202_artigo Publicado Anais Arqdoc

8/19/2019 202_artigo Publicado Anais Arqdoc

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INVESTIGAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO DA ARQUITETURA EMMADEIRA EM ERECHIM-RS

PEREIRA, NATÁLIA B. (1);VALLE, ANGELA DO. (2) FELIPPE, BRUNO D. (3);SILVA, GUILHERME R. DA (4) SOUZA, ELIAS R.B.(5); SCANAGATTA, CLEBER(6)

1. Universidade Federal da Fronteira Sul. Curso de Arquitetura e UrbanismoERS 135- Km 172 nº200, Erechim, RS.

[email protected] 2. Universidade Federal de Santa Catarina. Departamento de Engenharia Civil

R. João Pio Duarte da Silva, 205, Florianópolis, [email protected]


[email protected] 4. Universidade Federal de Santa Catarina. Departamento de Engenharia Civil

R. João Pio Duarte da Silva, 205, Florianópolis, [email protected]


[email protected] 6. Universidade Federal da Fronteira Sul. Curso de Arquitetura e Urbanismo

ERS 135- Km 172 nº200, Erechim, [email protected]

RESUMO

O presente trabalho trata da investigação das tipologias arquitetônicas e a caracterização dastecnologias construtivas tradicionais em madeira utilizadas cidade de Erechim, região Norte do RioGrande do Sul, desde a primeira década, quando da sua fundação, até meados do século XX. Aarquitetura em madeira foi hegemônica na cidade, sobretudo em função da abundância dedisponibilidade de araucárias, desde a origem do núcleo urbano, a partir da implantação da ferrovia eda chegada dos primeiros imigrantes, entre os quais, italianos, alemães, poloneses e russos.Constata-se que madeira teve grande importância na economia do município, que contava commuitas indústrias madeireiras desde a década de 1920 e que era um forte produto industrial deexportação. No centro de Erechim, ao longo da avenida principal e das vias próximas, até a décadade 30, a maior parcela das edificações possuía tecnologia construtiva em madeira, compostas pordois pavimentos com uso misto: residência na parte superior e comércio no nível do térreo. Aformação urbana de Erechim, com base filosófica positivista, a partir da implantação do plano urbanodo Eng. Carlos Torres Gonçalves, de 1914, de acordo com padrões externos ao contexto regional,determinou a paisagem urbana a qual, até hoje, é experimentada na cidade. A busca pela constantemodernização e progresso, é sentida desde a década de 30, quando se desestimulou a construçãodas casas em madeira tradicionais dos povos imigrantes na região central, e incentivou-se a

mailto:[email protected]




















4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e DocumentaçãoBelo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

construção em alvenaria, eclética, segundo os preceitos internacionais de embelezamento. Aindaassim, remanesce principalmente na área central, um número significativo de edificações em madeiraque constituem marcos referenciais simbólicos. Também, apesar de tais mudanças na legislaçãomunicipal, e, a ocorrência de três grandes incêndios que devastaram a área central da cidade,curiosamente, verifica-se que o uso da madeira como material construtivo ainda continuourepresentativo em períodos posteriores, de certa forma, resistindo às restrições impostas, abrangendoinclusive edificações com características Art Decó e Modernistas que perpassam a região central. Assim, a escolha da arquitetura em madeira foi inserida pela grande importância de seu significadocultural na região, a qual transita entre as esferas do patrimônio material e imaterial, e que podecompreender valores culturais, artísticos, históricos, técnicos, simbólicos ou afetivos. Por meio deanálise bibliográfica e de estudo de caso, com levantamentos in loco de edificações selecionadas, apartir de critérios de relevância histórica, técnica-artística e da recorrência na cidade, traça-se umpanorama das características encontradas, apresentando um comparativo, com o registro dos dadoscoletados através de documentação escrita e gráfica. Desse modo, o objetivo do trabalho é investigar,documentar e registrar graficamente as tipologias e as soluções técnicas mais comumente adotadasnas construções em madeira na cidade, as quais carecem de estudos e padecem frente à velocidadeda sua destruição e desvalorização. Acredita-se que o resultado do trabalho contribuirá paraidentificar e caracterizar as tipologias arquitetônicas e as tecnologias construtivas em madeiratradicionais utilizadas pelos imigrantes que colonizaram Erechim, compreendendo de que forma essaarquitetura é relevante para a construção da paisagem cultural. Para além, dado que as construçõeshistóricas em madeira vêm sofrendo constantes destruições e mutilações, acrescenta-se a iminênciado registro, documentação gráfica e da preservação desta importante fase construtiva regional, a qualpoderá servir de base teórica e técnica para qualquer intervenção futura nesse patrimônio.

