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A Batalha das
Palavras
Gerson Machado de Avillez
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
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A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
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Copyright © Gerson Machado de Avillez 2014
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Avillez
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Título Original
A Batalha das Palavras
Capa
Gerson Machado de Avillez
Revisão
Gerson Machado de Avillez
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
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PREFÁCIO O Guerreiro da pena
“Palavra, palavra
(digo exasperado),
se me desafias,
aceito o combate”
Carlos Drummond de Andrande
Não vivo de literatura, mas escrevo minhas
obras literárias pra viver a morrer no ócio
letárgico das palavras ou esquecimento do
silêncio. O Livro infantil, exemplar único deste
gênero de minha autoria, parece aludir no
conflito de palavras em suas castas, estirpes
divididas em dois grupos conflitantes onde o
cruzamento de cada uma destas concebe
termos amalgamas ou evolução destes. A
síntese do que atribui-se ao poder das palavras
alteram o mundo, ainda que como
representações de emoções, ideias ou atitudes
relacionados a seus valores morais e éticos,
mas substancialmente implica na
transformação pelos sentimentos e emoções
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expressados numa genealogia cujos braços a
alterar iguais realidades. Não por menos que
cada uma destas palavras tenham conotação
com dimensões, o que carrega seus nomes em
'As Mil Palavras’ demonstrando
essencialmente a importância do verbo em suas
mais variadas matizes quer relacionadas a
emoções como a valores direta ou
indiretamente, assim como a importância
etimológica de mitologias grega, por exemplo,
a inspirar concepções destas morais. Na
evolução da ética relaciona tais verbos-
palavras a formação e evolução do próprio
consciente humano até o vindouro atrelado a
verbos que compreendam o infinito.
Dar-se-á valores filosóficos e morais
aos personagens mitológicos, a etimologia
ganha vida como uma genealogia própria numa
mitologia que dá entonação as relações das
palavras entre si. A construção da síntese da
mitologia brasileira através da ficção
evidentemente não agrada aos que não desejam
que uma nação e(ou) cultura tenha uma
identidade própria, mas antes desfigurada pela
hipocrisia numa cultura dupla face.
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É preciso mitologistas para formar um
panteão mitológico de palavras. A mitologia
não pode ser cientificada, seus valores têm que
ser mais filosóficos e morais. Hoje em dia a
história de toda família é contada nos melhores
dicionários etimológicos, pois o texto
demonstra o amor aos versos, ao verbo, as
palavras. Garanto que não são meras palavras
lançadas no acetado a esmo como quem atira
verbos a todos os lados.
O Filoversismo assim representa a
transição do verbo ao encarnado, sua
materialização, uma correspondência não
somente de como as palavras - escrita ou falada
- tem poder imensurável, do verbo ao verso, o
amor o qual cria o poema, trás uma relação
visivelmente inspirativa no 'verbo que se fez
carne'. Mesmo o ser humano é feito por uma
mensagem no DNA, combinações em quatro
letras de autoria desconhecida mas que se faz
presente como assinatura de que ele mesmo é
feito por informação, verbos.
Não existem relatos ou fósseis de como
surgiu a linguagem humana em todas suas
matizes e troncos. O que temos ideia é que pela
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essencialidade de trocar informações surgiu a
comunicação tendo por meio a linguagem.
Hoje pensamos na própria língua em que
falamos, mas assim como uma brincadeira de
telefone sem fio a uma frase e ideia modifica-
se como meme a cada pessoa que é transmitida,
assim como na memética a formação da
cultura, acontece igualmente com a linguagem.
Creio que a língua surgiu como parâmetro a
ações, objetos e sentimentos e por isso
carregada de histórias a exemplo da língua
latim e mesmo hebraico, mas que com o passar
do tempo os significados se transformaram, se
modificaram e até se perderam assim como
equivalentes sentidos, logo sentimentos nela
exemplificado que por não conhecermos não
somos capazes de expressa-los ou
simplesmente nota-los como a ideia do
sentimento perdido que trás a conotação da
palavra como verbo motriz. Mesmo as mais
simples palavras estruturadas de modo rítmico
ganham poder de alcance pela poesia que a
envolvem. A linguagem faz parte da melodia
do universo, pela lei de zipf ou pelo canto das
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baleias, pois mesmo o universo é um verso
ministrado por verbos da ação.
Os padrões linguísticos tendem a se
simplificar absorvendo mesmo seus erros e os
exemplos são inúmeros. Todavia uma
linguagem de sentimento seria inata a uma raça
sensitiva que como trás a conotação, sentem,
possuem sentimentos como forma de
linguagem o que teria dado origem as línguas
conhecidas. A relação de sentimentos
evoluídos ao contrário das emoções primitivas
é de associação que facilita a compreensão,
reflexão, criatividade e memorização do qual
sem este seriámos criativamente tão aptos
quanto máquinas frias, o que é fato científico
para os psicológicos. As designações
simbólicas originais assim eram as mais
próximas possíveis da verdade objetiva do que
antes, mas que os significados foram se
embotando com o passar dos anos.
Mas enquanto alguns estão mais
preocupados em edificar o templo da gula e da
cobiça materialistas, preocupo-me na alquimia
das ideias em sua essência, e elas são por
cruzamentos de palavras assim como se faz o
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Filoversismo, onde cada livro é uma cidade
povoada por palavras a espera de ser visitado
pela imaginação o qual dão vida a versos e
verbos.
"Pela fé entendemos que os mundos foram
criados pela palavra de Deus, de modo que o
visível não foi feito daquilo que se vê."
Hebreus 11.3
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Índice
I - O Verbo primordial e o Princípio do
universo – Pág.11
II - A Cidade das Palavras – Pág.16
III - Vale dos Verbos – Pág.22
IV - A Ponte dos Versos – Pág.26
V - O Livro das Palavras das Perdidas – Pág.29
VI - Os Dragões da Ignorância e as Palavras do
Tempo – Pág.36
VII - O Oitavo dragão – Pág.39
VIII - Alquimia das ideias – Pág.42
IX - A Palavra perdida – Pág.43
X – A Cidade do Léxico – Pág.46
XI - A Batalha das Palavras – Pág.48
XII – Apêndices - 52
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I – O Verbo Primordial e o Princípio do
Universo
Havia o céu, e o céu era vazio como o abismo,
até que foram feitas estrelas e do céu que se fez
o mundo o qual apesar de considerar-se estar
abaixo do céu, o mesmo habitava o céu, pois
era parte do mesmo.
