazia omesmo na mesa. Dois sujeitos uniformizados tiravam fotos, o parceiro de Johnson entrevistava osfuncionrios da noite no corredor, e pelo menos seis outras pessoas se movimentavam pela sala.No foi a primeira vez que Al se surpreendeu diante da vibrao de vida que pode haver na cenade um crime.

    Era um dos paradoxos da funo.

    Al chegou mais perto da mesa. Ela era como imaginava a mesa de um velho professor: abajurverde, porta-canetas de bronze, mata-borro desbotado e um computador que parecia j estarultrapassado desde a poca de sua fabricao. Uma bandeja de couro continha cartas velhas,cada uma meticulosamente aberta com uma esptula de marfim, que repousava sobre elas.

  • Esptula de marfim, torre de marfim. . o ambiente era um conjunto de smbolos de um statuscultural.

    No centro da mesa, havia um grande livro de capa dura cheio de fotografias. Estava aberto, maisou menos na pgina central. O detetive se aproximou e correu levemente a mo enluvada pelasuperfcie das pginas. Por baixo do ltex cheio de talco, seus dedos calejados se detiveram aotatear bordas inesperadamente speras. A encadernao no centro do livro escondia umairregularidade no papel, no ponto onde algumas pginas haviam sido evidentemente arrancadaspouco tempo antes.

    Um flash chamou sua ateno no momento em que um jovem perito da equipe de Homicdiostirou uma foto do livro, juntamente com a mo de Al.

    Al imaginou a cena. Um homem, atingido por um tiro no peito, caminha com dificuldade devolta sua sala para arrancar algumas pginas de um livro. Aquilo fazia pouco sentido. Mastambm, assassinatos quase nunca faziam muito sentido.

    Outra foto, a cmera agora focou os ps dele. Al olhou para baixo na direo de uma lixeira,cheia de restos de papel queimado. De joelhos, um jovem pretensioso, vestindo um terno feitosob medida, examinava os restos chamuscados.

    Belo terno, pensou Al, imediatamente irritado. Um rapaz das agendas do governo, era s o quefaltava.

    No era f dos grandes filmes comerciais de Hollywood, mas achava que eles representavammuito bem a perturbao causada toda vez que vrias agncias de segurana disputavam umcaso. E os detetives das equipes locais nunca vestiam ternos elegantes. No sabia de onde o rapazera, mas independentemente disso, Al j sentia que a situao seria terrivelmente frustrante.

    costume dos professores de Histria queimar seu lixo? perguntou o rapaz, sem olhar paracima.

    Agora voc me pegou, garoto.

    O rapaz de terno retraiu-se visivelmente quando proferida esta ltima palavra, evidentementeinsatisfeito por ter sido lembrado de sua pouca idade. Levantou-se bem devagar, forando-se arecuperar a tranqilidade.

    No muita coisa. S algumas pginas amassadas, queimadas todas juntas, eu acho.

    Al apontou o livro sobre a mesa.

    Algumas pginas foram arrancadas dali - disse, indicando as bordas rasgadas do volume. Ao que parece pelos nmeros antes e depois, trs pginas esto faltando.

  • Acho que temos trs aqui confirmou o rapaz, indicando as folhas queimadas na lixeira.

    No entendo disse Al. O velho leva um tiro no corredor, mas consegue vir cambaleandode volta ao seu gabinete, at sua mesa. H um telefone bem sua frente, mas ele no pega. Nopede socorro. Com papel e canetas por todo lado, no escreve nada. Em vez disso, abre um livrode ilustraes, arranca umas pginas e as queima. No faz sentido.

    O rapaz no respondeu. Pegando o livro, examinou-o com uma intensidade que superava afrustrao que Al estava sentindo. Ele ficou olhando furioso.

    Olha, garoto disse Al. - No ouvi seu nome. Eu nunca o vi por aqui antes. Faz tempo quevoc est nas Cidades?

    A maioria dos investigadores das Cidades Gmeas de Minneapolis e Saint Paul, o centro doservio policial na parte sul do estado, conheciam-se pelo menos de vista.

    No sou daqui.

    Foi tudo o que ele disse. O jovem no ofereceu mais nenhuma informao, nem deu sinal dedesejar continuar com aquelas cortesias profissionais. Virou mais uma vez o livro nas mos,olhando para o papel queimado na lixeira.

    Al no estava to disposto a encerrar o assunto.

    No daqui? Voc estadual? O que a polcia estadual est fazendo aqui? Esse caso evidentemente municipal. Maldita polcia estadual.

    O rapaz no respondeu, ignorando a persistncia de Al, mas finalmente colocou o livro de voltana mesa. Ajeitando o terno, voltou-se para o investigador com um ar de eficincia burocrtica.Pela primeira vez desde que tinham comeado a conversar, ele olhou diretamente nos olhos deAl.

    Sinto muito. J tenho o bastante para o meu relatrio. Prazer em conhec-lo, detetive.

    Seu relatrio? A observao foi quase exagerada. Um livro e um punhado de papelqueimado significavam alguma coisa em termos materiais, mas no eram o suficiente para umrelatrio. Al olhou em torno da sala observando o burburinho: coletas de amostras de impressesdigitais, manchas de sangue, respingos, pegadas. Tudo aquilo daria um relatrio. E apesar disso orapaz parecia ignorar todo o resto, dedicando sua ateno apenas mesa e ao papel queimado nalixeira. Como se todo o resto da cena do crime no existisse.

    No era um comportamento normal de investigao, mesmo para um policial estadual.

    Voltou-se novamente para o agente desconhecido, pronto para uma tirada sarcstica, mas se viusozinho na sala.

  • CAPTULO 5

    9H35

    A questo que me preocupa , se um de nossos colegas foi atacado e morto bem aqui nocampus, quem ser o prximo?

    J que seus colegas tinham sado para ministrar suas aulas, Emily ficou sozinha em seu gabineteponderando sobre os estranhos contornos da conversa que haviam tido. As palavras de EmmaEricksen permaneciam na mente de Emily. No eram apenas as perguntas sem respostaassociadas com o assassinato de Arno Holmstrand que contribuam para o incmodo receio quesentia. Era tambm a nefasta presena da prpria morte. Houvera um assassinato, de um colega,a poucos metros de distncia de seu escritrio. Ser que havia um perigo maior? Estariam todosem risco?

    Ser que eu estou? Emily afastou o pensamento assim que ele lhe ocorreu. Encarar a situaoem termos pessoais era irracional e s iria nutrir seu medo. Teria de combater seus pensamentosfugidios com uma atividade: trabalho, e as poucas tarefas que ela ainda precisava fazer antes dedeixar o campus e viajar ao encontro de Michael.

    Baixou, enfim, os olhos para a pilha de correspondncias que havia retirado do escaninho;naquele momento, era o que havia de mais imediato para distrair seus pensamentosperturbadores. Lixo, lixo, lixo. Emily tinha adquirido a reputao de no apanhar suacorrespondncia e o motivo era exatamente esse. A correspondncia de quase duas semanas, e amaior parte era lixo. Um envelope de uma editora, anunciando um livro que com quase toda acerteza jamais leria. Uma circular sobre a conscientizao dos direitos dos animais, cpia exatada circular que recebera sobre o mesmo assunto na semana passada, e na semana anterior. Umcomunicado informando sua nova senha para a mquina copiadora do departamento, que asecretria anunciava com a mesma gravidade e importncia que mereceria a publicao decdigos de ativao da reserva nuclear do pas. A vida acadmica podia ser intelectualmenteestimulante, mas cheia de adrenalina que no era. Emily jogou o comunicado, juntamentecom os outros papis, na lixeira.

    Embaixo deles havia um nico envelope cor de creme, feito de um papel texturizado que eraobviamente caro. O nome de Emily estava harmoniosamente escrito sobre ele, mas no haviaselos nem indicao do remetente.

    Alguma coisa nele chamou a ateno de Emily. Observou a caligrafia elegante em que seunome estava escrito. As letras eram de uma tinta marrom e tinham os evidentes arcos e volteioscaractersticos de uma caneta-tinteiro. Emily virou o envelope e observou a superfcie embranco. No havia selos, nem indicao de quem o enviara. Algum havia deixado o envelope noescaninho dela pessoalmente.

  • Talvez fosse um convite para alguma festa ou evento, embora o estilo do envelope sugerisse umnvel de sofisticao bem mais alto do que o das festas que ela costumava freqentar.

