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26 de Janeiro de 2014
Confira a entrevista de Paulo Ronypara o Jornal A Gazeta
O Coordenador - Geral do Sindipetro - ES, Paulo Rony, deu entrevista ao Jornal A Gazeta deste último domingo. O tema abordado foi a repercussão da crise na Petrobras nos postos de trabalho, o fim da indicação política para os cargos de gestão e a ameaça de demissão em massa para este ano. Confira:
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48ECONOMIADOMINGO, 25 DE JANEIRO DE 2015 A GAZETA
REPUTAÇÃO MANCHADA
Profissionais da estatal revelam como está o clima diante dosescândalos, mostram indignação e defendem punição aos envolvidos
ESCÂNDALONA PETROBRAS
BEATRIZ [email protected]
Há pelomenos 10meses aPetrobras não sai do focoda sociedade, da mídia edos órgãos que investigamum dos maiores escânda-los de corrupção da histó-riadopaís.Deprotagonistadamaiorcampanhaexplo-ratória de petróleo dos úl-timosanosnomundo,como pré-sal, a estatal passapor um momento em quecorrupção, obras superfa-turadas, pagamento depropina e desvios de con-
duta estão entre as pala-vrasmaisusadasparasere-ferir à companhia que, háapenas cinco anos, chegoua ser a 12ªmaior do plane-ta. Atualmente ocupa so-menteo120ºposto,segun-dolevantamentodoFinan-cial Times.Afundada em denúncias
e dívidas, a Petrobras é alvodas apurações da operaçãoLava Jato – deflagrada emmarço do ano passado –,queindicamqueoesquemade corrupção e de lavagemdedinheiro teriamovimen-
taçãoquantiasdaordemdeR$ 10 bilhões entre funcio-nários da petrolífera, em-preiteiras e políticos.Mas, se os fatos e as no-
tícias que, diariamente,são divulgados estarre-cem o cidadão, a indigna-ção é ainda maior entreempregados da estatal,que veem o escândalo co-mo algo inaceitável e ca-paz deminar e manchar aimagemecredibilidadedeum trabalho construídocommuito esforço e dedi-cação.
Para sabercomooassun-to vem sendo tratado noscorredores da Petrobras eentender como os petrolei-rostêmvistotodooepisódio,A GAZETA ouviu emprega-dos da estatal de diferentesníveishierárquicos,masquetêmemcomumosentimen-tode revoltaedanecessida-de de que os envolvidos se-jamduramente punidos.
CLIMAUma fonte que trabalha
na empresa há quase 10anos, que preferiu não se
identificar, relatou que oclimainternomudousigni-ficativamente depois queosenvolvidos–entreelesoex-diretordeabastecimen-to da Petrobras, Paulo Ro-berto Costa – fizeram oacordodedelaçãopremia-daecolocaramno jogono-vos nomes que se benefi-ciaram como esquema.“Desdeoanopassado,as-
suntostípicosdoscorredorese cafezinhos, como futebol,férias e família, deram lugaraos escândalos e denúnciasde corrupção. A gente fica
especulando quem será opróximo a ser citado, se vaiteralguémqueconhecemosou trabalhe conosco e o quepode acontecer daqui parafrente”, contou.Essemesmo trabalhador
lembrou que, aqui no Esta-do,oaugedoburburinhofoiquando profissionais liga-dos à Unidade de Explora-ção e Produção do EspíritoSanto (UO-ES) foram cita-dos em depoimentos e norelatório da CPI Mista noCongresso Federal. “Aí, foirealmente uma situação
1 OPERAÇÃOA Operação Lava Jato, deflagradaem março de 2014, investiga umgrande esquema de lavagem edesvio de dinheiro envolvendo aPetrobras, grandes empreiteirasdo país e políticos. No total,R$ 10 bilhões é quanto oesquema teria movimentado.
2 PRISÕESAs primeiras prisões foram ado doleiro Alberto Youssef edo ex-diretor deAbastecimento da PetrobrasPaulo Roberto Costa. Elesfirmaram acordos de delaçãopremiada para explicardetalhes do esquema.
3 EMPREITEIRASAs investigaçõesapontaram envolvimentode empreiteiras, que têmcontratos de R$ 59 bilhõescom a Petrobras. Foramsuspensos negócios com23 fornecedoras citadas naLava Jato.
