A Aia, Contos, Eça de Queirós
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“A Aia”, Contos, Eça de Queirós
Plural 9, Raiz editora.Leitura do texto (páginas 34-37)
3. ESTRUTURA /AÇÃO
• Situação inicial:• o primeiro parágrafo, no qual se
apresenta a situação das personagens – ojovem rei ausente na guerra, a rainhasozinha com o filho no berço.
“A Aia”, Contos, Eça de Queirós
• Desenvolvimento: toda a história que sedesenrola a partir do 2º parágrafo, ouseja, desde a notícia da sua morte.
• Desenlace: a situação final quecorresponde ao suicídio da aia.
Sequências que compõem odesenvolvimento• 1ª (parágrafos 2 e 3) – notícia da morte do
rei e desgosto da rainha;• 2ª (parágrafos 4 a 7) – os receios da aia pela
vida do seu príncipe;• 3ª (parágrafo 8) – os preparativos, no
castelo, para enfrentar o bastardo;
• 4ª (parágrafo 9) – para salvar o príncipe, aama troca-o pelo filho;
• 5ª (parágrafo 10) – rapto do príncipe;• 6ª (parágrafos 11 e 12) – a rainha pensa que
o príncipe foi raptado, mas a escravamostra-lho no berço;
• 7ª (parágrafos 13 e 14) – a rainha mostraà sua gente, que pensava que oherdeiro tinha sido morto com obastardo, que, afinal, o príncipe estávivo graças à aia; todos aclamam epedem uma recompensa para aescrava;
• 8º (parágrafos 15 e 16) – a aia é conduzida aotesouro real para escolher uma joia.
Organização das sequências narrativas
• 5. Encadeamento, uma vez que que osacontecimentos são narrados respeitandoa ordem cronológica.
• 6. Delimitação da ação: fechada, poisapresenta um desenlace, uma soluçãofinal que fecha a narrativa.
PERSONAGENS
• 7. A aia é a personagem central, aprotagonista da ação; a rainha, obastardo e as duas crianças sãopersonagens secundárias (as crianças nãotêm ação autónoma, mas pela suaimportância, não são apenas figurantes; ocavaleiro que traz a notícia, os soldadosde um e do outro lado, as gentes darainha são figurantes; poderemos aindareferir o rei como personagem aludida.
PERSONAGENS
• 8. Caracterização direta do rei: “senhor deum reino abundante” (l.1), “era formoso ealegre” (l. 12).
• 9. Caracterização direta do irmão: “Dessesinimigos o mais temeroso”; “irmão bastardo dorei”; “homem depravado e bravio, consumidode cobiças grosseiras…” (ll.16-20, 48-51, 66-68,94).
Caracterização direta do bastardo
• A apresentação do irmão do rei como umhomem cruel, selvagem e movido pelacobiça está totalmente de acordo com osatos de crueldade, selvajaria e usurpaçãoque executava.
10. A aia – 6º parágrafo
• 10.1. Para a aia, o rei era a representaçãoterrena da divindade:
• “O rei seu amo, decerto, já estaria agorareinando num outro reino, para alémdas nuvens, abundante também emsearas e cidades.” (ll 35-37)
Conceitos de vida e de morte da aia
• 10. 2. A aia acreditava que “a vida daTerra se continua no Céu”, ou seja, que avida e a morte estão indissociavelmenteligadas, pois a morte não é o fim da vida,é o seu prolongamento, numa outradimensão, não terrena.
Conceitos de vida e de morte da aia• 10.3. De acordo com a sua conceção de
vida e de morte, a aia seria sempre aescrava do seu príncipe e a mãe do seufilho, vivos ou mortos. Uma vez que paraela a morte era o prolongamento da vida,o facto de o seu filho morrer nãosignificava que nunca mais o visse, poisbastaria também morrer para se lhejuntar. A crença neste princípio é que lhedeu coragem para sacrificar a vida do seufilho.
11. Conceitos de vida e de morte da aia
• Atendendo a tudo o que já foi dito sobreos princípios que regem o conceito devida e de morte da aia, o suicídio éperfeitamente compreensível e lógico,pois é a saída que lhe permite juntar-se aofilho.
12. Conflito de valores
• 12.1. A aia, a rainha e a sua gentedefendem os valores conotados com oBem; o bastardo e a sua horda, o Mal.
• 12.2. Bem: amor, lealdade, coragem,abnegação;
Mal: cobiça, crueldade.
ESPAÇO• 13. A ação desenrola-se no palácio,
havendo referência específica ao espaçoque corresponde às sequências maisimportantes: o quarto das crianças e asala do tesouro.
ESPAÇO
• 14. Descrição da sala do tesouro• No parágrafo 16 está contida a breve
descrição da sala do tesouro, desde “Asespessas portas”, até “no meio dacâmara, envolta na refulgênciapreciosa”. (ll. 132-141)
ESPAÇO• 15. “ a luz da madrugada, já clara e
rósea”; “acendeu um maravilhoso efaiscante incêndio de ouro e pedrarias!”;“por toda a câmara reluziam,cintilavam, refulgiam os escudos deouro, as armas marchetadas, os montõesde diamantes”; “no meio da câmara,envolta na refulgência preciosa”. (ll134-141)
ESPAÇO SOCIAL
• 16. A ação desenrola-se num ambiente dealta nobreza. Naturalmente, a aia e o seufilho pertencem à classe dos servos, dosescravos.