    Ela passou habilidosamente o dedo mindinho pela aba do envelope para abri-lo, e uma nicafolha de papel, dobrada ao meio, caiu em seu colo.

    Desdobrou o papel. Se as primeiras impresses definissem o cenrio, pensou Emily, aquelebilhete pretendia criar uma cena extravagante. O papel era fino, obviamente caro, de uma corcreme bem clara e, se no estivesse enganada, tinha um leve perfume de cedro.

    O que viu no topo da pgina fez seu estmago se contorcer. Em relevo, destacando-se levementedo tom do papel, havia um cabealho.

  • DO GABINETE DO PROFESSOR ARNO HOLMSTRAND,

    BA, MA, D.Phil, PhD, OBE

    Arno Holmstrand, com todos aqueles ttulos acadmicos e honrarias, o homem assassinado nanoite anterior. O eminente professor.

    O professor morto.

    O que vinha a seguir capturou toda sua ateno.

    Prezada Emily, comeava o bilhete, escrito na mesma caligrafia elegante, com a mesma tintamarrom do envelope. Minha morte com certeza precedeu esta carta.

  • CAPTULO 6

  • CAPTULO 7

    NOVA YORK - 10H35 (9H35 EM MINNESOTA)

    O secretrio pegou o telefone antes que o primeiro toque se completasse. - Al!

    Feito. Exatamente de acordo com suas instrues.

    A voz do outro lado da linha falava num tom direto e frio.

    O Guardio est morto?

    Eu mesmo cuidei disso. Ontem noite. A polcia o encontrou hoje.

    O secretrio recostou-se na poltrona, tomado por uma sensao de satisfao e poder. Um nobreobjetivo fora alcanado e o futuro de seu projeto havia sido preservado. Poucos homens nahistria tinham tentado o que eles tentavam agora. Menos ainda eram os que tinham atingido osobjetivos agora alcanados por eles. Mas eles teriam sucesso e, como mostrava o progresso dasemana anterior, no havia quem pudesse se interpor em seu caminho. O secretrio passou osdedos pelos cabelos grisalhos.

    Ele estava nos esperando disse o outro homem.

    Aquilo era de se esperar. A eliminao do Assistente na semana anterior fora amplamentenoticiada.

    No tinha sido possvel evitar. No se assassinava um Chefe de Patentes de Washington sem quea mdia tomasse conhecimento. Alm disso, no era objetivo do Conselho ocultar a eliminao.Esses assassinatos seriam dados como assassinatos para a maioria das pessoas, mas entre aquelasque eram seus alvos, eles seriam interpretados como recados. Advertncias.

    Isso irrelevante respondeu o secretrio contanto que voc tenha feito seu trabalho.Alm da fonte, com quem vamos lidar em breve, ele era o ltimo homem que tinha visto a lista.

    O vazamento da lista fora imperdovel. Tudo o que eles lutaram para construir tinha sidocolocado em risco por algo to banal quanto uma lista de nomes. Uma lista que inclua nomesque ningum poderia saber. Daquele sigilo, daquele anonimato, dependia todo o plano deles. Emesmo assim, de alguma forma, a lista cara em mos erradas. A nica reao possvel era agire erradicar os que tinham posto os olhos nela. O Guardio e seu Assistente eram homens cujas

  • vidas tinham inegvel valor para ele, mas esse valor foi considerado menor que os riscos que elesrepresentavam.

    O secretrio tinha ficado to absorto em seus pensamentos que, a princpio, no notou o silnciodo outro lado da linha. De repente, entretanto, o silncio disparou um alarme. Despertando deseus devaneios, inclinou-se para a frente.

    O que aconteceu? O que deu errado?

    O fato de que ele sabia que estvamos chegando; talvez seja mais relevante do que o senhorimagina.

    O secretrio estremeceu. Era um homem que no gostava de surpresas. Inclinou-se mais para afrente, pressionando o telefone contra o ouvido.

    Fale!

    Ele chegou ao gabinete antes que eu pudesse acabar com ele. Algo no me pareceu muitocerto naquele momento, mas eu no podia me demorar mais. Quando voltei hoje de manh paraacompanhar os acontecimentos, minhas suspeitas se confirmaram.

    Continue ordenou o secretrio, mantendo uma calma, que conseguia manipular depois demuito treinamento. Tinha dcadas de experincia em receber ms notcias. Controle nosmomentos difceis, sempre soube, era importante. Um bom lder estava em seu nvel mais feroze mais temvel quando estava em seu nvel mximo de calma.

    Tinha um livro sobre a mesa dele disse o Amigo. Trs das pginas estavam faltando;tinham sido arrancadas. Eu as encontrei queimadas na lixeira perto da cadeira dele.

    Fez uma pausa, permitindo que o secretrio digerisse os detalhes. No esperava ou aguardavauma resposta. No era assim que o relacionamento deles funcionava. Esperava-se que eledissesse o necessrio. Se quisesse ouvir mais, o secretrio perguntaria.

    O homem mais velho ficou pensando no estranho relato. Ento, havia algo que o Guardio noqueria que seu assassino visse. Mesmo beira da morte, estava determinado em despist-los.

    As prximas palavras do secretrio tinham um tom de ameaa misturado ao de umquestionamento.

    Voc obteve detalhes sobre o livro?

    Claro, senhor!

    Tentou relaxar os msculos dos ombros. O Amigo fora bem treinado.

    Quero os detalhes na minha mesa dentro de meia hora. Consiga-os para mim enquanto estiver

  • a caminho de Washington.

    A caada no ia terminar daquele jeito.

    E me traga um exemplar desse livro.

  • CAPTULO 8

    WASHINGTON, D.C. - 10H45 (9H45 EM MINNESOTA)

    A notcia que estava na pasta vermelha em suas mos era perturbadora, mas no superava muitoem seus detalhes o que a loira atrs do letreiro eletrnico da CNN estava reportando no televisordo outro lado da sala. Tinha eliminado o som do aparelho poucos minutos antes que seu assistenteentrasse na sala. A ncora anunciara a notcia da exploso no Reino Unido e um helicpterosobre o local filmava e transmitia ao vivo cenas das runas, mas, alm do horrio da exploso ede imagens da extenso dos danos, pouco mais se sabia naquele estgio da investigao. Umaimportante igreja antiga, marco da herana inglesa, fora destruda por uma bomba no incio damanh. No havia vtimas registradas, apenas a perda em termos sentimentais e histricos.

    Algum reivindicou a responsabilidade? perguntou ele.

    No, sr. Hines - respondeu o assistente.

    Jefferson cerrou os dentes em reao falta de respeito daquele jovem. No se referir a elemencionando o seu cargo era, ele sabia, totalmente intencional.

    A CIA est acompanhando o Servio de Inteligncia Britnico na busca de informaes, mas,at agora, nem mesmo os loucos de sempre esto disputando a responsabilidade.

    Hines processou a informao, ou melhor, a falta de informao. Atentados a bomba eram, emgeral, seguidos de uma chuva de reivindicaes de responsabilidade feitas por vrios grupos, quedesejavam tambm a publicidade que acompanhava o ataque Grande Besta do Ocidente.Havia excees, claro, e elas eram suficientemente freqentes para que a falta de reivindicaesdo caso atual no disparasse muitos alarmes, mas ainda assim aquele silncio era interessante.

    Houve alguma resposta formal do governo britnico?

    Apenas que esto chocados e horrorizados, envidando todos os esforos para trazer justia osculpados por esse crime hediondo, etc. etc. etc. Mitch Forrester mexia os dedos no ar em umgesto que indicava a falta de sentido daquelas respostas padronizadas. Ele s trabalhava noescritrio de Hines havia seis meses e, mesmo assim, transmitia os comentrios com um ar dequem j ouvira tudo aquilo antes.

  • Hines de repente no conseguiu refrear a pergunta.

    Quantos anos voc tem, Mitch?

    A pergunta pegou o assistente de surpresa.

    Como?

    Sua idade. Qual a sua idade?

    Forrester lanou-lhe um olhar estranho, seu desdm velado agora misturando-se a uma confusointrigada. Se eles estivessem sozinhos, poderia ter respondido com uma demonstrao explcitado dio que estava sentindo, mas estava muito consciente da presena de outro homem noescritrio de Hines, algum sentado no canto, em completo silncio. Algum que ele no queriaque testemunhasse sua impertinncia.

    Vinte e seis respondeu por fim.