Palavras-chave: técnica construtiva; madeira; arquitetura .




1. Introdução

1.1. Caracterização e contextualização histórica da cidade de Erechim

Localizado no extremo norte do estado do Rio Grande do Sul, na região do Alto Uruguai, omunicípio de Erechim possui hoje uma população de 102.345 mil habitantes e uma áreaterritorial de 430,668 km² (IBGE, 2015). Sua fundação se deu no início do século XX,embasada em ideais político-filosóficos positivistas e intenções de saneamento (AVER,2008). Como suporte físico, caracteriza-se por grandes áreas de mata fechada e topografiaacidentada. Antes dos processos de colonização, a região era habitada por índios, caboclos,bandeirantes e fugitivos, que viviam de culturas de subsistência e criação animal.

Com a intenção de amenizar as tensões sociais, povoar estrategicamente e resolver a criseda agricultura, que no início do século XX sofria um estrangulamento pelo latifúndio, ogoverno estadual inicia o plano de colonização das terras da região do Alto Uruguai gaúcho,embasando-se na policultura de pequena propriedade e visando abastecer o mercadointerno. Com a demarcação das terras, e com a expansão da linha férrea – São Paulo- RioGrande- e a implantação das estações ferroviárias no final do século XIX, surgiram novospovoados que traziam excedentes de imigrantes de antigas colônias. Além da colonizaçãopromovida pelo governo, a mesma atividade também foi privatizada e coordenada porempresas particulares como a Jewish Colonization e a Luce, Rosa & Cia LTDA., as quaistiveram papel fundamental nos processos de ocupação.

Com diretrizes básicas regulamentadas pela legislação estadual o Engenheiro Carlos TorresGonçalves projeta a sede da colônia em 1914, a partir de conceitos de racionalidade eordem, seguindo ideais positivistas.

1.2. As primeiras casas em madeira – período imigrantista

A ocupação dos lotes refletia os costumes dos imigrantes, as casas eram edificadas emalinhamento com a rua, lado a lado, entretanto, nunca geminadas, como ocorria nos temposde ocupação colonial. Nos fundos dos lotes eram cultivados verduras, legumes e árvoresfrutíferas, favorecendo a subsistência da família. Construídas em madeira, as paredes eramcompostas de largas tábuas aplainadas, postas lado a lado e vedadas por mata-juntas. Ostelhados eram feitos com lascas de madeira, mais tarde substituídas por folhas de zinco,geralmente com duas águas e com grande inclinação. Como consequência, criava-se um




cômodo a mais na casa, o sótão, utilizado para a estocagem de alimentos, depósito deferramentas e cereais, ou também como mais um dormitório.

Os comerciantes ocupavam o primeiro pavimento para uso comercial e o segundopavimento possuía fins residenciais. Em algumas edificações encontravam-se também osporões: resultantes de declives no terreno e edificados em pedra, ficavam abaixo do nível darua na parte frontal da casa, alinhando a parte térrea com o nível da rua, serviam dedepósito de mantimentos, ferramentas, entre outros. As edificações, no geral, tinham umalinguagem simples e não possuíam ornamentos, seguindo o mesmo padrão e diferenciando-se somente em suas dimensões. Mesmo com a diversidade étnica, originária, em suamaioria, de colonos italianos, poloneses, alemães que povoaram a região, em geral, as

tipologias das primeiras casas se assemelhavam.

1.3. A madeira e o setor econômico do município

Mais tarde, com o intuito de encaminhar os auxílios prestados aos imigrantes para odesenvolvimento da viação e também para outros projetos que pudessem alavancar oprogresso do Estado, o Governo cessa a política imigrantista e inicia-se um processo de

migração interna e espontânea. Na década de 20, a Colônia Erechim torna-se Município,tendo por sede a Vila Paiol Grande, que passa a se chamar Vila Boa Vista. As edificaçõesencontradas ali ainda tinham como material de construção o produto mais abundante naregião e que tinha importante papel econômico no município: a madeira.

A arquitetura em madeira originária da colonização foi hegemônica na cidade de Erechim,desde a sua ocupação efetiva, em 1910 até a década de 1930, sobretudo em função daabundância de disponibilidade de madeira. Constata-se que madeira teve grande

importância na economia do município, que contava com muitas indústrias madeireirasdesde a década de 1920 e que era um forte produto industrial de exportação (FÜNFGELT,2004, p.26).

