A América do Sul em 2022
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A América do Sul em 2022
Diagnóstico:
- América do Sul é um arquipélago de
sociedades subdesenvolvidas, de elevada concentração de
renda, com índices sociais deploráveis de países primário-
exportadores, tecnologicamente dependentes e militarmente
fracos.
- Herança de políticas coloniais
isolaram os países da região entre si.
- Dificuldade de contato da era
colonial permanece até hoje e isso é notado pela falta de
sistemas de transporte, energia e comunicações pouco
integrados.
- Essa dificuldade torna baixo o fluxo
de comércio, investimentos, pessoas e cultura entre os
países da região.
- A América do Sul é rica em recursos
naturais, porém, tais recursos são distribuídos
desigualmente entre os países. As reservas de minérios, as
fontes de energia, as terras aráveis e a biodiversidade são
uma enorme riqueza aproveitada de forma incompleta e
predatória.
- As estruturas produtivas sempre foram
pensadas para suprir as demandas de mercados tradicionais,
desde os tempos coloniais e não para a criação de grandes
mercados internos.
Cultura
- 400 milhões de pessoas, mestiças de
origens africanas, indígenas, europeias e asiáticas. Soma
de culturas diferentes, mas com unidade linguística.
- Miscigenação entre diversas culturas
(indígenas, afro-descendentes, euro-descendentes, árabes,
judeus e asiáticos) torna difícil manifestações agressivas
de racismo e discriminação e conflitos religiosos mais
agudos.
Religião
- Catolicismo é predominante, embora as
religiões evangélicas neopentecostais avancem nas camadas
mais pobres da população e na classe média brasileira.
Economia
- Elevado grau de concentração de renda
e riqueza. Número de habitantes abaixo da linha da pobreza
se encontra entre 20 e 60% da população (com exceção de
Chile e Uruguai).
- Agricultura tem quatro grandes
setores: a agricultura familiar (baixa produtividade),
agricultura comercial de grande escala (mercado
internacional), pecuária bovina extensiva e avicultura
moderna.
- Indústria desigualmente distribuída.
Em parte por causa dos mercados internos e em parte por
conta da adoção de políticas neoliberais que dificultaram a
emergência e a sustentabilidade de processos nacionais de
políticas comerciais.
- Pequena densidade e ineficiência
logística e energética dos sistemas de transporte, que
tornam pouco integradas as economias de cada país e que
encarecem a produção e circulação de bens. Isso aliada à
grande concentração de renda contribuem para fazer pequeno
e pouco dinâmico o mercado interno de cada país e dificulta
a exportação de manufaturados.
Política
- Seis fenômenos políticos que
condicionam a infraestrutura econômica e social: hegemonia
das elites, latentes ressentimentos históricos (entre
países), emergência política de movimentos indígenas,
difusa influência americana (Doutrina Monroe, Plano
Marshall para a AL, ALCA, Áreas de livre comércio
individualmente), novas presenças espanhola e chinesa e as
reiteradas tentativas de integração econômica e de
coordenação política.
A integração econômica e a coordenação
política
- Integração comercial, econômica e
política da América do Sul e da América Latina tem sido
objetivo estratégico sempre contraposto pelo pan-
americanismo e a integração continental.
- Várias foram as tentativas: 1960
(ALALC), 1980 (ALADI), 1968 (CAN), 1960 (MCCA), 1991
(Mercosul). Diagnóstico da CEPAL de que as principais
razões para o atraso relativo dos países latino-americanos
com relação aos EUA são a fragmentação dos mercados e a
não-industrialização.
- IIRSA (Iniciativa de Integração
Regional Sulamericana) – grandes eixos de integração da
infraestrutura.
- ALCA (proposta pelos americanos e
derrubada especialmente pela ação de Brasil e Argentina) e
ALBA (Aliança Bolivariana para a América).
Coordenação Política
- Começa com o Pacto do ABC (Barão do
Rio Branco e renovado por Getúlio e Perón) e prejudicado
pelos escassos laços físicos de transporte, falta de
ligações aéreas, comércio reduzido, ressentimentos
históricos.
- UNASUL é a mais recente tentativa de
coordenação política e seu principal objetivo além da
coordenação é a cooperação.
Paradoxo
- Continente rico em recursos minerais,
em energia, em potencial agrícola, biodiversidade com
sociedades de níveis extraordinários de pobreza e exclusão
ao lado de riqueza excessiva e ostentatória.
- O paradoxo se torna um desafio.
Causas: natureza da relação entre as colônias da América do
Sul com as metrópoles europeias.
- Dificuldades em promover o
desenvolvimento econômico: fragilidade institucional e
organizacional dos Estados. Causa: enormes disparidades de
renda e riqueza e concentração de poder. Consequências:
sistema tributário altamente regressivo (impostos indiretos
e aduaneiros).
- Por um lado, Estado com baixa
disponibilidade de recursos. Capital privado desinteressado
por conta da precária infraestrutura física, mercados
reduzidos e instabilidade social.
O Brasil e a América do Sul
- Principal característica geopolítica
da América do Sul: assimetria entre os 12 países.
- O Brasil é o principal exemplo dessa
assimetria, já que possui 50% do território, 50% da
população, 55% do PIB Regional e 50% do seu potencial
hidrelétrico. Por outro lado, 50% dos seus analfabetos e
50% da população abaixo da linha da pobreza.
- Grande Desafio: superação das
assimetrias. Promover o desenvolvimento dos mais atrasados.
- Consequências da Assimetria
Territorial: Brasil tem uma gama maior de recursos no solo
e no subsolo, podendo produzir mais bens minerais e
agrícolas. Por razões de escala, pode produzir os mesmos
bens que os vizinhos, porém, de forma mais competitiva.