    Vinte e seis repetiu Hines, soltando um suspiro em reao quele nmero to baixo. Teriasido ele to petulante naquela idade? Tinha muito mais que o dobro disso, e sempre fora umsujeito cheio de ambio, mas acreditava que nunca tinha sido to impetuoso quanto aquele rapazdiante dele.

    No sei qual a relevan. .

    Relevncia nenhuma, nenhuma Hines o interrompeu, indicando com um gesto que deviammudar de assunto. Ele parou por um instante. Alguma coisa mais?

    Nada ainda - respondeu Forrester secamente. - Assim que recebermos alguma notcia, eu lhecomunico, senhor.

    Ele deixou que a pausa antes de sua ltima palavra acentuasse sua insatisfao pelo modo comofora tratado. Ainda assim, com todo o egocentrismo da juventude, continuou ali parado,esperando algum reconhecimento. Hines, entretanto, simplesmente desviou os olhos dele nadireo das imagens da televiso. Percebendo finalmente que no conseguiria mais nada, oassistente se virou e saiu da sala.

    Hines esperou uns bons 30 segundos em silncio antes de virar a cabea na direo do homemsentado no outro canto de seu escritrio. Embora estivesse acostumado h muito tempo com oservio que esses homens faziam para a organizao, ainda sentia uma ponta de nervosismoquando estava realmente sozinho com um deles. Seu papel na organizao sempre foradiplomtico, profissional. Nunca tinha feito o servio sujo. Aquela era uma dimenso vil, masessencial, da causa deles. Embora muitos no mundo o considerassem um indivduo de grandeinfluncia, Jefferson Hines sabia que o homem sentado a poucos passos de sua mesarepresentava um poder muito maior que qualquer poder que ele jamais teria.

  • Voc acha que as coisas esto ligadas? - perguntou ele finalmente, apontando para o arquivoem sua mesa e depois para o televisor mudo. Ligadas misso?

    Claro! Os dois homens no falavam do plano em nenhum outro termo a no ser amisso.

    Naquela cidade, e em seu escritrio, era quase certo que as paredes tivessem ouvidos. Masno deixe que isso o desestabilize. Vamos manter o curso das aes.

    Hines no estava satisfeito.

    Isso nunca foi discutido. Marlake, Gifford. . o resto; esse era o plano. Que diabos est sepassando na Inglaterra?

    O outro homem se endireitou na cadeira enquanto Hines falava. Ele lhe lanou um olhar que nodeixava dvidas sobre seu significado: cale a boca. Nomes nunca deveriam ser mencionados.

    Hines percebeu o olhar e sua mensagem, batendo os dedos na mesa, meio irritado, meio ansioso.

    Diga-me que espervamos reaes como essa disse ele. Diga-me que nada disso surpresa.

    Se o outro homem hesitou antes de responder, no havia demonstrado. Tinha o ar de um homemque desejava exalar confiana, e queria que seu interlocutor permanecesse forte eimperturbvel.

    Nossos planos esto seguros. Vamos ento cuidar de nosso lado do negcio, e vocs cuidam doseu.

    Assim, todos ganhamos.

    Fez uma pausa para que suas palavras permanecessem no ambiente pesado entre os dois. Noperca seu alvo de vista.

    Apesar do medo instintivo que sentia daquele homem, Hines se sentiu mais tranqilo com aquelaaparente certeza. Soltando um longo suspiro, recobrou sua postura. Homens de estado deviam serfortes, e ele estaria altura de sua tarefa.

    Bom. Ento suponho que devo falar com voc amanh?

    O outro homem fez que sim com a cabea, levantando-se de sua poltrona.

    Isso mesmo, sr. vice-presidente.

  • CAPTULO 9

    MINNESOTA - 9H45

    Emily ficou olhando a carta em suas mos. O papel se agitava no ar e percebeu, ento, queestava tremendo. Ela o releu uma segunda, uma terceira, uma quarta vez. E de novo. Apenasalguns minutos antes, ficara sabendo que Arno Holmstrand tinha sido assassinado, e agora tinhanas mos uma carta escrita exatamente por esse homem. Escrita antes de sua morte. Elesabendo que iria morrer.

    Mais que isso, pensou Emily. Ele sabendo que seria assassinado. Esse fato fazia uma grandediferena.

    Consciente disso, Arno Holmstrand tinha escrito para Emily Wess. Um gigante, escrevendo paraum peo, nos ltimos momentos de sua vida. Ela no podia entender por qu. O que quer queHolmstrand tivesse descoberto, por que a estava envolvendo naquilo? A questo ficava aindamais premente pela ligao direta entre a carta e a morte daquele que a escrevera. Pareciatotalmente possvel que o conhecimento a que a carta se referia tivesse causado a morte deHolmstrand. Ele sugeria exatamente isso na carta. Assim, no parecia improvvel que, tendo acarta em seu poder, Emily agora corria perigo de vida. Seu estmago revirou quando pensounisso, e na realidade do que tinha nas mos.

    Virou o papel, e seus olhos logo se fixaram no nmero de telefone escrito no verso, emalgarismos bem visveis no centro da pgina. A carta instrua Emily a ligar para aquele nmero,embora no desse indicaes de quem poderia atender do outro lado. Apesar disso, quando seusolhos verificaram o nmero, seu corpo ficou paralisado. Ficou olhando, chocada e confusa, paraos dez algarismos escritos em tinta marrom no papel do homem morto.

    Era um nmero que ela conhecia muito bem.

    Embora geralmente ligasse para ele pela tecla de discagem rpida de seu celular, aindareconhecia os dgitos. No havia como no reconhec-los.

    Pegando o telefone de sua sala, lentamente apertou as teclas de cada um dos dgitos. Talvez euesteja errada, pensou, sabendo que no estava. Estou apenas agitada. Meus pensamentos estoconfusos por causa do choque da notcia. Mas ela sabia que no era nada disso.

  • Sua respirao ficou mais rpida enquanto o telefone chamava. Sabia em seu ntimo que, nomomento em que a chamada fosse atendida, os eventos daquela manh assumiriam umaperspectiva totalmente nova.

    Um instante depois, o momento chegou. A chamada foi atendida e uma respirao conhecida dooutro lado serviu de prembulo para uma saudao, vindo de uma voz que j sabia quem estavaligando.

    Emmy !

    O sotaque britnico na fala de Michael Torrance era inconfundvel. Com uma exuberncia queficava altura da confuso que sentia, o noivo de Emily Wess saudou o amor de sua vida.

  • CAPTULO 10

    9H52

    Mike? disse Emily, com o corao disparado. Aquela conexo pelo telefone, tendo comocausa a enigmtica carta de Arno Holmstrand, aumentava ainda mais a confuso.

    Onde voc est? disse Michael com a voz cheia de energia.

    Ainda estou no meu gabinete respondeu Emily . Ainda no sa para o aeroporto.

    Ela no sabia como devia comunicar seu nico pensamento. Mas finalmente decidiu que deveriaser o mais direta possvel.

    Aconteceu uma coisa aqui no campus.

    Michael de repente ficou srio, numa reao instantnea.

    Como assim? E alguma coisa grave? Voc est bem?

    O tom dele denunciava um pnico gerado por seu instinto de proteo, e Emily percebeu quecomeara mal.

    No, no nada desse tipo. Estou bem.

    Ela ouviu um suspiro de alvio do outro lado da linha. Embora os dois fossem corajosos, o instintoprotetor de Michael era forte.

    Mas uma coisa realmente estranha est acontecendo por aqui. Voc no acreditaria se eucontasse.

    Aceito o desafio.

    Um homem morreu aqui ontem noite continuou Emily. Voc se lembra do famosoprofessor aqui da universidade? Arno Holmstrand?

    Aquele do qual voc falou sem parar durante um ano? Claro, Emmy, eu me lembro, sim.

    Seguindo um costume que tinham de se comunicar com provocaes, zombava de Emilydizendo que ela desenvolvera uma paixo recolhida de colegial quando o lendrio professorviera para a universidade. Mais tarde confessara que se o entusiasmo dela no fosse toenternecedor, ele teria desconfiado que ela estava de olho em outro homem.

    ele mesmo disse, engolindo em seco. Foi assassinado ontem.

  • Assassinado?

    No gabinete dele. Levou trs tiros.

    Ela fez uma pausa e, sem querer, deu um tom ainda mais dramtico ao que estava contando.

    Meu Deus, Emily , sinto muito!

    As palavras consoladoras de Michael eram sinceras, mas havia alguma hesitao nelas. Algoalm de uma preocupao protetora e masculina chamava sua ateno.