Constata-se que a arquitetura tradicional em madeira implantada não se adequava ao planodo traçado modernizante, com base positivista proposto por Torres Gonçalves. Dessa forma,a fase construtiva em madeira sofreu uma grande resistência a partir de 1931. Neste ano, oentão prefeito do município, Amintas Maciel, decreta um código de posturas que proíbe asconstruções de edificações menores que dois pavimentos no núcleo central da cidade,também proibindo o uso da madeira em construções e reformas em edificações de madeira.




Após a promulgação de tais atos, por motivos desconhecidos, a cidade sofreu três incêndiosde grandes proporções, quase que extinguindo as edificações em madeira no perímetrodefinido como central. As ações do governo juntamente com os incêndios ocorridos

contribuíram para uma transformação drástica da paisagem urbana de Erechim, asedificações de madeira foram aos poucos sendo substituídas por novas, em alvenaria,seguindo novos estilos, como o Eclético, o Art Déco, e mais tarde o Modernismo, e ahorizontalidade marcada foi gradualmente perdendo força à medida que a cidade adensavae verticalizava-se, principalmente na área central. A despeito das transformações napaisagem, verifica-se, surpreendentemente, que o uso da madeira como material construtivoainda continuou representativo em períodos posteriores, de certa forma, resistindo àsrestrições impostas, abrangendo inclusive edificações com características Art Decó e

Modernistas.

A partir da década de 90, as leis modificam-se, bem como o plano diretor e código de obras,e passam a existir leis em relação à preservação da paisagem urbana e de edificações decaráter histórico, entretanto, tais áreas e edificações não possuem proteção patrimonial, demaneira que o órgão público não pode opor-se legalmente à solicitação de demolição,reforma ou reconstrução de alguma edificação de caráter histórico, restando somente o bomsenso de empreendedores e arquitetos no sentido da preservação da memória cultural da

cidade abrigada em suas edificações.

Embora ainda haja remanescentes de exemplares edificados em madeira significativos napaisagem urbana local, os mesmos encontram-se bastante vulneráveis, sujeitos aodesaparecimento devido à desvalorização corrente, e à falta de políticas preservacionistaspor parte do poder público, indicando a urgência de iniciativas e ações de estudo, registro edocumentação deste patrimônio.

Este patrimônio, produzido grande parte pelos imigrantes, e que reflete na identidaderegional, pode ser considerado vernacular, por adaptar-se às dimensões e as necessidadeshumanas, sem maneirismos, construída sem a interferência de arquitetos ou engenheiros.

Segundo Barda (2009), a arquitetura vernacular é uma das chaves para se poder entender ogenius loci de uma cidade. Talvez por ser considerada modesta, não consegue obter o valornecessário; entretanto, apenas a sua grande diversidade já é argumento para um maioraprofundamento.

A arquitetura vernacular deve ser considerada no seu contexto, como uma ponte de ligaçãoentre a história e a arquitetura, como um sistema contínuo de referências para a




transformação e proteção dos valores históricos e culturais, e para uma formação de umaconsciência popular (Barda, 2009, p. 89).

2. O processo de investigação e documentação de tipologias etécnicas construtivas em madeira

Quanto à metodologia desenvolvida, em um primeiro momento realizou-se a etapa deinvestigação teórica, através de pesquisa bibliográfica, de materiais gráficos e iconográficos,reportagens e anúncios antigos em jornais e revistas locais, e demais documentos deinteresse à temática pesquisada, contextualizando a arquitetura em madeira com a história eo desenvolvimento da cidade e da região do alto Uruguai gaúcho. As fontes utilizadas foramo Acervo Histórico Municipal de Erechim, a Prefeitura Municipal e, em especial, a Secretariade Obras. O material obtido foi sintetizado, no caso das leituras, em fichamentos, com oobjetivo de compartilhar as informações mais relevantes à temática das investigações entreos colaboradores do projeto de maneira condensada e objetiva.

Com a finalização da primeira etapa, pôde-se criar fundamentação e embasamento teórico,propiciando maior domínio e compreensão a respeito das atividades a serem desenvolvidasao longo do cronograma.