- Consequências da Assimetria
Demográfica: Brasil tem mercado interno muito maior do que
os demais países Sul-Americanos. Significa diversificar
estrutura produtiva, atrair mais investimentos estrangeiros
e ser menos vulnerável à flutuações externas.
- Comparativamente, o Brasil alcançou
uma estrutura jurídica, administrativa e tributária que o
permitiu alcançar razoável sucesso na utilização dos
recursos do país, atingindo um dos maiores níveis de
desenvolvimento da Região. Por outro lado é um dos países
da região com maior nível de disparidade social.
- Pelas suas características
territoriais, demográficas e econômicas e pela sua política
externa, o Brasil tem adquirido grande importância no
cenário internacional, sendo constantemente chamado a
participar de forma central em foros de negociação e de
articulação política em comparação com seus vizinhos.
- Desafios da Política Externa: devido
às assimetrias e ressentimentos históricos. Preocupação dos
demais países com eventual hegemonia brasileira ou suspeita
de vocação de imperialismo. Preconceito da sociedade
brasileira com os vizinhos decorrentes de um passado de
isolamento, rivalidade e desconfiança e hoje uma percepção
indevida de superioridade tornam difícil para muitos
brasileiros entender a importância da América do Sul para o
desenvolvimento brasileiro.
- Em 2022 o Brasil se encontrará mais
inserido na América do Sul, tanto política quanto
economicamente.
- Razões econômicas: com a expansão e
interligação da infraestrutura física da região em termos
de transportes, energia e comunicações. Com isso, os fluxos
de comércio, de investimentos e migratórios tenderão a se
ampliar.
- Razões sociais: a dificuldade dos
países da região em encontrar soluções para superar as
disparidades sociais dificultam, também, a criação de um
mercado interno comum significativo para aproveitar todo o
seu potencial econômico.
- Razões Políticas: na medida em que os
países tenham dificuldade em acabar com as situações de
opressão e de discriminação em relação a amplos setores de
suas populações a instabilidade social levará à
instabilidade política, com maior ou menos grau de
violência, o que terá reflexos no Brasil.
Perspectivas
- Características da América do Sul:
grande riqueza mineral e energética, grandes extensões de
terras aráveis, população cada vez mais urbana e em
processo de estabilização demográfica, regimes políticos
democráticos e estáveis, inexistência e distância
geográfica de áreas de conflitos intensos.
- Essas características condicionarão o
papel da América do Sul no cenário político mundial em que
haverá disputa pelos recursos naturais e alimentos. A
América do Sul é vista como uma fonte importante desses
recursos.
- Para um grande número dos países,
porém, a concorrência chinesa e a dificuldade de promover
políticas de industrialização, será difícil agregar maior
valor à produção e às exportações e diversifica-las para
reduzir a vulnerabilidade externa.
- Até 2022 essas tendências se
agravarão, tendo em vista o tipo de inserção da região na
economia global, à resistência das elites em implantar
políticas econômicas e sociais capazes de ampliar com vigor
a produção e ao mesmo tempo redistribuir riqueza e renda, à
escassez de capital doméstico e à dificuldade de acesso ao
mercado mundial para financiar a infraestrutura e à
resistência dos grupos privilegiados em cada sociedade à
necessidade de transformação social e de conferir maior
poder político à grande massa da população.
- O Brasil teria, então, especial
responsabilidade em reverter essa situação a fim de que
ocorram as mudanças estruturais necessárias.
Um Plano para a América do Sul
- Compara-se as necessidades da América
do Sul em termos de financiamento de um programa de
construção com a situação da Europa pós Segunda Guerra
Mundial.
- Necessidade de que os países maiores
e mais avançados econômica e industrialmente da América do
Sul articulem programas de desenvolvimento econômico para
estimular e financiar a transformação econômica dos países
menores.
- Necessário, ainda, abrir, sem exigir
reciprocidade seus mercados e financiar a construção da
infraestrutura desses países e sua interligação
continental.
- O desenvolvimento de cada país não
pode ser deixado ao sabor da demanda do mercado
internacional e nem aos humores da estratégia de
investimento das empresas multinacionais, pois as
assimetrias dentro de cada Estado e entre os países se
acentuarão.
A América do Sul e a África Ocidental
- Interesses econômicos e políticos
brasileiros na África Ocidental serão muito mais intensos
em 2022 do que são hoje.
- O Comércio entre o Brasil e a África
tenderá a se expandir e se diversificar devido à
complementariedade comercial.
- O Brasil encontrará nessa expansão
forte competição dos chineses.
- O Brasil apresenta sete vantagens com
relação a europeus e asiáticos no que se refere à África:
i) passado colonial, ii) semelhança de desafios (em saúde,
educação, agricultura, segurança alimentar, periferias
urbanas e florestas tropicais); iii) Brasil é país de
fortes raízes africanas; iv) idioma que nos une aos países
de língua portuguesa na África e a identidade cultural e
étnica com os países africanos da costa Ocidental; v) visão
dos africanos do Brasil – país ainda em desenvolvimento que
vem conseguindo vencer em alguns campos; vi)
compartilhamento do Atlântico Sul sem pretensões de
dominação militar; vii) Brasil não está envolvido na
política africana, estando equidistante em todas as
disputas nacionais.
- Necessário que a política que
respeite a autodeterminação, de não-intervenção e não
ingerência nos processos políticos internos e estimulo para
que os vizinhos sul-americanos se aproximem dos países
africanos e diversifiquem, assim, seus mercados de
exportação e importação.