    Na verdade eu no o conhecia de fato comentou Emily. Havia alguma falsidade em suaspalavras. Ela no conhecia Arno, mas sabia dele, admirava-o, acompanhava-o de longe. Eestava sentindo muito sua perda, independentemente do que deixasse transparecer ao telefone.

    Isso no faz tanta diferena - prosseguiu Michael. Quem atirou nele?

    Ningum sabe. . As investigaes esto em curso. H policiais por todo o campus. Dizem queparece ter sido um servio profissional. As indicaes so de um assassinato.

    Emily respirou fundo e engoliu em seco.

    E a coisa toda fica mais esquisita. . - ela fez uma pausa para que Michael a sondasse, fizesseperguntas, mas ele permaneceu calado e, ento, ela continuou.

    Hoje pela manh, encontrei uma carta no meu gabinete. Escrita mo, entreguepessoalmente. De Arno Holmstrand.

    Emily firmou a voz.

    A carta, Mike, trata da morte dele. Ele a escreveu antes de ser morto, sabendo que seriamorto.

    O silncio continuava do outro lado da linha.

    E esta a parte em que voc realmente no vai acreditar. A carta me deu instrues paraligar para um determinado nmero de telefone que ele havia escrito no verso, sem nenhumnome acompanhando. E aqui estou eu, falando com voc.

    Finalmente, Michael falou.

    Na verdade, Emmy , acredito em tudo o que voc disse.

    Ela se assustou. Jura?

    Juro. Porque eu voltei da minha corrida matinal h uns 20 minutos, e debaixo de minha porta

  • havia um envelope. E cor de creme e tem meu nome escrito nele com tinta marrom.

    Emily ficou paralisada, sem saber que sentido dar ao que ouvia.

    No pode ser.

    Mas interps Michael. Dentro dele h uma carta de Arno Holmstrand. Emily noconseguia conter sua incredulidade.

    O que diz a carta?

    Pouca coisa, respondeu Michael.

    Ela pde ouvi-lo desdobrando uma folha de papel, preparando-se para ler a carta.

    Prezado Michael. Emily vai ligar esta manh. Espere ao lado do telefone. Abra o segundoenvelope e leia para ela o que est dentro dele quando ela ligar.

    Segundo envelope? - A confuso aumentava a cada segundo.

    Dentro do primeiro, com essa cartinha, tem um segundo envelope. Com seu nome escrito nele confirmou Michael. Por que ele est escrevendo para voc? E por meu intermdio? Comons estamos envolvidos na vida dele?

    No tenho a menor idia, Mike. Estou tentando entender fez uma pausa. Esse segundoenvelope . . voc o abriu? indagou Emily , agora no auge da tenso.

    Claro que abri respondeu ele. Voc acha que eu ia cruzar os braos e ficar sentadoesperando?

    Apesar da tenso do momento, Emily no pde evitar um leve sorriso. O costumeiro entusiasmode Michael no tinha sido sufocado por aqueles acontecimentos estranhos.

    - E. .?

    E talvez voc no venha para Chicago fez uma pausa e, dessa vez, o silncio dramtico erainteiramente proposital. Dentro do envelope tem um e-ticket. Holmstrand reservou para vocum voo para Londres. Esta noite.

    Londres?

    O raciocnio de Michael agora estava rpido demais. Ele ultrapassou a confuso dela.

    Qual o nmero do fax da sua sala, Emmy.

    Ela piscou, tentando recuperar a lucidez e disse automaticamente o nmero que sabia de cor, da

  • mquina de fax da secretaria do departamento.

    Por que voc quer esse nmero? perguntou por fim.

    Porque nesse segundo envelope, alm da passagem, h tambm duas folhas de papel. Meuscanner est quebrado, ento no d para lhe enviar uma cpia por e-mail. Mas com certezavoc vai querer ver o que ele deixou para voc.

  • CAPTULO 11

    10H02

    Dez minutos mais tarde, Emily aguardava ansiosa ao lado da mquina de fax da secretaria doDepartamento de Religio, a algumas portas de distncia de seu gabinete. A linha exclusiva paramensagens de fax no tinha um toque audvel e, por isso, ela estava ao lado da mquina,esperando que ela despertasse e produzisse cpias digitais das duas pginas que Michael haviaprometido enviar nos prximos minutos.

    Sentados em torno de uma mesa de trabalho estavam dois colegas professores de religio. Comose poderia esperar, estavam discutindo o caso Holmstrand.

    No, foram trs insistiu Bill Preslin, um dos professores de hebraico, corrigindo o outrohomem.

    - Voc esqueceu a Arbia Saudita.

    mesmo? Eu no fazia idia o outro homem era David Welsh, especialista dodepartamento em religies da Amrica do Sul. Emily foi at a mesa e se sentou. Dali, podia ficarvigiando a mquina de fax.

    Vocs se importam se eu me sentar com vocs? perguntou. Suponho que estejamfalando sobre Arno. Simplesmente no posso acreditar.

    Ns tambm no - respondeu Preslin, mexendo a cabea num gesto acolhedor. Maseventos dramticos no so exatamente estranhos para Arno Holmstrand. E o nico acadmicoque eu conheo que consta na lista de terroristas feitas por trs pases diferentes, por causa dotempo que passou no Oriente Mdio. Os EUA, a Gr-Bretanha e a Arbia Saudita o consideramuma pessoa de interesse.

    E o gabinete do Reitor recebeu uma ligaozinha telefnica bacana do Departamento deSegurana Interna quando ele veio para c, querendo saber se ns conhecamos o passadointeressante dele -

    acrescentou Welsh.

    Ns falamos para eles que sim continuou Preslin, que tinha trabalhado por dois semestresnum cargo burocrtico da universidade antes de retomar sua funo predominantementedocente. Mas acrescentamos que o velho tinha recebido honradas em cinco pases, tinha sidocondecorado pela rainha da Inglaterra com a Ordem do Imprio Britnico e possua ttuloshonorrios de sete universidades diferentes.

    Emily listou em sua cabea os nomes que conhecia devido imensa publicidade que tinha sido

  • gerada em torno da nomeao de Holmstrand. As condecoraes penduradas nas paredes dasala dele vinham de Stanford, Notre Dame, Cambridge, Oxford, Edinburgh, Sorbonne e daUniversidade do Egito. E

    esses eram apenas os que Holmstrand mencionava quando lhe perguntavam. Provavelmentehavia uma enorme lista de outras instituies.

    Mas parece que o governo no achou que isso tinha importncia - continuou Preslin.

    E independentemente de quantas vezes ns lhes dissssemos que o trabalho no Oriente Mdioera arqueolgico, eles viviam voltando ao ponto. Dava pra pensar que escavao arqueolgicaera um cdigo para acampamento terrorista no vocabulrio do governo.

    Olha, talvez seja mesmo acrescentou Welsh. Os dois homens deram uma gargalhadasombria.

    Como foi que conseguimos que ele viesse para c? perguntou Emily , interrompendo aquelatemporria frivolidade. Ainda estava chocada demais para fazer brincadeiras, mesmo que fossenuma espcie de homenagem amigvel.

    Ns no conseguimos - respondeu Welsh. - Ns podemos ser uma instituio de primeiralinha, mas no chegamos nem aos ps das universidades onde Holmstrand costumava atuar. Eleveio porque quis vir. A proposta partiu dele. Ele disse que queria paz e tranqilidade depois desuas aventuras, e desejava voltar s suas razes em uma cidade pequena. Carleton o atraiu, e elenos escreveu. Ele at se mostrou disposto a aceitar um salrio de iniciante, j que no era pelodinheiro que estava querendo vir para c.

    No, eu no imaginaria que fosse disse Emily. Ela deixou que se passasse um momento desilncio. O contedo da carta de Arno no lhe saa da cabea.

    Vocs sabem se Holmstrand tinha alguma coisa a ver com a Biblioteca de Alexandria? perguntou finalmente, no podendo conter sua curiosidade.

    Os olhares que vieram dos dois colegas expressavam surpresa. Nenhum dos dois esperava que aconversa tomasse esse rumo.

    A biblioteca antiga? A biblioteca perdida? O que voc quer dizer?

    No tenho certeza. Sei que ele estava profundamente envolvido com assuntos egpcios. Masser que ele pesquisava particularmente a Biblioteca de Alexandria? Ser que a estudava?Escrevia sobre ela?

    Preslin coou o queixo.

