A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise...

50
CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO CAMPUS ENGENHEIRO COELHO CURSO DE TRADUTOR E INTÉRPRETE GABRIELA COLOMBARI DRUN MARTINI A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” ENHEIRO COELHO 2013

Transcript of A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise...

Page 1: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO CAMPUS ENGENHEIRO COELHO

CURSO DE TRADUTOR E INTÉRPRETE

GABRIELA COLOMBARI DRUN MARTINI

A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE”

ENHEIRO COELHO 2013

Page 2: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

GABRIELA COLOMBARI DRUN MARTINI

A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE”

Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Adventista de São Paulo, do curso de Tradutor & Intérprete, sob a orientação da Profa Draa Ana Maria de Moura Schäffer.

ENGENHEIRO COELHO 2013

Page 3: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Adventista de São Paulo, do curso de Tradutor & Intérprete, apresentado e aprovado em 26 de

novembro de 2013

_____________________________________________________

Orientadora: Profa. Draa. Ana Maria de Moura Schäffer

______________________________________________________

Segunda Leitora: Profa.. Ms. Sônia Mastrocolla Gazeta

Page 4: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

AGRADECIMENTOS

• A Deus, pela misericordiosa graça que me tem concedido;

• Ao meu esposo, porque mesmo em meio a tantas incertezas ele sempre

confiou no meu sucesso e sempre me incentivou a não desistir;

• Aos meus pais, por todo o apoio necessário para que eu concluísse esse

projeto;

• À minha orientadora, Professora Ana, por toda a ajuda e paciência no

decorrer desse processo, e pelo exemplo profissional que desejo seguir

demonstrado em todos os momentos.

Page 5: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

RESUMO

Adaptações e traduções podem ser consideradas tipos de reescritura, e ambas são importantíssimas na disseminação de cultura e saber para diferentes gerações de leitores. No entanto, há muita controvérsia sobre como classificar o processo de adaptação. Há quem diga que ela empobrece a obra original, mas há também aqueles que defendem que ela é uma forma de incentivar camadas mais jovens à leitura dos clássicos. Considerando a importância das traduções literárias para o desenvolvimento e estabelecimento das culturas nacionais, a problemática desse trabalho direciona-se ao questionamento sobre a importância das adaptações de obras literárias (AMORIM, 2005), no contexto infanto-juvenil, com o propósito de desmistificar a noção de que as adaptações são textos pobres, quando comparando suas características com as das traduções. Diante disso, o objetivo geral buscou discutir a validade das adaptações para o contexto literário infanto-juvenil, justificando-o com a realidade vivenciada na maioria das escolas; isto é, muitas crianças e jovens não desenvolvem o gosto da leitura, muitas vezes por falta de incentivo, mas também por falta de material interessante, criativo e bem escrito. As adaptações podem suprir essa necessidade, visto que na maioria são adaptações dos clássicos da literatura universal, textos que ultrapassam a barreira do tempo e permanecem obras primas pelo conteúdo, ou pela forma, ou pelo impacto que causa na vida dos leitores. Além disso, buscamos entender melhor esses dois tipos de reescritura (LEFEVERE, 2007), com o objetivo de identificar semelhanças e diferenças, ao fazermos uma comparação entre um capítulo da obra completa “Jane Eyre”, de Charlotte Brontë, e o mesmo da obra adaptada; portanto uma análise intralingual, visto termos trabalhado com as obras em inglês.

Palavras-chave: Adaptação; Tradução; Reescritura; “Jane Eyre”.

Page 6: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

ABSTRACT

Adaptations and translations can be considered types of rewriting and both are very important to culture and knowledge dissemination for different generations of readers. However, there is a lot of controversy on how to classify the adaptation process. Some say that it impoverishes the original work, but there are also those who argue that it is a way to encourage younger people to read classic books. Considering the importance of literary translation to the establishment and development of national cultures, the premise of this work is directed to questions about the importance of adaptations of literary works (Amorim, 2005), in the child and adolescent context, in order to demystify the notion that adaptations are poor texts when comparing the characteristics of adaptations and translations. Thus, the general purpose sought to discuss the validity of adaptations to the child and adolescent literary context, justifying it with the reality experienced in most schools, that is, many children and young people do not develop a taste for reading, often for lack of incentive, but also for lack of interesting, creative and well written material. Adaptations can meet this need, since most are adaptations of the classics of world literature, texts that go beyond the barrier of time and remain masterpieces for their content, or shape, or the impact it causes in the lives of readers. In addition, we seek to better understand these two types of rewriting (Lefevere, 2007), with the aim of identifying similarities and differences by making a comparison between a full chapter of the book "Jane Eyre", by Charlotte Brontë, and the same one of the adapted book; therefore an intralingual analysis, since we have worked with the books in English.

Keywords: Adaptation, Translation, Rewriting, “Jane Eyre”.

Page 7: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 7

2 METODOLOGIA ........................................................................................................ 9

3 ADAPTAÇÃO E TRADUÇÃO ................................................................................. 11

3.1 Adaptação e tradução: duas faces da mesma moeda? .................................. 13

4 CONTEXTUALIZANDO A OBRA “JANE EYRE” .................................................. 17

4.1 Sobre a autora Charlotte Brontë ....................................................................... 17

4.2 Como a crítica via as obras de Brontë .............................................................. 20

4.3 Sobre o contexto histórico e literário ............................................................... 21

4.4 Comentário sobre a obra “Jane Eyre” .............................................................. 22

5 ANLISE DA OBRA ADAPTADA “JANE EYRE” .................................................... 24

5.1 Notas sobre a adaptação intralingual (JAKOBSON, 1974) de “Jane Eyre” .. 22

5.2 Comentário final sobre a análise da adaptação “Jane Eyre” ......................... 28

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 29

7 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 31

ANEXO A – CAPÍTULO 23 DE “JANE EYRE” ......................................................... 32

ANEXO B - CAPÍTULO “A PROPOSAL” DA OBRA ADAPTADA “JANE EYRE” .. 44

Page 8: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

7

1. INTRODUÇÃO

Essa pesquisa insere-se na área de Estudos de Tradução, especificamente

sobre as noções dos termos “adaptação” e “tradução”, suas características

individuais, diferenças e semelhanças. Selecionamos este tema porque tínhamos

interesse em entender melhor o que é, de fato, adaptação e qual sua relação com a

tradução. Além disso, as divergências de opiniões com respeito ao tema também

justificam a nossa escolha. Autores como Borges (2001) acreditam que quando um

texto é adaptado muito se perde do original, levando a um “empobrecimento” da

obra. Entretanto, autores como Cony (2006) e Amorim (2005) não partilham da

mesma opinião, sendo a favor da adaptação como uma forma eficiente de

reescritura, ratificando o que afirma Lefevere (2007), ao defender que tanto

adaptações quanto traduções são formas de reescrituras e estão sujeitas às

mesmas coerções e limitações; em momento algum, o autor inferioriza a adaptação

em relação à tradução. Ao contrário, ele as coloca no mesmo nível. Considerando a

importância das traduções literárias para o desenvolvimento e estabelecimento das

culturas nacionais, a problemática desse trabalho direciona-se ao questionamento

sobre a importância das adaptações de obras literárias, no contexto infanto-juvenil,

com o propósito de desmistificar a noção de que as adaptações são textos pobres,

quando comparando suas características com as das traduções.

Portanto, o objetivo geral dessa pesquisa é discutir a validade das adaptações

para o contexto literário. Pois como justificativa, temos o fato de que muitas crianças

e jovens não desenvolvem o gosto da leitura, muitas vezes por falta de incentivo,

mas também por falta de material interessante, criativo e bem escrito. As

adaptações podem suprir essa necessidade, visto que na maioria são adaptados

clássicos da literatura universal, textos que ultrapassam a barreira do tempo e

permanecem obras primas pelo conteúdo, ou pela forma, ou pelo impacto que causa

na vida dos leitores.

A motivação principal da pesquisa é tentar problematizar as críticas em

relação ao processo de adaptação de clássicos literários, levantando questões que

Page 9: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

8

apontem para a validade dessas reescritas para leitores não tão habituados a ler

grandes obras.

Já como relevância social a pesquisa tem como objetivo conscientizar

professores e pesquisadores de que para motivar a leitura de clássicos em alunos

não tão habituados a ler, que uma obra adaptada pode ser um elemento motivador

da leitura entre adolescentes. Outro aspecto relevante diz respeito à validade das

adaptações como processos legítimos de tradução e que em muito têm contribuído

para o avanço do sistema literário brasileiro.

O estudo será desenvolvido a partir primeiramente de uma teorização sobre

os conceitos de tradução e adaptação, levando em conta que ambas são tipos de

reescrituras e qual a sua importância para a comunidade de leitores. A seguir,

faremos uma análise de um capítulo da obra adaptada “Jane Eyre” com um capítulo

da versão original. Com isso tentaremos propor que a adaptação é sim uma

produção de grande importância e que não tenta substituir a obra original, mas sim

chamar a atenção de um leitor, que ainda não está maduramente preparado, para

que ele se interesse pela leitura e futuramente sinta vontade de ler a versão original.

Page 10: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

9

2. METODOLOGIA

Nossa pesquisa se voltou para o estudo das noções de tradução e adaptação

comparando as duas definições, com base em autores como Britto (2012), Lefevere

(2007), Machado (2002), Cony (2006), Borges (2007) e principalmente nos escritos

de Amorim (2005).

Após esse embasamento teórico tratamos de oferecer uma contextualização

sobre a vida e a obra de Charlotte Brontë, o contexto histórico da época em que a

autora viveu, e um breve comentário com informações e características da obra

“Jane Eyre”.

Essa contextualização é importante para que o leitor possua uma base teórica

para a próxima etapa do projeto, que consiste em uma análise detalhada

comparando um capítulo do texto original em inglês de “Jane Eyre” com o capítulo,

referente que foi adaptado para pré-adolescentes, também em inglês. A obra original

usada foi a versão da Arcturus, publicada em 2009, a obra adaptada também tem

como título “Jane Eyre” e foi recontada por Anna Claybourne para a coleção

Usbourne Classics Retold da editora Usbourne. Essa versão é o que Jakobson

(1974) classifica como “adaptação intralingual”, pois é feita na mesma língua da

versão original. O capítulo escolhido foi o de número 23, do original, e o seu capítulo

respectivo “A Proposal”, da versão adaptada. Uma cópia de cada capítulo se

encontra nos anexos deste trabalho.

O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César

(1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield, que consiste de notas enumeradas

em ordem de aparição.

É Importante ressaltar que, pensando em um leitor que não entenda Inglês,

traduzimos para o português a maioria das palavras e frases retiradas dos textos.