Antes vendo O Legislador que era preciso
linguagem para comunicar a informação ao
universo, o verso que o compôs unicamente,
deixou-se de ser mudo e do sopro de seus lábios
suas primeiras palavras veio o universo, pois de
um único verso surgiu o universo: Faça-se Luz!
E do cruzamento das trevas com a luz surgiram
as sombras ante a face do abismo como
pedaços do mesmo, torneados pelos objetos
que assombravam. Assim surgiram os
primeiros verbos que como palavras formavam
verso, o universo ainda que deste modo duais.
O DNA das palavras são as letras, sua
genealogia etimológica seus radicais, e a mente
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são as ideias que traduzem. Elas, as palavras,
tem a peculiaridade de reunir-se em grupos de
versos que compõe frases que formam
parágrafos que por fim formam textos, pois
elas viviam em comunidade social.
E aconteceu que o primeiro dos primeiros a
surgir fora a Paz, a Paz, que como se diz era
pacifica, e da união dela com a Harmonia
nasceu o Ócio e o Tédio.
Ócio e Tedio eram gêmeos apesar da aparência,
na verdade nas lendas mais antigas diziam eles
ser siameses de modo que foram separados por
uma artimanha o qual chamaram por Caos.
Sendo Paz de dias avançados, pensou ser Caos
um filho ilegítimo dele com Harmonia, todavia
a criação de Tédio e Ócio é quem ganhará vida.
Temoroso então, Paz conclamou Harmonia,
mas ao encontra-la havia sido morta por Caos
não sem antes pelo sopro de Ócio fecundar
Tédio e desse incesto surgir Guerra.
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- Declaro Guerra ao Caos! - Disse Paz, porém,
sendo idoso faleceu ele sob o sorriso tenebroso
de Caos o qual esperava por sua morte pois Paz
não poderia ver Guerra.
Ingênuo como era a Paz não conhecia
adversidade, sobrenome que ganhou de Caos e
Guerra, pois na verdade o Caos já existia mas
era suplantado com Harmonia durante seu
sono.
Mas a pobre viúva ao ver o amado falecido
disse consigo mesma: "a Paz morreu, e a
Guerra e o Caos domina!"
Assim então caiu o corpo sem vida ao lado de
seu esposo amado, pois o Caos através da
Guerra queria libertar as vísceras de seu pai
Ulterior, o Abismo. E aqueles foram dias
tenebrosos, e Tédio e Ócio arrependeram-se
amargamente disto.
Tão amargos ficaram eles que mudaram então
seus nomes para Medo e Angústia e deles
surgiram uma linha de palavras tenebrosas. E
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foram eles seus filhos: Aflição, Tremor,
Melancolia.
De todos estes viveram perseguidos por Caos e
Guerra que assolou a Terra e se perpetuaram
entre si por meio de incestos, dando luz a
Catástrofe, Desastre, Tragédia, Cataclismo,
Desolação, e elas tinha por Deus o Abismo.
Porém, durante a fuga de Melancolia, por
saudades do tempo em que viveu seu patriarca,
Paz, Juntou-se a uma forasteira de origem não
conhecida, a Nostalgia, e através dela nasceu
primeiro Peregrino e depois Esperança.
Esperança, brilhante como era reuniu as
qualidades de Nostalgia, que era nobre
contadora de histórias e escreveu as primeiras
palavras de sua história e ao lado de Peregrino
viajou o mundo narrando para que trouxessem
Paz a memória que com ela, Esperança,
poderiam ter um futuro melhor.
Assim durante esse tempo foram escritas as
primeiras leis como guia a conduta das
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palavras, acordos verbais e ortográficos. Disso
tudo surgiu Conhecimento.
Surgiu então naquele momento, como
antagonista, o maior de todos os vilões, o
maligno e tempestuoso
Inconstitucionalissimamente que algo lado de
seus adversários proibiu de se quer ter seus
nomes ditos sem que fosse considerado
xingamento e assim formaram uma quadrilha
muito poderosa que ambicionava mudar o
mundo.
Sentindo seu império gradualmente afetado por
Esperança, Guerra então enviou o filho de
Desolação com Tragédia, Massacre, para que
desse cabo da vida de Esperança e Peregrino.
Todavia apaixonada por um ilustre
desconhecido, Esperança casou-se com
Virtuosidade com o qual teve um filho muito
desejado chamado por Coragem e sua irmã
Bravura.
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Juntos eles fundaram uma cidade com as
demais, e essa cidade passou-se a ser conhecida
como Cidade das Palavras.
II – A Cidade das Palavras
Cidade das Palavras tiveram várias ruas por
onde as palavras cruzavam e encontravam-se,
e seu mapa fora escrito por ninguém menos que
Conhecimento, seu arquiteto e criador, e
edificada com Virtude.
Lá havia a rua do discurso o qual sendo a via
principal muitas das palavras cruzavam, assim
como a rua da Retórica, Dialogo, da Conversa,
da Linguagem e a Praça da Definição Sintética
onde todos chegavam ao consenso de suas
ideias pelo qual Conhecimento, líder comum,
buscava a alquimia das ideias.
E aquela era a capital da Filosofia, pois eles
amavam Conhecimento e a historia das
palavras. E a Cidade das Palavras se equivalia
não a um livro, mas a uma enciclopédia e o
dicionário era por catalogo de páginas
amarelas.
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Assim a Cidade das Palavras tornou-se
movimentada pelos verbos dia e noite, porém,
Conhecimento pela Alquimia das Ideias
buscava por Genialidade, que na realidade
estava a esquina do Óbvio.
Enquanto isso durante a longa jornada de
Massacre pelo Vale da Sombra, onda habitava
seu reino, Bravura cresceu e casou-se com
Peregrino com quem teve Intrepidez e Honra,
no qual formularam uma síntese que ganhou
vida chamada por Heroísmo.
Assim como Caos, Heroísmo antes habitava
inerte na centelha dos melhores seres e tinha
uma predileção a defender o fraco, o oprimido
e o menor que eram massacrados pelas lendas
que vinham de Massacre.