A etapa atual, que está em andamento, consiste na pesquisa, no levantamento e nocadastramento de edificações em madeira no município de Erechim, tanto no perímetrourbano quanto na zona rural. O cadastramento é feito pelos colaboradores do projeto,através de fichas-síntese que permitem a análise formal e contextual em diversos aspectos,de maneira objetiva e clara. Entre os parâmetros analisados nas obras cadastradas, estãoos materiais, a técnica construtiva, os elementos de composição formal, o estado de

conservação, as cores, a ambiência e o entorno imediato.




O modelo de ficha-síntese foi elaborado de modo a sistematizar o conteúdo obtido noslevantamentos realizados a campo.

A documentação obtida é um registro temporal, fonte de dados que poderão subsidiar novaspesquisas e propostas futuras de preservação e de intervenção no patrimônio em madeira.

A ficha foi organizada com fotografias antigas e atuais das edificações, dados principais e

características arquitetônicas, conforme ilustra a figura 1. Devido à escassez de informaçõescomo desenhos técnicos e memoriais descritivos, foram anexadas às fichas as fotografiasrecentes obtidas a partir do levantamento a campo, com a análise arquitetônica e do estadode conservação. Até o momento, as averiguações estão sendo efetuadas com a análise dasedificações somente a partir do espaço exterior, não transpondo a propriedade privada.Pretende-se, na medida do possível, na continuação do projeto de pesquisa, obter aautorização necessária dos proprietários dos imóveis (Termo de Consentimento Livre eEsclarecido) para o cadastro completo com a análise da compartimentação interna e

detalhes internos.

Figura 1- Ficha-síntese de levantamento.

Fonte: autores, 2015.




Até o momento presente, dez edificações foram levantadas a campo. A partir destelevantamento inicial, procurou-se elencar categorias tipológicas para melhor compreenderas características das edificações e o universo que integram, buscando traçar paralelos e

distinções.

Entre as duas categorias principais elencadas estão a de caráter recorrente: arquiteturapopular, de tipologia simplificada, mais tardia e de maior profusão na cidade e a de carátersingular, que se subdivide em outras subcategorias: relevância histórica e simbólica,relevância técnica ou artística e relevância com relação ao sítio de implantação e apaisagem cultural.

3. Desenvolvimento

3.1. Documentação e registro

Verifica-se, que ao longo dos anos, a linguagem da arquitetura em madeira é transformada,com adoção de novas formas, volumetrias e composições. Isso é evidenciado naclassificação adotada para categorização das tipologias neste trabalho. Assim, pode-se

preliminarmente distinguir os três períodos principais, de acordo com as seguintes décadas:

a. (1910-1930) – Imigrantista a Ecletismo

Telhado bastante inclinado com 2 ou 4 águas, altura elevada, geralmente 3 pavimentos,simetria das esquadrias, porão em alvenaria, sótão, lambrequins, oitões destacados,varandas, tábuas verticais, mata-junta, janelas guilhotina ou de abrir em duas folhas.Telhado em folhas de zinco e cerâmico. Implantação em região central valorizada.

b. (1930-1950)- Popularização e simplificação

Menor inclinação do telhado, 4 águas, varanda frontal, tábuas verticais e mata-junta ouencaixe macho e fêmea, janelas de abrir. Venda e instalação de kits construtivos deempresas madeireiras, padronização de peças. Implantação em região periférica.

c. (1940-1970)- Novas volumetrias- geometrização-linguagem Art Decó / Modernista

Menor inclinação do telhado, podendo ser telhado borboleta, 2 ou 4 águas com telhas

cerâmicas, pode utilizar tecnologia construtiva mista, com térreo em alvenaria de tijolos




cerâmicos e pavimento superior com tábuas verticais encaixe macho e fêmea. Pode tervolumetria arredondada ao lado da varanda frontal. Implantação em região periférica.

Entre as décadas de 40 e 50, houve concomitantemente, tanto a popularização da técnicaconstrutiva em madeira, com venda de casas em kits construtivos, gerando simplificação,quanto à experimentação volumétrica com a introdução de novas geometrias e formasmodernas, paralelamente a construções similares construídas na cidade em alvenaria detijolos.