Outra observação é que, em alguns casos, colocamos frases ou palavras das duas

versões juntas, lado a lado. Nesses casos, a primeira frase é sempre referente ao

livro original, e a segunda, à adaptação.

Page 11: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

10

Foi escolhido fazer uma análise para que pudéssemos, a partir dela, prover

argumentos que consolidem a teoria de que adaptações são obras válidas e que

podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento do hábito da leitura

em leitores mirins.

Page 12: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

11

3 ADAPTAÇÃO E TRADUÇÃO

Em minha primeira graduação em Letras, meu trabalho de conclusão de curso

foi sobre a importância da leitura dos clássicos adaptados para crianças e

adolescentes. Por meio da pesquisa, foi possível descobrir que muitos alunos do

ensino fundamental da escola com a qual tivemos contato mal sabiam o que era um

clássico universal. Grande parte desses alunos não possuía o hábito da leitura,

contudo ao se fazer a mesma pesquisa em uma escola que trabalhava

constantemente com a adaptação de clássicos e comparar os resultados, observou-

se que o nível de leitura dos estudantes e o gosto pela mesma eram maiores.

Ana Maria Machado, em seu livro “Como e por que ler os clássicos universais

desde cedo” escreve sobre a necessidade de se difundir mais a leitura desse tipo de

livro entre jovens e crianças, ainda que em forma de adaptações; para Machado

(2002), é provável que se perceba cada vez mais gerações com dificuldades na

compreensão da literatura atual por desconhecimento dos clássicos. Ou seja, os

leitores menos experientes não conseguirão, ou pelo menos não terão uma

experiência de leitura mais aprofundada, ao lerem um livro com referências clássicas

por não compreenderem a intertextualidade ali presente, já que não leram, nem

sabem da existência de tais obras clássicas.

Após percebermos junto a Machado (2002) essa grande lacuna no processo

de leitura por falta do conhecimento dos clássicos e já ter desenvolvido um trabalho

enfatizando a importância dos clássicos adaptados para tentar minimizar tal

desconhecimento, fomos motivadas a entender melhor como se dá o processo de

adaptação de obras. Afinal, o que é a adaptação no contexto da literatura? Seria

uma tradução? Qual sua relação com a reescritura e sua importância como

literatura? Para responder ou talvez levantar mais questionamentos sobre o assunto,

fundamentamos as buscas em autores que tem problematizado essas questões.

Entre eles, enfatizamos Amorim (2005), que em sua obra “Tradução e adaptação”,

discorre sobre o assunto a partir de pesquisas realizadas para sua pesquisa de

doutorado.

Page 13: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

12

É interessante observar que mesmo na área de Estudos da Tradução, as

tentativas de se estabelecerem conceitos de tradução e de adaptação são

consideradas polêmicas e recorrentes, pois, para alguns, a adaptação empobrece a

obra original (BORGES, 2001); já, para outros, ela possibilita que leitores

monolíngues tenham contato com autores canônicos da literatura universal, de uma

forma acessível (CONY, 2006).

Amorim (2005, p. 119) também discute estas divergências, afirmando que,

devido à grande polêmica em torno da adaptação, ela “pode ser associada tanto à

noção de ‘enriquecimento’ quanto à de ‘empobrecimento’”. Mais adiante, o autor

tenta definir a adaptação, expondo que esta seria “um processo de transformação

que [...] possibilitaria veicular imagens e estilos que poderiam ser considerados ‘fiéis’

ao texto de referência” (AMORIM, 2005, p. 120).

Mas o que é uma adaptação literária? Foquemos primeiro então, no sentido

convencional do termo. Segundo Houaiss, “adaptar significa basicamente ajustar ou

acomodar”; mas além dessa definição o dicionário traz uma outra mais específica

com relação à obras escritas: “modificar para tornar mais de acordo com o público a

que se destina.

Outro autor que tem abordado o assunto é Lefevere (2007), que na obra

“Tradução, reescrita e manipulação da fama literária” introduz e explica o termo

reescritura, importante para a compreensão do que é adaptação, já que segundo o

autor, toda reescritura é um tipo de adaptação. Grandes escritores têm “recontado”

os clássicos, e para Lefevere (2007, p. 9), os processos de recontar, adaptar e

traduzir são, de certa forma, semelhantes: “O mesmo processo de reescritura

funciona na tradução, na historiografia, na elaboração de antologias, na crítica e na

edição. Obviamente que atua, inclusive, em outras formas de reescritura, como nas

adaptações para o cinema e televisão”.

Para exemplificarmos melhor o que é uma adaptação, tomemos o exemplo de

um gênero que é bastante familiar; um filme baseado em um livro. Falemos então,

sobre o clássico de Victor Hugo “Os Miseráveis”, que foi recentemente reproduzido

para o cinema. O livro é bastante extenso, para então, que a história coubesse em 3

horas de duração, foram necessárias muitas alterações, eliminando boa parte dos

detalhes, falas, e até ações. E mais, essa última versão foi produzida em formato de

Page 14: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

13

musical, o que precisou de mais alterações para que nas partes cantadas, o

espectador pudesse entender o que estava se passando. Entretanto, mesmo com

todas as alterações, o filme não deixa de transmitir a essência do livro, e quem

assiste, mesmo sem ter lido a obra, pode entender tranquilamente a história.

Em adaptações literárias, principalmente as infanto-juvenis, acontece

basicamente o mesmo que nas adaptações cinematográficas. É preciso eliminar

muitos detalhes no vocabulário e na escrita, mas sem deixar de passar a ideia

principal do livro. O roteiro é diminuído, mas os fatos principais e essenciais são

mantidos. O que muda é a forma como eles são escritos. Isso é extremamente

necessário pois o vocabulário precisa encaixar no vocabulário apropriado para a

faixa etária dos leitores, e também porque se a obra a ser adaptada for muito

extensa, ela precisa ser diminuída, visto que o tamanho do livro muitas vezes

assusta esses jovens leitores acostumados com livros pequenos e cheios de

gravuras.

Diante disso, pode-se dizer que uma boa adaptação deve prezar pela história

no geral, ao adaptar na íntegra a forma em que o livro foi escrito para a forma como

o leitor receptor da adaptação está acostumado. Como toda a adaptação é

atravessada pelas marcas de quem a faz, o que pode levar a mudanças

inconscientes e por razões ideológicas, justifica-se pelas suas características o

porquê de ser considerada uma reescritura, conforme nomenclatura de Lefevere

(2007). É o texto original adaptado, reescrito, reformulado, com o objetivo de atingir

determinado público-alvo.

3.1 Adaptação e tradução: duas faces da mesma moeda?

A partir das considerações sobre o pressuposto de que toda tradução e

adaptação são tipos de reescritura (LEFEVERE, 2007), neste tópico, discorreremos

sobre a relação entre “adaptação e tradução”.

Ler um livro na língua em que ele foi escrito é uma atividade que poucas

pessoas são capazes de realizar. A literatura de outros países sempre esteve

difundida em todas as culturas. Um leitor não se contenta somente com livros

escritos na sua língua, é viável porém, que alguém consiga ler em alemão, francês,

Page 15: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

14

inglês, espanhol, mas em todas as línguas é impossível. Assim, se uma pessoa não

entende alemão, espanhol, francês, mas gostaria de ler Goethe, Cervantes e Victor

Hugo, a tradução é a forma mais simples e fácil de se conhecer a literatura desses

autores e de muitos outros. Logo, a tradução se faz necessária para difundir

culturas, ampliar conhecimentos e trazer prazer para alguém que não pode ler em

várias línguas. E já que, como vimos, a tradução é uma reescritura, confirma-se

então a afirmação de Lefevere (2007, p. 21) de que as reescrituras “são

responsáveis pela recepção geral e pela sobrevivência de obras literárias em nossa

cultura global”. Sem as traduções, muitos leitores ficariam sem conhecer autores de

outras nacionalidades, o que num mundo globalizado é praticamente inaceitável.

Trazendo para o contexto das adaptações literárias infanto-juvenis, elas

funcionam para esse público basicamente como as traduções para o público mais

adulto. As adaptações trazem para esses leitores inexperientes, livros e histórias

que devido ao grau de complexidade na escrita e interpretação, eles só

conseguiriam ler e entender anos mais tarde.

Para leigos e desavisados as atividades de tradução e de adaptação podem

parecer simples. Essas pessoas categorizam as duas da seguinte maneira: tradução

seria a simples “reprodução” de um texto-fonte em outra língua, levando em

consideração alguns aspectos literários; e a segunda como a “recriação” de um texto

em outro, com mais liberdade de escrita.

É com essa categorização em mente que surge a ideia de inferioridade da

adaptação em relação à tradução, que as adaptações são por vezes infiéis, com

conteúdo facilitado e que descaracterizam o livro original.

Entretanto, Rodrigues (apud AMORIM, 2005) defende que ambas “Traduções

e adaptações envolvem transformação e são construídas de acordo com certas

convenções e restrições dependentes do tempo e lugar em que são realizadas,

assim como o público a que se destinam”. Para fundamentar mais ainda a tese de

que as noções de tradução e adaptação são mais complexas e obscuras do que

parecem, consideremos o que diz AMORIM (2005, p.29): o autor defende que a

tradução

...recontextualiza a obra literária original, gerando outras imagens – reinscrevendo-a numa outra realidade na qual é concebida, como um processo por meio do qual se transforma o texto original, tornando-o

Page 16: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

15

aceitável do ponto de vista da poética vigente em torno do autor e da obra que é traduzida.

Tendo em mente a definição de Amorim, é possível afirmar que a adaptação

também reescreve uma história em outra realidade, levando também em

consideração aspectos culturais, estilísticos e linguísticos para torná-la aceitável

perante seu público-alvo.

Outro aspecto que é muito discutido é o de que o tradutor deve tentar ao

máximo se aproximar da meta de fidelidade. Como ratificam autores como Arrojo

(2007) e Britto (2012), é impossível reproduzir determinado texto de uma língua para

outra sem alterações por razões diversas; e essa impossibilidade exige que sejam

feitas modificações necessárias para que a literariedade do original não seja

afetada, e não para o tradutor fazer-se visível ao leitor. É preciso fazer modificações

para que características literárias do autor e da obra, o grau de sintaxe, o tipo do

vocabulário, o grau de formalidade, as conotações e muitas outras coisas, sejam

reproduzidas na tradução, e para que o leitor tenha a mesma experiência ao ler uma

tradução que ao ler a obra no idioma original.

Já Amorim (2005, p. 46) nem leva em conta essas modificações, pois afirma:

“Na tradução, legitimam-se interferências justamente pelo fato de não serem

reconhecidas como tais, já que são consideradas apenas meios de se alcançar a

suposta ‘essência’ do original”. Ou seja, essas alterações são tão necessárias para

apropriar o texto à língua para a qual se está traduzindo, que simplesmente pelo fato

de as línguas serem diferentes, transformações na escrita são fundamentais.