PETROBRASCORRUPÇÃO QUEMINA O TRABALHO
ECONOMIA49DOMINGO, 25 DE JANEIRO DE 2015 A GAZETA
Trabalhadoresqueremofimda indicaçãopolíticaNaavaliaçãodosfuncionáriosdaestatal,apadrinhamentofavorece a corrupção
A nuvem de denúncias esuspeitas envolvendo cor-rupçãoquepairasobreaPe-trobrasseriaevitadaoupelomenosminimizada seosal-toscargosdegestãodacom-panhia não fossem fruto deindicaçõespolíticas.Essaéaavaliação de funcionáriosdaestataledoSindicatodosPetroleiros do Espírito San-to (Sindipetro-ES).Para os trabalhadores,
o apadrinhamento criabrechas para a realizaçãode atos ilícitos e dá auto-nomia demais a pessoasque,emfunçãodanomea-ção, ficam com uma espé-ciededívidacomdetermi-nados políticos.Embora muitos dos pro-
fissionaisqueestãoenvolvi-dos no esquema de desviodedinheirosejamfuncioná-rios de carreira, o presiden-te do Sindipetro-ES, PauloRony, analisa que esses car-gos de confiança deveriamser preenchidos após umarigorosa análise técnica ecomportamentaldoscandi-datos. Uma espécie de pro-cesso seletivo, e não limi-tando a escolha pelos inte-resses de partidos.“A política não é uma
coisa ruim, mas como elaestá sendo aplicada. Você
pode fazer política para osocial, para o meio am-biente, por exemplo. Po-rém,no casodaPetrobras,essa indicação me parecemais um apadrinhamen-to, uma troca favor.”Um funcionário que
ocupa um cargo de con-fiança na Petrobras temopinião semelhante a dorepresentantedosindicato.“Há uma extrema politiza-ção partidária nas organi-zações. É como um câncer,uma vergonha. A gente fazcampanhas e cobra diretri-zes e valores na compa-nhia,mas isso temqueche-gar aos políticos. Infeliz-mente a gente só vai endi-reitar esse país quando co-meçar a prender político”.
NavisãodeRony,quan-dohá indicações, os 2.400trabalhadores diretos daPetrobras no Estado e os85 mil no país acabam fi-candoexpostosaescânda-loscomoosreveladospelaoperação Lava Jato.Funcionáriodesde2006
daTranspetro–subsidiáriada Petrobras – e diretor deComunicação do Sindipe-tro-ES,EwertonSouzaAn-drade, também é um críti-co ferrenho do modelo deindicações. “Quando umaempresa colocapessoasnocargo por apadrinhamen-to, ela está se sujeitando atermuitos problemas.”
DESCONFIANÇAAlguns desses problemas
estão sendo confirmadoscom as descobertas de con-tratos irregulares feitos commuitas empreiteiras queparticipavam do esquema.O coordenador do sindicatonãovêcomsurpresaasreve-lações feitas pela Polícia Fe-deral. “Havia uma descon-fiança porque eram sempreasmesmasempresasquega-nhavam as licitações. Mas,embora houvesse a sensa-ção de ter algo errado, nãotínhamosprovas disso.”Já em relação à descon-
fiançadosenvolvidosnoes-quema, uma pessoa quetrabalhou com o ex-diretorde Abastecimento PauloRobertaCosta,comoex-ge-rente executivo de Enge-nhariaPedroBaruscoecom
oex-diretordeServiçosRe-natoDuque,revelouqueja-mais eles demonstraramqualquer comportamentoque levantasse suspeitas.“Nunca imaginei isso naminha vida. Os caras esta-vam do meu lado. A gentese sente indignado.”
TRANSPARÊNCIAO coordenador-geral
do sindicato frisaqueaex-pectativa dos trabalhado-reséqueosescândalossir-vam para dar mais trans-parência aos processos in-ternos da empresa e tam-bém às contratações deprestadores de serviços.“Acredito que esse mo-
mentovai funcionar comoumdivisordeáguas.Dian-te de tantos problemas, aPetrobras vai ser obrigadaa mudar. A companhiasempreprimoupelatrans-parência, mas isso fugiudo controle. Por isso, achoqueéprecisoretornarcommais pulso e rigor para aPetrobras voltar a ter cre-dibilidade e a protegerseus funcionários, que es-tãosendoalvodechacotasporcontadeumameiadú-zia de pessoas que come-teram irregularidades.”Ronycomplementaque
aangústiadostrabalhado-ressó iráacabarquandoosenvolvidos forempunidose o dinheiro desviado re-tornar para a companhia.