    No que eu saiba respondeu. Mas o homem publicou quase 30 livros. Quem sabe?

  • Talvez tenha escrito sobre esse assunto.

    Enquanto ele estava falando, a mquina de fax comeou a funcionar com uma seqnciaabrupta de bipes e cliques. Emily se levantou da cadeira e caminhou at a mesinha onde elaestava.

    De uma coisa eu sei observou Welsh. Ele descobria coisas em qualquer lugar aondefosse. E, como voc diz, passou um grande tempo no Egito. Ento, talvez haja alguma ligao, sevoc tiver interesse em pesquis-la. Mas quaisquer que fossem os interesses dele, eles agoraesto acabados.

    Aquilo no era humor negro de primeira classe, mas pelo menos era preciso.

    No momento seguinte, uma folha de papel comeou a aparecer na bandeja da mquina de fax.Quando uma segunda folha entrou no alimentador, Emily puxou a primeira de um rolo lento e aergueu no nvel dos olhos.

    Embora a qualidade fosse ruim e o fundo da carta estivesse ligeiramente cinzento em virtude doescaneamento em preto e branco do que Emily suspeitava ser a cor creme da carta original, ocontedo era claramente legvel. A medida que ela lia, seu corpo ia ficando cada vez mais tenso.

  • CAPTULO 12

    A fora com que Emily segurava o papel era quase suficiente para rasg-lo. Pegou a segundafolha que surgia na mquina de fax. Sua mente ficou intrigada diante do que se apresentava.Uma nica linha de texto era seguida por um emblema desconhecido. Abaixo dele, trs frasesque no mostravam nenhuma relao bvia entre si estavam listadas.

    Duas para Oxford e uma para mais alm.

    Igreja da Universidade, a mais antiga de todas

    Orar, entre duas Rainhas

  • Quinze, se for de manh

  • Emily ficou olhando a folha criptografada, completamente intrigada. Aquilo tudo tinha toda aaparncia de um conjunto de. . pistas.

    Sua confuso silenciosa diante da estranha pgina s foi interrompida quando ouviu Welsh seaproximando. Ele tinha observado o olhar intenso de Emily enquanto as folhas saam damquina, e tinha decidido ver o que estava absorvendo to completamente a ateno dela.Quando Emily o ouviu se aproximando, segurou os papis contra o peito.

    Que foi? O que foi que desviou sua ateno to de repente? - perguntou - O que voc tem a?Est tudo bem?

    No nada, no - repetiu Emily , no sei.

    Pelo menos o ltimo comentrio era totalmente verdadeiro. Com sua pulsao continuando aacelerar, Emily, de repente, sentiu-se desconfortvel na presena de seus colegas. Ser que elesdeveriam ver aquilo? Sem saber exatamente por qu, ela ansiava por privacidade.

    Sinto muito, preciso ir.

    Sem olhar nos olhos deles e sem esperar uma resposta, Emily dobrou as pginas que segurou namo e saiu da sala; a porta bateu depois que ela saiu.

  • CAPTULO 13

    PERIFERIA DA CIDADE DO CAIRO, EGITO

    O pacote estava embrulhado, como sempre, num papel comum sem nenhuma marca.

    O Bibliotecrio o segurava sob a bata enquanto descia os degraus. O corredor l embaixo eraescuro, mas sabia muito bem o caminho. Por muitos anos, aquela troca havia sido feita damesma maneira.

    Sempre em silncio, sempre no escuro.

    Pisava delicadamente no velho cho de pedra, coberto por uma camada de areia do deserto epoeira.

    O corredor tinha uma curva acentuada esquerda, em declive. Escorou-se contra a parede,buscando mais apoio para os ps. Suas pernas j no eram fortes como haviam sido no vigor dajuventude, quando fizera essa descida pela primeira vez. Agora, tomava uma precauocostumeira, chegando ao final do corredor, isolado por paredes havia muitos sculos.

    Em meio escurido, tateava o caminho. Seus dedos passeavam pela aspereza da parede quandoacariciaram um ponto conhecido. Dois blocos de pedra calcria se encontravam em um nguloestranho, criando uma pequena fissura que deixava um espao vazio. Retirando o pacote dasdobras de sua bata, colocou-o cuidadosamente na fresta, empurrando-o at onde o espaopermitia.

    O som do papel raspando contra a pedra ecoou no silncio daquele espao.

    Feito o depsito, virou-se e refez os passos at l em cima. A coleo e a compilao daquelems tinham ido bem, e o trabalho do ms seguinte j tinha comeado. Tudo seguia o mesmo eantigo ciclo por milhares de anos, embora a marca mais constante da histria a mudana estivesse indelevelmente impressa nele.

    Aquela rotina era uma fonte inesgotvel de surpresa. Mesmo durante todos aqueles anos. Um atoto simples e discreto. No entanto, por trs, sustentando-o, havia uma estrutura invisvel que eleno podia compreender e nunca conheceria completamente.

    Fez a ltima curva e agachou-se para passar pela baixa entrada de pedra. Com as velhasperguntas na cabea ainda ardendo com a mesma fora de sempre, o Bibliotecrio surgiu na luzradiante do sol egpcio.

  • CAPTULO 14

    WASHINGTON, D.C., 11H30 (10H30 EM MINNESOTA)

    Jason observava quando o homem saiu do Eisenhower Office Building, carregando uma maletacara e avanando a passos confiantes. Ele correspondia perfeitamente foto que Jason tinha namo, inclusive em detalhes ridiculamente minuciosos: a risca de giz do terno e o cabelo bem-arrumado demais. Um homem, pensou Jason, que se tem em altssima conta. Esse fato isoladosignificava que Jason iria apreciar o que estava para acontecer, mesmo sem levar em conta ojusto carter da causa e da necessidade da ao. Havia chegado de avio meia hora antes, vindodo meio-oeste, a caminho de Nova York, mas Jason no se importava com o desvio programado.Arrivistas arrogantes como aquele mere-ciam o que lhes acontecia.

    No momento em que o homem virou a esquina para entrar na West Executive Avenue, Jason selevantou do banco do jardim onde estava sentado, colocou a foto no bolso e dobrou o jornalcolocando-o sob o brao esquerdo. Passeando com um ar distrado, seguiu seu alvo mantendo-se distncia de dois quarteires. O jovem passou pela Rua H e virou Esquerda na Rua I.Exatamente como Jason esperava que ele fizesse.

    Mitch Forrester estava sendo investigado havia meses. Outro Amigo, Cole, fora indicado para ovice-presidente, e tinha se plantado no corao do ambiente de trabalho dos dois homens comfacilidade.

    Sabia de tudo. Os hbitos de Forrester ao final do dia se repetiam com perfeita regularidade: notinha carro e, em vez de pegar metr ou nibus, preferia caminhar os 14 quarteires do escritrioat o seu apartamento. Jason imaginava que isso, tambm, era uma vaidade, que tinha o objetivode mant-lo em forma e ao mesmo tempo permitir que fosse visto pelo maior nmero possvelde pessoas.

    Hoje, como em todos os outros dias, estava fazendo exatamente o mesmo trajeto porWashington, gradualmente enveredando por seu caminho do centro do Capitol Hill na direo deum bairro elegante ao norte do Washington Circle Park, onde ele alugava um apartamento numprdio sofisticado no Newport Place, que certamente custava muito mais do que um assessorpoltico ganhava.

    Donde se conclua que a famlia dele tambm tinha dinheiro.

    Jason foi aos poucos se aproximando de Forrester medida que os dois se afastavam do centrode Washington, com suas costumeiras patrulhas de agentes disfarados e sua profuso decmeras de vigilncia. O risco de ser pego perseguindo seu alvo nas reas residenciais era bem

  • menor e, quando eles estavam se aproximando do prdio, permitiu-se ficar a apenas uns 10metros do arrivista poltico.

    Depois, quando Forrester parou na porta e passou seu carto para poder entrar, Jason chegoubem perto.

    Por favor falou abruptamente, assumindo com facilidade o papel de morador que ficoutrancado fora. - No acredito. Deixei meu carto l dentro. Ser que d para voc me deixarentrar? Minha esposa est no trabalho e meu celular est no apartamento; fiquei preso aqui fora!

    Jason desempenhava com perfeio o papel de vizinho exasperado e mesmo assimexcessivamente simptico. Mitch olhou para trs na direo do estranho, Jason percebeu suabreve hesitao. Era uma reao previsvel, j que Mitch nunca o tinha visto nas imediaes docomplexo antes. Mesmo assim, confiava que Forrester no teria visto muitos outros moradores doprdio. Jason tambm confiava em sua habilidade de convencer com seu papel de moradoratrapalhado.