Da mesma forma, as modificações de uma adaptação também deveriam ser

aceitáveis, visto que essa é uma outra leitura, uma outra criação, que não difere em

muita coisa da chamada tradução livre. Mas ainda assim, muitos acreditam que

essas modificações, embora conscientes e autorizadas, são transgressões,

violações do texto original. Mas Amorim (2005) acredita que ambas as atividades

estão extremamente interligadas nessa confusão de categorização. Para

exemplificar isso, ele cita dois casos de tradução que se assemelham à noção de

adaptação.

Ana Maria Machado possui uma tradução de “Alice no País das Maravilhas”,

de Lewis Carrol,, classificada pela editora um resultado com muitas alterações na

escolha dos poemas-paródias encontrados no original. (quem diz isto? Referenciar)

Page 17: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

16

A autora “adaptou-os” para cantigas do folclore brasileiro, que não podem ser

chamadas de equivalentes, visto que as referências culturais e linguísticas do

público-alvo dos dois livros, crianças britânicas e crianças brasileiras, são muito

diferentes. E mesmo assim, o livro é classificado como uma tradução, mesmo

havendo elementos drasticamente alterados, o que muitos chamariam de

transgressões tradutórias.

O outro exemplo é o do escritor tcheco Milan Kundera que, decepcionado

com algumas traduções de sua obra para o inglês, decidiu ele mesmo traduzi-la,

omitindo mais de cinquenta passagens, retirando referências à história tcheca e

alterando personagens, além de deixar de mencionar tais alterações no prefácio do

livro. No entanto, a obra de Kundera foi classificada como tradução. Para Amorim:

Exemplos de Machado e Kundera, considerados traduções dos originais, sugere que embora um determinado trabalho apresente-se como tradução’, certamente promove a recriação de imagens, valores e tendências em relação ao texto original de forma tão decisiva, ‘transgressora’ e, ao mesmo tempo, ‘aceitável’ (para uma determinada sociedade, prática discursiva ou público-alvo) quanto qualquer ‘adaptação’ poderia fazer (AMORIM, 2005, p. 46).

Com isso, percebemos que em alguns casos, é complicado classificar uma

obra em adaptação ou tradução pois delimitar o que faz parte do domínio da

adaptação e o que faz parte do domínio da tradução é uma atividade bastante

complexa.

Page 18: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

17

4 CONTEXTUALIZANDO A OBRA “JANE EYRE”

Neste capítulo, iremos trazer uma contextualização sobre a vida e a obra de

Charlotte Brontë, o contexto histórico da época em que a autora escreveu a obra

“Jane Eyre” e um breve comentário com informações e características do livro.

4.1 Sobre a autora Charlote Brontë

Filha do clérigo anglicano irlandês Patrick Brontë e Maria Branwell, Charlotte

Brontë nasceu em Thorton, Yorkshire, Inglaterra, em 1816. A terceira de seis irmãos,

possuía duas irmãs mais velhas, Maria e Elizabeth; um irmão, Patrick Branwell, e

duas irmãs mais novas, Emily e Anne. Quatro anos após o nascimento de Charlotte,

seu pai fora nomeado reverendo em Haworth, uma pequena e típica vila situada

entre as charnecas frias e ventosas de Yorshire, lugar para onde a família se mudou.

Mas como era típico da época, a falta de encanamento e de um bom fornecimento

de água normalmente levava a doenças e enfermidades e infelizmente, um ano após

terem se mudado, sua mãe morreu de câncer. Charlotte tinha apenas cinco anos e,

a partir desse momento, se transformou na figura amiga e maternal das irmãs. Uma

tia por parte de mãe, Elizabeth, ficou encarregada de ajudar o pai com a educação

das crianças e então, eles decidiram que as meninas mais velhas frequentariam

uma escola confessional chamada Clergy Daughter’s School, em Cowan Bridge.

Foi uma época muito difícil para as meninas. As condições da escola eram

precárias e afetaram permanentemente o crescimento físico de Charlotte e levaram

suas duas irmãs à morte. Com isso, Charlotte voltou para casa e juntamente com

seus outros irmãos começaram a criar histórias durante suas brincadeiras. As

crianças liam muito e sua imaginação voava em meio às paisagens idílicas de onde

moravam. Chegaram até a criar países, e escrever sobre os habitantes e as lutas de

seus reinos imaginários. Charlotte e o irmão escreviam crônicas sobre Angria, e

Emily e Anne poemas e artigos sobre Gondal. Parte das histórias são encontradas

hoje em forma de manuscritos. São rebuscadas e elaboradas, e instigaram os

Page 19: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

18

irmãos desde a infância e adolescência, o que os preparou para o início de suas

carreiras literárias.

Charlotte continuou sua educação na Roe Head School, em Mirfield, de 1831

a 1832. Durante esse período, ela escreveu a novela “The Green Dwarf”, usando o

pseudônimo Wellesley. Charlotte voltou à escola como professora em 1835, e

permaneceu ali até 1839. Depois disso, trabalhou como governanta para várias

famílias de Yorshire até 1841. No ano seguinte, ela e Emily viajaram até Bruxelas

para trabalhar no internato dirigido por Constantin Heger e sua mulher. Charlotte

ensinava inglês e Emily música como pagamento pelas aulas a que elas assistiam

de francês, alemão e literatura. Elas faziam isso com o objetivo de um dia abrirem

sua própria escola. Pouco tempo depois, as meninas tiveram que voltar para casa

por causa da morte da tia Elizabeth; depois Charlotte voltou sozinha ao internato

para ocupar um cargo de professora. Alguns escrevem que, enquanto morou na

Bélgica, Charlotte se sentia muito sozinha e com saudades de casa. Sensível,

começou a se apaixonar por Constantin. Acabou voltando para casa e, em 1944,

escreveu os romances “Villete” e “O Professor”, publicados posteriormente. Alguns

acreditam que esses livros foram inspirados em suas experiências no internato.

Dois anos depois, Charlotte, Emily e Anne publicaram uma coleção de

poemas em conjunto e de modo independentes com os pseudônimos Currer, Ellis e

Acton Bell. Os pseudônimos protegiam a identidade das irmãs mesmo tendo as

iniciais de cada uma. O sobrenome Bell veio do vigário de Haworth, Arthur Bell

Nicholls, com quem Charlotte se casaria alguns anos mais tarde. O livro não fez

sucesso, mas as irmãs continuaram a escrever e publicaram seus primeiros

romances sob a proteção dos pseudônimos. Charlotte disse certa vez que elas

usavam nomes diferentes pois não gostavam de chamar atenção, e nem de se

declararem mulheres, uma vez que suspeitavam que a maneira com que escreviam

e seus pensamentos não eram o que se poderiam considerar femininos para os

padrões da época.

O primeiro manuscrito de Charlotte, “O Professor”, não conseguiu publicação,

mas o segundo, com o título “Jane Eyre – Uma Autobiografia” foi publicado após

apenas seis semanas, em 1847. Houve muita especulação quanto à identidade de

Currer Bell, pseudônimo de Charlotte, se este seria um homem ou uma mulher,

depois que Emily publicou “O Morro dos Ventos Uivantes” e Anne “Agnes Grey”,

Page 20: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

19

também sob pseudônimos. Dos três livros, o que fez mais sucesso na época foi o

livro de Charlotte; daí tanta especulação com respeito a sua autoria. Alguns críticos

passaram a classificar a obra como grosseira, quando começaram a suspeitar que

esta poderia ter sido escrita por uma mulher. Contudo, as vendas do livro não

pararam, ao contrário, elas aumentaram por causa da reputação de livro “impróprio”.

Com o sucesso de “Jane Eyre”, a autora começou a trabalhar em outro

manuscrito, “Shirley”. O livro se diferenciava do primeiro, por ser escrito em terceira

pessoa. Porém o ano de 1848 foi um ano triste para os Brontë. O único filho homem

morreu de bronquite crônica, causada pelo alcoolismo, em setembro. Seguido de

Emily, que morreu em dezembro de tuberculose. E em maio do ano seguinte, foi a

vez de Anne, que também morreu da mesma doença que a irmã.

Charlotte ficou muito abalada com a falta dos irmãos. A partir da publicação

de “Shirley”, notou-se uma mudança no tom de escrita de Charlotte e as críticas do

livro foram variadas. Alguns acharam que o livro não era tão chocante e que faltava

o imediatismo emocional do primeiro. Mas Charlotte, após ter se revelado a autora

do sucesso “Jane Eyre”, passou a frequentar Londres, a conselho de seu editor, e

começou a fazer parte de círculos literários. Neles, conheceu muitos autores como

William Thackeray e Elizabeth Gaskell, a última escreveria uma biografia sobre

Charlotte após a morte da amiga.

O terceiro livro publicado durante a vida de Charlotte foi “Vilette”, no qual ela

volta a escrever em primeira pessoa e também coloca alguns elementos biográficos.

O livro foi considerado por alguns como potente e sofisticado, mas outros o

classificaram também como grosseiro e pouco feminino na descrição dos desejos da

personagem principal.

Antes da publicação de “Vilette”, Charlotte recebeu uma proposta de

casamento de Arthur Bell Nicholls, que já era apaixonado por ela havia algum

tempo. Ela no primeiro momento recusou a oferta, e seu pai foi contra devido à

situação financeira de Nicholls não ser muito satisfatória. Sua amiga Elizabeth

Gaskell encorajou Charlotte a considerar os aspectos positivos da união. Charlotte,

nesse meio tempo, começou a se atrair pela atenção demonstrada por Arthur, e em

Janeiro de 1854, ela aceitou a proposta do clérigo. Seu pai por fim abençoou a união

e eles se casaram em junho.

Page 21: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

20

A escritora engravidou pouco depois do casamento, mas não foi uma gravidez

tranquila. Gaskell, na biografia que escreveu sobre Charlotte, diz que ela sofria muito

com as náuseas e desmaiava com frequência. Em março de 1855, Charlotte morreu

sem chegar a dar à luz, aos 38 anos. As causas de sua morte são incertas, em sua

certidão consta que morreu de tuberculose, mas muitos defendem que ela possa ter

morrido de desidratação e subnutrição, e outros afirmam que ela adquiriu febre

tifoide, contraída de uma criada da família que morreu pouco antes dela.

Seu primeiro manuscrito, “O Professor”, foi publicado depois de sua morte,

em 1857. E um fragmento no qual ela estava trabalhando já foi terminado por

autores recentes, a versão mais famosa é de Clare Boylan, “Emma Brown: A Novel

from the Unfinished Manuscript by Charlotte Brontë”. Muitos dos materiais sobre

Angria também foram publicados.