EDSON CHAGAS
“A política nãoé uma coisaruim, mascomo ela estásendo aplicada.No caso daPetrobras, essaindicação meparece umapadrinhamento,uma trocafavor”
—PAULO RONY
COORDENADOR-GERAL
DO SINDIPETRO-ES
100mil podem perder seus empregos em 2015Além de arranhar a ima-
gem da Petrobras junto aomercado nacional e inter-nacional,asdenúnciascon-tra a companhia tambémrespingam diretamente nacriação de empregos e nodesenvolvimentodacadeiaprodutiva do petróleo.OcoordenadordoSindi-
catodosPetroleirosdoEspí-rito Santo (Sindipetro-ES),
PauloRony, acredita que ospostos de trabalho diretosestão garantidos, mas queos empregos indiretos aca-bam sendo ameaçados emfunção da redução das ati-vidades na cadeia.“Podemos ter proble-
masdeempregabilidade.Eo nosso medo é que issotambém abra uma brechapara empresas estrangei-
ras. A gente não quer isso,afinal, queremos que a Pe-trobrascrieempregosparatrabalhadores brasileiros.”A preocupação do sindi-
calista não é em vão. Alémda possibilidade da Petro-brasadiaralgunsprojetose,portanto, postergar a con-trataçãodeterceirizadas,nofinal de dezembro a estatalanunciou a suspensão de
negócios com 23 fornece-doras citadas na Lava Jato.Com a paralisação dos
contratos, quase 10 mil jáforamdemitidoseomerca-do estima que até meadosdesteano100miltrabalha-dorespossamperderoem-prego devido às dificulda-des econômicas que essasempresas vão enfrentar.Para Rony, omomento é
delicado, mas o comporta-mentoqueopetroleirosem-pre teve, “devestir a camisada empresa”, deve conti-nuar. “Estamos tentandoresgatar esse orgulho, quetemandadoumpouco feri-do. Nunca vamos ser coni-ventes com essas coisas er-radas e esperamos venceressa fase e voltar a ser umagrande empresa danação.”
muito chata e constrange-dora. Alguns colegas rece-berame-mailsemensagensdeapoio,mastiveramaque-les quenão sabiamnemco-mo lidar coma situação.”Para um veterano da
UO-ES,osescândalospega-ramtodosdesurpresaeapa-garamobrilho dos bons re-sultados que a unidade ca-pixaba vemapresentando.“Estamos vivendo uma
fase fantástica, eaí agentese depara com isso. O pioré que chegamos num mo-mentocomnomedevárioscolegas indo para amídia.Aí,os332milbarrisdiáriosproduzidos em 2015, a al-taeficiênciaoperacional,ocrescimento de injeção devapor em terra, os recor-des que estamos batendona produção de GLP (gásde cozinha), tudo isso ficaem segundo plano e o tra-balho forte que estamosrealizando parece perdervalor”, desabafou.
REUNIÕESUma outra fonte que
transita entre gerentes ecoordenadores da UO-ESrevela que para dar maistransparência ao processoe acabar com dúvidas deum suposto envolvimentode colegas em irregulari-dades, foram realizadasreuniões comaapresenta-ção de documentos e pla-nilhas comprovando aidoneidadenasatividadesrealizadas.“A ideia foi reunir a tur-
matodaeexplicaroquees-táacontecendo.Háumare-volta interna pela exposi-ção dos profissionais e daformacomo, emalguns ca-sos, eles foram citados demaneiraleviana.Oobjetivofoidar transparência”,assi-nalou o interlocutor.De acordo com o mes-
mo funcionário, a reaçãodaspessoasrelacionadasasupostas irregularidadesfoi da fúria a um princípiodedepressão.“Teveumge-rente que ficou muito ner-voso. Outro queria abrirprocesso por informaçõesqueforamdivulgadasequi-vocadamente. Fora quemficou muito triste e enver-gonhado, mesmo não ten-do culpa na história.”
4 OBRAS
Vários empreendimentos daPetrobras estão sob suspeita,entre eles: as refinarias de Abreue Lima (PE) e de Pasadena (EUA);um trecho do Gasene, gasodutoque passa pelo Espírito Santo; oTerminal de Barra do Riacho, emAracruz.
5 CPI
Indícios de irregularidades também foramencontrados nos contratos da Petrobras com aSBM em relação a plataformas, sendo três queoperam no Estado (P-57, Cidade de Anchieta eCapixaba). O tema foi abordado na CPIM daPetrobras no Congresso, que chegou a citarnomes de gerentes e funcionários que atuamou atuaram no Espírito Santo.