Mas Caos era precedido por Medo, Medo era o
tipo de senhor que apenas impunha obediência
sob castigo e pisando. Por ameaça obrigava
seus servos a realizar as tarefas que como
escravos não eram pagos, mas antes era
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imposto sob pena de agravar suas condições
caso não fizesse a vontade dele, de modo que
Escravidão nasceu naqueles tempos.
Acontece que quando começou o conflito ele
passou a ter por hábito mandar estes se
dobrarem diante dele como seus novos
discípulos tornando-se os primeiros medrosos,
seguidores de Medo, pois dobraram-se ante o
Medo.
E Muitas foram tomadas a força naquele
tempo, porém, fruto desse ato o pior dos filhos
fora Dor, Violência e Covardia, este último,
filho direto de Medo e eles seguiam e serviam
a Guerra, e os seguidores de Violência eram os
tenebrosos violentos. Ataque covarde é a
defesa do imoral.
Todavia assim como Esperança, tomou ciência
de Massacre que se fortaleceu com Covardia,
Guerra e seus em seus feitos, Guerra ficou
temoroso sobre Heroísmo que contagiou
Bravura e Coragem a instigar um levante do
povo contra os seus.
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Heroísmo pregava a lenda de um membro de
sua família a muito perdido, Respeito. Respeito
teria surgido do primeiro casamento de Paz
com Equidade, uma senhora que era venerada
como deusa de todas da região.
Porém, naqueles tempos haviam dois irmãos
sutis e tenebrosos que se infiltrava em sua
cidade, Arrogância e Ignorância.
Ignorância não queria tomar ciência de nada,
muito menos da Verdade, e a Arrogância
achando-se superior achava que de nada mais
precisa tomar ciência ou mudar pois sabe por
demais.
E isso elas instigaram entre a população
dizendo que só existia o que eles conhecia
existir, e assim os olhos foram vendados e a
população se ajoelhou tornando-se ignorante
inclusive em suas crenças, pois Ignorância os
guiava.
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Todavia sendo muito instruído e instigado a
sempre investigar a Verdade com
Imparcialidade, Conhecimento, naqueles
tempos vivia discriminado e sofria represarias
de Ignorância, pois eles diziam que o verbo não
ser formava dos lábios de um Criador como seu
sopro e não vinha do mundo essencial das
ideias.
No entanto, Conhecimento sempre dizia para
defender Crença: A criatura pressupõe, um
Criador, e assim toda obra é autoral, logo
somente estará completo seu conhecimento
com sua autoria. Acreditar em Deus é a
conclusão lógica para preencher o precedente
de criatura.
Porém, não lhe davam ouvidos assim como que
Conhecimento tinha ciência de uma invasão
iminente, porém, Ignorância dizia: Não lhe dê
ouvidos, certamente és pais de Paranoia.
Ledo engano, pois Paranoia era filha de
Alienação que era prima de Ignorância, uma
família de incultos que costumava dar novos
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significados para a vida dos cidadãos da
Cidade das Palavras onde habitavam.
Sendo assim, Conhecimento partiu da cidade
deixando-a sob domínio da Ignorância ainda
que tendo como vice Arrogância que havia
parido Tamanho.
Mas, antes, Conhecimento visitou um cidadão
de moral duvidosa, pois volta e meia jogava
com seus adversários e aliados. Essa era Sorte.
Destino e Sorte eram dois irmãos, um dado a
planos o qual submete seu irmão arteiro, a
Sorte, mas que injusta oferece azar a quem não
lhe recebe de portas abertas, pois quando
Ignorância aliava-se a ela surgia a Superstição.
Porém, vendo-se que aquela cidade estava
entregue a Ignorância, Conhecimento disse a
Sorte: Ela está em suas mãos.
A Cidade das Palavras estava entregue a
própria Sorte, ainda que Conhecimento
acreditasse em seu íntimo que ao retornar, seu
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irmão, Destino, iria por Sorte nos eixos e assim
a cidade.
E naquele tempo Virtude que era da mesma
família de ideias que Grandeza, fora
confrontada por Tamanho, este que sendo
materialista queria substituir a essência
espiritual pela fachada materialista. Porém,
substituir Virtude por Tamanho esquece que
Grandeza é apenas o primeiro.
III – O Vale dos Verbos
De modo que Conhecimento partiu, mas no
caminho para o Vale do Verbo, onde era
conhecido de onde veio o Bê-á-bá, e as
palavras primordiais, Conhecimento,
encontrou Ética o qual nutria paixão platônica
naquela cidade.
Ética, diziam, ser filha de anjos, criaturas
elevadas duma cidade celestial da essência das
Ideias onde as Palavras e Verbos não
encarnados eram apenas isso, ideias, a alma das
palavras que Ignorância e Hipocrisia estavam
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furtando dos cidadãos da Cidade das Palavras
pela ausência Significado.
Porém, Ética, pueril e casta vem do mesmo
sopro de um Criador que as demais. Mas
Conhecimento apaixonou-se e com ela teve
Sabedoria.
Todavia por ter deixado Crença para trás,
Fraude e Corrupção a procuraram para ter com
ela a fim de corrompe-la através de Ignorância
e assim a fraudaram para Crendice.
Fraude e Corrupção mais que palavras
verbalizavam seus atos do qual teve o
privilégio de Ignorância para destruir livros,
Ignorância tentou associar-se forçosamente a
Fé do qual tivera gêmeos bastardos chamado
Extremismo e Fanatismo, os dois por sua vez
criaram algo contra o verbo da Verdade pela
Crendice, filha corrompida de Fé em seu
primeiro casamento o qual o nome
anteriormente era Crença.
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Na verdade não se sabe de quem era filho a
Fraude e Corrupção, uma vez que teria surgido
de um adultério do Abismo e a Mentira o qual
duvida-se a existência, e por isso não se
conhecia sua origem.
Crendice tornou-se patrona da Ignorância,
onde o senso do lugar comum falou alto ainda
que contra os fatos e evidências, e logo
Fanatismo e Extremismo viram nisso uma
oportunidade para se engrandecer e inserir
Violência onde Fé perdeu-se ante Medo e
Covardia e que deram a luz, Maldade.