4.2 Como a crítica via as obras de Brontë

A mais prolífica das irmãs Brontë, Charlotte escreveu um dos maiores

clássicos românticos da literatura inglesa. De caráter complexo, a autora é descrita

pelo crítico David Cody (1987) como possuidora de um caráter complexo; cheia de

integridade e determinação, honesta, tenaz e independente, mas ao mesmo tempo

demonstrava ser emocionalmente insegura, tímida, sensível e frágil. A autora

colocava muito de si em suas personagens, todas as características são

encontradas nas suas criações. Suas mulheres são independentes e trabalhadoras,

porém no interior são inseguras e sensíveis. Até mesmo as características físicas,

Charlotte transportava para elas, como por exemplo Jane Eyre, que é descrita como

simples e de nenhuma beleza notória. Assim Charlotte se via fisicamente.

O crítico Cody (1987, internet) também escreveu sobre suas ficções serem

intensamente românticas, com ênfase no gótico e no sobrenatural, de intensa

sexualidade, embora imperceptível a alguns da época, e sua sátira implícita a alguns

costumes e ideias da época. Ele diz que Charlotte colocava muito de suas

experiências pessoais em seus livros. Suas histórias tendiam para o “conto de

fadas”, devido ao fato de Charlotte só ter se apaixonado realmente uma vez e esse

amor ter sido proibido e condenado, mas como já dito antes, talvez isso nem tenha

Page 22: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

21

acontecido. As personagens de suas histórias do país Angria são todas heroínas

apaixonadas, ardentes, condenadas, sensíveis e solitárias. Sobre Charlotte, a

escritora Virginia Woolf comentou que “Toda a sua força, […], vai para as

afirmações: "eu te amo", "eu odeio", "eu sofro".

A história das irmãs Brontë é muito trágica, e Charlotte, por ter visto todos,

exceto seu pai, morrerem foi quem mais sofreu e demonstrou isso em seus escritos.

Escrever para ela era uma necessidade de livramento, de afastamento da sua vida

cheia de luto. Mas mesmo transpondo muito de si e sua vida em suas histórias, ela

faz isso de maneira belissimamente artística.

4.3 Sobre o contexto histórico e literário

Charlotte Brontë se insere no contexto do governo da Rainha Vitória, a

chamada Era Vitoriana. Cláudio Vicentino, em seu livro de história geral, afirma que

“O Século XIX foi marcado pelo predomínio econômico inglês”. E diz mais: “[...] foi

marcado pelo desenvolvimento econômico capitalista, pelo triunfo do liberalismo e

do imperialismo, bem como pela efervescência do sentimento nacionalista e da

doutrina socialista” (VICENTINO, 2006, p. 306).

Era uma época de muitas teorias, mas também de muita pobreza e injustiça.

A fé e a moral estavam abaladas por conta do surgimento de alguns novos

pensamentos, como a teoria de Darwin e o socialismo de Marx. Porém, mesmo com

todos esses novos ideais, alguns assuntos ainda eram tabus, como o sexo. Ainda

que surgisse o “novo”, o “velho” era exigência obrigatória. A família, o

comportamento da mulher e a literatura permaneciam tradicionais. O puritanismo

ainda era vigente na época. As irmãs Brontë surgiram então, com intuito de quebrar

alguns desses ideais, que elas achavam antiquados e retrógrados.

O estilo literário das irmãs era o estilo característico da época. O novel

(romance) era o formato mais usado. Por serem muitas vezes lidos em família e em

rodas literárias, muito cuidado se tinha em não publicar conteúdo que ferisse os

princípios moralistas. Alguns autores tinham até o costume deles próprios narrarem

suas histórias; Charles Dickens foi quem mais ficou famoso por ser exímio contador

de suas histórias. Outros autores desse período também se eternizaram como

Page 23: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

22

William Thakeray, Thomas Hardy, Conan Doyle com seu Sherlock Holmes e Lewis

Carol com sua Alice para as crianças.

Os trabalhos das irmãs Brontë eram muito apreciados pela sociedade, mas

uma vez que revelado sua autoria, Charlotte enfrentou problemas, como

mencionado anteriormente, pelo conteúdo grosseiro e comportamento pouco

feminino de Jane Eyre para os padrões puritanos da época.

4.4 Resumo da obra “Jane Eyre”

A personagem principal que dá nome ao romance é órfã de pai e mãe, por

isso é enviada pela tia, que a odeia, para um internato de meninas, precariamente

administrado. Após seis anos como aluna e mais dois como professora, a jovem

encontra uma posição na propriedade Thornfield Hall como preceptora de uma

criança, a menina Adèle, pupila de Edward Rochester.

Conforme o tempo vai passando, e conforme Jane e Rochester, através de

conversas sérias, enquanto a menina Adèle brinca, ambos se apaixonam

perdidamente, mas nenhum revela o amor ao outro. Jane se martiriza por não se

achar digna de Rochester; Rochester por conter um segredo que só é revelado perto

do final do livro.

Depois de um tempo, Rochester se declara e pede Jane em

casamento. Ela aceita e tudo parece perfeito até o dia do casório quando um homem

aparece na cerimônia e revela que Rochester já é casado com sua irmã. Isso de fato

era verdade, mas Rochester explica que fora enganado pelo pai, sogro e cunhado. A

esposa que lhe arrumaram quando jovem era louca e perigosa, devendo ficar

trancada num quarto escondido na casa onde moram.

Jane, muito decepcionada, foge sem rumo no dia seguinte. Faminta e quase

morrendo é acolhida por uma família, que após um tempo com eles, descobre que

são seus primos e que recebeu uma herança de um tio seu. St. John, o primo vigário

da paróquia local, decide partir para a Índia ser um missionário, e Jane se oferece

para ir junto, mas ele só a levaria se ela se casasse com ele. Jane hesita muito, mas

Page 24: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

23

quando está quase aceitando, como num sonho, ela escuta a voz de Rochester, o

qual ela nunca esquecera, chamando seu nome.

Ela decide descobrir o que acontecera a Rochester e porque o chamado

parecia tão suplicante. Ao chegar em Thornfield Hall, se depara com a casa toda

destruída por um incêndio. A tragédia fora ocasionada pela esposa louca de

Rochester, que morrera ao cair de cima da casa, e esse se encontra cego, sem uma

das mãos e pobre, aos cuidados de dois criados fiéis, em uma casa pequena

próxima dali. Como agora é viúvo, Jane se permite casar com ele. Os dois vivem

felizes, e até uma parte da visão de Rochester é restaurada quando seu primeiro

filho nasce.

Page 25: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

24

5 ANÁLISE DA OBRA ADAPTADA “JANE EYRE”

Nesta parte do trabalho encontra-se uma análise detalhada comparando um

capítulo do texto original em inglês de “Jane Eyre” com o mesmo da adaptação,

também em inglês, “Jane Eyre” feita por Anna Claybourne.

5.1 Notas sobre a adaptação intralingual (JAKOBSON, 1974) de “Jane Eyre”

NOTA 1

Em ambos os primeiros parágrafos as autoras iniciam descrevendo o

entardecer de verão de um dia não especificado, nos jardins da propriedade

Thornfield. Charlotte é extremamente detalhista ao descrever a pureza do céu, os

que cercavam Thornifield, a superioridade das árvores escuras contrastadas com as

clareiras ao redor. A adaptadora manteve uma importante palavra do original

“midsummer-eve”, importante pois é a partir dela que sabemos que se trata do

entardecer de verão, mas transformou para a forma de escrita corrente

“midsummers’eve”, contudo ela foi bem mais concisa em sua descrição, falando

somente do ar, do cheiro das flores, e acrescentando o canto de um rouxinol.

Charlotte é muito detalhista com respeito às paisagens e pensamentos, e

todas as suas descrições são belamente literárias, os recursos são altamente

descritivos e às vezes até um pouco cansativos. Dessa maneira, visando o público

alvo, repetir todos os detalhes e todas as informações que Charlotte usa,

provavelmente levariam o leitor jovem a se desinteressar pelo livro, pois esse

público normalmente prefere muito mais ação do que descrição literária. Logo, creio

que a adaptadora fez bem em diminuir bastante as descrições, mas ainda assim ela

coloca alguns elementos simples mas altamente descritivos ao escrever: “O ar

estava abafado, e o cheiro das flores e o doce cantar do rouxinol me cercavam”.

A adaptadora também exclui a informação de que Adèle, tendo colhido

morangos à tarde, havia ido dormir com o sol ainda à vista, e somente depois que

ela fora dormir é que Jane saiu para o jardim. Após isso Charlotte descreve mais um

Page 26: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

25

pouco o pôr-do-sol se pondo no penhasco. Mais uma vez, a adaptadora evitou

exagerar nas descrições e foi direto para a próxima informação.

NOTA 2

Outra informação que a adaptadora excluiu é que Jane, ao perambular pelo

jardim, sente um conhecido cheiro de charuto, e isso para a leitora sensível é

extremamente estimulante pois é possível adivinhar que o cheiro pertence ao amado

de Jane, Sr. Rochester.

Após sentir o aroma, Jane fica preocupada achando que alguém,

principalmente seu patrão, poderia estar observando-a, e para evitar que fosse vista,

ela se dirige ao orquidário. Ali Charlotte abusa mais uma vez de descrições

detalhadas sobre os cantinhos escondidos do lugar, as árvores, os caminhos

projetados pela grama, uma castanheira-da-índia gigante circulada por um banco, na

qual alguém poderia ficar sem ser visto.

A adaptadora pula todas as descrições, e simplesmente diz que Jane ao virar

uma esquina se depara com o Sr. Rochester, que ele estava inclinado mexendo em

algo, e que Jane acredita que ele não a tinha visto. Já a autora, traz novamente o

cheiro do charuto; Jane então procura de onde vem o cheiro, e ela se auto-reprime,

afirmando que precisa fugir dali. E é quando ela começa a se movimentar, o Sr.

Rochester chega, ela se esconde e fica o observando, esperando que ele vá

embora. Como ele se demora analisando uma mariposa, ela tenta sair escondida

achando que, por ele estar tão entretido, não a veria, visto também que já estava um

pouco escuro pois a lua já apareceria. E é nesse momento que Rochester se dirige a

ela calmamente: – “Jane, venha ver essa companheira”.

Na adaptação, mesmo não tendo a descrição da lua, e a movimentação de

Jane, o fato de Jane tentar sair sem ser vista, e a surpresa do chamado são

mantidos com a frase “Eu achei que ele não tinha me visto, mas ele chamou: ‘Venha

ver essa mariposa, Jane”’.