    Tudo bem respondeu finalmente Forrester.

    Muito obrigado Jason deu um sorriso de gratido. Ele esperou que Mitch segurasse abertasas portas de vidro, passou por elas e dirigiu-se para o elevador. Forrester morava no quarto andar,de modo que Jason sabia que ele tomaria aquela direo.

    Eu vou no sexto disse ele, no momento em que apertou o boto e as portas se abriramimediatamente. Por favor, voc primeiro.

    Mitch entrou no elevador e apertou o boto 4 no painel sua direita, e depois o 6 em umademonstrao de gentileza para o recm-conhecido vizinho.

    No momento em que as portas se fecharam, Mitch sentiu a faca entrar em suas costas. Asensao de uma lmina de 10 centmetros perfurando sua pele e entrando em suas costelas erato estranha que, no incio, no percebeu o que estava acontecendo, e tentou virar-se na direodo outro homem. Jason, com a mo livre, agarrou Forrester pelo ombro para imobiliz-lo.

    Oua com ateno disse, com uma voz suave, mas firme e controlada. Esta faca agoraest no seu rim. Enquanto a lmina permanecer a, voc fica vivo. No momento em que eu aretirar, voc tem uns 30 segundos para sangrar at morrer.

    O pavor de Mitch foi instantneo, e veio junto com a confuso.

    O qu? No estou entend. .

    No pergunte nada interrompeu Jason. - Simplesmente faa o que eu digo, e talvez eu vembora e deixe voc com a faca aqui nas suas costas, pronto para ser costurado em algumhospital, entendeu?

  • Mitch jamais experimentara tamanho terror, e com a dor lancinante que se espalhava pelo seucorpo, s conseguiu grunhir concordando.

    Bom disse Jason calmamente, acionando um controle no painel, e detendo a ascenso doelevador. Agora, quero que voc me conte tudo o que sabe sobre o pequeno compl do vice-presidente.

  • CAPTULO 15

    MINNESOTA - 10H40

    Emily entrou em seu gabinete, fechou a porta e desceu as persianas da janela que se abria para oespao comum mais adiante. Embora no soubesse exatamente por qu, sentia que precisava terprivacidade e estar protegida dos olhares dos colegas e alunos.

    A segunda pgina do fax de Michael continuava a intrig-la. Parecia uma coleo de pistas, maspistas de qu? E em que ponto daquela manh havia se tornado parte de uma histria de suspensena qual receber uma carta cheia de pistas era algo a ser esperado?

    Tinha de falar com Michael de novo, agora que o contedo do envelope recebido estava em suasmos.

    Ansiosamente, Emily pegou seu celular e escolheu o nmero a partir de sua agenda de contatos.

    Voc voltou disse Michael quando atendeu do outro lado da linha. Depois acrescentou, numtom meio malicioso. Eu disse que voc no ia acreditar.

    Nesse ponto estou mais que disposta a concordar com voc, querido disse Emily, tentandomanter sua disposio na mesma leveza do tom de Michael, enquanto desdobrava as duas folhasde papel que chegaram por fax, juntando a elas o original que recebera de Arno.

    Embora estivesse normalmente disposto a fazer alguma provocao, naquele momento Michaelse submeteu sem resistncia gravidade dos acontecimentos.

    Emily perguntou o que significa tudo isso?

    Isso, eu confesso com toda a sinceridade, est totalmente alm da minha compreenso.

    Ela conseguia imaginar poucas razes pelas quais Holmstrand teria escolhido envolv-la em seusassuntos. Apenas o campo mais amplo de seus objetos de estudo tinha algo em comum:antigidade, histria e religio. Aquilo era suficiente? Ser que esse campo comum de interessesos ligava de um modo que Emily ainda no conseguia perceber?

    Seus pensamentos causaram uma pausa na conversa. Para Michael pareceu ainda ser necessriousar um tom mais leve.

    Muito bem, obrigado ento por essa observao inteligentssima, professora!

  • Emily soltou uma risadinha diante de toda aquela franqueza. Desde sua primeira conversa quatroanos atrs, em um jantar da faculdade em Oxford, eles se provocavam desse jeito. Ele, umuniversitrio com diploma de Histria que havia se tornado um orgulhoso ps-graduando na reade Arquitetura, tinha tentado resumir sua admirao pelo design moderno mencionando deforma favorvel o Gherkin, o Pepino, um arranha-cu londrino que mais parecia umlegume de vidro pronto para decolar.

    Aquilo uma ofensa para os olhos; imperdovel! foi o moderado e objetivo comentrio deEmily, oferecido graciosa e energicamente. E nunca vou acreditar, nem por um minuto, quevoc gosta daquilo de verdade. Dizer que gosta no passa da obrigao de um arquiteto, como ado estudante de msica que precisa admitir que, em princpio, admira Bach, mesmo que naverdade ele prefira unhas arranhando uma lousa a ter de escutar os Concertos de Brandenburgopor cinco minutos.

    Fosse por admirar seus olhos azul-escuros e sua beleza sem artifcios ou por apreciar seu tomdireto e sua personalidade decidida, Michael se afeioara imediatamente a Emily , e um interessecasual logo se transformou em romance, que floresceu em amor intenso. Ele a havia pedido emcasamento somente no ano anterior, pouco antes de seu terceiro jantar de Ao de Graasjuntos, e embora Emily em geral fosse a mais assertiva dos dois no relacionamento, tinhaadorado a proposta tradicional e completa, com o rapaz se ajoelhando e lhe oferecendo um anelde diamante.

    Talvez voc possa partir do que sabe insistiu. As duas cartas mencionam a Biblioteca deAlexandria, que Holmstrand encontrou.

    No exatamente respondeu Emily. A linguagem precisa de Arno a havia impressionado. Ele no diz exatamente que a encontrou. Diz que ela existe. Que eu devo encontr-la.

    Alguma coisa no arranjo das palavras parecia desajeitado o bastante para chamar-lhe a ateno.

    Certo concordou Michael -, mas a questo que ainda preciso encontrar alguma coisa.Detesto perguntar isso, mas. . a Biblioteca e essa sociedade se perderam?

    Ainda bem que voc bonito caoou ela porque seu conhecimento de histria espantoso, e eu me pergunto se voc prestou ateno a alguma coisa na sua poca de graduao.

    Desde que ele abandonara os estudos de Histria para assumir uma funo mais rentvel na reade projetos arquitetnicos, ela buscava oportunidades para zombar dele por conta disso. Emilyesperou uma risada em resposta, e ela de fato veio. - Mas sim - continuou ela - a Biblioteca seperdeu. Ou melhor, foi destruda. No sei ao certo o que essa sociedade. Talvezsimplesmente a organizao da biblioteca.

    Quando ela foi destruda?

    No tenho certeza respondeu Emily .

  • E voc quer me acusar de no saber Histria? Pelo menos minha ignorncia no precedidapor um ttulo de Doutor no assunto.

    Emily sorriu.

    Eu no sei a resposta, Mike, porque ningum sabe. E um mistrio. Um dos grandes mistriosdo mundo antigo. A Biblioteca de Alexandria foi construda durante o Reinado de Ptolomeu II, reido Egito, no incio do terceiro sculo a.C., tendo se tornado a maior biblioteca da histria dahumanidade.

    E ento, alguns sculos depois, ela desapareceu.

    Desapareceu?

    Na verdade no existe uma palavra melhor respondeu Emily. A maioria das pessoaspresume que ela foi destruda, embora no tenhamos nenhuma prova concreta disso.Simplesmente desapareceu.

    Um verdadeiro mistrio.

    Bem, se for realmente um mistrio disse Michael - voc tem de fato um papel cheio depistas.

    Aquele gracejo, entretanto, no provocou riso em nenhum dos dois. Emily baixou os olhos e leu aterceira pgina de Arno.

    Daria para acreditar que ele realmente encontrou essa biblioteca? indagou finalmenteMichael.

    Mais uma vez a estranha linguagem de Holmstrand reverberava na mente de Emily. ABiblioteca existe. . assim como existe a Sociedade. . nenhuma das duas se perdeu. Ela ficouremoendo a pergunta de Michael antes de responder.