Para além da categorização em períodos, que pode ser uma informação nem sempredisponível, para fins de registro, sistematização dos dados coletados in loco e recurso paraa análise do repertório arquitetônico em madeira localizado na região de Erechim, optou-sepor elencar categorias tipológicas. Como citado anteriormente, as tipologias edilíciasencontradas foram divididas entre dois grupos maiores: as de caráter recorrente e de carátersingular. Abaixo, apresenta-se a classificação proposta:

a. Recorrência- arquitetura popular

As edificações em madeira de caráter recorrente concordam com a periodização propostaanteriormente (1930-1950)- Popularização e simplificação. A edificação em madeira é mais

tardia e em maior quantidade na cidade, localizando-se perifericamente. Neste grupocompreende uma vila operária em madeira de meados da década de 40 (figura 2). Oconjunto de casas possui telhado em quatro águas e telhas cerâmicas, com varanda frontal,oitão chanfrado e fundação em alvenaria de tijolos. Uma arquitetura simplificada, secomparada a edificações antecessoras em madeira do período de colonização.

b. Singularidade

Nesta categoria, se encontram algumas edificações em madeira de caráter singular. Asingularidade é evidenciada por questões de relevância ou hierarquia com relação a valoreshistóricos, técnico-artísticos ou de implantação.

Figura 2- Conjunto de casas- vila operária. Fonte: autores, 2015.




A maioria das edificações dessa categoria tem sua construção datada de 1920 a 1950,possuindo características formais e construtivas similares. Quanto à tipologia, encontram-sevárias residências unifamiliares, sendo boa parte de uso misto, com a parte comercial no

pavimento térreo e a parte residencial nos pavimentos superiores; além das casasencontram-se também topologias mais pontuais, como escolas e estabelecimentosexclusivamente comerciais.

As técnicas construtivas empregadas nessa categoria de edificações derivam da marcenariade origem principalmente italiana, etnia que melhor dominava as técnicas construtivas. Amadeira, material predominante, era processada manualmente, utilizada como estrutura,vedação, em aberturas e até mesmo na cobertura, nos exemplares mais antigos. Como

traço marcante e singular de edificações mais antigas, pode-se citar a vedação compostapor tábuas e mata-juntas, além da inclinação acentuada dos telhados, geralmente de duaságuas.

Os elementos estéticos que conferem singularidade à algumas obras consistem emornamentos como os lambrequins e guarda-corpos trabalhados, enquanto que aspectoscomo a simetria marcada nas fachadas e a existência de porão, sótão e varandasdestacam-se como elementos formais expressivos e singulares.

No que se refere às edificações mais recentes, também enquadradas nesta categoria,observa-se a forte influência de correntes arquitetônicas como o modernismo, muitopresente em Erechim a partir da década de 60. Elementos como aberturas mais horizontaise coberturas borboleta, além de maior limpeza visual e ausência de adornos enfatizam asingularidade de tais edificações.

Deste modo, foram agrupadas, por similaridade, edificações de destaque de acordo com ascaracterísticas encontradas, em subdivisões da categoria singularidade .

b.1. Relevância Histórica/ simbolismo (testemunho-documento)

Nesta subcategoria, foram alocadas as edificações em madeira, que possuem um carátersimbólico que perpassa o valor material, e que pode incluir valores imateriais, derememoração, ou afetivos. Estas edificações também podem possuir um valor simbólicoimportante no que tange ao testemunho de um passado histórico significativo na cidade.

Será apresentado aqui, um exemplar que se configura nesta subcategoria. Possui caráter

singular e de grande simbolismo na história da cidade, a casa e antiga escola do professorMantovani, que é descrita como a primeira escola de Erechim (figura 3). Nas palavras de




Modesto Rigoni, sobrinho de Carlos Mantovani: “A primeira escola de Erechim funcionou

nesta casa, uma sala de 20 metros quadrados, dotada de mesas e bancos de tábuas brutas,um pequeno quadro negro, mapas do Brasil e do Rio Grande do Sul. Foi construída em

1916.” (Depoimento ao Arquivo Histórico de Erechim, em 29/07/1986).

A edificação pertence à família de Carlos Mantovani, nascido na Itália, o qual exerceumagistério público no Brasil nos povoados de Nova Trento, Nova Pádua e Vila AntônioPrado, atual Caxias do Sul (GARCEZ, 2008).