TEMPO• 17. Tempo cronológico: “A Lua cheia que
o vira marchar, levado no seu sonho deconquista e de fama, começava aminguar – quando”; “Ambos tinhamnascido na mesma noite de verão”; umanoite”; “a luz da madrugada já clara erósea”. (ll. 5-6, 24-25, 78, 134)
TEMPO• 18. Tempo histórico – Toda a atmosfera
do conto sugere que a ação do conto sepassa na Idade Média, quando o rei eoutros nobres viviam em castelos, tinhamescravos, pajens e tesouros, e partiampara a guerra de conquista, deixando asmulheres no seu lugar. É um tempo deguerras civis pelo poder, e de grandecrueldade.
NARRADOR• 19. Quanto à presença na narrativa, o
narrador é não participante.
Título• A discussão em torno do título permite
explorar as principais linha de leitura desentido do conto:
• O conflito de natureza política e moralentre duas fações rivais;
• A coragem e abnegação de uma mãe queque põe os interesses do seu reino àfrente de tudo;
• A importância simbólica de uma vida querepresenta a vida e o bem-estar do povo.
Recursos expressivos• 22. Nomes no grau diminutivo: filhinho,
criancinha, escravozinho, principezinho,corpinho.
• 22.1. Todos os diminutivos usados sãoreferentes às duas crianças e, por isso,denotam pequenez, mas também carinho.A sua utilização sublinha a fragilidadedos meninos face à enorme agressividadedo inimigo.
Recursos expressivos
• 23.1. Adjetivos: temeroso, bastardo,depravado, bravio, cruel, (face) escura,(coração) escuro, faminto (do trono).
• 23.2. Comparações: “à maneira de umlobo”, “de face mais escura que a noite ecoração mais escuro que a face”. (ll. 48-49).
Recursos expressivos
• 23.3. Há um nítido contraste entre afragilidade do príncipe e a força bruta dotio. Com algum valor simbólico, verifica-se que há também um contraste entre ocabelo louro (luminoso, claro) da criançae a face escura do bastardo.
Recursos expressivos• 24. Adjetivação dupla: “rei moço e valente”,
“solitária e triste a sua rainha”, “homemdepravado e bravio”, “bela e robusta escrava”.A adjetivação dupla, muito utilizada porEça de Queirós é, nos exemplos,escolhidos, muito expressiva e funcional,na medida em que permite apontar doistraços essenciais em cada uma daspersonagens caracterizadas.
GRAMÁTICA• 1.1. Orações: “A rainha chorou
magnificamente o rei”; Chorou aindadesoladamente o esposo”; “Mas, sobretudo,chora ansiosamente o pai”. (ll 11.13)
Valor dos advérbios
• 1.2. chorou magnificamente comgrandeza e solenidade, como se devechorar um rei; chorou desoladamente,com sofrimento e dor o seu amadomarido; chora ansiosamente o pai do seufilho, com uma ansiedade que resulta dainsegurança relativamente ao futuro dopríncipe.
chorou, chorou, chora
• 1.3. As duas primeiras orações têm overbo pretérito imperfeito do indicativo,pois o choque que a rainha sofreu pelamorte do seu rei e marido aconteceu nopassado. Mas não passou a ansiedade quesente pelo futuro do seu filho, continua achorar e, por isso, o verbo está nopresente do indicativo.
Pontuação (9º parágrafo)
• 2. As reticências traduzem a ansiedade,suspensa nos vultos que vê, e a pressa emtomar uma decisão; o travessão introduza enumeração de tudo o que a aiacompreendeu; o ponto de exclamaçãointensifica a emoção da personagem.
Verbos e advérbios que conferem um ritmorápido à ação• 3. Verbos: atirando, corriam, tombando,
arrebatou, atirou-o, tirando, correu,arrancou, abalou.
• Advérbios: ansiosamente,violentamente, rapidamente,bruscamente, furiosamente.
“ela foi assim conduzida para a câmara dos tesouros”.
• 4. 1. assim – advérbio;• 4.2. Sujeito – ela; predicado – foi assim
conduzida para a câmara dos tesouros;predicativo do sujeito – assim conduzidapara a câmara dos tesouros.
• 4.3. Forma ativa – Conduziram-na assimpara a câmara dos tesouros.
“Um longo «Ah!», lento e maravilhado, passou porsobre a turba…”
• 5.1. Sujeito - Um longo «Ah!», predicado - passoupor sobre a turba.
• 5.2. Modificadores apositivos do nome – longo lentoe maravilhado;Modificadores do verbo – por sobre a turba.
• 6. a), f) 2 - modificador do nome apositivo;b), c), d), e) 1 – modificador do nome restritivo.
Discurso indireto
• 7.1. Agarrara o punhal, e com ele fortementeapertado na mão, apontando para o céu, ondesubiam os primeiros raios de Sol, encarou arainha, a multidão e gritou que tinhasalvado o seu príncipe e naquelemomento ia dar de mamar ao seu filho.
- Salvei o meu príncipe – e agora vou dar demamar ao meu filho!
• 7.2. Nesta situação, o discurso direto émuito mais expressivo, pois reproduz ogrito desesperado mas determinado daaia, dividida entre o amor e a lealdadepara com o seu príncipe e o natural egrande amor maternal pelo seu filho.
FIM