Assim a infiltração antes impossível na Cidade
das Palavras tornou-se possível distorcendo o
significado delas no mundo e algumas
mataram-se por terem perdido o sentido da
vida e não as se conhecem mais no ‘Livro das
Palavras’ que chamava-se dicionário, nem na
língua dos homens não era mais dito.
Tendo ciência disto Conhecimento lamentou
profundamente, pois lentamente a Guerra
estava se infiltrando, e os seus, Covardia, Dor,
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Violência, Maldade e Medo já dominavam na
cidade e não se havia mais lembrança de Paz e
pairava a Dúvida, angustiante tirana dominante
através de seu subordinado direto, Medo.
Conhecimento então procurou um modo de
escrever ‘O Livro das Palavras Perdidas’ onde
uma das palavras era procurada através de
Nostalgia. A Palavra era a que abria as portas
de todo entendimento e compreensão da vida e
seu significado, mas fora linchada por
Covardia.
Havia dois que ensinaram a buscar a palavra
perdida, seus nomes era Porque e Propósito, já
que Significado estava desaparecido para
muitas palavras na Cidade das Palavras.
Assim Conhecimento, junto com os seus,
instauraram o Filoversismo, a primeira das
palavras perdidas que tiveram sua morte
anunciada, pois era fruto do Amor ao verso,
quer verbos ou palavras e, Esquecimento
queria apaga-las. E conhecimento fez memória
dela no livro.
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Memória, diziam, és Pai legítimo de
Conhecimento! Mas anda envelhecido, e
querem apaga-lo do mundo através de Fraude
e Corrupção que estão a parir Esquecimento e
Impunidade.
Conhecimento tornou-se amargo vendo que
toda uma genealogia de Palavras negativas
cresciam na Cidade das Palavras, de modo que
uma auxiliava a outra para se estabelecerem.
Precisamos nos juntar, disse Conhecimento,
procuremos os fundadores originais da cidade
das palavras e resgatemos Fé, pois não quero
me entregar a malévola primogênita de
Maldade, Depressão!
IV - A Ponte dos Versos
Conhecimento, perspicaz, notou que essas
novas e cruéis palavras estava aproveitando-se
da Ponte dos Versos para vir a existência das
Ideias primordiais sem terem o sopro dos
lábios do Criador, pois vinham de Mentira,
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símile mesclado ao mundo da Essência das
Ideias.
A Pontes dos Verbos, onde as ideias torna-se
palavras e palavras verbos, era por onde
algumas Palavras Perdidas se refugiaram
retornando ao leito primordial das Ideias a
espera de serem resgatadas.
Porém, precisavam eles de Verdade que não
era encarnada e por isso Conhecimento estava
enfraquecido em seu poder. Afinal palavras
sem Verdade não tem valor, do qual assim as
palavras não voltam vazias.
Assim ao resgatarem Fé, Nostalgia, as
memórias da Harmonia, Esperança, Coragem,
Bravura, e toda uma linha de palavras como
Respeito ao lado Peregrino, Intrepidez e
Heroísmo clamaram pela Verdade essencial.
Assim Verdade atravessou A Ponte com
auxilio da Fé e tornou-se carne e fora a Cidade
das Palavras tentar-lhes dar Significado, mas
perseguido por Ignorância fora crucificada e
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morta pelo manipulado povo da Cidade das
Palavras, pois Ignorância optava pela lenda de
Mentira, o qual nunca existiu mas desejava
existir.
Todavia Verdade transcendeu e habitou o
mundo essencial das Ideias de onde emanava o
Universo dando significado ao Conhecimento
que passou a lutar contra Esquecimento e a
mítica Mentira.
Conhecimento então seguindo os estatutos da
Verdade, conclamou dois filhos perdidos pela
Dúvida, Sim e Não. Na verdade, na Verdade,
elas haviam surgido os lábios de Verdade.
Porém, aproximava-se o momento deles
encontrar Guerra pois a tudo havia dominado e
onde A Batalha Final das Palavras seria
travada, Ignorância ao lado dos seus, como
eram promíscuos pariram Deboche e Escárnio
o qual estupraram Humor e Piada tirando-lhes
o sentido através de Sexismo.
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Sexismo, que era machista, era um dos
primeiros filhos da Casa de Fachada,
materialista, cruel em que até mesmo contra a
liberdade de expressão e criatividade fecundas
mudaram o uso natural das palavras
novamente.
V – O Livro das Palavras Perdidas
E atacaram eles a Conhecimento e o livro das
Palavras Perdidas, e procuraram eles dominar
a Ponte dos Versos para que nenhuma mais
palavra deles surgisse e colocaram como
guardião bloqueadora da Ponte, Censura.
Censura, era assassina e estava matando
dezenas na Cidade das Palavras e teve um filho
chamado Analfabetismo que buscava se
infiltrar entre eles e Ignorância viu que era bom
pra ela.
Mas deixando de ser alguns nativos
analfabetos, tornou-se algo pior ao continuar
dando outros significados a vida das palavras,
um errava sem ter Conhecimento, pela
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Ignorância, ou outro tendo a Ignorância como
Conhecimento.
Pois algumas palavras sendo irreconciliáveis
apenas Hipocrisia ousava passar-se por elas, as
usando, e sendo ditas mas negando sua
essência, mas roubando suas prerrogativas.
Por Sorte, porém, num insight a favor de
Conhecimento e Sabedoria conseguiram antes
protegerem a casa de Sincero, Puro, Justo, de
Maldade filha da Discriminação com o
Discernimento, filho da Diferença. E naquele
tempo surgiram os primeiros Palavrões,
gigantes entre o povo da Cidade das Palavras.
Agora, um dos filhos de Maldade, juntou-se
filha de Ignorância, Inaptidão e pariram muitos
filhos cruéis, Vilania, Ganância, Cobiça, Inveja
e eles se inseriam entre os demais a fim de
apresentar-lhes toda a sua genealogia contra
Dom, Vocação e Talento que aos poucos se
tornava mais fracos na cidade.
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Assim disse Dom: Sendo necessário Sorte, há
Dúvida e Vocação não é o bastante.
