A América Que Amamos
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A América que amamos
Affonso Romano de Santana
Não à América de Bush, Rumsfeld, Condolessa, Colin Power e Cheney. Sim à América de Louis Armstrong e sua voz com berrugas, que alisa e acaricia nossas almas.
Não à América dos mísseis cruzando oceanos e explodindo casas e corpos de desprotegidos civis.
Sim à América de Walt Whitman, peito amplo, voz fraterna, poesia imensa, querendo amar o mundo inteiro nos seus versos.
Não à América dos torturadores hoje no Iraque e ontem dando cursos de tortura para militares latino-americanos no Panamá.
Sim à América de Marilyn, Elvis e James Dean despassarados corpos e desejos imolados no brilho veloz dos refletores.
Não à América que sai em cruzada medieval ao Oriente Médio para matar os sarracenos e preservar com bombas eletronicamente conduzidas o santo sepulcro da hipocrisia.
Sim à América de Truman Capote, Saul Bellow, Philip Roth, Ray Bradbury, Normam Mailer, Allan Ginsburg ou de Gore Vidal denunciando nos ensaios e romances o pântano moral da Casa Branca.
Não à América que a cada geração abre vastos cemitérios para seus jovens, com o pretexto de "freedom" e "democracy", quando são interesses econômicos e políticos que encomendam as mortes.
Sim à América de Herman Melville e seu fabuloso "Moby Dick" - a inapreensível baleia branca, dramatizando a luta e a conquista do impossível.
Não à América que vai caçar armas de destruição em massa no quintal vizinho, quando sua casa está entulhada até o teto de armas capazes de dizimar vários planetas.
Sim à América de Hemingway em "O velho e o mar", de novo ensinando que na vitória está o fracasso e no fracasso a vitória
Não à América da Ku Klux Khan que tirou o capuz da cabeça e o botou na cabeça dos prisioneiros iraquianos e em Guantanamo revelando a dupla face do monstro americano.
Sim à América de William Faulkner que ao receber o Prêmio Nobel em 1950 já dizia que a tragédia de nosso tempo é viver numa atmosfera de medo, tão pesada que não podemos mais suportar.
Não à América de Bush que mente deslavadamente com o alucinado olhar de um tresloucado messias.
Sim à América de Nathaniel Hawthorne em "A letra escarlate" e Arthur Miller em "As feiticeiras de Salem" mostrando como uma comunidade imbuída de sentimentos salvacionistas pode levar sofrimento e morte aos demais.
Não à América de Bush arrancando gritos e lamentos dos nove mil presos que mantém pelo mundo afora tratando-os arrogantemente como ratos.
Sim à América de Ray Charles, Nat King Cole, Ella Fitzgerald, Chat Baker e todos os gênios do jazz americano improvisando sons novos e suavizando nossas almas com seus blues.
Não à América de Bush que reativou a velha fábula do lobo e do cordeiro e segue sujando de sangue as águas da nossa história.
Sim à América de Joan Baez e Bob Dylan que nos anos 60 saía às ruas e afrontava a estupidez das guerras e o tentacular poder de Washington.
Não à América que fez de cada americano um refém dentro de sua própria casa e fez do mundo inteiro refém do medo, por achar que a força resolve tudo.
Sim à América da imponderável Emily Dickinson, dos jogos verbais de Cummings ou da poderosa voz de Carl Sandburg falando da perplexidade do povo diante da História e num poema lembrou que houve um tempo em que o Czar tinha oito milhões de homens com fuzis e baionetas, que achava que nada poderia lhe acontecer e, no entanto, em 1914 e em 1917?
Não à América que transformou a morte alheia num jogo eletrônico e acha que pode invadir qualquer país quando bem lhe apetece e, de quebra, joga a ONU no lixo.
Sim, à América daquelas atrizes que nos faziam adolescentemente sonhar com suas pernas e bocas, de Cid Charisse à Rita Hayworth, de
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Dorothy Lamour a Ingrid Bergman.
Não à América de Bush.Sim à América que bailava com Gene Kelly, Fred Astaire e Ginger Rogers, que mergulhava em piscinas kitsches e encantadas com Esther Williams.
Não à América que expulsou Chaplin, que desempregou artistas e jornalistas no período maccarthista, que voltou aos tempos da censura e autocensura.
Sim à América de Luther King e de todos os mártires do racismo, antes e depois de Langston Hughes, antes e depois de Paul Robson, antes e depois de Billie Holiday.
Não à América de Bush, esse cuja família manteve negócios misteriosos com a família Bin Laden, o que mostra que estamos lidando com uma serpente de duas cabeças.
Sim, à América de Eugene 0'Neill, quase tão alucinado quanto Nelson Rodrigues mostrando as vísceras de nossa alma e a América de Steinbeck mostrando as vísceras do país.
Não à América de Bush que troca a poluição do ambiente universal pelo enriquecimento de seus amigos texanos.
Sim à América de Henry Thoureau que estimulou a desobediência civil, que sonhou com um mundo em que a natureza fosse respeitada pelo homem.
Não à asfixiante América de Bush.
Sim à América do Grand Canyon, de Yosemith, daqueles cenários imensos dos filmes de caubói, pradarias, montanhas que enchiam os olhos de nossas adolescência
Não à América com discurso duplo e ambíguo falando de política liberal e praticando o protecionismo.
Sim ao chefe Touro Sentado que derrotou o general Custer em Rosebud e Little Big Horn e saiu pelo mundo em espetáculo itinerante com Buffalo Bill.
Não à América tenebrosa de Bush.
Sim à América de Edgar Allan Poe, tresloucado poeta, narrador assombroso, vasculhando os desvãos da perversidade humana.
Não à América dessas militares torturadoras que riem nas fotos gozando sadomasoquisticamente o que deveriam gozar de outro modo
Sim à América de Betty Friedman, Elaine Showalter e Germaine Green, feministas, com o dedo no gatilho, enfrentando os caubóis machistas na praça da aldeia.
Sim, à América de Orson Welles denunciando o poder, a intimidação da imprensa e dizendo sobre as mentiras oficiais: "It's all true".
Sim à América das fabulosas bibliotecas. Sim à América das revolucionárias pesquisas que melhoram a vida humana.Sim, à América de Gershwin e Cole Porter.
Sim, à América de Edward Hopper.Sim à América de Chomsky e Ralph Nader.
Não à América medrosa e embriagada de messianismo texano de Bush.
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