Page 27: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

26

NOTA 3

Rochester começa a puxar assunto com Jane, mas ela sente dificuldades em

responder, visto que está lutando internamente, pois ela não gostaria de ficar

andando tão tarde com ele no orquidário sombrio, mas não vê razão para ir embora.

Na adaptação, esses pensamentos são omitidos.

Rochester começa a fazer uma série de perguntas a Jane sobre do que ela

sentiria falta com respeito à propriedade e às pessoas quando fosse embora. Na

adaptação, a adaptadora criou somente uma pergunta com respeito a isso. Mas a

pergunta de Jane — “Devo abandonar Thornfield?” — “Devo ir embora logo?” — é

mantida.

NOTA 4

Em ambos os casos, logo após a pergunta de Jane, Rochester começa a

discorrer sobre o fato que irá casar e que Jane não poderá ficar mais na casa. No

original essa fala é bem mais longa e detalhada do que no adaptado. No primeiro,

ele fala que ira casar dentro em breve, sobre sua noiva, e nesse momento, por ele

repreender Jane que estava olhando para outro lado, percebemos a angústia que a

jovem sente ao ele falar da Senhorita Blanche. Após isso ele a relembra que foi ela

quem disse que não poderia ficar em Thornfield após o casamento e que ele a

ajudaria a arranjar um emprego antes que ele se casasse, e que já tinha até um em

mente, com a Senhora O’Gall, na Irlanda. Nesse momento Jane afirma que a Irlanda

fica muito longe da Inglaterra,, de Thornfield, e quando Rochester pergunta: — “E

então?”— ela fala que fica — “De você, senhor” — e começa a chorar de leve, mas

sem ser ouvida.

Na adaptação, Rochester simplesmente afirma: “Estarei casado dentro de um

mês, e já encontrei um trabalho para você, com a Senhora O’Gall, na Irlanda”.

Assim, a provocação de Rochester, quando ele fala sobre Blanche, e a angústia de

Jane, não são observadas. Mas, a fala de Jane com respeito a Irlanda ser muito

distante, e Rochester ficar perguntando: “Longe de quê?” até que ela fala: — “De

você, senhor” —, são reproduzidas quase na íntegra. Entretanto, na adaptação,

Jane pensa: — “Eu podia sentir as lágrimas começando a aparecer”—, antes de

afirmar que ficará longe dele.

Page 28: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

27

NOTA 5

Sobre a principal parte do capítulo, o diálogo, podemos afirmar que é o clímax

do livro e é reproduzido com bastante similaridade no sentido mas possui bastantes

alterações na ordem das falas e até eliminação de algumas delas. No original,

Rochester primeiro instiga Jane, dizendo que quando ela for para a Irlanda, eles

nunca mais se verão; e depois que ele sente que ambos possuem uma ligação e

que essa ligação será perdida e ela o esquecerá. Jane afirma que isso nunca

acontecerá. Depois ele chama a atenção dela para o rouxinol que canta. E ao ouvir,

Jane começa a chorar convulsivamente e ela se abre, falando que ama Thornfield,

que teve uma vida completa e cheia de prazer ali, que ela nunca se sentiu presa e

sim estimulada por conviver com uma pessoa como Rochester, e que ela sente

muito que será afastada de tudo isso por causa do casamento dele com a Senhorita

Blanche. E é nesse momento que ele diz não ter nenhuma noiva. Ela diz que ele um

dia terá e que ela não aguentará ser nada para ele, que só porque ela é pobre,

simples, obscura e pequena ela não significa que ela não possua sentimentos, e

com isso vemos a força que Charlotte coloca nas personagens femininas. Jane

afirma que são os espíritos deles que estão interligados e que eles são iguais. E ele

então, concorda com ela sobre o fato de eles serem iguais, a prende em seus

braços e a beija nos lábios.

Na adaptação, a ordem das falas é um pouco diferente, mas a emoção do

momento é reproduzida. Aqui, Rochester também a instiga mas bem rapidamente,

falando que eles nunca mais se veriam, e após isso ela já explode em lágrimas.

Então ele fala da ligação que ele sente em relação a ela e que se ela fosse embora

ela o esqueceria. Ela afirma que isso nunca aconteceria e se abre, falando: —

“Minha vida aqui tem tudo que eu sempre esperei, conforto, gentileza, e, em você,

verdadeiro companheirismo. Quando penso em ir embora, é como se eu pensasse

em morrer”. Com bem menos palavras, a adaptadora explica o que Jane sente em

relação a Rochester e a sua vida em Thornfield, sem perder muito do original. Ele

então pede que ela não vá embora, o que não acontece no original, e ela fala então

que precisa ir por causa da noiva dele, pois ela sabe que ele não a ama, que

simplesmente porque ela é pobre e simples não significa que ela não possua alma e

sentimentos, mas que seus sentimentos são tão fortes como os dele. Ele então a

puxa para si e beija sua face.

Page 29: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

28

Vemos aqui, que mesmo a adaptadora tendo feito algumas alterações, a

essência do momento não foi perdida. Alguns itens muito importantes foram

mantidos, como a caracterização da autora como pobre e simples, e isso é

importante pois remete ao fato de que Charlotte Brontë acreditava ser simples e

modesta, e que ela colocava muito de si em suas personagens. O beijo nos lábios

só aparecerá quando Jane aceita o pedido de Rochester. A autora pode ter alterado

isso para não passar a ideia de que Rochester a beija à força, visto que o público-

leitor são crianças e adolescentes.

NOTA 6

Após o beijo, no original, Jane ainda tenta argumentar com Rochester de que

eles são iguais, mas ao mesmo tempo não, pois ele vai se casar com uma mulher

que não ama e ela desprezaria tal união; ela então pede que ele a deixe ir pois ela já

havia falado tudo que queria e poderia ir para qualquer lugar que quisesse. Ele diz

para ela não lutar como um pássaro desesperado. E nessa parte ela diz uma das

frases mais divulgadas e fortes do livro: –"Eu não sou um pássaro, e nenhuma rede

me prende. Sou um ser humano livre com vontade própria". Com isso Rochester

oferece sua mão, seu coração e uma parte de todas as suas posses, mas Jane acha

que ele está brincando com ela. Ele continua pedindo que ela passe o resto da vida

ao seu lado e ela continua argumentando, e ele pedindo por muito tempo. Até que

ele explica que não se casará com a senhorita Ingram pois ele a enganou, enquanto

estava vestido de cigana, dizendo que sua fortuna não era nem um terço do que era

especulado, e ela então começou a tratá-lo com frieza. Ele diz para Jane que a ama,

mesmo pobre, obscura, simples e pequena. Ela pede então para analisar seu rosto.

E depois de argumentar mais um pouco sobre a honestidade dos sentimentos de

Rochester ela diz: – “Então, senhor, eu me casarei contigo”. Ele pede que ela o

chame de Edward e ela o faz.

Já na versão adaptada, Rochester simplesmente pede que Jane não vá

embora, depois de ela se abrir sobre seus sentimentos, e ela diz que não pode vê-lo

se casando com a senhorita Blanche. Ele diz então, que se casará com ela (Jane),

Ela acha que ele está brincando com ela e então ele explica a questão da cigana e

da fortuna, e que os preparativos para o casamento são para Jane. Ela olha para

Page 30: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

29

seu rosto e o analisa; e logo em seguida diz: “– “Então, senhor, a resposta é sim”.

Ele pede que ela o chame de Edward e eles se abraçam e se beijam.

Aqui vemos que a autora diminuiu bastante o diálogo entre os dois

personagens, alguns elementos importantes foram retirados, como o fato de ele falar

que a ama mesmo sendo obscura, simples pobre e pequena, características

fundamentais para o contexto da autora Charlotte Bronttë; a conhecida frase de

Jane, que mostra novamente a força e independência que Charlotte gosta de

transmitir em suas personagens femininas e o desespero de Rochester também não

foi reproduzido fielmente. Contudo, a autora manteve parte dos argumentos de Jane,

reproduziu, os argumentos de Rochester para não se casar com Blanche, e também

na fala de Jane, ao aceitar o pedido, o pronome de tratamento “senhor”, que é

importante pois no decorrer da história, vemos que há uma submissão exagerada da

parte de Jane para com Rochester, e no momento que ele pede que ela o chame

por Edward, essa submissão é quebrada.

NOTA 7

Após Jane aceitar o pedido, no original ela e Edward permanecem mais um

pouco no orquidário conversando sobre como ninguém pode atrapalhar a união dos

dois. Eles decidem entrar, e no caminho, Charlotte descreve bastante a noite, a lua e

a chuva que começara a cair. Quando eles chegam em casa, a senhora Fairfax

acaba vendo os dois se beijando, mas Jane só percebe o olhar “sério, pálido e

admirado” da viúva depois. Jane pensa que a senhora poderia ter uma opinião

errada do que acabara de ver, mas ela só explicaria depois. Na manhã seguinte,

Adèle a acordou dizendo que a castanheira-da-índia havia sido atingida por um raio

e metade dela havia se separado.

Na versão adaptada, esse trecho é bem similar, com exceção das descrições

excessivas que a adaptadora mais uma vez eliminou. Eles decidiram entrar na casa,

e no caminho a chuva começou a cair. Eles chegaram na casa de braços dados e

Rochester beija Jane novamente. E antes que Jane pudesse subir para seu quarto

ela vê a senhora Fairfax a encarando com assombro. Ela pensa que as explicações

ela daria depois. Quando ela acordou na manhã seguinte, Adèle entra no quarto

Page 31: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

30

para contar que a grande castanheira-da-índia tinha sido atingida por um raio e se

partira em duas.

Vemos que, afora a eliminação das descrições, a adaptadora foi bem fiel,

mantendo o assombro da senhora Fairfax ao ver o recém casal se beijando, e o mau

presságio da castanheira sendo atingida por um raio

NOTA 8

No original, o capítulo se encerra com o presságio. Já na adaptação, a autora

uniu os dois capítulos seguintes, fazendo simplesmente uma separação entre o

presságio e a próxima ação da história.

5.2 Comentário final sobre o processo de adaptação de “Jane Eyre”

Charlotte Brontë conseguiu o que poucos escritores conseguem, criar um

clássico em todos os sentidos: enredo interessante com personagens fortes,

marcantes e carismáticos, em um nível de escrita excelente e com mensagens

importantes para o público. Adaptar um livro desse não é tarefa fácil mas a partir da

análise acima, pode-se dizer que Anna Claybourne fez um bom trabalho.

Saindo do contexto do capítulo analisado e entrando na obra no geral, a

adaptadora Claybourne trouxe a sua adaptação todos os elementos principais do

original. No que tange às construções dos personagens principais, ela enfatizou as

principais características; em sua “Jane Eyre”, encontramos a mesma jovem simples

e modesta, inteligente, mas insegura, determinada e fiel aos seus princípios que

temos na “Jane Eyre” de Charlotte. No personagem Rochester encontramos um

senhor sério, fechado, autoritário, mas ansioso por carinho e atenção.