Os talentosos, seguidores de Talento e amantes
de Vocação resistiram, porém, a trinca
Ganância, Cobiça e Inveja que eram muito
poderosos pois estava relacionado a parte
negativa do mundo primordial das Ideias de
Sentimentos. E onde o ouro fala, as palavras
calam, ainda que o corpo do Conhecimento
tinha sua linguagem própria.
E o Caos debochava deles pois dizia que
Destino estava morto e Agora falava que eles
iriam igualmente morrer!
De certo, estes foram à Sorte ter com ela e
perguntaram se poderia proteger-lhes pois
Talento, Dom e Vocação como aptos não eram
mais o bastante para sobreviver e terem algo na
Cidade das Palavras pois até mesmo a sombra
de Censura pairava.
Ora, disse Sorte como promiscua que era,
Reconhecimento faleceu semana passada e seu
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corpo mal fora reconhecido, assim não espere
por Pagamento Justo, pois Justo fugiu da
cidade junto com Puro e Sincero, habitam
noutro lugar.
Assim Vocação, Talento e Dom partiram
fugidos da Cidade das Palavras pois ainda que
Maldade não fosse dita com frequência, ela era
uma ditadora silenciosa através de Censura,
Hipocrisia e Ignorância. Censura e Silêncio
não eram confiáveis pois não tinham palavra.
E assim mesmo Humor faleceu de Infarto ante
Depressão, e se antes Escárnio não tinha
sentido, fora a única que restou dessa linha.
Assim uma série de cidadãos como Amor,
Paixão, Respeito, Carinho, Afeição afastaram-
se enquanto Hipocrisia e Falsidade através de
Engano passava-se por eles a fim de convence-
los de que Crendice era o certo.
De modo que Hipocrisia era um Oraculo de
Mentira e construiu uma enorme fachada a seu
redor. Como Cruel, Hipocrisia passava-se por
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todas palavras boas e dissimulava ter Dom,
mas apenas roubando palavras por ela não dita.
Então Amor faleceu do coração igualmente
através de Infarto pois Amargura e Depressão
lhe perseguiram por demais e ela viu a feiura
de Iniquidade, mesmo Ódio a atacou através de
Raiva, pois havia surgido outro filho potente de
Maldade pelo Desiquilíbrio, Doença, irmã de
Peste, Praga, prima ideológica de Maldição.
Quando então Conhecimento viu que a Cidade
das Palavras estava infestada pelo Ódio,
Doença, Raiva, Amargura, Depressão que
através de Hipocrisia dissimulava a Maldade e
toda sua família, procurou Alegria em vão pois
havia sido raptada por um casal de
homossexuais do seio Felicidade.
E Riso se obscureceu ante Deboche e Escárnio
pois não havia mais Humor legítimo porque
Inteligência, mãe de Conhecimento havia sido
morta por Ignorância.
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Amor, sobretudo, faleceu de tanto ver
Iniquidade, Violência e Impunidade fazer tudo
que aprovem, na cidade das Palavras, e Ódio
juntou-se a Deboche para disso caçoar e
naquele tempo ficou livre Maldição que através
de Ganância e tantos mais perpetuava-se na
Cidade das Palavras de modo nada Justo.
Conhecimento, porém, teve verbas suficientes
para conseguir concluir ‘O Livro das Palavras
Perdidas’ mas Arrogância debochou deles e
disse que era maior e poderia pisar-lhes
fazendo o que quiser através de Impunidade.
Isso porque ainda faltava A Palavra-chave que
perdida da Cidade das Palavras daria todo
significado aos verbos bons ao contrário deles
que dominavam pela Dúvida violenta e
Crendice.
Acontece que ele ditava através de ordens e por
Censura pois não era capaz de pedir, porque
conhecia apenas como poder Mandar pelo
mensageiro Medo mantendo o Livre-arbítrio
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
35
como refém ainda que Hipocrisia dissesse o
contrário.
E ao tirar o significado da vida deles os
tratavam como coisas, pois de fato, não era
capaz de dar sentido a vida deles por
Incompetência que surgiu após castrar
Competência que sendo apto como Habilidade
não poderia mais se reproduzir na Cidade das
Sombras. E assim Significado estava foragida,
tratada como bandido.
Porém, Ganância, inapta como era, continuava
com sua Cobiça sobre Conhecimento da
Verdade afim de roubar-lhe tudo que criou e
produziu, pois agora Habilidade estava sitiada.
Hipocrisia era a porta voz oficial de Maldade e
todas aliadas malignas, de modo que como
dito, ainda que não fossem palavras
mencionadas elas estavam presentes no dia-a-
dia da cidade das Palavras através de Censura
que estava tendo um caso com Hipocrisia.
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
36
VI - Dragões da Ignorância e as Palavras do
Tempo
Como pode ter As Palavras positivas com as
negativas? Indagava-se Conhecimento da
Verdade, pois muitas anulavam-se e por isso a
Cidade das Palavras estava sendo abandonada,
porque Ignorância libertara seus dragões.
E seus dragões ignorantes eram oito, Horror,
Imoralidade, Selvageria, Feiura, Crueldade,
Aberração, Distorção e Engano e esse
arcabouço eram impunes pois tinham o apoio
de Impunidade para seus feitos.
Horror, fazia com que as palavras boas
sumissem dos lábios do mais intrépido
discurso;
Imoralidade, tirava o Significado das palavras,
pois não mais havia ‘Porque’, e agia ao lado de
Feiura;
Selvageria, reduzia a cidade das palavras a
gritos e ruídos nefastos por Ódio;
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
37
Feiura, era a estética do inferno. Pois a estética
do inferno sempre será a feiura;
Crueldade, o quinto dragão, arrastava consigo
o poder de inúmeras palavras negativas como
verbos de prática nefasta de modo que e calava
as palavras boas;
Aberração, tinha a força não somente de tirar o
significado das palavras, mas torna-las
amargas;
Distorção, o sétimo dragão, desfigurava por
completo as palavras atingindo a alma delas, as
ideias;
E por fim o oitavo dragão, o qual vinha
normalmente depois de Distorção, que visava
trazer a existência a Mentira tida por eles
essencial;
Vendo isto, e que estes somente não matavam
as palavras pela sua alma imortal das ideias que
transmitiam, resolveu criar naqueles tempos
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
38
Resplandecer e Misericórdia para que aquelas
palavras fossem falsas de tal Aberração.