    Se fosse qualquer outra pessoa afirmando que sabia onde essa biblioteca est, eudesconsideraria sumariamente a alegao. Muito sensacionalista. Muito implausvel. Mas trata-sede Arno Holmstrand.

    muito difcil encontrar algum com a reputao dele.

    E, eu me lembro da admirao que voc sentia por ele - disse Michael. Sabia que Emilyrespeitava as faanhas intelectuais daquele homem, e at sentia uma certa simpatia porHolmstrand. Ele o vira uma vez, numa festa dos colegas de Emily. Michael confessara a eladepois do jantar que o professor o fizera imediatamente lembrar-se de seu av: um homem comolhos bondosos e uma respeitvel pestana, que tinha visto o mundo e, mesmo assim, no haviasido embrutecido por ele. Mas o tom de Michael agora enfatizava que a morte de Holmstrand

  • estava envolvendo Emily em algo que nenhum dos dois conseguia explicar. Ser que oshomens famosos tambm mentem? perguntou ele finalmente.

    Ele no era s famoso, Mikey disse Emily . Ele era uma autoridade mundial.

    Arno Holmstrand comeara a se destacar no cenrio acadmico desde que era graduando.Depois de uma graduao em Yale ele fizera um mestrado em Harvard, e Emily ouvirarumores de que ele havia se formado em menos de um ano. No mesmo perodo, Arnoconseguira publicar seu primeiro livro, Dinmica transcultural: o fluxo do conhecimento entre africa e o Oriente Prximo no final do perodo clssico. Embora o ttulo no flusse comfacilidade, o livro se transformara instantaneamente em um clssico da rea. E embora jtivesse dcadas de publicao, Emily ainda o usava em seus cursos.

    Nada disso, ela bem sabia, impressionava Michael. Dadas as circunstncias e a personalidadeforte de Michael, ele provavelmente seria tocado pela parte do trabalho de Arno que pareciacheia de aventuras. E aventuras havia de monte.

    Este um homem que conquistou fama em sua primeira expedio arqueolgica com aUniversidade de Cambridge disse ela toda entusiasmada. - Ele s era um aluno de doutoradona poca, e seu grupo se baseou em mapas que ele mesmo havia desenhado a partir da pesquisafeita na British Library. Eles descobriram no uma, mas duas fortificaes militares quedatavam da poca de Ptolomeu II do Egito e que estavam encobertas pela areia desde aquelapoca.

    Emily no podia deixar de expressar um grande entusiasmo.

    O mesmo Ptolomeu que tem ligao com a biblioteca?

    Exatamente. E, se no bastasse isso, o achado levou a uma srie de aventuras la Hollywood.Pelo que ouvi dizer, milcias das aldeias ao redor das escavaes desconfiaram dele e duas vezesatacaram os acampamentos. Na segunda ocasio o amarraram, bateram nele at que eleperdesse os sentidos e jogaram seu corpo a 30 quilmetros dali, no deserto.

    Michael permitiu que um hiato se estabelecesse na conversa.

    Ento disse ele finalmente o professor Arno Holmstrand, o Grande, o tipo de homemque simplesmente pode ter encontrado sua biblioteca perdida h tanto tempo.

    Emily apertou o rosto contra o telefone. O mal-estar daquela manh estava se dissipando, poucoa pouco, e dando lugar a um nvel crescente de expectativa.

    , poderia muito bem ser. Mas lembre-se, no isso o que diz a carta. O que ele diz aindamais inacreditvel: que a biblioteca nunca se perdeu. Que ele sabe de sua existncia. Noentendo como pode ser, mas isso o que ele alega.

  • - E agora, morto, ele quer que voc a encontre?

    - E o que parece, sim.

    E isso no. . incomoda voc?

    Emily hesitou. A voz de Michael tinha perdido totalmente aquele tom de brincadeira eprovocao bem-intencionada.

    No admitiu ela, curiosa. Por que me incomodaria?

    Porque a histria de Holmstrand no exatamente isenta de perigos, pelo modo como voc adescreveu.

    Emily ia responder, mas antes que conseguisse, Michael continuou.

    Falando em termos mais diretos, Emmy, o homem est morto. E essas cartas, essas pistas. .bem, elas parecem dirigir voc para o mesmo caminho que rendeu para ele trs balas no peito.

  • CAPTULO 16

    WASHINGTON, D.C. - 11H45 (10H45 EM MINNESOTA)

    Mitch estava sem flego, pois cada movimento de seu peito acentuava a dor causada pela lminaque perfurava sua cavidade abdominal.

    O que est dizendo? Que compl? Ele estava verdadeiramente confuso, alm deapavorado.

    Ns sabemos do compl do vice-presidente respondeu Jason, sua voz permanecendo calmae firme como o punho que segurava a faca nas costas de Forrester. E tambm de suasambies.

    Mitch no conseguia se virar para encar-lo, por isso olhou para o reflexo distorcido de Jason nopainel de metal do elevador.

    No sei de compl nenhum.

    No minta para mim - respondeu Jason, empurrando levemente a faca , no fica bem paravoc.

    Os olhos de Mitch se encheram de lgrimas por causa da nova carga de dor. Sua respiraoficava cada vez mais difcil.

    Eu no.. estou mentindo.

    Ns tambm sabemos que vazou uma lista de pessoas envolvidas no compl do vice-presidente continuou Jason, imperturbvel diante dos protestos do homem agonizante e a tallista chegou s mos do nico grupo que tem o poder de det-la.

    Por que. . por que eu quereria agir contra o vice-presidente? - disse Mitch ofegante. Ele meu patro!

    Ah, mas ele no mesmo seu patro, ? No realmente. Sabemos onde esto suasverdadeiras ligaes polticas, sr. Forrester.

    Mitch arregalou os olhos ao ouvir aquela alegao. Jason inclinou-se para a frente, falando-lhe aoouvido.

    Sabemos que na verdade voc no est trabalhando para o escritrio do vice-presidente,

  • independentemente do que esteja escrito no seu crach. Sua ambio abrir caminho para umescritrio completamente diferente. Um com paredes ovais.

    Mitch no conseguia responder. Ele tinha sido descoberto. Talvez seu desdm pelo vice-presidente tivesse ficado transparente demais e as pessoas tivessem comeado a suspeitar daverdade: que ele vinha h trs meses trabalhando para garantir um cargo na equipe dopresidente.

    Ento, de alguma forma voc descobriu as intenes do vice-presidente, e deixou vazar osdetalhes para os oponentes dele.

    A mente de Mitch trabalhava, enquanto a dor lhe queimava no corpo. Ele tinha treinado negaese mentiras para o caso de algum dia ser descoberto, mas aquele homem parecia j saber daverdade. E ele estava com uma faca enterrada nas costas.

    Eu s descobri nomes - disse ele finalmente cuspindo as palavras Eu no conheo nenhumdetalhe secreto do plano, apenas sei quem so os envolvidos.

    Jason ergueu uma sobrancelha.

    Quais nomes?

    Gifford, Dales, Marlake. . ele encheu os pulmes de ar, mais uma vez sentindo uma dorlancinante alguns outros. Mas nunca mencionei esses nomes para ningum. Eu os estavacompilando numa lista em meu computador. Achei que comporia uma boa referncia para umcargo futuro.

    Ningum a viu.

    Jason sabia aquela ltima declarao era falsa, embora Forrester pudesse estar sendo honestoquando dizia no ter divulgado a lista para ningum. Por vontade prpria ou no. Infelizmente,como Jason muito bem sabia, os oponentes deles tinham formas de obter informaes.

    Ele voltou a ateno para o homem na frente dele.

    O que mais tem nesse documento? Quanto do plano voc sabe?

    Que plano? disse gritando Mitch, tanto pela confuso quanto pela dor que sentia. Eu scomecei a enxergar um padro, os que apoiavam o presidente morrendo, e os que apoiavam ovice-presidente ficando mais importantes. Mas nenhum. . nenhum plano.

    Jason encarou o fraco reflexo dos olhos de Mitch na parede do elevador. Ficou um longomomento quieto pensando, antes de falar outra vez.

    Sabe, sr. Forrester, acredito que esteja me dizendo a verdade. Acho sinceramente que o

  • senhor no sabe de mais nada.

    Em meio dor que sentia, Mitch conseguiu soltar um suspiro aliviado.

    Graas a Deus! Eu. . ele estremeceu, mas continuou nunca fiz nada alm de servir meupas.

    Jason ensaiou um sorriso.