Com respeito ao roteiro, Claybourne também não deixou passar nenhum

detalhe considerado por ela como importante como: a rejeição na casa da tia que a

adotara, a ida para o colégio de meninas e o difícil tempo passado lá; o

desenvolvimento do relacionamento com Rochester e a luta de Jane para reprimir

Page 32: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

31

seus sentimentos; o relacionamento falso com a senhorita Blanche Ingramm, o

pedido de casamento e a trágica descoberta do segredo de Rochester. A fuga de

Jane, o acolhimento por parte dos irmãos Rivers. O pedido de casamento de St.

John e o chamado de Rochester. E por fim, o reencontro dos dois em meio à miséria

decorrida do incêndio em Thornfield. Esses acontecimentos são fundamentais para

o entendimento da obra; talvez seja por isto que nenhum deles fora eliminado.

A partir da análise feita, podemos concluir que Claybourne, além de manter as

partes importantes do roteiro, também mantém alguns elementos essenciais

característicos da autora. Palavras importantes do original que caracterizam os

personagens foram mantidas, como a descrição de Jane como “Simples, pequena,

obscura e modesta”, e o decorrente uso de “Senhor”, referindo-se a Rochester”.

Uma característica literária importante de Brontë são as ricas descrições dos

cenários e dos pensamentos de Jane. A adaptadora, para não deixar o livro extenso,

elimina grande parte destas descrições, mas em nenhum momento, deixa de

descrever algum elemento, como o entardecer, o cantar do rouxinol, a chuva que

começa a cair, etc. Quanto aos pensamentos de Jane, ela os limita bastante, mas

sempre buscando manter a principal ideia.

Quanto à emoção transmitida nas principais partes do livro, obviamente que

para um leitor maduro, que tenha lido a obra na íntegra, a adaptação fica muito

aquém do original. Contudo, para um leitor inexperiente, cremos que o nível de

emoção colocado seja suficiente. Sem contar as ilustrações presentes na versão

usada que também transmitem vivacidade à obra.

Com respeito à mensagem do original, consideramos que o livro se destina

especialmente às mulheres e passa mensagens especiais para elas: a de que as

mulheres devem focar em desenvolver suas habilidades intelectuais; devem ser

independentes e ter opiniões próprias; devem manter-se fiéis aos seus princípios; e,

quando encontrar um homem digno de seu amor, precisam conservar-se até o

momento certo; e por fim respeitar e auxiliar o companheiro em todas as

dificuldades. Acreditamos que essas mensagens ficam evidentes também na versão

adaptada.

Portanto, mesmo que a adaptadora tenha feito muitas alterações e diminuído

o conteúdo do livro original, nem o roteiro, nem os personagens, nem a mensagem

Page 33: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

32

final foram prejudicados. A adaptação “Jane Eyre”, cumpre o seu propósito de inserir

um clássico universal feminino de maneira leve, sucinta, fiel, e bonita para um

público infanto-juvenil.

Page 34: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

33

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na área de Estudos da Tradução, as tentativas de estabelecer conceitos de

adaptação, quando comparados aos de tradução, são bastante polêmicas, visto que

para alguns autores, como Borges (2001), a adaptação empobrece a versão original,

mas para outros, ela possibilita que leitores mais jovens e menos experientes

tenham contato com autores consagrados por suas obras classificadas como

clássicos universais.

Como objetivos de pesquisa, tínhamos em mente problematizar diferenças e

semelhanças entre os conceitos de tradução e adaptação, com base em autores

como Lefevere (2007) e Amorim (2005). E a análise da obra original e da versão

adaptada “Jane Eyre” nos ajudou a aprofundar nossa tese de que, conforme

Machado (2002), as obras adaptadas bem escritas provêm um primeiro encontro

com uma obra, e desse primeiro encontro pode brotar o gosto da leitura nos leitores

jovens e abrir caminho para a leitura do original e de outros clássicos da literatura

posteriormente.

A partir da análise também pudemos fortalecer a tese de que adaptações não

são textos empobrecidos. No geral, eles sofrem modificações para se enquadrarem

nos padrões do público-alvo a que se destina. E para isso são necessárias várias

modificações, como: encurtamento do roteiro, que envolve eliminação de detalhes

desnecessários para o entendimento geral da obra, junção de capítulos, alteração

na ordem de falas ou ações dos personagens; alteração no vocabulário e a forma

como algumas ações são colocadas na obra original; e por fim, alterações no estilo

de escrita, considerando-se que quem está fazendo a adaptação é outro autor, o

que torna natural e esperado estilos diferentes daqueles do autor do original.

Após analisar os capítulos escolhidos e as duas versões, o original e a

adaptação, no geral, vimos que o encurtamento do roteiro foi necessário, pois no

caso de “Jane Eyre” e também de muitos outros clássicos, o livro é bastante longo, e

uma adaptação muito extensa poderia desanimar um leitor não experiente. As

crianças que estão sendo inseridas na leitura começam esse processo com livros

pequenos e com muitas gravuras, e os adolescentes ainda não acostumados a ler,

Page 35: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

34

não se interessariam por um livro muito grande, com um conteúdo que não é voltado

especificamente para eles. A junção de capítulos e a alteração na ordem das falas e

ações se devem justamente por causa do encurtamento da história, para que a

sequência de ações, agora reduzidas, faça total sentido. As alterações vocabulares

são necessárias para que, tanto a criança quanto o adolescente tenha total

compreensão da obra. É claro que um bom livro infanto-juvenil não possui somente

palavras conhecidas desse público, mas busca também instigá-los a descobrir o que

são as palavras desconhecidas presentes no texto. Mas mesmo assim, é preciso

fazer uma adequação vocabular para a faixa-etária a qual o livro se destina. Já o

estilo de escrita precisa ser alterado algumas vezes, pois a maneira como o autor

escreve pode se tornar um pouco cansativa para os leitores não experientes, como

no caso da obra analisada que é cheia de descrições, por vezes enfadonhas.

Mesmo com todas as alterações identificadas, é possível sentir na adaptação

as emoções e a perspicácia do autor clássico. Isso pôde ser feito por meio de

palavras-chave da obra original que se mantiveram na adaptação, além da tentativa

de seguir o estilo de escrita do autor, o que não é tarefa fácil. No entanto, mesmo

com algumas diferenças no estilo e nas cenas pouco modificadas, a obra manteve

grande parte dos diálogos ou situações importantes para o desfecho e a

compreensão da obra.

Assim, conquanto as alterações feitas na obra adaptada não prejudiquem a

compreensão da história e mantenham as características principais do autor do

original, uma adaptação não pode ser considerada como uma versão facilitadora ou

mesmo empobrecida da obra completa, visto que são necessárias para se

enquadrar ao público-leitor. E essas adaptações, conforme Machado (2012), podem

cumprir o difícil papel de cativar o leitor pouco afeito à leitura, fazendo com que o

mesmo adquira o gosto pela leitura e se interesse por outros livros. Dessa maneira,

no futuro, quando estiver mais bem preparado intelectualmente, se sentirá motivado

a ler os clássicos, não mais na versão adaptada, mas o próprio original. Logo,

concluímos que o processo de adaptação tem seus objetivos bem definidos e não

deve ser considerado inferior pelo fato de sofrer alterações que provocam a

diminuição das páginas, se o seu objetivo básico de incentivar a leitura dos clássicos

entre os infanto-juvenis for alcançado.

Page 36: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

35

7 REFERÊNCIAS

BORGES, Jorge Luis. Translators of The Thousand and One Nights. . London: Penguin Books, 2001. BRITTO, P. H. A Tradução Literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012. CODY, David. Charlotte Brontë: an appreciation. 1987. Disponível em: <http://www.victorianweb.org/authors/bronte/cbronte/brontbio1.html>. Acesso: 29 jun. 2013

CONY, Carlos Heitor. As adaptações dos clássicos e a voz do Senhor. São Paulo: Scipione, 2006. Disponível em: <http://www.scipione.com.br/scipione_educacao>. Acesso em out. de 2013. JAKOBSON, Roman. Aspectos Linguísticos da Tradução.São Paulo: Editora Cultrix, 1970. LEFEVERE, A. Tradução, Reescrita e Manipulação da fama literária. London: Routledge, 1992. MACHADO, Ana Maria. Como e por que ler os Clássicos Universais desde cedo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

MENDES, Oscar. Estética Literária Inglesa. Belo Horizonte: Editora Itatiaia Limitada, 1983

POPOVIÈ, A. The concept “shift of expression in translation analysis. In HOLMES, J., HAAN, F., POPOVIÈ, A. (Ed.) The nature of translation. The Hague: Mouton, 1970.

VICENTINO, Cláudio, História Geral. São Paulo: Scipione, 2007.

Page 37: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

36

ANEXO A – CAPÍTULO 23 DE “JANE EYRE”

A splendid Midsummer shone over England: skies so pure, suns so radiant as

were then seen in long succession, seldom favour even singly, our wave-girt land. It

was as if a band of Italian days had come from the South, like a flock of glorious

passenger birds, and lighted to rest them on the cliffs of Albion. The hay was all

got in; the fields round Thornfield were green and shorn; the roads white and baked;

the trees were in their dark prime; hedge and wood, full-leaved and deeply tinted,

contrasted well with the sunny hue of the cleared meadows between.

On Midsummer-eve, Adèle, weary with gathering wild strawberries in Hay

Lane half the day, had gone to bed with the sun. I watched her drop asleep, and

when I left her, I sought the garden.

It was now the sweetest hour of the twenty-four: ‘Day its fervid fires had

wasted,’ and dew fell cool on panting plain and scorched summit. Where the sun had

gone down in simple state – pure of the pomp of clouds – spread a solemn purple,

burning with the light of red jewel and furnace flame at one point, on one hill-peak,

and extending high and wide, soft and still softer, over half heaven. The east had its

own charm or fine deep blue, and its own modest gem, a casino and solitary star:

soon it would boast the moon; but she was yet beneath the horizon.

I walked a while on the pavement; but a subtle, well-known scent – that of a

cigar – stole from some window; I saw the library casement open a handbreadth; I

knew I might be watched thence; so I went apart into the orchard. No nook in the

grounds more sheltered and more Eden-like; it was full of trees, it bloomed with

flowers: a very high wall shut it out from the court, on one side; on the other, a beech

avenue screened it from the lawn. At the bottom was a sunk fence; its sole

separation from lonely fields: a winding walk, bordered with laurels and terminating in

a giant horse-chestnut, circled at the base by a seat, led down to the fence. Here one

could wander unseen. While such honey-dew fell, such silence reigned, such

gloaming gathered, I felt as if I could haunt such shade for ever; but in threading the

flower and fruit parterres at the upper part of the enclosure, enticed there by the light

the now rising moon cast on this more open quarter, my step is stayed – not by

sound, not by sight, but once more by a warning fragrance.