Fora por Conhecimento da verdade que
solicitou três palavras transcendentais do
mundo essencial das ideias, Passado, Presente
e Futuro para que julgassem os verbos
provenientes das palavras cada qual em seu
tempo.
Agora, vendo isto, desejou o Presente e passou
a temer ao Futuro pois garantia-se no
Esquecimento para apagar o Passado das
palavras em seus versos assim como suas
origens.
Vendo isto, Conhecimento da Verdade, notou
que eles eram palavras ao vento e voltavam
vazias, ao contrário das Palavras repletas de
Ideias e Significados de modo que igualmente
não tinham Futuro.
Assim, Conhecimento exaltou a Fé, pois ela
tinha vinculo esperançoso com o Futuro como
desejo de algo melhor.
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
39
Assim Conhecimento da Verdade, reuniu
palavras ante a batalha eminente e escreveu o
seguinte discurso:
O que farão estes sem Vocação e Habilidade,
pois sem Fé não há Esperança que nada mais é
que o aguardo do Futuro onde há Memória da
Paz com Intrepidez e Bravura sobre toda
Maldade e seus atos, pois com Coragem somos
melhores!
Conhecimento da Verdade disse mais então:
Agora é um cão, mesmo que sempre passando
ele não para de me seguir. Venha Hipocrisia a
proclamar suas palavras da Mentira travestidas
de nossos melhores, pois estamos fartos de
Censura.
VII – O Oitavo Dragão
Todavia o Oitavo Dragão, espreitava ante um
mórbido silêncio. Ele tem a habilidade de criar
fantasmas das palavras e deu a este o nome de
Eco.
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
40
Assim ante o abismo foi prospero, pois no
vazio se perpetuava, por quanto Conhecimento
da Verdade procurava a pergunta jamais feita,
mas quando se indagava o ‘por que’ ouvia
apenas ‘porque’ de volta.
Censura viu nisso proveito, pois vendo que o
eco era o espelho das palavras, umas ficaram
vaidosas ante o abismo e outros pelo próprio
Eco fora atacada.
Assim surgiram as copias e símiles de
Conhecimento da Verdade que, porém, se
perverteram. E viu Censura, no Eco, uma
oportunidade de calar as palavras.
Porém, disse, Conhecimento da Verdade: O
que considerar-se-á incriticável certamente não
é prestável.
Censura ao ouvir aquilo, notou que a frase de
Conhecimento perpetuou-se por longos
minutos como uma tortura, e Conhecimento
viu que era bom, por quanto Eco era apenas
espelho das palavras.
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
41
- Por quê? Pergunto eu – disse Conhecimento
ao eco notando que as suas vibrações
incomodaram Censura.
Duma só voz fez-se um exercito de palavras e
assim Conhecimento conclamou suas aliadas.
- Vocação e Habilidade, digo eu, Fé e
Esperança ressoe sua perpetualidade pois onde
há Memória da Paz com Intrepidez e Bravura
com Coragem somos melhores! – ressoou
Conhecimento ante o Eco.
Porém, o Oitavo Dragão vendo que se
aproveitava de sua criação se enfureceu, pois
Conhecimento viu naquilo oportunidade de
perpetuar suas palavras.
Assim Vocação, Habilidade, Fé, Esperança,
Memória, Paz, Intrepidez, Bravura e Coragem
surgiram como evocadas em seu melhor, e
enfrentaram o Oitavo Dragão através de seu
próprio Eco.
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
42
VIII - A Alquimia das Ideias
A Sociedade das palavras é a comunicação, o
poder simbiótico dos versos num eterno
filoversismo.
Vendo isto, as palavras positivas formaram
sociedade, sociedade presidida pela Verdade.
Mil palavras se reuniram e juntas formaram um
mapa da cidade das palavras que mudava de
acordo com a perspectiva de suas combinações
pois cada qual palavra ecoava se interagindo
mutuamente.
Enquanto palavras mentirosas apenas vagam
rumo ao Engano, ecoavam no oco, mas com
Verdade as Palavras encontravam a eternidade.
Assim formou-se o sistema de informação,
comunicação. O sistema de informação ao
contrário do energético dual e por vezes
anulativo é simbiótico em seu equilíbrio pois
baseia-se na troca, equivalência.
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
43
Assim da sociedade das palavras passou se
medir o diâmetro e comprimento do
conhecimento, por quantas palavras eram ditas
num dia, e quantas palavras verdadeiras saiam
dos lábios de um homem por vida.
Assim estipulou-se que as palavras formavam
seus padrões se aglutinando em grupos o qual
as palavras mais ditas num dia, era o dobro da
segunda palavra mais dita no dia.
E deles vibravam pois partilhavam dos ecos
eternos pelo universo das palavras.
De modo que da alquimia de tais palavras
muitas outras se formaram pela Verdade que
buscava a essência primordial das palavras, a
palavra perdida.
IX – A Palavra Perdida
Na verdade, na Verdade, vendo que as palavras
que lhe representaram eram boas, viu-se
sabedoria, porém, seguindo sua genealogia não
compreendia a origem primeira.
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
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Pois do primaverso veio o universo que como
verbo se perpetuou, o primeiro verso ‘faça-se
luz’ e assim a tudo formou.
Mas na Verdade não compreendia o antes do
antes nem o depois do depois, pois a
eternidade, na realidade, fechava-se sobre si
mesma. A primeira palavra veio da última e a
última veio da primeira.
Pois quem deu o primeiro sopro é quem dá a
última palavra.
Assim como pontes e abismos são opostos,
assim a palavra perdida era chave caída no
abismo, que desejavam roubar.
- Procuremos o Elo entre as palavras, pois
como a Lógica e a Lei são inerentes próprias. –
sugeriu Verdade.
Lógica e Lei são irmãos gêmeos pois a Lei
tinha Lógica, e a Lógica era constante e
imparcial como uma Lei.
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
45
Porém haviam palavras casadas que se
separaram, Dúvida e Certeza pois nunca
chegaram a um consenso.
E assim Dúvida que habitava entre as Palavras
fora consultada, mas ela não pode dar resposta
com Certeza.