Segundo Garcez (2008), a casa-escola foi construída em etapas. A parte anterior, frontal,onde existem quatro compartimentos e um corredor, é a mais antiga. A parede que divideesta parte dos compartimentos dos fundos é de 20 cm, a mesma largura das paredesexternas. As paredes internas possuem menos de 5 cm de espessura. O sótão tem paredesexternas com tábuas de até 30 cm com mata-juntas aplicadas por fora da casa. Paredesverticais de até 1,18m de altura. Soalho de madeira e janelas do tipo guilhotina. O telhado éde zinco, sem forro que mostra estrutura de caibros e ripas. Térreo com paredes externasduplas, a face interna em lambris de 30 cm. Nos fundos há cozinha, sala jantar (varanda),banheiro e depósito, com alçapão e escada para o porão. Piso do banheiro em laje deconcreto, posterior aos anos 20, quando foi feita a escola. Pé-direito frente: 3,70m; Fundos:2,90m. Piso até o ponto mais alto do telhado: 4m. Janelas do tipo guilhotina, com moldurasexternas e internas. A porta de entrada (2,65m x 1,10m) está centralizada na parede dafrente, formando um eixo de simetria.

Figura 3-Antiga casa e escola do Professor Mantovani. Fonte: autores, 2015.




b.2. Relevância técnica-artística

Nesta subcategoria, buscou-se agrupar as edificações que possuem singularidade emfunção de relevância técnica- artística. São apresentadas fotografias de duas edificações emmadeira que são exemplos desta natureza (figuras 4 e 5). Estas edificações, mais recentes,construídas a partir da década de 50, possuem características bastante interessantesquanto à linguagem arquitetônica, com tendência geometrizada, de forma inovadora.Encontrarmos edificações em madeira com uma linguagem Modernista e com geometriaarredondada, que de certa forma pode ser comparado ao movimento Art Decó, presentecom grande força na cidade, a partir da década de 40.

b.3. Relevância no sítio de implantação

Algumas edificações possuem um destaque em função da localização no sítio, em termosde implantação. Constituem, assim, marcos urbanos referenciais e compõem a paisagemcultural da cidade. De uma maneira ampla, são edificações que também contribuem para a

formação do genius loci e ao sentido de lugar. Podem estar localizadas próximas ao núcleoinicial de formação urbana, na avenida central e junto à praça principal da cidade, à estaçãoferroviária, ou em localizações de destaque, em esquinas, ou em locais de topografiaelevada.

Uma destas edificações se encontra em uma esquina próxima da principal praça da cidade,conhecida como Praça da Bandeira, próxima à Prefeitura Municipal e à Catedral São José. A edificação localizada na esquina entre as avenidas Uruguai e Presidente Vargas (figura 6),possui arquitetura tipicamente colonial italiana, construída em 1926. Caracteriza-se comouma das primeiras edificações em madeira do município. A edificação localiza-se em umlote suprimido em virtude da criação da Avenida Uruguai, o que explica a inexistência de

Figura 4- Casa com linguagemmodernista em madeira. Fonte: autores,2015.

Figura 5- Casa com linguagem Art Déco emmadeira. Fonte: autores, 2015.




recuos nessa fachada. Após a reforma, na década de 50, o balcão do sótão foi retiradodevido ao estado de conservação das madeiras.

4. Considerações finais

Com este trabalho, foi proposto um método de caracterização tipológica para o objeto deestudo- arquitetura em madeira em Erechim, distinguindo o caráter recorrente ou singular.Para além da periodização, buscou-se caracterizar a arquitetura em madeira da região

compreendendo o significado da relação entre tipo arquitetônico e a forma urbana. De certomodo, a caracterização proposta, propõe um critério de valorização desta produçãoarquitetônica em madeira na cidade.

De maneira ampla, este método, buscou identificar significados e características atrelados àesta arquitetura, de modo a integrar o universo da produção arquitetônica, a fim de entendere investigar o fenômeno, sem excluir os exemplares populares, os quais são fundamentaisna construção da paisagem.

Entende-se que a metodologia calcada no tripé: investigação, documentação e registro,aplicada ao objeto de estudo- construções em madeira em Erechim – tem se mostradoeficiente na identificação e caracterização das tipologias arquitetônicas e as tecnologiasconstrutivas em madeira tradicionais utilizadas pelos imigrantes que colonizaram Erechim.Esta pesquisa, que está em andamento, pretende avançar na documentação gráfica daprodução arquitetônica em madeira, a fim de ilustrar a evolução construtiva da técnica.

Em muitas cidades brasileiras, verifica-se o contraste entre a arquitetura tradicional e o

patrimônio vernacular, com o modelo usual de gestão urbana que objetiva o crescimento, oadensamento construtivo e a renovação urbana, a despeito da própria qualidade de vida de

Figura 6 - Casa Av. Uruguai, esquina Av. Presidente Vargas. Fonte: autores, 2015.

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