Page 38: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

37

Sweet-briar and southernwood, jasmine, pink, and rose have long

been yielding their evening sacrifice of incense: this new scent is neither of shrub nor

flower; it is – I know it well – it is Mr. Rochester's cigar. I look round and I listen. I see

trees laden with ripening fruit. I hear a nightingale warbling in a wood half a mile off;

no moving form is visible, no coming step audible; but that perfume increases: I must

flee. I make for the wicket leading to the shrubbery, and I see Mr. Rochester entering.

I step aside into the ivy recess; he will not stay long: he will soon return whence he

came, and if I sit still he will never see me.

But no – eventide is as pleasant to him as to me, and this antique garden as

attractive; and he strolls on, now lifting the gooseberry-tree branches to look at the

fruit, large as plums, with which they are laden; now taking a ripe cherry from the

wall; now stooping towards a knot of flowers, either to inhale their fragrance or

to admire the dew-beads on their petals. A great moth goes humming by me; it

alights on a plant at Mr. Rochester's foot: he sees it, and bends to examine it.

‘Now, he has his back towards me,’ thought I, ‘and he is occupied too perhaps,

if I walk softly, I can slip away unnoticed.’

I trod on an edging of turf that the crackle of the pebbly gravel might not betray

me: he was standing among the beds at a yard or two distant from where I had to

pass; the moth apparently engaged him. ‘I shall get by very well,’ I meditated. As I

crossed his shadow, thrown long over the garden by the moon, not yet risen high, he

said quietly, without turning ‘Jane, come and look at this fellow.’

I had made no noise: he had not eyes behind – could his shadow feel? I

started at first, and then I approached him.

‘Look at his wings,’ said he, ‘he reminds me rather of a West Indian insect; one

does not often see so large and gay a night-rover in England; there! he is flown.’

The moth roamed away. I was sheepishly retreating also; but Mr. Rochester

followed me, and when we reached the wicket, he said ‘Turn back: on so lovely a

night it is a shame to sit in the house; and surely no one can wish to go to bed while

sunset is thus at meeting with moonrise.’

It is one of my faults, that though my tongue is sometimes prompt enough at

an answer, there are times when it sadly fails me in framing an excuse; and always

the lapse occurs at some crisis, when a facile word or plausible pretext is specially

Page 39: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

38

wanted to get me out of painful embarrassment. I did not like to walk at this hour

alone with Mr. Rochester in the shadowy orchard; but I could not find a reason to

allege for leaving him. I followed with lagging step, and thoughts busily bent on

discovering a means of extrication; but he himself looked so composed and so grave

also, I became ashamed of feeling any confusion: the evil – if evil existent or

prospective there was – seemed to lie with me only; his mind was unconscious

and quiet.

‘Jane,’ he recommenced, as we entered the laurel walk, and slowly strayed

down in the direction of the sunk fence and the horse- chestnut, ‘Thornfield is a

pleasant place in summer, is it not?;

‘Yes, sir.’

‘You must have become in some degree attached to the house, – you, who

have an eye for natural beauties, and a good deal of the organ of Adhesiveness?’

‘I am attached to it, indeed.’

‘And though I don't comprehend how it is, I perceive you have acquired a

degree of regard for that foolish little child Adèle, too; and even for simple dame

Fairfax?’

‘Yes, sir; in different ways, I have an affection for both.’

‘And would be sorry to part with them?’

‘Yes.’

‘Pity!’ he said, and sighed and paused. ‘It is always the way of events in this

life,’ he continued presently: ‘no sooner have you got settled in a pleasant resting-

place, than a voice calls out to you to rise and move on, for the hour of repose is

expired.’

‘Must I move on, sir?’ I asked. ‘Must I leave Thornfield?’

‘I believe you must, Jane. I am sorry, Janet, but I believe indeed you must.’

This was a blow: but I did not let it prostrate me.

‘Well, sir, I shall be ready when the order to march comes.’

‘It is come now – I must give it to-night.’

Page 40: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

39

‘Then you are going to be married, sir?’

‘Ex-act-ly – pre-cise-ly: with your usual acuteness, you have hit the nail

straight on the head.’

‘Soon, sir?’

‘Very soon, my – that is, Miss Eyre: and you'll remember, Jane, the first time I,

or Rumour, plainly intimated to you that it was my intention to put my old bachelor's

neck into the sacred noose, to enter into the holy estate of matrimony – to take Miss

Ingram to my bosom, in short (she's an extensive armful: but that's not to the point –

one can't have too much of such a very excellent thing as my beautiful Blanche):

well, as I was saying – listen to me, Jane! You're not turning your head to look after

more moths, are you? That was only a lady-clock, child, “flying away home.” I wish

to remind you that it was you who first said to me, with that discretion I respect in you

– with that foresight, prudence, and humility which befit your responsible and

dependent position – that in case I married Miss Ingram, both you and little Adèle

had better trot forthwith. I pass over the sort of slur conveyed in this suggestion on

the character of my beloved; indeed, when you are far away, Janet, I'll try to forget it:

I shall notice only its wisdom; which is such that I have made it my law of action.

Adèle must go to school; and you, Miss Eyre, must get a new situation.’

‘Yes, sir, I will advertise immediately: and meantime, I suppose–’ I was going

to say, ‘I suppose I may stay here, till I find another shelter to betake myself to:’ but I

stopped, feeling it would not do to risk a long sentence, for my voice was not quite

under command.

‘In about a month I hope to be a bridegroom,’ continued Mr. Rochester; ‘and in

the interim, I shall myself look out for employment and an asylum for you.’

‘Thank you, sir; I am sorry to give–’

‘Oh, no need to apologise! I consider that when a dependent does her duty as

well as you have done yours, she has a sort of claim upon her employer for any little

assistance he can conveniently render her; indeed I have already, through my future

mother-in-law, heard of a place that I think will suit: it is to undertake the education of

the five daughters of Mrs. Dionysius O'Gall of Bitternutt Lodge, Connaught, Ireland.

You'll like Ireland, I think: they're such warm-hearted people there, they say.’

Page 41: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

40

‘It is a long way off, sir.’

‘No matter – a girl of your sense will not object to the voyage or the distance.’

‘Not the voyage, but the distance: and then the sea is a barrier–’

‘From what, Jane?’

‘From England and from Thornfield: and–’

‘Well?’

‘From you, sir.’

I said this almost involuntarily, and, with as little sanction of free will, my tears

gushed out. I did not cry so as to be heard, however; I avoided sobbing. The thought

of Mrs. O'Gall and Bitternutt Lodge struck cold to my heart; and colder the thought

of all the brine and foam, destined, as it seemed, to rush between me and the master

at whose side I now walked, and coldest the remembrance of the wider ocean –

wealth, caste, custom intervened between me and what I naturally and inevitably

loved.

‘It is a long way,’ I again said.

‘It is, to be sure; and when you get to Bitternutt Lodge, Connaught, Ireland, I

shall never see you again, Jane: that's morally certain. I never go over to Ireland, not

having myself much of a fancy for the country. We have been good friends, Jane;

have we not?’

‘Yes, sir.’

‘And when friends are on the eve of separation, they like to spend the little

time that remains to them close to each other. Come, we'll talk over the voyage and

the parting quietly half-an-hour or so, while the stars enter into their shining life up in

heaven yonder: here is the chestnut tree: here is the bench at its old roots. Come, we

will sit there in peace to-night, though we should never more be destined to sit there

together.’ He seated me and himself.

‘It is a long way to Ireland, Janet, and I am sorry to send my little friend on

such weary travels: but if I can't do better, how is it to be helped? Are you anything

akin to me, do you think, Jane?’

I could risk no sort of answer by this time: my heart was still.

Page 42: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

41

‘Because,’ he said, ‘I sometimes have a queer feeling with regard to you –

especially when you are near me, as now: it is as if I had a string somewhere under

my left ribs, tightly and inextricably knotted to a similar string situated in the

corresponding quarter of your little frame. And if that boisterous Channel, and two

hundred miles or so of land come broad between us, I am afraid that cord

of communion will be snapped; and then I've a nervous notion I should take to

bleeding inwardly. As for you, – you'd forget me.’

‘That I never should, sir: you know–’ Impossible to proceed.

‘Jane, do you hear that nightingale singing in the wood? Listen!’

In listening, I sobbed convulsively; for I could repress what I endured no

longer; I was obliged to yield, and I was shaken from head to foot with acute distress.

When I did speak, it was only to express an impetuous wish that I had never been

born, or never come to Thornfield.

‘Because you are sorry to leave it?’

The vehemence of emotion, stirred by grief and love within me, was claiming

mastery, and struggling for full sway, and asserting a right to predominate, to

overcome, to live, rise, and reign at last: yes, – and to speak.

‘I grieve to leave Thornfield: I love Thornfield: – I love it, because I have lived

in it a full and delightful life, – momentarily at least. I have not been trampled on. I

have not been petrified. I have not been buried with inferior minds, and excluded

from every glimpse of communion with what is bright and energetic and high. I have

talked, face to face, with what I reverence, with what I delight in, – with an original, a

vigorous, an expanded mind. I have known you, Mr. Rochester; and it strikes me with

terror and anguish to feel I absolutely must be torn from you for ever. I see

the necessity of departure; and it is like looking on the necessity of death.’

‘Where do you see the necessity?’ he asked suddenly.

‘Where? You, sir, have placed it before me.’

‘In what shape?’

‘In the shape of Miss Ingram; a noble and beautiful woman, – your bride.’

‘My bride! What bride? I have no bride!’

Page 43: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

42

‘But you will have.’

‘Yes; – I will! – I will!’ He set his teeth.

‘Then I must go: – you have said it yourself.’

‘No: you must stay! I swear it – and the oath shall be kept.’

‘I tell you I must go!’ I retorted, roused to something like passion. ‘Do you think

I can stay to become nothing to you? Do you think I am an automaton? – a machine

without feelings? and can bear to have my morsel of bread snatched from my lips,

and my drop of living water dashed from my cup? Do you think, because I am

poor, obscure, plain, and little, I am soulless and heartless? You think wrong! – I

have as much soul as you, – and full as much heart! And if God had gifted me with

some beauty and much wealth, I should have made it as hard for you to leave me, as

it is now for me to leave you. I am not talking to you now through the medium of

custom, conventionalities, nor even of mortal flesh; – it is my spirit that addresses

your spirit; just as if both had passed through the grave, and we stood at God's feet,

equal, - as we are!’