- Quais são as palavras mágicas que do ócio
abre a ação? – indagou Verdade confusa.
- Compreensível porque os que não respondem
quaisquer perguntas essenciais não tem
responsabilidade, pois resposta e
responsabilidade derivam-se do mesmo
radical. Ainda que diferentes. – disse Dúvida
sugerindo um porquê.
- Vocês Nunca encontrarão – disse Engano
adentrando o lugar como mensageira de seus
Arquinimigos.
- Ora, então conclamemos Nunca para que a
busque! – disse Dúvida lembram-se de
Certeza.
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
46
Nunca fora consultada e de fato ela tinha
habilidades da impossibilidade, era irmão de
Sempre, irmãos distantes um pela possibilidade
e outro pela impossibilidade.
Pergunta é interesse, é a Dúvida clamando pela
Certeza.
Naquele momento então adentrou parando ao
lado de Nunca, uma estranha não lembrada por
eles Consciência.
- Eis a palavra perdida, Consciência! –
conclamou Nunca ante a dúvida.
Ao observarem que de fato era a palavra a
muito nunca dita, todos se alegraram em
Consciência e a clamaram num coral. Pois eles
agora tinham Consciência de seus atos.
X - Cidade do Léxico
Vendo que as Palavras se reuniam à Cidade das
Palavras, Maldade e os seus se iraram. Se quer
honravam seus pais Covardia e Medo, mas
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
47
antes conclamavam outras palavras falsas para
transmitir seus atributos.
Assim vendo que a capital das palavras era a
Cidade do Léxico, Maldade levantou um
exército para ataca-la pois queria que a
Ignorância reinasse apagando origens.
Mas o Destino não estava escrito pelas palavras
da cidade do Léxico. Mas com Consciência que
então organizou as palavras em seus reais
significados.
Então proclamou com a intensidade de um
brado as palavras da sociedade, as amigas de
toda Eternidade e Verdade.
Pois uma palavra estava sempre a levar a
demais palavras pois o significado as inquiria e
lhes rodeavam indagando e sendo indagado.
- Com Fé temos que proclamar não só o
Conhecimento da Verdade, mas Bondade com
justa Equidade ainda que o Heroísmo, Honra,
Bravura e Coragem pareçam perdidas entre
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
48
nós, mas temos Ética e Amor para conhecer o
Valor do que realmente o tem – disseram com
Consciência.
Consciência não permitiria que as Más
Palavras penetrassem a Cidade do Léxico e
fossem proclamadas ainda que Censura
igualmente disso se aproveitasse.
Mas assim surgiu Destruição. Destruição tinha
o apelido Acabar. E assim queriam acabar com
a Fé assim como a Esperança sitiando a Cidade
do Léxico.
Mas as lembranças de Heroísmo foram
conclamados sobre as de Covardia, e Coragem
sobre Medo, de modo que A Vilania se viu
desafiada em toda sua Violência conclamada.
XI – A Batalha das Palavras
Assim começou a Batalha final das Palavras. E
uma vez vendo que Medo não tinha poder
sobre a bondade, perpetuou-se sobre Covardia
que fugiu.
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
49
E a Maldade voltou-se sobre nós quando
Dúvida murmurou que poderiam perder e
Engano se desvaineceu.
Violência, recuou pois Heroísmo a encurralou,
de modo que Ódio, na ausência de Medo,
tentou ordenar Destruição para acabar, mas
Angústia veio sobre eles próprios.
- Porque não atacas Bondade e os seus? –
indagou Maldade.
- Derrubaram Censura e todo Conhecimento da
Verdade é dito, e suas palavras boas se
perpetuam. – respondeu Destruição.
- Maldição. – disse Maldade – Acabar, acabar,
quero ver a Mazela triunfar!
Porém, aqueles esqueceram-se que as mesmas
palavras que desejavam a Cidade do Léxico
estavam entre eles e sobre eles vieram Doença,
Angústia, Aflição, Vilania e numa grande
confusão se digladiaram derrotando-se a si
próprias.
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
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Bondade assistia com Consciência seu nobre
exercito da Verdade vencer a Batalha de modo
que muitas das palavras pediam por
Misericórdia e Paz. Então disse Conhecimento
da Verdade ao lado de Consciência.
- Vocês que proclamaram Mentira e Miséria,
agora não querem viver de suas próprias
palavras? Não possuem Consciência, mas
digo-lhes conhecendo seu Engano que Palavras
tens de que não nos atacará?
- Censura sobre a Maldade – disse Molestia
tendo as demais concordando, mas Maldade
fugiu com Covardia.
- Medo sobre Violência, pois assim Violência
não atacará! – sugeriu Angústia.
- Basta! – disse Consciência – Uma vez se
rendendo digo-lhes que aceito a rendição, e que
as más palavras sirvam apenas para
testemunhar as más ações.
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
51
Todas a palavras más assim aceitaram, pois
com Consciência sentiram então haver o
Sentido Perdido, a Consciência conhecia a
Maldade assim como as palavras más, mas
tinha Responsabilidade e Reconhecimento de
suas ações.
Assim aquelas palavras foram recebidas e
nunca mais se impuseram como signo de ações
e Maldade fugiu para o Vale dos Verbos onde
permaneceu apenas como memória na Cidade
do Léxico.
Assim Conhecimento da Verdade, naquela
noite da vitória do triunfo discursou.
De todas as ideias que transitavam pela
diferente disposição da reunião das Palavras,
surgiu uma adotada, Diversidade, o qual os
pais Variedade e Gênero foram mortas por
Preconceito e Discriminação.
E mil palavras em suas inúmeras composições
formavam versos no livro de possibilidades
desse universo e outros...
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
52
Appendix
"As Palavras podem criar mundos imaginários
para além do aqui e agora."
Contextos da Alfabetização inicial - Ana
Teberosky
A fronteira da comunicação são as línguas
onde as palavras ganham outra forma. As
palavras em sua origem etimológicas são
filosofia contemplativas ao entendimento e
comunicação. Mas quantas palavras um
homem diz em vida? É precisamente um
enigma, mas certamente é um mundo habitado
por inúmeras palavras.