    Mas no vai fazer mais nada com um gesto suave, ele puxou a faca das costas de Mitch, eimediatamente uma grande quantidade de sangue espesso e quase negro comeou a escorrer doferimento. Ele virou o homem para encar-lo ao mesmo tempo em que limpava o sangue dalmina no palet da vtima e acionava o mecanismo para que o elevador comeasse a subir denovo.

    Horrorizado, Forrester apalpou as prprias costas e seu rosto ficou branco como papel nomomento em que trouxe as mos de volta na direo dos olhos, cobertas com seu prprio sangue.

    Entendi que voc ia me deixar viver se. . eu. . cooperasse ele apoiou o corpo na parede doelevador, perdendo os sentidos e escorregando at o cho enquanto a rpida perda de sangue lhedrenava a conscincia.

    Recolocando sua faca na bainha, no momento em que o elevador emitia seu sinal sonoro e asportas abriam no quarto andar, Jason olhou para baixo na direo do infeliz que estava no cho.

    Voc mais que qualquer um deveria saber disse ele com um sorriso. Nunca confie emum homem em Washington.

    Ele saiu do elevador, e depois as portas se fecharam delicadamente em torno do homem que jtinha dado seu ltimo suspiro.

  • CAPTULO 17

    O pequeno interrogatrio que fizera com Mitch Forrester tinha confirmado o que Jason precisavasaber. A lista fora obtida pela Sociedade por meio do computador de Forrester, que devia estarsob a superviso de Marlake. O vazamento significara que era preciso cuidar do Guardio e seuAssistente; tarefas que ele j tinha desempenhado pessoalmente. Agora, com Forrester fora docaminho, o vazamento estava completamente estancado. A obsesso da Sociedade com o sigilo eas redes fechadas de responsabilidade garantiria que ningum mais ficaria sabendo. A missopoderia prosseguir sem obstculos.

    O que faltava agora era o material inesperado de Minnesota. Quando estava deixando a vida, oGuardio demonstrara ser mais do que um potencial vazamento, mesmo que esse vazamentotivesse sido estancado. O livro, as pginas. . tinha alguma outra coisa em andamento. Algo aindamaior que a prpria misso.

    Jason sentiu a pele formigar enquanto saa do prdio de apartamentos. As coisas estavammudando. O horizonte assumia uma nova configurao.

  • CAPTULO 18

    MINNESOTA, 11H10

    A conversa entre eles continuara por alguns minutos antes que a troca de provocaes eavaliaes chegasse a uma encruzilhada.

    - Oua - disse finalmente Emily - so pouco mais de onze horas. Meu voo para Chicago parte s14H10.

    Com os congestionamentos do feriado de Ao de Graas, isso significa que precisarei sair logodaqui.

    Se que eu vou para a.

    Ela e Michael sabiam que a ltima frase era mais uma pergunta que uma afirmao.

    Se repetiu ele. Michael virou o papel no qual estava impresso o e-ticket que Holmstrandhavia reservado para sua noiva. A escolha era entre Chicago e a Inglaterra. De alguma forma,ele sabia que no se tratava de uma verdadeira escolha. Emily sempre fora uma viciada emaventuras, aquele ingrediente que faltava, como ela o chamava, em sua vida acadmica que,em todos os outros aspectos, era bastante satisfatria. Ainda assim, o que se apresentava era maisdo que apenas uma curiosa situao de aventura. Emily, voc devia vir para c. Voc noprecisa voar para a Inglaterra s porque um colega lhe pediu, por mais atraente que seja aproposta. Principalmente se levarmos em considerao que ele foi morto logo aps enviar oconvite.

    Emily pensou sobre as possibilidades diante dela, pensou na misteriosa correspondncia que Arnotinha deixado.. tudo aquilo era muito mais do que ela costumava encontrar em sua vida. Elaocupava seu cargo acadmico no Carleton College desde que havia completado seu doutorado,pouco mais de um ano e meio atrs, retornando fonte de sua inspirao nos estudos. Emboraela tivesse deixado Carleton aps completar sua graduao, para ir estudar em algumas dasmaiores e mais bem-conceituadas instituies do mundo acadmico, ela voltara com avidez aseu ponto de partida. O cargo que ela ocupava agora era estvel e, se tudo continuasse igual, elapretendia ocup-lo at se aposentar. Com seus 32 anos de idade, essa escolha oferecia a Emilyuma notvel segurana no emprego, embora no oferecesse necessariamente o tipo de emooque tempos atrs ela desejava como parte de seu futuro.

    Ela tentava controlar seu pendor por aventuras mantendo o hbito de correr com grandefreqncia, e mais recentemente fazendo aulas de Krav Maga, a arte marcial de alto impacto de

  • origem israelense.

    Ela tinha chegado at a fazer aulas ocasionais de paraquedismo num aerdromo prximo, masteve de acabar encarando o fato de que o mundo acadmico simplesmente no oferecia asemoes que ela naturalmente desejava.

    O momento presente, entretanto, oferecia: um mistrio, embora definido vagamente. Estranhascartas, e pistas mais estranhas ainda. Uma passagem para um voo atravessando o Atlntico. Mastambm havia seu noivo, o feriado de Ao de Graas, e a oportunidade preciosa e rara deestarem juntos. Chicago lhe parecera muito mais perto de Minneapolis quando eles haviamdecidido que seria vivel que Michael fizesse seu estgio em arquitetura ali.

    Temos de decidir isso juntos disse finalmente Emily. Parece que tenho duas passagensreservadas para hoje. Qual delas vou escolher?

    Ela se viu prendendo a respirao ao esperar a resposta de Michael.

    A Inglaterra disse Michael, percebendo que o protesto que fizera antes no tinha surtidoefeito. -

    bem mais longe que Minnesota.

    Emily , ansiosa, retesou o corpo.

    No s para a Inglaterra acrescentou ela. De volta para Oxford. Onde tudo comeoupara ns.

    o que parece respondeu Michael, voltando os olhos para a carta de Arno. Mas parafazer exatamente o qu, Emily ?

    Ele falava com uma energia que no combinava com sua habitual compostura inglesa. Vocvai simplesmente aterrissar na Inglaterra com um papel cheio de pistas e de algum mododescobrir algo que se perdeu para a Histria h sculos?

    Emily desejou estar mais perto dele, desejou poder pegar na mo dele. Ela percebia a apreensodo noivo, e havia tambm um medo presente em seu prprio entusiasmo. Mas a cada momentoque Michael ia pintando aquele quadro estranho, o quadro parecia mais convidativo.

    Pense nisto, Mike. Arno conseguiu se inteirar de meus planos, de minha vida, de voc,suficientemente bem para me passar essa informao hoje, apesar de sua prpria morte. Pensebem! Ela respirou fundo, ansiosa. Impossvel que voc no se interesse. .

    Nenhuma palavra de oposio lhe chegou pelo telefone.

    E agora ele me deixou uma passagem para o Reino Unido continuou Emily. De alguma

  • forma, acho que ele planejou algo. Tenho certeza de que eu no ficaria andando sem rumo naInglaterra por muito tempo. Alm do mais, se nada disso der certo, no ser o fim do mundo. Suma viagem grtis para sua terra natal.

    A expresso gentil do noivo apaixonado comeava a voltar voz de Michael.

    Mas sem mim.

    O tom de Emily tambm ficou mais suave Voc poderia vir comigo, voc sabe. Um pouco deaventura, juntos? De volta para o lugar onde nos conhecemos?

    Embora Emily no pudesse v-los, os olhos de Michael brilharam. Mas ele sabia que no poderiaaceitar o convite.

    Vocs universitrios tm feriados prolongados, mas eu tenho uma apresentao no sbado,no importa se o feriado de Ao de Graas ou no. Essa minha primeira apresentaoimportante para um cliente comercial, lembra?

    Claro, eu sei Michael estivera se preparando para aquele momento havia meses. Era umdos ltimos obstculos que ele deveria vencer para passar de aprendiz a arquiteto plenamentequalificado.

    Alm disso, ele diz que voc deve ir sozinha. S Deus sabe o que voc vai fazer l.

    Emily ficou muito atenta quela ltima fala de Michael. Ela j tinha decidido internamente, eparecia que agora acabara de receber o assentimento que estava esperando.

    Vou fazer?

    Ora respondeu Michael. No vamos fingir que voc no vai, comigo ou sem mim.

    E ali estava, o to ansiado reconhecimento de que a aventura era simplesmente grande demaispara ser dispensada. Michael a conhecia bem e no iria impedir que ela vivesse umaoportunidade assim. Um sorriso ilumino