‘As we are!’ repeated Mr. Rochester – ‘so,’ he added, enclosing me in his

arms. Gathering me to his breast, pressing his lips on my lips: ’so, Jane!’

‘Yes, so, sir,’ I rejoined: ‘and yet not so; for you are a married man – or as

good as a married man, and wed to one inferior to you – to one with whom you have

no sympathy – whom I do not believe you truly love; for I have seen and heard you

sneer at her. I would scorn such a union: therefore I am better than you – let me go!’

‘Where, Jane? To Ireland?’

‘Yes – to Ireland. I have spoken my mind, and can go anywhere now.’

‘Jane, be still; don't struggle so, like a wild frantic bird that is rending its own

plumage in its desperation.’

‘I am no bird; and no net ensnares me; I am a free human being with an

independent will, which I now exert to leave you.’

Another effort set me at liberty, and I stood erect before him.

‘And your will shall decide your destiny,’ he said: ‘I offer you my hand, my

heart, and a share of all my possessions.’

Page 44: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

43

‘You play a farce, which I merely laugh at.’

‘I ask you to pass through life at my side – to be my second self, and best

earthly companion.’

‘For that fate you have already made your choice, and must abide by it.’

‘Jane, be still a few moments: you are over-excited: I will be still too.’

A waft of wind came sweeping down the laurel-walk, and trembled through the

boughs of the chestnut: it wandered away – away – to an indefinite distance – it died.

The nightingale's song was then the only voice of the hour: in listening to it, I again

wept. Mr. Rochester sat quiet, looking at me gently and seriously. Some time passed

before he spoke; he at last said ‘Come to my side, Jane, and let us explain and

understand one another.’

‘I will never again come to your side: I am torn away now, and cannot return.’

‘But, Jane, I summon you as my wife: it is you only I intend to marry.’

I was silent: I thought he mocked me.

‘Come, Jane – come hither.’

‘Your bride stands between us.’

He rose, and with a stride reached me.

‘My bride is here,’ he said, again drawing me to him, ‘because my equal is

here, and my likeness. Jane, will you marry me?’

Still I did not answer, and still I writhed myself from his grasp: for I was still

incredulous.

‘Do you doubt me, Jane?’

‘Entirely.’

‘You have no faith in me?’

‘Not a whit.’

‘Am I a liar in your eyes?’ he asked passionately. ‘Little sceptic, you shall be

convinced. What love have I for Miss Ingram? None: and that you know. What love

has she for me? None: as I have taken pains to prove: I caused a rumour to reach

her that my fortune was not a third of what was supposed, and after that I presented

Page 45: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

44

myself to see the result; it was coldness both from her and her mother. I would not – I

could not – marry Miss Ingram. You – you strange, you almost unearthly thing! – I

love as my own flesh. You – poor and obscure, and small and plain as you are – I

entreat to accept me as a husband."

‘What, me!’ I ejaculated, beginning in his earnestness – and especially in his

incivility – to credit his sincerity: ‘me who have not a friend in the world but you – if

you are my friend: not a shilling but what you have given me?’

‘You, Jane, I must have you for my own – entirely my own. Will you be mine?

Say yes, quickly.’

‘Mr. Rochester, let me look at your face: turn to the moonlight.’

‘Why?’

‘Because I want to read your countenance – turn!’

‘There! you will find it scarcely more legible than a crumpled, scratched page.

Read on: only make haste, for I suffer.’

His face was very much agitated and very much flushed, and there were

strong workings in the features, and strange gleams in the eyes ‘Oh, Jane, you

torture me!’ he exclaimed. ‘With that searching and yet faithful and generous look,

you torture me!’

‘How can I do that? If you are true, and your offer real, my only feelings to you

must be gratitude and devotion – they cannot torture.’

‘Gratitude!’ he ejaculated; and added wildly – ‘Jane accept me quickly. Say,

Edward – give me my name – Edward – I will marry you.’

‘Are you in earnest? Do you truly love me? Do you sincerely wish me to be

your wife?’

‘I do; and if an oath is necessary to satisfy you, I swear it.’

‘Then, sir, I will marry you.’

‘Edward – my little wife!’

‘Dear Edward!’

Page 46: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

45

‘Come to me – come to me entirely now,’ said he; and added, in his deepest

tone, speaking in my ear as his cheek was laid on mine, ’Make my happiness – I will

make yours.’

‘God pardon me!’ he subjoined ere long; ‘and man meddle not with me: I have

her, and will hold her.’

‘There is no one to meddle, sir. I have no kindred to interfere.’

‘No – that is the best of it,’ he said. And if I had loved him less I should have

thought his accent and look of exultation savage; but, sitting by him, roused from the

nightmare of parting – called to the paradise of union – I thought only of the bliss

given me to drink in so abundant a flow. Again and again he said, ‘Are you happy,

Jane?’ And again and again I answered, ‘Yes.’ After which he murmured, It will atone

– it will atone. Have I not found her friendless, and cold, and comfortless? Will I not

guard, and cherish, and solace her? Is there not love in my heart, and constancy in

my resolves? It will expiate at God's tribunal. I know my Maker sanctions what I do.

For the world's judgment – I wash my hands thereof. For man's opinion – I defy it.’

But what had befallen the night? The moon was not yet set, and we were all in

shadow: I could scarcely see my master's face, near as I was. And what ailed the

chestnut tree? it writhed and groaned; while wind roared in the laurel walk, and came

sweeping over us.

‘We must go in,’ said Mr. Rochester: ‘the weather changes. I could have sat

with thee till morning, Jane.’

‘And so,’ thought I, ‘could I with you.’ I should have said so, perhaps, but a

livid, vivid spark leapt out of a cloud at which I was looking, and there was a crack, a

crash, and a close rattling peal; and I thought only of hiding my dazzled eyes against

Mr. Rochester's shoulder.

The rain rushed down. He hurried me up the walk, through the grounds, and

into the house; but we were quite wet before we could pass the threshold. He was

taking off my shawl in the hall, and shaking the water out of my loosened hair, when

Mrs. Fairfax emerged from her room. I did not observe her at first, nor did

Mr. Rochester. The lamp was lit. The clock was on the stroke of twelve.

Page 47: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

46

‘Hasten to take off your wet things,’ said he; ‘and before you go, good-night –

good-night, my darling!’

He kissed me repeatedly. When I looked up, on leaving his arms, there stood

the widow, pale, grave, and amazed. I only smiled at her, and ran upstairs.

‘Explanation will do for another time,’ thought I. Still, when I reached my chamber, I

felt a pang at the idea she should even temporarily misconstrue what she had seen.

But joy soon effaced every other feeling; and loud as the wind blew, near and deep

as the thunder crashed, fierce and frequent as the lightning gleamed, cataract-like as

the rain fell during a storm of two hours' duration, I experienced no fear and little awe.

Mr. Rochester came thrice to my door in the course of it, to ask if I was safe and

tranquil: and that was comfort, that was strength for anything.

Before I left my bed in the morning, little Adèle came running in to tell me that

the great horse-chestnut at the bottom of the orchard had been struck by lightning in

the night, and half of it split away.

Page 48: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

47

ANEXO B – CAPÍTULO “A PROPOSAL” DA OBRA ADAPTADA “JANE EYRE”

That night was midsummer’s eve, and I went walking in the orchard at dusk.

The air was warm, and the scent of flowers and the sweet song of the nightingale

surrounded me. I felt I could wander there forever.

As I came around a corner, I saw Mr. Rochester. He was leaning over peering

closely at something. I thought he hadn’t seen me, but he called: “Look at this moth,

Jane. It’s so big, it reminds me of the insects I used to see in the West Indies.”

I joined him, and we walked down to the great old horse chestnut tree at the

bottom of the orchard.

“Will you miss Thornfield, Jane?” he asked.

“Of course,” I said quietly. “Must I leave soon?”

“I’m afraid so,” he said. “It’s all arranged. I hope to be a bridegroom within a

month, and I have found a job for you – with a Mrs. O’Gall, in Ireland.”

“Ireland? That is a long way away, sir!”

“From what?”

“From Thornfield… from England…” I could feel myself starting to cry. “From

you, sir”

“If you go to Ireland, Jane, you know we will never meet again.”

At this, I could hold in my grief no longer. I burst into tears, and sobbed

helplessly.

“Indeed,” he said, “perhaps you should not go…”He was silent for a moment.

Then he said: “Because I have a strange feeling about you, Jane – as if your heart is

tied to mine, under our ribs, with an invisible string. And if you went to Ireland, I’m

afraid the string would break, and my heart would bleed, and you would forget about

me.”

I looked up at him, no longer trying to hide my tearstained face. “I would never

forget you,” I said. “My life here has had everything I could ever wish for – comfort,

kindness and, in you, a true companion. When I think about leaving, it is like thinking

about dying.”

Page 49: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

48

“Then don’t leave,” he said.

“I have to leave,” I sobbed. “I cannot bear to, but nor can I bear to stay here, to

become nothing to you. Do you think I can tolerate seeing you with a wife you do not

love? Do you think I have no feelings? Do you think, because I am poor and plain,

that I have no soul? Well, you are wrong! I have just as much soul as you – my

feelings are just as strong as yours!” I shouted, gasping for breath. But, before I could

go on, he grabbed my arm, pulled me towards him, and kissed my face. I struggled

and pulled away.

“Don’t leave,” he said. “Stay, Jane, stay with me.”

“I must go!” I cried. “I cannot watch you marry her.”

“Then I will marry you,” he said.

“What? You are tormenting me!” I cried.

“No, I will have no bride but you, Jane. I am not going to marry Miss Ingram.”

“But – why not?

“Well, as you so rightly say, I don’t love her. Furthermore, she doesn’t love me.

After I told her, disguised as the gypsy, that my fortune was just a third of what it

really is, she was nothing but rude to me. I have known for a long time that I do not

want to marry her. The carriage, the preparations – they are for you. I love you, Jane.

Please say yes.”

I looked into his face, and saw that he was not teasing me. He meant it.

“Then, sir, the answer is yes,” I said at last.

“Call me Edward – call me by my name.”

“Yes Edward, I will marry you!” I said.

And we embraced tightly and kissed, as the first drops of rainstorm began to

fall around us.

We went inside, arm in arm, and Mr. Rochester kissed me again to bid me

goodnight before I went up to my room. I saw Mrs Fairfax staring at us in

amazement, but I decided I would explain later.

Page 50: A ADAPTAÇÃO INTRALINGUAL EM “JANE EYRE” · O formato da análise seguiu os passos na análise feita por Ana Cristina César (1999) do conto “Bliss”, de Katherine Mansfield,

49

When I awoke the next morning, before I got up, Adele burst into my room to

tell me that the great horse chestnut in the orchard had been struck by lightning, and

had split in two.