A origem das palavras em sua etimologia
carregam a pureza original da filosofia e ideias
que traduzem seus atos, quando não alinhadas
à verdade dos verbos e da prática, se distorce.
Surgiram, em maioria, dos gregos onde
palavras se juntaram, mesclando-se
similarmente a proposta desse livro, para dar a
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
53
ideia de teorias, ideias e propostas discutidas a
maioria das vezes pelos pensadores da
antiguidade. Certamente os filósofos
habitavam a cidade das palavras e eram deuses
de sua criação.
"As Palavras, como os seres vivos, nascem de
vocábulos anteriores, desenvolvem-se e
fatalmente morrem."
Abertura de Milagrário Pessoal - José Eduardo
Agualusa
São aproximadamente 146 personagens-
palavras descritos no livro, a origem de alguns
de seus termos são:
- Paz vem do latim pax que no dicionário
designa um estado de ausência de adversidades
e inimigos.
- Ócio vem do grego otium em oposição a nec-
otium (negócio) destinado a atender as
necessidades de coexistência da sociedade.
- Harmonia vem do grego de mesmo nome que
significa "meios de encaixar, combinar" por
isso muito utilizado na música.
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
54
- Caos vem do grego khaos que significa
"abismo, vazio, vasto, o que se abre
largamente."
- Medo vem do latim metus a mesma raiz de
meticuloso por carregar a conotação de medo
de errar.
- Guerra vem do germânico werra, a mesma
palavra que deu origem ao inglês war para
designar uma discordância, não
necessariamente conflito sangrento.
- Nostalgia vem da junção das palavras do
grego nostos (regresso) e algos (doloroso) para
designar memórias.
- Doença vem do latim dolentia que significa
padecimento, pois a doença faz padecer.
- Violência vem latim violentia que significa
impetuosidade, termo derivado de violentus,
"que age pela força" e violare "ratar com
brutalidade, desonrar, ultrajar”, não por menos
a mesma raiz de violar.
- Moléstia vem do latim molestia, mesmo
radical de molestar.
- Paranoia vem da junção das palavras gregas
para (lado, contra) e nous (mente).
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
55
- Consciência vem do latim conscientia que
reúne "com" (junto, com) Scire (conhecer),
significando literalmente "conhecimento
próprio, senso moral, noção do que é direito".
- Paixão vem do grego Passion que significa
"sofrimento, suportar" mesmo radical de Pati
do grego Pathe para designar doenças (vide
patologia).
- Debochar vem do francês ébaucher que
significa “desbastar troncos para fazer vigas”,
em sua conotação aos homens “afastar alguém
do seu dever”.
- Memória vem do latim memoria, de memor
que significa "aquele que lembra de uma raiz
indo-europeia men (o mesmo de "pensar" e
"mente").
- Ignorância surge da junção das palavras do
latim in que significa "não" e gnoscere que
significa "conhecer, saber" originando
ignorare.
- Escárnio vem do germânico skirnjan que
significa "zombaria, desprezo".
- Fraude vem do latim fraudulentus que
significa "mentira, engano, delito".
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
56
- Talento vem do latim talentum que significa
“inclinação, desejo de fazer, de realizar”
ganhando a conotação de “aptidão, dom
especial” com a parábola do talento em Mateus
pois originalmente designava “pesagem, soma,
quantia de dinheiro”.
- Esperança vem do latim spes que significa
"confiança em algo positivo".
- Eco vem do grego Ekhó, um personagem da
mitologia que era uma ninfa que ao se
apaixonar repetia o final das palavras.
- Passado vem do Latim passare, “passar”, de
passus, “passo”. É uma analogia que se fez
entre o tempo e uma caminhada.
- Futuro vem de futurus, “o que vai ser, o que
ainda não foi”, do verbo esse.
- Presente Latim praesentia, de preesse, “estar
à frente, estar ao alcance”, formada por prae-,
“à frente”, mais esse, “ser, estar”.
- Agora vem de hac hora, “nesta hora”.
- Equidade vem do latim aequitas que significa
"igualdade".
- Acabar vem do latim caput que significa
"cabeça, extremidade" pela conotação de
“terminar, levar a termo uma tarefa”.
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
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- Destruir vem stru (de estrutura,
empilhamento) com "des" opor-se, ou seja,
literalmente acabar com uma estrutura.
- Discriminação tem sua origem no latim
discriminatio que quer dizer separação ou
distinção que aplicado na sociedade excluí um
individuo do mesmo.
- Respeito vem Latim respectus, particípio
passado de respicere, “olhar outra vez”, de re-,
“de novo”, mais specere, “olhar”
- covarde vem do Latim coda, “cauda”. No
Francês havia a palavra couard, “de cauda
abaixada”. A imagem é muito clara: o animal
(ou, metaforicamente, a pessoa) que tem o rabo
entre as pernas sinaliza que está desistindo da
luta.
- Coragem Latim coraticum, derivado de cor,
“coração”, pela noção corrente em tempos
clássicos de que este órgão era a sede desta
qualidade.
- Fanatismo veio do Latim fanaticus, “louco,
entusiasta, inspirado por algum deus”,
originalmente “relativo a um templo”, fanun.
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
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- Imparcialidade vem Latim partialis,
“divisível, pedaço de”, de pars, “parte”, com o
prefixo in-, negativo.
- Vilania vem do latim villanus
- Alienação vem do latim alienus significando
"o que pertence a um outro".
- Vocação vem do latim vocare que significa
"chamar".
- corrupção deriva-se do latim corruptĭo que
significa deterioração.
- Conhecimento vem da junção do latim
cognore (aprender, conhecer) como mento do
latim atum, ou ato, significando ato de
aprender ou conhecer.
- Fraude vem do latim fraus que significa
engano.
- Arrogância do Latim arrogare, de ad-, “para”
e rogare, aqui com o sentido de “exigir” o qual
a conotação refere-se ilegitimidade.
- Falsidade vem do latim falsitas algo contrário
a verdade ou a realidade.
- Angústia vem do latim angustia que significa
"aperto, sufocação, estritamento".
- Desolação vem do latim desolatus
“abandonado, deixado”.
A Batalha das Palavras – Gerson Avillez
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- Ética deriva-se ethiké (epistéme), “a ciência
relativa aos costumes”, pelo latim ethica-, de
igual significado.